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ESPAÇO SAE - Saúde, Arte e Espiritualidade

Curso Permanente de Prática Teatral

Sala de Regressão: Você já viveu antes!


@ Original de Nelson Peixoto - Versão 1.0 - dramaturgia didático-pedagógica 2019.

Roteiro da Peça:

A peça retrata a história de seis pessoas desencarnadas numa sala de regressão no


mundo espiritual se preparando para uma nova experiência na vida física. Analisam seus
traumas, sofrimentos e decepções pela qual passaram na última existência visando
estruturar com maior segurança as metas do futuro. O enredo é composto de cinco quadros;
cada um narrando pontos de acentuada complexidade emocional da encarnação de cada
espírito, bem como esclarecendo àquelas com origem em ações praticadas em existência
anterior.

Abertura:
“Num local, onde obrigatoriamente passará o público para adentrar ao Teatro, colocar-se-á
um velório completo. Ao lado do caixão uma mulher com véu negro à cabeça, chora
discretamente. Dois rapazes, um de cada lado, seguram suavemente as alças da mortuária,
acariciando com tristezas as rendas que enfeitam as laterais. Todos vestidos de preto, inclusive
os que farão a recepção de ingressos. Esses, à passagem de cada pessoa, dirão frases, como:
“Meus pêsames, o momento é de profunda dor!”; “A família enlutada agradece sua
presença!”;” Silêncio, por favor, em respeito ao falecido!” ; “Mantenhamos o clima de
oração”, etc.”

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Quando todos estiverem acomodados em seus lugares, o caixão será carregado do fundo da
platéia em direção ao palco. Apenas um foco de luz vem em direção ao carregamento. No meio
do percurso, o “morto” ergue-se, saindo suavemente da mortuária, expressando que saí
apenas o espírito. Acompanha o carregamento, agora fixando o corpo que segue para o
enterro. Ao chegarem próximos ao palco, o féretro segue adentrando por uma das laterais,
enquanto o espírito sobre pela parte central do palco dando início a primeira parte da peça,
assumindo o personagem “X”.

Primeiro Quadro:

/Luz negra reflete o corpo trajando branco do personagem “X”, congelado ao fundo do
palco. Ao som de uma música um tanto sombria, mesclada com efeitos de ventania, surgem
cinco personagens, igualmente trajando branco, vindos de várias coxias. Andam de um lado ao
outro sem se tocarem, até congelarem em marcações determinadas no palco; tendo sobre si
pinos de luz “branca”, que surgirão individualmente no momento em que o personagem
responder ao questionamento de “X”. As perguntas “A”, “B” e “C” serão feitas pelo
personagem “X” na seqüência que abaixo descrevemos, obtendo obviamente, as respostas dos
cinco personagens também na seqüência “A” , “B” e “C”./

- Questionamento do personagem “X” –

A – Nome?

B – Período da última experiência física?

C – Deseja proferir alguma mensagem aos que ainda domiciliam nas experiências do corpo
físico?!

ROGÉRIO: A – Rogério de Aquino Souza

B – Reencarnei em 21 de setembro de 1.923; Niterói – RJ, desencarnei em 17 de abril de 1.970,


em São José do Rio Preto - SP.

C - A todos que ainda desfrutam das bênçãos do corpo físico, que atentem com todas as forças
dos vossos corações para as realizações maiores de paz, harmonia e entendimento entre os
homens!
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ESTER: A - Ester de Almeida Prado

B - Reencarnei em 23 de dezembro de 1.925 na cidade de Ouro Preto, Minas Gerais;


desencarnei em 29 de maio de 1.975 em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

C – Ao ouvirem as divinas palavras do Mestre: “Meu Reino não é deste Mundo”, possais
compreendê-las na essência de expressão, revelando-nos que a vida transcende além das
acanhadas descobertas da ciência humana!

/O personagem Isadora-Ivo poderá ser feito por um homem e uma mulher postados no palco
um às costas do outro e mãos entrelaçadas. A parte sublinhada no texto deverá ser dita pelo
“homem”/

ISADORA/IVO: A – Ivo Conceição filho

B – Reencarnei em 02 de junho de 1.933, na cidade de São Bento do Sul – SC,


desencarnei em 29 de novembro de 1.969 em Curitiba – PR.

C – Nunca escarneçam do sexo, porque sexo é manancial de criação divina, que não
pode se responsabilizar pelos abusos daqueles que o deslustram.

CONSTÃNCIA: A - Constância do Amaral Cerqueira

B - Reencarnei em 27 de outubro de 1902 na cidade de Madri, Espanha; desencarnei


em 19 de dezembro de 1973 na cidade de São Vicente-SP.

C - Quando nossa vida chega no estágio de profunda dor e sofrimento é que nos
encontramos no fundo do poço dos nossos próprios vazios. É preciso encher a taça
das emoções com os recursos dos nobres ideais com confiança em si mesmo e nos
valores da vida que o cerca.

RAUL: A – Raul Shulmann Whoskov

B – Reencarnei em 14 de janeiro de 1.959 na cidade do Rio de Janeiro; desencarnei em 05 de


outubro de 1.975, também na cidade do Rio de Janeiro.

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C – Nossas tendências ao vício, à negligência e ao crime reclamam correção no exercício do
bem e na construção de sentimentos nobres. É deprimente a situação dos que abordam a vida
espiritual vencidos pela própria negligência e ociosidade!

ANA MARIA – A - Ana Maria Telles

B – Reencarnei em 20 de março de 1919 no pequeno povoado de São José de Ilhéus, no interior


do Estado da Bahia; desencarnei em 19 de julho de 1.978 em Monte Claro - SP.

C – Na busca da felicidade não podemos esquecer os compromissos de amor ao próximo e a


sabedoria das escolhas nobres; na vida cada um colhe os frutos da própria semeadura,
recebendo dela os reflexos de suas mesmas atitudes.

/Ao som da musica sombria com efeitos, os personagens movimentam-se. “X” sai de cena
lentamente. Surge luz mais clara. Os quatro diálogos abaixo são subjetivos./

RAUL: ... Sim, este é o nosso objetivo. Planejamos retornar ao corpo físico em mais uma experiência;
atendendo os compromissos com a consciência que nos solicitam trabalho e correção na difícil
tarefa de transformar as trevas do passado em luzes de aprendizado.. (pausa) ... compreendo!
... (pausa) ...sim, estamos conscientes que estarão agindo sempre em nosso benefício...

ISADORA: ...Devo concordar que nosso companheiro expressa com muita propriedade o que sentimos e
desejamos! Arrastamos incertezas e dúvidas por dezenas de anos lá na terra que até hoje não as
compreendemos. Hoje compreendemos a necessidade de meditarmos nas causas mais ocultas
de nossas dores... de nossas falhas e conflitos!

ESTER: Creio que já estamos preparados para buscar em nossas experiências pretéritas a fonte dos
muitos desequilíbrios, sofrimentos e aflições vivenciados na última existência.

ROGÉRIO: Fomos conduzidos até esta sala de regressão a fim de que possamos analisar as reações que
sofremos, provenientes das ações delituosas que praticamos no passado, compreendendo assim,
as dores da existência finda. Acreditamos possibilitar, com isto, melhor discernimento ao
delinearmos as metas para o futuro...

/Este terceiro movimento em cena marcará as posições para a narrativa de ESTER. Enquanto
movimentam volta a música de fundo, a luz clara desaparece deixando apenas a “luz negra”.
Simultaneamente do lado esquerdo do palco é colocado uma cama de casal forrada com
colcha de cetim: ESTER caminha para a cama, sentando-se nela. ROGÉRIO permanece fixo,
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de braços cruzados, do lado direito do palco. Os demais personagens saem de cena. Ester têm
expressão de angústia, dúvidas; um tanto confusa. Esfrega os braços, falando como se
estivesse diante de uma sessão de análise/

ESTER: (Subjetivo) Não sei como lhe dizer... talvez nem mesmo eu saiba definir os sentimentos
tumultuados que trago no âmago do próprio ser! (pausa) ... sim, sinto-me mais segura...
tranqüila com sua ajuda. Não, não se preocupe... estou bem... (respira profundamente)... pareço
nervosa? (tentando sorrir) Agora sinto que necessito realmente conversar com alguém... Passei
uma existência inteira ocultando sentimentos e verdades que por inúmeras vezes refutei, na
tentativa de ocultá-las de mim mesma... (respira) ...Ah! O que é uma existência na Terra?!...
Castelos imensos de ilusões, sonhos que jamais se realizarão na intensidade e no colorido de
nossa imaginação ou seria apenas uma busca frenética ao abstrato?! (quase sorri)...Sonhei com
a liberdade do amor e encarcerei-me num lar de espinhos... (ergue-se da cama, caminha em
direção a Rogério)...Conheci Rogério na doce e fragrante primavera de meus dias... Éramos
como eternos amantes e o sentimento que parecia surgir naqueles meses de relacionamento,
traziam laços atados a um passado que fugia ao meu entendimento lógico. Nos amávamos...
impossível dominar a paixão daquele reencontro!

/Ao som de uma música suave, fazem expressões de carinho e sensualidade. Rogério a conduz
para a cama, deitando-se nela. Instantes depois Ester ergue-se aturdida, fixando à frente/

ESTER: (Subjetivo) Fazia apenas dois meses que estávamos casados... e eu já estava grávida! (objetivo)
Ah! Meu Deus, grávida! Um filho assim tão depressa?! Quero desfrutar nossos momentos de
prazer, nossa individualidade... devo estar enganada, impossível!

ROGÉRIO: Ester, por que te afliges tanto?! Não podes imaginar o quanto me alegra a idéia de ser pai;
posso te dizer que realizas um sonho... um desejo oculto no coração de teu marido!

ESTER: Sabes muito bem que posso realizar teu sonho em outros tempos... no momento que
programarmos para isso!

ROGÉRIO: Não estou te entendendo!

ESTER: Estamos apenas há dois meses casados, em plena lua-de-mel. E nossos prazeres, nossa vida a
dois?! Pensa que não temos direito à privacidade?!

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ROGÉRIO: Privacidade?!... (sorri, confuso)... Você fala como se esta criança fosse a pior coisa que nos
acontecesse, como se ela tivesse alguma culpa!

ESTER: Perdoe-me, mas não posso sentir outra coisa senão aversão por esta situação...

ROGÉRIO: Aversão por nosso filho?!

ESTER: Meu Deus, acho que estou ficando louca! Na verdade você tem razão! (Subjetivo) Ao saber que
estava grávida, uma profunda revolta tomou conta de mim; era como se trouxesse uma ameaça
à nossa felicidade atada ao próprio ventre.

ROGÉRIO: Como pode pensar assim quem sempre acreditou na vida e no amor?! Nada pode interferir
no que sinto por você, principalmente um filho.

/Rogério aproxima lentamente para beijá-la, antes que seus lábios se toquem, Ester volta-se,
fixando à frente/

ESTER: (Subjetivo) Os dias se arrastavam por entre aqueles nove meses intermináveis! (Pausa. Segue
com diálogo subjetivo) Estou ficando gorda. Minhas roupas foram substituídas por isto: sacos
com golas e mangas!... Eu amo esta criança, sim, juro que a amo... é o fruto de nosso amor.
(Pausa)... já não tenho o mesmo interesse por Rogério... é estranho este ventre enorme...
também sinto que ele já não tem o mesmo interesse por mim.. (suspira) Ah! Os meses não
passam...nove meses... nove longos meses...

ROGÉRIO: (Sobre a cama) Ester, ela não é uma gracinha!? Não é que eu queira ser coruja, mas é a cara
do pai. Será a garota mais linda do bairro, a primeira bailarina do Teatro Municipal. Os rapazes
vão ficar de queixo caído, mas ai daquele que se meter a engraçadinho, o lema aqui será:
“Primeiro: as primeiras intenções, e somente das primeiras é que muito respeitosamente podem
vir as segundas intenções”! Mas, Ester, ela não é realmente uma gracinha...?! (Sorrindo)

ESTER: (Subjetivo) Eu nunca consegui amar verdadeiramente minha filha. Depois de seu nascimento
meu casamento jamais voltou a ser o que era. Jamais confessei isso a ninguém; sempre lutei
contra esses pensamentos que me influenciavam, envenenando meus sentimentos: minha filha
parecia roubar a atenção e o carinho que antes me pertenciam... era como uma amante a furtar o
amor de meu marido! (Congela expressão, fixando-se do lado direito do palco)

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/Surge luz mais forte sobre um módulo ao fundo do palco, onde encontra-se já posicionada a
“Filha”. Vestindo costume anos 60. Aproxima Sérgio, trazendo uma jaqueta preta de couro ao
ombro/

SÉRGIO: E aí, Brasinha, já decidiu dar uma volta de lambreta?! Você prometeu que iríamos hoje no
Recanto das Flores!

FILHA: Desculpe-me, Sérgio, mas mamãe pareceu um tanto abatida hoje pela manhã, sendo-me forçoso
assumir os compromissos domésticos e os cuidados que ela requer!

SÉRGIO: Novamente esta “Senhora” sua mãe... (ironizando)... Será que não percebe que ela te proíbe em
tudo que gostas. Parece que sente prazer em te ver deprimida e infeliz. Esta sua mãe é um
“chute na sensibilidade masculina” e ainda pensa que está abafa!

FILHA: Mamãe parece sempre preocupada e nervosa, na verdade nunca dirigiu-se pra mim de forma
carinhosa. Às vezes sinto que me escraviza nas correntes de suas neuroses exigindo-me em
tudo. Não a odeio, algumas vezes tenho pena... Outras, revolta passageira. Depois me conformo
na certeza que devo amar a quem tudo me propiciou... a quem me deu a oportunidade da vida...

SÉRGIO: Sabe que perco um tempão tentando te entender! Mas pra falar a verdade docinho, é mais fácil
entender minha lambreta que a sua cabecinha. Tenho me esforçado, mas até hoje não consegui.
Você é diferente: vive no século XX respirando o feudalismo do século XVII. Também, tua
mãe mais parece um carcereiro a vigiar-te numa cela que propriamente um ente querido a
comungar contigo os laços da simpatia. Por outro lado, quem sabe pra compensar, teu pai te
trata como uma princesa!

FILHA: Mamãe deve ter seus motivos; devo-lhe amor e respeito. Quanto a papai... (num breve sorriso
triste)...Ele é tudo que tenho de bom na vida... quem me dá forças pra prosseguir; um
sentimento muito forte nos une!

SÉRGIO: Amas teu pai?!

FILHA: Muito!

SÉRGIO: Repudias tua mãe?!

FILHA: Compreendo-a!

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SÉRGIO: (Tocando-a com sensualidade)... Case-se comigo!

FILHA: Casar-me?! (nervosa)

SÉRGIO: Sim, a idéia do casamento te aflige?

FILHA: Não, não penso em me casar... não por enquanto!

/Sérgio acaricia-a com mais intensidade. Ela ergue-se, afastando/

SÉRGIO: Não sentes atração por mim ou simplesmente repudia todos os homens?!

FILHA: (Titubeante) Jamais me casarei com um homem, se esse não apresentar o mesmo caráter e a
meiguice de papai... Só um homem com suas qualidades poderá fazer-me plenamente feliz...

/Sérgio sai furioso. A “Filha” congela expressão no centro do palco/

ESTER: (Subjetivo)... Incapaz de vencer os sentimentos de aversão que me dominaram todo o ser;
transformei minha vida e meu lar num cárcere de frustrações, neuroses e decepções. (volta-se
bruscamente para o público) Por que jamais consegui amar plenamente minha filha, em quem
sempre presenciei os maiores esforços para me fazer feliz?! Às vezes me esforçava, mas, ao
presenciar o devotamento natural de Rogério por ela, sentia o ciúme eclodir feroz e
incontrolável em meu coração! ... Por que minha própria filha surgia como uma ameaça
constante a minha felicidade?!

/Entra música francesa romântica e épica. Surge foco lilás ou avermelhado sobre a “Filha”
que, descongelando expressões, tira com sensualidade o vestido e acessórios da década de 60,
ficando apenas com uma roupa íntima modelo épico século XVII. Aproxima de Rogério/Lecrer
deitado sobre a cama, trocando carícias. Obs.: As mudanças realizadas com a música e o
figurino da “filha”, bem como suave sotaque francês, conduzirá a cena para a reencarnação
passada, onde Rogério é Lecrer e a filha, Amélie. Não há necessidade dos outros personagens
mudarem de figurino/

AMÉLIE: ... teu consórcio com Jefhé é fastidioso e insípido! Tu te tornas a cada dia mais e mais arredio
aos momentos íntimos com essa mulher que pouco lhe pode oferecer... estou errada?!

LECRER: Amélie, por favor!

AMÉLIE: Nega, fixando-me os olhos... vamos, nega teus desejos inconfessáveis por mim!
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/Lecrer aproxima para abraçá-la mas é impedido por ela que o afasta com uma das mãos/

AMÉLIE: Sua vida era uma rotina mórbida a consumir-te as expectativas de maiores prazeres, até que
vim para esta casa dividir com Jefhé sua virilidade acerva, sim?!

LECRER: Desejo-te, Amélie!

AMÉLIE: Ter-me-ás sempre! Não me importo viver nesta casa, mesmo junto a uma mulher decadente
como rival desde que jure reservar-me a exclusividade de teu amor...

LECRER: Confessa-me teu amor! Isto me faria o homem mais feliz de toda França, quiçá do mundo!

AMÉLIE: Se não nutrisse por ti o mais profundo amor, jamais sujeitaria a esta situação; privando-me das
regalias e prazeres que fartamente teria em Paris. Além do mais, Jefhé já está velha e abatida, o
tempo não lhe será menos cruel...

/Acariciam romanticamente, até Lecrer abandoná-la na cama, saindo de cena./

ESTER: (Subjetivo)... Sim, era o ano de 1.757, morávamos em pequena herdade, próxima a Thias, à
algumas milhas de Paris. Vivíamos eu e Lecrer num lar um tanto sombrio sem a presença de
filhos que jamais lhe pude dar; até acolhermos Amélie, uma minha prima que ficara órfã em
plena mocidade. Era maravilhoso conviver com seu espírito jovem e feliz, transformando-nos a
rotina outrora pacata e monótona! Mas, para minha surpresa, Amélie apaixonara-se por Lecrer,
transformando-me a vida num interminável pesadelo... (pausa)... Na solidão de meus dias
alimentava o monstro do ódio no desejo ardente de vingança. Era inadmissível receber tantas
ofensas, injúrias e traições de quem agasalhei como mísera indigente no aconchego do próprio
lar...

/Ester dirige-se a uma marcação do palco, apossando de uma tesoura, caminha em direção a
cama. Ao som de uma música épica clássico-religiosa fere mortalmente Amélie no abdome
que, sem nenhum gemido, ergue ligeiramente o corpo, deixando-o cair a seguir. Ester ergue a
tesoura e sorrindo em profundo desequilíbrio emocional, sai de cena. Lecrer surge de súbito
tomando a amante ao colo, conduzindo-a nos braços, saindo ambos de cena. A cama é
retirada. Germano, personagem do segundo quadro, adentra pela coxia central, ao cruzar por
Lecrer com Amélie aos braços, ajoelha-se, fazendo o sinal da cruz. Simultaneamente, do lado
oposto à entrada de Germano, adentra uma mulher trajando branco e véu também branco
sobre os cabelos, trazendo às mãos um grande crucifixo. Caminha lentamente em direção a

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Germano. Ambos encontram-se no meio do palco, onde, novamente ele faz o sinal da cruz,
ficando por alguns segundos em sinal de oração até a mulher ocultar-se nas coxias./

SEGUNDO QUADRO:

/Cena épica: Espanha/

//Germano ajoelhado no centro do palco sob um foco de luz//

GERMANO: Senhor, sei que a estrada que conduz ao teu Reino exige de todos nós sacrifícios e renúncias
mas, a glória de vosso Reino é a maior recompensa que aguarda àqueles que permanecem fiéis
aos compromissos do teu Evangelho. Por isso, Senhor, tu que conheces a necessidade de minha
alma e a fragilidade de minhas forças, ajudai-me a trilhar esses caminhos que, com certeza,
encherão de luz e alegria toda minha alma. Desejo seguir-te os passos nos desígnios da Santa
Madre Igreja, lutando por transformá-la a cada dia em espelho vivo de teus ensinamentos...

/Do outro lado, Isadora com uma das pernas sobre a cama, ajeita as roupas íntimas, tendo sua
amiga a auxiliá-la na arrumação do vestido e enfeites do cabelo. A amiga sorri divertida/

ISADORA: Sendo minha melhor amiga e confidente, devias condoer-se de minha desdita!

AMIGA: Perdoe-me, Isadora, é que a situação não deixa de apresentar um aspecto cômico: o jovem
Germano, com firme propósito de seguir o sacerdócio, jogando por terra todos os seus planos
de felicidade!

ISADORA: Sempre soube de sua vocação para a Igreja, mas imaginei que, com a implantação dos
tribunais Inquisitoriais aqui na Espanha fossem desviar-lhe os pensamentos, enovelando-lhe os
ideais. Muito pelo contrário; fê-lo reforçar ainda mais, pois pretende servir como apóstolo
humílimo e dedicado à causa maior do Cristo. Vê se isto tem alguma coerência com sua
formação fidalga?!

AMIGA: Perdes com isso, querida Isadora, a oportunidade de reconstruir a fortuna e a posição de sua
família na qual os cochichos comentam decadente e falida! Perdoe-me a redundância, mas
devo lembrar-te sempre que estás à beira do precipício.... (num sorriso irônico)

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ISADORA: Mesmo a beira de um abismo uma mulher sempre dispõe de algumas cartas na manga para
não sucumbir nos precipícios da miséria...

AMIGA: Tens planos?

ISADORA: (sorri ligeiramente, ajeitando os seios) Consorciando-me com Germano, certamente


restituiria a meu pai todas as hipotecas de nossas propriedades; saldaria nossas dívidas
afastando definitivamente a hipótese de me igualar a essas camponesas despenteadas e de
cheiro acre...

AMIGA: Pressinto em ti uma certa apreensão...

ISADORA: Mais que apreensiva, estou desesperada!

AMIGA: É melhor conformar-te com os caprichos do destino. O jovem Germano está destinado ao
serviço do Senhor e as honrarias da Igreja. Quanto a ti, restar-lhe-á o convívio com
camponeses e bastardos!

ISADORA: Hei de casar-me com Germano! (Peremptória)

AMIGA: Usarás de magia para convencê-lo?! Se o fizeres, denunciar-te-ei aos tribunais da Igreja!

ISADORA: (Com expressão irônica e sedutora, exigindo sensualidade)... Farei com que desista desses
propósitos tolos, evidenciando-lhe as inúmeras desvantagens de uma castidade inútil, estéril e
desnecessária... Sabes muito bem que em toda corte sou desejada...

Amiga: Todos falam de ti... principalmente as condessas; todas temem-na devido suas ousadias com
seus consortes!

Isadora: Seus tolos consortes não me interessam, exceto quando para lhes tirar parte da fortuna... o que
me concedem sem muito esforço! Não posso me sentir culpada se as pobres condessas
preferem aplaudir votos de sacristia a estar a sós atrás da sacristia! (sorri com ironia)

Amiga: És louca! Não temes a difamação?... Acreditas que a família de Germano consentirá neste
consórcio promíscuo?

Isadora: Um homem seduzido, minha cara Angelita, é irreversivelmente frágil: basta fazê-lo suspirar
mais e pensar menos...

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Amiga: Desista, Germano distante está dos prazeres do homem comum!

Isadora: Desistir jamais! Mesmo que tenha que me desnudar a sua frente... A fortuna, minha cara, a
fortuna ensandece-me... e eu sei muito bem como conquistar os homens e o mundo...

Amiga: A corte que o diga!

/A Amiga sorri divertida, saindo. Isadora congela expressões/

GERMANO: (Erguendo-se do chão) Foram meses de terríveis apreensões. Era necessário decidir entre
servir a Igreja, renunciando a todos os prazeres da vida comum ou entregar-me aos desejos
transitórios da carne. Sim, eu sei! Quantos sacerdotes honravam o celibato apenas com os
lábios, mas para mim era imprescindível ser fiel perante minha própria consciência... perante o
Senhor... (Aproxima de Isadora) Crescemos juntos... nossas brincadeiras de crianças, suas mãos
às minhas... seu sorriso tímido e agora, seus lábios confessando-me amor! Estaria eu sendo
tentado como fora o próprio Cristo?!... Naqueles meses senti o quanto amava Isadora, desejava-
a como qualquer outro homem!

ISADORA: Compreendo e admiro tua fé em Cristo, nos desejos de lutar pelo bem. Mas não deves
olvidar que também podes servir ao senhor no altar doméstico, ensinar o amor e a servidão aos
nossos filhos; pregares o bem e o Evangelho não apenas restrito aos altares e cerimônias, mas a
qualquer hora e lugar, sem precisar para isso, fugir de quem o ama verdadeiramente, desejando
contigo caminhar, promovendo tua felicidade.

GERMANO: Tuas palavras expressam a verdade, mas meu coração ainda vacila na incerteza!

ISADORA: Igualmente deves lembrar que Pedro serviu ao Senhor sem desmerecer os compromissos
com o lar.

/Germano volta as costas para Isadora, quando esta aproveita e puxa o decote do vestido,
expondo mais o ombro e parte do seio/

Germano: Sim, mas meus interesses são outros, vivemos momentos delicados no Cristianismo. Sinto que
minha dedicação integral será uma contribuição maior, bem como a castidade uma oferenda
pura que faço a Deus... (voltando-se para Isadora)

Isadora: Deseja-me como qualquer outro homem! Teus olhos denunciam-lhe os desejos... Por quê não
sermos felizes?! (exibindo-lhe os seios fartos)
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GERMANO: Ah! Isadora... Isadora!

/Música - muda a tonalidade do foco para vermelho. Encenam algumas expressões de


sensualidade íntima até ele para de frente para o público, tendo Isadora debruçada sobre seus
ombros/

GERMANO: Casei-me com Isadora transformando meu coração num abismo de angústias,
arrependimento e dor. Esqueci os propósitos da fé, entregando-me nos braços da sensualidade e
dos prazeres fáceis do mundo! Isadora impulsinava-me ao mergulho desregrado e sem volta
nos prazeres do sexo e boemia que doravante passaram a dominar meus sentidos e ideais!

/Germano volta à sensualidade íntima com Isadora, caminhando para uma das saídas. Ela
empurra carinhosamente o rapaz com as mãos, fazendo com que saia de cena, depois fixa à
frente. Enquanto estiver falando o texto abaixo sublinhado, um outro ator encosta rente as
suas costas e vão girando sentido “ponteiro do relógio” até ficar visível totalmente a face de
IVO (Reencarnação de Isadora), que segue falando o texto que não está sublinhado. Roupas e
hábitos contemporâneos/

ISADORA/IVO: (Subjetivo)... Uma nova oportunidade surgia para mim como porta bendita de
retificação, redenção e progresso. Retornava a vida física, agora em veste masculina. (pausa)...
Estranho... sentia alheio ao meu próprio corpo. Ao fixar o espelho, jamais admiti ser esta a
minha face, ao mesmo tempo em que me assustava àqueles desejos e pensamentos assolando-
me os sentidos! As pessoas comentavam aos cochichos meu jeito afeminado. Que importa o
que dizem os outros, importa minha consciência: não tenho maiores atrações pelas garotas, tão
pouco por rapazes e nunca me relacionei com nenhum deles... isso é contra meus princípios!
Sublimarei minhas emoções sexuais. Quero amar a todos igualmente, servindo a Igreja e
comunidade.

/Abre uma Bíblia, sentando num dos módulos/

/Música. Adentram em cena dois carregadores com uma poltrona de sofá, ajeitando-a no
centro da sala. Sofia, a irmã de Ivo, indica-lhes a melhor posição, assina a nota despedindo os
mesmos. Senta-se a seguir e, sorridente olha em direção ao irmão/

/OBS. Sofia é a mesma AMIGA em nova reencarnação./

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SOFIA: Ivo! (Chama a atenção do irmão) Venha ver o sofá novo que comprei. Não é mesmo uma
beleza?! Traseiro confortável, alma em paz... (sorrindo divertida)

IVO: Hum!... (Aproximando) Presentinho para mamãe?! Vejo que este teu emprego remunera-te com
decência ou está economizando em tudo!

SOFIA: No país do “Arrocho Salarial” e do “salve-se quem puder”; sempre a segunda opção!

IVO: Deixemos política para os “políticos”, não desejo entrar em contendas contigo, justamente nos
poucos dias de férias do seminário que tenho para nos “curtirmos”, como diz você!

SOFIA: Está mesmo decidido entrar para o seminário em definitivo?

IVO: Você me faz sempre a mesma pergunta. Espera obter uma resposta negativa ou quem sabe
algum lapso de dúvida?! (Sorrindo)

SOFIA: Talvez uma imposição de meu.... egocentrismo!

IVO: Jamais deixarei de amá-las. Minha ausência física em nada afetará o que sentimos. Estarei
sempre com você e mamãe.

/Sofia vai escorregando pelo sofá, caindo sobre o colo do irmão, com a cabeça sobre a Bíblia/

IVO: Creio que estás amassando o Livro Santo!

SOFIA: Melhor para você. Seus superiores no Convento...

IVO: Mosteiro!

SOFIA: Pra mim é tudo igual: confinamento de homens bonitos! Eles dirão: “Servo bom e fiel... Bíblia
amassada é sinal de muita leitura. Estas indo a galope na conquista do céu!”

IVO: Ou dirão: “Bíblia amassada é sinal de relaxismo, irmão Ivo!”

SOFIA: O padre que disser isto é um perjuro, um blasfemo. Ivo é o irmão mais organizado que tenho!

IVO: Só poderia ser! Sou teu único irmão!

SOFIA: Também não precisava tornar insignificantes meus elogios, seu sem graça!!!... Ivo?!

IVO: (Mexendo com os cabelos da irmã)... Hum!?


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SOFIA: Na verdade o que me entristece é que vou perder um confidente... meu melhor amigo!

IVO: Pois não devias pensar assim. Perderás um confidente, mas ganharás um confessor!

SOFIA: Os padres, geralmente acham que tudo é pecado! Você também vai pensar assim?...

IVO: Para sua alegria, os anjos me disseram que, para quem tem um irmão padre é concedido um
desconto de vinte por cento no saldo de pecados... portanto, muitas coisas poderá tirar desse
rol!

SOFIA: (Sorri divertida) Meu índice de inflação-pecado consome esses vinte por cento numa semana...
Ah! (sobressaltando-se)... por falar em “uma semana”, mamãe recebeu ontem pela manhã uma
carta de tia Letícia...

IVO: Tia Letícia!?

SOFIA: Sim, escreveu dizendo que Gérson, nosso primo, virá morar conosco para fazer faculdade aqui
e chega dentro de uma semana. Você se lembra dele?!

IVO: A última vez que fomos visitá-los, conta-nos mamãe, tínhamos respectivamente três e quatro
anos. Como pergunta a querida mana se conheço o distinto primo!?

SOFIA: Você se recorda de brigas que tivemos com três ou quatro anos, como não iria se recordar de
um primo?!

IVO: Ah! Mas nossas brigas deixaram marcas indeléveis: tenho um dedo quebrado, dois cortes na
cabeça e uma costela fraturada... coisas simples, brincadeirinhas de criança!

SOFIA: Bem, esqueçamos o passado...! O maninho aceita um suco saboroso de laranjas para compensar
esses prejuízos de infância!?

IVO: Se é para compensar as brigas, traga o laranjal inteiro!

/Sofia ergue-se, saindo. Cai a iluminação, Ivo adentra a um foco ou pino/

IVO: (Subjetivo) A hipótese do primo Gérson vir morar com mamãe e Sofia me alegrou
profundamente, pois ficaria mais tranqüilo deixando-as sobre a proteção de um ente familiar...

/Surge Sofia/

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SOFIA: Ivo, primo Gérson chegou e deseja conhecê-lo...

IVO: Oh! Sim, peça que entre!

/Entra Música “Creole Love Call” interpretada por Edson Cordeiro. Cai a tonalidade de luz,
surgindo um tom lilás. Gérson (o mesmo Germano) adentra lentamente. Mascando chicletes,
mãos no bolso e sorriso irônico. Ao fixarem, ambos perturbam-se, vacilando. As mãos erguem-
se lentamente no espaço, tocando-se/

IVO: Primo Gérson! (titubeante)

GÉRSON: Primo Ivo!... Muito prazer! (sorrindo)

/Ivo dirige-se para um dos módulos. Gérson fixa-lhe todo o corpo. Cai um pouco a tonalidade
de luz, dando idéia de passagem de tempo, voltando a seguir. Gérson após ter deixando a
mala na coxia oposta, volta aproximando do primo que lê a Bíblia, sentado sobre um módulo/

GÉRSON: Não creio que o primo Ivo tenha vocações suficientes para o sacerdócio!... Já experimentaste
um bom vinho além da dose servida na homilia?!... Já experimentou um cochicho de uma fiel
bem mais próximo que no confessionário?! (Sorri)... Ah! O primo desconhece, com certeza, a
vida maravilhosa de suas ovelhas pecadoras... (saindo)

IVO: (Subjetivo) O convívio com primo Gérson despertava em mim sentimentos estranhos. Passei a
ser meu próprio inimigo, num combate constante às idéias e desejos que fluíam de meu íntimo
como enchente devastadora, arrastando em suas águas impetuosos todos meus recursos de
resistência! Era como se já convivêssemos há muito tempo, pois conhecia todos os meus
segredos e desejos, sendo quase que o único capaz de realmente me fazer feliz. (Pausa. Texto a
seguir é Objetivo) Não, não posso admitir, não sou o que as pessoas dizem. Jamais darei vida a
essas idéias diabólicas. (Suspira) Ah, meu Deus, estarei sendo tentado como fora o próprio
Cristo?!

/Num outro foco, Gérson fazendo exercícios físicos “abdominais”/

GÉRSON: Mil setecentos e quatro, mil setecentos e cinco, seis, sete.. (etc.)... Ufa! (Cai com o rosto ao
chão)... Oh, Ivo, vem fazer uns exercícios aqui comigo...

IVO: Obrigado! Creio não estar preparado para esses esforços!

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GÉRSON: Deixe de ser antiquado. Precisa desenvolver os músculos. Você parece tão raquítico. Venha, eu
te ajudo. Pensa que lá no céu não se faz exercícios?! Se não fizessem, a esta altura Pedro já
estaria esclerosado... Devias ensinar isto também a seus fiéis...!

/Ivo aproxima-se/

GÉRSON: Vai, eu lhe mostro como é... segure em minhas pernas!

/Ivo ajoelha-se, segurando as pernas do primo/

GÉRSON: Mais forte, rapaz! Parece anêmico!... Um, dois, três e quatro, um e dois, três e quatro...
(exemplifica ao primo) Está vendo como é fácil...

IVO: Parece–me simples!

GÉRSON: Agora é tua vez!

/Ivo posiciona-se. Gérson começa a contagem, vai diminuindo a tonalidade da voz, até parar
completamente/

IVO: (Confuso)... Por que parou de contar?

/Pausa de silêncio. Entra música novamente. Há uma seqüência de movimentos; Gérson


acaricia as pernas do primo e aproxima intencionando beijá-lo, Gérson por sua vez também se
inclina para beijá-lo. A luz some totalmente enquanto se aproxima na intenção do beijo/

TERCEIRO QUADRO:

/Fundo musical Fank/blue. Totalmente escuro. Cenário necessário apenas uma mesa com
rodas, com um aparelho de som e caixas; cadeira onde senta-se RAUL ( Jovem de 15 a 17
anos): se utilizado, deixar cair a cortina central do palco, que o divide em dois. RAUL, risca
um palito de fósforo, sendo a única luz que surge por entre o blecaute. Aguarda que o mesmo
queime totalmente. Acende um cigarro, colocando à boca. Vai surgindo um foco suave sobre
ele, que estica uma seringa amarrando o braço. Bate várias vezes consecutivas na veia, toma
de um injetor, levando à mesma. Neste instante faz-se luz mais forte sobre o palco, quando
adentra o PAI, aturdido com o som em alto volume, surpreende o filho RAUL antes que o

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mesmo se drogue. Logo atrás adentra a MÃE. Com a chegada dos pais, RAUL ergue-se de
inopino, em atitude desafiante. O PAI dirige-se para o som, desligando-o./

PAI: Mas o que significa isto, Raul?!

RAUL: Não se aproxime de mim...

MÃE: Raul, fale comigo, por favor.... (dando alguns passos em sua direção)

RAUL: Se derem mais um passo, injeto toda esta porcaria na veia. Será meu último vôo... minha
liberdade de uma vez por todas!

PAI: A que ponto você chegou! (decepcionado) é essa a retribuição que recebemos por tudo que
fazemos a você: apunhalando-nos pelas costas?

RAUL: (Sorrindo) Ah, Ah, um traficante me adotou! Não é este o slogan que tem no seu carro?!

PAI: Jamais deixei de te dar carinho, apoio, educação. Sempre estive aberto a ouvir teus problemas,
para discutir os nossos problemas... onde foi que errei?!

RAUL: Eu quero liberdade, ser livre! Você me sufoca, como sufoca esta coitada nas suas normas
moralistas. Tudo nesta casa tem regras: pra se sentar na mesa, pra falar ao telefone, pra assistir
televisão, pra urinar naquele vaso, pra tudo!

PAI: Filho, perdoe-me se errei tentando te fazer o melhor, por muito te amar!

RAUL: Você não me ama, você me espreme. Sempre te admirei, mas nunca admiti a prisão que criaste
para mim...

MÃE: Por que nunca comentou isto conosco?

RAUL: Meu silêncio sempre foi meu maior protesto.

MÃE: Mas Raul, nunca teu pai te cerceou em qualquer realização, pelo contrário, sempre te
incentivou...

RAUL: Cale a boca! (Grita) Você não tem direito de falar por si mesma, empreste a boca dele e fale.
Você não tem o direito de pensar, empreste o cérebro dele e raciocine; você não tem direito de
sentir prazer, só ele de go...

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PAI: Não fale assim com sua mãe, seu merda! (Grita) Deves ter o mínimo de respeito, já que não
assimilaste sequer uma fração de tudo que procuramos te passar!

RAUL: Eu não vou calar nunca mais, nem deixar de falar tudo que gosto, da forma que achar melhor,
da maneira que me der na cabeça...

/O Pai dá alguns passos para Raul ameaçando-o/

RAUL: Venha, venha mais rápido... (com o injetor rumo à veia)

PAI: Meu Deus, em que você se transformou?!

RAUL: Eu não me transformei em coisa nenhuma, sempre fui assim! Você quem me obrigou a fazer
tudo escondido. Lembra da vez que me pegou no banheiro?!... eu tinha doze anos, apenas doze
anos... disse que não deveria fazer mais aquilo; mas nunca perguntou se já transei alguma vez,
se isto é importante pra mim... (sorri entristecido)... Também não sabia que eu fumava, que
gasto toda minha mesada nas mesas de sinuca e nas roletas de boca-de-fumo... (Cheira um
lenço)... Também gosto de sentar com as pernas abertas; falo palavrões e coço o saco onde me
dá na telha...

PAI: Na tua opinião eu deveria te privar de todos os métodos de educação, ser tratado como um
“bicho”?!

RAUL: Você não me educou, me sufocou! Preciso respirar, você me dá falta de ar...

MÃE: Nós estamos nervosos, precisamos nos acalmar. Realmente não imaginávamos que
estivéssemos te proibindo naquilo que mais gostas de fazer. Não foi nossa intenção proibir, mas
instruir-te com a melhor formação...

RAUL: Saiam do meu quarto. Vocês estão invadindo minha privacidade e isto é anticonstitucional...
arrombaram a porta. Querem prova de maior flagrante delito?!

PAI: Nós sairemos, mas antes me dê esta seringa...

RAUL: Vou contar até três para que saiam de minha cela domiciliar!

PAI: Devo estar num pesadelo! Não posso crer que isto seja real!

RAUL: Um...(apertando ainda mais a borracha no braço, caminhando de um lado ao outro)

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MÃE: Nós amamos você, meu filho!

RAUL: Dois... (posicionando a agulha)

PAI: Raul, vamos conversar...

RAUL: Três!... (aplicando a injeção à veia)

PAI: Não faça isto... não faça isto! (desesperado vai ao filho agarrando-o. Raul entra em crise
instantânea por over-dose. A mãe sai desesperada, enquanto o Pai grita inclinado por sobre o
filho)... Não, meu Deus, não. Raul, Raul... /Grita em desespero debruçado sobre o filho,
quando de repente ergue a face em diálogo subjetivo/ Por mais que eu me esforçasse na
educação de Raul, algo me dizia que deveria ter paciência com os resultados lentos.
(Caminhando rumo a um foco de luz) A indisciplina parecia enraizada em seus sentimentos e
fazer parte de seu próprio ser. Mas, onde a causa de tamanha tendência ao vício, à sensualidade
e ao crime se desde os primeiros anos de infância jamais lhe faltou os bons exemplos e nosso
amor?! Passei toda uma existência buscando fazer o melhor para a felicidade do filho que Deus
colocou sob minha responsabilidade sem nunca compreender porque trazia na alma os frutos de
uma formação que jamais lhe dei!

/Surge música lembrando cassinos, jogos e máfia dos anos vinte, na Itália. Erguendo a cortina
central do palco, que divide em dois, aparece mesas com jogadores de cartas, mulheres, muito
vinho e charutos. Trajes, costumes e cenários: Década de vinte, Itália. Surge RAUL trajando
terno e chapéu, além do que trás à mão, junto a uma bengala. Aproxima do “PAI”, beija-lhe a
face à moda Italiana, a seguir entrega-lhe a bengala, chapéu e, enfiando a mão no bolso do
paletó, retira dois charutos com isqueiro, acende o do “PAI” e ambos falam com sotaque
italiano, sendo o PAI bem ao estilo “Poderoso Chefão”/

PAI/PADRINHO: Muito bene, muito bene.... fico feliti em ver que o bambino está a aprender com
desenvoltura as lições que o caro Giovani aqui... (batendo no peito) está a ministrar-
lhe!

RAUL/AFILHADO: Ando me engasgando com estes charutos, senhor Giovani!

PADRINHO: Qual, qual! Isto são coisas de principiantes. Mas um bom jogador deve saber muito
bem manipular um bom charuto, principalmente na hora de passar as cartas, ham?!

AFILHADO: Ainda não sou tão bom com as cartas, mas esforçarei por melhorar.
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PADRINHO: O bambino tem boa vontade e esta é a primeira e a principal arma para saíres
vencedor em “La Vitha”! Bem fez tuo padre ao te deixares sobre minha proteção
após a morte, hem?! Afinal, para que servem os padrinhos?! Mas muito, muito mais
que isto, tu tens o sangue italiano nas veias, os dons dos negócios e, com minha
experiência, ficaremos logo afortunados e montaremos o cassino mais rico de toda
Itália, que acha o bambino?!

AFILHADO: Sim, sim, faremos bons negócios!

/Aproxima uma das mulheres da taberna, trazendo um copo com vinho/

PADRINHO: Mas os bons negócios também são cheios de bons prazeres: um bom vinho e dezenas
de belas madonas. Na verdade, um homem tem sempre maiores razões para vencer,
quando lhe aguardam os braços de uma pequena. Vamos, bambino, beba do melhor
vinho italiano e abuse de sua possante virilidade, nunca se sabe até quando se pode
contar com ela...(sorrindo em altos tons, saindo)

/O afilhado imiscui-se por entre as mesas e as mulheres com os demais jogadores.


No casa da montagem ser sem cenários mais detalhados, apenas surgem as mulheres
com taça de vinho à mão , num jogo sensual com o personagem masculino/

AFILHADO: Dom Giovani é um segundo pai para mim, um grande amigo. Não posso esquecer
tuas lições: “Um homem vive por belas madonas, saboreia um bom vinho de safra
especiali e, deve ter sempre a disposição os melhores charutos de toda Itália... As
melhores madonas de Roma, Nápoles, Veneza... todas elas minhas: Aproveitar a
virilidade enquanto ela está de pé, bem de pé! (sorrindo prazerosamente)

QUARTO QUADRO:

/Cena épica: França/

/Josefhine ajeita as roupas íntimas sobe um módulo e sob um foco mais forte de luz “branca”,
quando do outro lado oposto, adentra MAX vagarosamente. Pára, retira da cintura um
revólver acaricia-o, voltando com o mesmo à cintura. Suave música francesa serve de fundo
para a cena/

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MAX: Josefhine...

JOSEFHINE: Max!?...(voltando a cabeça lentamente para o rapaz, depois voltando a lidar com suas
roupas, demonstrando indiferença) Julgava termos definido nosso relacionamento da última
vez que aqui esteve... o que não faz muito tempo, que eu me recordo!

MAX: Josefhine, prometo-lhe ser esta a última vez que venho implorar teu amor; por tudo que
vivemos juntos, pelas promessas, os instantes de prazer... em nome das inúmeras declarações
de fidelidade proferidas por teus lábios, perdoa-me os erros, dê-me mais uma oportunidade!

JOSEFHINE: Fico feliz, Max! Imensamente feliz em ouvir de tua boca que esta é a última vez que me
procura. Quanto às promessas de amor que ouviste de meus lábios; por tua experiência no trato
com as mulheres, devias confiar menos em juras proferidas sobre uma cama!

MAX: Éh! Devo ser um grande idiota insistindo tanto assim. Mas não consigo controlar o que sinto,
vivo em constante obsessão. Permita-me o direito de estar contigo, mesmo que sem poder tocá-
la, sentir teu corpo e teu perfume... (aproximando)

JOSEFHINE: Hum! Max, você está cheirando mal! Saia de minha casa.

MAX: Veja em que você me transformou! Será que isto não lhe toca os sentimentos?!.. (respira
profundamente) Não posso acreditar que Josefhine morreu para dar vazão a esta mulher
insensível...

JOSEFHINE: Não me obrigue a te ofender ainda mais, Max!

MAX: Prefiro que digas tudo que sentes, mas fixando-me os olhos. Diga que amas verdadeiramente a
este grã-fino a quem vives a cortejar?!

JOSEFHINE: Jamais ficarei contigo, mesmo diante nossas promessas e momentos tolos que
vivemos juntos: tudo eu quero esquecer, como quero esquecer a vida desgraçada que tive na
infância ao lado de minha mãe; ela sim, optou pelo amor que só lhe trouxe desgraça,
necessidade e fome... Estou com Hervê, com tudo que ele pode me oferecer!

MAX: Repudias quem ama em troca de moedas e ouro?!

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JOSEFHINE: Minha mãe preferiu o amor ao ouro... definhou sobre uma cama, terminando seus
dias na mais profunda miséria, e eu, produto de seus sonhos utópicos, de sua opção pelo
coração, conheci a desgraça como única companheira nas noites sombrias do subúrbio de
Paris... Isto eu não quero para mim, Max, isto eu não vou ter para mim! Vou esquecer você,
para lembrar essencialmente de mim...

/Música volta à cena. Josefhine dirige-se a uma das laterais do palco encontrando com Hervê;
encenando carícias, com suaves movimentos de dança, voltam para o centro do palco até
congelarem expressões atrás de Max que saca de um revólver lentamente, levando ao ouvido,
suicidando-se. Max cai ao chão, Josefhine congela expressões, Hervê volta-se sorrindo
ironicamente, pega o revólver e olhando com desprezo para o cadáver, saí. Entra música
suave: Josefhine começa a tirar as vestes épicas, surgindo um singelo vestido modelo atual.
Max ao chão começa a movimentar-se lentamente assumindo expressões de paraplégico, surdo
e mudo. Josefhine, agora na postura de mãe, tenta erguer o filho do chão. Adentra Hervê,
agora na vestimenta de homem simples, empurrando uma cadeira de rodas, por sobre ela uma
coberta tipo “seca-poço”/

MARIDO: Ana, Ana! Eu já não lhe falei que este menino só te dá trabalho. Olha aí de novo caído no
chão... Por outro lado você não tem tempo pra cuidar da casa direito... olha essas roupas caídas
pelo chão... /Ajuda a mulher a colocar o filho na cadeira de rodas, cobrindo-lhe as pernas com
o pequeno cobertor/

ANA: Um filho nunca dá trabalho para uma mãe, Mário!

MARIDO: Ainda bem que seu tormento chegou ao fim: os moços da clínica ta aí fora pra levar ele. Vou
mandar entrar...

ANA: Não, não vou permitir que leve meu filho pra um instituto de deficientes. Jamais reclamei de
nada, e o serviço de casa anda em dia! Dou conta de tudo.

MARIDO: Ana, eu já lhe expliquei mil e uma vez que não temos condição de ficar com o José aqui em
casa. São crise e mais crise que precisa de gente entendida por perto. Lá no instituto será bem
tratado e poderá visitar ele toda semana. Será que isto não lhe entra na cabeça, mulher!? Não
podemos perder esta oportunidade que os moços da assistência ta dando pra gente...

ANA: Oportunidade de se livrar de nosso filho, Mário?! É isso que você quer dizer?!

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MARIDO: Não quero me livrar do José, mas será melhor pra ele, pra você também que vive se
acabando dia e noite, lidando com este cabra que só sabe babar o tempo todo...

ANA: Já lhe disse, Mário! Ele não me dá trabalho. A gente pode levá ele toda semana pros médicos
olhar. Mas não quero ficar longo de meu filho!

MARIDO: Ana, os enfermeiros tão aguardando. Vamo deixar de lero-lero. José também é meu filho e
quero o melhor pra ele. Deixe os homens levar, depois a gente com calma vê o que decide.

ANA: Fala que a gente leva depois...

MÁRIO: Você tá me deixando nervoso dos nervos, Ana, Sabe muito bem que a gente num tem dinheiro
nem pra cumer direito, imagine pra pagar táxi até o instituto. Vou mandar que entre... (saindo)

ANA: (Abraçando ao filho)... Não vou deixar que leve você, meu filho...

/Mário volta com um enfermeiro/

MÁRIO: Pode levar, moço!

ANA: Não vão levá meu filho! Ninguém tem esse direito...

/O enfermeiro vacila, fixa José, depois Mário/

ENFERMEIRO: Desculpe-me, senhor, mas não temos ordens de levar nenhum paciente à força!

/Mário aproxima de Ana forçando-a a largar o filho/

MÁRIO: Pode levá, moço, eu me responsabilizo!

/O Enfermeiro aproxima, tomando da cadeira de rodas e retirando-a lentamente, enquanto


José estende a mão em direção à mãe que é retida por Mário. A cena é bastante melancólica e
banhada por suave canção/

QUINTO QUADRO:

/CONSTÂNCIA sentada numa poltrona, luxuosamente vestida. Sotaque Italiano – Século XIX/

CONSTÂNCIA: ... Eu já lhe disse, Salviatti, não preciso de você. Sim, você me enoja com toda aquela sua
agenzia diplomática! (pausa)... Ah! Mama, a senhora fora sempre tão neurótica! Pobre papa,

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suportar uma mulher como tu, só mesmo um homem sem expectativa de futuro... (pausa) Pode
ir, deixe-me sozinha; não preciso mesmo de parentes por perto. Família é sinônimo de despesa
e primitivismo! (Pausa) Não penses duas vezes, Giovanni. Já devias ter seguido teu caminho.
Não quero escravizar-me a uma criatura só porque o acaso a fez nascer dos bons momentos de
prazer que tive sobre uma cama... amamos os filhos não propriamente por eles, mas porque são
lembranças vivas de momentos que jamais queremos esquecer... (pausa)... Vá, Giovanni... por
que me olhas deste jeito?! Não vaciles, não me farás falta. A vida tem me ensinado a sabedoria
de amar o ouro sempre fiel e amigo a me proporcionar felicidade... as pessoas são falsas e
transitórias; ladrem como cães famintos à beira da estrada diante a carruagem que passa,
imponente e altiva... eu, eu sou a carruagem!

/Música. Constância vai regredindo na própria cadeira. Muda a tonalidade e cor da luz.
Ergue-se lentamente, vai despindo as roupas antigas e escuras, ficando com peças de roupas
mais claras e atuais. Caminha mais ao centro do palco sob um foco de luz. Suas expressões
são de profunda angústia e solidão/

CONSTÂNCIA: (Sem sotaque Italiano)

“Na angústia de meus dias, arrasto-me como animal


pesado e grande por entre um lamaçal mórbido de
tristezas infindas...
Neste imenso deserto, o vendaval sacode-me as
Balizas internas e o ruído rouco das noites
Áridas , transformam terrenos arenosos em dunas
Enormes... ainda mais áridas... móveis...
Drasticamente inertes.
Viver na melancolia de meus dias, é mais que sofrer...
É definhar sem poder conter a marcha pra baixo, pro lado, quem sabe!
A luta, às vezes, é viver... para sobreviver!

X: (Surge em passos lentos dirigindo o olhar para Constância) Como está se sentido agora?

Constância: Melhor! Porém o vazio que se faz por dentro nada consegue preenchê-lo; vivo cercada de
pessoas, e sozinha por dentro... um estado de angústia permanente leva-me a quadros de
melancolia e depressão mórbidos e desoladores...

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X: Sente segura em retornar?

Constância: Agora que conheço a solução de minha dor... impossível não avançar ao encontro de meus
próprios valores armazenados nos corações dos outros!

/As luzes vão sumindo suavemente até dar completo blecaute/

FINAL:

/volta a mesma música da abertura com efeitos de ventania e luz negra. O Personagem “X”
adentra caminhando lentamente (vestidos todos eles de branco) até posicionar numa
marcação, no palco. Efeitos de luz de variadas cores cruzam o palco logo depois da frase de
“X” citada abaixo, para dar início a seqüência das entradas dos personagens a recitar o texto
final, sendo cada um surgindo de um lado e, só o fazendo quando o outro tiver ocultado
totalmente na coxia paralela/

X: Ninguém, ninguém foge à lei da reencarnação!

ROGÉRIO: ONTEM, colocamos o orgulho e a vaidade no peito de um irmão que nos seguia os
exemplos menos felizes; HOJE, partilhamos com ele, à feição de esposo despótico ou de um
filho problema, o cálice amargo da redenção.

ESTER: ONTEM, atraiçoamos a confiança de um companheiro, induzindo-o à derrocada moral; HOJE,


guardamo-lo na condição de parente difícil, que nos pede sacrifício incessante.

ISADORA:ONTEM, menosprezamos as faculdades criadoras do sexo desviando-as para as viciações nos


abusos excessivos ou como fonte de conquista e poder; HOJE, podemos arrastar conosco
desequilíbrios, conflitos e paixões, açulando-nos a dor e o sofrimento.

RAUL: ONTEM, dilaceramos a alma sensível de pais afetuosos e devotados, sangrando-lhe o espírito
a punhaladas de ingratidão; HOJE, moramos num espinheiro em forma de lar, carregando
fardos de angústia, a fim de aprender a plantar carinho e fidelidade.

ANA: ONTEM, esquecemos compromissos veneráveis, arrastando alguém ao suicídio; HOJE,


reencontramos esse mesmo alguém na pessoa de um filho, portador de moléstia irreversível,
tutelando-lhe, a custa de lágrimas, o trabalho de reajuste!

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/Música aumenta a tonalidade, “X” caminha à frente do palco, um foco de luz atinge-lhe a
face ou foco pino-crânio/

X: Ninguém, ninguém foge à Lei da Reencarnação, porém ela é, e será sempre, a justiça e a
misericórdia Divina representando a porta do recomeço que jamais se fecha, propiciando-nos
reconstruir nosso destino e avançar para as conquistas imortais que a sabedoria do amor reserva
a todos nós.

Fim

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Texto concebido em setembro/92 Nelson Peixoto, DRT 0009813/MS.

Quadro de Personagens e Equipe Técnica Básica:

Personagem Observações

01 ESTER

02 ROGÉRIO/LECRER

03 FILHA

04 SÉRGIO

05 ISADORA

06 IVO

07 AMIGA/SOFIA

08 GERMANO/PRIMO GÉRSON

09 JOSEPHINE/ANA MARIA

10 CONSTÂNCIA

11 HERVÊ/MÁRIO

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12 RAUL

13 PAI DE RAUL / PADRINHO

14 MÃE DE RAUL

15 X = ENTREVISTADOR

16 ENFERMEIRO

02 RECEPCIONISTAS E
CONTRARREGRAS

SONOPLASTA

ILUMINADOR

FIGURINISTA

DIRETOR

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