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FILO PLATYHELMINTHES E FILO NEMATELMINTHES | REINO ANIMALIA

Classicamente, o reino Animalia é dividido em dois grandes grupos: os invertebrados e os


vertebrados. Embora legitimado pelo senso comum, essa divisão está alheia à classificação taxonômica
oficial, uma vez que o grupo dos animais invertebrados não existe de fato. No entanto, este agrupamento
reúne cerca de 95% das espécies animais descritas até o presente momento, sendo que inúmeras têm
considerável relevância à espécie humana, seja por questões gastronômicas, seja por razões sanitárias,
como é o caso de algumas espécies que integram os filos Platyhelminthes e Nematelminthes, popularmente
conhecidos como vermes.
Cerca de 20.000 espécies compõem o filo dos Platyhelminthes, cuja raiz etimológica do próprio
nome remonta à principal característica definidora desse grupo: platys, que derivado do grego, significa
achatado. Essas espécies de vermes achatados dorso-ventralmente ainda podem ser classificados quanto a
diversas outras características, tais como número de folhetos germinativos, presença ou ausência de
celoma e o tipo de simetria. Nesse sentido, tais animais são classificados como triblásticos, acelomados e
com simetria bilateral.
Quanto à organização corporal, sabemos que possuem revestimento epidérmico rico em células
glandulares. Abaixo da camada epidérmica encontram-se as células musculares, que permitem a
movimentação desses animais. Por fim, apresentam os seguintes sistemas: sistema digestório incompleto,
sistema excretor, sistema nervoso/ sensorial e sistema reprodutor, exceto algumas planárias que se
reproduzem por cissiparidade (fragmentação). Também é importante salientar que algumas espécies, como
algumas planárias e tênias, são consideradas monoicas, isto é, hermafroditas, ao passo que outras como os
esquistossomos são dioicas (diferenciação sexual).
Por outro lado, ainda estão ausentes os sistemas circulatório, sendo tal função atribuída ao sistema
gastrointestinal; e o respiratório, sendo que as trocas gasosas ocorrem por difusão entre as células e o meio
ambiente.
O filo Platyhelminthes dá origem a três classes com base no modo de vida. A classe Turbellaria é
caracterizada por espécies não parasitas, também conhecidas como de vida livre (água doce), sendo a
Planaria torva a espécie mais popular entre os leigos. A classe Trematoda tem representantes tanto
ectoparasitas, isto é, que habitam a superfície externa dos hospedeiros, quanto espécies endoparasitas, que
habitam no interior dos hospedeiros. As espécies Schistosoma mansoni, Schistosoma haematobium, e
Schistosoma japonicum são endoparasitas de notável relevância médica, pois são os agentes etiológicos da
esquistossomose, cujos detalhes serão abordados mais adiante. Por fim, a classe Cestoda é composta por
espécies exclusivamente endoparasitas, aqui representadas pelas Taenia solium e Taenia saginata, ambas
também de importância médico-sanitária. (ALUNO 1)

A esquistossomose é uma causada pelos agentes etiológicos Schistosoma mansoni (mais comum),
Schistosoma haematobium ou Schistosoma japonicum. Todos são vermes platelmintos da classe
Trematoda. Eles possuem ciclo heteroxênico, possuindo dois hospedeiros, um definitivo (ser humano) e um
intermediário (caramujos da família Planorbidae, mas que variam entre as espécies). Também apresentam
dimorfismo sexual, com as fêmeas mais delgadas e compridas que o macho, que além de ser mais curto,
possui um canal ginecóforo longitudinal, que “abraça” a fêmea no acasalamento. O macho não possui órgão
copulador, apesar da presença do canal ginecóforo.
Os vermes possuem ventosas na boca, que ajudam na adesão dos vasos e na nutrição deles, que provém
da hemoglobina dos eritrócitos. Na infestação, primeiramente as larvas cercárias presentes em água doce
contaminada penetram a pele do ser humano e caem na circulação venosa. Nisso, se transformam em
esquistossômulo, que migra para os pulmões, coração e fígado, onde madura para vermes adultos. Do
fígado, os vermes migram contra a corrente sanguínea do sistema portal para plexos venosos mesentéricos
e da bexiga, onde botam seus ovos, obstruindo-os e desorganizados. Os ovos podem ser eliminados com
as fezes e urina, ou ser retidos no tecido. O ovo eclodirá liberando a larva miracídio, que parasitará os
caramujos, dentro dos caramujos haverá uma série de transformações (miracídio → esporocisto I →
esporocisto II + cercárias → esporocisto III + cercárias → etc.), assim como intenso processo de
reprodução, originando de dezenas até centenas de cercárias prontas para infectar o ser humano. O
indivíduo com esquistossomose pode apresentar diferentes manifestações clínicas, mas, de maneira geral,
a esquistossomose se manifesta em uma fase aguda e uma fase crônica. A fase aguda pode não haver
manifestação de sintomas, mas quando presentes, observamos manchas avermelhadas na pele
(exantemas),febre, mal-estar, sudorese, cefaleia, dores musculares, dor na região do fígado e intestino,
diarreia e cansaço. Na fase crônica, os sintomas podem se enquadrar em uma forma intestinal, forma
hepatointestinal ou forma hepatoesplênica.
A esquistossomose prevalece em países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, tais como os países do
Sudeste Asiático, Oriente Médio, África e alguns pontos na América do Sul. No Brasil, a região nordeste é a
mais afetada. Isso nos permite concluir que as populações socioeconômica-demograficamente mais
vulneráveis são mais afetadas.

Já a teníase é a doença causada pela ingestão de cisticercos vivos dos agentes etiológicos Taenia
solium e Taenia saginata, popularmente chamadas de tênias. São parasitas digenéticos, pois possuem dois
hospedeiros, um definitivo e um intermediário. No caso da Teníase, o homem atua como hospedeiro
definitivo, sendo os hospedeiros intermediários o porco para a Taenia solium e o boi para a Taenia saginata.
Uma tênia adulta consiste em um verme achatado hermafrodita. Sua cabeça é chamada de escólex e possui
quatro ventosas para fixação. Abaixo do escólex, encontramos o colo, onde há a multiplicação das células
do verme, sendo sua zona de crescimento. O corpo ou estróbilo é composto por diversos segmentos em
formas de anel, os proglotes. A proglote pode ser jovem, madura ou grávida de acordo com o
desenvolvimento de seus órgãos sexuais (ovário ou testículos). Os proglotes mais distantes do colo
geralmente estão grávidas. Os cisticercos são a forma larvária das tênias, consistindo em uma vesícula
onde está invaginada o escólex (a cabeça) da futura tênia. Na teníase, o ser humano se infecta ao ingerir
carne suína ou bovina crua ou malcozida infectada por cisticercos vivos. O escólex invaginado desse
cisticerco ingerido, ao chegar no intestino delgado, se desinvaginará e a tênia passará a se desenvolver no
intestino delgado. A presença de feixes musculares realizando ondas alternadas de contração e expansão
ajudam na sua manutenção no intestino contra o peristaltismo e microvilosidades em sua superfície
permitem melhor contato da superfície do verme com os materiais nutritivos. O desprendimento das
proglotes grávidas permitirá que elas sejam liberadas para o meio ambiente através do ânus e, no meio
externo, serão degeneradas liberando os ovos. Quando os ovos são ingeridos pelo porco ou boi, a
oncosfera cairá em sua circulação e se desenvolverá em cisticercos na musculatura, a qual pode ser
ingerida pelo ser humano. A musculatura da T. saginata é mais robusta e os proglotes podem realizar um
deslocamento ativo, saindo pelo ânus até quando o indivíduo não está defecando. Já as proglotes de T.
solium são eliminadas apenas com as fezes por expulsão passiva. O desenvolvimento completo de uma
tênia demora cerca de 3 meses, quando começa a apólise, e sua longevidade é de cerca de 3 anos para a
T. solium e 10 anos para a T. saginata, podendo chegar a 25 ou 30 anos.Em indivíduos com teníase
frequentemente não manifestam sintomas, mas quando presentes, surgem dois ou três meses após a
infecção. Manifestam-se como desconforto gastrointestinal, perda de peso, eosinofilia, dor abdominal,
náuseas, astenia. Em menos casos, pode apresentar cefaléia, tontura, constipação intestinal ou diarreia e
prurido anal.
Ambas as espécies estão presentes no mundo inteiro, mas a T. saginata prevalece nos países da
Ásia central, sendo também encontrada na América do Sul, Europa, Sul e Sudeste Asiático e Japão. A T.
solium tem mais endemicidade na América Latina, África e países do Sudeste Asiático. Novamente, a
maioria dos países estão em desenvolvimento. (ALUNO 2)

Em termos evolutivos, o filo Nematelminthes sucede o dos Platyhelminthes. Dessa vez, os vermes
são cilíndricos, alongados e com extremidades afiladas. Há cerca de 90 mil espécies, sendo a maioria de
vida livre, habitando diversos ambientes (solo úmido, rios, lagos e oceanos), entretanto, existem espécies
endoparasitas da espécie humana. Em termos de classificação, são triblásticos, pseudocelomados e com
simetria bilateral. Em termos de aquisição evolutiva, os nematelmintos apresentam sistema digestório
completo, mas os sistemas circulatório e respiratório continuam ausentes. A reprodução desses animais é
sexuada e os ciclos dos endoparasitas são complexos.
Como exemplo de espécies endoparasitárias, podemos citar a Ancylostoma duodenale e a Necator
americanus, ambas agentes etiológicos da ancilostomíase, popularmente conhecida como “Amarelão”, o
endoparasita infecta o ser humano a partir da penetração ativa de suas larvas filarióides pela pele a partir do
contato com solo contaminado. Outro exemplo é a espécie Strongyloides stercoralis, causador da
estrongiloidose, cuja infecção pode se dar por heteroinfecção por ciclo direto, heteroinfecção por ciclo
indireto ou autoinfecção, mas, de forma geral, a contaminação inicia com a penetração de larvas filarióides
pela pele ou pela ingestão delas. Por fim, o Ascaris Lumbricoides, causador da ascaridíase, doença
popularmente conhecida como lombriga. Apresenta dimorfismo sexual, com fêmeas mais compridas e
machos com cauda enrolada. Seu reservatório é o intestino delgado da espécie humana. Eles se alimentam
de material semi-digerido e se movimentam contra a corrente peristáltica. Sobre o ciclo evolutivo, tem-se
que as fêmeas grávidas no intestino delgado do hospedeiro liberam ovos que serão eliminados nas fezes.
No meio externo, esses ovos sofrerão embrionamento (desenvolvimento das larvas dentro dos ovos) por
cerca de 15 dias e serão ingeridos, contaminando um novo indivíduo (transmissão direta ou indireta). Os
ovos ingeridos eclodirão no intestino delgado e as larvas liberadas (por meio da veia mesentérica, veia
porta, veia cava, coração e artéria pulmonar) chegarão aos alvéolos pulmonares, rompendo-os. As larvas
ascenderão pelo trato respiratório e serão deglutidas, voltando para o intestino delgado, onde se
desenvolverão em vermes adultos. A contaminação pode ser pela ingestão dos ovos em água, alimentos
contaminados, poeira, transmissão domiciliar, etc. Lodo seco de estações de tratamento de esgoto permite a
dispersão dos ovos. Os sintomas mais comuns são tosse, febre, broncopneumonia e pneumonia difusa na
fase de invasão larvária. Na fase intestinal, é comum manifestar má digestão, dores abdominais, perda de
apetite, irritabilidade, etc. Além disso, caso haja enovelamento de casais ou grupos de parasita, poderá
acontecer obstrução do intestino. Como as larvas passam pelo sistema porta, podem causar também focos
hemorrágicos e de necrose no fígado. Os vermes adultos no intestino delgado podem ter ação espoliadora
(usurpadora), consumindo grande quantidade de vitaminas (A e C), proteínas, lipídeos e carboidratos,
gerando um quadro de desnutrição e enfraquecimento físico e mental.
A ascaridíase é mais comum na América Latina, Ásia e África, notadamente, portanto, em regiões mais
vulneráveis, muito povoadas e com baixas condições de saneamento básico.

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