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O SÉCULO DO
ESPÍRITO SANTO
100 anos de avivamento pentecostal e carismático
Tradução
Judson Canto
À minha linda esposa, Carol Lee, com quem compartilhei
quarenta maravilhosos anos do século do Espírito Santo.
SUMÁRIO
Prefácio à edição brasileira
Prefácio do autor
1 O século do Pentecoste: visão geral
Vinson Synan
2 Raízes pentecostais
Vinson Synan
3 O avivamento da Rua Azusa: o movimento pentecostal começa nos Estados
Unidos
Robert Owens
4 “Além das vossas fronteiras”: a expansão global do pentecostalismo
Gary B. McGee
5 As igrejas holiness pentecostais
Vinson Synan
6 As igrejas pentecostais da “obra consumada”
Vinson Synan
7 A renovação carismática nas principais igrejas
Vinson Synan
8 Os “carismáticos”: o movimento de renovação nas principais denominações
protestantes
Vinson Synan
9 A Renovação Carismática Católica
Peter Hocken
10 Mulheres cheias do Espírito Santo
Susan C. Hyatt
11 Pentecostalismo afro-americano no século XX
David Daniels III
12 Pentecostalismo hispânico nas Américas
Pablo A. Deiros e Everett A. Wilson
13 Ministros de cura e televangelistas após a Segunda Guerra Mundial
David E. Harrell Jr.
14 Correntes de avivamento no final do século
Vinson Synan
15 O avivamento mundial do Espírito Santo
David B. Barrett
Apêndice: Cronologia dos movimentos de renovação do Espírito Santo
David B. Barrett
Chave de Siglas
PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA
século do Espírito Santo é o livro que o prezado leitor tem em mãos. Foi
O escrito por uma autoridade sobre a Terceira Pessoa da Santíssima
Trindade, Vinson Synan. É um volume alentado, com dezenas de páginas
recheadas de ricas bênçãos sobre o Espírito Santo.
O livro O século do Espírito Santo, da pena brilhante do doutor Vinson
Synan, é também um manual de pneumatologia.
Lendo suas páginas, inspirei-me com o assunto. É uma história dos grandes
avivamentos que abalaram o mundo, começando com Atos dos Apóstolos, o
livro canônico que narra o que Jesus continuou fazendo após a sua ascensão
ao seio do Pai. O século do Espírito Santo é histórico.
Tenho lido dezenas de livros sobre avivamentos; igual a este, porém, não
conheço outro. Adiantando-me na leitura do seu precioso conteúdo, recordei-
me de momentos do meu ministério em que estive face a face com o derramar
poderoso do avivamento que vivemos em nosso Brasil nas décadas de 1950,
1960, chegando até 1970. Nesse tempo, Deus visitou o Brasil com grande
poder.
Este livro transportou-me para grandes avivamentos do passado. Descreve
o poder do Alto que movimentou os episcopais, denominação
ultratradicional. De igual modo, historia o derramar poderoso do Espírito de
Deus que abalou os arraiais dos luteranos. Como Deus visitou esses irmãos
seguidores do grande Lutero! Adiantando-se nas narrativas, focaliza os
seguidores do grande John Wesley no progresso das igrejas metodistas em
parceria com os nazarenos. Fala do poderoso avivamento que visitou o Chile.
Descreve com brilhantismo o avivamento que caiu sobre a Rua Azusa em
1906, contemporâneo ao trabalho do País de Gales. Não se esquece do fogo
do Espírito que abalou os batistas da outra América. E descreve com
brilhantismo o derramar do Espírito de Deus entre os presbiterianos norte-
americanos.
O século do Espírito Santo é um livro fabuloso. Ensinou-me grandes e
preciosas lições.
O autor narra os acontecimentos com imparcialidade. Quando a imprensa
ataca e critica o movimento, ele descreve com neutralidade. Isso, entretanto,
não o impede de dizer quais foram na realidade os frutos desses movimentos.
Uma coisa chamou-me a atenção: o documentário que usou na feitura do
referido livro. O autor colocou-se no meio dos livros que descrevem esse
mover poderoso do Espírito que sacudiu as nações e os povos.
Gostei do trabalho de Vinson Synan e recomendo a sua leitura como
precioso manual de pneumatologia.
VINSON SYNAN
Universidade Regent
∗1∗
O SÉCULO DO PENTECOSTE:
VISÃO GERAL
Vinson synan
Nota 1 - Nessa época, a Coreia não era dividida e estava anexada ao Japão. [N. do T.]
[Voltar]
∗2 ∗
RAÍZES PENTECOSTAIS
Vinson synan
m 1764, tendo realizado uma extensa revisão do tema, escrevi um resumo sobre o que
tenho observado nas breves proposições que se seguem:
E
1. Existe algo como a perfeição, uma vez que ela é mencionada diversas vezes nas
Escrituras.
2. Ela não ocorre antes da justificação, pois os que foram justificados devem “prosseguir
até a perfeição” (Hebreus 6.1, ARC).
3. Não ocorre depois da morte, pois Paulo fala de homens viventes que foram perfeitos
(Filipenses 3.15).
4. Não é absoluta. A perfeição absoluta não pertence ao homem, nem aos anjos, mas a
Deus somente.
5. Não torna o homem infalível. Ninguém é infalível enquanto permanece no corpo.
6. Seria essa perfeição sem pecado? Não vale a pena discutir o tema. Ela é a “libertação
do pecado”.
7. Ela é o “perfeito amor” (1João 4.18). É a essência dele. Suas propriedades, os frutos
inseparáveis, são: regozijar-se sempre, orar sem cessar e em tudo dar graças
(1Tessalonicenses 5.16ss).
8. Ela é progressiva. É ponto pacífico que, partindo da total incapacidade de
aperfeiçoamento, aquele que é perfeito no amor deve crescer na graça mais
rapidamente que antes.
9. Ela pode ser perdida, e temos numerosos exemplos dessa realidade. Contudo, não
estávamos plenamente convencidos disso até cinco ou seis anos atrás.
10. Ela é em geral precedida e seguida por uma obra gradual.
11. No entanto, seria ela instantânea em si mesma, ou não? Examinemos a questão
passo a passo.
Uma mudança instantânea tem sido instaurada em alguns crentes, ninguém pode
negar isso.
Ocorrida essa mudança, eles passam a desfrutar o perfeito amor. Eles sentem isso, e
tão somente isso. Eles “se regozijam sempre, oram sem cessar e em tudo dão graças”.
Isso é tudo que pretendo dizer acerca da perfeição. Portanto, esses crentes são
testemunhas da perfeição que tenho pregado.
Para alguns crentes, no entanto, a mudança não foi instantânea. Eles não perceberam
o momento em que ela foi instaurada. Quase sempre, é difícil perceber o instante em que
alguém morre; contudo há, sem dúvida, um momento em que cessa a vida humana.
Assim, se o pecado cessa, deve ter existido o último momento de sua existência, o
primeiro instante em que nos libertamos dele.
JOHN WESLEY
A PLAIN ACCOUNT OF CHRISTIAN PERFECTION [UM CLARO RELATO DA PERFEIÇÃO CRISTÃ]
Os dons do Espírito na História
uitos líderes eclesiásticos logo começaram a entrar em rota de colisão
M com os dons do Espírito na Igreja. Livros como o de John Sherrill, Eles
falam outras línguas, e o de Morton Kelsey, Tongue Speaking [Falando em
língua], foram lançados para responder aos questionamentos daqueles
ministros. Esses autores chegaram à conclusão de que a Igreja do Novo
Testamento, de acordo com as informações do livro de Atos, era de fato
carismática. Também era evidente que ela conservara os dons originais e o
poder pentecostal durante o longo período de lutas e perseguições que se
seguiu, até o triunfo do cristianismo no Ocidente, com o apoio de
Constantino.
Depois de conquistar aceitação e poder, no entanto, a Igreja aos poucos foi
perdendo o poder miraculoso dos primeiros tempos, voltando-se
gradativamente para expressões de fé ritualistas e sacramentais.
O movimento de renovação dos montanistas, entre os anos 185 e 212,
representou uma tentativa de resgatar os charismata da Igreja. Apesar do
relativo sucesso nos anos iniciais, quando foram restauradas as línguas e
profecias entre os seguidores de Montano, o movimento foi mais tarde
condenado pela Igreja. A principal causa dessa rejeição não foi a presença
dos dons, mas a alegação de Montano de que as declarações proféticas
estavam em pé de igualdade com as Escrituras. Muitos estudiosos agora
sentiam que a Igreja havia exagerado em sua reação ao montanismo, ao
afirmar que os dons carismáticos mais espetaculares, embora experimentados
pela igreja apostólica, haviam sido revogados com a definição do cânon das
Escrituras. Essa opinião foi emitida por Agostinho e encontrou eco entre os
estudiosos nos séculos seguintes. Sobre a questão das línguas como evidência
do recebimento do batismo no Espírito Santo, Agostinho afirmou:
Por que, pergunto, não ocorrem mais milagres em nossos dias, como
acontecia nos tempos antigos? Respondo que eles eram necessários na
época, antes que o mundo viesse a crer, para que o mundo fosse
convencido.[Nota 5]
Não é o poder papal, em Roma, outrora tão terrível com seu domínio
tirânico, que chega ao fim? No entanto, vamos com calma: não foi
profetizado, em outras partes das Sagradas Profecias, que o fim deles
seria após 1.260
anos? E não foi profetizado por Daniel que o fim chegaria após um
tempo, tempos e meio tempo? Qualquer cálculo aponta para o mesmo
período. Vejamos, então. Ouçamos para entender. Estamos em 1798, e
exatamente há 1.260 anos, bem no início do ano 538, [o general Flávio]
Belisário pôs termo ao império e à dominação dos ostrogodos em Roma.
[Nota 8]
EDWARD IRVING
OBRAS SELECIONADAS
VINSON SYNAN
THE HOLINESS-PENTECOSTAL TRADITION [A TRADIÇÃO PENTECOSTAL HOLINESS]
Como salientou Donald Dayton, “perto da virada do século, tudo que vinha
dos acampamentos para o altar era classificado no Guide como ‘pentecostal’.
Os sermões eram publicados na seção ‘Púlpito pentecostal’; as informações
de interesse das mulheres, em ‘Mulher pentecostal’; as experiências pessoais,
em ‘Testemunhos pentecostais’, e assim por diante”. De fato, em 1897 o
Guide to Holiness trocou o subtítulo do cabeçalho, “and Revival Miscellany”
[e miscelânea de avivamento], por “and Pentecostal Life” [e vida
pentecostal]. Isso foi feito, de acordo com o editor, para acompanhar “a
tendência da época, a qual se caracterizava por investigação, exame e ardente
busca dos dons, das graças e do poder do Espírito Santo”. Ele acrescentou:
“O conceito pentecostal hoje permeia a reflexão e as aspirações cristãs mais
que em qualquer outra época”.[Nota 20]
Assim, a palavra “pentecostal” passou a ser representativa para o
movimento de santidade tanto quanto a palavra “carismáticos” se tornou de
uso comum em nossos dias para indicar os pentecostais. O termo
“pentecostal” tornou-se identificação obrigatória na maioria das obras
holiness publicadas nas duas últimas décadas do século XIX. Um exemplo
clássico é o livro de Martini Wells, lançado em 1898, Lightning Bolts from
Pentecostals Skies, or the Devices of the Devil Unmasked![Nota 21] [Raios
lançados de céus pentecostais, ou artimanhas do Diabo desmascaradas]. A
popularidade dos termos “pentecostal” e “batismo com o Espírito Santo” logo
permeava grande parte do mundo evangelical. Melvin Dieter resume a
situação:
Moody sempre demonstrou anseio por uma vida espiritual mais profunda. Ele era
usado por Deus de maneira extraordinária, porém sentia haver ainda grandes realizações
à sua espera. O ano de 1871 foi um período crítico para ele.
Moody estava inquieto, cada dia mais convencido de que suas aptidões pessoais não
estavam à altura de seu trabalho, que precisava obter qualificação para aquela obra pelo
poder do Espírito Santo. Essa convicção se fortaleceu com uma conversa, certo dia, com
duas senhoras que se sentaram no primeiro banco de sua igreja. Ele podia perceber, pela
expressão do rosto delas, que estavam orando. Terminada a reunião, elas lhe disseram:
— Estamos orando por você.
— Por que vocês não oram pelo povo? — perguntou Moody.
— Porque você precisa do poder do Espírito — foi a resposta.
“Eu precisando de poder!”, disse ele, ao relatar o incidente mais tarde. “Ora, eu tinha
poder. Eu tinha a maior igreja de Chicago, e havia muitas conversões. Eu me sentia
realizado. Contudo, aquelas duas santas mulheres oravam continuamente por mim, e sua
determinação em me falar de unção para uma obra especial me levou a pensar.
Pedi-lhes que viessem falar comigo, e elas derramaram o coração, suplicando a Deus
que eu fosse cheio do Espírito Santo. Um grande anseio tomou conta de minha alma.
Eu não sabia o que era. Comecei a clamar como nunca o fizera. Naquele momento,
senti que não poderia mais viver se não obtivesse aquele poder para o serviço.”
“Enquanto o senhor Moody se debatia nesse estado de espírito”, conta seu filho,
“Chicago virava cinzas. O Grande Incêndio riscou do mapa o Farwell Hall e a igreja da
Rua Illinois. No domingo à noite, após o culto, ao voltar para casa, o senhor Moody viu
o clarão das chamas e soube que aquilo significava a destruição de Chicago. Por volta
de 1 hora da manhã, o Farwell Hall foi consumido pelo fogo, e logo depois a igreja
também se foi. Não sobrou nada.”
O senhor Moody viajou para Nova York a fim de angariar recursos para as vítimas do
incêndio de Chicago, mas seu coração e sua alma não deixavam de clamar pelo poder do
alto. “Meu coração não estava naquele trabalho de arrecadação”, confessou. “Não
consegui pedir nada. Eu estava o tempo todo clamando a Deus, pedindo que ele me
enchesse com seu Espírito. Bem, um dia, na cidade de Nova York... oh!
Que dia! Não posso descrevê-lo. É raro eu me referir a ele. Foi uma experiência
sublime demais para ser mencionada. Paulo também teve uma experiência sobre a qual
silenciou por quatorze anos. Só posso dizer que Deus se revelou a mim, e a experiência
que tive com seu amor foi tamanha que precisei pedir que ele retirasse sua mão. Depois
disso, voltei a pregar. Os sermões não eram diferentes; não apresentei nenhuma verdade
nova; pessoas às centenas continuavam a se converter. Eu não voltaria à minha vida
anterior à recepção daquela bênção nem que você me oferecesse o mundo inteiro — ela
pesaria tanto quanto um grão de areia na balança.”
urante toda a sua vida, Barton Stone testemunhou os vários “exercícios” corporais
D daqueles remotos avivamentos. Em sua autobiografia, de 1847, ele descreve as
formas de êxtase religiosos que presenciou. Eis um excerto resumido:
Dança Este exercício em geral começava com os tremores, que cessavam quando a
dança começava. Um sorriso celestial brilhava no rosto da pessoa, e ela ficava com
aparência de anjo. Os movimentos podiam ser rápidos ou lentos. Durante a dança, a
pessoa andava para trás e para diante, repetindo o trajeto até a exaustão, e então caía
prostrada no assoalho ou sobre a terra.
Risada Era uma risada alta e sincera, que não provocava risos em mais ninguém. A
pessoa mostrava-se arrebatadamente solene, e sua risada despertava também um
sentimento de solenidade em santos e pecadores. Verdadeiramente indescritível.
Corrida O exercício de correr consistia no simples fato de que algumas pessoas,
experimentando certa inquietação no corpo, sentiam medo e tentavam fugir. No entanto,
era normal que corressem para não muito longe, caíssem ou ficassem perturbadas a
ponto de não conseguirem ir muito longe.
BARTON W. STONE
CHRISTIAN HISTORY [HISTÓRIA CRISTÃ]
Foi assim que o mundo ouviu falar pela primeira vez do avivamento da
Rua Azusa, que sacudiu o mundo espiritual muito mais que o terremoto no
norte da Califórnia abalou San Francisco. Poucos leitores sabiam que os
tremores subsequentes do fenômeno ocorrido na pequena igreja negra
holiness da Rua Azusa continuaria a sacudir o mundo com ainda mais
intensidade no decorrer do século. Poucos dias antes, um pequeno grupo de
lavadeiras e serviçais domésticos havia acompanhado William J. Seymour até
um antigo prédio da Igreja Episcopal Metodista Africana, na Rua Azusa, para
dar início aos cultos. Seymour havia chegado à cidade poucas semanas antes
com uma desconcertante mensagem, relativa ao “batismo no Espírito Santo”
com a “evidência bíblica” do falar em línguas conforme o Espírito se
manifestasse. O que aconteceu na Rua Azusa mudou o curso da história da
Igreja para sempre.
Joseph Smale
Em todo grande avivamento religioso, o que parece ser novo e espontâneo
é na verdade o resultado de muita oração e preparação. Os crentes do
movimento de santidade estavam olhando em muitas direções, a fim de ver
qual seria o movimento seguinte de Deus. Uma das personagens que
representaram essa busca contínua de um caminho mais íntimo com Deus foi
Joseph Smale, pastor da Primeira Igreja Batista de Los Angeles. Smale
nasceu na Inglaterra e estudou na escola de pregadores de Spurgeon, em
Londres, para ser ministro.
Quando a notícia de um grande derramamento do Espírito no País de Gales
chegou a Los Angeles, em 1904, Smale ausentou-se de seu púlpito e viajou
para aquele país a fim de observar o fenômeno e obter informações de
primeira mão. Enquanto permaneceu no País de Gales, Smale ajudou Evan
Roberts a dirigir as reuniões.
Ao retornar a Los Angeles, Smale era um homem mudado. Disposto a
buscar um avivamento semelhante ao que presenciara no País de Gales, ele
empreendeu uma intensa jornada de oração. Dando prosseguimento a esse
tempo de preparação, o entusiasmado pregador batista instituiu reuniões de
oração nas casas, convocando para isso os membros mais dedicados de seu
rebanho. As reuniões de oração nos lares logo motivaram o pastor a
promover reuniões de avivamento em sua igreja.
Foram dezesseis semanas de contínua intercessão por um avivamento.
As reuniões eram marcadas pela espontaneidade e liberdade na adoração.
O pastor dava também total liberdade ao Espírito Santo para agir nas
reuniões. Era comum os crentes tomarem a iniciativa de começar e dirigir os
cultos quando Smale demorava a chegar. Membros das mais diversas
denominações tinham permissão para pregar e dar testemunhos.
Depois de quatro semanas de poderoso avivamento, os membros mais
antigos da Primeira Igreja Batista resolveram chamar o pastor à
responsabilidade. Eles estavam incomodados com o rumo que as reuniões
estavam tomando, justamente pelo fato de alguns não batistas terem
permissão não apenas para pregar, mas também, em algumas ocasiões, iniciar
e dirigir os cultos. Eles estavam cansados daquelas inovações e desejavam
retornar à forma antiga. O pastor Smale optou pela renúncia. Ele e alguns
membros leais naquela busca mais intensa por um avivamento deixaram a
igreja batista e implantaram a Primeira Igreja Batista do Novo Testamento, e
as reuniões noturnas continuaram. A opinião dos crentes holiness a respeito
dessa divisão pode ser resumida nas palavras de Frank Bartleman: “Mas que
posição horrível para uma igreja assumir: colocar Deus para fora!”.[Nota 2]
Essa era a situação do movimento de santidade na Los Angeles de 1905.
Era um cenário de fermentação e turbulência, bênção e dedicação, em que
o povo manifestava o desejo de se desvencilhar de velhos laços de
compromisso e sair em busca de um novo derramamento do Espírito de Deus,
um segundo Pentecoste. Os antigos regimes eram severos, e aqueles que
agora constituíam o povo de Deus buscavam uma nova unção. Como sempre
acontece, o movimento era mais pronunciado entre os pobres e oprimidos.
As classes inferiores e seus líderes pareciam mais dispostos a sacrificar seu
tempo, suas convicções e sua reputação em sua ardente busca pelo poder de
Deus.[Nota 3]
O avivamento do País de Gales
Na época em que o movimento de santidade preparava o palco para o
advento do pentecostalismo moderno, o avivamento do País de Gales, em
1904, veio demonstrar, sem sombra de dúvida, que o anseio por tal renovação
era universal. Aquele avivamento incendiou todo o País de Gales, depois
Londres e por fim a Inglaterra inteira, atraindo gente de todo o mundo para
observar de perto se aquele fenômeno era o novo Pentecoste.
Diferentemente da maioria dos avivamentos norte-americanos, os quais
eram independentes, o avivamento de 1904 no País de Gales aconteceu
dentro da igreja. Foi também um avivamento de leigos, que contemplou os
pobres e excluídos. O líder do avivamento era um ex-mineiro de 26 anos de
idade e calouro de teologia chamado Evan Roberts (1878-1951). Aquela
tremenda manifestação do poder de Deus caracterizava-se pela completa
liberdade no Espírito. As reações entre os observadores que vinham de longe
eram as mais diversas. Alguns se convenceram de que Deus estava de fato
agindo no meio de seu povo, enquanto outros não viam nada além de histeria
e confusão.
O que alguns classificavam com o termo galês hywl,[Nota 4] outros
consideravam como o falar em línguas. Diversas outras manifestações de
energia extática faziam parte daquele derramamento, entre elas períodos de
cântico prolongados, pregação por leigos, testemunhos, oração conjunta,
interrupções frequentes do culto por adoradores, e confiança inabalável na
orientação do Espírito Santo, que era o centro das atenções. O próprio Evan
Roberts afirmou ter recebido muitas visões sobrenaturais que julgava
autênticas e baseadas em profecias bíblicas. Ele atribui boa parte de sua
inspiração e motivação a essas visões.
Nas primeiras semanas do avivamento, muitos testemunhavam ter sido
batizados no Espírito Santo. A experiência era acompanhada de gritos, risos e
danças, gente caindo ao chão por não resistir ao poder, lágrimas copiosas e
elocução em línguas desconhecidas. Houve também um intrigante
ressuscitamento do galês arcaico. Muitos jovens, que não tinham nenhum
conhecimento dessa língua, naquelas semanas de êxtase espiritual falavam
fluentemente o antigo idioma.[Nota 5] O avivamento logo extrapolou o
ambiente das reuniões dirigidas por Roberts, embora ele tenha sido
universalmente proclamado líder do movimento, do início ao fim.
Os jornais noticiavam novos focos de avivamento em lugares cada vez
mais distantes, enquanto pessoas de outras partes da Grã-Bretanha e até
mesmo do mundo vinham conhecer Roberts e assistir às suas reuniões.[Nota 6]
Os cultos de avivamento começaram a assumir uma compleição cosmopolita
depois que cidadãos de vários países começaram a buscar o poder de Deus.
Nas reuniões de Roberts, era comum as pessoas “caírem no poder” do
Espírito Santo, ficando prostradas no chão durante horas.
Os efeitos do extraordinário avivamento do País de Gales eram tangíveis e
duradouros. O poder do Espírito Santo, manifestado em diversos sinais,
especialmente nas conversões e no crescimento da igreja, combinado com a
presença de muitos que mais tarde desempenharam importantes papéis no
novo Pentecoste, fez do avivamento do País de Gales, de 1904, um precursor
do movimento pentecostal.
Charles Fox Parham
O homem reconhecido pela maioria como o formulador da doutrina
pentecostal e fundador teológico do movimento foi Charles Fox Parham
(1873-1929).[Nota 7] Sua doutrina das línguas como “evidência bíblica” do
batismo no Espírito Santo influenciou de forma direta o avivamento da Rua
Azusa, de 1906, e a criação do movimento pentecostal em todo o mundo.
Parham nasceu em Muscatine, no Iowa, em 4 de junho de 1873. Durante a
juventude, sofria com a saúde debilitada, chegando a ficar confinado ao leito
meses a fio. Ainda em tenra idade, enquanto amargava suas enfermidades, ele
se convenceu de que havia recebido um chamado para o ministério e
começou a ler e estudar a Bíblia com muita dedicação. Quando tinha 13 anos
de idade, sua mãe morreu, lançando-o a mais um período de sofrimento.
Durante essa crise, ele “nasceu de novo”, por influência do ministério do
Irmão Lippard, da Igreja Casa Congregacional.
Convicto de seu “chamado”, Parham ingressou numa escola identificada
com o metodismo, a Faculdade Sudoeste, em Winfield, no Kansas, em 1889.
Ele já havia decidido servir a Deus não apenas como ministro do evangelho,
mas também como médico. Logo que começou a estudar medicina, foi
acometido pela enfermidade, dando início a uma angustiante batalha contra a
febre reumática. Enquanto estava acamado, começou a estudar as passagens
bíblicas que relatavam as curas realizadas por Jesus. O Estudo dessas
passagens levou Parham à crença de que Jesus também poderia curá-lo. Ele
estava convencido de que o Diabo, tentando impedi-lo de ingressar no
ministério, o induzira a fazer medicina, e por causa desse desvio Deus o
estava castigando com aquela doença.
Depois de renunciar à carreira na medicina e retomar o plano original de
ingressar no ministério, o jovem pregador recuperou-se da doença, mas não
completamente. Ele ficou com sequelas nos artelhos e mal podia andar, tendo
de usar muletas ao retornar à escola. Pouco tempo depois, Parham recebeu
uma revelação segundo a qual o ensino institucional seria um empecilho ao
seu ministério. Imediatamente, ele abandonou a escola.
Foi exatamente nessa época, contou ele mais tarde, que Deus o curou
completamente das sequelas causadas pela febre.[Nota 8]
Parham é considerado o primeiro a desenvolver o argumento teológico de
que as línguas são sempre a evidência inicial de que uma pessoa recebeu o
batismo com o Espírito Santo. Ele também foi o primeiro a ensinar que esse
batismo e até mesmo as línguas que o evidenciam podem ser considerados
parte da experiência de todo cristão, algo presente na vida normal e na
adoração, não se manifestando, portanto, apenas em períodos de grande
fervor religioso. Parham ensinava ainda que o batismo no Espírito Santo era o
único meio de escapar à grande tribulação[Nota 9] do final dos tempos e que o
falar em línguas era a única garantia desse livramento. Os ensinos de Parham
lançaram os fundamentos teológicos e experienciais do avivamento da Rua
Azusa e da moderna prática pentecostal.
Depois de deixar a Igreja Metodista de Linwood para se tornar pregador
independente do movimento de santidade, Parham iniciou sua carreira de
professor itinerante e evangelista. Nessa época, implantou várias missões de
ensino e cura, todas operando com base na fé, porém nenhuma delas bem-
sucedida.[Nota 10] Por volta de 1898, ele se estabeleceu em Topeka, no Kansas,
onde implantou a Escola Bíblica Betel e a Casa da Cura. Em dezembro de
1900, Parham incumbiu seus alunos de pesquisar nas Escrituras algum sinal
especial do batismo com o Espírito Santo. Ele se ausentou por três dias para
pregar em Kansas City, e durante esse período seus alunos, por meio de
jejum, oração e estudo das Escrituras, chegaram à conclusão unânime de que
o falar em outras línguas constituía a única prova bíblica do batismo com o
Espírito Santo.
Depois que ouviu a resposta dos alunos, obtida com base naquela pesquisa,
Parham foi convidado a participar do culto de passagem do ano, realizado em
31 de dezembro de 1900. Naquele culto, uma de suas alunas, Agnes N.
Ozman, pediu a Parham que lhe impusesse as mãos e orasse para que ela
recebesse o batismo com o Espírito Santo, acompanhado com a evidência
inicial do falar em línguas. Mais tarde, ao relembrar esse fato, Parham
escreveu:
Impus as mãos sobre ela e orei. Eu mal havia completado três frases,
quando a glória desceu sobre ela. Uma auréola luminosa parecia
envolver sua cabeça e seu rosto, e ela começou a falar em chinês.
Durante três dias, não conseguiu falar uma palavra em inglês. Ela tentou
escrever em inglês, para assim nos contar a experiência, mas só escrevia
em chinês. Cópias do que ela escreveu foram publicadas em jornais da
época.[Nota 11]
Eles gritaram três dias e três noites. Era época da Páscoa. As pessoas
chegavam de todos os lugares. Próximo ao amanhecer, não havia mais
como entrar na casa. Os que conseguiam entrar caíam sob o poder de
Deus. A cidade inteira ficou alvoroçada. Eles continuaram o clamor até
o chão da casa ceder, mas ninguém ficou ferido.[Nota 22]
Asede dessa obra era um antigo prédio de madeira de uma igreja metodista que fora
posto à venda, parcialmente queimado, coberto por um telhado plano e construído com
dois pavimentos. Não era rebocado, apenas pintado de branco sobre o revestimento
bruto. Na parte de cima, havia um salão equipado com cadeiras e três pranchas de
madeira de sequoia da Califórnia que também serviam de assentos.
Esse era o “cenáculo” pentecostal, no qual almas santificadas buscavam a plenitude
do Espírito Santo e falavam novas línguas, encontrando o que em tempos antigos era
chamado “vinho novo”. Naquelas salas pequenas, mãos eram impostas sobre os doentes,
e eles voltavam a ser como antes. Na parte de baixo, havia um espaço de 32 metros x 22
metros, com uma miscelânea de cadeiras, bancos e banquetas, nos quais os curiosos e os
ansiosos se acomodavam durante horas para ouvir os estranhos sons, canções e
advertências vindos do céu. No centro do salão, havia uma caixa retangular, na vertical,
coberta com um pano de algodão, a qual um comerciante de sucata avaliara em 15
centavos. Era esse o púlpito do qual o líder, Irmão Seymour, pregava o arrependimento,
o perdão, a santificação, o poder sobre os demônios e doenças e o “batismo com o
Espírito Santo e com fogo” dos tempos antigos.
As reuniões eram realizadas todos os dias: começavam às 10 da manhã e se
prolongavam até quase meia-noite. Havia três altares para os cultos diários. O altar era
uma prancha de madeira apoiada em duas cadeiras colocadas no centro do salão, e ali o
Espírito Santo descia sobre homens, mulheres e crianças, nos antigos moldes
pentecostais, tão logo ficava evidenciado que eles haviam tido a experiência de
purificação interior. Pregadores orgulhosos e leigos de grande inteligência, inflados das
próprias teorias e crenças, chegavam de todas as partes e experimentavam a humilhação,
tendo afastada de si toda a “palha” de seus conceitos, chorando de consciência limpa
diante de Deus e suplicando para serem “cheios do poder do alto”. De cada crente
sincero que recebeu a maravilhosa experiência que enchia, emocionava, abalava e
energizava a estrutura física e moral, o Espírito Santo testemunhava sua presença,
usando os órgãos fonadores para se expressar numa “nova língua”.
Mais notícias
Motivados pelo preconceito racial e religioso da época, o Los Angeles
Times e a maioria dos outros jornais da cidade tinham verdadeira compulsão
por produzir matérias sobre os cultos da Rua Azusa. Numa descrição de
Seymour e seus seguidores, o Los Angeles Times assim se expressou:
Não temos nada planejado, não temos medo da anarquia nem dos
espíritos fraudulentos. O Espírito Santo de Deus é capaz de controlar e
defender sua obra. No caso de alguma manifestação estranha, confie no
Espírito Santo, mantenha-se em espírito de oração, e você verá que logo
uma palavra de sabedoria, uma refutação ou uma exortação fechará a
porta para o inimigo e triunfará sobre ele. Deus pode usar qualquer
membro do Corpo, e muitas vezes ele concede as maiores honras aos
membros mais fracos.[Nota 28]
As reuniões normalmente iniciavam com oração, louvor e
testemunhos entremeados de mensagens em línguas e de cânticos a
capella, tanto em inglês quanto em línguas desconhecidas. A qualidade
celestial das harmonias alcançada por cantores não profissionais era
motivo de comentários da parte de defensores e detratores do
movimento, igualmente. Um fascinado observador declarou: As
encantadoras melodias do chamado “coral celeste”, tanto a letra quanto a
música dos hinos cantados sob a evidente direção do Espírito Santo,
faziam vibrar todo o meu ser. Não se tratava de algo que pudesse ser
repetido conforme se desejasse, e sim de dádiva sobrenatural, concedida
em ocasiões específicas, uma prova incontestável do poder de Deus.
Creio que nada impressionava mais o povo do que essas canções. Ao
mesmo tempo, elas inspiravam um santo temor, uma sensação de
indescritível deslumbramento, especialmente para os que se mantinham
em atitude devota.[Nota 29]
***
Nota 1 - Vinson Synan, The Holiness-Pentecostal Movement in the United States (Grand
Rapids: Eerdmans, 1971), p. 84. [Voltar]
Nota 2 - Azusa Street (Plainfield, Logos International, 1980, p. 26). [A história do
avivamento Azusa. São Paulo: D’Sena/Worship, s.d.] [Voltar]
Nota 3 - Vinson Synan, The Holiness-Pentecostal Movement in the United States, p. 97,
99; Stanley M. Burgess, Patrick Alexander & Gary McGee (Orgs.), Dictionary of
Pentecostal and Charismatic Movements, p. 791; John Nichols, Pentecostalism
(New York: Harper & Row, 1966), p. 34, 70; Robert Mapes Anderson, Vision of
the Disinherited: The Making of American Pentecostalism (New York: Oxford
University Press, 1979), p. 70-1, 143. [Voltar]
Nota 4 - Termo usado para descrever o tom de voz e a inflexão dos pregadores avivalistas
que tinham como propósito estimular a emoção do povo. [N. do T.] [Voltar]
Nota 5 - Apud Vinson Synan, The Holiness-Pentecostal Movement in the United States, p.
99. [Voltar]
Nota 6 - Eifion Evans, The Welsh Revival of 1904 (Bridgend: Evangelical Press of Wales,
1969), p. 63-119. [Voltar]
Nota 7 - Para uma biografia de Charles Fox Parham, v. James R. Goff Jr., Fields White
Unto Harvest (Fayetteville: University of Arkansas Press, 1988). [Voltar]
Nota 8 - Robert Mapes Anderson, Vision of the Disinherited: The Making of American
Pentecostalism, p. 48; James R. Goff Jr., Fields White Unto Harvest, p. 29.
[Voltar]
Nota 9 - Edith L. Blumhofer, Restoring the Faith: The Assemblies of God, Pentecostalism,
and American Culture (Urbana: University of Illinois Press, 1993), p. 50. [Voltar]
Nota 10 - James R. Goff Jr., Fields White Unto Harvest, p. 37, 40, 45-6. [Voltar]
Nota 11 - James R. Goff Jr., Fields White Unto Harvest, p. 67; Vinson Synan, The
Holiness- Pentecostal Movement in the United States, p. 101; Edith L.
Blumhofer, Restoring the Faith: The Assemblies of God, Pentecostalism, and
American Culture, p. 51; Eric W. Gritsch, Born Againinism (Philadelphia:
Fortress Press, 1982), p. 71. [Voltar]
Nota 12 - Apud Vinson Synan, The Holiness-Pentecostal Movement in the United States,
p. 102. [Voltar]
Nota 13 - James R. Goff Jr., Fields White Unto Harvest, p. 89-90; Edith L. Blumhofer,
Restoring the Faith: The Assemblies of God, Pentecostalism, and American
Culture, p. 53. [Voltar]
Nota 14 - Donald Dayton, The Theological Roots of Pentecostalism (Grand Rapids:
Francis Asbury Press, 1987), p. 22-3. [Voltar]
Nota 15 - Wayne E. Warner, The Miracle of Azusa, Pentecostal Evangel, v. 22, set. 1996,
p. 11. [Voltar]
Nota 16 - W. W. Robinson, Los Angeles: From the Days of the Pueblo (Los Angeles:
California Historical Society, 1981), p. 61, 64-6. [Voltar]
Nota 17 - Michael Engh, Frontier Faiths: Church, Temple, and Synagogue in Los Angeles,
1846-1888 (Albuquerque: University of New Mexico Press, 1992), p. 60, 190-2;
Gregory H. Singleton, Religion in the City of Los Angeles: American Protestant
Culture and Urbanization, Los Angeles, 1850-1930 (Los Angeles: UMI Research
Press, 1979), p. 54-6. [Voltar]
Nota 18 - John Nichols, Pentecostalism, p. 33. [Voltar]
Nota 19 - Clara Davis, The Move of God! The Outpouring of the Holy Spirit from Azusa
Street to Now (As Told by Eyewitnesses) (Tulsa: Albury Press, 1983), p. 20.
[Voltar]
Nota 20 - Vinson Synan, The Holiness-Pentecostal Movement in the United States, p. 106.
[Voltar]
Nota 21 - Robert Mapes Anderson, Vision of the Disinherited: The Making of American
Pentecostalism, p. 66; Richard T. Hughes (Org.), The American Quest for the
Primitive Church (Urbana: University of Illinois Press, 1988), p. 200-3; Walter J.
Hollenweger, The Pentecostals (London: SCM Press, 1972), p. 22. [Voltar]
Nota 22 - Apud Walter J. Hollenweger, The Pentecostals, p. 23. [Voltar]
Nota 23 - Nickel, Azusa Street Outpouring: As Told By Those Who Were There, p. 6-7.
[Voltar]
Nota 24 - Los Angeles Daily Times, 18 abr. 1906, p. 1. [Voltar]
Nota 25 - Vinson Synan, In the Latter Days (Ann Arbor: Servant Publications, 1991), p. 50.
[Voltar]
Nota 26 - Azusa Street, p. 40. [Voltar]
Nota 27 - Los Angeles Times, 18 abr. 1906, p. 1. [Voltar]
Nota 28 - Stanley M. Horton, A Typical Day at Azusa Street, Heritage (Springfield:
Assemblies of God, outono 1982, p. 6). [Voltar]
Nota 29 - A. W. Orwig, Apostolic Faith Restored, Weekly Evangel, 18 mar. 1916, p. 4; A.
G. Osterberg, entrevista concedida a Jerry Jensen e Jonathan E. Perkins, mar.
1966, transcrita por Mae Waldron, Assemblies of God Archives, Springfield, fita
única, 1293 075; Stanley M. Horton, A Typical Day at Azusa Street, p. 6.
[Voltar]
Nota 30 - A expressão “agir na carne” é uma referência àqueles que tentavam imitar a
unção de Deus, por ignorância ou por orgulho. [Voltar]
Nota 31 - Modern American Protestantism and Its World, in: New and Intense Movement
(Munich: K. G. Saur, 1993), v. 11, p. 207. [Voltar]
Nota 32 - A. W. Orwig, Apostolic Faith Restored, Weekly Evangel, 8 abr. 1916, p. 4.
[Voltar]
Nota 33 - Ernest S. Williams, Memories of Azusa Street Mission, Pentecostal Evangel, 24
abr. 1966, p. 7. [Voltar]
Nota 34 - Azusa Street, p. 68, 84. [Voltar]
Nota 35 - Sanders, Saints in Exile, p. 30. [Voltar]
Nota 36 - Kimberly Wesley, Bishop William J. Seymour, Father of the Modern Pentecostal
Movement, Whole Truth,1 n. 1, primavera 1996, p. 18. [Voltar]
Nota 37 - Edith L. Blumhofer, Restoring the Faith: The Assemblies of God,
Pentecostalism, and American Culture, p. 19, 93, 80. [Voltar]
Nota 38 - Frank Bartleman, A história do avivamento Azusa; Vinson Synan, The Holiness-
-Pentecostal Movement in the United States, p. 148-9. [Voltar]
∗4 ∗
“ALÉM DAS VOSSAS FRONTEIRAS”: A EXPANSÃO GLOBAL DO
PENTECOSTALISMO
Gary B. McGee
enos de seis meses após ter início o avivamento da Rua Azusa, as notícias do que
M Deus estava fazendo ali correram o mundo. Muitos já haviam viajado até a
pequena missão em Los Angeles ou pelo menos tinham ouvido falar do avivamento.
Muitos outros haviam lido a respeito em periódicos religiosos.
Thomas Ball Barratt estava entre os que haviam ficado maravilhados com as notícias
que chegavam da Missão da Fé Apostólica. Barratt, ministro metodista inglês, percorria
os Estados Unidos em 1907, a fim de arrecadar dinheiro para seu trabalho missionário
na Noruega, quando ficou sabendo do avivamento. De imediato, começou a buscar
também seu “Pentecoste”, o batismo com o Espírito Santo. Às vezes, orava mais de
doze horas seguidas.
Finalmente, Barratt pôde anunciar: “Queridos amigos de Los Angeles, glória a Deus!
Línguas de fogo desceram, e seu extraordinário poder foi demonstrado”. Ele não podia
esquecer a noite em que tudo aconteceu e queria que todos o soubessem: “Eu estava
coberto de luz, e o poder era tanto que comecei a gritar o mais alto que podia num
idioma estrangeiro”. Ele não conseguiu parar até as 4 horas da manhã.
Depois de receber o batismo com o Espírito Santo, Barratt mostrou-se ansioso para
retornar à Noruega, onde poderia compartilhar a experiência com sua congregação e
com qualquer um que se prontificasse a ouvi-lo. Embora alguns membros se opusessem
à nova doutrina, a maioria não fez objeção. Na Europa, a exemplo do que ocorreu nos
Estados Unidos, a mensagem pentecostal alastrou-se como fogo.
Enquanto ainda estava em Nova York, Barratt escrevera à sua congregação contando
sua experiência, e a carta criou um clima de expectativa. Quando ele retornou à
Noruega, a seara estava madura. Ali, na cidade de Christiana (hoje Oslo), ele reuniu o
povo para orar, e o local das reuniões logo ficou superlotado, tanto de crentes ansiosos
pela experiência quanto de curiosos e observadores céticos.
Ele descreve algumas cenas: “Muitos têm entrado em estado de transe e recebido
visões do céu. Alguns já viram Jesus em nossas reuniões, e línguas de fogo foram vistas
outra vez sobre minha cabeça por um livre-pensador, que foi assim convencido do poder
de Deus”. Barratt informou também que o fogo se espalhou rapidamente e estava
agradecido por aqueles que frequentavam as reuniões e eram “queimados” com eles.
Expressou ainda sua gratidão à imprensa religiosa, que dava cobertura aos eventos.
Um dos visitantes mais ilustres foi Alexander Boddy, clérigo anglicano. Ele também
se sentia atraído pelo avivamento. No final de 1907, Boddy convidou Barratt para
pregar na Igreja de Todos os Santos, em Sunderland, Inglaterra, e o avivamento também
chegou àquela área. Essa igreja se tornou o centro do movimento na Grã-Bretanha.
Outro visitante, Lewi Pethrus, retornou a Estocolmo e tornou-se o pai do movimento
pentecostal na Suécia.
O povo não somente acorria às principais áreas de radiação do avivamento, como
Christiana e Sunderland, mas também acompanhava os acontecimentos pelos periódicos
religiosos. Um jornal da Inglaterra noticiou: “Uma quantidade imensa de literatura
popular está sendo enviada de Sunderland para todas as partes do mundo”. O jornal
editado por Boddy, o Confidence [Confiança], tornou-se porta-voz do movimento na
Inglaterra. Barratt e Boddy dedicaram-se a fomentar o movimento ainda implume no
norte da Europa e foram, sem dúvida, seus líderes naquela parte do mundo. A partir
desses centros, o avivamento se alastrou por toda a Europa. Missionários na Suíça, na
Alemanha, na Holanda, na Finlândia e em lugares ainda mais distantes apropriaram-se
da mensagem pentecostal.
ED GITRE
PENTECOSTAL EVANGEL [EVANGELHO PENTECOSTAL]
m 1907, Lewi Pethrus, pastor de uma pequena igreja batista da região rural da
E Suécia, foi informado de que o avivamento pentecostal irrompera na Noruega, no
trabalho liderado pelo pastor metodista Thomas Ball Barratt. Em 1907, ele visitou
Barratt em Christiana (hoje Oslo), foi batizado no Espírito Santo e falou em línguas.
Ao retornar à Suécia, acendeu ali um avivamento nacional que extrapolou os limites
da igreja batista. Em 1911, tornou-se pastor da Igreja Batista Filadélfia, em Estocolmo,
que veio a ser o epicentro do pentecostalismo sueco.
Em 1913, a Convenção Batista Sueca desligou da denominação Pethrus e sua igreja.
Num curto espaço de tempo, a Igreja Filadélfia se tornou a maior igreja livre da Suécia.
Pethrus insistia na autonomia total das igrejas pentecostais suecas, embora tivesse
exercido um controle apostólico sobre o movimento até sua morte, em 1974.
Durante os seus trinta e três anos de pastorado, a Igreja Filadélfia ajudou na
implantação de mais de 500 igrejas na Suécia e enviou centenas de missionários mundo
afora. Pethrus também fundou um jornal diário, o Dagen, e uma emissora de rádio de
alcance mundial conhecida como Rádio IBRA. Durante a Depressão, sua igreja ficou
famosa por patrocinar e colaborar com programas que atraíam multidões de pobres e
necessitados para os cultos. O templo da Igreja Filadélfia, construído em 1932,
comportava 4 mil pessoas sentadas.
Pethrus influenciou também os círculos mundiais do pentecostalismo, atuando como
uma espécie de estadista de honra nas conferências mundiais de 1957 a 1974.
Outros não se saíram tão bem. Nos primeiros vinte e cinco anos de missão
pentecostal na Libéria, a cada ano pelo menos um missionário era ali
sepultado.
Pode-se dizer que os missionários pioneiros estruturaram as igrejas de
acordo com o regime eclesiástico congregacional, embora um número sempre
crescente deles preferisse um misto de padrão presbiteriano e congregacional.
Em alguns lugares, foi implementado o regime episcopal.
Os missionários em geral tinham sob controle as atividades da igreja e os
líderes em formação, especialmente nos primeiros anos. Ironicamente, os
missionários pentecostais que incentivavam seus convertidos a buscar os
dons do Espírito muitas vezes limitavam o exercício dos dons de governo
(Romanos 12.8). Essas restrições e a adoção de costumes ocidentais como
normas eclesiásticas resultaram na formação de igrejas nativas
independentes, as quais, no entanto, mantinham as características da
espiritualidade pentecostal. Assim, quando os missionários entregaram de vez
as rédeas da liderança, nos meados do século, a missão nacional das igrejas
floresceu.
As missões pentecostais seguiam a trilha do pragmatismo. Partindo da
premissa de que o falar em línguas era o mesmo que falar um idioma
estrangeiro, os missionários utilizavam todos os meios possíveis para
evangelizar.
Os suecos pentecostais tinham a Rádio IBRA, de alcance internacional. O
Orfanato de Assiout, no Egito, de Lillian Trasher, tornou-se conhecido por
abrigar milhares de crianças, muitas das quais receberam o batismo cristão
num contexto muçulmano. Os missionários americanos em Alto Volta, na
África Ocidental Francesa (hoje Burkina Faso), traduziram a Bíblia para o
idioma mossi e realizaram trabalhos de alfabetização. Quando uma grave
crise econômica obrigou o povo a procurar emprego em outros países, os
pentecostais levaram consigo suas Bíblias em mossi, hinários e material de
escola dominical e implantaram novas igrejas.
Ásia Méridional
Movimentos caracterizados pelos fenômenos carismáticos na Índia
britânica precederam o desenvolvimento do pentecostalismo do século XX na
Europa e na América em pelo menos quarenta anos. Notícias de avivamentos
nos Estados Unidos e na Irlanda do Norte começaram a circular em 1857,
inspirando os cristãos indianos a orar por um derramamento do Espírito
Santo. Já influenciados pela escatologia pré-milenarista e pelo conceito
igualitário de ministério dos Irmãos de Plymouth, significativos movimentos
de renovação espiritual despontaram nos Estados de Tamil Nadu e Kerala, no
sul do país. Os registros mencionam dons de profecia e de línguas, visões e
sonhos, atividades de mulheres evangelistas e até mesmo rompimento de
barreiras entre castas.[Nota 16] O desejo de formar líderes autóctones e o estilo
de adoração tornavam o movimento ainda mais atraente. Com o tempo, a
comunidade missionária começou a achar que os cristãos indianos, com os
excessos motivados por fervor religioso, oscilavam à beira do precipício
pagão.
Na virada do século, o fermento das doutrinas holiness e do movimento
Higher Life de Keswick, influenciadas por Wesley, cresceu entre as
comunidades protestantes do subcontinente. Informações sobre o avivamento
do País de Gales levaram à ocorrência de fenômenos similares nos postos
missionários, na primavera de 1905. Os primeiros sinais ocorreram entre as
populações nativas, nas reuniões dos presbiterianos galeses de Khassia Hills.
A expectativa também era grande na famosa Missão Mukti, implantada por
Pandita Ramabai. Num dos mais celebrados fenômenos relacionados ao
avivamento, a supervisora de um dormitório feminino correu apressada, no
meio da noite, até os aposentos de Minnie F. Abrams, missionária e ex-
metodista que agora administrava a missão. A supervisora contou à
administradora que uma das garotas havia sido batizada no Espírito Santo e
“com fogo” (Mateus 3.11). A mulher relatou que “vira o fogo e correra para o
quarto com um balde de água. Estava para despejá-lo sobre a garota, quando
descobriu que não era fogo”.[Nota 17] Esse “batismo de fogo”
significou para todas a purificação necessária à santificação e motivou as
outras garotas a confessar seus pecados e a se arrepender.
O avivamento se espalhou, e circulavam histórias de confissão de pecados,
“tempestades de oração” (orações fervorosas que se estendiam por horas) que
deixavam de lado a tradicional ordem da adoração ocidental, sinais nos céus,
visões e sonhos. Missionários atônitos comentavam sobre “línguas de fogo”
sobre a cabeça dos crentes, profecias e miraculosas provisões de alimento.
Abrams escreveu seu famoso livro The Baptism of the Holy Ghost and Fire
[O batismo do Espírito Santo e de fogo] com o propósito de incentivar os
crentes a orar para serem cheios do Espírito Santo e assim, purificados,
receberem poder para realizar a obra missionária.
Embora os fenômenos carismáticos fossem comuns no início do
avivamento, as línguas só apareceram mais tarde, como resultado da
“corrente de oração” de Minnie Abrams, uma série de reuniões empreendidas
por mulheres evangelistas numa estação missionária anglicana. Certo dia,
quando as alunas que frequentavam as reuniões voltavam para o alojamento,
o avivamento começou, e muitas delas falaram em línguas. O caso mais
notável ocorreu em Bombaim (hoje Mumbai). Ouvindo uma jovem chamada
Sarah falar em línguas, Canon R. S. Heywood, pensando tratar-se da mesma
experiência do dia de Pentecoste, procurou alguém que pudesse interpretar
aquelas palavras. Um ouvinte então informou que ela estava intercedendo em
oração pela conversão da Líbia.
O movimento se espalhava à medida que mais indianos testemunhavam o
batismo no Espírito Santo. Em matéria publicada no início de dezembro de
1906, num periódico metodista, o editor comentou que “nenhuma fase do
presente avivamento recebeu tão duras críticas quanto a das incomuns e
impressionantes manifestações físicas, que tantas vezes se seguem a essas
irrupções, em diversas localidades”. Para alguns, tudo parecia “estranho e
incrível”, mas “alguém lembrou as experiências similares, visões, transes e
línguas estranhas de personagens bíblicas, bem como o fato de que a
promessa de Joel era para ‘todos os povos’ ”.[Nota 18]
Mais tarde, naquele mesmo mês, inspiradas pela leitura do Apostolic Faith,
Minnie Abrams e outras mulheres da Missão Mukti também falaram em
línguas.
O fenômeno das línguas na Índia chamou a atenção dos editores do
Apostolic Faith, em Los Angeles. O pentecostalismo indiano havia surgido
sem a influência dos acontecimentos na América do Norte, provando assim a
veracidade do derramamento do Espírito em proporções mundiais.[Nota 19]
Alfred G. e Lillian Garr, os primeiros missionários a deixar a Rua Azusa,
chegaram a Calcutá por volta de 1907. No final da conferência missionária
realizada na cidade, Alfred Garr contou sobre a “chuva serôdia” que caíra nos
Estados Unidos. Um avivamento seguiu-se às suas palavras, e cada um dos
presentes recebeu o batismo pentecostal. De Calcutá, essa forma evoluída de
avivamento avançou país afora até alcançar o Sri Lanka. Uma fonte de 1908
informa que mais de mil pessoas falaram em línguas, entre eles 60
missionários afiliados a 15 sociedades missionárias[Nota .20]
Como acontecia em outros campos missionários, as mulheres contribuíam
de maneira substancial na pregação, nas obras de caridade e na reflexão
missiológica e teológica. (Na realidade, as mulheres constituíram durante
décadas a maioria dos missionários pentecostais, desfrutando privilégios e
assumindo responsabilidades que muitas vezes lhes eram negados em sua
igreja de origem.) Minnie Abrams e Kate Knight, da Aliança Missionária,
tornaram-se bem conhecidas. Um turista da Inglaterra, o irmão escritor G. H.
Lang, ficou tão perturbado com a insistência de Kate no dom de línguas e no
batismo com o Espírito Santo e com o fato de uma mulher se atrever a pregar
que escreveu um livro apenas para refutar as crenças que ela defendia, bem
como o movimento pentecostal.[Nota 21]
A historiadora Dana L. Robert entende que “as mulheres [norte-
americanas] não somente dirigiram o movimento emergente fora da tradição
holiness, como também implantaram as primeiras instituições de treinamento
missionário, atuaram como suas primeiras missionárias, vincularam a cura
divina ao compromisso com as missões, e em Minnie Abrams construíram
sua convincente e duradoura missiologia”.[Nota 22] Esta última ação, Abrams
cumpriu com seu livro The Baptism of the Holy Ghost and Fire, o qual ela
revisou para incluir o tema da restauração do dom de línguas.
Ásia Oriéntal
Em janeiro de 1901, quando o avivamento irrompeu na Escola Bíblica
Betel, em Topeka, Charles Parham declarou, a respeito de Agnes N. Ozman,
a primeira pessoa a falar em línguas no século XX: “Uma auréola luminosa
parecia envolver sua cabeça e seu rosto, e ela começou a falar em chinês”.
[Nota 23]
E não foi só isso: “Ela tentou escrever em inglês, para assim nos contar a
experiência, mas só escrevia em chinês”. Assim, desde o primeiro dia do
moderno pentecostalismo, a meta de evangelizar as nações mais populosas da
terra pareceu possível aos pentecostais, pois, na concepção deles, a barreira
do idioma havia sido transposta.
Na condição dos primeiros missionários pentecostais a alcançar a China, T.
J. McIntosh e sua esposa chegaram a Hong Kong em agosto 1907 e
imediatamente foram para o vizinho enclave português de Macau. Como
resultado de sua pregação, alguns crentes chineses e missionários abraçaram
a fé pentecostal. Sendo produto do avivamento de Dunn, McIntosh
mencionou ter recebido uma intimação divina para pregar em Macau.
Entretanto, ele logo partiu para a Palestina, no que se tornaria a primeira de
duas viagens ao redor do mundo. Dois outros grupos de missionários
chegaram a Hong Kong em outubro: os Garrs, que desde janeiro estavam
ministrando na Índia, e a equipe de Martin Ryan, de Spokane.
A princípio, Garr dirigia as reuniões no complexo missionário da Junta
Americana de Comissários para as Missões Estrangeiras (sigla em inglês:
ABCMF), com a assistência de sua esposa e duas mulheres de Spokane. Um
diácono da igreja, Mok Lai Chi, servia de intérprete. Pouco tempo depois,
Mok teve a experiência pentecostal. Não demorou para que a igreja se
dividisse, pois os líderes da ABCMF rejeitavam o dom de línguas. Uma nova
igreja foi assim implantada, tendo Mok como seu pastor. Tomando uma
iniciativa na evangelização, ele publicou o primeiro jornal pentecostal da
China, o Pentecostal Truths [Verdades pentecostais]. As atividades de Mok
nos fazem lembrar que grande parte do crescimento do pentecostalismo
deveu-se ao trabalho de cristãos nativos. Mais tarde, do tronco do
pentecostalismo clássico surgiu uma seita local radical: a Igreja de Jesus
Verdadeira, que se revelou uma mistura de pentecostalismo unicista com
ensinos sabatistas.
Indo mais para o interior, o avivamento pentecostal surgiu entre obreiros
da Aliança Missionária em Wuchow, em 1907, pois “o Espírito desceu numa
tranquila reunião de sábado à noite. Sem que tivesse havido nenhuma
exortação ou oração especial com esse propósito, vários crentes ‘começaram
a falar em línguas’. Foi uma experiência inteiramente nova, mas, sem dúvida,
uma bênção para todos os irmãos: estrangeiros e nativos, homens e mulheres,
jovens e velhos”. Além disso, “tinha-se a impressão de que o Espírito Santo
estava caindo simultaneamente sobre os filhos de Deus, em todas as partes do
mundo, mesmo sem a intervenção de uma liderança humana”.[Nota 24] Uma
das personalidades presentes à reunião, Robert A. Jaffray, declarou que o
batismo do Espírito transformara seu ministério.
Outro obreiro da Aliança Missionária entrou em cena um ano mais tarde:
Victor G. Plymire, formado pelo Instituto de Treinamento Missionário de A.
B. Simpson, em Nyack, Nova York. Durante um período de licença, ele
recebeu o batismo do Espírito, afiliou-se a uma denominação pentecostal e
retornou ao seu trabalho no Tibete, lugar considerado “os confins da terra”
(Atos 1.8) por alguns entusiastas da obra missionária. A despeito das
privações e das perdas pessoais (ele sepultou ali a mulher e um filho),
Plymire finalmente batizou seu primeiro convertido após seis anos de
trabalho evangelístico.
A caminho de Hong Kong, tendo partido dos Estados Unidos, Ryan e seu
grupo desembarcaram no Japão para uma ligeira estada. Mais tarde, ele
retornou de Hong Kong para ali realizar um trabalho permanente de missões.
Orientado talvez pela primeira estratégia missionária concebida por um
pentecostal, ele evangelizou estudantes, consciente de que milhares de alunos
provenientes de países vizinhos e matriculados nas universidades japonesas
poderiam voltar para casa como testemunhas de Cristo. No Japão, ele
publicou a revista Apostolic Light [Luz apostólica], que era traduzida para o
coreano. Ryan deixou o Japão em 1909, e a extensão de sua obra permanece
desconhecida.
A vida testava a resistência daqueles missionários “de fé”, quando a
doença os acometia ou quando os recursos financeiros acabavam. O jovem
evangelista irlandês Robert Semple morreu de malária em Hong Kong,
deixando sua esposa Aimee [Semple McPherson] com uma filha pequena.
A tragédia também se abateu sobre muitos outros. Durante sua primeira
estada no campo missionário, os Garrs perderam um bebê, que morreu ao
nascer, uma filha de 2 anos de idade e uma criada, ambas em consequência
de uma epidemia. Em outra temporada que o casal passou em Hong Kong,
Lillian Garr deu à luz um bebê prematuro, que pesava apenas 1,360 kg.
O pequeno Alfred Jr. não conseguia segurar o leite no estômago e tudo
indicava que também morreria. Desesperado, seu pai orou: “Senhor, esse é o
meu único legado. Querido Deus, cura o meu filho. Faze que ele consiga
ingerir algum alimento”. Alfred então ouviu o Senhor lhe dizer que o bebê
sobreviveria se lhe dessem leite condensado Eagle Brand. Sem saber onde
poderia encontrar aquela marca de leite, saiu procurando de loja em loja.
Finalmente, encontrou um mercador chinês que lhe informou ter recebido
uma remessa de leite condensado que não havia sido encomendada.
Quando Garr foi ver a mercadoria, constatou que era justamente da marca
Eagle Brand. Esse milagre tornou-se conhecido mundialmente — com a
ajuda de um produto não menos famoso. O bebê conseguiu ingerir o leite
condensado e, a partir daí, cresceu saudável.
Embora os pentecostais preferissem ouvir histórias em que a fé triunfava
sobre as dificuldades, a pressão sobre as famílias missionárias às vezes
produziam consequências amargas. Quando se divorciou, Rowena Ryan
queixou-se de ter vivido “naquele ‘país pagão’ [Japão] [...] sem comida e sem
casa própria, e [que] como último recurso [...] aprendera o idioma, de modo
que pudesse trabalhar como professora de crianças”.[Nota 25]
O pentecostalismo entrou na Coreia em 1908, graças aos esforços de duas
mulheres da Califórnia. As “irmãs Daniels e Brand” visitaram o Japão com
Cora Fritsch e anunciaram sua intenção de evangelizar o Reino Eremita
durante alguns meses, em sua rota de viagem para Hong Kong e Jerusalém.
[Nota 26] Anos mais tarde, em 1928, depois de o país ter sido anexado pelo
JOHN G. LAKE
ohn G. Lake foi ordenado ministro metodista aos 21 anos de idade, mas preferiu
J seguir a carreira no mundo dos negócios. Lake foi muito bem-sucedido em seus
empreendimentos, fundando um jornal, depois migrando para o ramo imobiliário e
finalmente trabalhando com seguros. Embora lhe tivessem oferecido um salário de 50 il
dólares por ano para administrar uma companhia de seguros, Lake sentiu que Deus
estava exigindo a dedicação de todas as suas energias à pregação do evangelho.
A drástica mudança na vida de Lake foi influenciada por vários milagres de cura,
culminando na cura instantânea de sua esposa, que sofria de tuberculose, durante uma
ministração de John Alexander Dowie, em 1898. Depois de presenciar essas curas, Lake
associou-se ao ministério de Dowie e serviu como presbítero na Igreja Apostólica
Católica Zion. Mais tarde, depois de deixar Dowie, começou a exercer seu ministério à
noite enquanto prosseguia durante o dia com suas atividades no mundo dos negócios.
Lake pediu a Deus o batismo no Espírito Santo e, depois de nove meses de busca, sentiu
sobre si o poder de Deus, em resposta às orações.
Logo depois que recebeu o batismo no Espírito Santo, em 1907, Lake sentiu que Deus
o chamava para a África. Abandonou os negócios, distribuiu seus bens e partiu para o
continente africano, confiando que Deus supriria todas as necessidades de sua família.
Lake, sua esposa, seus sete filhos e mais quatro adultos chegaram à África do Sul na
primavera de 1908. Seu grupo de missionários acreditava que Deus iria adiante deles,
preparando o caminho. No navio, eles conheceram uma senhora que lhes providenciou
uma casa, porque o Senhor lhe havia ordenado que arranjasse acomodação para seus
servos. Infelizmente, as provisões miraculosas não continuaram. O povo da terra
pensava que os missionários eram americanos ricos, e, quando Lake e seu grupo
esgotaram todos os seus recursos na obra, acabaram sem ter nem mesmo o que comer.
A senhora Lake morreu em dezembro de 1908, enquanto Lake estava ausente,
pregando em vários lugares. Acredita-se que ela morreu por excesso de trabalho e
desnutrição. A morte da esposa foi um golpe severo para Lake. Embora tenha
continuado com seu ministério na África por mais alguns anos, ele sentia os efeitos da
solidão, que acabou provocando seu regresso aos Estados Unidos. De volta ao seu país
natal, ele se casou em 1913 com Florence Switzer e se estabeleceu em Spokane um ano
depois.
Estima-se que milhares de casos de cura divina ocorreram durante os cinco ou seis
anos seguintes de ministério de Lake. Ele se mudou para Portland em maio de 1920 e ali
deu início a um trabalho semelhante ao que realizava em Spokane. A saúde de Lake não
lhe permitiu a realização de um sonho: uma rede de instituições de cura divina que se
estenderia por todo o país. Ele morreu de derrame em 1935.
JIM ZEIGLER
DICTIONARY OF PENTECOSTAL AND CHARISMATIC MOVEMENTS [DICIONÁRIO DOS MOVIMENTOS
PENTECOSTAL E CARISMÁTICO]
Temos muito pouco tempo para agregar esses milhões de povos não
evangelizados à porção do Senhor. Se não fizermos esse trabalho, o
sangue deles será requerido de nós [...]. Chegou o tempo de buscarmos a
plenitude do Espírito Santo, o fogo que nos dará poder para pregar o
evangelho com os sinais que a ele se seguem.[Nota 30]
través dos anos, os pentecostais têm sido identificados por vários nomes.
A Embora muitas das primeiras igrejas pentecostais dos Estados Unidos
fossem conhecidas como “igrejas holiness”, o primeiro grupo estritamente
pentecostal utilizava variações do nome Fé Apostólica. Esse foi o nome
escolhido por Charles Parham para seu pequeno grupo em Topeka, por
ocasião da descida do Pentecoste, em 1901. Quando seu discípulo negro e
amigo William J. Seymour inaugurou a famosa Missão da Rua Azusa, em
Los Angeles, no ano 1906, Fé Apostólica também foi o nome adotado.
Nos anos que se seguiram, outros nomes foram usados, alguns bem
comuns, como Evangelho Pleno, Evangelho Pentecostal e Chuva Serôdia. Às
vezes, os pentecostais eram chamados holly rollers (“santos roladores”), em
tom de escárnio, pelo povo em geral, denominação rejeitada universalmente
pelos adeptos do movimento. Muitas das novas denominações incluíam a
palavra “pentecostal” no nome que adotavam, enquanto outras preferiam
nomes doutrinariamente neutros, como Assembleias de Deus, Igreja de Deus,
Igreja do Evangelho Quadrangular e Igreja de Deus em Cristo.
Durante muitas décadas, os pentecostais eram os párias da sociedade.
Uma das razões para essa rejeição era que a maioria das igrejas
pentecostais surgia entre as classes mais pobres e marginalizadas. David
Barrett dizia que “nenhum movimento do século XX foi mais ridicularizado,
atormentado, atacado e exposto a maus-tratos” por sua fé que os pentecostais.
A despeito de serem os párias das igrejas dominantes, os pentecostais se
multiplicaram, especialmente nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial.
Descobriu-se um terreno fértil entre os negros e o brancos pobres do sul e do
meio-oeste dos Estados Unidos. Muitos pentecostais espelharam-se no
exemplo das famílias de Oklahoma que fugiram da estiagem na década de
1930, em busca de novas oportunidades na Califórnia. Na verdade, os
protagonistas do livro As vinhas da ira, de John Steinbeck, têm como modelo
uma família pentecostal holiness que empreendeu uma longa e difícil jornada
de Oklahoma até a Califórnia.
A despeito de sua limitada condição econômica, os pentecostais não
demoraram a enviar missionários por todo o mundo, e seu crescimento foi
mais rápido que o verificado em qualquer outra denominação. Embora
tenham experimentado maior crescimento nos países do Terceiro Mundo,
eles também se infiltraram de maneira surpreendente na Europa e na América
do Norte. O florescente movimento teve grande aceitação social. O
crescimento repentino do número de igrejas pentecostais também forçou as
denominações históricas a contemplá-los de uma nova perspectiva e a
analisar melhor suas crenças.
Existem hoje mais de cem denominações pentecostais nos Estados Unidos
e milhares de pequenas comunidades e igrejas independentes. Na prática, a
regra é que, para cada congregação que faz parte de uma denominação
organizada, existe outra congregação independente. Assim, o número de
igrejas independentes não afiliadas a nenhuma denominação nos Estados
Unidos é equivalente ao número de igrejas que compõem as maiores
denominações, como as Assembleias de Deus.
Igrejas wesleyanas pentecostais
As primeiras igrejas pentecostais americanas estavam profundamente
arraigadas ao movimento de santidade wesleyano, o qual se espalhara pela
América do Norte no século XIX. Durante décadas, os mestres e pregadores
holiness ensinaram que havia duas “bênçãos” disponíveis aos crentes. A
primeira, a justificação pela fé, era também chamada “novo nascimento”.
Esse momento marcante era o conceito e a experiência comuns entre a
maioria dos evangelicais dos Estados Unidos. Os wesleyanos, entretanto,
sustentavam a ideia de uma “segunda bênção”, a qual, de acordo com a
terminologia de Wesley, era chamada de “santificação plena”, uma
experiência instantânea que concedia ao crente vitória sobre o pecado e
“perfeito amor” em relação a Deus e aos homens. A maioria dos pentecostais
da primeira geração era proveniente do tronco holiness que tinha suas raízes
no metodismo.
Quando o movimento pentecostal eclodiu, os “pentecostais holiness” penas
acrescentaram o batismo no Espírito Santo com a “evidência inicial” o falar
em línguas como uma “terceira bênção”, que concedia ao crente poder para
testemunhar àqueles que já haviam sido santificados. Com a nova experiência
das línguas, a santificação era vista como pré-requisito, a “purificação” que
qualificava o crente a receber a “terceira bênção” do batismo no Espírito
Santo. Uma mensagem profética já havia advertido: “Meu Espírito não
habitará um templo imundo”. Os que buscavam a nova experiência eram
incentivados a deixar de lado toda raiz de amargura e o pecado original para
que nada os impedisse de receber o Espírito. De fato, conta-se que Seymour
não permitia que ninguém entrasse no “cenáculo” ara buscar o batismo até ter
certeza de que a experiência de santificação ocorrera no andar de baixo.
O testemunho-padrão da Rua Azusa era: “Eu fui salvo, santificado e cheio
com o Espírito Santo”. Em adição a essas três obras da graça, os primeiros
pentecostais enfatizavam a cura divina imediata “como parte da expiação” e a
doutrina pré-milenarista da segunda vinda de Cristo para arrebatar a Igreja no
fim dos tempos. Esse era o “evangelho quíntuplo” de Parham, de Seymour,
da Rua Azusa e dos primeiros pentecostais.
Aquelas igrejas também adotaram códigos estritos de santidade, proibindo
aos seus membros o fumo, as bebidas alcoólicas e a frequência ao teatro e a
outros lugares considerados “mundanos”. Também havia restrição a esportes,
a “adornos exteriores” (como o batom e o “cabelo cortado”) e roupas
indecentes.
Com o passar do tempo, o surgimento de controvérsias internas resultou
em variados pontos de vista e diversas mudanças no espectro doutrinário do
movimento, que permanecera inalterado por uma década.
A primeira família de igrejas pentecostais norte-americanas, todavia, pode
ser classificada como pentecostal wesleyana comprometida com o
arminianismo perfeccionista básico herdado do movimento de santidade.
Mencionaremos a seguir as maiores igrejas dos Estados Unidos.
Igreja de Deus em Cristo
Desde os primeiros dias do pentecostalismo, a Igreja de Deus em Cristo é
uma das maiores denominações pentecostais e das que cresceram mais
rapidamente nos Estados Unidos. Na condição de grande igreja negra norte-
americana, ela desempenhou um papel fundamental no movimento no
decorrer do século.
Registrada em 1897, a Igreja de Deus em Cristo foi a primeira
denominação pentecostal legalizada nos Estados Unidos. Com um número de
membros que chega a quase 6 milhões de pessoas, é duas vezes maior que as
Assembleias de Deus nos Estados Unidos. Embora alguns contestem esses
números, não há dúvida de que a Igreja de Deus em Cristo representa um dos
mais antigos e maiores movimentos pentecostais do mundo — e também com
um dos mais rápidos crescimentos.
harles Mason cresceu ouvindo seus pais falando do cristianismo apaixonado dos
C escravos. Eles haviam sido libertados pouco tempo antes de Charles nascer. Embora
fosse ainda uma criança, ele ficara fascinado com o que ouvia e orava sempre, nas
palavras de um membro da família, “acima de tudo [por] uma religião como aquela que
ele ouviu dos velhos escravos e que chegou a ver demonstrada”.
Aos 14 anos de idade, um ano depois de seu pai morrer de peste numa cabana no
meio de um pântano do Arkansas, Mason contraiu tuberculose. Certo domingo, porém,
conta sua esposa na biografia do marido, Mason “se levantou da cama e foi para a rua
sem a ajuda de ninguém. Ali, sob o céu da manhã, ele orou por sua cura e louvou a
Deus, renovando seu compromisso com o Senhor”.
Em 1891, Charles foi ordenado ministro batista, mas, antes de começar a pregar,
casou-se com Alice Saxton. Ela se opunha aos seus planos ministeriais de modo tão
veemente que se divorciou dele dois anos depois. Nessa mesma época, Mason sentiu-se
incomodado com as tendências liberais da Faculdade Batista do Arkansas e desistiu de
estudar ali. Ele conta como foi: “Empacotei meus livros, levantei-me e disse adeus a
eles para seguir Jesus, tendo a Bíblia como meu guia sagrado”.
Cada vez mais interessado na doutrina holiness da “segunda bênção”, ele se uniu a
Charles P. Jones para implantar a Igreja de Deus em Cristo (IDC) — nome que ele
afirma ter ouvido Deus falar enquanto caminhava por uma rua em Little Rock.
Uma década depois, Mason sentiu “uma onda de glória” ao visitar a Rua Azusa e
começou a falar em línguas. Quando retornou a Memphis para compartilhar sua
experiência, Jones “retirou a mão direita da comunidade”. Mason, porém, ficou com um
grande número de membros da IDC e, após uma prolongada batalha jurídica, também
com o nome da denominação.
Embora em determinada época a IDC tivesse ministros brancos e negros — sendo a
única igreja pentecostal nos Estados Unidos autorizada pelo governo a ordenar ministros
—, Mason continuou a buscar a “essência espiritual” e a “tradição da oração” da
experiência religiosa dos escravos. Em 1914, muitos dos ministros brancos da IDC
deixaram a denominação para implantar as Assembleias de Deus (AD). Mason, todavia,
continuou a trabalhar em ambos os lados da fronteira racial, pregando em conferências e
outras reuniões das AD. Ele dizia: “A Igreja é como um olho: um pouco branca e um
pouco negra, e sem os dois não é possível enxergar”.
Hoje, a IDC conta quase 6 milhões de membros nos Estados Unidos — duas vezes
mais que os membros das Assembleias de Deus.
O “acordo de cavalheiros”
Mason não aceitava a separação de cristãos baseada em diferenças raciais.
Embora nunca tivesse combatido abertamente o sistema de segregação
racial de Jim Crow, ele se ressentia da separação racial entre os pentecostais
que passou a existir depois dos “dias de glória” da Rua Azusa. De fato,
durante muitos anos a igreja de Mason foi a mais eclética do país. Na época
em que o racismo estava no auge nos Estados Unidos (1890-1924), os
pentecostais eram uma notável exceção às tendências segregacionistas.
Na realidade, centenas de pregadores brancos pentecostais foram
ordenados por Mason e receberam a credencial de ministro da Igreja de Deus
em Cristo nos anos que antecederam a Primeira Guerra Mundial.
Uma das razões para essa situação era que a Igreja de Deus em Cristo era a
única denominação pentecostal oficial no país. Na época, para um ministro
realizar casamentos, conseguir aprovação em certos projetos e obter passe
clerical nas linhas ferroviárias, tinha de comprovar que era ministro
reconhecido por uma entidade religiosa. A igreja de Mason possuía o alvará
de funcionamento, por isso os ministros brancos foram atraídos para a Igreja
de Deus em Cristo. Além disso, a pregação poderosa de Mason, seu carisma
pessoal e o amor fraterno, a despeito da segregação, atraíam os brancos aos
milhares.
Com o passar do tempo, alguns dos pastores brancos começaram a pregar
em conferências bíblicas segregacionistas, embora mantivessem intacto seu
relacionamento com Mason. Por fim, um “acordo de cavalheiros” permitiu
que os brancos continuassem a ser ordenados ministros em nome de Mason e
da Igreja de Deus em Cristo, sendo o único requisito o de que nenhuma
credencial seria concedida a alguém que fosse indigno dela.
Pouco antes do início da Primeira Guerra Mundial, um grande grupo de
ministros brancos pentecostais, insatisfeitos com a situação, começou a
organizar uma nova denominação com o propósito de também obter seu
registro e assim poder conferir os mesmos benefícios a seus obreiros.
A maioria dos fundadores das Assembleias de Deus que se reuniram em
Hot Springs, no Arkansas, em abril de 1914, havia obtido sua credencial na
Igreja de Deus em Cristo. Embora Mason e sua equipe tivessem sido
convidados para o conclave de Hot Springs, nenhuma carta foi enviada aos
ministros negros.
Apesar disso, Mason compareceu ao encontro, e foi convidado a pregar na
terça-feira à noite. Seu coral fez uma apresentação especial, e em seguida o
venerável bispo pregou um sermão sobre as maravilhas de Deus que podem
ser vistas, por exemplo, numa simples batata-doce. A despeito da presença de
Mason no conclave, as Assembleias de Deus foram organizadas como uma
denominação de brancos, e em pouco tempo se transformaram na maior
igreja pentecostal do país. Assim, a organização das Assembleias de Deus
foi, na prática, uma separação da igreja de Mason, motivada, pelo menos em
parte, pelo desejo de segregação racial.[Nota 7]
Depois de 1914, os líderes das denominações pentecostais brancas
passaram a olhar a Igreja de Deus em Cristo como o movimento negro
pentecostal dos Estados Unidos. Os negros que se convertiam nas igrejas dos
brancos eram incentivados a congregar-se na Igreja de Deus em Cristo,
conforme os ditames da mentalidade segregacionista da época.[Nota 8]
Algumas igrejas experimentaram um crescimento extraordinário nos anos
que se seguiram à Primeira e à Segunda Guerra Mundial, quando os negros
migraram em massa para as grandes cidades industriais do Norte.
Milhões deles se mudaram para as cidades de Nova York, Detroit,
Filadélfia, Chicago, Boston, Los Angeles e outros centros urbanos, com o
objetivo de escapar à pobreza agrária que corroía o Sul.
Os migrantes negros, onde quer que se estabelecessem, levavam consigo
suas igrejas de origem. Muitos deles eram membros da Igreja de Deus em
Cristo. Frequentemente, eles estabeleciam igrejas em pontos comerciais ou
ocupavam elegantes edifícios vendidos por brancos que haviam migrado das
cidades do interior para os subúrbios.
As igrejas pentecostais foram mais bem-sucedidas em servir às massas que
grassavam nos guetos urbanos. Em algumas cidades, havia um templo da
Igreja de Deus em Cristo em quase todos os quarteirões. Às vezes, eram casas
humildes, sem ostentação, mas delas emanava uma força poderosa que
causava impacto na vizinhança. A história de umas dessas igrejas urbanas de
migrantes é retratada em cores vivas no livro Go Tell on the Mountain
[Anunciai sobre o monte], de James Baldwin, um relato autobiográfico da
infância do autor numa igreja pentecostal que ocupara o espaço de uma antiga
loja no Harlem. Por causa dessa intensa migração e da inquestionável atração
que o culto pentecostal exercia sobre os negros pobres das áreas urbana e
rural, a Igreja de Deus em Cristo experimentou um crescimento
extraordinário nos meados do século.[Nota 9]
Quando Mason morreu, em 1961, sua igreja estava presente em todos os
Estados da União e contava cerca de 400 mil membros nos Estados Unidos.
Esses números são superiores aos registrados por John Wesley, cujos
seguidores (metodistas) somavam 100 mil por ocasião de sua morte, em
1791. Mason construiu o enorme Templo Mason, onde os fiéis se reuniam em
grandes concentrações, que eram sempre as maiores da cidade. Esse templo,
que comportava quase 10 mil pessoas sentadas, era pequeno demais para
conter a multidão nos grandes eventos, que reuniam cerca de 40 il pessoas.
Quando Mason morreu, aos 95 anos de idade, a igreja obteve permissão para
sepultá-lo no saguão do templo, a única pessoa que recebeu semelhante honra
na história da cidade.[Nota 10]
Depois da morte de Mason, seguiu-se uma disputa política para ver quem
herdaria o manto do apóstolo falecido. O vencedor foi O. T. Jones, porém seu
mandato como bispo sênior foi temporário, de 1962 a 1968.
Quem realmente herdou o legado de Mason foi seu genro, J. O. Petersen.
Eleito para liderar a igreja em 1968, Petersen recebeu o título de bispo
presidente. Esteve à frente da denominação num período de grande
crescimento e desenvolvimento. Seus sucessores, os bispos L. H. Ford,
Chandler Owens e Gilbert E. Patterson, continuaram o legado de C. H.
Mason. A despeito de uma divisão ocorrida em 1969, quando 14 bispos da
Igreja de Deus em Cristo formaram a Igreja de Deus em Cristo Internacional
(hoje com 200 mil membros), a igreja continuou em crescimento acelerado.
[Nota 11]
Em 1964, um recenseamento feito na igreja dos Estados Unidos indicou a
existência de 425 mil membros espalhados por 4.100 congregações.
Não houve outro recenseamento até 1982, quando o número de membros
nos Estados Unidos, segundo os registros do Yearbook of American and
Canadian Churches [Livro do ano das igrejas americanas e canadenses],
chegou a 3.709.861 em 9.982 congregações. Por volta de 2000, os números
indicavam 5.499.875 membros em 15.300 congregações. Esses registros dão
conta de um dos mais explosivos crescimentos verificados numa igreja dos
Estados Unidos. Os dados indicam que a Igreja de Deus em Cristo é a
segunda maior organização negra dos Estados Unidos, suplantada apenas
pela Convenção Batista Nacional.
Apesar de a Igreja de Deus em Cristo não ter desempenhado um papel
muito importante nos movimentos pelos direitos civis dos negros nas décadas
de 1950 e 1960, muitos de seus ministros e membros ficaram do lado de
Martin Luther King Jr. em sua cruzada pacífica pela igualdade de direitos.
Aliás, foi no Templo Mason de Memphis que King pregou seu famoso
sermão “Eu vejo a terra prometida”. Esse seu último sermão foi proferido na
noite anterior ao seu assassinato. Além disso, o lugar de sua morte foi o
Motel Lorraine, de propriedade de um destacado membro da Igreja de Deus
em Cristo.
Em anos recentes, ficou evidente a fraca aceitação do movimento
carismático pelos negros das principais denominações. Já o movimento
pentecostal floresceu na Igreja de Deus em Cristo, de maioria negra. Nas
últimas décadas do século XX, a Igreja de Deus em Cristo continuava a
representar um lugar de refúgio para as massas.
Cabe aqui uma nota histórica: a Igreja de Cristo (Holiness) USA,
implantada por C. P. Jones em 1907 depois que ele rejeitou a experiência
pentecostal, existe até hoje. A comparação de números entre as duas igrejas
diz muita coisa acerca do poder de crescimento da igreja pentecostal. Em
2000, a igreja de Jones contava apenas 25 mil membros em 146
congregações, enquanto a Igreja de Deus em Cristo chegava à casa dos 5
milhões de membros em mais de 15 mil congregações. A única diferença
entre as duas é a liberdade do poder do Espírito Santo na Igreja de Deus em
Cristo, manifesto na forma de sinais e maravilhas.
A vida de Mason e sua Igreja de Deus em Cristo é uma das grandes
histórias de sucesso do crescimento da Igreja no moderno Estados Unidos.
A Igreja Holiness Pentecostal
A Igreja Holiness Pentecostal foi organizada como denominação holiness
em 1898, muitos anos antes de começar o movimento pentecostal nos
Estados Unidos. Suas raízes estendem-se ao movimento da Associação
Holiness Nacional, o qual se iniciou em Vineland, Nova Jersey, em 1867,
logo após o fim da Guerra de Secessão. A igreja de hoje representa a fusão
das três vertentes que produziram aquele movimento.
Implantada por Abner Blackmon Crumpler, pregador metodista holiness da
Carolina do Norte, a igreja foi organizada em 1896 como Associação
Holiness da Carolina do Norte. O nome foi mudado para Igreja Holiness
Pentecostal depois de formada a primeira congregação em Greensboro, no
mesmo Estado, em 1898.
O outro grupo que está nas origens da atual denominação é a Igreja
Holiness Batizada com Fogo, implantada no Estado de Iowa em 1895, pelo
ex-batista e pregador Benjamin H. Irwin. Ele ensinava uma “terceira bênção”,
que se dava após a santificação, chamada “o batismo com o Espírito Santo e
com fogo”. Por volta de 1898, o grupo foi organizado como denominação
nacional, com igrejas em oito Estados norte-americanos e em duas províncias
canadenses.
O movimento do “batismo com fogo” quase foi extinto depois que Irwin
apostatou e abandonou a igreja. Antes disso, ele se referia aos batismos com
expressões como “dinamite que arrebenta” e “fogo que queima”.[Nota 12]
O fogo se espalha
De volta a Dunn, sua cidade natal, em dezembro de 1906, Cashwell
começou a pregar o Pentecoste na igreja holiness local. O interesse pela
novidade era tão grande que em janeiro de 1907 ele alugou três armazéns de
tabaco naquela cidade, perto da linha férrea, para uma cruzada pentecostal de
um mês inteiro, a qual se tornou a “Rua Azusa” da Costa Oeste.
Os ministros das três vertentes do movimento de santidade compareceram
em grande número, ansiosos por receberem seu “Pentecoste pessoal”.
Entre as igrejas, estavam a Igreja Holiness Pentecostal, a Igreja Holiness
Batizada com Fogo e as várias congregações da Igreja Batista Holiness do
Livre-Arbítrio. Todas as noites, a maioria dos ministros e membros das
igrejas da área eram reunidos, enfardados e estocados no armazém do
movimento pentecostal.
Um mês depois, o supervisor geral da Igreja Holiness Batizada com Fogo,
Joseph H. King, convidou Cashwell para pregar na igreja de Toccoa, na
Geórgia. King ouvira falar do novo batismo acompanhado de glossolalia, mas
não estava convencido de sua autenticidade. Depois que assistiu à mensagem
de Cashwell, no entanto, ele caiu de joelhos no altar e recebeu o batismo
numa silenciosa mas poderosa manifestação do dom de línguas.[Nota 14]
Nos seis meses seguintes, Cashwell completou um circuito de intensas
pregações pelos Estados sulistas, ficando conhecido como o “apóstolo do
Pentecoste para o Sul”. Numa viagem a Birmingham, no Alabama, no verão
de 1907, ele apresentou a mensagem do evangelho a A. J. Tomlinson,
supervisor geral da Igreja de Deus em Cleveland, e a H. G. Rodgers e M. M.
Pinson, que mais tarde implantaram as Assembleias de Deus.[Nota 15]
Oficialmente pentecostal
Embora a experiência pentecostal tivesse tomado conta de sua igreja,
Crumpler era um dos poucos que se recusavam a aceitar a teoria da
“evidência inicial”. Mesmo reconhecendo as línguas como autênticas, ele não
acreditava que todos os que recebiam o batismo no Espírito Santo tivessem
de falar em línguas. Durante muitos meses, Crumpler e a ala pentecostal da
igreja, representada por Cashwell e seus convertidos, debateram o assunto.
A questão veio à tona durante a conferência anual de Dunn, em novembro
de 1908. A essa altura, cerca de 90% dos ministros e leigos já haviam tido a
experiência do falar em línguas. No primeiro dia da convenção, os delegados
reelegeram Crumpler presidente, e a batalha em torno da “evidência inicial”
começou. No dia seguinte, Crumpler deixou para sempre a convenção e a
igreja que havia implantado. Os pentecostais tinham vencido.
A convenção imediatamente acrescentou um artigo pentecostal à sua
declaração de fé, aceitando as línguas como evidência inicial. Tanto quanto
se sabe, foi a primeira denominação a adotar uma declaração pentecostal em
seus cânones oficiais.
Os delegados também escolheram a Bridegroom’s Messenger [Mensageiro
do noivo], revista publicada por Cashwell, como periódico oficial da igreja.
Uma atitude definitiva foi tomada em 1909, quando a palavra
“pentecostal” foi agregada mais uma vez ao nome da igreja. Isso já fora feito
em 1903, numa tentativa de identificar a igreja com o movimento de
santidade.
Outra fortaleza a se render ao pentecostalismo foi uma faculdade bíblica de
Greenville, fundada por Nickles John Holmes em 1898 como uma escola
holiness. Em 1907, Holmes e a maioria dos alunos receberam o batismo
pentecostal e falaram em línguas por influência de Cashwell.
Por volta de 1909, Holmes aceitou o pentecostalismo, e assim sua escola se
tornou o primeiro centro educacional e teológico do movimento. Agora
oficialmente ligada à Igreja Holiness Pentecostal, a Faculdade Bíblica
Holmes é a mais antiga instituição educacional pentecostal do mundo em
atividade.[Nota 16]
Cheguei à conclusão de que minha vida não satisfaz o padrão de santidade que
pregamos. Todavia, acho-me arrependido aqui em minha casa, em Dunn, na
Carolina do Norte, e me sinto restaurado. Não tenho condições de estar com vocês
agora, porque estou viajando para Los Angeles, na Califórnia, em busca do batismo
do Espírito Santo.
Fusões
No final de 1908, a maior parte dos integrantes do movimento de santidade
havia aderido ao pentecostalismo. Nos meses seguintes, surgiu o sentimento
de que aqueles “cuja fé era preciosa” deveriam unir-se a fim de promover a
mensagem pentecostal com mais eficácia. A proposta resultou na fusão da
Igreja Holiness Pentecostal com a Igreja Holiness Batizada com Fogo, em
1911, no povoado de Falcon, na Carolina do Norte. O mesmo sentimento
resultou na fusão das igrejas afiliadas à faculdade, em 1915. A maior parte
dessas congregações situava-se na Carolina do Sul e tinha suas raízes na
Igreja Presbiteriana.
A teologia da igreja
A Igreja Holiness Pentecostal tinha suas raízes nos ensinamentos originais
do avivamento da Rua Azusa. Por ser já uma igreja holiness antes de 1906,
ensinava a doutrina wesleyana da “segunda bênção” como santificação
instantânea. Após o avivamento da Rua Azusa, a igreja simplesmente
acrescentou o batismo no Espírito Santo com a evidência inicial do falar em
línguas, considerando-o uma “terceira bênção”. Esse arranjo harmonizava
com os ensinos de Irwin e das igrejas “batizadas com fogo”.
Desde 1908, a Igreja Holiness Pentecostal vem ensinando o que é
conhecido como as cinco doutrinas cardeais, que são: 1) justificação pela fé;
2) santificação plena; 3) batismo no Espírito Santo com a evidência inicial do
falar em línguas; 4) cura divina providenciada na expiação de Cristo; 5)
segunda vinda de Cristo iminente e pré-milenarista.
Os livros mais influentes na formação dessa teologia foram: The Spirit and
the Bride [O Espírito e a Noiva], de G. F. Taylor, publicado em 1907; From
Passover to Pentecost [Da Páscoa ao Pentecoste], de J. H. King, publicado
em 1911.[Nota 17]
No decorrer dos anos, a igreja ganhou reputação por sua defesa do que
seus líderes consideram a mensagem original do Pentecoste. Na controvérsia
da “obra consumada”, a respeito da santificação, ocorrida depois de 1910, a
igreja manifestou-se abertamente favorável à obra da santificação plena e
contrária aos ensinos de William Durham. Os que aceitavam a doutrina de
Durham formaram as Assembleias de Deus, em 1914.[Nota 18]
O único cisma na história da igreja ocorreu em 1920, por causa de uma
discussão sobre a cura divina e o uso da medicina. Alguns pastores da
Geórgia defendiam o direito de o crente recorrer a remédios e médicos,
enquanto a maioria dos líderes ensinava que todos deviam confiar apenas em
Deus para obter a cura, sem jamais recorrer aos remédios. Os que advogavam
o uso de remédios deixaram a denominação e formaram a Igreja Holiness
Congregacional, em 1921.[Nota 19]
Dores do crescimento
No período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, a Igreja Holiness
Pentecostal e outras denominações pentecostais americanas experimentaram
enorme crescimento. Essa expansão foi verificada principalmente na época
das cruzadas de “cura divina”, que atingiu seu auge entre o final da década de
1940 e início da década de 1950. À frente desse movimento, estava Oral
Roberts, evangelista holiness pentecostal de Oklahoma. Tendo no início
alcançado imensa popularidade entre leigos e líderes de igrejas pentecostais,
o ministério de Roberts, depois de 1953, viu-se cada vez mais envolvido em
controvérsias.
Durante uma década, a igreja identificava-se internamente pelas facções
pró e contra Roberts, e alguns ministros contrários a Roberts queriam dividir
a igreja. No final, as cabeças mais frias prevaleceram, e a ameaça de divisão
passou. Nessa época, alguns líderes da igreja, como R. O. Corvin e o bispo
Oscar Moore, trabalhavam ao lado de Roberts em sua associação
evangelística e numa nova universidade.
Nos meados da década de 1960, Roberts havia conseguido o apoio da
maioria dos líderes da denominação, entre eles o bispo Joseph A. Synan. O
bispo, que a princípio se opusera a Roberts, juntou-se a ele na dedicação da
Faculdade Oral Roberts, em 1967. A despeito de haver conquistado grande
aceitação, Roberts uniu-se à igreja metodista em 1968, para espanto e
confusão de seus muitos amigos das igrejas pentecostais.[Nota 20]
A história de Roberts ilustra um fato significativo acerca da denominação:
a Igreja Holiness Pentecostal é famosa tanto pelos ministros que a deixaram
quanto por aqueles que nela permaneceram. Além de Roberts, líderes como
Charles Stanley, ex-presidente da Convenção Batista do Sul, e C. M. Ward,
ex-pregador de rádio das Assembleias de Deus, nasceram e foram
espiritualmente formados na Igreja Holiness Pentecostal. Nessa mesma
categoria, podemos mencionar T. L. Lowery, da Igreja de Deus, e Dan
Sheaffer, das Assembleias de Deus.
Ecumenismo pentecostal
Durante muitas décadas, houve pouco contato entre as várias
denominações pentecostais americanas, exceto pelos ministros que se
transferiam de uma denominação para outra. Contudo, houve diversos casos
de proselitismo e de “pesca de aquário”, causando aborrecimentos a vários
grupos.
Essa situação começou a mudar durante os tempos nebulosos da Segunda
Guerra Mundial, quando começaram os primeiros incentivos à comunhão
entre os vários grupos pentecostais.
Os primeiros contatos foram feitos em 1943, nas dependências da recém-
formada Associação Nacional de Evangelicais. Muitas denominações
pentecostais funcionaram como membros autorizados dessa entidade, unidas
pela situação emergencial causada pela guerra. A Igreja Holiness Pentecostal
foi uma dessas denominações.
Por volta de 1948, diversos grupos pentecostais formaram a Comunhão
Pentecostal da América do Norte (sigla em inglês: PENA), em Des Moines,
Iowa. Antes da organização dessa entidade, houve uma reunião em
Washington, D.C., na qual foi elaborado um projeto constitucional.
As figuras mais proeminentes desse encontro foram o bispo Synan, que
ajudou a elaborar o estatuto, e Oral Roberts, que pregou no culto de
encerramento. Desde então, a Igreja Holiness Pentecostal vem
desempenhando um papel fundamental nas reuniões da PENA, bem como nas
Conferências Mundiais Pentecostais, que acontecem a cada três anos desde
1947.[Nota 21]
A União Cristã
Nesse evento, foi relembrado um culto realizado em 1886 em Barney
Creek, no condado de Monroe, Tennessee, no qual, sob a liderança de R. G.
Spurling Sr., foi formado um grupo conhecido como União Cristã. Spurling
era batista e sentiu um chamado para promover uma reforma na Igreja, uma
vez que, no seu entender, todas as igrejas haviam mergulhado num período
de trevas espirituais.[Nota 25]
Alguns anos depois, novos grupos surgiram na região rural. Alguns
historiadores da Igreja de Deus, como Charles W. Conn, apontam o
avivamento ocorrido no prédio da escola de Schearer, na comunidade de
Cocker Creek, Carolina do Norte, como um importante marco da
denominação.
Durante um avivamento ocorrido em 1896, liderado por William Martin,
Milton McNabb e Joe M. Tipton, evangelistas da Igreja Holiness Batizada
com Fogo, alguns fenômenos pouco comuns alvoroçaram a comunidade.
Esse avivamento caracterizou-se pelas doutrinas e práticas defendidas por
Benjamin Hardin Irwin, do movimento “batizado com fogo”, que se
espalhava com muita rapidez na época. O fanatismo de Irwin levou-o a
identificar por nome vários graus de batismo, como terceiro, quarto e quinto
batismos de fogo, “dinamite que arrebenta” e “fogo que queima”.
Além disso, os fiéis eram proibidos de comer carne de porco, beber café e
de violar qualquer lei do Antigo Testamento referente a alimentos.
Por causa desses extremismos, grupos de desordeiros invadiam as reuniões
e praticavam atos de violência contra os pobres adoradores. Há informações
de que o povo reunido no prédio da escola de Schearer falava em línguas
estranhas quando recebia o batismo “com fogo”. Depois que a efervescência
do avivamento se extinguiu, Tipton, Martin, McNabb e R. G.
Spurling Jr. continuaram a pregar em qualquer escola ou lugarejo onde se
sentissem seguros, apesar da perseguição de seus vizinhos montanheses.[Nota
26]
O papel de A. J. Tomlinson
A história teve um novo começo depois da virada do século, com a
organização da Igreja Holiness em Camp Creek, na região oeste da Carolina
do Norte, em 15 de maio de 1902, na casa do pregador leigo W. F. Bryant.
O pastor da igreja na época era R. G. Spurling Jr. A nova igreja poderia ter
tido uma existência solitária, não fosse a visita, em 1903, de um colportor de
Indiana chamado Ambrose Jessup Tomlinson. Sendo um quacre, Tomlinson
estava habituado ao padrão de santidade do quacrismo e ganhava a vida
vendendo Bíblias e outros materiais religiosos para os piedosos habitantes
das montanhas do leste do Tennessee e do oeste da Carolina do Norte.[Nota 27]
No verão de 1903, Tomlinson, que visitava periodicamente a região desde
1896, chegou por acaso à pequena congregação de Camp Creek, e foi
convidado a juntar-se a ela. Ficou evidente que sua formação e seu
conhecimento bíblico eram muito superiores aos dos membros da
congregação, e ele considerou a possibilidade de ajudar o esforçado grupo.
Antes de se unir a eles, entretanto, Tomlinson passou uma noite em
“incessante oração” no monte Burger, que ficava nas proximidades, e recebeu
uma visão acerca da Igreja de Deus nos últimos dias, a qual restauraria o
Corpo de Cristo à fé do Novo Testamento.[Nota 28]
No dia seguinte, 13 de junho de 1903, o colportor de Indiana uniu-se à
igreja, convicto de que era a Igreja de Deus da Bíblia, e não uma organização
humana. Com a chegada de Tomlinson, a igreja de Camp Creek ganhou um
dos maiores gênios administrativos da história da moderna igreja norte-
americana.[Nota 29]
Em pouco tempo, Tomlinson implantou igrejas em Union Grove e Drygo,
no Tennessee, e uma pequena congregação em Jones, na Geórgia.
Uma missão também foi estabelecida perto de Cleveland, a qual se tornou
um centro de atividades do grupo. Por volta de 1906, as igrejas já tinham
condições de convocar sua primeira convenção geral para tratar de assuntos
de interesse comum. Assim, nos dias 26 e 27 de janeiro de 1906, a primeira
assembleia geral foi realizada na casa de J. C. Murphy, em Camp Creek.[Nota
30]
Uma vez que Tomlinson estava trabalhando como pastor de igreja local,
foi escolhido para atuar como moderador. A nova igreja adotou alguns
ensinos restritos acerca da santidade pessoal, proibindo aos membros o uso
do fumo e do álcool. O lava-pés foi aprovado como ordenança, e a Escola
Bíblica Dominical foi instituída. Para evitar os erros do denominacionalismo,
Tomlinson deixou registrado por escrito que nenhuma das minutas poderia
ser usada “para estabelecer seitas ou denominações”. As congregações
representadas pelos 21 delegados que se reuniram na sala de estar da casa de
Murphy seriam conhecidas simplesmente como igrejas holiness.[Nota 31]
Na segunda assembleia, realizada no condado de Bradley, no Tennessee,
em janeiro de 1907, o grupo escolheu o nome Igreja de Deus, tal qual era
mencionado na Bíblia. Essa escolha, ao que parece, não teve relação com
nenhuma outra igreja dos Estados Unidos, a não ser pelo fato de que
Tomlinson conhecia a Igreja de Deus de Anderson e o grupo de Winebrenner,
na Pensilvânia.
A nova denominação apresentava as mesmas características das igrejas
holiness constituídas na época. A “segunda bênção” da santificação plena era
entendida como um batismo com o Espírito Santo, que libertava o crente do
pecado original. Outra forte convicção era a da cura divina para o corpo
obtida por meio da oração. O fanatismo dos seguidores de Irwin, encontrado
em 1896, deu lugar a uma versão mais moderada do movimento de santidade
norte-americano. Influenciada pela dinâmica liderança de Tomlinson, a Igreja
de Deus implantou várias igrejas na região montanhosa do Tennessee, na
Geórgia, no Kentucky, na Virgínia Ocidental e na Carolina do Norte.
1. Justificação pela fé
2. Santificação como uma segunda, definitiva e perfeita obra da graça
3. Batismo no Espírito Santo evidenciado pelo falar em línguas
4. Cura divina como parte da expiação
5. Doutrina pré-milenarista da segunda vinda de Cristo
Embora alguns desses ensinos tenham sido mais tarde alterados por
sucessivas ondas pentecostais e carismáticas nas denominações dominantes,
formaram a base doutrinária das primeiras igrejas pentecostais do mundo.
Leituras recomendadas
A melhor fonte narrativa para conhecer o contexto e o desenvolvimento
dessas igrejas é The Holiness-Pentecostal Tradition: Charismatic Movements
in the Twentieth Century [A tradição holiness-pentecostal: movimentos
carismáticos no século XX] (Grand Rapids: Eerdmans, 1972, 1997), de
Vinson Synan. Outra fonte importante é o New International Dictionary of
Pentecostal and Charismatic Movements [Novo dicionário dos movimentos
pentecostal e carismático] (Grand Rapids: Zondervan, 2001), organizado por
Stanley M. Burgess e Eduard van der Maas.
O melhor livro sobre a história da Igreja de Deus em Cristo é Bishop C. H.
Mason and the Roots of the Church of God in Christ [O bispo C.
H. Mason e as raízes da Igreja de Deus em Cristo] (Bakersfield: Pneuma
Life Publishing, 1996), de Ithiel Clemmons. Para conhecer a história da
Igreja de Deus de Cleveland, consulte Like a Mighty Army: A History of the
Church of God, 1886-1976 [Como um exército poderoso: uma história da
Igreja de Deus, 1886-1976] (Cleveland: Pathway Press, 1955, 1977), de
Charles Conn. A história da Igreja de Deus da Profecia é contada por Charles
Davidson em Upon This Rock [Sobre esta pedra] (Cleveland: White Wing
Publishing House, 1973-1976), obra em três volumes.
Uma obra recente sobre a história da Igreja Holiness Pentecostal é The
Old-Time Power: A Centennial History of the Pentecostal Holiness Church
[O poder dos tempos antigos: uma história do centenário da Igreja Holiness
Pentecostal] (Franklin Springs: Life Springs Press, 1973, 1998), de Vinson
Synan. A história do início dessa denominação, com muito material original
baseado em entrevistas pessoais, é The Pentecostal Holiness Church: 1898-
1948 [A Igreja Holiness Pentecostal: 1898-1948] (Franklin Springs:
Publishing House of the Pentecostal Holiness Church, 1951), de Joseph
Campbell.
A história da Igreja Santa Unida é contada por Chester Gregory na obra
The History of the United Holy Church of America, Inc.; 1886-1986 [A
história da Igreja Santa Unida da América, Inc.: 1886-1986] (Baltimore:
Gateway Press, 1986).
Notas do Capítulo
Nota 1 - Charles Harrison Mason, The History and Life of Elder C. H. Mason (Memphis:
Church of God in Christ Publishing House, 1920). Esse livro foi reimpresso e
revisado diversas vezes desde seu lançamento. A última versão é de J. O.
Patterson, German R. Rose & Julia Mason Atkins, History and Formative Years
of the Church of God in Christ with Excerpts from the Life and Works of its
Founder — Bishop C. H. Mason (Memphis: Church of God in Christ Publishing
House, 1969). O mais novo trabalho acadêmico sobre sua história é a obra de
Ithiel Clemmons, Bishop C. H. Mason and the Roots of the Church of God in
Christ (Bakersfield: Pneuma Life Publishing, 1996). [Voltar]
Nota 2 - O. Patterson, German R. Rose & Julia Mason Atkins, History and Formative
Years of the Church of God in Christ with Excerpts from the Life and Works of
its Founder — Bishop C. H. Mason, p. 14-7; Otho B. Cobbins (Org.), History of
the Church of Christ (Holiness) USA (New York: Vantage Press, 1966), p. 1-27.
[Voltar]
Nota 3 - Klaud Kendrick, The Promise Fulfilled (Springfield: Gospel Publishing House,
1961), p. 16. V. tb. Phillip Garvin, Religious America (New York: McGraw-Hill,
1974), p. 141-69; Otho B. Cobbins (Org.), History of the Church of Christ
(Holiness) USA, p. 117-20. [Voltar]
Nota 4 - Leonard Lovett, Black Origins of the Pentecostal Movement, in: Vinson Synan,
Aspects of Pentecostal-Charismatic Origins (Plainfield: Logos International,
1975), p. 123-41; David M. Tucker, Black Pastors and Leaders: The Memphis
Clergy, 1819- 1972 (Memphis: Memphis State University Press, 1974), p. 90-4;
J. O. Patterson, German R. Rose & Julia Mason Atkins, History and Formative
Years of the Church of God in Christ with Excerpts from the Life and Works of
its Founder — Bishop C. H. Mason, p. 17-20. [Voltar]
Nota 5 - Otho B. Cobbins (Org.), History of the Church of Christ (Holiness) USA, p. 16,
50-2. [Voltar]
Nota 6 - David M. Tucker, Black Pastors and Leaders: The Memphis Clergy, 1819-1972, p.
97-9; entrevista concedida a Ithiel Clemmons, Oklahoma City, 29 jan. 1986.
[Voltar]
Nota 7 - Howard N. Kenyon, Black Experience in the Assemblies of God, 15 nov. 1986
(documento lido na Sociedade de Estudos Pentecostais, em Costa Mesa, na
Califórnia); Vinson Synan, The Holiness-Pentecostal Tradition: Charismatic
Movements in the Twentieth Century (Grand Rapids: Eerdmans, 1997), p. 178-9.
[Voltar]
Nota 8 - Vinson Synan, The Holiness-Pentecostal Tradition: Charismatic Movements in the
Twentieth Century, p. 149-53. V. tb. William Menzies, Anointed to Serve
(Springfield: Gospel Publishing House, 1971), p. 370. [Voltar]
Nota 9 - Arnor S. Davis, The Pentecostal Movement in Black Christianity, Black Church,
2:1 (1972), p. 65-88. V. tb. as informações do recenseamento de 1926 e 1936, no
relatório Church of God in Christ, Statistics, Denominational History, Doctrine,
and Organization (Washington: US Government Printing Office, 1929, 1940).
[Voltar]
Nota 10 - Ithiel Clemmons, entrevista concedida ao autor; J. O. Patterson, German R. Rose
& Julia Mason Atkins, History and Formative Years of the Church of God in
Christ with Excerpts from the Life and Works of its Founder — Bishop C. H.
Mason, p. 71-5. [Voltar]
Nota 11 - Eileen W. Lindner, Yearbook of American and Canadian Churches 2000
(Nashville: Abingdon, 2000), p. 342. [Voltar]
Nota 12 - As duas histórias oficiais da igreja estão em: Joseph E. Campbell, The
Pentecostal Holiness Church, 1898-1948 (Franklin Springs: Publishing House of
the Pentecostal Holiness Church, 1951); Vinson Synan, The Old-Time Power: A
History of the Pentecostal Holiness Church (Franklin Springs: Lifesprings, 1997).
Outra obra significativa é A. D. Beacham Jr., A Brief History of the Pentecostal
Holiness Church (Franklin Springs: Advocate Press, 1983). [Voltar]
Nota 13 - Vinson Synan, The Old-Time Power: A History of the Pentecostal Holiness
Church, p. 107. [Voltar]
Nota 14 - Joseph H. King, Yet Speaketh, The Memoirs of the Late Bishop Joseph H. King
(Franklin Springs: Advocate Press, 1949), p. 111-21. [Voltar]
Nota 15 - Vinson Synan, The Holiness-Pentecostal Tradition: Charismatic Movements in
the Twentieth Century, p. 117-39. [Voltar]
Nota 16 - N. J. Holmes, Life Sketches and Sermons (Franklin Springs: Publishing House of
the Pentecostal Holiness Church, 1920), p. 135-48. [Voltar]
Nota 17 - Dunn: Private printing, 1907; Memphis: H. W. Dixon Printing Company, 1914,
respectivamente. [Voltar]
Nota 18 - Cf. Vinson Synan, The Holiness-Pentecostal Tradition: Charismatic Movements
in the Twentieth Century, p. 141-63. [Voltar]
Nota 19 - Vinson Synan, The Old-Time Power: A History of the Pentecostal Holiness
Church, p. 165-71. [Voltar]
Nota 20 - Vinson Synan, The Old-Time Power: A History of the Pentecostal Holiness
Church, p. 265-8. V. tb. David Harrell Jr., Oral Roberts: An American Life
(Bloomington: University of Indiana Press, 1985), p. 8-55, 287-311. [Voltar]
Nota 21 - Vinson Synan, The Old-Time Power: A History of the Pentecostal Holiness
Church, p. 225-8. [Voltar]
Nota 22 - Idem, ibidem, p. 266-7. [Voltar]
Nota 23 - Eileen W. Lindner, Yearbook of American and Canadian Churches 2000, p. 346.
[Voltar]
Nota 24 - Cf. Minutes of the Twentieth General Conference of the Pentecostal Holiness
Church, Inc. (Franklin Springs: 1985), p. 92-9. [Voltar]
Nota 25 - The standard history of the Church of God (Cleveland), in: Charles W. Conn,
Like a Mighty Army: A History of the Church of God, 1886-1976, ed. rev.
(Cleveland: Pathway Press, 1977); A história da Igreja de Deus da Profecia pode
ser lida em Charles Davidson, Upon This Rock (Cleveland: White Wing
Publishing House, 1973-1976), 3 v. [Voltar]
Nota 26 - Charles W. Conn, Like a Mighty Army: A History of the Church of God, 1886-
1976, p. 1-18; Vinson Synan, The Holiness-Pentecostal Tradition: Charismatic
Movements in the Twentieth Century, p. 80-3. [Voltar]
Nota 27 - A. J. Tomlinson, Answering the Call of God (Cleveland: White Wing Publishing
House, 1942), p. 1-15. [Voltar]
Nota 28 - Cf. Homer Tomlinson, The Shout of a King (New York: Church of God, World
Headquarters, 1965), p. 14-20; Lillie Duggar, A. J. Tomlinson: Former General
Overseer of the Church of God (Cleveland: White Wing Publishing House,
1964), p. 30-45. [Voltar]
Nota 29 - A. J. Tomlinson, Answering the Call of God, p. 17. [Voltar]
Nota 30 - L. Howard Juillerat, Book of Minutes, General Assemblies, Church of God
(Cleveland: Church of God Publishing House, 1922), p. 15-9; Charles W. Conn,
Like a Mighty Army: A History of the Church of God, 1886-1976, p. 61-9.
[Voltar]
Nota 31 - L. Howard Juillerat, Book of Minutes, General Assemblies, Church of God, p.
15-9. [Voltar]
Nota 32 - Cf. Homer A. Tomlinson (Org.), Diary of A. J. Tomlinson, 1901-1923 (New
York: Church of God, World Headquarters, 1949-1955), p. 68-72. [Voltar]
Nota 33 - Charles E. Jones, A Guide to the Study of the Pentecostal Movement (Metuchen:
Scarecrow Press, 1983), v. 1, p. 271. [Voltar]
Nota 34 - Charles W. Conn, Like a Mighty Army: A History of the Church of God, 1886-
1976, p. 175-90; A. J. Tomlinson, Answering the Call of God, p. 8; Charles
Davidson, Upon This Rock, p. 573-610. [Voltar]
Nota 35 - Homer Tomlinson, The Shout of a King, p. 1-219; John Nichols, Pentecostalism
(New York: Harper & Row, 1966), p. 139-43. [Voltar]
Nota 36 - Cf. Charles W. Conn, Where the Saints Have Trod (Cleveland, Tenn.: Pathway
Press, 1959). [Voltar]
Nota 37 - Eileen W. Lindner, Yearbook of American and Canadian Churches 2000, p. 342.
[Voltar]
Nota 38 - Idem, ibidem. [Voltar]
Nota 39 - H. L. Fisher, History of the United Holy Church of America [s.l.: s.n.], p. 1-7.
[Voltar]
Nota 40 - Chester W. Gregory, History of the United Holy Church of America, Inc.: 1886-
1986 (Baltimore: Gateway Press, 1986), p. 30-6, 231-2. [Voltar]
Nota 41 - Cf. Vinson Synan, The Holiness-Pentecostal Tradition: Charismatic Movements
in the Twentieth Century, p. 65-6. [Voltar]
Nota 42 - Margaret Moffett Banks, Evangelist Speaks Before United Holy Church
Following, Greensboro News and Record, 5 mai. 2000, p. 1. [Voltar]
∗6 ∗
AS IGREJAS PENTECOSTAIS DA “OBRA CONSUMADA”
Vinson synan
Constituição
A constituição da nova comunidade deve muito a homens que não
estiveram presentes na reunião de Hot Springs e nunca fizeram parte da nova
igreja. Entre eles, podemos citar Charles Parham, o formulador da doutrina de
que o falar em línguas era a “evidência inicial” do batismo no Espírito Santo,
a qual se tornou distintiva para os crentes das Assembleias de Deus.
Outra ausência foi a de William J. Seymour, líder do avivamento da Rua
Azusa, em Los Angeles, onde a maioria dos presentes vivenciara a
experiência. A terceira ausência foi a de William Durham, que havia morrido
em 1912 e dera forma à principal doutrina da nova denominação. Sua teoria
da “obra consumada” da santificação plena distinguia as Assembleias de
Deus das antigas comunidades holiness pentecostais, que enfatizavam a
santificação do ponto de vista da “segunda bênção”. A quarta ausência foi a
de A. B. Simpson, fundador da Aliança Cristã e Missionária, cuja igreja
produziu muitos dos líderes da nova denominação, bem como sua teologia
básica e a disposição para as missões mundiais.2
Um dos presentes, que nunca fez parte das Assembleias de Deus, foi
Charles H. Mason, líder da Igreja de Deus em Cristo, de Memphis,
Tennessee. Embora Mason fosse negro, assim como a maioria dos membros
de sua igreja, havia um número significativo de brancos na congregação.
Muitos dos que ajudaram a implantar as Assembleias de Deus eram pastores
brancos afiliados a Mason e sua denominação. Muitos deles portavam
credenciais concedidas pela Igreja de Deus em Cristo e por Mason, com base
no consenso de que nenhum “indigno” a obteria.
Embora os laços entre Mason e os pentecostais brancos já não fossem tão
estreitos em 1914, ele foi convidado a pregar na convenção. No entanto,
Mason não quis fazer parte da nova denominação. Na verdade, a organização
das Assembleias de Deus representava, em parte, a saída dos brancos da
igreja de Mason.3
Pais fundadores
Dentre os participantes do concílio de Hot Springs, foram revelados os
principais responsáveis pela formação das Assembleias de Deus. O primeiro
presidente e supervisor geral foi Eudorus N. Bell, ex-batista do Texas que na
época pastoreava uma igreja pentecostal em Malvern, no Arkansas.
Bell fora educado no Seminário Teológico Batista do Sul, em Louisville,
no Kentucky, e estudara na Universidade de Chicago. Muitos batistas como
ele haviam ingressado no movimento pentecostal, a despeito de
desconhecerem os ensinos da tradição holiness. Bell representava o grande
contingente “batista” da nova denominação.4
J. Roswell Flower foi eleito secretário geral da igreja aos 26 anos de idade.
Exerceu diversos cargos nas Assembleias de Deus até sua aposentadoria, em
1959, depois de ocupar outra vez o cargo de secretário geral. Flower, Noel
Perkin e Frank Boyd eram livres associados da Aliança Cristã e Missionária
antes de ingressar nas fileiras pentecostais.5
A igreja cresce
As Assembleias de Deus apresentam um crescimento fenomenal desde
1914, dentro e fora dos Estados Unidos. Tendo começado basicamente como
uma sociedade missionária, a denominação desenvolveu um dos mais
agressivos programas de missões do mundo. Missionários eram enviados
para os lugares mais remotos do globo com a incumbência de proclamar a
mensagem pentecostal. O sacrifício a favor da obra missionária passou a ser a
maior preocupação das igrejas.
O desejo de se expandir pelos campos missionários combinava com a
intenção de multiplicar as igrejas pelos Estados Unidos. As Assembleias de
Deus não demoraram a implantar igrejas em todos os Estados da União.
Nas grandes cidades, onde as principais denominações estavam em
declínio, foram estabelecidas prósperas assembleias. Em milhares de cidades,
nas quais outras denominações não haviam conseguido firmar-se, as
Assembleias de Deus obtiveram pleno êxito.
As Assembleias de Deus experimentaram seu maior crescimento depois da
Segunda Guerra Mundial, nas campanhas de cura divina que levaram a
mensagem pentecostal às massas nos Estados Unidos. Depois de um período
de pouco crescimento na década de 1960, a igreja prosperou na época da
renovação carismática nas denominações históricas. A década de 1970 a
primeira metade da década de 1980 viram as Assembleias de Deus tornar-se a
maior denominação dos Estados Unidos. Por volta de 2000, algumas das
maiores congregações norte-americanas eram afiliadas às Assembleias de
Deus, como a Igreja Casa do Carpinteiro, de Karl Strader, em Lakeland,
Flórida, cujo santuário comporta 10 mil pessoas sentadas.
Entre outras grandes igrejas, estão: Catedral Crossroads, em Oklahoma
City, pastoreada por Dan Sheaffer, que comporta 6 mil pessoas sentadas; o
Templo do Calvário, em Irving, no Texas, pastoreada por Don George; e a
Primeira Assembleia de Deus em Phoenix, no Arizona, pastoreada por
Tommy Barnett.14
A maior igreja das Assembleias de Deus em tamanho e em crescimento é a
Assembleia de Deus em Seul, na Coreia do Sul, liderada pelo pastor Paul
Yonggi Cho. Ela é também conhecida como Igreja do Evangelho Pleno de
Yoido. Com mais de 730 mil membros em 2000, a expectativa é que
ultrapasse a marca de 1 milhão de membros.15
As estatísticas de crescimento das Assembleias de Deus são realmente
impressionantes. Dos 300 membros que se reuniram em Hot Springs em
1914, a denominação contabilizou, em 2000, mais de 35 milhões de membros
no mundo inteiro, dos quais 2,5 milhões apenas nos Estados Unidos.
Utilizando-se do método demográfico, David Barrett chegou ao número de
44 milhões de membros e congregados. A denominação conta com 12.055
igrejas locais nos Estados Unidos. A comunidade adoradora desses cristãos é
composta de 121.424 igrejas e outros núcleos, dos quais 10.886 estão nos
Estados Unidos. Um total de 1.464 missionários norte-americanos trabalha
em 118 países. Espalhadas pelo mundo, 301 escolas treinam ministros que
dão continuidade à obra da igreja.16
Quando o programa missionário foi iniciado, decidiu-se que a meta da
igreja era estabelecer igrejas autogeridas e autossustentáveis, independentes
das igrejas dos Estados Unidos. Por essa razão, muitas igrejas ostentam o
nome Assembleia de Deus sem, no entanto, ter um vínculo direto com a sede
norte-americana, em Springfield, no Missouri. Embora todas empunhem a
mesma bandeira e adotem as mesmas doutrinas, essas igrejas ao redor do
mundo são na verdade comunidades nacionais e independentes, muito mais
que a representação internacional de uma única denominação.
Veja-se, por exemplo, a maior de todas as igrejas nacionais, as
Assembleias de Deus no Brasil. A igreja brasileira foi implantada em 1910,
quatro anos antes da igreja constituída nos Estados Unidos.17
De todos os líderes da história das Assembleias de Deus, nenhum exerceu
influência mais abrangente que Thomas Zimmerman, que encerrou seu
mandato de superintendente geral em dezembro de 1985. Durante os vinte e
seis anos em que exerceu a função, a denominação duplicou de tamanho nos
Estados Unidos. Zimmerman também foi responsável pelo ingresso dos
pentecostais na vertente evangelical do cristianismo enquanto ocupava o
cargo de presidente da Associação Nacional de Evangelicais. Depois do
concílio de 1985, foi convidado a presidir o comitê de Lausanne.
Na década de 1980, vários membros das Assembleias de Deus ocuparam
cargos importantes na política. James Watt foi secretário do Interior na gestão
do presidente Ronald Reagan, sendo o primeiro pentecostal a ocupar um
cargo no gabinete presidencial. Em 1985, John D. Ashcroft foi eleito
governador do Missouri, também o primeiro pentecostal a ocupar esse cargo
naquele Estado.
Quem viaja pelo mundo, provavelmente já encontrou congregações das
Assembleias de Deus tanto nos menores povoados quanto nas mais
desenvolvidas metrópoles. Por volta de 2000, a denominação conquistava 10
mil convertidos por dia em todo o mundo. De acordo com Thomas Trask,
superintendente geral na época, se for mantido esse ritmo de crescimento, as
Assembleias de Deus atingirão a marca de 100 milhões de membros quando a
denominação celebrar o centenário de sua fundação, em 2014.18
A Igreja Internacional do Evangelho Quadrangular
Em julho de 1922, a conhecida evangelista internacional Aimee Semple
McPherson levantou-se no Auditório Cívico de Oakland, na Califórnia, e
compartilhou uma visão do que veio a ser a Igreja Internacional do
Evangelho Quadrangular. Ela pregou um sermão baseado em Ezequiel 1.4-
28, em que se lê a descrição de uma criatura de quatro rostos. Aimee
enxergou nessa passagem quatro doutrinas fundamentais. Elas têm como
símbolo o homem, o leão, o boi e a águia, e essas imagens se tornaram a
essência de seu ministério.
A evangelista contou que sua visão esclarecia o significado daqueles
rostos. Ela disse que todos os quatro elementos representavam Jesus: o rosto
de homem era Jesus como Salvador; o de leão era Jesus como aquele que
batiza no Espírito Santo; o de boi era Jesus como aquele que cura; o de águia
era Jesus como o Rei que há de vir. Ela se referiu a essa revelação como “um
evangelho perfeito, um evangelho completo para o corpo, para a alma, para o
espírito e para a eternidade”. Assim nasceram a teologia e o nome de uma das
mais importantes denominações pentecostais, hoje presente em 55 nações do
mundo sob a bandeira da Igreja Internacional do Evangelho Quadrangular.19
O Templo Angelus
No final da década de 1920, Aimee tornou-se uma celebridade nacional
tanto como pastora quanto como evangelista. Com a ajuda da revista nacional
Bridal Call [Convite de casamento], hoje conhecida como Foursquare World
Advance [Avanço do mundo quadrangular], e o suporte financeiro das
contínuas cruzadas de cura e salvação de almas, ela deu início à construção
do Templo Angelus, perto de Echo Park, Los Angeles, em 1921.
O santuário, o maior dos Estados Unidos na época, com 3.500 lugares,
tornou-se o centro de seu florescente ministério. Ele foi avaliado naquele ano
em 1,5 milhão de dólares.
No primeiro ano de existência do templo, mais de 10 mil pessoas
atenderam ao apelo para ir ao altar e “nascer de novo”. Nos vinte anos
seguintes, o templo esteve sempre com sua capacidade esgotada, repleto de
pessoas ansiosas para ver e ouvir a lendária evangelista. Milhares de pessoas
muitas vezes iam embora por falta de assentos. Durante aqueles anos, Aimee
ministrou a mais de 20 mil pessoas por semana. Aquela foi, sem dúvida, a
primeira “megaigreja” dos Estados Unidos.
O ministério de Aimee continuou ascendendo após a dedicação do templo,
em 1923. Ela foi a primeira mulher a pregar um sermão pelo rádio (1922), e
sua igreja foi a primeira a possuir uma estação de rádio. A estação entrou no
ar em 1924, com o prefixo KFSG (Kall Foursquare Gospel).
Em 1925, Aimee também inaugurou uma escola bíblica que funcionava
num prédio de cinco andares construído não muito longe do templo, que foi
chamada Escola Bíblica LIFE (Lighthouse International Foursquare
Evangelism), instituição criada com o propósito de preparar para a liderança
as centenas de jovens líderes que afluíam à sua igreja.
um! Tum! Tum!”, ecoam os passos de centenas, milhares de pés, passando diante
“T da porta de nossas igrejas. “Tum! Tum! Tum!”, precipitam-se as multidões para
os negócios e os prazeres.
Da porta da igreja ecoa a voz do Pastor e do Evangelista, tentando deter a multidão
que corre desenfreada rumo à destruição e atrair sua atenção para Cristo.
“Parem, parem, ó multidão leviana, arrastada como que por um rio! Desviem os olhos
das luzes brilhantes do caminho das riquezas”, eles imploram. “Deixem os caminhos de
morte, entrem pelas nossas portas e escutem enquanto lhes contamos a doce e antiga
história do ‘Grande eu era’.
“Com eloquência e de maneira didática, contaremos a vocês acerca do maravilhoso
poder que Cristo ‘tinha’, dos milagres que ele ‘realizou’, dos doentes que ele ‘curou’.
Trata-se de uma história esplêndida e abençoada sobre as coisas que Jesus fez dezenove
séculos antes de vocês nascerem. Elas aconteceram num lugar distante, do outro lado do
mar, para onde vocês nunca navegaram, num país que vocês nunca visitaram e no meio
de um povo que vocês não conheceram. Extraordinário, maravilhoso, era o poder que
costumava fluir do ‘Grande eu era’ [...]”.
E, sobre a cabeça do povo, escuto o chamado: “Despertai, vós que dormis, levantai-
vos dentre os mortos! O Senhor está vivo. Seu poder nunca diminuiu. Sua Palavra nunca
mudou. As coisas que Deus fez nos tempos bíblicos, ele continua a realizar nos dias de
hoje. Não há peso que ele não possa suportar nem grilhões que não possa quebrar.
“Trazei aqui vossos pecados. Ele irá removê-los e levá-los para bem longe. Trazei
aqui vossas doenças, e ele vos curará hoje mesmo. Nós servimos não a um deus morto,
mas ao Deus vivo. Não ao ‘eu era’, mas ao ‘Grande eu sou’.
“Vinde, ó jovens; vinde, anciãos; vinde vós, os tristes; vinde, ó alegres; vinde vós, os
cansados e sobrecarregados; vinde, doentes e saudáveis! Vinde vós todos ao ‘Grande eu
sou’. Há comida para o faminto; há força para o fraco; há esperança para o desesperado;
há vista para o cego.”
Esse era um dos hinos dos pentecostais unicistas, para quem Jesus era o nome do Pai,
do Filho e do Espírito Santo. O desejo de retomar o manto da igreja apostólica começou
com os questionamentos acerca da fórmula usada no batismo em água.
Não demorou, no entanto, para que a discussão em torno da doutrina da Trindade
também se destacasse.
Em abril de 1912, um encontro holiness pentecostal teve lugar em Arroyo Seco, na
Califórnia. Entre 1.500 e 2 mil pentecostais, a maioria pastores, compareciam todas as
noites às reuniões, e centenas de outros enchiam o acampamento aos domingos. Foi
nesse lugar que Robert Edward McAlister, respeitado ministro canadense, observou que,
embora Jesus tivesse ensinado os discípulos a batizar outros discípulos “em nome do
Pai, do Filho e do Espírito Santo”, o Novo Testamento registra que os apóstolos
batizavam somente “em nome de Jesus”.
O pregador pentecostal Frank J. Ewart mais tarde comentou: “A arma foi disparada
daquela plataforma, e o tiro foi ouvido por toda a cristandade”.
De fato, em janeiro de 1915 a nova doutrina já se havia espalhado pelo continente.
Muitos pentecostais sinceros foram rebatizados para que pudessem trilhar os caminhos
da igreja apostólica. Eles acreditavam que as antigas doutrinas haviam sido deturpadas
por gerações de infiéis, cuja incapacidade de atentar para o Espírito de Deus fora
desmascarada pela “nova luz” do Espírito Santo.
Para a maioria dos adeptos, aquela era apenas uma fórmula diferente para o batismo,
e não uma rejeição consciente à Trindade. No entanto, ao mesmo tempo que eles
adoravam a Deus como Pai, Filho e Espírito Santo, os pentecostais unicistas rejeitavam
os termos “Trindade” e “pessoas”, considerados antibíblicos.
Dois no Espírito
J. Roswell Flower, que mais tarde foi secretário das Assembleias de Deus (AD),
estava aflito não apenas por causa da aparente negação da doutrina ortodoxa, mas
também pelo potencial de divisão da nova doutrina. Ele insistiu em que os outros líderes
convocassem uma reunião do Concílio Geral, a fim de evitar que o problema se
agravasse.
Em 1o de outubro de 1915, um total de 525 delegados reuniu-se em St. Louis, prontos
para o confronto. Os adeptos do movimento unicista não se mostraram agressivos,
tampouco se fez grande empenho para censurá-los. No entanto, o concílio propôs um
acordo. A prática do rebatismo não seria mais aceita, bem como algumas doutrinas
professadas pelos unicistas. Não obstante, ambas as fórmulas de batismo seriam
reconhecidas como autenticamente cristãs.
Depois do concílio, entretanto, os unicistas intensificaram sua prédica, e um ano
depois os delegados da AD estavam de volta a St. Louis. Eles então decidiram que a
denominação era grande o bastante para absorver os adeptos do movimento unicista.
Desde sua formação, em 1914, o grupo se mostrava avesso a qualquer tipo de
organização formal. Queria restabelecer a igreja do Novo Testamento, e o Novo
Testamento não apresentava nenhuma forma de organização além da igreja local.
Credos, “tradição” e estruturas de poder haviam corrompido a Igreja e sufocado a
ação do Espírito Santo.
Assim, mais que discutir questões doutrinárias acerca da Trindade, o contingente
unicista (composto por negros, em sua maioria) ressaltava que era contrário à elaboração
de qualquer declaração doutrinária pelas Assembleias de Deus. De fato, eles votaram
contra todas as proposições apresentadas no concílio.
A estratégia, no entanto, falhou. As Assembleias de Deus aprovaram a Declaração de
verdades fundamentais, a qual, em boa parte de seu conteúdo, refutava as crenças
unicistas. Mais de um quarto dos presentes, 156 membros, viu-se então forçado a deixar
as Assembleias de Deus e formar uma nova organização (as mais importantes são: as
Assembleias Pentecostais do Mundo e — resultante de diversas fusões — a Igreja
Pentecostal Unida). Contudo, por causa da reação das Assembleias de Deus ao “novo
problema”, o grupo não tardou a se consolidar como denominação.
Muitos pequenos grupos unicistas foram organizados formalmente depois de 1916,
embora muitos também permanecessem independentes. Acredita-se haver hoje entre 1,5
e 5 milhões de pentecostais unicistas em todo o mundo. Eles representam menos de 1%
de todos os pentecostais.
kenneth gill christiAn history [história cristã]
As Assembleias Pentecostais do Mundo
Como já foi dito, o movimento pentecostal unicista teve sua origem nos
primeiros anos das Assembleias de Deus e cresceu a ponto de provocar um
cisma na denominação. Depois do voto decisivo do Concílio Geral de 1916,
realizado em St. Louis, no qual as Assembleias de Deus penderam para o
lado dos trinitarianos, 156 pastores se desligaram da organização e se viram
forçados a buscar outra estrutura. Encontraram então uma igreja livremente
organizada, as Assembleias Pentecostais do Mundo, que fora constituída na
Califórnia sob a liderança de J. J. Frazee, em 1906. Embora tivesse começado
como uma igreja trinitariana, essa denominação não tardou a aceitar a
teologia unicista e tornou-se a casa dos pentecostais unitaristas que haviam
deixado as Assembleias de Deus. A sede da nova igreja foi transferida para
Indianápolis, uma vez que a maior congregação unicista do país estava ali,
pastoreada pelo pastor negro Garfield Thomas Haywood. Essa igreja era
racialmente integrada, porém de maioria negra.
Em 1916, um grande contingente de pastores brancos, ex-membros das
Assembleias de Deus, liderados por Howard Goss e D. C. O. Opperman,
uniram-se à igreja de Haywood, formando a principal congregação unicista
dos Estados Unidos.43
Desde o início, as Assembleias Pentecostais do Mundo eram racialmente
integradas, como dito antes. Seu líder mais proeminente era Garfield Thomas
Haywood, que atuou como bispo-presidente de 1925 até sua morte, em 1931.
Haywood não era apenas um líder e ministro competente, mas também um
notável compositor de hinos. Duas de suas composições mais conhecidas são:
“I See a Crimson Stream of Blood” [Vejo um rio de sangue carmesim] e
“Jesus the Son of God” [Jesus, o Filho de Deus].
I. O nome de Deus
O nome de Deus é a doutrina que orienta todas as outras. É a forma pela qual alguém
conhece Deus e segue Jesus. O nome não é mera descrição ou rótulo de Deus: é a
maneira pela qual ele revela a si mesmo e nos dá a salvação. Deus está presente onde
seu nome é empregado.
Nota 1 - As principais obras sobre a história das Assembleias de Deus são: Carl Brumback,
Suddenly [...] From Heaven: A History of the Assemblies of God (Springfield:
Gospel Publishing House, 1961); Klaud Kendrick, The Promise Fulfilled: A
History of the Modern Pentecostal Movement (Springfield: Gospel Publishing
House, 1961); William Menzies, Anointed to Serve: The Story of the Assemblies
of God (Springfield: Gospel Publishing House, 1971); Edith Waldvogel
Blumhofer, The Assemblies of God: A Popular History (Springfield: Gospel
Publishing House, 1985). Outras obras importantes sobre as Assembleias de Deus
e outros grupos pentecostais clássicos são: Robert Mapes Anderson, Vision of the
Disinherited: The Making of American Pentecostalism (New York: Oxford
University Press, 1979); Vinson Synan, The Holiness- Pentecostal Tradition
(Grand Rapids: Eerdmans, 1997). [Voltar]
Nota 2 - William Menzies, Anointed to Serve: The Story of the Assemblies of God, p. 64-
76, 48-9, 70-1; Robert Mapes Anderson, Vision of the Disinherited: The Making
of American Pentecostalism, p. 188-94; Vinson Synan, The Holiness- Pentecostal
Tradition, p. 149-52, 153-6. V tb. William Menzies, Non-Wesleyan Origins of
the Pentecostal Movement, in: Vinson Synan, Aspects of Pentecostal Charismatic
Origins (Plainfield: Logos International, 1975), p. 81-98. [Voltar]
Nota 3 - Robert Mapes Anderson, Vision of the Disinherited: The Making of American
Pentecostalism, p. 188-94; Vinson Synan, The Holiness- Pentecostal Tradition, p.
167-86. [Voltar]
Nota 4 - Robert Mapes Anderson, Vision of the Disinherited: The Making of American
Pentecostalism, p. 173-84; Richard A. Lewis & E. N. Bell: An Early Pentecostal
Spokesman, 14 nov. 1986 (documento apresentado à Sociedade de Estudos
Pentecostais, em Costa Mesa, na Califórnia). [Voltar]
Nota 5 - Carl Brumback, Suddenly [...] From Heaven: A History of the Assemblies of God,
p. 88-97; John S. Sawin, The Response and Attitude of Dr. A. B. Simpson and
the Christian and Missionary Alliance to the Tongues Movement of 1906-1920,
14 nov. 1986 (documento apresentado à Sociedade de Estudos Pentecostais, em
Costa Mesa, na Califórnia). [Voltar]
Nota 6 - Vinson Synan, The Holiness- Pentecostal Tradition, p. 149-52; Carl Brumback,
Suddenly [...] From Heaven: A History of the Assemblies of God, p. 99-103.
[Voltar]
Nota 7 - J. Roswell Flower, History of the Assemblies of God [s.l.: s.n.], p. 17-9; William
Menzies, Anointed to Serve, p. 92-105. [Voltar]
Nota 8 - William Menzies, Anointed to Serve, p. 80-105; Carl Brumback, Suddenly [...]
From Heaven: A History of the Assemblies of God, p. 151-71. [Voltar]
Nota 9 - Essas razões são mencionadas na própria convocação para o concílio, Word and
Witness, n. 10, dez. 1913, p. 1. V. tb. Carl Brumback, Suddenly [...] From
Heaven: A History of the Assemblies of God, p. 157 (cópia da convocação).
[Voltar]
Nota 10 - Carl Brumback, Suddenly [...] From Heaven: A History of the Assemblies of
God, p. 168-9. [Voltar]
Nota 11 - Carl Brumback, Suddenly [...] From Heaven: A History of the Assemblies of
God, p. 216-25; William Menzies, Anointed to Serve, p. 129, 320. [Voltar]
Nota 12 - William Menzies, Anointed to Serve, p. 106-21. V. tb. a resposta ao movimento
unicista em Carl Brumback, God in Three Persons (Cleveland: Pathway Press,
1959). [Voltar]
Nota 13 - Vinson Synan, The Holiness-Pentecostal Tradition, p. 156-60; William Menzies,
Anointed to Serve, p. 384-90. [Voltar]
Nota 14 - Para uma declaração das Assembleias de Deus sobre o movimento de renovação
carismática, v. Kilian McDonnell, Presence, Power, Praise: Documents on the
Charismatic Renewal (Collegeville; New York: Paulist Press, 1980), v. 1, p. 318.
V. tb. Edith Waldvogel Blumhofer, The Assemblies of God: A Popular History,
p. 113-7, 141. [Voltar]
Nota 15 - Jae Bum Lee, Pentecostal Distinctives and Protestant Church Growth in Korea
(tese de Ph.D., Fuller Theological Seminary, 1986), p. 169-228. [Voltar]
Nota 16 - Eileen W. Lindner, Yearbook of American and Canadian Churches 2000
(Nashville: Abingdon, 2000), p. 340. V. tb. Assemblies of God: Who We Are and
What We Believe (Springfield: 2000); A/G Facts, Current Information About the
Assemblies of God (Springfield: Office of Information, 2000). [Voltar]
Nota 17 - Na verdade, a data oficial da fundação das Assembleias de Deus no Brasil é 18
de junho de 1911. O nome Assembleias de Deus só foi adotado em 1918, quando
a denominação foi oficialmente registrada. Antes disso, era identificada como
Missão da Fé Apostólica. Contudo, nunca esteve afiliada a nenhuma missão
estrangeira, sendo, portanto, uma denominação genuinamente nacional. [N. do
T.] [Voltar]
Nota 18 - AG News, 9 ago. 2000 (em matéria sobre o Congresso Mundial das Assembleias
de Deus, realizado em Indianápolis, em agosto de 2000). [Voltar]
Nota 19 - Fontes de consulta autobiográficas sobre a vida de Aimee Semple McPherson: In
the Service of King (New York: Boni and Liverright, 1927); The History of My
Life (Los Angeles: Echo Park Evangelistic Association, 1951). Obras críticas:
Robert P. Schuller, McPhersonism (Los Angeles, s.d.); Lately Thomas, The
Vanishing Evangelist (New York: Viking Press, 1959). [Voltar]
Nota 20 - Aimee Semple McPherson, The History of My Life, p. 15-79. [Voltar]
Nota 21 - V. Historical Data of the International Church of the Foursquare Gospel, abr.
1968, p. 1. [Voltar]
Nota 22 - Vinson Synan, The Holiness-Pentecostal Tradition, p. 191-202. [Voltar]
Nota 23 - Facts You Should Know About the International Church of the Foursquare
Gospel, p. 5; Harold Helms, entrevista concedida ao autor, Los Angeles, 19 nov.
1986. [Voltar]
Nota 24 - Aimee Semple McPherson, Personal Testimony, p. 47-9; Lately Thomas, The
Vanishing Evangelist, p. 1-319. [Voltar]
Nota 25 - Articles of Incorporation and By-laws of the International Church of the
Foursquare Gospel (Los Angeles: 1986), p. 20-8. [Voltar]
Nota 26 - Facts You Should Know About the International Church of the Foursquare
Gospel, p. 6; Aimee Semple McPherson, This We Believe (Los Angeles: s.d.), p.
7-35. [Voltar]
Nota 27 - Aimee Semple McPherson, The History of My Life, p. 75-42; Personal
Testimony, p. 43. [Voltar]
Nota 28 - Cf. Articles of Incorporation and By-laws of the International Church of the
Foursquare Gospel, p. 20-8. [Voltar]
Nota 29 - Yearbook, 1986, International Church of the Foursquare Gospel (Los Angeles),
p. 9. [Voltar]
Nota 30 - Harold Helms, entrevista concedida ao autor, Oklahoma City, 19 nov. 1986.
[Voltar]
Nota 31 - Eileen W. Lindner, Yearbook of American and Canadian Churches 2000, p. 346.
[Voltar]
Nota 32 - Guy Duffield & Nathaniel Van Cleave, Foundations of Pentecostal Theology
(Los Angeles: LIFE Bible College, 1983). [Voltar]
Nota 33 - Cf. Vinson Synan, The Holiness-Pentecostal Tradition: Charismatic Movements
in the Twentieth Century, p. 195-6. [Voltar]
Nota 34 - Wayne Warner, Pentecostal Church of God, in: Stanley M. Burgess, Patrick
Alexander & Gary McGee (Orgs.), Dictionary of Pentecostal and Charismatic
Movements, p. 701-2. [Voltar]
Nota 35 - Wayne Warner, Pentecostal Church of God, p. 701-2. [Voltar]
Nota 36 - Eileen W. Lindner, Yearbook of American and Canadian Churches 2000, p. 348.
[Voltar]
Nota 37 - Cf. Vinson Synan, The Holiness-Pentecostal Tradition: Charismatic Movements
in the Twentieth Century, p. 221-2. [Voltar]
Nota 38 - Vinson Synan, The Holiness-Pentecostal Tradition: Charismatic Movements in
the Twentieth Century, p. 202-3. A melhor história da denominação é R. Bryant
Mitchell, Heritage and Horizons (Des Moines: Open Bible, 1982). [Voltar]
Nota 39 - Cf. Klaud Kendrick, The Promise Fulfilled, p. 164-71. [Voltar]
Nota 40 - Wayne Warner, Open Bible Standard Churches, Inc., in: Stanley M. Burgess,
Patrick Alexander & Gary McGee (Orgs.), Dictionary of Pentecostal and
Charismatic Movements, p. 651-3. [Voltar]
Nota 41 - Eileen W. Lindner, Yearbook of American and Canadian Churches 2000, p. 348.
[Voltar]
Nota 42 - Cf. David Reed, Aspects of the Origins of Oneness Pentecostalism, in: Vinson
Synan, Aspects of Pentecostal-Charismatic Origins, p. 143-68. [Voltar]
Nota 43 - Vinson Synan, The Holiness-Pentecostal Tradition: Charismatic Movements in
the Twentieth Century, p. 156-64. [Voltar]
Nota 44 - Edith Blumhofer, The Assemblies of God: A Chapter in the Story of American
Pentecostalism, p. 221-39. Vinson Synan, The Holiness-Pentecostal Tradition:
Charismatic Movements in the Twenty Century, p. 160-1. A mais importante
obra sobre a história das Assembleias Pendecostais do Mundo é James L. Tyson,
The Early Pentecostal Revival (Hazelwood: Word Aflame Press, 1992). [Voltar]
Nota 45 - A linha Mason-Dixon é um limite de fronteiras entre quatro Estados norte-
americanos: Pensilvânia, Virgínia Ocidental, Delaware e Maryland, traçada no
século XVIII, quando esses territórios ainda eram colônias inglesas. A linha é
usada como fronteira simbólica que divide culturalmente o norte e o sul dos
Estados Unidos. [N. do T.] [Voltar]
Nota 46 - J. L. Hall, United Pentecostal Church, International, in: Burgess, McGee &
Alexander, Dictionary of Pentecostal and Charismatic Movements, p. 860-5.
[Voltar]
Nota 47 - Lindner, Yearbook of American and Canadian Churches 2000, p. 351. [Voltar]
∗7 ∗
A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA NAS PRINCIPAIS IGREJAS
Vinson synan
Dennis Bennet
Às 9 horas da manhã de um dia de novembro de 1959, Dennis Bennett,
pároco da Igreja Episcopal de São Marcos, em Van Nuys, na Califórnia,
ajoelhado na casa de alguns amigos, começou a orar em línguas. A
experiência do batismo no Espírito Santo, até então desconhecida para
Bennett, mudaria sua vida para sempre. Além disso, as mais importantes
igrejas da cristandade seriam em poucos anos afetadas de modo singular por
causa desse incidente.1
De certa forma, Bennet representava o polo oposto do contingente
pentecostal que advogava a experiência a que chamavam “batismo no
Espírito Santo”. Para eles, muitas vezes isso significava uma experiência
dramática evidenciada pela glossolalia, isto é, o falar em línguas. A opinião
pública dos Estados Unidos, em sua maioria, colocava os episcopais no topo
da lista dos cristãos respeitáveis, enquanto os pentecostais sem berço
ocupavam o degrau mais baixo da pirâmide social.2
A experiência temporã de Bennett foi notável pelo fato de que muitos
membros de sua paróquia também receberam o batismo pentecostal e tiveram
sua vida devocional e espiritual completamente transformada. Em abril de
1960, Bennett relatou sua experiência aos membros de sua rica paróquia. O
que se seguiu foi quase um motim, insuflado pela rejeição. “Somos
episcopais, não um bando de caipiras desmiolados”, vociferava um
manifestante de uma cadeira usada como plataforma. “Fora, os malditos
faladores de línguas!”, urrava outro.3
DENNIS BENNETT
NINE O’CLOCK IN THE MORNING [ÀS NOVE DA MANHÃ]
Para encurtar a história, Bennett não tardou a renunciar, porém não antes
de importantes revistas como a Time e a Newsweek darem ampla cobertura ao
incidente, transformando Bennett numa figura controversa da noite para o
dia. Ele também se tornou o líder de uma nova força que invadia as
denominações históricas, que era chamada de “movimento neopentecostal”.
A revista Time informou que “agora a glossolalia parece ter encontrado o
caminho de volta para as igrejas dos Estados Unidos — não apenas nas
desinibidas seitas pentecostais, mas até mesmo entre os episcopais, antes
chamados ‘povo gelado de Deus’ ”.4
Embora o caso de Bennett tenha repercutido muito e ocupado as principais
manchetes em todo o mundo, ele não foi o primeiro clérigo de sua igreja a
falar em línguas e permanecer exercendo um ministério. Com variados graus
de sucesso, pelo menos dois de seus colegas o precederam na experiência do
fenômeno pentecostal.
Em 1907, depois que o avivamento da Rua Azusa chamou a atenção do
mundo para os dons do Espírito, Alexander Boddy, pároco da Igreja
Anglicana de Todos os Santos, em Sunderland, na Inglaterra, promoveu um
avivamento pentecostal em sua igreja. Por muitos anos, as convenções anuais
de Sunderland funcionaram como centros de renovação da igreja na
Inglaterra, Europa e Estados Unidos. Essa “renovação que faltava” chegou ao
fim principalmente por causa da Primeira Guerra Mundial e pela ausência de
uma liderança mais capacitada. Quando muitos seguidores de Boddy — entre
eles, metodistas, batistas e membros dos Irmãos de Plymouth e do Exército
de Salvação — perceberam que o pentecostalismo não conseguiria mudar as
igrejas históricas britânicas, optaram por implantar denominações
pentecostais na Grã-Bretanha, em especial as Assembleias de Deus e a Igreja
Elim Pentecostal.
Michael Harper se referia a Boddy como “um profeta de quem pouco se
devia ouvir e muito se devia esquecer”. Boddy, o primeiro anglicano
pentecostal, mudou-se de Sunderland em 1922 para ser tornar pároco de
Pittington, na mesma diocese. Ele pastoreou essa igreja até sua morte, em
1929, e foi, sem dúvida, um homem à frente de seu tempo.5
Richard Winkler
Em 1956, um clérigo episcopal americano, Richard Winkler, pároco da
Igreja Episcopal da Trindade, em Wheaton, Illinois, foi batizado no Espírito
Santo e falou em línguas. Pelo que se sabe, foi o primeiro pastor episcopal
nos Estados Unidos a aderir abertamente ao movimento. Seu ministério
sofreu tal reviravolta após ele ter recebido o batismo pentecostal que em sua
igreja eram realizados cultos de cura divina, e muitos de seus membros
receberam o batismo no Espírito Santo.6
Em razão das experiências de Bennett e Winkler, a igreja episcopal emitiu
três documentos na década de 1960 a respeito do assunto, pois o movimento
se alastrava pela igreja. O primeiro foi emitido em abril de 1960, em resposta
à experiência de Bennett. O documento adotava o ponto de vista
dispensacional, segundo o qual as línguas pertenciam à infância da Igreja,
mas foram descartadas como sustentáculo depois que ela atingiu a
maturidade. O caso de Winkler também fez surgir uma declaração oficial, em
dezembro de 1960, que advertia os episcopais do engano diabólico e o
sectarismo. Embora a igreja reconhecesse que a glossolalia podia ser genuína,
o documento dizia que “a razão é predominantemente a voz do Espírito
Santo”. A despeito desse pronunciamento, Winkler obteve permissão para
continuar ministrando em sua igreja, fazendo dela um centro de atividades
carismáticas no meio-oeste dos Estados Unidos.7
A reação à experiência de Bennett foi tão explosiva que seu batismo no
Espírito se tornou um verdadeiro batismo de fogo. Por causa de seus
sofrimentos e de sua posterior defesa dessa experiência, ele é considerado no
mundo inteiro o pai do movimento carismático nas denominações históricas.
O movimento alastrou-se com rapidez pelas igrejas episcopais do sul da
Califórnia depois que o caso de Bennett se tornou conhecido. Por volta de
1963, a revista Christianity Today [Cristianismo hoje] noticiou uma nova
irrupção espiritual, na qual 2 mil episcopais do sul da Califórnia falaram em
línguas.8
Os novos pentecostais eram um pouco diferentes dos pentecostais
clássicos, explica Jean Stone, um dos líderes dos primeiros dias do
movimento.
Eram menos emotivos e usavam os dons mais em particular, como uma
linguagem de oração. Eles também romperam com muitos estereótipos do
pentecostalismo que perduravam havia décadas. Eram representados, em sua
maioria, por clérigos de boa formação e leigos de várias classes profissionais.
Os cultos eram extremamente ordeiros, e as instruções de Paulo acerca da
decência e da ordem no uso dos dons eram observadas com extremo zelo.9
A reação eclesiástica à experiência de Bennett foi imediata e negativa.
Seu superior eclesiástico, o bispo Francis Bloy, não apenas proibiu que se
falasse em línguas em São Marcos, como também baniu o dom de todas as
paróquias de sua diocese. Em outra região da Califórnia, o bispo James A.
Pike enviou cópias de uma carta de 2.500 palavras a todas as 125
paróquias de sua diocese, proibindo a glossolalia nas igrejas. Ele chamava o
movimento “heresia em estado embrionário” e declarou que “esse fenômeno
particular chegou a um ponto que já ameaça a paz e a unidade da igreja”.
Apesar de todas essas medidas, a ação do Espírito não foi interrompida nas
igrejas episcopais da Califórnia nem de outros Estados norte-americanos.10
A despeito de as línguas terem sido proibidas nos cultos da diocese, Pike,
em suas rondas regulares pelas paróquias, ocasionalmente deparava com
igrejas e ministros que irrompiam a cantar em línguas durante o serviço
religioso. Ironicamente, esse mesmo bispo mais tarde encerrou sua carreira
em desgraça, depois de algumas tentativas frustradas de se comunicar com os
mortos com a ajuda de um médium.
No entanto, algumas vozes amigáveis eram ouvidas na igreja. Depois de
tomar conhecimento da condição de Bennett, William Fischer Lewis, bispo
de Olympia, Washington, convidou-o a assumir o ministério da Igreja
Episcopal de São Lucas, uma paróquia enfraquecida nos arredores de Seattle.
O fechamento da igreja de São Lucas já havia sido cogitado, por isso Lewis
convidou Bennett, pedindo-lhe que “trouxesse o fogo” consigo. Tendo
permissão para ensinar e introduzir a forma pentecostal de adoração e louvor,
Bennett e sua igreja não tardaram a experimentar uma tremenda renovação
espiritual.
Harald Bredesen
Em 1947, um jovem leigo luterano na cidade de Nova York soube que,
numa congregação pentecostal em franco crescimento, centenas de pessoas
das mais diversas origens denominacionais estavam recebendo cura física e
experimentando o que era conhecido como batismo no Espírito Santo.
Embora fosse membro do Conselho Mundial de Educação Cristã, com sede
em Manhattan, o jovem sentiu-se irresistivelmente tentado a investigar
aqueles cultos incomuns que atraíam tanta gente na cidade grande.
Sem demora, o jovem luterano juntou-se ao povo que se dirigia ao altar em
busca do batismo no Espírito Santo. Pouco tempo depois, ele teve a
experiência pentecostal e começou a falar numa língua que nunca havia
aprendido. O jovem chamava-se Harald Bredesen, e a igreja era uma
congregação das Assembleias de Deus, pastoreada por P. G. Emett.20
O jovem Bredesen estava destinado a ser o “João Batista” do movimento
de renovação carismática para as denominações históricas. Ele foi um dos
primeiros ministros fora do ramo pentecostal clássico a ter a experiência da
glossolalia e permanecer no ministério de uma igreja não pentecostal.
Bredesen nascera e crescera num contexto luterano radical e tinha planos
de se tornar ministro da igreja após concluir seu trabalho na assessoria do
Conselho Mundial de Educação Cristã. Filho de um pastor luterano de
Minnesota, ele frequentou o Seminário Teológico Luterano de St. Paul e
serviu como pastor em regime de internato em Aberdeen, Dakota do Sul,
antes de assumir seu posto em Nova York.
Anos depois, Bredesen foi incentivado por vários líderes cristãos
importantes a buscar a experiência do batismo no Espírito Santo, entre eles
Pat Robertson, John Sherrill e Pat Boone. Ele foi ordenado ministro da Igreja
Reformada Holandesa e aceitou o convite para pastorear a congregação de
Mt. Vernon, Nova York. Na década de 1960, ele também conduziu muitas de
suas paróquias à experiência pentecostal. Em 1963, foi um dos principais
colaboradores da impressionante reunião realizada na Universidade de Yale,
na qual muitos alunos também falaram em línguas. Eles eram chamados
jocosamente “glossolálios”21 pela imprensa secular.22
té então, eu desejava poder para servir, poder para testemunhar e poder para viver a
A vida cristã. Agora, eu tinha apenas um desejo, que era satisfazer o anseio de meu
coração por Jesus. Antes disso, eu amava a Deus com reservas, servia a Deus com
reservas e ao mesmo tempo presumia que ele me amava — com reservas. Naquele
momento, pareceu-me que todos os meus pecados, falhas e fraquezas não podiam mais
afastar o amor dele de mim, assim como uma sujeirinha de mosca não pode encobrir o
sol. Apesar do que eu era, apesar do que eu não era e apesar de todas as minhas reservas,
ele me amava sem reservas. Eu estava tão completamente dominado, tão arrebatado e
tão maravilhado com aquele amor incondicional a mim dedicado que não conseguia
baixar as mãos. Agora, eu não precisava mais perguntar a ninguém: “Por que você fica
com as mãos levantadas?”. Eu estava simplesmente perplexo e resignado.
Tentei até dizer: “Obrigado, Jesus! Obrigado, Jesus!”, mas não podia expressar o
inexpressável. Então, para meu grande alívio, o Espírito Santo fez isso por mim. Eu me
sentia como uma garrafa da qual haviam tirado a rolha, deixando transbordar uma
torrente de palavras num idioma que eu nunca havia aprendido. Tudo que eu desejava
dizer para Deus, agora eu podia falar.
Depois de um longo tempo de louvor a Deus, consciente de que a experiência era real,
cheguei à conclusão de que tinha de contar aos meus amigos o que acontecera.
Eu sabia que provavelmente eles iriam dizer: “Harald, você se misturou com um
bando de gente histérica, que impõe a si mesma um frenesi de excitação religiosa e
dispara rajadas de palavras inarticuladas. Você foi influenciado por todas essas coisas”.
Orei: “Senhor, se este é um idioma real, revela-o para mim”. Saí porta afora e desci
uma das muitas trilhas que levavam a um bosque nas proximidades. Enquanto eu
caminhava pela trilha, minha nova oração em línguas começou a fluir mais uma vez,
como se um poço artesiano em meu interior jorrasse louvores e adoração.
Na direção oposta, vinha uma bela menina de cabelos louros, com cerca de 11 nos de
idade. Quando ela chegou perto de mim, parou, jogou o cabelo para trás, deu uma risada
e disse: — Você está falando polonês.
Escrevi num pedaço de papel: “Onde encontro um polonês aqui? Preciso falar com
alguém”. Eu não queria pronunciar as palavras em minha língua materna, temendo não
conseguir falar depois no outro idioma. A menina me conduziu até onde havia um
homem parado diante de uma cabana. Ele era musculoso e atarracado, talvez um
mineiro da Pensilvânia. Pensei: “Imagine só! Nem conheço este homem, mas em Cristo
somos irmãos”.
Ele exclamou: — Bracia, bracia! Você me chamou de irmão. — E acrescentou: —
Você está louvando a Deus, pulando de um dialeto eslavo para outro.
Quando o deixei, meu coração estava arrebatado.
HARALD BREDESEN
YES, LORD
Larry Christenson
Larry Christenson foi um dos primeiros luteranos a ter a experiência do
batismo no Espírito Santo, na década de 1960. Ele havia concluído o
seminário havia apenas um ano e estava em seu primeiro mandato de pastor,
na Igreja Luterana da Trindade (Igreja Luterana Americana; sigla em inglês:
ALC), em San Pedro, na Califórnia. Christenson já se mostrara fascinado
com a possibilidade da cura divina depois de ler um livro de Agnes Sanford,
The Healing Light [A luz da cura].
Enquanto participava de um culto da Igreja do Evangelho Quadrangular
em San Pedro, ele ouviu falar do batismo no Espírito Santo com a evidência
inicial do falar em línguas. Naquela noite, o jovem pastor luterano acordou
“sentado na cama e atônito, com um idioma desconhecido” a fluir de seus
lábios. Ele pronunciou uma frase em outra língua e então voltou a dormir.
Isso aconteceu no amanhecer de uma sexta-feira, 4 de agosto de 1961. Na
noite seguinte, retornou à Igreja do Evangelho Quadrangular e relatou aos
membros que uma “sensação maravilhosa de louvor e alegria brotou dentro
de mim e transbordou em meus lábios em um idioma desconhecido”. Foi uma
experiência extraordinária, declarou ele, “apesar de não ter sido devastadora”.
Christenson ficou preocupado com seu futuro como pastor luterano, pois
não sabia se a experiência era compatível com a tradição da igreja.
Numa conversa posterior com David du Plessis, ele foi aconselhado a
permanecer na igreja luterana e promover o movimento de renovação entre
seus pares.24
Nota 1 - Cf. Dennis Bennett, Nine O’Clock in the Morning (Plainfield: Bridge Publishing,
1970), p. 1-30. [Voltar]
Nota 2 - Liston Pope, Millhands and Preachers, A Study of Gastonia (New Haven: Yale
University Press, 1946), p. 138. [Voltar]
Nota 3 - Dennis Bennett, Nine O’Clock in the Morning, p. 61. [Voltar]
Nota 4 - Cf. ed. 29 mar. 1963, p. 52; 15 ago. 1963, p. 52-5. [Voltar]
Nota 5 - Michael Harper, As At the Beginning: The Twentieth Century Pentecostal Revival
(London: Hodder and Stoughton, 1965), p. 34-9. V. tb. Michael Harper, Three
Sisters (Wheaton: Tyndale, 1979). [Voltar]
Nota 6 - Entrevista concedida ao autor, Mauí, Havaí, 11 jan. 1986. [Voltar]
Nota 7 - Cf. Kilian McDonnell, Presence, Power, Praise: Documents on the Charismatic
Renewal (Collegeville/New York: Paulist Press, 1980), v. 1, p. 10-20. Para o
documento publicado acerca do caso de Bennett, cf. v. 1, p. 1-21. [Voltar]
Nota 8 - Frank Ferrell, Outburst of Tongues: The New Penetration, 13 set. 1963, p. 3-7.
[Voltar]
Nota 9 - Vinson Synan, In the Latter Days (Altamonte Springs: Creation House, 1991), p.
89-95. [Voltar]
Nota 10 - Kilian McDonnell, Presence, Power, Praise: Documents on the Charismatic
Renewal, p. 96-104. [Voltar]
Nota 11 - Dennis Bennett, Nine O’Clock in the Morning, p. 73-90; entrevista concedida ao
autor, Kansas City, jul. 1977. V. tb. John Sherrill, They Speak with Other
Tongues (New York: McGraw-Hill, 1964), p. 61-6. [Voltar]
Nota 12 - Richard Quebedeaux, The New Charismatics II (San Francisco: Harper & Row,
1983), p. 58, 138-42, 156, 179. [Voltar]
Nota 13 - Richard Quebedeaux, The New Charismatics II, p. 78-81, 102-4, 151-73. V. tb.
Jean Stone & Harald Bredesen, The Charismatic Renewal in the Historic
Churches (Van Nuys: Full Gospel Business Men’s Fellowship International,
1963). [Voltar]
Nota 14 - Kilian McDonnell, Presence, Power, Praise: Documents on the Charismatic
Renewal, p. 20. [Voltar]
Nota 15 - Para conhecer a história da Confiança da Fonte, v. Richard Quebedeaux, The
New Charismatics II, p. 98-105. [Voltar]
Nota 16 - Terry Fullam, entrevista concedida ao autor, 6 ago. 1986. Cf. Steve Lawson,
Episcopal Renewal on the Move, Charisma, mar. 1986, p. 64. V. tb. David
Collins, There Is a Lad Here: A Book of Gratitude (Darien: Darien News, 1996),
p. 151-91. [Voltar]
Nota 17 - Boa parte desse relato é baseada no testemunho ocular do autor, que estava
presente nesse culto. Cf. Vinson Synan, The New Canterbury Tales, Pentecostal
Holiness Advocate, 22 out. 1978, p. 12. V. tb. Michael Harper (Org.), A New
Canterbury Tale: The Reports of the Anglican International Conference on
Spiritual Renewal Held at Canterbury, July 19, 1978 (Bromcote,
Nottinghamshire: Grove Books, 1978). [Voltar]
Nota 18 - Bob Slosser, Miracle in Darien (Plainfield: Logos International, 1979). [Voltar]
Nota 19 - Beth Spring, Spiritual Renewal Brings Booming Growth to Three Episcopal
Churches in Northern Virginia, Christianity Today, 13 jan. 1984, p. 38-9. [Voltar]
Nota 20 - Harald Bredesen, Yes, Lord (Plainfield: Logos International, 1972), p. 48-57.
[Voltar]
Nota 21 - Glossolálios do original glossoyalies, como trocadilho com o nome da
Universidade de Yale. [N. do E.] [Voltar]
Nota 22 - Cf. Time, 29 mar. 1963, p. 52. [Voltar]
Nota 23 - Pat Robertson, Shout It from the Housetops (Plainfield: Logos International,
1972), p. 65-79. [Voltar]
Nota 24 - Larry Christenson, entrevista concedida ao autor, Nova Orleans, 1 abr. 1986. V.
tb. Larry Christenson, The Charismatic Renewal Among Lutherans (Minneapolis:
International Lutheran Renewal Center, 1975); Erling Jorstad, Bold in the Spirit:
Lutheran Charismatic Renewal in America Today (Minneapolis: Augsburg
Publishing House, 1974). Para conhecer o testemunho completo de Christenson,
v. A Lutheran Pastor Speaks, Trinity (Whitsuntide, 1962), p. 32-5. [Voltar]
Nota 25 - Para um breve tratado sobre o ponto de vista de Lutero sobre os charismata, v.
Vinson Synan, In the Latter Days, p. 29-30. [Voltar]
Nota 26 - Larry Christenson, The Charismatic Renewal Among Lutherans, p. 13-31.
[Voltar]
Nota 27 - Herbert Mjorud, entrevista concedida ao autor, Pittsburgh, 21 mai. 1986. [Voltar]
Nota 28 - New York: Harper & Row, 1972). Para conhecer os primeiros informes oficiais
sobre o pentecostalismo luterano, v. Kilian McDonnell, Presence, Power, Praise:
Documents on the Charismatic Renewal, p. 21-566. [Voltar]
Nota 29 - Larry Christenson, entrevista concedida ao autor. [Voltar]
Nota 30 - Donald Pfotenhauer, entrevista concedida ao autor, Minneapolis, 8 ago. 1986. Cf.
Minneapolis Tribune, 4 fev. 1968, p. 14A. [Voltar]
Nota 31 - Para informações sobre a conferência de 1972, v. Wilmar Thorkelson, God’s
Electricity Is Here, Minneapolis Star, 10 ago. 1972, p. 1-3. V. tb. Norris Wogen,
entrevista concedida ao autor, Pittsburgh, 20 mai. 1986. [Voltar]
Nota 32 - Larry Christenson, The Charismatic Renewal Among Lutherans, p. 46-52;
Welcome, Holy Spirit (Minneapolis: Augsburg, 1987). V. tb. Theodore
Jungkuntz, Confirmation and the Charismata (Lanham: University Press of
America, 1983). [Voltar]
Nota 33 - Kilian McDonnell, Presence, Power, Praise: Documents on the Charismatic
Renewal, p. 321-73. [Voltar]
Nota 34 - Kilian McDonnell, Presence, Power, Praise: Documents on the Charismatic
Renewal, p. 369-73. [Voltar]
Nota 35 - Idem, ibidem, p. 543-66. [Voltar]
Nota 36 - Dennis Pederson, Introducing [...] International Lutheran Center for Charismatic
Renewal, Lutheran Renewal International, primavera 1980, p. 14-17. [Voltar]
Nota 37 - Larry Christenson, entrevista concedida ao autor. [Voltar]
Nota 38 - Kenneth Kantzer, The Charismatics Among Us, Christianity Today, 22 fev.
1980, p. 25-9. [Voltar]
Nota 39 - C. Peter Wagner, Survey of the Growth of the Charismatic Renewal (não
publicado, 1985). [Voltar]
Nota 40 - Herbert Mirly, entrevista concedida ao autor, Charlotte, 17 mai. 1986 (história e
carta não publicadas). [Voltar]
Nota 41 - As institutas ou tratado da religião cristã (trad. Waldyr Carvalho Luz; São Paulo:
Casa Editora Presbiteriana, 1989), v. 1, p. 13-34; cf. v. 4. V. tb. Calvin’s New
Testament Commentaries: 1 Corinthians (Grand Rapids: Eerdmans, 1960), p.
258-73 [1Coríntios, São Paulo: Fiel, 2008]. [Voltar]
Nota 42 - Carlisle: Banner of Truth Trust, 1918; London: Clarendon Press, 1950,
respectivamente. [Voltar]
Nota 43 - Cf. Bernard Weisberger, They Gathered at the River (New York: Little, Brown,
1958), p. 10-5; Archie Robertson, That Old-Time Religion (Boston: Houghton
Mifflin, 1950), p. 56-7. [Voltar]
Nota 44 - Jonathan Edwards, A Faithful Narrative of the Surprising Work of God (1737);
The Distinguishing Marks of a Work of the Spirit of God (1741). Esse
avivamento é comentado em Richard Lovelace, Dynamics of Spiritual Life
(Downers Grove: InterVarsity, 1979), p. 35-46. [Voltar]
Nota 45 - Vinson Synan, In the Latter Days, p. 25, 37, 52; Timothy Smith, Revivalism and
Social Reform (New York: Abingdon, 1957), p. 114-34. [Voltar]
Nota 46 - Cf. William S. Merricks, Edward Irving, The Forgotten Giant (East Peoria:
Scribe’s Chamber Publications, 1983), p. 179-80. [Voltar]
Nota 47 - N. J. Holmes, Life Sketches and Sermons (Franklin Springs: Publishing House of
the Pentecostal Holiness Church, 1920), p. 9-97. [Voltar]
Nota 48 - James H. Brown, entrevista concedida ao autor, Charlotte, 5 mar. 1986. V. tb.
carta de Brown a Synan, 27 jan. 1986. [Voltar]
Nota 49 - George “Brick” Bradford, entrevista concedida ao autor, Oklahoma City, 6 dez.
1985. [Voltar]
Nota 50 - George “Brick” Bradford, entrevista concedida ao autor, Oklahoma City, 6 dez.
1985; Charismatic Renewal in the Reformed Tradition, Renewal News, mai.-jun.
1981, p. 1-4. [Voltar]
Nota 51 - A história de Whitaker é contada no livreto de sua autoria Hang in There:
Counsel for Charismatics (Plainfield: Logos International, 1974), p. 38-41.
[Voltar]
Nota 52 - George C. Bradford, entrevista concedida ao autor; carta de Robert Whitaker ao
autor, 19 dez. 1985. Os registros desse caso podem ser encontrados no escritório
dos Ministérios de Renovação Presbiterianos e Reformados, em Oklahoma City.
[Voltar]
Nota 53 - Para conhecer o conteúdo desse relatório, v. Kilian McDonnell, Presence, Power,
Praise: Documents on the Charismatic Renewal, p. 221-82. (O relatório de 1971
da Igreja Presbiteriana Unida dos Estados Unidos está reproduzido nas p. 287-
317.) [Voltar]
Nota 54 - Cf. Catherine Marshall, Something More (New York: McGraw-Hill, 1974);
Richard Quebedeaux, The New Charismatics II, p. 131, 133-4. [Voltar]
Nota 55 - Quebedeaux, The New Charismatics II, p. 133, 146-7, 161. Cf. J. Rodman
Williams, The Pentecostal Reality (Plainfield: Logos International, 1972); The
Era of the Spirit (Plainfield: Logos International, 1971). [Voltar]
Nota 56 - Presbyterian Charismatic Communion Changes Name to Presbyterian and
Reformed Renewal Ministries International, Renewal News, mai.-jun. 1984, p. 1-
3. [Voltar]
Nota 57 - George C. Bradford, entrevista concedida ao autor. [Voltar]
Nota 58 - George C. Bradford, entrevista concedida ao autor. [Voltar]
∗8∗
OS “CARISMÁTICOS”: O MOVIMENTO DE RENOVAÇÃO NAS
PRINCIPAIS DENOMINAÇÕES PROTESTANTES
Vinson synan
John Osteen
Em 1958, John Osteen era um típico pastor batista do Sul que enfrentava
um sério problema na família. Sua filha, que nascera com paralisia cerebral,
fora desenganada pelos médicos. Em desespero, o pai, pastor da Igreja
Batista Memorial Hibbard, em Houston, no Texas, começou a estudar as
promessas de cura divina na Bíblia. Tendo o interesse despertado pelos
milagres registrados no Novo Testamento, Osteen orou pela filha e, para seu
espanto e também alegria, a menina foi imediatamente curada.
Logo depois desse fato, Osteen foi procurar os pentecostais da região de
Houston. J. R. Godwin, pastor da Primeira Assembleia de Deus de Houston,
dispôs-se a ajudá-lo e explicou-lhe o que era o batismo no Espírito Santo.
Em pouco tempo, Osteen teve uma poderosa experiência pentecostal “com
uma torrente de línguas”.
Alguns meses depois, a Igreja Batista Memorial Hibbard levou-o a
julgamento pela acusação de “heresia”. Durante o tempo do julgamento, dois
diáconos que faziam oposição a ele também falaram em línguas e “mudaram
de lado”. Quando o julgamento chegou ao fim, 82% dos membros da
congregação votaram a favor de Osteen. Embora ele estivesse livre para
continuar como pastor da igreja, seus oponentes não lhe davam trégua.
Finalmente, em 1961, ele e uma centena de seus partidários transferiram seus
cultos para um armazém e ali organizaram a Igreja Batista de Lakewood.
Após dois anos nesse novo local, Osteen ouviu a voz do Senhor falando
com ele e ordenando: “Eleva tua voz como um arcanjo e profetiza ao meu
povo no vale de ossos secos”. Essa ordem deu impulso a vários anos de
cruzadas evangelísticas em diversos lugares do mundo, com “resultados
maravilhosos”. Em 1969, ele foi reconduzido à igreja de Lakewood para
reassumir seu pastorado. Mais uma vez, começava a trabalhar com uma
centena de pessoas. Por volta de 1990, a igreja alcançava mais de 5 mil
famílias e construiu um santuário para 8 mil pessoas sentadas, onde Osteen
ministrava para um número superior a 15 mil pessoas semanalmente.[Nota 14]
Em muitos aspectos, a história de Osteen se confunde com a história da
renovação carismática entre os batistas. Ele foi um dentre as centenas de
pastores que foram renovados no Espírito Santo durante o século XX e
sofreram rejeição, nos mais variados graus, no âmbito da Igreja Batista.
Juntos, Harald Bredesen e eu vimos Deus dar início a um novo capítulo na história da
Igreja — um capítulo que tem hoje milhões de caracteres e que recebeu o título de
Renovação Carismática. Até então, não tinha nome, e não foi fácil vir à luz. Os que
dentre nós estavam envolvidos com ele vinham de um movimento clandestino, da
adoração a portas fechadas.
Harald, eu e alguns de meus colegas de seminário estávamos fazendo exatamente isso
num horário avançado de uma noite de 1959, na histórica Primeira Igreja Reformada, a
antiga Igreja Reformada Holandesa que Harald pastoreava em Westchester, no condado
de Mount Vernon, Nova York.
Eu gostava muito daquela antiga igreja de pedra. Com seus contrafortes de voo, arcos
graciosos e janelas adornadas, era um pedaço da velha Holanda num cenário suburbano
dos Estados Unidos. Por trás daquelas grossas paredes e das portas de folha dupla
fechadas à chave, nós nos sentíamos seguros em nossa recém-encontrada liberdade de
adoração.
Então, de repente, pelos lábios de Harald, veio a palavra: “Estou fazendo uma coisa
nova na terra. Por que vocês estão imobilizados pelo medo? Não escondam nada! Não
escondam nada!”.
A “coisa nova” que Deus estava fazendo em nosso meio atrairia a atenção do mundo
e abençoaria milhões de pessoas.
Para aquele verdadeiro santuário, veio o editor do New York Times, Bob Slosser, que
experimentou a “coisa nova” e, livro após livro, irresistivelmente a compartilhou.
Para aquele verdadeiro santuário, veio a CBS com o programa The World Tonight [O
undo esta noite], para transmitir a “coisa nova” para a nação.
Daquela antiga igreja de pedra, Walter Cronkite apresentaria o que fazíamos atrás das
portas fechadas aos seus 20 milhões de espectadores, e The Saturday Evening Post [A
mensagem de sábado à noite], aos seus 6 milhões de leitores. A revista Time, a
Associated Press e a United Press International espalhariam a novidade a milhões de
pessoas ao redor do globo.
Na noite seguinte (após a palavra proferida pelos lábios de Harald), eu, Harald e meu
condiscípulo Dick Simons nos encontramos na Quinta Avenida, na casa de outro pastor
da Igreja Reformada Holandesa. Em torno da mesa de jantar de Norman Vincent Peale,
não escondemos nada.
A senhora Peale saiu daquele jantar para uma reunião com os editores do Guidepost
[Marco de caminho]: ela não escondeu nada.
O editor sênior John Sherrill entrevistou Harald e se lançou numa aventura que o
levou a receber o batismo do Espírito Santo, e, em seus escritos e seus muitos livros, ele
não escondeu nada.
Ele ainda estava escrevendo Eles falam em outras línguas quando Harald lhe
apresentou um pregador de rua chamado David Wilkerson. Juntos, eles escreveram A
cruz e o punhal. Com 20 milhões de exemplares impressos, A cruz e o punhal é, ao lado
da Bíblia, um best-seller cristão mundial de todas as épocas.
Em Kansas City, em 1977, o padre Francis McNutt levantou-se para falar a 50 mil
católicos e protestantes carismáticos, e suas primeiras palavras foram: “A renovação
carismática na Igreja Católica [que então contava com 30 milhões de adeptos, incluindo
o papa] começou com dois livros: Eles falam em outras línguas e A cruz e o punhal”.
Suas palavras nos deixam felizes por não termos escondido nada.
PAT ROBERTSON
YES, LORD [SIM, SENHOR], DE HARALD BREDESEN
O futuro
Embora os batistas carismáticos norte-americanos estejam organizados há
mais de duas décadas e encontrem apoio no âmbito da denominação, os
batistas do Sul ainda têm dificuldades para organizar um grupo de apoio
permanente. Muitos pastores e leigos cheios do Espírito Santo têm esperança
de mudar essa situação em breve. Os congressos de Nova Orleans sobre
Espírito Santo e evangelização mundial realizaram sessões em 1986 1987. Os
batistas que participaram desses eventos tinham esperança de que os
delegados “estabelecessem linhas de comunicação e de comunhão” om os
batistas carismáticos do Sul. O objetivo deles era “trazer a renovação
espiritual para a igreja e ao mesmo tempo manter os vínculos com as
convenções local, estadual e nacional”.[Nota 23]
O argumento de pessoas como C. Peter Wagner era que uma “terceira
onda” do Espírito viera sobre as principais igrejas evangelicais, incluindo a
Igreja Batista. Estudos indicavam que cerca de 20% de todos os batistas da
América se identificavam como “cristãos carismáticos ou pentecostais”.
De acordo com uma pesquisa do Instituto Gallup, realizada em 1979, pelo
menos 5 milhões de batistas dos Estados Unidos se sentiam assim. Alguns
observadores, entre eles Wagner, estimavam que em 2000 haveria entre 200 e
300 congregações “renovadas” na Convenção Batista do Sul.[Nota 24]
A renovação menonita
De todas as famílias eclesiásticas tocadas pelo poder renovador do Espírito
Santo no século XX, nenhuma foi afetada mais profundamente que a Igreja
Menonita. A história da renovação carismática entre os menonitas abrange a
vida de centenas de pastores e bispos e muitos milhares de leigos que foram
radicalmente renovados por meio do batismo no Espírito Santo.
Como a maioria dos movimentos de renovação do século XX, o
avivamento menonita não foi planejado: aconteceu de repente. Tudo começou
entre a juventude, durante uma “escola bíblica de férias” na Igreja Menonita
de Loman, Minnesota, quando sete igrejas enviaram 76 adolescentes para
estudar a Bíblia no período entre o Natal de 1954 e o Ano-novo de 1995. O
líder dessa escola especial era Gerald Derstine, pastor da Igreja Menonita de
Lake Strawberry, perto de Ogema, Minnesota. Na condição de “menonita dos
menonitas”, a família de Derstine tinha raízes na denominação que
remontavam ao século XVIII, na Pensilvânia.[Nota 25]
Nos últimos dias, diz Deus, derramarei do meu Espírito sobre todos os povos. Os
seus filhos e as suas filhas profetizarão, os jovens terão visões, os velhos terão
sonhos. Sobre os meus servos e as minhas servas derramarei do meu Espírito
naqueles dias, e eles profetizarão.
Eu olhava atônito para aquelas palavras. Então, olhei para o garoto e voltei ao texto.
Poderia tudo aquilo ser realmente obra de Deus? Seria o verdadeiro avivamento pelo
qual estávamos orando e jejuando? Eu queria acreditar. Mas aquilo era contrário às
nossas doutrinas. Sempre ensinamos que aquela passagem particular havia sido
cumprida nos tempos bíblicos. Li o texto mais uma vez: “Nos últimos dias [...]”.
“Irmão Derstine! Venha aqui. Connie está dizendo alguma coisa.” Apressei-me a ir
para o lado da garota que jazia caída ao chão. Também no rosto dela se via estampado
um sorriso celestial, e ela estava falando algo. Ela se expressava com autoridade, uma
palavra de cada vez, mencionando um “avivamento do final dos tempos” como o mundo
nunca havia visto. Seus amigos, inclinados sobre ela, tentavam aproximar-se ao máximo
para captar cada palavra. No rosto de cada um deles, havia um misto de confusão e
alívio.
Por esse tempo, outros jovens que estavam prostrados ao chão, “falando em línguas”
e com o corpo a tremer, finalmente se acalmaram e, um por um, começaram a falar.
Alguns deles cantaram. Outros descreveram cenas celestiais com elaboradas descrições
gestuais. Eles permaneceram caídos ao chão, olhos fechados, em transe. Havia profecias
acerca de acontecimentos mundiais iminentes (isso particularmente me deixou
espantado, pois estávamos interessados apenas num avivamento para nossa
comunidade). Eram proferidas palavras de exortação e recitadas passagens das
Escrituras. Assim que cada um concluía sua mensagem, invariavelmente dizia: “É meu
corpo que você vê, é minha voz que você ouve, mas isto vem de Deus”. Uma palavra de
cada vez.
GERALD DERSTINE
FOLLOWING THE FIRE [SEGUINDO O FOGO]
Menonitas carismáticos
Quatro séculos mais tarde, como todos os outros cristãos, os menonitas
foram profundamente afetados pelos movimentos pentecostal e carismático.
Em seu livro My Personal Pentecost [Meu Pentecoste pessoal], o líder
carismático menonita Roy Koch descreve três fases da reação da Igreja
Menonita ao pentecostalismo: “abominação (antes da década de 1950);
tolerância (década de 1960); e propagação (década de 1970)”. No primeiro
estágio, os menonitas externavam sua oposição ao movimento pentecostal.
Apesar de os menonitas do Oregon terem emitido em 1906 uma declaração
conclamando a uma nova abertura ao batismo no Espírito Santo, a maioria
dos menonitas juntou-se a outros cristãos para condenar os pentecostais.
Não obstante essa atitude, muitos menonitas vivenciaram a experiência
pentecostal durante aqueles anos, mas preferiram mantê-la em segredo.[Nota
28]
A experiência do bispo Nelson Litwiller foi típica de muitos de sua igreja.
Trabalhando como missionário na América Latina nas décadas de 1920 e
1930, ele teve suas convicções abaladas pelo estilo e pelas crenças dos
pentecostais que conheceu na Argentina. “Eles afirmavam que possuíam
poder, e nós, não”, ele conta. Litwiller também ficou impressionado pela
assombrosa multiplicação dos pentecostais, em comparação com o
crescimento mais vagaroso de outras igrejas evangelicais.
A rejeição a Derstine por parte dos líderes da igreja de Strawberry Lake
também representava a reação da maioria dos menonitas durante aquele
período. Contudo, nas décadas de 1960 e 1970, milhares de menonitas
receberam o batismo no Espírito Santo. Eles foram mais influenciados pelo
generalizado despertamento carismático nas denominações históricas que
pela experiência de Derstine. A história de Litwiller é um caso à parte. Ele
passou a aceitar o batismo no Espírito Santo por causa de alguns católicos
romanos de South Band, Indiana, cheios do Espírito. Por influência de Kevin
Ranaghan e outros, o venerável bispo e missionário foi transformado pelo
Espírito Santo e tornou-se um líder nacional do movimento.
Outros importantes líderes menonitas varridos pelo movimento foram: Roy
Koch, o bispo Elam Glick, Herb Minnich, Terry Miller, Allen Yoder, Dan
Yutzy, George Brunk, Fred Augsburger e Harold Gingerich. Nessa fase de
tolerância da década de 1960, a Igreja Menonita aceitava a ortodoxia e a
legitimidade do ministério dos líderes carismáticos que primavam por
expressar inflexível lealdade à denominação, não obstante a experiência
pentecostal.
A fase de tolerância não tardou a levar os menonitas ao terceiro estágio de
Koch, o da propagação, isto é, da promoção agressiva do movimento
carismático dentro da denominação, com clara mas cautelosa aprovação dos
líderes eclesiásticos. Esse período, iniciado na década de 1970, caracterizou-
se pelos esforços organizados para levar a renovação carismática às igrejas
menonitas.
Em 1971, um relatório foi aprovado pela Conferência de Lancaster, uma
das maiores e mais tradicionais reuniões regionais do país. O relatório
convocava à aceitação da “desimpedida manifestação da presença do Espírito
por meio de uma vibrante expressão de louvor e da intrépida proclamação das
boas-novas acerca das poderosas obras de Deus que estão acontecendo em
nossos dias”. O relatório motivou o principal estudo sobre o Espírito Santo e
dons espirituais já realizado pela Igreja Metodista norte-americana. O
documento, que foi aprovado pela assembleia geral realizada em julho de
1977, reconhecia os poderes e as fraquezas potenciais do movimento
carismático dentro da igreja, considerando-se que os poderes predominavam
sobre as fraquezas.[Nota 29] Entre os poderes, eram mencionados: “liberação
de dons espirituais e de poder; ministério evangelístico poderoso e eficaz;
grande unidade e amor entre irmãos; novas formas de comunidade e de vida
na igreja local; milagres de cura; apoio eficaz e bem-sucedido a muitos
jovens que de outra forma estariam perdidos para Deus e para a igreja; a
redescoberta do dom de línguas; a palavra de conhecimento e outros dons
espirituais; o compromisso de trabalhar nas igrejas existentes mais que de se
separar delas; um grande amor por Jesus Cristo, nosso Senhor, e por sua
Igreja, na condição de seu Corpo”. Entre as fraquezas potenciais,
mencionava-se a possibilidade de “arrogância religiosa” e “uso descuidado
das Escrituras”.
Vivendo esse novo clima de aceitação, os menonitas carismáticos
organizaram grupos de trabalho para a realização de conferências de
renovação nos Estados Unidos e no Canadá. Embora um conselho de líderes
carismáticos tivesse sido formado em 1972, o braço mais poderoso do
movimento de renovação se manifestou em 1975.
Serviços da Renovação
Menonita A instituição Serviços da Renovação Menonita surgiu como
resultado de algumas cartas enviadas por Kevin Ranaghan a Litwiller e a
Harold Bauman, convidando os menonitas a participar de uma grande
conferência ecumênica em Kansas City, que seria realizada em 1977.
Litwiller convidou então um grupo de líderes menonitas carismáticos para
uma reunião em Youngstown, Ohio, a fim de avaliar o convite. A instituição
Serviços da Renovação Menonita nasceu nessa reunião. Entre seus
fundadores, estavam Nelson Litwiller, Dan Yutzy, Harold Bauman, Roy
Koch, Herbert Minnich e Fred Augsburger.
Desde aquela época até 1996, a organização foi o braço forte dos
carismáticos na Igreja Menonita.[Nota 30]
A partir de 1977, quando menonitas e batistas se reuniram na Conferência
Carismática de Kansas City, os menonitas passaram a desempenhar um papel
de liderança no movimento carismático em geral nos Estados Unidos.
Quando o bispo Nelson Litwiller morreu, aos 88 anos de idade, em 1986, era
um respeitado ancião e conselheiro de muitos jovens líderes de várias
denominações.
Entre os parceiros mais próximos dos menonitas, estavam os carismáticos
de várias vertentes da Igreja dos Irmãos. A organização Serviços da
Renovação dos Irmãos exercia um trabalho paralelo ao dos menonitas.
Durante alguns poucos anos, seus ministros eram identificados pelo nome
Ministérios Autorizados. A revista Empowered [Autorizada] trazia as
novidades sobre ambos os movimentos, que muitas vezes realizavam
conferências em parceria.
O crescimento da renovação carismática entre os menonitas foi
espetacular. Por volta de 2000, estimava-se que 20% de todos os clérigos e
leigos menonitas dos Estados Unidos e Canadá já haviam recebido o batismo
no Espírito Santo. Em algumas conferências, 35% das igrejas tinham
participação ativa na renovação. Muitos menonitas concordavam com John
Howard Yoder em que o pentecostalismo “é em nosso século o mais análogo
ao anabatismo do século XVI”.[Nota 31]
Ao longo das décadas de 1980 e 1990, algumas igrejas locais menonitas
experimentaram crescimento extraordinário graças ao poder do Espírito
Santo. O crescimento mais notável verificado numa igreja da comunidade
menonita em tempos recentes foi o da Igreja Menonita de Hopewell, na
Pensilvânia. Essa congregação, liderada pelo pastor carismático Merle
Stoltzfus, cresceu de 50 para 2 mil membros em poucos anos.
Em retrospecto, pode-se dizer que as experiências dos jovens estudantes da
escola bíblica de férias de Strawberry Lake não constituíram uma aberração
temporária, mas houve uma continuidade intrínseca à fé e à prática da Igreja
Menonita. Por enquanto, a renovação entre os menonitas continua sendo uma
das maiores histórias de sucesso do movimento carismático.
Um sinal da aceitação dos carismáticos foi o fato de a Igreja Menonita, em
1977, “restaurar” oficialmente Gerald Derstine como ministro aprovado,
encerrando seus vinte e dois anos de silêncio na igreja. O trabalho de
Derstine não foi em vão. Hoje, quase todos os missionários menonitas do
mundo já receberam o batismo no Espírito Santo, e os campos missionários a
que pertencem são caracterizados por um poderoso trabalho de
evangelização.[Nota 32]
A renovação ortodoxa
A Igreja Ortodoxa Oriental constitui a terceira maior família de cristãos do
mundo, somando em 2000 cerca de 175 milhões de membros por todo o
Planeta. Mais de 60 milhões desses cristãos são membros da Igreja Ortodoxa
Russa. Na Grécia, quase 9 milhões de pessoas abraçam a fé ortodoxa,
abrangendo 98,1% da população. Milhões de outros ortodoxos vivem em
países da Europa Oriental e do Oriente Médio dominados pelo Islã. Há
séculos, a Igreja Ortodoxa tem-se caracterizado como mártir, com milhões de
fiéis assassinados por professarem a fé em Cristo (calcula-se que mais de 30
milhões de cristãos ortodoxos foram martirizados de 1917 a 1953, somente
na Rússia). Eles conservaram a fé em Jesus quando seu país se tornou uma
terra estrangeira para eles.
Na América, a Igreja Ortodoxa conta cerca de 5 milhões de membros.
Eles estão distribuídos em diversas jurisdições: grega, russa, antioquen-se,
ucraniana e várias outras. Em 1965, a Igreja Ortodoxa nos Estados Unidos foi
formada como entidade de governo próprio, com a bênção dos bispos russos.
Ela reúne agora cerca de 1 milhão de membros de fala inglesa. A Igreja
Ortodoxa nos Estados Unidos está abandonando rapidamente a condição de
igreja imigrante para ocupar um lugar de destaque na vida religiosa do país.
A Igreja Ortodoxa sempre afirmou ser carismática em sua adoração e na
piedade. Em nenhum momento de sua história, ela adotou a teoria da
cessação dos dons do Espírito Santo. Sinais e maravilhas, profecias, cura
divina e milagres são tradicionalmente aceitos como parte da herança da
igreja.[Nota 33]
Não obstante essa tradição, entre os principais grupos cristãos do mundo os
ortodoxos foram os menos afetados pelo movimento carismático das últimas
décadas. Mesmo assim, contrariamente à resistência de muitos líderes
eclesiásticos, um bom número de sacerdotes e leigos tenta com persistência
plantar as sementes da renovação entre os ortodoxos.
Eusebius A. Stephanou
Um dos primeiros líderes da renovação carismática na Igreja Ortodoxa foi
Eusebius A. Stephanou, de Fort Wayne, Indiana. Sacerdote celibatário
descendente de uma longa linhagem de clérigos ortodoxos, Stephanou,
apresentava credenciais impressionantes em sua função de líder carismático.
Educado na Universidade de Michigan, na Escola de Teologia Santa Cruz e
no Seminário Geral Episcopal, em Nova York, obteve ali diversas
graduações, entre elas um doutorado em teologia. Ele foi professor de
teologia e subdeão da Escola de Teologia Santa Cruz e mais tarde assumiu o
cargo de professor na Universidade de Notre Dame.[Nota 34]
Em 1968, sentindo a necessidade de “alinhar a Igreja Ortodoxa com o
evangelho de Cristo”, Stephanou publicou uma revista intitulada Logos.
Sua meta era a “reevangelização de nosso povo”. As críticas de Stephanou
à hierarquia da Igreja Ortodoxa, no entanto, logo lhe criaram problemas.
Ele foi suspenso por seis meses do sacerdócio “por enfraquecer a
autoridade da igreja”. Nos anos seguintes, sua revista e seus insistentes apelos
por uma reforma provaram ser uma fonte de controvérsias no âmbito da
Igreja Ortodoxa.
Em 1972, Stephanou conheceu outro sacerdote ortodoxo, Athanasius
Emmert, de Huntington, Virgínia Ocidental, que lhe falou do poder
transformador do Espírito Santo. Emmert impôs as mãos sobre Stephanou e
orou pela “liberação” do Espírito Santo (os cristãos ortodoxos oram pedindo
para ser cheios do Espírito Santo quando são batizados — em geral quando
crianças — e consideram a experiência carismática uma liberação de dons já
recebidos). Stephanou ficou cheio do poder de Deus, começou a falar em
línguas e por causa disso transformou a revista Logos num instrumento a
serviço da renovação carismática na Igreja Ortodoxa.[Nota 35]
A FCC/UCC
A Comunhão dos Cristãos Carismáticos da Igreja de Cristo Unida (sigla
em inglês: FCC/UCC) é a principal força no intento de consolidar a
renovação carismática no âmbito da denominação. O grupo foi implantado no
final da década de 1970, sob a liderança de J. Ray Thompson, pastor da
congregação da Igreja de Cristo Unida em Reno, Nevada. Thompson foi
batizado no Espírito Santo em 1972 e falou em línguas. Depois da
experiência pentecostal, ele ficou ansioso por encontrar outros carismáticos
na igreja com quem pudesse comungar. A oportunidade surgiu em 1977,
quando a Conferência Carismática de Kansas City reuniu mais de 50 mil
cristãos de quase todas as denominações.[Nota 37]
Por sugestão de Reuben Sheares II, líder denominacional, Thompson
colocou um anúncio num periódico da igreja pedindo que os membros
carismáticos se identificassem. Cerca de 40 pessoas responderam, e então ele
lhes enviou um boletim sugerindo que os interessados em participar da
conferência de Kansas City formassem um grupo na igreja. Como resultado,
73 pessoas se reuniram em Kansas City em 22 de julho de 1977 e
implantaram a FCC/UCC. Uma comissão temporária, composta por 12
membros, foi designada para auxiliar Thompson, que fora eleito presidente.
O propósito da organização era ministrar aos carismáticos que viviam
isolados na igreja, estabelecer uma voz dentro da denominação e consolidar o
testemunho do movimento do Espírito Santo na Igreja de Cristo Unida.
O pequeno e determinado grupo deixou Kansas City disposto a levar a
renovação para a igreja por meio do poder e dos dons do Espírito Santo.
Em 1978, representantes da FCC/UCC reuniram-se com Avery Post,
presidente da Igreja de Cristo Unida, para discutir os métodos e propósitos da
comunhão. Dali em diante, os carismáticos passaram a ser reconhecidos
como uma força da renovação no âmbito da Igreja de Cristo Unida. A
natureza liberal da denominação facilitou a aceitação dos carismáticos, uma
vez que ela costumava proporcionar a mesma abertura para muitas outras
causas, algumas das quais caracterizadas por extremo liberalismo.
A FCC/UCC é ainda hoje uma organização ativa que patrocina diversos
programas voltados para a renovação na igreja, entre eles as conferências
Acts Alive [Atos vivo] — grupos que realizam eventos de fim de semana nas
igrejas locais, nos quais se enfatizam os testemunhos de leigos, o batismo no
Espírito Santo e os dons espirituais. Um segundo programa, o Ecclesia,
promove cultos de avivamento nas congregações com ênfase na vida da
igreja. Outro programa são os acampamentos Filhos do Rei, que conduzem
centenas de jovens ao Senhor todos os verões.
Vernon stoop. Desde 1979, quando foi reestruturada, a FCC/UCC á teve
diversos líderes, entre eles David Emmons, Robert Welsh e Robert Weeden.
O diretor de serviços é Vernon Stoop, pastor da Igreja de Cristo Unida Pastor
das Colinas, em Bechtelsville, na Pensilvânia. Stoop é também editor do
Focus Newsletter [Informativo Foco], um periódico que funciona como
agente de informações acerca do movimento. Além dessas responsabilidades,
Stoop é secretário do Comitê de Assuntos Carismáticos e do Comitê Norte-
Americano de Serviços da Renovação, o qual planejou os congressos de
Nova Orleans sobre Espírito Santo e evangelização mundial. Desde então,
Stoop desempenha ainda um papel importantíssimo no Comitê Norte-
Americano de Serviços da Renovação, no planejamento de congressos em
Indianápolis (1990), Orlando (1995) e St. Louis (2000).
Seguindo adiante
Em tempos recentes, o método mais eficaz tem sido o fomento da
renovação carismática em congregações antigas de uma maneira que
promova a unidade e evite divisões. A Igreja de Cristo Unida Pastor das
Colinas, em Bechtelsville, é um exemplo desse método. Essa congregação,
com 150 nos de idade, é liderada pelo pastor sênior Vernon Stoop há mais de
quatro décadas. Sua meta é “promover o casamento da congregação
tradicional e não carismática com os elementos carismáticos que surjam
dentro dela sem dividir a igreja”. Até aqui, o método tem-se provado eficiente
na congregação Pastor das Colinas.
Os carismáticos wesleyanos
Durante décadas, os termos “wesleyano” e “carismático” foram vistos
como mutuamente excludentes. Nenhum ramo eclesiástico se mostrou mais
avesso aos dons do Espírito, especialmente no que concerne às línguas, que
os grupos holiness históricos, como a Igreja do Nazareno, a Igreja Wesleyana
e a Igreja de Deus (Anderson, Indiana). Na melhor das hipóteses, as línguas
eram vistas com suspeita, e na pior, tachadas de demoníacas.
Essa situação é notável diante do fato de que o movimento pentecostal,
tanto na América quanto ao redor do mundo, teve origem entre os holiness
wesleyanos. Na verdade, os primeiros pentecostais sustentavam a crença
básica na santificação como segunda obra da graça e se consideravam
integrantes do movimento de santidade. A única diferença era o acréscimo de
uma “terceira bênção” — o batismo no Espírito Santo com a evidência inicial
do falar em línguas.[Nota 38]
Com a organização das Assembleias de Deus em 1914, muitos pentecostais
se desligaram dos wesleyanos, mas cerca de 50% dos pentecostais dos
Estados Unidos nos dias de hoje ainda estão intimamente ligados à teologia
arminiana-wesleyana. Existe o consenso de que os pentecostais clássicos e os
crentes identificados com o movimento de santidade têm um ancestral
comum e que ambos os movimentos apresentam mais pontos comuns que
diferenças quando comparados um com o outro.
Nota 1 - Uma antiga biografia-padrão de Wesley é Robert Southey, The Life of John
Wesley (London: Longmans Hurst and Company, 1820), 2 v. Uma edição recente
de seu diário, cartas e sermões é Thomas Jackson (Org.), The Works of John
Wesley (Grand Rapids: Zondervan, 1959), 14 v. [Voltar]
Nota 2 - Cf. John Leland Peters, Christian Perfection and American Methodism (New
York: Abingdon, 1956), p. 19-20; Vinson Synan, The Holiness-Pentecostal
Tradition: Charismatic Movements in the Twentieth Century (Grand Rapids:
Eerdmans, 1997), p. 1-21. [Voltar]
Nota 3 - A história definitiva do metodismo nos Estados Unidos pode ser apreciada em
Emory Stevens Bucke et al., History of American Methodism (Nashville:
Abingdon, 1964), 3 v. [Voltar]
Nota 4 - Timothy Smith, Revivalism and Social Reform (New York: Abingdon, 1957), p.
123. [Voltar]
Nota 5 - Delbert Rose, A Theology of Christian Experience (Minneapolis: Bethany
Fellowship, Inc., 1965), p. 23-78; Charles Edwin Jones, Perfectionist Persuasion
(Metuchen: Scarecrow Press, 1974), p. 16-21. [Voltar]
Nota 6 - Donald Dayton, From Christian Perfection to the Baptism of the Holy Spirit, in:
Vinson Synan, Aspects of Pentecostal-Charismatic Origins (Plainfield: Logos
International, 1975), p. 39-54. Esse tema é tratado num importante livro: Donald
Dayton, Theological Roots of Pentecostalism (Grand Rapids: Francis Asbury
Press, 1987). [Voltar]
Nota 7 - V. Interview with Tommy Tyson, Evangelist, Your Church, nov.-dez. 1973, p. 10-
28. [Voltar]
Nota 8 - Para conhecer a história da Universidade Oral Roberts, v. David Edwin Harrell Jr.,
Oral Roberts: An American Life (Bloomington: Indiana University Press, 1985),
p. 207-52. [Voltar]
Nota 9 - David Edwin Harrell Jr., Oral Roberts: An American Life, p. 287-311. [Voltar]
Nota 10 - Ross Whetstone, entrevista concedida ao autor, Oklahoma City, 25 set. 1986.
[Voltar]
Nota 11 - Where Have We Been and Where Are We Going?, Manna Ministries (UMRSF),
Notes, jun. 1985, p. 1-2. [Voltar]
Nota 12 - Kilian McDonnell, Presence, Power, Praise: Documents on the Charismatic
Renewal (Collegeville/New York: Paulist Press, 1980), p. 270-90, [Voltar]
Nota 13 - Ross Whetstone, entrevista e carta enviada ao autor. [Voltar]
Nota 14 - John Osteen, entrevista concedida ao autor, Tulsa, 24 jun. 1986. [Voltar]
Nota 15 - The New Directory for Baptist Churches (Philadelphia: Judson Press, 1984), p.
354-63, 536-7. [Voltar]
Nota 16 - Vinson Synan, The Holiness-Pentecostal Tradition: Charismatic Movements in
the Twentieth Century, p. 114-23. [Voltar]
Nota 17 - But What About Hicks?, Christian Century, 7 jul. 1954, p. 814-5; Vinson Synan,
In the Latter Days (Altamonte Springs: Creation House, 1991), p. 25. [Voltar]
Nota 18 - David Manuel, Like a Mighty River: A Personal Account of the Conference of
1977 (Orleans: Rock Harbor Press, 1977), p. 117. [Voltar]
Nota 19 - Gary Clark & Charles Moore, entrevista concedida ao autor, Green Lake, 9 jul.
1986; Gary Clark, An Extra Dimension, Christian Life, ago. 1985, p. 36-9.
[Voltar]
Nota 20 - W. LeRoy Martin, entrevista concedida ao autor, Tulsa, 7 jun. 1986. [Voltar]
Nota 21 - Don Le Master, entrevista concedida ao autor, Fort Lauderdale, 23 ago. 1986.
[Voltar]
Nota 22 - Ras Robinson, Who Are You Who Read Fullness?, Fullness, jul.-ago. 1986, p. 4.
[Voltar]
Nota 23 - W. LeRoy Martin, entrevista concedida ao autor. [Voltar]
Nota 24 - Kenneth Kantzer, The Charismatics Among Us, Christianity Today, 22 fev.
1980, p. 25-9. [Voltar]
Nota 25 - V. a biografia de Derstine em Joanne Derstine, Following the Fire (Plainfield:
Logos International, 1980). [Voltar]
Nota 26 - Cf. Champion of the Faith, Henry M. Brunk, 1895-1985 (Bradenton: Christian
Retreat, 1985), p. 6. [Voltar]
Nota 27 - Terry Miller, Renewing the Anabaptist Vision, Empowered, outono 1984, p. 8-9.
[Voltar]
Nota 28 - Roy Koch, My Personal Pentecost (Scottsdale: Herald Press, 1977), p. 15-35.
[Voltar]
Nota 29 - Kilian McDonnell, Presence, Power, Praise: Documents on the Charismatic
Renewal, p. 285-7. [Voltar]
Nota 30 - Roy Koch, entrevista concedida ao autor, Charlotte, 16 jan. 1986; Mennonite
Renewal Services Formed, Mennonite Renewal Newsletter, fev. 1976, p. 1.
[Voltar]
Nota 31 - Terry Miller, Renewing the Anabaptist Vision, p. 9. [Voltar]
Nota 32 - Gerald Derstine, entrevista concedida ao autor. [Voltar]
Nota 33 - Athanasius F. S. Emmert, Charismatic Developments in the Eastern Orthodox
Church, in: Russell Spittler, Perspectives on the New Pentecostalism (Grand
Rapids: Baker, 1976), p. 28-42. [Voltar]
Nota 34 - Ed Plowman, Mission in Orthodoxy: The Full Gospel, Christianity Today, 26
abr. 1974, p. 44-5; Eusebius Stephanou, Charismatic Renewal in the Orthodox
Church (Fort Wayne: Logos Ministries for Orthodox Renewal, 1976). [Voltar]
Nota 35 - William Hollar, The Charismatic Renewal in the Eastern Orthodox Church in the
United States of America with Emphasis on the Logos Ministry for Orthodox
Renewal (dissertação de mestrado, Fort Wayne: Concordia Theological
Seminary). [Voltar]
Nota 36 - George Allen, The United Church of Christ: A Pluralistic Church or a Liberal
One, Focus Newsletter, ago. 1982, p. 7-8. [Voltar]
Nota 37 - Robert K. Arakaki, The Holy Spirit and the United Church of Christ, Focus
Newsletter, mai. 1983, p. 1-4. V. Vernon Stoop, Fellowship of Charismatic
Christians in the United Church of Christ (Sassamansville: edição do autor, s.d.).
[Voltar]
Nota 38 - Para conhecer a história da interação entre holiness e pentecostais, v. Vinson
Synan, The Holiness-Pentecostal Tradition: Charismatic Movements in the
Twentieth Century, p. 1-106. [Voltar]
Nota 39 - Timothy Smith, Called Unto Holiness (Kansas City: Nazarene Publishing House,
1962), p. 118; Alma White, Demons and Tongues (Bound Brook: Pentecostal
Union, 1910); Charles Edwin Jones, Perfectionist Persuasion, p. 121, 173.
[Voltar]
Nota 40 - John L. Peters, entrevista concedida ao autor, Oklahoma City, 10 dez. 1986.
[Voltar]
Nota 41 - Warren Black, entrevista concedida ao autor, Cincinnati, 29 set. 1986. V. tb.
Warren Black, A New Dimension, in: The Acts of the Holy Spirit Among the
Nazarenes Today (Los Angeles: Full Gospel Business Men, 1973), p. 23-9.
[Voltar]
Nota 42 - V. Journal of the Nineteenth General Assembly of the Church of the Nazarene, p.
240; Kilian McDonnell, Presence, Power, Praise: Documents on the Charismatic
Renewal, p. 220-1. [Voltar]
Nota 43 - V. Evidence of the Baptism with the Holy Spirit, in: Manual 1985 Church of the
Nazarene (Kansas City: Nazarene Publishing House, 1985), p. 284. [Voltar]
Nota 44 - V. Report: Study Committee on Glossolalia (apresentado na Assembleia Geral da
Igreja de Deus, 18 jun. 1986); Paul Tanner, entrevista concedida ao autor,
Oklahoma City, 21 jul. 1986. [Voltar]
Nota 45 - V. Acts of the Holy Spirit Among the Nazarenes Today, p. 9-72. [Voltar]
Nota 46 - V. Wesleyan Holiness Charismatic Fellowship Newsletter (Athens: s.d.); Wilbur
Jackson, entrevista concedida ao autor. [Voltar]
Nota 47 - The Divided Flame: Wesleyans and the Charismatic Renewal (Grand Rapids:
Francis Asbury Press, 1986). [Voltar]
∗9 ∗
A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA
peter Hocken
Outro estudante, David Mangan, relata o que aconteceu quando ele entrou
na sala:
Chorei alto como nunca havia chorado, mas não derramei uma
lágrima. De repente, Jesus Cristo era tão real para mim e tão presente ali
que eu podia senti-lo em toda parte. Eu estava dominado por um
sentimento tal de amor que não consigo explicar.[Nota 2]
erta noite, numa reunião de oração, sentei-me perto de David Mangan, que já havia
C recebido o dom de línguas. Eu estava espantado de ouvir David orar num belo e
fluente francês. As palavras soavam como a letra de um salmo de louvor à benignidade
do Filho de Deus, exaltando as correntes de água viva. A cadência de seu francês era
diferente, mas a pronúncia era perfeita. Depois da reunião, perguntei a David se ele
sabia que havia falado francês. Ele disse que não. Eu estava impressionada com a
autenticidade de seu dom carismático. Para mim, era um sinal de que Deus estava
operando.
Logo comecei a ter o desejo de louvar mais a Deus, de exaltar sua bondade muito
mais do que minha limitada capacidade permitia. Paulo aconselha: “Busquem com
dedicação os dons espirituais” (1Coríntios 14.1). Pedi a Deus o dom de línguas, mas não
percebi que eu precisava mover meus lábios e usar minha voz para que as línguas
fossem produzidas. Eu pensava que a linguagem da oração abriria caminho se eu
aguardasse em silêncio o tempo suficiente.
Em 13 de março de 1967, quando acordei, estava nervosa por causa de um som baixo
que saía de minha garganta. Eu tinha esperança de que fosse o dom de línguas, mas
tinha medo de que ele “se apossasse de mim” no meio da aula. Então, fugi da aula e fui
para capela da universidade, dirigindo-me ao oratório, um de nossos lugares favoritos de
oração naqueles dias. Eu estava determinada a ficar ali o tempo que fosse necessário até
falar em línguas. Então, ajoelhei-me e abri a boca... esperando.
O som ficou mais alto. Minha boca iniciou um movimento, e comecei como que a
grunhir. “Oh, não!”, pensei. “Não me diga que o Senhor está me dando uma língua feia
e gutural, depois de eu me formar em francês por causa da beleza do idioma!”.
No entanto, aquele som foi desaparecendo até que finalmente comecei a cantar em
línguas, uma adorável canção que fluía das profundezas de meu ser. Era um belo
idioma, diferente da língua em que oro agora. Embora eu não reconhecesse as palavras,
em meu coração eu sabia que estava cantando o Magnificat — foi a letra que o Senhor
me deu na noite em que fui batizada no Espírito Santo:
EDWARD O’CONNOR
NEW COVENANT [NOVA ALIANÇA]
Características da Renovação Carismática Católica
Os elementos carismáticos da RCC eram os mesmos presentes entre os
protestantes: a experiência básica do batismo no Espírito Santo, a
manifestação e o exercício dos dons espirituais de 1Coríntios 12.8-10, o
louvor exuberante, a exaltação a Cristo como o Rei que vive, a
evangelização, testemunhos e a atenção à voz do Senhor. No contexto
católico, porém, havia significativas diferenças na forma, no estilo e no
tempo de celebração.
omos para a casa de Ray na semana seguinte e nos reunimos no porão com 11
F inistros pentecostais e suas esposas, todos vindos de Indiana. Eles passaram a noite
tentando nos convencer de que, se você é batizado no Espírito Santo, tem de falar em
línguas. Nós os fizemos saber que éramos receptivos à oração em línguas, porém
mantivemos firme nossa convicção de que já havíamos sido batizados no Espírito Santo
porque podíamos senti-lo em nossa vida. A questão foi decidida porque estávamos
dispostos a falar em línguas se isso não fosse visto como uma exigência teológica para o
recebimento do batismo no Espírito Santo. Dissemos que, até certo ponto,
concordávamos em fazer uma tentativa, e um dos ministros nos explicou o que estava
envolvido naquele ato. Já bem tarde, talvez por volta da meia-noite, lá naquele porão, os
irmãos nos colocaram em linha num dos lados da sala e ficaram ministrando
posicionados no lado oposto. Eles começaram a orar em línguas e caminharam em nossa
direção com as mãos levantadas. Antes de chegarem aonde estávamos, muitos de nós já
havíamos começado a orar e a cantar em línguas.
Depois de orarem em línguas por algum tempo, contou Ghezzi, os amigos
pentecostais dos estudantes lhes perguntaram quando eles deixariam a Igreja Católica e
se uniriam a uma igreja pentecostal.
A pergunta nos deixou um pouco chocados. Nossa resposta foi que não precisávamos
deixar a Igreja Católica, que ser batizado com o Espírito Santo era perfeitamente
compatível com nossa crença no catolicismo. Garantimos a nossos amigos que tínhamos
grande respeito por eles e que conservaríamos nossa comunhão, mas que também
permaneceríamos na Igreja Católica.
Nossos amigos pentecostais tinham visto alguns católicos se unir a igrejas
pentecostais depois de receber o batismo no Espírito Santo. Foi por não fazermos a
mesma coisa que a Renovação Carismática Católica se tornou possível.
BERTH GHEZZI
IN THE LATTER DAYS [NOS ÚLTIMOS DIAS]
Fases do movimento
Sem dúvida, a RCC experimentou extraordinário crescimento, mas
também conheceu notável declínio em alguns países, principalmente nos
Estados Unidos, no Canadá e na Irlanda. Essa situação desencadeou muitas
novas iniciativas, mais notadamente a partir das raízes do movimento.
Embora seja difícil dividir seus mais de trinta anos de história em períodos
bem definidos, ainda mais se considerarmos que o movimento é um
fenômeno mundial, é possível identificar certas fases que nos ajudam a
entender como ele evoluiu.
1970-190. Foi um período de rápido crescimento nos Estados Unidos,
marcado pelas conferências internacionais realizadas anualmente, a maior
parte delas em Notre Dame, sempre atraindo grandes multidões, mais até do
que se viu na gigantesca conferência intereclesiástica de Kansas City,
realizada em 1977. Houve crescimento paralelo nas conferências regionais,
sendo a maior a de Atlantic City, Nova Jersey. Também eram concorridas as
conferências do sul da Califórnia. De muitas maneiras, as conferências da
RCC constituíam um espetáculo assombroso, tanto para os católicos quanto
para os protestantes. Vinson Synan registra seu deslumbramento diante de 10
mil católicos carismáticos que louvavam o Senhor e davam testemunho de
sua experiência com o Espírito Santo. De mãos levantadas, ele chorou
quando os viu “cantar nossos hinos” e “exercitar nossos dons”.[Nota 8]
Nesse período, ocorreu também a implantação da RCC em outros países de
língua inglesa (Inglaterra, 1970-1971; Austrália, 1970; Nova Zelândia, 1971),
bem como na Europa Ocidental (França, 1971-1972; Bélgica, 1972;
Alemanha, 1972; Itália, 1973; Espanha, 1973-1974; Portugal, 1974). No
Leste Europeu aprisionado nas garras do comunismo ateísta, os movimentos
espontâneos de fé eram proibidos, por isso o único país cujas raízes da RCC
remontam a esse período é a Polônia (1976-1977). As origens da RCC na
América Latina concentram-se no período de 1970 a 1974. Outras nações que
conheceram a RCC na década de 1970 foram a Coreia (1971) e a Índia
(1972).
Muitas das principais comunidades carismáticas foram implantadas nesse
período. Três países particularmente viram florescer novas e importantes
comunidades: Estados Unidos, França e Austrália. As comunidades norte-
americanas e australianas, em sua maioria, tentavam firmar-se como
ecumênicas, respeitando a fidelidade denominacional de seus membros,
embora quase todos fossem católicos. Nas comunidades francesas, somente a
Novo Caminho pode ser considerada ecumênica, na intenção e na prática.
As mais influentes comunidades eram: Palavra de Deus, Ann Arbor,
Michigan; Povo do Louvor, South Bend, Indiana; Aleluia, Augusta, Geórgia;
Emanuel, Brisbane, Austrália; Emanuel, Paris, França; Novo Caminho, Lyon,
França; Leão de Judá (mais tarde renomeada Beatitudes), Cordes, França. As
comunidades não demoraram a se tornar agências de serviços e centros de
apoio da RCC, organizando as mais importantes conferências e publicando as
revistas mais conhecidas, como New Covenant [Nova aliança] (Estados
Unidos), Il Est Vivant! [Ele vive!] (França) e Feu et Lumière [Fogo e luz]
(França).
Nesse período inicial, o cruzamento entre católicos e protestantes começou
a dar frutos. Essa realidade era percebida na contribuição de mestres
protestantes (especialmente líderes não denominacionais, como Bob
Mumford e Charles Simpson) para revistas e conferências católicas, na venda
de literatura patrocinada por católicos e ainda na disseminação de novas
composições musicais. Essa contribuição é notória particularmente na revista
de circulação mensal Pastoral Renew [Renovação pastoral], voltada para
“pastores e líderes de todas as tradições cristãs” e lançada em Ann Arbor, no
início de 1976. O impulso para a unidade e o rápido crescimento atingiram o
ápice na conferência realizada em Kansas City, em julho de 1977, que
versava sobre a renovação carismática nas igrejas e reuniu mais de 50 mil
pessoas. O ponto alto talvez tenha sido o biênio 1977-1978, quando se
realizaram as conferências de Kansas City (1977) e a última reunião da Costa
Leste, em Atlantic City (1978).
Durante esse período, a RCC em outros países era bastante dependente do
material e da inspiração do movimento numericamente maior e mais
dinâmico, que era o dos Estados Unidos. Com exceção da França, onde as
novas comunidades tinham condições de providenciar fundamentos mais
sólidos, a RCC na década de 1970 era relativamente modesta.
190-1990. Em geral, a década de 1980 foi marcada por esforços
conscientes, da parte da RCC, de se integrar mais efetivamente à vida da
Igreja Católica Romana. Ao mesmo tempo que era celebrada e incentivada
pelos papas, havia o sentimento generalizado de que a RCC permanecia à
margem da vida da igreja. Desde o início, os líderes acreditavam que a RCC
tinha como propósito a renovação da igreja, e muitos ficaram frustrados
quando o movimento foi aparentemente relegado à categoria de admissível,
porém exótica espiritualidade.
Essa mudança de direção está representada na transferência, em 1981, do
Escritório de Comunicação Internacional de Bruxelas para Roma e da
mudança de seu nome para Escritório Internacional da Renovação
Carismática Católica. Nessa época, as estruturas diocesanas da renovação
estavam em desenvolvimento, quase sempre ligadas à representação do bispo
local, que muitas vezes assumia um papel de liderança. Essas mudanças
inevitavelmente representaram uma redução no ímpeto ecumênico da RCC.
Nesse período, também diminuiu a influência das comunidades de aliança,
muitas das quais enfrentaram suas piores crises na década de 1980.
As crises quase sempre giravam em torno do exercício da autoridade —
alguns bispos diocesanos expressavam sua preocupação acerca dos padrões
de autoridade, insistindo na liderança masculina — e da postura inadequada
da liderança com relação à prestação de contas.
A contenda muitas vezes se estendia à dimensão ecumênica, que se
mostrou mais complicada que o esperado, quando se tentou manter a firme
dedicação à unidade da igreja e ao mesmo tempo estabelecer compromisso
com uma comunidade missionária na qual as divisões eram comuns.
A comunidade Palavra de Deus, de Ann Arbor, foi pioneira num modelo
para comunhões denominacionais: uma aliança comunitária ecumênica que
reunia católicos, luteranos, reformados e grupos não denominacionais.
A presença de líderes de grupos eclesiásticos que não pertenciam à
liderança principal criou algumas dificuldades. Outra dificuldade nos arraiais
ecumênicos dizia respeito à formação e à identidade dos filhos cujos pais
estavam comprometidos com essas comunidades.
A crise com efeitos mais abrangentes se deu na comunidade Palavra de
Deus e em sua progênie, uma comunidade internacional conhecida como
Espada do Espírito. Com o crescimento das tensões internas, ocorreu uma
cisão na liderança, em 1990. Ralph Martin, que assumiu uma comunidade da
Palavra de Deus menor e de estrutura mais modesta, separou-se de Steve
Clark e de Bruce Yocum. Os dois deram continuidade à visão da comunidade
de aliança Espada do Espírito, formando uma nova comunidade na região de
Ann Arbor, chamada Comunidade de Aliança de Washtenaw.
Por causa da divisão, a revista New Covenant teve de ser vendida a um
editor católico, e a Pastoral Renew deixou de circular. O conflito em Ann
Arbor enfraqueceu consideravelmente o modelo de comunidade de aliança,
que exercera tanta influência nos primeiros anos da RCC.
Com a redução na influência das comunidades durante a década de 1980,
um peso maior de responsabilidade recaiu sobre os líderes diocesanos e
regionais. A troca ocorrida no Comitê Nacional de Serviço (sigla em inglês:
NSC), em que líderes de comunidades importantes foram substituídos por
líderes do movimento nas dioceses, alterou a natureza do movimento nos
Estados Unidos. De organização baseada em comunidades e orientada por
uma grande conferência nacional, a RCC transformou-se numa rede de
Comitês de Serviços Diocesanos, com cerca de 40 conferências espalhadas
pelos Estados.
Em 1984, o padre Ken Metz, de Milwaukee, tornou-se o primeiro
presidente do NSC (1984-1987). Entre os membros do NSC com a visão de
líderes diocesanos estavam o padre Sam Jacobs, a freira Nancy Kellar, David
Thorp e o padre Chris Aridas. Eles começaram a trabalhar para fortalecer a
renovação local, bem como o relacionamento na rede de grupos diocesanos
— dos grupos entre si e com o NSC.
Percebeu-se que a renovação era mais forte onde houvesse um Centro
Diocesano da Renovação, por isso o NSC logo tratou de promover reuniões
com esses centros, com vistas a fortalecer os que já existiam e a incentivar a
criação de novos centros. No final da década de 1980, havia cerca de 80
desses centros servindo à RCC em todas as regiões.
O clamor pelo treinamento de líderes por parte dos grupos locais foi
atendido pelo NSC, que criou o programa Timóteo Itinerante. Esse programa
consistia em enviar professores de Estado em Estado para dar formação às
lideranças locais. A demanda tornou-se tão grande que o NSC roduziu uma
série de estudos em fitas de vídeo sobre formação de líderes, as quais podiam
ser utilizadas não pelos católicos, mas também no âmbito episcopal do
movimento de renovação.
Outra mudança significativa na influência das comunidades sobre a
renovação católica nos Estados Unidos foi a transferência, na década de
1980, do escritório nacional de South Bend, Indiana, para a Virgínia, perto de
Washington, D.C. A mudança para perto de Washington, D.C. (onde outros
movimentos de renovação tinham escritórios) também refletia o desejo do
NSC de transferir as conferências nacionais para as várias dioceses dos
Estados Unidos, um esforço adicional para fortalecer os grupos locais de
renovação e proporcionar maior visibilidade dos líderes nacionais nesses
lugares.
Durante a década de 1980, a RCC cresceu com rapidez entre os grupos
étnicos — hispânicos, haitianos, coreanos e filipinos. Na época, os líderes
desses grupos se reuniam com o NSC, de língua inglesa, porém tinham
“canais” em seus respectivos idiomas na conferência nacional. No início da
década de 1990, eles já eram fortes o bastante para ter conferências e comitês
nacionais organizados por eles próprios.
Uma significativa confirmação do apoio do papa João Paulo II ao
movimento carismático nos Estados Unidos foi a nomeação a bispo
diocesano, em 1989, do padre Sam Jacobs, que assumira a presidência do
NSC m 1987. Havia na RCC outros bispos que eram ativos no movimento,
destacando-se entre eles Joseph McKinney. O bispo Sam, no entanto, foi o
primeiro sacerdote profundamente comprometido com a RCC a ser nomeado
bispo.
omo poderia essa “renovação espiritual” não ser uma “oportunidade” para a igreja e
C o mundo? Como, nesse caso, alguém poderia deixar de se valer de todos os meios
para conservá-la? É preciso renovar o mundo, dar-lhe outra vez uma espiritualidade,
uma alma, um pensamento religioso. É preciso tornar a abrir os lábios cerrados para a
oração e abrir a boca para cantar, regozijar-se, cantar hinos e testemunhar. Trata-se de
algo extraordinário para nossos tempos, para nossos irmãos, a fim de que haja uma
geração, sua geração de jovens, que proclame ao mundo as grandezas do Deus do
Pentecoste.
O movimento de santidade
Temas bíblicos. O movimento de santidade foi um empreendimento
iniciado entre os metodistas com o propósito de experimentar o dinamismo
espiritual da primeira geração do metodismo, que mais tarde se espalhou por
todas as denominações dos Estados Unidos. O movimento de santidade
trouxe à luz três importantes temas bíblicos que fortaleceram os direitos da
mulher e sua influência pública.
O fator Thistlethwaite-Parham
Os Parhams, Charles e Sarah, e a irmã de Sarah, Lillian, criaram uma
mistura singular, composta com base em diversas influências: holiness,
metodista, quacre, movimento missionário e movimento de cura. As irmãs
Thistlethwaites haviam tido a “experiência de conversão no já antiquado
‘banco dos aflitos’ ”, durante um trabalho evangelístico de verão realizado
por Charles Fox Parham, que na época era ainda um estudante (1889-1893)
na Faculdade Sudoeste. De 1893 a 1895, enquanto Parham pastoreava a
Igreja Metodista de Eudora, no Kansas, ele também dirigia reuniões em
Tonganoxie, nas manhãs de domingo. Ao que parece, Charles havia adotado
parte da ideologia dos Amigos, pois recusou a oportunidade de crescer dentro
do metodismo ao renunciar o pastorado, após muita reflexão, oração e jejum.
Em 1896, ele e Sarah, a quem afetuosamente chamava Nellie, casaram-se
numa cerimônia quacre, um rito baseado na mutualidade e igualdade.
Após um breve período de ministério evangelístico nos moldes do
movimento holiness, Charles, Sarah e Lillian implantaram a Casa Betel em
Topeka, em 1898. Ali, prestaram serviços sociais de atendimento aos
necessitados, cuidado com os doentes e moribundos, ensino bíblico e
publicação de um periódico bimestral: a revista Apostolic Faith. Ansioso pela
chegada do avivamento do Espírito Santo que culminaria na evangelização
do mundo, Charles inaugurou a Faculdade Bíblica Betel, na região limítrofe
de Topeka, e foi ali que o avivamento pentecostal do século XX começou, no
culto de vigília da véspera do ano-novo de 1901. Durante os cinco anos
seguintes, os pioneiros do movimento pentecostal eram todos discípulos de
Parham, direta ou indiretamente.
Mulheres da era Parham. Além das irmãs Thistlethwaites, muitas
mulheres dinâmicas ministraram e exerceram funções de liderança nos
primeiros anos do avivamento pentecostal (1901-1907). Agnes Ozman (1870-
1937), naturalmente, continuou seu ministério. Maude e Howard Stanley,
também presentes na reunião do derramamento do Espírito em Betel,
tornaram-se conhecidos nas Assembleias de Deus.[Nota 9]
Nas reuniões dirigidas por Parham em Lawrence, Kansas, em 1901, a
senhora Waldron recebeu o poder e a mensagem pentecostal. Foi
provavelmente a primeira pessoa a levar a mensagem pentecostal à igreja de
Dowie, em Zion City, Illinois. Embora a maioria da igreja de Zion City tenha
rejeitado a nova doutrina, houve quem demonstrasse profundo interesse por
ela, como John G. Lake. Sem dúvida, o trabalho da senhora Waldron lançou
os fundamentos para o marcante avivamento promovido por Parham na
cidade em 1906 e 1907. Como resultado desse avivamento, pelo menos 5 mil
consagrados obreiros, homens e mulheres cheios de ardor missionário e
revestidos com o poder do Espírito, levaram a obra avante, nos Estados
Unidos e no mundo. A vasta infusão dos pentecostais de Zion ainda nos anos
iniciais do avivamento garantiu a integração da doutrina da cura divina à
estrutura do pentecostalismo.
Gordon P. Gardiner, na excelente série de artigos “Out of Zion... into all
the World” [De Zion… para todo o mundo], publicada na revista Bread of
Life [Pão da vida], de outubro de 1981 a outubro de 1985, conta a história de
muitos pioneiros pentecostais de Zion. Martha Wing Robinson (1874-1938)
implantou a conceituada Casa da Fé de Zion. Marie Burgess Brown (1880-
1971), batizada no Espírito Santo na mesma ocasião que F.
F. Bosworth e John G. Lake, em 18 de outubro de 1906, num dos pontos
de reunião de Parham, em Zion City, implantou mais tarde o Tabernáculo
Alegres Novas, em Nova York. Em 1961, o tabernáculo pastoreado por ela
foi considerado “a igreja com maior orçamento missionário nas missionárias
Assembleias de Deus”.[Nota 10] Jean Campbell Hall Mason, batizada no
Espírito Santo em 18 de outubro de 1906, exerceu um poderoso ministério
por todo o Canadá e nos Estados Unidos até sua morte, em 1964. Berenice C.
Lee, batizada no Espírito Santo em 30 de outubro de 1906, foi para a Índia,
onde estabeleceu diversas igrejas locais e treinou centenas de líderes nativos.
A doutora Lillian B. Yeomans, médica canadense, foi missionária e escritora.
Suas obras são lidas até hoje, entre elas Healing from Heaven [Cura que vem
do céu] e Balm of Gileade [Bálsamo de Gileade]. A doutora Yeomans passou
os últimos anos de sua vida como professora na Escola Bíblica LIFE, de
Aimee Semple McPherson.
Antes de chegar a Zion City, porém, os Thistlethwaites-Parhams
promoveram cruzadas de cura divina no Estado de Nevada e em El Dorado
Springs, no Missouri, em 1903. Muita gente ouviu a mensagem, e muitos
foram salvos, curados e batizados no Espírito Santo. Sarah Parham escreveu:
“Nossa casa estava o tempo todo cheia de doentes e sofredores que vinham
em busca de cura, e Deus manifestava seu poder”.[Nota 11 ] Essas pessoas
devem ser contadas entre o crescente número de homens e mulheres que
contribuíram para espalhar o testemunho pentecostal pela terra. Nesse grupo,
estava Mary Arthur, de Galena, no Kansas.
Por influência de Mary Arthur, os Thistlethwaites-Parhams chegaram a
Galena em 1904 e promoveram o primeiro avivamento pentecostal em larga
escala dos tempos modernos. O avivamento alcançou todas as classes sociais
da região, e num período de três meses mais de 800 pessoas foram salvas,
500 tiveram a experiência de santificação e 250 receberam o batismo no
Espírito Santo. Houve centenas de curas. À parte desse influente avivamento,
Mary Arthur e Francene Dobson implantaram a primeira missão como
resultado direto da pregação pentecostal.[Nota 12]
Em 1905, os Parhams promoveram reuniões em Houston e nas vizinhanças
da cidade, bem como uma escola bíblica temporária em 1906. Os grupos de
obreiros que ministravam com os Parhams nessas cruzadas eram compostos
de homens e mulheres, sem distinção. Entre os colaboradores, não havia
segundo escalão nem subordinados. O nome de duas mulheres aparece com
muita frequência: Mabel Smith e Lucy Farrow. Ambas foram enviadas por
Parham, a pedido de William J. Seymour, para ajudar a obra na fase inicial do
avivamento da Rua Azusa. Mabel também trabalhou no avivamento de Zion
City, e seu nome aparece com regularidade nos primeiros relatórios
pentecostais.
Lucy Farrow merece menção especial. Nascida entre escravos na Virgínia,
ela trabalhava como pastora holiness em Houston na época em que Parham
chegou à cidade, em 1905. Ela desenvolveu um trabalho em estreita relação
com os Parhams. Foi governanta dos filhos deles e pregava e ministrava nas
reuniões.[Nota 13] Farrow foi apresentada a Parham e a Seymour nessa época e
incentivou Seymour a criar uma escola bíblica. Embora Seymour seja
universalmente aclamado como a figura mais proeminente do avivamento da
Rua Azusa (abril de 1906-1909), Emma “Mother” Cotton informa que
“ninguém experimentou o batismo pentecostal até Lucy chegar e começar a
orar para que o povo o recebesse”.[Nota 14]
Em agosto de 1906, ela pregou no acampamento de Charles Parham, em
Houston, e, de acordo com um dos participantes, demonstrou “poder
incomum ao impor as mãos sobre o povo para que recebesse o Espírito
Santo”.[Nota 15] Mais tarde, naquele mesmo mês, ela liderou um avivamento
pentecostal em Portsmouth, na Virgínia, no qual 200 pessoas foram salvas e
150 batizadas no Espírito Santo. Dali, ela partiu para a África Ocidental,
sendo uma das primeiras missionárias pentecostais a chegar à Libéria.
As mulheres também foram figuras proeminentes nas tarefas
administrativas em torno do avivamento. Perto do final de 1905, quando o
contingente de batizados no Espírito Santo já era significativo e pelo menos
50 obreiros, homens e mulheres, trabalhavam em tempo integral, Parham
começou a ser pressionado para organizar o avivamento. Assim, o
movimento que ele havia criado de maneira informal, conhecido como
“movimento da fé apostólica”, foi oficializado em maio de 1906, com uma
representação igualitária de homens e mulheres. Dos quatro principais
colaboradores de Parham, dois eram mulheres: Rilda Cole, diretora para o
Kansas, e Lillian Thistlethwaite, secretária geral. Todos os obreiros e
evangelistas, homens e mulheres, eram igualmente credenciados, e muitos
deles ajudaram a formar o núcleo das Assembleias de Deus, em 1914.
As mulheres e o avivamento da Rua Azusa Em importantes aspectos, as
mulheres desempenharam papel crucial no famoso avivamento da Rua
Azusa. Depois de uma visita à escola bíblica de Parham, em Houston, uma
mulher chamada Neely Terry, ao retornar à sua igreja, em Los Angeles,
sugeriu que William Seymour fosse convidado para pastoreá-la. Contudo, a
liderança não aceitou a mensagem pregada por Seymour, por isso Richard e
Ruth Asberry convidaram-no a dirigir reuniões na casa deles, na Rua Bonnie
Brae. Com a assistência e o entusiasmo em ascensão, Parham, a pedido de
Seymour, enviou Lucy Farrow para auxiliá-lo. Ao chegar, ela começou a orar
com o povo, e imediatamente eles foram batizados no Espírito Santo com a
evidência inicial do falar em línguas. O avivamento estava a caminho.
Jennie Evans Moore (1883-1936) foi a primeira mulher a ser batizada no
Espírito Santo na Rua Bonnie Brae, por meio do ministério de Lucy Farrow.
Após realizar um trabalho itinerante como evangelista pentecostal, Jennie
retornou a Los Angeles e casou-se com Seymour, em 13 de maio de 1908.
Depois da morte dele, em 1922, ela continuou a pastorear a Missão da Rua
Azusa até morrer, em 1936.
Muitas outras mulheres exerceram cargos de liderança na Rua Azusa.
Quando Seymour decidiu formar um conselho de anciãos para deliberar
sobre os negócios da Missão da Rua Azusa, ele escolheu sete mulheres e
quatro homens. São elas: Jennie Evans Moore, Irmã Price, senhora G. W.
Evans, Clara Lum, Phoebe Sargent, Rachel Sizelove e Florence Crawford.
Como editora do periódico Apostolic Faith, Clara Lum espalhou até muito
longe as empolgantes notícias do derramamento do Espírito. Florence
Crawford (1872-1936) foi ungida para pregar, fato que era óbvio pelo
tremendo público que afluía às reuniões dirigidas por ela no noroeste dos
Estados Unidos e no Canadá, entre agosto e dezembro de 1906. Com o
senhor e a senhora Evans e Clara Lum, ela deixou a Rua Azusa e mudou-se
para Portland, onde estabeleceu a Igreja da Fé Apostólica. De Portland, com a
lista da mala direta de milhares de pessoas em mãos, ela continuou a publicar
o Apostolic Faith, para consternação de Seymour e dos fiéis da Rua Azusa.
As mulheres do período inicial do pentecostalismo eram capacitadas
experimental e teologicamente para as atividades de liderança. Todavia, à
medida que os anos passavam e o avivamento se espalhava, o apoio e a
confiança das mulheres foram diminuindo. Embora a unção e a experiência
continuassem a ser motivos de promoção, a fundamentação teológica
enfraqueceu e foi substituída por teologias menos favoráveis. Essa atitude,
manifesta ou sutil, impôs algumas limitações às mulheres e a homens que
lideravam mulheres. Não obstante, em vários campos de trabalho as mulheres
mantiveram por um tempo sua proeminência. Elas implantaram novas
denominações, expandiram o labor missionário e estabeleceram a primeira
escola bíblica permanente do movimento pentecostal.
Pastorado maternal
Em primeiro de janeiro de 1923, Aimee inaugurou o Templo Angelus, com
capacidade para 5.300 adoradores. A cerimônia foi animada por centenas de ciganas de
roupas coloridas (que a chamavam “nossa rainha”), uma lista de proeminentes
pregadores protestantes e milhares de deslumbrados admiradores. Com um púlpito
permanente, novas possibilidades rapidamente se tornaram reais: uma rádio de
propriedade da igreja foi inaugurada em 1924, e sua escola bíblica adquiriu instalações
próprias em 1925.
A Irmã (como era afetuosamente chamada) era uma cidadã de destaque numa cidade
em pleno desenvolvimento. O Templo Angelus era premiado na Parada das Rosas,[Nota
16] e ele próprio tornou-se uma atração turística. As idas e vindas pela estrada 16
Sermões chamativos e bem ilustrados proporcionavam ao fiel que desejava manter
distância dos entretenimentos de Hollywood uma sensação de teatro. Paradas,
uniformes, bandas de alto nível, música atraente e programas para todas as idades
garantiam a participação do povo. Ambiciosos programas para alimentar os famintos e
prestar auxílio em situações de desastres naturais ganhavam a simpatia do povo.
O apelo popular logo dominou Aimee. O povo costumava passar cerca de quatro
horas nos assentos da igreja. Uma sala de oração ficava aberta dia e noite, e os cultos
durante o dia acomodavam aqueles que desejavam “esperar” o batismo no Espírito
Santo.
Sequestrada?
No entanto, uma série de problemas fez ruir essa colorida fachada. Alguns se
queixavam do controle exagerado de Minnie Kennedy sobre as finanças de Aimee.
Outros reprovavam sua teologia, mais ecumênica que pentecostal. A tempestade que
lhe causou danos permanentes, contudo, aconteceu em maio de 1926.
Segundo o relato posterior da própria Irmã, ela foi raptada certa manhã de terça-feira,
em uma praia perto de Santa Monica, e, forçada a entrar numa cabana, foi mantida
prisioneira.
Naquela noite, Minnie Kennedy substituiu a Irmã no templo, conduzindo o alegre
louvor e apresentando uma seção de slides. Só no final do culto, ela informou que a
Irmã saíra para nadar e ainda não retornara, tendo provavelmente se afogado. “A Irmã se
foi”, ela concluiu e acrescentou: “Sabemos que ela está com Jesus”.
Nos dias que se seguiram, não se falava em outra coisa em Los Angeles. Milhares de
pessoas caminhavam sem rumo pela praia na qual a Irmã fora vista pela última vez. A
polícia teve de elaborar um plano de emergência para controlar a multidão caso o corpo
de Aimee fosse encontrado. Um pomposo culto em memória da Irmã foi realizado em
20 de junho.
Três dias depois, a Irmã reapareceu, em Douglas, Arizona, com a história de que
escapara de um sequestro. As multidões que haviam chorado sua perda prepararam-lhe
uma recepção de boas-vindas. No sábado, 26 de junho, 150 mil pessoas ocuparam as
ruas no trajeto da estação de trem até o Templo Angelus, aplaudindo e saudando a
chegada da Irmã.
No entanto, alguns oficiais de polícia não acreditaram na história do rapto. Acusações
e contra-acusações foram trocadas até dezembro, quando o representante do distrito de
Los Angeles concluiu que não tinha uma acusação sólida contra McPherson.
Em seu programa de rádio, ela se apresentou como vítima — dos sequestradores, do
sistema legal corrupto, da imprensa e das lideranças religiosas hostis.
EDITH BLUMHOFER
CHRISTIAN HISTORY [HISTÓRIA CRISTÃ]
Após concluir o ensino básico — tudo o que era oferecido na época —, Kathryn
Kuhlman começou seu ministério, aos 16 anos de idade, como assistente de sua irmã e
de seu cunhado. Não demorou para ela exercer um ministério próprio, um trabalho
itinerante por Idaho, Utah e Colorado. Por fim, ela se estabeleceu em Denver, com seu
Tabernáculo do Avivamento. Por volta de 1935, construiu o Tabernáculo do
Avivamento de Denver, com 2 mil assentos. Ela usava a mídia com eficácia e
desenvolveu um influente ministério radiofônico. Kathryn casou-se com um evangelista
que se divorciara da mulher apenas para se casar com ela. Isso destruiu seu ministério
em Denver. O casal continuou o trabalho de evangelização, mas, ao que parece, após
seis anos — ela silencia sobre o assunto — Kathryn deixou o marido e começou a
trabalhar sozinha outra vez.
Em 1946, em Franklin, na Pensilvânia, uma mulher foi curada de um tumor durante
uma das reuniões dirigidas por Kathryn. Foi o início do que culminou com o “culto de
milagres”. Kathryn era capaz de revelar um problema específico que estava ocorrendo
em determinado local da plateia, e a pessoa recebia a cura. Ela voltou a estabelecer um
ministério radiofônico, com um programa diário. Em 1948, mudou-se para Pittsburgh,
onde instalou seu quartel-general, realizando cultos no Carnegie Hall e na Primeira
Igreja Presbiteriana. Kathryn alcançou fama nacional depois de um artigo de sete
páginas publicado na revista Redbook [Livro de registro].
Em 1965, chegou da Califórnia um insistente convite da parte de Ralph Wilkerson, do
Centro Cristão de Anaheim (mais tarde Melodyland). Ela começou a realizar as reuniões
no Auditório Shrine de Los Angeles. Durante dez anos seguidos, lotou regularmente os
7 mil lugares do auditório. Continuou com as reuniões de Pittsburgh, enquanto expandia
seu ministério para a televisão, produzindo mais de 500 programas para a CBS. Em
1972, recebeu da Universidade Oral Roberts o título de doutora honoris causa.
Somente em meados da década de 1960, Kathryn passou a se identificar com o
movimento carismático. Os antigos pentecostais expulsos da tradição holiness tinham
duas restrições ao seu ministério: ela era divorciada, e em seu ministério não havia
testemunhos da experiência pessoal do falar em línguas. Ela não permitia a manifestação
do dom de línguas em seus cultos de milagres.
Kathryn fazia objeção ao apelo da ‘fé que cura” e dava todo o crédito ao poder do
Espírito Santo. Acreditava que o dom da cura era dado ao doente, e os únicos dons que
ela buscava eram o da “fé” e o da “palavra de conhecimento” (1Coríntios 12:8,9). Ela
não explicava por que algumas pessoas eram curadas e outras não, mas ressaltava que o
maior milagre era a regeneração do novo nascimento. Kathryn sempre se referia a si
mesma como evangelista.
Além dos casos de cura bem documentados, outro fenômeno associado a Kathryn era
semelhante ao “cair no Espírito”, que acontecia quando ela orava pelo povo. Às vezes,
dezenas e até mesmo centenas de pessoas tinham a experiência simultaneamente.
Kathryn era uma trabalhadora infatigável e nos cultos dava atenção aos mínimos
detalhes: tudo tinha de ser de primeira classe. Na direção das reuniões, ela às vezes
ficava de pé de quatro a cinco horas, sem interrupção. Uma ruiva muito alta, que se
vestia com elegância, Kathryn era dramática na gesticulação e conscientemente
ponderada no discurso. Seu amigo e biógrafo Jamie Buckingham revela: “Ela gostava
de roupas caras, joias preciosas, hotéis de luxo e viagens de primeira classe”. Foi uma
estrela até a época de sua morte, pouco antes de completar 70 anos.
J. WILSON
DICTIONARY OF PENTECOSTAL AND CHARISMATIC MOVEMENTS
[DICIONÁRIO DOS MOVIMENTOS PENTECOSTAL E CARISMÁTICO]
A internet
Quando a internet se tornou o principal meio de comunicação no final da
década de 1990, as mulheres já estavam preparadas. Muitas mulheres e
grupos femininos isolados pela geografia aproveitaram a ilimitada liberdade
de ensinar por meio de web sites, salas de bate-papo e e-mails, sem restrição
de tempo e espaço. Digno de nota é o site www.godswordtowomen. rg,
administrado por três mulheres do Texas, que incentivam e ensinam mulheres
ao redor do mundo no nível pessoal. Barbara Collins (n. 1935), ex-deã para
assuntos dos corpos discente e docente da Faculdade Bíblica Porta da Fonte,
da doutora Pickett, uniu suas forças com Patricia Joyce (n.
1938) e Gay Anderson (n. 1933) para criar uma conexão com mulheres
cheias do Espírito por meio de uma comunicação acessível e pessoal. Esse
site inovador tem seu nome inspirado na proposta teológica do livro da
doutora Katherine Bushnell, God’s Word to Women [Palavra de Deus para as
mulheres]. Em razão dessa iniciativa, a obra clássica da doutora Bushnell é
agora conhecida em muitas nações.
Mulheres de Deus
Em épocas estratégicas da história da salvação, Deus sempre escolheu
mulheres e as capacitou com o poder do Espírito Santo para fazer cumprir sua
vontade de maneira extraordinária. Ele escolheu Maria para dar à luz o
Salvador. Escolheu outra Maria para ser a primeira pessoa a proclamar as
boas-novas da ressurreição. Escolheu mulheres na igreja primitiva para
pastorear, ensinar e proclamar o evangelho. Mulheres foram cooperadoras do
apóstolo Paulo e coerdeiras com Cristo e seus irmãos na fé. No maior
avivamento desde o dia de Pentecoste, Deus concedeu a uma humilde mulher
— Agnes Ozman — o privilégio e a responsabilidade de ser a primeira
pessoa a experimentar e proclamar o batismo pentecostal do Espírito Santo
no século XX. No decorrer do século, ele chamou e capacitou incontáveis
mulheres para realizar tarefas humildes e também de grande importância.
No século XX, mulheres cheias do Espírito Santo começaram a descobrir
que não eram exceção no plano de Deus, mas, em vez disso, verdadeiros
protótipos da mulher de Deus.
Leituras recomendadas
Um bom ponto de partida para o estudo da participação da mulher na
tradição pentecostal é Pentecost in My Soul [Pentecoste em minha alma]
(Springfield: Gospel Publishing House, 1989), de Edith Blumhofer. Um
trabalho mais abrangente é In the Spirit We’re Equal: The Spirit, The Bible
and Women — A Revival Perspective [No Espírito somos iguais: o Espírito, a
Bíblia e a mulher — uma perspectiva do avivamento (Dallas: Hyatt Press,
1998), de Susan C. Hyatts. Para saber sobre o período inicial da teologia
holiness em relação à mulher no ministério, consulte The Promise of the
Father [A promessa do Pai] (Boston: Henry V. Degen, 1859), de Phoebe
Palmer.
O perfil de muitas mulheres pode ser encontrado em New International
Dictionary of Pentecostal and Charismatic Movements [Novo dicionário dos
movimentos pentecostal e carismático] (Grand Rapids: Zondervan, 2001),
organizado por Stanley M. Burgess e Eduard van der Maas. Entre as obras
históricas sobre o ministério de mulheres pentecostais, podemos citar: A
Sound from Heaven [Um som vindo do céu] (Springfield: Gospel Publishing
House, 1977), de Cari Brumback; The Assemblies of God: A Chapter in the
Story of American Pentecostalism [As Assembleias de Deus: um capítulo na
história do pentecostalismo norte-americano] (Springfield: Gospel Publishing
House, 1989), de Edith Blumhofer, publicada em dois volumes; e The
Holiness-Pentecostal Tradition: Charismatic Movements in the Twentieth
Century [A tradição holiness-pentecostal: movimentos carismáticos no século
XX] (Grand Rapids: Eerdmans, 1997), de Vinson Synan.
Entre os livros sobre a vida de Aimee Semple McPherson, recomendamos:
Aimee Semple McPherson: Everybody’s Sister [Aimee Semple McPherson:
irmã de todos] (Grand Rapids: Eerdmans, 1993), de Edith Blumhofer; e Sister
Aimee: The Life of Aimee Semple McPherson [Irmã Aimee: a vida de Aimee
Semple McPherson] (New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1993), de
David Epstein. Um livro simpático a Kathryn Kuhlman foi escrito por Jamie
Buckingham: Daughter of Destiny: Kathryn Kuhlman...
Her Story [Filha do destino: Kathryn Kuhlman... sua vida] (Plainfield:
Logos International, 1976) [ Kathryn Kulman: uma biografia. Rio de Janeiro:
Danprewan Editora]. Uma biografia mais equilibrada foi escrita por Wayne
Warner: Kathryn Kuhlman: The Woman Behind the Miracles [Kathryn
Kuhlman: a mulher por trás do milagre] (Minneapolis: Fortress Press, 1994).
Notas do Capítulo
Nota 1 - George Fox, The Works of George Fox (New York: AMS Press, 1975), v. 3, p.
13. [Voltar]
Nota 2 - Robert Wearmouth, Methodism and the Common People of the Eighteenth
Century (London: Epworth, 1945), p. 223. [Voltar]
Nota 3 - Susan C. Hyatt, In the Spirit We’re Equal: The Spirit, The Bible and Women — A
Revival Perspective (Dallas: Hyatt Press, 1998), p. 140. [Voltar]
Nota 4 - Benjamin St. James Fry, Woman’s Work in the Church (New York: Hunt and
Eaton, 1892), p. 1. [Voltar]
Nota 5 - Woman Preacher (s.l.: 1891), p. 1. [Voltar]
Nota 6 - The Promise of the Father (Boston: Henry V. Degen, 1859), p. 14, 341-7. [Voltar]
Nota 7 - F. Booth Tucker, The Life of Catherine Booth (New York: Revel, 1892), v. 1, p.
123. [Voltar]
Nota 8 - Carol D. Spencer, Evangelism, Feminism, and Social Reform: The Quaker
Woman Minister and the Holiness Revival, Quaker History: The Bulletin of the
Friends Historical Society, 80, n. 1, primavera 1991, p. 39. [Voltar]
Nota 9 - Talvez o melhor registro desses fatos seja The Life of Charles F. Parham (Joplin:
Tri-State Publishing, 1929). [Voltar]
Nota 10 - Cari Brumback, A Sound from Heaven (Springfield: Gospel Publishing House,
1977), p. 73. [Voltar]
Nota 11 - The Life of Charles Fox Parham, p. 87. [Voltar]
Nota 12 - Edith Blumhofer, Pentecost in My Soul (Springfield: Gospel Publishing House,
1989), p. 121. [Voltar]
Nota 13 - Ethel E. Goss, The Story of the Early Pentecostal Days (1901-1914), in: The Life
of Howard A. Goss (New York: Comet, 1958), p. 56. [Voltar]
Nota 14 - Message of the “Apostolic Faith”, 1939, p. i. [Voltar]
Nota 15 - B. F. Lawrence, The Apostolic Faith Restored (St. Louis: Gospel Publishing,
1916), p. 66. [Voltar]
Nota 16 - Essa parada foi inaugurada em 1o de janeiro de 1890, em Pasadena, Califórnia, a
treze quilômetros a noroeste do centro de Los Angeles. Enraizado na tradição, o
desfile é transmitido por várias redes televisivas, assistido por mais de 1 milhão
de espectadores ao longo da via, e visto por milhões de pessoas pela televisão.
[N. do E.] [Voltar]
Nota 17 - Cari Brumback, A Sound from Heaven, p. 331. [Voltar]
Nota 18 - Successful Home Cell Groups (Plainfield: Logos International, 1981), p. 28.
[Grupos familiares e o crescimento da igreja, São Paulo, Editora Vida, 1987.]
[Voltar]
Nota 19 - Maureen Eha, Aglow with the Love of Jesus, Charisma, dez. 1977, p. 43-7.
[Voltar]
∗ 11 ∗
PENTECOSTALISMO AFRO-AMERICANO NO SÉCULO XX
David Daniels III
e todos os destacados líderes religiosos negros dos Estados Unidos no século XX,
D um dos que obtiveram menos reconhecimento foi Wil iam Joseph Seymour, o
obscuro pastor da Missão da Rua Azusa, em Los Angeles, e catalisador do movimento
pentecostal. Somente nas últimas décadas, alguns estudiosos tomaram consciência de
sua importância. Ao que parece, a conscientização começou com o historiador Sidney
Ahlstrom, da Universidade de Yale, o qual afirmou que Seymour personificava a
piedade negra e “exerceu a maior influência direta sobre a história religiosa da
América”, situando seu impacto acima da influência de figuras como W. E. B. Dubois e
Martin Luther King Jr.
William Joseph Seymour nasceu em Centerville, na Louisiana, em 2 de maio de 1870.
Filho dos ex-escravos Simon e Phyl is Seymour, e criado na Igreja Batista, Seymour era
dado a sonhos e visões quando jovem. Aos 25 anos de idade, mudou-se para
Indianápolis, onde trabalhou como funcionário de uma estrada de ferro e depois num
restaurante. Nessa época, contraiu varíola e ficou cego de um olho.
Em 1900, ele se mudou para Cincinnati, onde se afiliou à Igreja de Deus (Anderson),
também conhecida como Santos da Luz do Alvorecer. Ali, mergulhou numa teologia
holiness radical, que ensinava a segunda bênção da santificação plena (isto é, a
santificação como experiência pós-conversão que resulta numa santidade completa), a
cura divina, o pré-milenarismo e a promessa de um derramamento universal do Espírito
Santo antes do arrebatamento da Igreja.
Em 1903, Seymour foi para Houston, no Texas, à procura de sua família. Ali, ele se
filiou a uma pequena igreja holiness pastoreada por uma negra, Lucy Farrow, que logo o
colocou em contato com Charles Fox Parham, professor holiness cujo ministério havia
possibilitado que uma aluna falasse em línguas (glossolalia) dois anos antes.
Para Parham, as línguas eram a “evidência bíblica” do batismo no Espírito Santo.
Depois de implantar uma escola bíblica para treinar discípulos na Fé Apostólica, ele
convidou Seymour a frequentá-la.
Uma vez que a lei do Texas proibia que os negros se sentassem nas salas de aula com
os brancos, Parham sugeriu que Seymour ficasse no corredor e assistisse às aulas pelo
vão da porta. Foi assim que Seymour veio a concordar com a premissa de Parham sobre
a “terceira bênção” do batismo no Espírito Santo evidenciada pelo falar em línguas.
Embora Seymour nunca tivesse falado em línguas, em algumas ocasiões ele ensinou
essa doutrina, juntamente com Parham, nas igrejas de Houston.
No início de 1906, Seymour foi convidado a auxiliar Julia Hutchins no pastorado de
uma igreja holiness de Los Angeles. Com o apoio de Parham, Seymour viajou para a
Califórnia, onde pregou a doutrina pentecostal com base no texto de Atos 2.4. Hutchins,
no entanto, rejeitou o ensino de Seymour acerca do dom de línguas e fechou as portas
para ele e sua mensagem.
Seymour foi então convidado a ficar na casa de Richard Asberry, no número 214 a
Rua Bonnie Brae, onde um mês depois, em 9 de abril, após intensas orações e jejuns,
Seymour e vários outros cristãos falaram em línguas. A notícia dos estranhos
acontecimentos da Rua Bonnie Brae espalhou-se com rapidez e atraiu tanta gente que
Seymour foi obrigado a pregar no alpendre da porta da frente para o povo que se
aglomerava na rua. Em determinado momento, a pressão do povo que se acotovelava foi
tanta que o assoalho do alpendre cedeu.
Seymour saiu a procurar em Los Angeles um lugar mais apropriado para as reuniões.
Encontrou um edifício abandonado na Rua Azusa, que abrigara a Igreja Metodista
Episcopal Africana e recentemente fora usado como armazém e estábulo.
Embora as instalações fossem precárias, Seymour e seu pequeno grupo de lavadeiras,
criadas e operários limparam o edifício, improvisaram assentos e fizeram um púlpito
com caixas de madeira, usadas para acondicionar sapatos. As reuniões começaram em
meados de abril, e a igreja foi chamada Missão da Fé Apostólica.
O que aconteceu na Rua Azusa nos três anos seguintes mudou o curso da história da
Igreja. Embora o edifício tivesse uma pequena estrutura e o espaço destinado aos cultos
fosse de cerca de 180 metros quadrados, algo em torno de 600 pessoas se amontoavam
lá dentro, enquanto centenas de outras tentavam assistir às reuniões pelas janelas. A
principal atração eram as línguas, além do tradicional estilo de adoração dos negros,
caracterizado por gritos, transes e danças santas. Não havia nenhuma ordem
predeterminada no culto, uma vez que “o Espírito Santo estava no controle”. Não se
pediam ofertas, embora um quadro colocado sobre uma caixa aberta anunciasse: “Acerte
as contas com o Senhor”.Os obreiros do altar oravam com entusiasmo por aqueles que
buscavam a cobiçada experiência do falar em línguas. Era um lugar barulhento, e os
cultos avançavam noite adentro.
Em setembro, Seymour começou a publicar um periódico, o Apostolic Faith, que em
sua época áurea era distribuído gratuitamente aos 50 mil assinantes espalhados pelo
mundo.
Depois dos “anos de glória” (1906-1909), a Missão da Rua Azusa tornou-se uma
pequena igreja negra pastoreada por Seymour até sua morte, em 28 de setembro de
1922, e a partir de então por sua esposa, Jennie, até 1936, ano de seu falecimento.
O edifício foi vendido mais tarde para pagar impostos atrasados e acabou demolido.
Hoje, o lugar é ocupado pelo Centro Cultural Japonês.
Por volta de 2000, os herdeiros espirituais de Seymour, pentecostais e carismáticos,
ultrapassavam o número de 500 milhões, formando a segunda maior família cristã do
mundo. Hoje, praticamente todos os movimentos pentecostais e carismáticos têm suas
raízes, direta ou indiretamente, na humilde Missão da Rua Azusa e em seu pastor.
VINSON SYNAN
CHRISTIAN HISTORY [HISTÓRIA CRISTÃ]
O ideal inter-racial
A Missão da Fé Apostólica de Seymour serviu de modelo para as relações
raciais. De 1906 a 1908, negros, brancos, latinos e asiáticos adoravam juntos
na missão. Líderes pentecostais brancos, como Florence Crawford, Glenn
Cook, R. J. Scott e Clara Lum, trabalharam com o pastor Seymour, e algumas
líderes negras, como Jennie Evans Moore, Lucy Farrow e Ophelia Wiley. O
pentecostalismo nascente teve de encarar sua identidade racial numa época
em que a maioria das instituições e movimentos cristãos e sociais dos Estados
Unidos esposava a segregação racial. Frank Bartleman, que participou do
avivamento da Rua Azusa, expressa sua admiração: “A segregação racial foi
apagada pelo sangue de Jesus”.
Enquanto batistas, metodistas, presbiterianos e comunhões holiness, no
período de 1865 a 1910, tendiam à segregação racial em suas congregações,
associações e estruturas denominacionais, brancos e negros pentecostais
pastorearam, pregaram, comungaram e adoraram juntos de 1906 a 1914.
Em geral, antes de 1914, os ministros pentecostais brancos independentes
recusavam filiar-se a emergentes denominações pentecostais de tendências
segregacionistas, embora muitos deles fossem membros do grupo pentecostal
holiness de maioria negra, a Igreja de Deus em Cristo. A liderança
pentecostal condenava com veemência as atividades da Ku Klux Klan, e
muitas vezes foi alvo do terrorismo dessa organização, por causa da ética
inter-racial do pentecostalismo. Parham demonstrava um comportamento
racista e uma atitude arrogante em relação a seus colegas negros,
especialmente Seymour.
Em 1908, os negros deixaram a Igreja Holiness Batizada com Fogo (mais
tarde denominada Igreja Holiness Pentecostal). Em 1913, a Igreja Holiness
Pentecostal permitiu que as congregações negras remanescentes formassem
uma denominação separada. Em 1914, grande número de brancos deixou a
Igreja de Deus em Cristo. Em 1924, a maioria dos brancos que compunham
as Assembleias Pentecostais do Mundo, formada por brancos e negros,
deixou a denominação. Embora a segregação racial seguisse os padrões do
protestantismo norte-americano vigentes após a Guerra de Secessão, havia
exceções. Nem todos os brancos deixaram a Igreja de Deus em Cristo ou as
Assembleias Pentecostais do Mundo. Negros e brancos continuaram lutando
para manter seu relacionamento inter-racial no auge da segregação nos
Estados Unidos.[Nota 21]
O pentecostalismo negro se empenhava em consolidar um relacionamento
inter-racial construtivo. Em 1924, a Igreja de Deus em Cristo adotou o
modelo protestante e estabeleceu uma conferência da minoria branca com o
propósito de unir as congregações norte-americanas que pertenciam a
denominações de maioria negra. Esse desdobramento era uma resposta ao
argumento do clero que questionava a anomalia da existência de
congregações brancas em denominações negras. Era uma minoria racial
participante de um amplo sistema, mas que buscava maximizar sua presença
pela união, sob uma unidade administrativa. A conferência existiu até o início
da década de 1930, quando a liderança, de maioria negra, decretou sua
extinção, alegando que outra denominação estava sendo formada.
De 1919 a 1924, as Assembleias Pentecostais do Mundo eram uma
denominação inter-racial. Contudo, experimentaram drástico crescimento de
convertidos negros depois que Garfield Thomas Haywood, ministro negro,
foi eleito secretário geral por essa denominação, em 1919, e vice-presidente
executivo, em 1922. Entre 1924 e 1937, a denominação, após perder grande
número de membros brancos, fundiu-se com outro grupo de brancos e depois
se reorganizou como denominação de maioria negra com representantes da
minoria branca em todos os níveis de sua estrutura.[Nota 22]
Controvérsias políticas e teológicas
Durante a década de 1910, o movimento pentecostal dividiu-se em dois
campos teológicos — trinitariano e apostólico (unicista) — sobre a
interpretação da doutrina da Divindade. A doutrina unicista criticava a
clássica doutrina cristã da Trindade, por julgá-la politeísta. Os apostólicos,
como eles chamavam a si mesmos, alegavam que o monoteísmo sólido
demandava a existência de um único Deus, não de três pessoas em uma,
como ensinava a doutrina da Trindade. Eles argumentavam que Jesus era o
nome de Deus e que, embora Deus expressasse a Divindade na forma do Pai,
do Filho e do Espírito Santo, essas expressões eram “títulos” de Deus, não
pessoas distintas. No entanto, a maioria das denominações pentecostais
negras estabelecidas no final do século XIX manteve a doutrina trinitariana,
entre elas: a Igreja Santa Unida; a Igreja do Deus Vivo, Coluna e
Fundamento da Verdade; a Igreja Holiness Batizada com Fogo da América; e
a Igreja de Deus em Cristo.
Apenas a Igreja de Deus (Apostólica) e as Assembleias Pentecostais do
Mundo abraçaram a doutrina unicista. As congregações pentecostais negras
do círculo de Garfield Thomas Haywood no meio-oeste norte-americano
constituíam a maioria que formava o núcleo dos apostólicos negros das
Assembleias Pentecostais do Mundo. A maioria dessas congregações
esposava a doutrina da santificação progressiva, em vez da santificação
instantânea defendida pela vertente holiness do pentecostalismo negro.[Nota
23]
A denominação de Garfield Thomas Haywood, as Assembleias
Pentecostais do Mundo, é a célula-mãe da maior denominação apostólica
negra dos Estados Unidos. Um importante líder negro do movimento unicista
que pertenceu às Assembleias Pentecostais do Mundo foi Robert C. Lawson,
o qual organizou a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo da Fé Apostólica em
1919. Da denominação de Lawson, emergiram alguns ministros apostólicos
proeminentes: Sherrod C. Johnson, que implantou a Igreja do Senhor Jesus
Cristo da Fé Apostólica, em 1930; e Smallwood Williams, que implantou as
Igrejas de Nosso Senhor Jesus Cristo Mundiais do Caminho Bíblico, em
1957. Uma trajetória independente iniciada pela Igreja de Deus (Apostólica)
trouxe ao mundo outro conglomerado de denominações apostólicas. O
movimento unicista negro tornou-se a maior vertente dentro do
pentecostalismo afro-americano e em algumas cidades constitui as
congregações pentecostais negras mais influentes.[Nota 24]
No final da década de 1910, alguns proeminentes líderes pentecostais
negros condenaram a entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra
Mundial, adotando o pacifismo e engajando-se numa campanha antibelicista.
De acordo com o historiador Theodore Kornweibel Jr., a Igreja de Deus em
Cristo e as Assembleias Pentecostais do Mundo declararam sua oposição à
guerra. O pentecostal pacifista mais proeminente foi Charles Harrison Mason.
De acordo com um agente federal, Mason saiu a pregar por todo o
território norte-americano, dizendo que a Primeira Guerra Mundial “era uma
guerra de homens ricos e uma luta de homens pobres”. Mason baseava sua
objeção à guerra no mandamento bíblico: “Quem derramar sangue do
homem, pelo homem seu sangue será derramado”. Depois que o Congresso
aprovou o alistamento obrigatório, Mason orientou os crentes a assumir uma
postura de objeção consciente em relação aos homens aptos ao serviço
militar. Os agentes federais mantinham Mason e outros membros da igreja
sob vigilância, e muitos, em vários Estados, foram presos por obstrução ao
alistamento e em razão de suas atividades pacifistas.[Nota 25]
Na mesma época, o nacionalismo negro religioso do final do século XIX,
esposado por líderes holiness como William Christian, George Goings e
Alexander Walters, encontraram expressão no movimento pan-africanista de
Marcus Garvey e na Associação Universal para o Progresso Negro (sigla em
inglês: UNIA). Entre os líderes negros pentecostais que apoiavam a UNIA,
estavam: E. R. Driver, da Igreja de Deus em Cristo; Sidney Solomon, da
Igreja Pentecostal; e Elias Dempsey Smith, da denominação Triunfo da Igreja
e do Reino de Deus em Cristo. Em 1919, Elias Dempsey Smith convidou
Marcos Garvey para a assembleia nacional de sua denominação.
O nacionalismo religioso dentro do pentecostalismo negro também moldou
as tendências do movimento em relação à obra missionária. A Libéria foi o
campo missionário de muitos obreiros oriundos da Missão da Fé Apostólica
de Seymour. J. R. Ledbetters representou as Assembleias Pentecostais do
Mundo na Libéria de 1914 a 1924. Em 1918, a Igreja Santa Unida começou a
arrecadar fundos para financiar seus primeiros missionários no exterior, Isaac
e Annie Williams, que foram designados para a Libéria. Em 1919, um grupo
negro organizou o Concílio das Assembleias de Deus Pentecostais Unidas
para dar apoio ao trabalho missionário na Libéria. Seus primeiros
missionários, o reverendo Alexander e Margaret Howard, chegaram à Libéria
em 1920. Na década de 1920, os membros da Igreja de Deus em Cristo
enviaram missionários para países predominantemente negros: Ms. January
para a Libéria, no início dos anos 1920; Mattie McCauley para Trinidad, em
1927; e Joseph Paulceus, haitiano, para o Haiti, em 1929.
Pentecostais negros mudam os rumos do movimento de santidade afro-
americano
Em sua primeira década de existência, os pentecostais negros excediam em
número os adeptos do movimento de santidade afro-americano. Embora se
posicionassem na ala oposta a esse movimento, os líderes pentecostais negros
expandiram suas fronteiras para incluir cristãos holiness não pentecostais e
pentecostais. Esses líderes se referiam às suas igrejas mais como
congregações holiness (ou “santificadas”) que como igrejas pentecostais.
Assim, a identidade holiness abarcava a experiência pentecostal.
Esses líderes pentecostais também esposavam o conceito e o sentimento da
“Igreja contra o mundo”. Sua orientação e prática cristãs refletiam
substancialmente o ethos religioso do final do século XIX e início do século
XX.
Ir ao altar tornou-se a contrapartida do “banco dos aflitos” batista, pois
ambos definiam a experiência da fé cristã. No altar, numa forma de oração
contemplativa, os pentecostais negros tinham a experiência da conversão, da
santificação e do batismo do Espírito pelos ditames da soberania de Deus. O
altar tornou-se o arcabouço sobre o qual repousa a cultura pentecostal negra,
com sua música e sua prática de adoração: canções e arranjos responsivos,
estilo improvisado, desfiles de instrumentos musicais, sons ritmados e batidas
fortes, dança religiosa, cânticos de louvor e adoração caracterizada por
expressões como “Aleluia!”, “Glória a Deus!”, “Louvado seja o Senhor!”,
“Obrigado!” e “Amém, Senhor!”.
Às suas “igrejas santificadas”, os pentecostais negros incorporaram
elementos característicos dos movimentos de cura e de oração do final do
século XIX. Por influência de Elizabeth Mix, a primeira negra a atuar como
evangelista em tempo integral, durante as décadas de 1880 e 1890, no
movimento de santidade afro-americano, o movimento de cura tornou-se
também característico do pentecostalismo negro. Charles Harrison Mason,
W. H. Fulford, Lucy Smith, Rosa Artemus Horne e Saint Samuel
constituíram ministérios evangelísticos de cura. Em Chicago, Mattie e
Charles Poole implantaram um núcleo de congregações modelado conforme
seu Templo de Cura Belém, que enfatizava a cura divina.
Os ministérios de oração em geral serviam como contexto para os
ministérios de cura por meio da oração intercessória. Charles Harrison
Mason, Elizabeth Dabney, Samuel Crouch e Elsie Shaw eram conhecidos
pelo compromisso que tinham com a oração. Orações ao longo da
madrugada, chamadas “vigílias”, e consagrações, encontros de oração de três
a quatro horas e jejuns duas vezes por semana — com jejuns periódicos de
quarenta dias — eram os elementos fundamentais dos ministérios de oração.
Vital para esses ministérios de oração era a prática de um trabalho de
preparação, uma cerimônia de oração que preparava os indivíduos para a
conversão, a santificação e o batismo no Espírito Santo. A tradição de oração
e cura era uma força unificadora no pentecostalismo negro, contraba-
lançando a terrível força desagregadora dos conflitos interdenominacionais e
das controvérsias doutrinárias.[Nota 26]
Os debates sobre a ordenação das mulheres e seu ministério dentro do
movimento de santidade afro-americano, comuns no final do século XIX,
moldaram as decisões sobre a ordenação de mulheres entre os pentecostais
negros. Enquanto a Igreja de Deus em Cristo aprovava mulheres evangelistas,
mas ordenava apenas homens ao ministério, a Igreja do Deus Vivo e a Igreja
Santa Unida ordenavam mulheres. Apesar de muitas denominações
ordenarem mulheres, as pastoras sofriam ataques verbais constantes de todas
as partes, sob a alegação de estarem “usurpando a autoridade masculina”. A
despeito dessa tendência, em várias cidades as mulheres pastoreavam ou
lideravam as únicas congregações pentecostais existentes.
Essas congregações quase sempre evoluíam de grupos de oração
femininos. No Brooklyn, a única congregação existente era a Santa Igreja de
São Marcos, de Eva Lambert, até meados dos anos 1920. No Harlem,
mulheres pastorearam as igrejas pentecostais do ba