CADERNO 2
Mano a Mano
Podcast de Mano Brown traz
conversa com a lendária sambista
Leci Brandão. Já no Spotify
caderno2@grupoatarde.com.br
Jef Delgado / Spotify
DA CULTURA NACIONAL"
Começando na próxima se- por conflitos de identifica-
gunda, dia 25 de outubro, a ção racial nas ementas tra-
edição desse ano vai se esten- balhadas em sala. Certa-
der até 30/11, trazendo ati- mente as aulas de Bamba
vidades que se incorporam ao me salvaram. Homenagear
Novembro Negro. Após edi- Mahomed Bamba é um
ções anteriores, nas quais o Arquivo pessoal compromisso com a memó-
evento passou por vários bair- ria mundial.
ros de Salvador, e uma exclu-
sivamente virtual (2020), A itinerância que aconteceu
adaptando-ser ao formato di- nas duas primeiras edições ge-
gital por conta da pandemia, a rou diversos frutos dentro dos
MIMB traz em 2021 um amplo locais e junto às pessoas que
esforço educacional através de vivem nos bairros por onde a
vasta programação que inclui MIMB passou. Quais as ações
masterclasses , oficinas, pai- originadas pela Mostra e co-
néis de diálogos e debates so- mo as mesmas reverberam,
bre a cadeia produtiva do au- hoje, a partir das atividades
diovisual. As atividades edu- realizadas tanto presencial-
cacionais acontecem de 26/10 mente em 2018 e 2019 quan-
a 05/11. to as virtuais do ano passa-
A idealizadora da mostra, a do?
produtora Daiane Rosário, Até os dias atuais, somos
pontua que um formato da procuradas pelas lideranças
MIMB voltado para um apro- comunitárias, alunos e mo-
fundamento educacional nos radores dos mais de quinze
aspectos da produção cinema- bairros e espaços culturais
tográfica era uma meta dela e onde passamos para cons-
de sua equipe de coordenação trução de outras ações, fru-
do evento. "Sempre foi um de- tos dos diálogos construídos
sejo uma edição voltada para nas edições presencias. Ho-
imersões formativas mais in- je, incorporamos às ativida-
tensas", afirma Daiane. des virtuais esses diálogos e
Com um grupo de destaque os resultados dessa interlo-
com profissionais do audiovi- cução são os jovens. Eles
sual brasileiro, as atividades da continuam seguindo nossa
"MIMB Olhares Periféricos", programação, indicam para
que tem nomes como os de irmãos, primas e amigos.
Jeferson De (Bróder e Doutor Tivemos feedbacks incríveis
Gama), Joyce Prado (Chico Rei e entendemos que as ações
Entre Nós), André Novais (Ela e as conexões precisam ser
Volta na Quinta e Temporada), contínuas, pois a demanda
dentre outros, são oportuni- do nosso povo é grande.
dades excelentes para o apren-
dizado na área. Quero lhe perguntar acerca da
As oficinas, que acontecerão importância da Mostra como
de modo virtual, terão como um poderoso instrumento de
resultado filmes de 1 minuto luta contra o racismo, princi-
que participam de um concur- palmente em um período tão
so com votação popular na se- miserável que o nosso país vi-
gunda fase da formação. ve, quando excrescências as-
Nessa entrevista ao A TAR- sumidamente racistas detêm
DE, a produtora aprofundou os o poder. Dentro da mesma
outros aspectos do processo de questão, lhe pergunto: você é
produção dessa edição da Mos- otimista sobre o Brasil?
tra, lembrou o saudoso pro- Inicio esta resposta afirman-
fessor Mahomed Bamba e fa- do que o Cinema segue sen-
lou sobre as dificuldades den- do o segmento mais racista
tro de um ambiente profissio- da Cultura Nacional. Pode-
nal racista como é o do âmbito mos identificar isso nos sets
cultural no Brasil. de filmagens ou nas diver-
sas pesquisas sobre repre-
sentação racial no mercado
Quarta edição da MIMB e, des- cinematográfico. Recente-
sa vez, em um formato vol- mente, vi uma imagem que
tado para laboratórios dentro revelava a equipe técnica de
dos diversos aspectos da pro- tir da celebração de sua tuais nos trouxe acessos na- gena do ensino médio, e as um set ainda em curso, ro-
dução audiovisual. Como se identidade, ancestralidade cionais e internacionais. Se masterclasses com público dado em Salvador, em uma
deu o processo de escolha des- Formação é e histórias. Acho que todo antes, nas sessões presen- livre. Em parceria com a Glo- comunidade periférica. Na
se formato do evento?
Para nós, integrantes da co-
importante para movimento corrente nesta
edição é um desejo que ins-
ciais, tínhamos uma sala
com 50 a 100 pessoas, nas
bo, a qual cedeu seu núcleo
de talentos formativos para
imagem, homens brancos
tomavam todo o quadro fo-
ordenação do festival, equi- construção pira o passado já que tam- salas virtuais conseguimos se somar à nossa equipe de tográfico. Em 2021, essa ce-
pe composta por mim, Tais bém fizemos parte dessa ju- 10 vezes mais visualizações criativos, organizamos doze na ainda é muito comum
Amordivino, Kinda Rodri- profissional e ventude preta periférica em somente uma obra. O encontros formativos vir- onde nossas lutas são in-
gues, Loiá Fernades e Julia
Morais, sempre foi um de-
identitária da com pouco acesso a forma-
ção cultural.
mesmo podemos dizer dos
ciclos formativos, que con-
tuais que irão possibilitar
trocas intensas e ricas com
tensas não só pela ocupa-
ção, mas por entendermos
sejo uma edição voltada pa- juventude negra, seguiram alcançar inscritos nomes do cinema nacional, que "não se pode mais falar
ra imersões formativas mais A edição do ano passado, pri- do Brasil e de fora dele. Nos- como Marise Urbano, André sobre nós sem nós". Por ou-
intensas. Acho que é o que indígena periférica meira realizada no formato sa Mostra é afetiva e o diá- Novaes, Fabiola Silva, Dio- tro lado, o ativismo e o mo-
esta edição especial está virtual, expandiu para um le- logo presencial com o nosso ne Carlos, Elizio Lopes Jr, vimento negro brasileiro
nos possibilitando através que maior de espectadores as público é o que mais de- Marcelo Lima, Naymare vem criando roteiros de re-
patrocínio cultural da Lei Fe- obras selecionadas pela sejamos. A edição de 2022, Azevedo, Naina de Paula, tomada e resistência muito
deral de Incentivo à Cultura MIMB. Como foi essa adap- inclusive, já está sendo pla- Amanda Lima, além dos antes dos cursos criados por
tendo a Novelis como apoia- tação? nejada. Mas entendemos grandes nomes também já mim ou pela MIMB. Desta
dor financeira. Diante das Até hoje somos Diante do caos sanitário que algumas formas e for- citados, Joyce Prado e Je- forma, entendo que nossa
lacunas sociais quando
pensamos em educação cul-
procuradas pelas causado pelo COVID-19, foi
muito difícil a nova realida-
matos que se suportam nos
braços virtuais ainda per-
ferson De. Durante a
pré-produção, tive reuniões
missão é de continuidade,
principalmente em deferên-
tural e tecnológica, nossa lideranças, alunos de que foi ofertada para manecerão, mesmo com individuais com cada profes- cia ao legado de mulheres e
programação é majoritaria- continuidade do festival. Ti- fim da pandemia. sora/professor para pensar- homens negros que possi-
mente voltada ao fomento e moradores dos vemos intensas reuniões a mos juntos imersões aco- bilitaram nosso acesso às
de ciclos formativos em ci-
nema e audiovisual. Enten-
mais de quinze fim de criar estratégias para
continuar conectadas ao pu-
Dentro do novo formato estão
vários nomes de destaque co-
lhedoras e sensíveis. Esse ti-
me de profissionais é gran-
universidade para que, ho-
je, pudéssemos dizer em voz
demos o quanto a forma- bairros e espaços blico periférico, nosso prin- mo os de Jeferson De, que tem dioso e não temos dúvidas alta que somos cineastas,
ção é importante para cons- cipal eixo de dialogo. O nos- na bagagem o projeto Dogma do sucesso desses ciclos for- cientistas ou doutores. Meu
trução profissional e iden- onde passamos so grande ponto de virada Feijoada, bem como diversas mativos. otimismo sobre o país se-
titária da juventude negra, foi o Impulso Cultural produções como Bróder e Dou- gue pelo reflexo dos meus
indígena e periférica. Em WAWA ABA, lançado na pri- tor Gama; Joyce Prado, rotei- A MIMB leva o nome do gi- ancestrais que lutaram por
parceria com o núcleo cria- meira edição realizada na rista e diretora do ótimo Chico gante Mahomed Bamba, al- liberdade e igualdade de di-
tivo da Globo, e com as pla- pandemia. Com ele, mobi- Rei Entre Nós. Como foi o pro- guém cuja trajetória acadêmi- reitos. Haja visto que, para
taformas Wolo TV e Video- lizamos através do Insta- cesso de escolha e seleção ca e de vida foi riquíssima den- mim, só teremos tais aces-
Camp, a edição especial A missão é em gram mais de 10 mil pes- dos(as) profissionais para o tro do estudo do Cinema Ne- sos quando o poder polí-
MIMB Olhares Periféricos ce- soas. Ali entendemos qual grupo que vai ministrar as au- gro. Poderia falar um pouco tico, social e econômico for
lebra a potência ancestral deferência ao era naquele momento a pla- las na mostra? sobre a importância de Bamba preto. Enquanto as ações
das periferias brasileiras en-
quanto engrenagens tecno-
legado das negras taforma de diálogo direto
com a juventude e a utili-
Planejamos os ciclos forma-
tivos de forma intensa e cui-
na sua trajetória? afirmativas seguem fazen-
do seu trabalho, nós, artis-
lógicas e intelectuais, tra- e negros que zamos como ferramenta de dadosa. Neste projeto Bamba foi e continua sendo tas negros, fazemos o nos-
zendo o afrofuturismo como fomento da 3º e 4º edição. MIMB OLHARES PERIFÉRI- uma grande inspiração para so.
movimento cultural que ins- possibilitaram Foi muito difícil a nova rea- COS temos o LAB WAWA ABA nossas criações enquanto
pira a criação de narrativas
de protagonismo negro, in-
nosso acesso às lidade, ao mesmo tempo
que a hospedagem da
com público composto ma-
joritariamente por jovens
corpos pretos no cinema, se-
ja na frente ou por trás das
MIMB - OLHARES PERIFÉRICOS / DE 25/10
A 30/11 / INFORMAÇÕES:
dígena e quilombola, a par- universidade MIMB em plataformas vir- negros, quilombolas e indí- telas. Sou grata por ter tido WWW.MIMB.COM.BR