Xavier, Patrícia Maria Azevedo e Flôr, Cristhiane Carneiro Cunha. SABERES POPULARES E
EDUCAÇÃO CIENTÍFICA: UM OLHAR A PARTIR DA LITERATURA NA ÁREA DE ENSINO
DE CIÊNCIAS. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências (Belo Horizonte) [online]. 2015, v. 17, n.
2 [Acessado 23 novembro 2021], pp. 308-328. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1983-
21172015170202>. Epub May-Aug 2015. ISSN 1983-2117. https://doi.org/10.1590/1983-
21172015170202.
O artigo apresenta uma análise de como o tema saberes populares é tratado na pesquisa em
ensino de ciências, para tanto as autoras realizam a revisão de literatura em publicações de seis
periódicos nacionais da área de ensino e aprendizagem de ciência entre os anos de 2000 e 2012,
após o levantamento das publicações é feito um levantamento das publicações dos autores
selecionados, que estivessem disponíveis online, totalizando trinta e oito publicações, as quais
foram classificadas em quatro categorias a saber: reflexões teóricas; novas alternativas
didáticas; troca de conhecimentos com a comunidade; investigação das transformações
ocorridas ao longo do tempo. A introdução do artigo é uma justificativa sobre a importância
do conhecimento popular está presente na escola dialogando com os conhecimentos
escolares/científicos, promovendo uma valorização da diversidade que compõe a sociedade
Brasileira. As autoras consideram o conhecimento popular como um conjunto de saberes e
práticas elaborados por famílias, e ou comunidades, validados pelas experiências ou crenças e
superstições, e transmitidos ao longo de gerações, principalmente por meio da oralidade. Na
categoria Reflexões Teóricas as autoras apontam uma concordância com o ponto de vista
apresentado nos trabalhos, de questionamento dos currículos que, na prática abandonam o
conhecimento popular e se constroem a partir da ciência ocidental. Tal postura ignora o caráter
plural e multicultural da sociedade, destarte consideram que a admitir no Ensino de Ciências os
conhecimentos populares pode levar ao rompimento de mecanismos que produz preconceitos e
desigualdades. Na categoria Novas Alternativas Didáticas, maior parte das pesquisas oferece
propostas resgate e inserção dos saberes primevos nas salas de aula, aproximando da realidade
dos estudantes, levantando uma discussão em torno da supervalorização do conhecimento
científico. Para os autores lidos os saberes populares são instrumentos para o entendimento dos
conceitos da química, física, matemática, geografia, etc. Os trabalhos enquadrados na categoria
citada, assinalam valorização dos mais velhos e de culturas consideradas de menor prestígio,
reconhecimento da própria história, de pertencimento à comunidade, possibilitam uma melhor
compreensão da Ciência no que se refere ao caráter incerto e transitório desta. Além de apontar
as dificuldades para implementação das propostas, a inércia dos estudantes, acostumados a um
modelo baseado na transmissão/recepção de conteúdos e o déficit na formação dos professores
quanto aos saberes científicos presentes nos saberes populares, além da comodidade do livro
didático e dos conteúdos definidos nos currículos. Das publicações analisadas seis procuram
gerar reflexões sobre a inserção de saberes populares na prática docente, porem as autoras
destacam que a inserção dos saberes populares na sala de aula, deve ser feita como exposição
como “obras de museu”, é fundamental que estes sejam contextualizados das contradições que
eles carregam, da sua função original, de sua realidade. Na categoria Troca de Conhecimento
com a Comunidade, a pesquisa identificou que um pequeno grupo de pesquisadores atentou
tanto em trabalhar o resgate dos saberes populares, quanto estudarem alternativas que pudessem
melhorar a qualidade dos produtos artesanais, embora propondo conteúdos curriculares com
base no conhecimento popular estudado, o foco da pesquisa visava um retorno à comunidade.
Um dos autores citado na pesquisa Chassot (2006) onde ele ressalta a necessidade do
retorno a comunidade por uma questão social e valorização da comunidade, porém as autoras
refletem se essa atitude é uma necessidade do grupo pesquisados o uma perspectiva de
superioridade do conhecimento produzido pela ciência acadêmica. Quanto a última categoria
exposta no artigo, Investigando as Transformações Ocorridas ao Longo do Tempo, os
trabalhos levantados, tratam das transformações pelas quais saberes populares passam ao longo
do tempo, ponderando sobre o papel da escola e do ensino de ciências diante da tradição e da
dualidade tradição/modernidade, das tensões da vida comunitária, do conhecimento das
especificidades e práticas locais e das relações com o global, entendendo que mais do que
conservar inalteradas os conhecimentos populares é entender como ocorre sua reelaboração
para atender às necessidades presentes, a cultura, portanto não é estática. Ao final do artigo as
autoras consideram que a pesquisa sobre saberes populares na área de Ensino de Ciências, se
desenvolve sobre eixos educacionais que problematizam currículos, práticas pedagógicas e
questões epistemológicas relativas à temática do conhecimento popular. Mas é preciso que se
garanta uma dialogo significativo entre as reflexões teóricas e as propostas efetivada a fim de
possibilitar um ensino contextualizado com a realidade, contribuindo com a educação de um
indivíduo mais crítico, que rompa com a hierarquização de saberes posta pela ciência que
muitas vezes destitui os significados conhecimentos oriundos de suas comunidades e famílias.