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BARRAGEM DE TERRA 9

O Brasil é o país que mais desenvolveu tecnologias para o projeto,


construção e controle de barragens de terra.

Historicamente vemos que este fato aconteceu por que as regiões


onde foram construídas as primeras barragens de grande porte eram
ricas em argila e pobre em granito para concreto.

Até a década de 60 só sabíamos fazer concreto com granito e o leito


do Rio Paraná (barragens de Jupiá e Ilha Solteira) é de puro basalto.

A barragem de terra apresenta inúmeras vantagens em relação à


barragem de concreto. O principal motivo é o custo. Outro motivo é a
segurança.

As barragens brasileiras estão situadas em regiões de planícies onde


a topografia plana exige barragens muito extensas e se fossem de
concreto seu custo seria muito elevado. além disso, barragens muito
extensas exigiriam cuidados especiais contra a fissuração e mesmo
proteções especiais contra recalques e tremos sísmicos.

COMPONENTES TÍPICOS:

O núcleo da barragem de terra é de argila de boa qualidade com alta


coesão e boa plasticidade. Quando há argila em abundância, toda a
barragem pode ser de terra mas em locais com pouca disponibilidade
de argila, faz-se somente o núcleo central de argila e o resto com
pedras.

Nao se espera de uma barragem de terra estanqueidade total. É


admissível uma certa percolação de água, tanto a que infiltra pela
face de montante como as que infiltram pelas fundações.

Isso é razoável, mesmo porque a Lei das Águas proibe que uma
barragem feche totalmente o fluxo de um rio com prejuízos para os
usuários de jusante e também para a flora e fauna.

O peso de uma barragem é muito grande. Temos no Brasil barragem


de terra com mais de 100 metros de altura. Então as fundações
devem ser calculadas com cuidado.

Rochas fraturadas não servem como fundações de uma barragem


pois este tipo de rocha é muito permeável e muito difícil de estancar
o fluxo de água. Então, se há rochas fraturadas no local da barragem
elas deves ser removidas. Há casos de barragens que não se
conseguiu encher de água pois vazava tudo pelas rochas fraturadas
sob as fundações.

O ideal é apoiar as fundações sobre rocha sã mas dependendo da


evolução geológica do local a rocha sã pode estar a profundidades
muito grande e inviabilizar economicamente. Dependendo das
condições locais a vala da fundação pode chegar a 50 metros de
profundidade.

É perfeitamente viável assentar as fundações sobre rocha fissuradas


desde que as fissuras não sejam de dimensões consideráveis e nem
em grande quantidade. A impermeabilidade pode ser garantida por
meio de cortinas e tapetes impermeáveis.

Para permitir a compactação das camadas de argila, o local deve


estar seco e isso é proporcionado pelas ensecadeiras.

Ensecadeiras são pequenas barragens que a gente constroi antes e


depois, isto é, à montante e à jusante para isolar o rio e deixar uma
parte que é mantida seca com o auxílio de bombas que funcionam dia
e noite.

Veja a ensecadeira que foi construída dentro do Rio Paraná para a


construção da Casa de Força, Vertedouros e parte da Barragem de
Terra da margem Esquerda da Hidrelétrica de Ilha Solteira.
A
ensecadeira
foi construída
junto à
margem
esquerda do
Rio Paraná
no lado do
Estado de
São Paulo. O
rio corre da
direita para a
esquerda.
A
ensecadeira é
esta
barragem
feita no
perímetro
todo. Dentro,
o buraco
atinge 50
metros
abaixo do
nível das
águas do rio
e é mantido
seco por
meio de
bombas.
No primeiro
plano se vê o
início de
construção
da barragem
de terra
margem
esquerda.
Mais à frente
o início de
concretagem
do
vertedouro e
da casa de
força e um
pouco à
jusante onde
será
construída a
plataforma
para a
subestação.
Depois se vê
o rio
estrangulado
e mais à
frente o início
da barragem
de terra da
margem
direita que se
estende por 7
quilometros
no estado de
Mato Grosso.

Como curiosidade, veja o autor deste site à jusante da barragem de


terra da margem direita em visita que realizou em outubro de 2006,
33 anos depois de ter ajudado a calcular a barragem:

No caso de Itaipu, o rio estreito não permitiu construir a ensecadeira


e ainda deixar uma folga no lado para o rio passar. Então foi aberto,
a dinamite, um canal de desvio. Veja nas fotos as três etapas, isto é,
escavação do canal, a inauguração do canal de desvio com o rio
passando tanto pelo leito natural como pelo canal e finalmente o rio
passando somente pelo canal de desvio e a ensecadeira construída
dentro do canal do leito natural.
Como curiosidade, veja o autor deste site em inspeção de rotina, feita
em 6 de fevereiro de 1982, descansando no marco da cota +80 à
montante da barragem, local que hoje tem mais de 100 metros de
altura de água.

A compactação é feita em camadas conforme regras de compactação


com controle super rigoroso da umidade. Além da umidade, a parte
de cima da camada que geralmente fica muito lisa devido à
passabem do rolo compressor precisa receber uma escarificação
antes de se lançar a próxima camada. Camadas muito lisas formam
caminhos preferenciais para a percolação da água por dentro do
maciço da barragem.
Uma das coisas dificílimas é a construção do filtro drenante.

O filtro drenante é formado por diversas camadas, uma de areia fina,


outra de areia grossa e outra de brita.

A finalidade do filtro é segurar as partículas sólidas que


eventualmente sejam carregadas pela água durante a percolação pelo
seio da barragem. Se a gente permitir que a água leve embora as
partículas sólidas a barragem vai ficando porosa e um dia cai.

A gente sabe se está havendo ou não carregamento de parículas


sólidas olhando a água que sai na forma de minas no pé de jusante
da barragem. Se sair com cor de barro é por que está havendo
carregamento de material.

O filtro é chamado também de filtro invertido por que as camadas de


areia e pedra estão posicionadas ao contrário do que acontece num
filtro para limpeza de água.

Qualquer gota de água do consiga penetrar no seio da barragem é


captada pelo filtro e este encaminha a água para a galeria de serviço.

A face de montante da barragem precisa receber uma boa proteção


pois o local recebe muitas ondas que vêem do reservatório. Além
disso, o nível do reservatório não é constante, sendo alto no período
das chuvas e baixo no de estiagens.

Essa proteção, em geral, é feita com pedras grandes colocadas à mão


para ficarem bem juntinhas. É conhecido também como RIP-RAP.

A face de montante pode ser mais íngreme que a face de jusante e


portanto vai consumir menos material. A inclinação é geralmente de
1 para 2,5 podendo, conforme os materiais empregados chegar a 1
para 2.
A face de jusante por ficar aberta ao relento precisa ter uma
inclinação mais suave e adota-se inclinações de 1 para 3 ou até 1
para 3,5. A maior preocupação é com a erosão da face. Como
proteção usa-se geralmente grama.

O desenho acima está com as escalas deformadas para poder caber


na tela do computador. Para vocês terem uma idéia, a barragem de
terra de Ilha Solteira tem mais de 400 metros de largura na base.

A parte final, no topo, da barragem geralmente é aproveitada para


passar uma estrada ligando as duas margens do rio.

Na foto abaixo vocês vêem a construção de uma barragem mista


tendo à montante um material meio siltoso (mais barato e mais
abundante na região), o núcleo de argila (parte impermeável da
barragem) e à jusante enrocamento para dar estabilidade ao
conjunto.

RMW\terrapleno\barragem.htm em 26/12/2009, atualizado em .

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