Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CURITIBA
1998
HUÁSCAR FIALHO PESSALI
CURITIBA
1998
ii
Orientador: _________________________________________________
Prof. Doutor Ramón Vicente García Fernández
Setor de Ciências Sociais Aplicadas, UFPR
_________________________________________________
Profa. Doutora Leda Maria Paulani
Faculdade de Economia e Administração, USP
_________________________________________________
Prof. Doutor José Gabriel Porcile Meirelles
Setor de Ciências Sociais Aplicadas, UFPR
AGRADECIMENTOS
Vejo hoje os últimos dois anos passarem diante dos olhos, acreditando ter
tentado o melhor para fazê-los proveitosos. E é claro que várias pessoas estiveram (e
muitas felizmente ainda estão) em velado conluio comigo nessa tentativa. Na parte mais
lida nas dissertações, quero entregar todos os cúmplices, em ordem cronológica.
Tudo teria sido muito mais complicado se não fosse o trabalho, a alegria, a
jovialidade, o carinho e a elegância da Rosa. E o que seria se a Ivone não continuasse
no apoio executivo com toda presteza? E sem a Dirce nas emergências com o
fliperama? Espero que a conclusão do curso me faça parar de dar (muito) trabalho à
secretaria e ao CEPEC, e seja essa a mínima e devida recompensa e o meu mais sincero
agradecimento a elas.
Agradeço aos professores Demian Castro e Walter Shima pela disposição para
um bate-papo, qual fosse o assunto, inclusive economia, e pela paciência e confiança
num "rookie" para assuntos de trabalho..
Há algumas pessoas que não fazem (farão ou fariam) a menor idéia da minha
existência, mas ajudaram de forma inestimável a recobrar a tranqüilidade quando a
pressão aumentava. Obrigado a Chris Squire, Steve Howe, Jon Anderson, Rick
Wakeman, Alan White, Bill Bruford, Tony Kaye, Trevor Rabin e Geoff Downes; a
Beethoven, Lloyd Cole, Cartola, Vinícius, Carlos Drummond de Andrade e ao
admirável Aldous Leonard Huxley; a Goscinny e Uderzo e ao Simão; a Salvador Dalí; e
a Ridley Scott e Philip K. Dick.
Por fim, como não poderia deixar de ser, agradeço à Adriana pelo amor e pela
enorme paciência. A ela atribuo a maior contradição deste trabalho: o melhor motivo
para que às vezes a pesquisa fosse interrompida, e o melhor motivo para que fosse logo
terminada.
viii
SUMÁRIO
LISTA DE QUADROS
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE ABREVIATURAS
RESUMO
ABSTRACT
TCT has been regarded as the "new orthodoxy" in the theory of firms. Its
theoretical framework relies mainly on the assumptions of bounded
rationality, opportunism, and efficiency pursuit as features of the contracting
man, who operates economic transactions with different degrees of
elementary attributes (specificity of engaged assets, frequency and underlying
uncertainty) regarding each form of its organization, allowing for the
analysis of the limits between firms, markets and hybrid forms. In such a
central position, TCT is the target of several criticism from mainstream
economics, for TCT be departing from the neoclassical theoretical core, as
much as from different non orthodox streams of economic thought, which
ideas have several touching points. These intersections relate mainly to the
relevance of power aspects, artificial or co-evolutionary selection precesses,
and a more consistent use of the bounded rationality concept, all these with
paramount consequences over the very emphasis of TCT in efficiency. A
broader treatment of human attributes in which not only opportunism play a
central role is also claimed. These coincidences are suggestive of new
directions towards a new and pluralistic research agenda for the theory of
the firm.
1
1 INTRODUÇÃO
Essa é uma breve apresentação da parábola construída por Herbert SIMON (1991,
p. 27-8) para propor que na verdade nos deparamos com um rótulo enganoso para um
sistema essencial de estruturas, o econômico, entrelaçado de forma indesatável numa fase
particular e rica da história da humanidade - o capitalismo. Diante da parábola de Simon,
parece um absurdo insistir em dizer que tal sistema é composto por "economias (nacionais,
quando muito) de mercado". Para o cientista social, e particularmente para o economista, a
questão não se resume à semântica: o duvidoso jargão impele teorias e estudos empíricos, e
mesmo discussões diletantes e o senso comum, a tomarem o mercado como ponto de
2
partida, parâmetro virtualmente sempre possível, e mesmo estado natural das relações
econômicas, para sua interpretação do mundo em que vivem.
suficientemente explícitas (ou porque o título ainda não existia ou não fora pensado, ou
não tinha importância), como é possível cogitar a respeito de Karl Marx, Joseph
Schumpeter e John M. Keynes, por exemplo. Interessante é que, pelo menos 30 anos antes
do artigo de Coase, outros pensadores foram os responsáveis pelo surgimento do termo
"institucionalistas", como Thorstein Veblen1 e John Commons, mas eram virulentamente
opostos ao método e à teoria neoclássica, o que acabou cerceando maiores esperanças de
projeção no círculo acadêmico e de influência em esferas de política econômica. Não à toa,
portanto, economistas políticos, evolucionistas neo-schumpeterianos, institucionalistas
"originais" e pós-keynesianos (estes em menor grau, ao que parece) têm demonstrado
interesse na NEI e, particularmente, na TCT.
O objetivo
1
Veblen chegou a ser elogiado como um dos maiores pensadores sociais de seu tempo por
ninguém menos que seu contemporâneo Albert Einsten (cf. MONASTÉRIO, 1998, p. 30).
2
Muitas vezes o termo "Teoria dos Custos de Transação" tem também referência na
literatura como a "Economia dos Custos de Transação". Por exemplo, vide SIFFERT FILHO
(1995, p. 103) e o próprio WILLIAMSON (1985, cap. 1 e 1989, p. 135). Falaremos sobre a
natureza da distinção que fazemos um pouco mais à frente.
3
Não deixa de ser válido comentar que o próprio Williamson, ao longo de seus trabalhos,
está predominantemente preocupado com as críticas de origem neoclássica.
4
seleção. Isso porque víamos a possibilidade de dois enfoques para trabalhar sobre as fontes
críticas: uma distinção por temas (e.g., uma seção para análise das críticas ao suposto
comportamental de oportunismo), ou uma distinção por correntes do pensamento
econômico (e.g., uma seção que reunisse os vários temas críticas oriundos de autores neo-
schumpeterianos) e cada uma das alternativas tinha seus desafios peculiares. Em várias
ocasiões fomos encorajados a trabalhar com a segunda alternativa e, por isso, enfrentar o
desafio de qualificar os autores de acordo com suas bases teórica e metodológica, o que na
maior parte dos casos constituiu tarefa complicada, cujo resultado nem sempre pôde ser
justo o suficiente para revelar todas as nuances e a amplitude da obra de alguns deles.
Contando com alguma paciência e tolerância acadêmica para a compreensão de tal
obstáculo, foi o rumo escolhido, e por conseqüência reservamos um capítulo para a análise
das críticas que se divide em quatro seções, cada uma reservada para diferentes linhas de
pensamento: autores evolucionistas (ou neo-schumpeterianos), da economia política,
institucionalistas norte-americanos ("legítimos", do "velho estilo", ou "originais")4 e
neoclássicos.
Vale notar que nosso intuito não é apresentar ou elaborar para cada uma das seções
a teoria das instituições ou das firmas de cada corrente, como corpos teóricos fechados e
alternativos à TCT, mas os elementos desta que tais correntes consideram problemáticos e
que deveriam ser modificados ou abandonados, ou ter seu tratamento aprofundado, e suas
explicações para tanto. Quando avaliávamos o enfoque de pesquisa por temas, como
mencionado há pouco, víamos outras oportunidades e dificuldades distintas das que
acabamos enfrentando, dentre as quais a possibilidade de reunir as correntes não ortodoxas
por sua afinidade metodológica em torno do não reducionismo. Como sugerido por
FERNÁNDEZ (1996a, p. 159, nota de rodapé 8), parece haver uma crescente simpatia nos
diversos programas de pesquisa críticos ao mainstream neoclássico em enfatizar suas
semelhanças e sobre elas trabalharem, podendo isso resultar - voluntariamente ou não -,
numa linha única de pensamento (embora provavelmente complexa e eclética, com os
4
Como tratados por Sherry Melecki no informativo da Association for Evolutionary
Economics - AFEE News, vol. 3, n. 1, de agosto de 1996. A AFEE é a organização que reúne os
principais pesquisadores desta linha.
5
devidos méritos a uma ciência econômica realmente social) alternativa àquele.5 E, neste
caminho, estaríamos tentados a elaborar algo como uma "síntese não reducionista" da
teoria da firma, o que seria bastante ousado para uma dissertação de mestrado. Essa
proposição negativista também afetou a escolha pelo outro caminho, mas não de forma
desoladora. Pelo contrário, a linha que seguimos permitiu constatar quão variados são os
pontos de contato entre as correntes não ortodoxas em suas críticas à TCT, fazendo mais
sólida a idéia da síntese, ou pelo menos da elaboração de agendas de pesquisas cujos focos
possam em boa parte coincidir. A partir disso, a discussão teórica e os trabalhos empíricos
decorrentes podem ser mais frutíferos, já que menos dispersos.
Podemos nesta altura tornar mais explícito um outro elemento propulsor desta pes-
quisa: uma já conhecida insatisfação com relação à microeconomia tradicional, bastante
comum entre aqueles com uma formação acadêmica não ortodoxa (onde nos incluímos),
embora não restrito a eles. O incômodo tem origem na abordagem padronizada que aquela
aplica às organizações, resumindo-as basicamente a funções de produção bem comporta-
das, considerando procedimentos homogêneos de otimização, adotando um modelo de
comportamento humano em que os agentes detêm uma racionalidade global ou substantiva
dentro de um mundo sem incerteza (ou que pode ser resumido a eventos com diferentes
probabilidades em distribuições conhecidas), e tomam decisões independentes no tempo.
Tal incômodo vem há muito manifesto na chamada "controvérsia marginalista."6
Compartilhando a inquietação, acreditamos ser útil avançar em outros níveis de análise,
como julgamos ser o caso para o nível das transações, como forma de jogar luzes dentro
(ou tornar menos opacas as paredes) da "caixa-preta" apresentada pela teoria tradicional.7
5
Não obstante possa, ao contrário, resultar numa dispersão infrutífera de esforços, enquanto
deveriam ser agrupados para a superação definitiva dos postulados neoclássicos, como sugerido por
Philip Mirowski (citado por FERNÁNDEZ, 1995, p. 4-5).
6
Para uma apresentação da "controvérsia marginalista", vide A. KOUTSOYIANNIS (1979,
cap. 11).
7
Como evidenciam HAMILTON e FEENSTRA (1995, p. 57): "We believe, however, that,
in the study of economic organization, a transactional level is necessary, because it represents a
level of analysis in which economic action can be conceptualized in subjectively meaningful
terms.[...] It is the duality of market and hierarchy, a duality between price and the entrepreneur as
independent but interrelated modes for organizing market activities, that serves as the basis for
6
Mas esse é também o motivo de termos reservado uma seção de críticas à TCT para os
economistas mais próximos à teoria neoclássica tradicional.
Como observamos há pouco, a TCT é vista por alguns como pura extensão da
teoria neoclássica da firma, enquanto outros a vêem com uma base dividida - um pé sobre
os alicerces tradicionais e o outro sobre alicerces próprios, externos à ortodoxia - como,
aliás, pode ser ocasionalmente interpretada a posição do próprio Williamson
(WILLIAMSON, 1989, p. 178; vide também DUGGER, 1994, p. 378, e ainda MILLER,
1993, p. 1043), em meio à sua freqüente ambigüidade - discutida em várias ocasiões ao
longo deste trabalho. Interpretar a TCT como um bloco teórico neoclássico que incursiona
em hipóteses mais realistas ou como um bloco não ortodoxo que procura a aceitação no
mainstream pode resultar numa discussão interminável, podendo obscurecer os insights
por ela proporcionados para o estudo das organizações. A despeito da direção em que
surjam, são justamente as diferenças com relação ao mainstream que despertam as
principais expectativas de avanço, já que parecem abrir "precedentes" para incursões não
ortodoxas, mesmo que os braços da teoria neoclássica tentem ainda reter ou tratar os novos
insights como acréscimos em seu corpo teórico, principalmente através da manutenção de
seu "núcleo rígido", com maior formalização e em acordo com sua visão positiva e aditiva
do conhecimento. O próprio Williamson, tendo por base a alegação da complexidade da
TCT relacionada à, ou mesmo imposta pela, interdisciplinaridade de sua abordagem (e, a
nosso ver, o seu usual comportamento não afrontador), deixa uma lacuna ao mesmo tempo
coerente - posto que não pretende com a TCT elaborar um compêndio da humanidade -,
retoricamente protetora, e também convidativa ao afirmar: "transaction cost economics
should often be used in addition to, rather to the exclusion of, alternative approaches"
(WILLIAMSON, 1985, p. 18).
Uma consideração importante a ser feita é que, quer sejam consideradas recentes
abordagens completamente divergentes da ortodoxia, como em POSSAS (1993a e 1993b),
ou outras ainda nelas enraizadas, como em NORTH (1993a,b) e BATES (1993), busca-se
revigorar a interação entre os indivíduos, as firmas e o ambiente institucional em que
atuam. A despeito das grandes diferenças, é relevante notar a preocupação em dinamizar as
Coase's original conceptualization, and without the duality, the conceptualization is strictly a one-
handed approach to economic analysis".
7
De volta ao conteúdo, e em síntese, podemos dizer que a TCT tem uma trajetória de
desenvolvimento marcada por duas obras principais. A primeira delas, reconhecida como a
obra originária, é o artigo de Ronald Coase na revista Economica, em 1937, intitulado
"The Nature of the Firm". E a segunda é "Markets and Hierarchies: analysis and antitrust
8
implications", livro de Oliver Eaton Williamson, publicado em 1975. Dito isso, vejamos o
que trata cada um dos quatro capítulos que se seguem a este introdutório.
8
Coase tinha 21 anos quando terminou a primeira versão de "The Nature of the Firm", em
1931, ainda antes de ser graduado pela London School of Economics, o que aconteceu um ano
depois. A primeira versão do artigo foi submetida à revista Economica numa viagem de
intercâmbio acadêmico feita por Coase aos Estados Unidos naquele ano, mas a versão final só foi
publicada em 1937. Para maiores detalhes, vide CHEUNG (1983, p. 1-2, e 1987a, p. 455).
9
9
Segundo WILLIAMSON (1996a, p. 18), sua recente obra, intitulada "The Mechanisms of
Governance", completa a trilogia do desafio de seu programa de pesquisas sobre integração
vertical, iniciado em 1971.
10
Apesar de sua Tese de Doutoramento centrar-se em conteúdo formal e estudos
econométricos.
11
Embora RUTHERFORD (1996, p. 174) considere Williamson um dos defensores da
abordagem "literária", em oposição a uma abordagem mais formalista dentro da própria NEI.
10
Isso, entretanto, foi também motivo para que se focalizassem com maior rapidez
críticas à nova abordagem. Williamson, por exemplo, em vários trabalhos (1985, p. 3;
1989, p. 137; 1993, p. 109; 1996a, p. 12) reconhece em John R. Commons, economista
identificado com a Escola Institucionalista norte-americana, as raízes de suas idéias sobre a
transação como foco de análise, e isso tem sido fonte de formação de um canal bastante
particular de críticas elaboradas por pensadores contemporâneos daquela tradição. Outras
vêm de caminhos diversos, comumente relacionadas às pontes neoclássicas mantidas na
TCT, mas a elas não se resumem. De modo geral, como expressa PITELIS (1993b, p. 12):
12
Por esse motivo preferimos tratar tal estrutura teórica por Teoria dos Custos de Transação,
e não Economia dos Custos de Transação (como preferem vários autores) para evidenciar nossa
linha de pesquisa, e também por entender que várias das críticas (e seus respectivos autores)
direcionam-se exclusivamente à Teoria dos Custos de Transação, sendo porém passíveis de
incorporação à uma estrutura teórica mais ampla e abrangente - à qual, então, chamaríamos
Economia dos Custos de Transação.
11
Embora Coase tenha escrito vários outros artigos após "The Nature..." , em nenhum
deles voltou a esmiuçar o tema dos custos de transação, ainda que não deixasse de se preo-
cupar com os custos de forma geral e com as diversas formas em que podiam ser
percebidos, como sugere CHEUNG (1987a, p. 456). Parece que os economistas em seu
meio estavam mais preocupados com a obra de Pareto e outros assuntos, não tendo
despertado para os insights de Coase, que se voltou para outros temas, como o setor de
telecomunicações e os direitos de propriedade. Ou como argumenta Paulo AZEVEDO
(1996, p. 5) sobre tal desatenção: "Em parte isso se deveu à forte inércia que conduzia o
pensamento econômico por ocasião da publicação de The Nature of the Firm [...], de tal
modo que uma idéia radicalmente nova dificilmente reverteria de imediato o curso da
pesquisa econômica".
Voltemos, então, ao artigo de 1937. Nele fica expressa a insatisfação de Coase com
o descuido da teoria tradicional em tratar rotineiramente o sistema econômico como auto-
12
regulável pelo sistema de preços, ao mesmo tempo em que pouca atenção devota às firmas.
Isso porque dentro destas a alocação dos fatores não se dá pelo mecanismo de preços e sim
por um tipo diferente de coordenação da produção - geralmente por um empresário ou
alguém por ele delegado, que exerce comando sobre as atividades. E, no entanto, a teoria
tradicional estava incompleta por não procurar uma definição particular e real das firmas,
bem como, a partir daí, explicitar as hipóteses de sua natureza e sua lógica de
funcionamento.
A origem da firma, desse modo, se deve ao fato de haver custos em negociar nos
mercados que podem ser evitados ou reduzidos ao se organizar a produção de um determi-
nado bem ou serviço através de relações de autoridade ou sob o comando de um coordena-
dor que direciona a alocação dos recursos. Muito embora os contratos não deixem de
existir dentro da firma, principalmente os de trabalho, a sua flexibilidade é muito maior -
pois não incorrem em detalhamentos, geralmente determinando apenas os limites das ações
de comando e acatamento entre as partes - e sua renegociação deixa de ser feita a cada
ordem ou serviço cumprido. Dessa forma, é mais provável que a firma surja de relações
para as quais contratos complexos e de curto prazo sejam insatisfatórios. Isso se intensifica
principalmente diante das dificuldades dos agentes em prever os acontecimentos futuros,
13
quando, pela natureza incompleta dos contratos e pela indiferença do contratado para os
serviços em agir dentro de um conjunto de tarefas (não pré-determinadas explicitamente no
contrato mas que lhe são aceitáveis, como foi posteriormente sugerido por SIMON, 1957 e
1991), o contratante pode direcionar com alguma independência o curso das ações diante
de novas contingências (COASE, 1937, p. 391-2).13
Por outro lado, seguindo a lógica do argumento, se existem custos nas transações
de mercado, por que ele não foi totalmente superado pela coordenação dentro da firma?
Essa é a "segunda pergunta Coaseana," apresentada originalmente da seguinte forma
(COASE, 1937, p. 394): "A pertinent question to ask would appear to be [...] why, if by
organising one can eliminate certain costs and in fact reduce the cost of production, are
there any market transactions at all. Why is not all production carried on by one big firm?"
13
Para LANGLOIS e FOSS, N. (1997, p. 11, grifo original), "Coase's explanation for the
emergence of the firm is ultimately a coordination one: the firm is an institution that lowers the
costs of qualitative coordination in a world of uncertainty." Coase, no entanto, faz uma
contraposição a Knight em sua explicação da origem da firma principalmente (mas não
unicamente) em função da incerteza radical. Por isso, HODGSON (1988, p. 205) argumenta que a
interpretação de Langlois, embora saudável por incluir o conceito de incerteza radical como
necessário para a explicação da existência das firmas, apóia a tese que Coase contrariava. Isso,
entretanto, não invalida os esforços de Coase e, principalmente, de Williamson: "Transaction costs
may or may not remain an intermediate category in the argument. But it is clear [...] that
transactions costs are not sustainable without some concept of radical uncertainty, and this, either
directly or indirectly, seems to be necessary to explain the existence of the firm" (HODGSON,
1988, p. 205).
14
Tal argumento não parece encontrar sustentação segundo PENROSE (1987, p. 562): "as a
firm [grow] there [is] no evidence that its administrative capacity could not grow accordingly."
GROSSMAN e HART (1986, p. 692, nr. 1) dizem ser o argumento nada convincente "[...] since the
owner [of the firm] could always hire another manager." AOKI (1986, p. 974) também refuta o
argumento de Coase, alegando que o mesmo "is unconvincing [...] because organizational
innovation such as the multidivisional form may overcome this limit." A forma "M" é o principal
exemplo de evidências que apontam para uma grande capacidade inovativa nos métodos de
administração de grandes firmas, como defendem WILLIAMSON (1975) e CHANDLER (1962).
14
15
Para KHALIL (1996, p. 292), esta é a única preocupação com a qual o artigo de Coase
pode se deter: "Coase's 'The Nature of The Firm' ironically does not provide a theory of the nature
of the firm. [...]. [It] is about what makes certain transactions become incorporated within the firm
rather than purchased. So Coase's approach is about the theory of the boundary of the firm rather
than the theory of the nature of the firm, or the theory of intrafirm power."
15
16
KAY (1987, p. 55) sugere que a TCT estruturada por Williamson continua explicando a
firma multiprodutora: "Williamson (1975) discusses the evolution of hierarchy to cope with the
problems of the multiproduct firm; however he does not utilise transaction cost analysis in a
general approach to multiproduct combination despite the fact that his framework is ideally suited
for this purpose." Alguns anos mais tarde, em 1992, Kay publica um artigo no Journal of Economic
Behaviour and Organisation (JEBO), com críticas à TCT, e o JEBO publica na mesma edição uma
réplica de Williamson, já na ocasião editor-associado da revista. Kay, convidado a preparar a
tréplica, o faz, mas a mesma não é publicada. Um ano depois, Kay aproveita para republicar o
artigo (KAY, 1993), com incrementos da tréplica não publicada, e acaba comentando o seguinte (p.
252 - nosso grifo): "If Williamson's theory is applicable, then its dependence on asset specificity
suggests that it can only be with respect to the special case of the single product firm [...]."
17
Considerando que distintos empresários organizam de forma também distinta a produção,
implicando em custos diferentes entre as firmas (COASE, 1937, p. 403).
18
GRANOVETTER (1995, p. 94) pergunta: "why is it that in every known capitalist
economy, firms do not conduct business as isolated units, but rather form cooperative relations with
other firms [?]" Essa é a questão que, por analogia à "primeira pergunta coaseana," Granovetter
chama de "segunda pergunta coaseana" - ou seja, uma pergunta que Coase na realidade não fez.
Embora não tenhamos a pretensão de desenvolver nenhuma inovação terminológica, alguns
parágrafos antes neste capítulo qualificamos a "segunda pergunta coaseana" como aquela que
Coase realmente fez em complemento à primeira.
16
"I imply that 'business group' is to firm as firm is to individual economic agent." Segundo
ele, essa é uma dimensão intermediária (meso) de análise dos limites da firma que os
cientistas sociais não têm conseguido enxergar, principalmente em função dos "vícios"
teóricos relativos à separação macro/micro das relações e conceitos empregados - e suas
decorrentes implicações na geração de dados e no direcionamento de políticas e controles
legais.
19
A respeito deste ponto, MACHLUP (1967, p. 11) propõe que a firma neoclássica não
precisa ser mais do que uma profit-maximizing reactor, e ainda com base em KRUPP (1963, apud
MACHLUP, ibid.) afirma: "In economic analysis, the business firm is a postulate in a web of
logical connections." Ou seja, não é necessário buscar definições realistas ou precisas. A questão é
simplificada por LANGLOIS e FOSS, N. (1997, p. 9-10): "using this sort of price theory [the
theory of the firm with which Coase was confronted in the 1930s] to explain the existence,
boundaries, or internal structure of the firm [...] can never be satisfactory; the theory simply isn't
designed to deal with those issues." Note-se que a visão neoclássica de Machlup continua com
defensores entusiastas, como HIRSHLEIFER (1988, apud MÉNARD, 1990, p. 7): "la firme est une
unité artificielle."
20
Issso parece deixar dúvidas sobre a afirmação feita por CHEUNG (1987a, p. 456) de que
Coase antipatizava com a idéia de "equilíbrio."
17
Embora essa seja a primeira obra a descrever a idéia, muitos outros textos que
vieram a seguir trouxeram sumários da TCT, sempre seguidos de refinamentos. Em "The
Economic Institutions of Capitalism," os custos de transação estão apresentados de ma-
neira mais abrangente, dentro do que se pretende em uma teoria da evolução e
funcionamento das instituições econômicas. Mais ainda, em seu artigo "Comparative
Economic Organization..." (de 1991) Williamson absorve a concepção de formas
"híbridas" de organização (já sugeridas em WILLIAMSON, 1987a) situadas entre
mercados e hierarquias. Além disso, talvez como forma de difundir ainda mais sua teoria,
Williamson apresenta em vários de seus artigos (1989, 1993 e 1995a, por exemplo) uma
introdução aos principais conceitos e relações da TCT.21 Em "The Mechanisms of
Governance" (de 1996), Williamson reúne 14 de seus artigos publicados na década que se
seguiu a "The Economic Institutions of Capitalism,"22 considerando consolidado seu
programa de pesquisas, deixando de apresentar a estrutura básica da TCT e aprofundando
o estudo combinado de economia, direito e organizações (WILLIAMSON, 1996a, p. 19).
21
É interessante também notar que a TCT já encontra lugar em livros-texto de organização
industrial para estudantes de graduação, como é o caso de CARLTON e PERLOFF (1994).
22
Com apenas uma exceção, que é nossa referência WILLIAMSON (1983), correspondente
ao capítulo 5 de "The Mechanisms of Governance."
18
interesse pela discussão de Frank KNIGHT (1921) e Ronald COASE (1937) sobre a
origem das firmas23 Em relação ao direito, confessa ter desejado tornar-se advogado, e não
economista, desde a high-school;24 embora ele tenha se graduado em administração
industrial (uma combinação de administração e engenharia), feito um MBA em Stanford, e
finalmente seu PhD. no Carnegie Institute of Technology, com pitadas interdisciplinares de
economia e administração, ainda assim, não relegou o antigo interesse: Williamson explica
ter sido profundamente influenciado pela leitura de Karl LLEWELLYN (1931), professor
de Direito da Universidade de Columbia, que discorre sobre a importância dos contratos na
sociedade moderna e sua capacidade de constituir uma estrutura básica para a interpretação
das relações entre indivíduos (entre si) e grupos (entre si e com indivíduos).25 Llewellyn
pode ser visto como responsável pela ponte feita por Williamson entre o direito e a
economia quando desenvolve a interpolação do "mundo dos contratos" (inspirado em
Llewellyn) com a visão de John COMMONS (1934), economista norte-americano (tido
como um dos pais do Institucionalismo), para quem as transações deveriam ser tomadas
como unidade básica de análise da organização econômica - por serem a instância em que
se faz plausível a tentativa de harmonizar interesses divergentes ou conflitantes de partes
que se relacionam. Ainda dentro do amplo espectro da economia, e a despeito da influência
de Knight e Coase, Williamson diz ter se concentrado no estudo das organizações
principalmente em função do contato com o livro "The Functions of the Executive", de
1938, de Chester Bernard - um executivo norte-americano que se dedicou a escrever sobre
o que fazia (e o que via fazerem) em sua função.26 A obra de Barnard, segundo
Williamson, parecia cobrir um vácuo deixado pela economia no que se refere à
importância das organizações, formais ou informais. Ou seja, a forma de organização dos
agentes produtivos é de extrema importância para o entendimento das atividades
econômicas, e o estudo das características peculiares de diferentes formas deve trazer
explicação para o sucesso ou falha das mesmas nos processos de ajustamento exigidos pelo
ambiente econômico.
23
WILLIAMSON (1985, p. 2-4).
24
WILLIAMSON (1996a, p. 350).
25
WILLIAMSON (1985, p. 4-5, e 1995b, p. 181).
26
WILLIAMSON (1985, p. 5-7). WILLIAMSON (1995c) é mais uma forma de vincular seu
envolvimento com o campo das organizações ao pensamento de Chester Barnard.
19
27
HODGSON (1993b, p. 81) localiza a origem do termo "custos de transação" nesse artigo
de Arrow. Como já comentado, um ano antes DEMSETZ (1968) já o havia empregado.
28
AZEVEDO (1996, p. 24-5) também sugere que tal definição ainda deixa de fora um
importante componente, embora Chester Barnard e Friedrich Hayek (dois autores bastante
considerados por Williamson) o tivessem evidenciado, qual seja, os custos derivados da maior ou
menor (ou ausência de) capacidade de adaptação às mudanças no ambiente econômico. Nas
palavras de AZEVEDO (idem, p. 25): "Uma definição completa de custos de transação necessita
incluir [...] os custos de adaptações ineficientes às mudanças do sistema econômico." Autores
ligados à Escola Austríaca, como Richard Langlois, Nicolai Foss e Paul Robertson, têm uma
definição semelhante deste componente citado por Azevedo, chamando-o de "custos dinâmicos de
20
transação". No entanto, usam-no para criticar a TCT (principalmente Williamson) por não adotá-lo
de forma categórica em seu corpo teórico (essa discussão será feita em nossa seção 4.1).
29
Apesar de tais esforços, HODGSON (1988, p. 200) ainda sinaliza para a falta de precisão
na definição do conceito: "Notably, in a large number of publications in the area of ‘transaction
cost economics’ since the mid-1970s, Williamson has failed to provide an adequate definition of
transaction costs themselves". E ainda mais (idem): "The failure to provide a definition of such a
crucial term is symptomatic of the lack of precision in much of Williamson’s work."
21
30
A despeito do tratamento "semântico" dado por NORTH (1993a) e AZEVEDO (1996) aos
termos, fazendo uma diferenciação entre custos de transformação e custos de transação, que
somados resultariam nos custos de produção, continuaremos utilizando a dicotomia entre custos de
22
a execução dos mesmos ficará a cargo de agentes empregados, e isso implica numa queda
dos incentivos para o cumprimento das tarefas assumidas, devendo a análise focalizar os
problemas da contratação manifestados principalmente pelo risco moral e pela seleção
adversa. Tais problemas podem ser superados se houver um alinhamento ou uma definição
ex ante dos benefícios cabíveis a cada parte envolvida, tornando conhecidos os níveis de
dedicação à execução das tarefas estabelecidas, e as penalidades e recompensas pelo
comportamento desviante.31 Esses grupos também têm em comum a idéia de que o
ordenamento judicial é a forma eficaz de resolução de conflitos que possam surgir.
Para Williamson, porém, não se pode garantir a partir das características ex ante da
contratação todos os eventos recorrentes ao longo da execução das transações. Isso se deve
tanto aos atributos comportamentais do homem (racionalidade limitada e oportunismo -
dos quais falaremos um pouco mais à frente) quanto aos atributos complexos das próprias
transações (especialmente a especificidade dos ativos), bem como à relação de tais fatores
com o ambiente em que operam (incerteza). Há, portanto, custos ex post na contratação, e
eles assumem diversas formas, tais quais: i) custos de má adaptação ao contrato estabe-
lecido; ii) custos de renegociação do contrato, em decorrência da má adaptação; iii) custos
de estabelecer e administrar uma estrutura de acompanhamento do contrato, bem como um
foro de resolução de disputas; e iv) custos de assegurar os compromissos assumidos.
produção e custos de transação, que serão sempre evidenciados quando somados como os custos
conjuntos das duas distintas tarefas.
31
Para uma visão diferente, vide Kirsten FOSS (1996, p. 537): a princípio, tais enfoques
reúnem-se na linha do nexo de contratos ou do measurement cost approach, que representam uma
tradição estática; por outro lado, Williamson e também Oliver Hart e Richard Langlois
representariam enfoques mais dinâmicos na literatura dos custos de transação.
32
Argumento que encontra reforço em NOORDERHAVEN (1992, p. 234), onde também se
critica a Teoria da Agência por sobrestimar a importância do sistema judicial.
23
Dessa argumentação segue que custos ex ante e ex post devem ser considerados
simultaneamente na realização dos contratos e somente diante de sua definição é que a
escolha da forma de organizar as transações, e por conseguinte a produção, se dará. A TCT
portanto envolve a ciência do contrato, que se preocupa com a busca não só da resolução
do conflito presente ou em marcha, mas também com o reconhecimento do conflito
potencial e assim tratar das instituições ou estruturas de gestão que o impeçam ou atenuem.
Williamson diz, porém, que a avaliação ou mensuração simultânea de custos ex ante e ex
post é tarefa praticamente impossível. Entretanto, não é preciso que sejam calculados seus
valores absolutos mas apenas que se possa, no momento de decisão, confrontar um modo
de contratação a outro (cada um caracterizado pela presença, em diferentes níveis, de cada
suposto comportamental) dentro dos arranjos institucionais existentes mantendo constantes
os custos de produção ou as tecnologias utilizadas, com vistas a definir a forma (eficiente)
esperada de organização (WILLIAMSON, 1985, p. 88).34 Isto caracteriza como estático-
comparativo o método de análise da TCT.35
33
Evidências da atuação do ordenamento privado em lugar do judicial podem ser vistas, por
exemplo, em CASELLA (1996), para o caso do comércio internacional. No artigo, o conceito pode
ser melhor entendido se o associarmos ao termo "antecipação", uma vez que o ordenamento
privado é uma espécie de jurisdição privada que não procura romper com a jurisdição pública, mas
adiantar-se e complementá-la em assuntos específicos da atividade econômica. Esta interpretação,
creio, pode ser utilizada com proveito para contextos diversos. Vide também FOLHA DE SÃO
PAULO (1996), sobre lei regulamentando arbitragem comercial no Brasil.
34
De qualquer maneira, "it is difficult for real historical agents to determine ex ante the
relative [transaction] costs as well as the relative efficiency of two or even more organizational and
24
A racionalidade limitada é uma condição descrita por Herbert Simon (citado por
WILLIAMSON, 1989, p. 139 - grifos no original) em que o homem tem um comporta-
mento "intendedly rational, but only limitedly so." Os agentes pretendem ser racionais, no
sentido maximizador, mas só conseguem sê-lo "parcialmente", posto que sua capacidade
cognitiva (com referência tanto ao seu conhecimento, às suas habilidades e à sua previdên-
regulatory solutions. Hodgson (1993a, p. 86) argues that considering the '...bounded rationality, it
is impossible for any entrepreneurial agent to perform the cost calculations to identify the lower
transaction costs... Both uncertainty and limited computational capacity prevent such an
assessment'." (MAGNUSSON e OTTOSSON, p. 355-6). Opinião semelhante é compartilhada por
FOSS, N. (1996a, p. 8): "This is quite credible [...] that agents choose governance structures [...]
that do provide mechanisms for adaptation to partially unanticipated contingencies. But it is quite
another thing, and much less credible, to say that agents are so rational that they can choose on an
ex ante basis the transaction cost minimizing governance structure. In fact, this runs directly
counter to the idea of bounded rationality."
35
WILLIAMSON (1979, p. 261, 1987a, p. 809 e 811, 1991a, dentre outros).
36
No contexto da TCT, WILLIAMSON (1989, p. 138) diz afastar-se do homo economicus
elaborado na tradição ortodoxa, identificando-o como contracting man, ou "homem contratual".
37
WILLIAMSON (1985, p. 44) reconhece ter sido infrutífero seu esforço em incluir a
dignidade como atributo do homem contratual. Segundo McGuinness (em CLARKE e
MCGUINNESS, 1990, p. 45, comentando sobre a TCT): "It [dignity] captures the idea that
humanity should be respected for its own sake, so that people should not be treated in organizations
solely as the means in an economizing process". Entretanto, McGuinness diz ser a dignidade um
dos conceitos menos desenvolvidos em “Markets and Hierarchies,” sugerindo que sua inclusão na
análise da firma merece atenção como forma de reduzir barreiras entre a economia e outros campos
no estudo do comportamento humano. De toda forma, Williamson sugere que além da dignidade, o
otimismo por vezes também afeta o comportamento dos agentes.
25
cia) e seu tempo para tomada de decisões são limitados.38 Sendo assim, as organizações
(firmas) são formas úteis de "unir" capacidades limitadas para levar a bom fim os propósi-
tos humanos. WILLIAMSON (1985, p. 45-7) faz referência a outras duas formas de
racionalidade consideradas na teoria econômica: i) uma forma forte, que corresponde à
racionalidade maximizadora utilizada pela teoria neoclássica; ii) e uma forma fraca, que
corresponde à racionalidade orgânica ou processual, utilizada pela Escola Austríaca e por
evolucionistas. A racionalidade limitada é considerada uma forma semi-forte, ou interme-
diária, e que vem sendo analisada sobretudo em duas instâncias pela teoria econômica,
quais sejam, nos processos de decisão e nas estruturas de gestão. A TCT está interessada
na e se ocupa principalmente com a segunda instância, enquanto, por exemplo, teorias
evolucionistas da firma têm se preocupado mais intensamente com a primeira.
38
Economistas Novo-Clássicos têm se aventurado a usar a idéia de racionalidade limitada,
muito embora sua aplicação possa ser inusitada. Vide o caso de Thomas SARGENT (1993, p. 3): "I
interpret a proposal to build models with 'boundedly rational' agents as a call to retreat from the
second piece of rational expectations (mutual consistency of perceptions) by expelling rational
agents from our model environments and replacing them with 'artificially intelligent' agents who
behave like econometricians. These 'econometricians' theorize, estimate, and adapt in attempting to
learn about probability distributions which, under rational expectations, they already know."
39
Para uma noção mais clara das diferenças entre informações limitadas e racionalidade
limitada, podemos, a exemplo de WILLIAMSON (1985, p. 46, nr. 6), citar NELSON e WINTER
(1982, p. 67): "There is similarly a fundamental difference between a situation in which the
decision maker is uncertain about the state of X and a situation in which the decision maker has not
26
NOORDERHAVEN (1992, p. 236 - grifo no original) sugere que "The individual utility
maximizer may be rechristened individual utility enhancer [...] as maximization - if
uncertainty and information costs are taken seriously - refers to an imaginary end-state,
while enhancement refers to the actual process of trying to reach that elusive end-state."40
given any thought to whether X matters or not, between a situation in which a prethought event
judged of low probability occurs and a situation in which something occurs that never has been
thought about, between judging an action unlikely to succeed and never thinking about an action.
The latter situations in each pair are not adequately modeled in terms of low probabilities. Rather,
they are not in the decision maker's considerations at all. [...] In short, the most complex models of
maximizing choice do not come to grips with the problem of bounded rationality. Only
metaphorically can a 'limited information' model be regarded as a model of decision with limited
cognitive capacities."
40
Para uma distinção bastante semelhante feita por um autor institucionalista, vide
SELZNICK (1992, apud SELZNICK, 1996, p. 272).
41
Pode-se, porém, identificar ocasiões em que a obediência não representa ausência de inte-
resse próprio. Quando SIMON (1991, p. 31-7) fala em contratos incompletos de trabalho, comenta
sobre uma "zona de aceitação" ou "indiferença" em que os agentes contratados aceitam cumprir
tarefas que não estejam indicadas no contrato. A falta ou presença de "obediência" pode significar a
diferença entre rompimento unilateral do contrato e uma promoção ou realinhamento de incentivos
em favor do agente obediente. Um pouco adiante, Simon se refere à docilidade do homem como
estratégia de sobrevivência ou mesmo de projeção social, categoria na qual podemos encontrar a
obediência ou a aceitação/cumprimento de objetivos com os quais não concorda como estratégia
oportunista. HODGSON (1988, p. 299) acrescenta: "obedience under threat may well be regarded
as self-interest".
42
Williamson se refere às economias socialistas (1985, p. 49), e comenta que um sistema
obediente é obtido com robôs, a custo social nulo. Isto parece trazer implícito o argumento no qual
o homem que "faz escolhas" suprime, por definição, a possibilidade de ser obediente a alguém.
Quando, por exemplo, um trabalhador assina um contrato, está na verdade escolhendo submeter-se
a ordens hierárquicas. Caso isso lhe desagrade em algum momento, ele tem a alternativa de
demitir seu chefe, o que quer dizer demitir-se. Tal interpretação pode dar margem a uma estranha
visão das relações humanas; um exemplo extremo de distorção desse gênero é dado por
HODGSON (1988, p. 151): "during the American Civil War, the Reverend Samuel Seabury (1861)
27
forte de busca do interesse próprio. Na presença de racionalidade limitada, tal busca não se
dá de forma límpida mas sim dando margem para que os agentes escondam informações ou
que as revelem de forma parcial ou distorcida, trapaceiem ou, em suma, ajam estrategi-
camente em seu exclusivo benefício. Recorrendo à definição original (WILLIAMSON,
1985, p. 47-8):
Vale notar que Herbert SIMON (1991), de quem Williamson adota o conceito de
racionalidade limitada, critica a adoção do oportunismo como base analítica do
comportamento humano. Para ele a lealdade é um traço muito mais forte dos indivíduos
dentro das organizações, que poderíamos identificar, por exemplo, no característico "vestir
a camisa" da empresa. E a lealdade faria com que indivíduos não só trabalhassem sem
intenções oportunistas, mas também se esforçassem em executar mais do que o estipulado
nos contratos.44 De modo geral, críticas à adoção do oportunismo pela TCT são
argued that there was an implicit contract between master and slave which devolved 'on the one
party the duty of care and protection, and on the other party the duty of service' (p. 139). This was
seen as 'a contract for life, which neither master nor slave can, as a general rule, escape' (p. 155).
Consequently, a slave attempting to escape would be in breach of his or her implicit contract. On
this basis, Seabury proceeded to argue that slavery was legally and morally justified."
43
O problema de assimetria (e custos) de informações é plenamente absorvido por
Williamson. Não há, porém, qualquer referência à possibilidade de os agentes terem acesso a todas
as informações, mas sim que podem agir sobre todas as que detêm, mesmo que de forma
incompleta ou dolosa.
44
AZEVEDO (1996, p. 41-2) argumenta que a crítica de Simon pode ser conciliada com a
TCT por dois caminhos. O primeiro envolve considerar que WILLIAMSON (1985, p. 65) não
generaliza o oportunismo como intrínseco à natureza humana. Ele apenas alega que alguns
indivíduos são oportunistas em alguns momentos. Sendo difícil saber ex ante quem o é e em que
situação o será, a mera possibilidade serve de alerta para todas as transações. Há problemas
metodológicos nesse caminho, como se fosse admitida uma natureza humana calcada em outras
características fortemente predominantes, mas a única relevante para a análise econômica fosse
uma ocasional e efêmera que não expressa uma categoria geral do comportamento humano. O
segundo caminho de conciliação, segundo Azevedo mais frutífero, envolve avaliar a ética como
28
Com tais supostos Williamson acredita descartar do espectro analítico dois tipos
extremos de contratos "hipotéticos", quais sejam, os de complexidade intratável e os de
simplicidade ingênua, e definir uma base de estudos que abrange os contratos factíveis
(feasible contracts). Esses contratos são, portanto, inerentemente incompletos em decor-
rência da racionalidade limitada, o que exige seu monitoramento ex post; além disso,
devem também ser vistos como promessas entre as partes, o que implica incorrer em custos
ex ante para verificação da credibilidade ou confiabilidade das demais partes nele
envolvidas. Sendo assim, os contratos devem conter salvaguardas ou precauções (que
podem ser vistas como práticas institucionais) para a presença e os efeitos negativos ou
contraproducentes de tais tipos de imprevistos.45 A recomendação é intensificada se as
transações estão sujeitas a alto grau de oportunismo, pois as partes poderão tirar ainda mais
proveito mútuo da transação atuando na presença de garantias ou salvaguardas. Em lugar
de responder oportunismo com oportunismo (como era sugerido por Maquiavel, citado por
WILLIAMSON, 1985, p. 48), os agentes podem oferecer um ao outro compromissos
confiáveis (credible commitments).46 Essa é uma forma de reciprocidade entre os agentes
transacionantes que, no entanto, merece cuidados pois ainda sustenta a hipótese de
instituição humana criada para "disciplinar o comportamento daqueles que exercem o jogo social,"
e que serve dentre outras coisas para restringir o comportamento oportunista. Agir eticamente,
portanto, preenche o espaço da categoria geral de análise, permitindo que o oportunismo esteja
sempre latente como fator relevante. Embora relevante para preencher tal lacuna, o argumento de
Azevedo não soluciona integralmente a questão de Simon: a ética parece ser capaz de levar o
indivíduo a cumprir seus contratos de forma íntegra, mas não parece explicar o porquê de ir além
dele (e.g., trabalhar mais horas e cumprir tarefas contratualmente fora de sua incumbência). Além
do mais, a lealdade sugerida por Simon parece um atributo também presente em (ou entre)
indivíduos que compartilham comportamentos aéticos, estando assim num nível distinto de análise.
45
Se considerarmos o argumento de Douglass NORTH (1993a, p. 8-13) de que cada
indivíduo vê o mundo sob as lentes de seu "exclusivo" modelo mental (e sendo estes divergentes
entre si), podemos entender que os agentes podem não concordar quanto à melhor forma de
resolução de problemas ex post à contratação, sem que haja qualquer intenção de dolo ou
comportamento oportunista. Ou seja, mesmo na ausência de oportunismo, não se pode esperar que
as transações sejam plenamente realizadas apenas seguindo-se regras com pronto aceite.
46
Aqui acreditamos estarem ausentes considerações sobre o poder dos agentes
transacionantes, que podem agir oportunisticamente e ao mesmo tempo estar protegidos de
respostas oportunistas, como talvez sejam os casos de transações com monopólios ou monopsônios
unilaterais, ou grandes firmas com influência política (característica esta explicitada e.g. em
PENROSE, 1987, p. 563).
29
Além dessas hipóteses, fica também claro que o "homem contratual" da TCT pre-
fere a eficiência ao desperdício, em função das pressões da competição.47 A propósito, a
competição é responsável pelo processo de seleção entre modos mais ou menos eficientes,
muito embora não o faça imediatamente, mas a médio prazo. Nesse aspecto, Williamson
admite a necessidade de desenvolver melhor uma teoria da seleção que esteja concatenada
à TCT.48 Na sua visão assumidamente incompleta, ele diz que um prazo de 5 a 10 anos tem
parecido capaz de selecionar (e descartar) instituições ou formas organizacionais não
eficientes (comparativamente) na economização. Conceptualmente, Williamson faz uso de
um argumento de H. Simon que, em nossa opinião, dispensa parcialmente o referencial
panglossiano usado inicialmente na economia por Armen ALCHIAN (1950), como suge-
rido por CHEUNG (1987b, p. 76), por HODGSON (1988, p. 141), e também DIETRICH
(1994, p. 127), mas notoriamente disseminado por Milton FRIEDMAN (1953),49 onde se
alega que as firmas hoje existentes são as que maximizam lucros, já que a seleção natural
47
Isso fica evidente ao longo de toda a obra de Williamson, mas é explicitada por ele com
uma citação de KNIGHT (1941 apud WILLIAMSON, 1985, p. 241): "men in general, and within
limits, wish to behave economically, to make their activities and their organization 'efficient' rather
than wasteful" (grifos de Williamson).
48
Para WINTER (1987b), Williamson - apesar de reunir elementos para uma "economia
generalizada" ou que ajude na elaboração de uma ciência social mais integrada - não desenvolve
explicitamente um arcabouço evolucionário, como poderia se esperar. No entanto, sua contribuição
teórica é "at least potentially adaptable to a general multi-level evolutionary scheme in which
patterns reproduced by a variety of mechanisms are subjected to selective pressure" (idem, p. 617).
49
Citado, dentre outros, por WINTER (1987a, p. 545), SEN (1987, p. 71), FREEMAN
(1994), HODGSON (1993a, p. 225), e ainda MAGNUSSON e OTTOSSON (1996, p. 356).
30
50
SEN (1987, p. 71) critica tal analogia biológica, utilizada em defesa da otimização indivi-
dual, em duas frentes: i) "It is by no means clear that individual self-interest-maximizers will
typically do relatively better in a group of people with diverse motivations. More importantly,
when it comes to comparisons of survival of different groups, it can easily be the case that groups
that emphasize values other than pure self-interest maximization might actually do better" (grifo no
original); e ii) "'enforce maximization' has many pitfalls, since the analogy with natural selection in
biology is at best tenuous [...] and the biological story itself is far from straightforward [...]."
51
Usando a expressão de HODGSON (1993b, p. 91).
52
PONDÉ (1996, p. 550) alega, no entanto, que "a concepção de que o papel da seleção é de
sancionar formas mais eficientes de modo não ambíguo - ao invés de ser também um mecanismo
criador das formas que acabam se mostrando de eficiência superior - ainda é bastante difundida,
como indica sua defesa em um artigo recente de Williamson (1993)." Para WILLIAMSON (1993),
após a identificação das regularidades comportamentais do agente econômico, a capacidade de
intervenção seletiva dos agentes - principalmente sobre decisões anteriores geradoras de
ineficiências remediáveis - acaba levando a uma melhoria da performance econômica. Pondé,
então, refere-se principalmente à falha de se considerar que a seleção pela eficiência seja infalível
quando a não-ergodicidade opera. Ou seja, pequenos eventos podem alterar o ambiente econômico
e tornar impossível a previsão (e portanto a escolha hoje) de uma forma institucional
comparativamente mais eficiente em termos de custos de transação. Para mais detalhes sobre o
caráter não otimizador geral dos processos de seleção bem como das características lamarckianas
nos processos sócio-econômicos de evolução, vide HODGSON (1993a). KAY (1993, p. 253, grifo
original) alega ainda que Williamson permeia toda a TCT com o processo darwinista de seleção
natural, mas não o aplica de forma consistente quando explica a evolução das formas unitárias
("U") para as multidivisionais ("M"): "To argue that the U-form 'defeats itself' through over-
expansion, resulting in system collapse and the M-form innovation to deal with crisis, is to reverse
natural selection. In natural selection it would be the superior M-form innovation that would
compete out the (inferior) U-form, rather than U-form collapse generating the M-form innovation.
Natural selection selects from what actually exists. It does not generate new forms but selects out
inferior forms as a consequence of competition from superior forms after the appearance of the
31
perfect as, or slightly more perfect than, the other inhabitants of the same country with
which it has to struggle for existance. [...] Natural selection will not produce absolute
perfection [...]" (DARWIN, 1859, p. 201-2, citado por ARCHIBALD, idem). Por exemplo,
não se pode afirmar que o time vencedor do campeonato capixaba de futebol deste ano
possa vencer o vice-campeão carioca, ou mesmo que, mantendo o plantel, possa repetir o
feito no ano seguinte.53 HODGSON (1993a, p. 226) resume o argumento da seguinte
forma: "Even if the 'selected' firms, routines or institutions were the 'fittest' then they
would be so in regard to a particular, economic, political, and cultural environment only;
they would not be the 'fittest' for all circumstances and times." Tal afirmação parece apenas
corroborar as palavras de Simon citadas por Williamson. Mas HODGSON (idem, p. 238,
nr. 5) insiste no problema dentro da TCT:
Isso, entretanto, pode ser usado em auxílio à idéia de Williamson, servindo como
justificativa do médio prazo necessário ao ciclo de seleção através da remediabilidade em
processos decisórios adaptativos às mudanças ambientais. Dá pouca margem, porém, para
latter, not before such appearance." Nesse caso, a análise de Williamson pode ser interpretada, na
verdade, como lamarckiana (p. 259).
53
A ilustração deve méritos ao Professor Ramón Fernández, a quem agradeço e peço
desculpas pela liberdade em adaptá-la regionalmente.
32
54
AZEVEDO (1996, p. 18) sugere que as expectativas de crescimento da demanda pelo bem
ou serviço transacionado também são relevantes e.g. no interesse de continuidade de uma relação,
com uma correlação positiva. Williamson, entretanto, não parece ter adotado tal dimensão como
uma categoria geral em seus trabalhos posteriores.
33
55
Vêmos aqui um tratamento afeiçoado ao que se costuma tratar por path dependence, onde
uma decisão em algum ponto do tempo pode definir uma trajetória de eventos prováveis,
concomitante ao efeito de lock in em que a saída de tal trajetória é de ampla forma traumática ou
mesmo inviável (em termos tecnológicos e/ou organizacionais), e também a uma visão não
ergódica do mundo, em que pequenos fatos como a absorção de conhecimentos técnicos ou
administrativos podem alterar um resultado esperado (a continuidade das licitações).
34
Quadro 1
Atributos do Processo de Contratação
56
Em conversa com alguns economistas pós-keynesianos da Universidade de Leeds, como
Giuseppe Fontana, Chris Torr e Stephen Dunn, tal convergência pareceu não ter tanta aceitação.
57
WILLIAMSON (1985 p. 57-8; e 1989, p. 143-4) diz absorver tais concepções de Tjalling
Koopmans.
35
58
Para uma visão diferente, onde a incerteza é coberta por contratos implícitos ("formaly
defined as a collection of schedules describing how the terms of employment for one person or
group of persons change in response to unexpected changes in the economic environment"), cf.
AZARIADIS (1987, p. 736); uma boa discussão também é feita por HART (1987).
36
nem com a discrição anônima dos mercados para mudar fornecedores ou clientes com
rapidez, mas opostamente depender da negociação entre hierarquias distintas. Embora um
alto grau de incerteza venha a ser prejudicial a todas as formas de organização, são as
híbridas as mais suscetíveis a seus efeitos negativos e tenderão a desaparecer, e a escolha
da forma organizacional, entre hierarquias ou mercados, dependerá principalmente do grau
de especificidade do ativo em questão.59 O argumento pode ser ilustrado através da Figura
1 (reproduzida de WILLIAMSON, 1991a, p. 292, nossa tradução).
59
Para maiores desenvolvimentos conceituais e analíticos das formas híbridas, vide
MÉNARD (1996b e 1997). Estudos de caso envolvendo as mesmas são apresentados em
GARRETE e QUELIN (1994), LINDENBERG (1996) e COEURDEROY e QUELIN (1997). Para
uma crítica à TCT na análise de relações inter-organizacionais, vide BOUVIER-PATRON (1993).
37
Para tratar do caso em que k > 0, as partes envolvidas procurarão proteção contra os
perigos subjacentes na forma de salvaguardas contratuais. As salvaguardas assumem
geralmente três formas principais (WILLIAMSON, 1985, p. 33-4): i) realinhamento de
incentivos (penalizações por quebra ou fim prematuro da transação); ii) criação e emprego
de uma estrutura de gestão comum para acompanhamento do contrato; e iii) busca de
regularidades nas trocas, que sinalizem a intenção de continuidade ou gerem reciprocidade
e confiança entre as partes. A ausência de salvaguardas é representada por s = 0, enquanto
a decisão de usá-las numa transação implica em s > 0.
60
Sendo tal contrato "sharp in by clear agreement; sharp out by clear performance", cf.
MACNEIL (1974, p. 738, apud WILLIAMSON, 1985, p. 32).
61
Para situações de especificidade dos ativos em que o contrato clássico não é o mais
apropriado, WILLIAMSON (1991, p. 271-6) considera alternativos: i) o contrato neoclássico, em
que há margem ou mecanismos para ajustes e adaptações, e até mesmo a possibilidade de quebra
do contrato (excuse doctrine), sem necessidade de recorrer aos tribunais oficiais, fazendo-o por
meio de arbitragem ou de códigos privados de conduta; e ii) a omissão (forbearance) ou contrato
implícito, em que a própria organização interna de uma firma determina regras ou exerce o papel de
tribunal, resolvendo os problemas pelo exercício da autoridade (fiat).
38
62
WILLIAMSON (1989, p. 147) apresenta este argumento dizendo que: "Inasmuch as price
and governance are linked, parties to a contract should not expect to have their cake (low price) and
eat it too (no safeguard)."
39
proteção por salvaguardas e, no caso de não adotá-las, a proteção pelo maior preço do
bem envolvido na transação.
Nessas propriedades ficam à mostra duas idéias subjacentes à estrutura da TCT (e,
por conseguinte, à toda a NEI), quais sejam: i) os mercados são, a princípio, a forma mais
eficaz de organizar a produção de bens não específicos e ii) as instituições servem (ou
devem servir) ao propósito da eficiência quando falhas de mercado, motivadas quer seja
pela tecnologia, incerteza ou particularidades da natureza da demanda - no caso da
freqüência -, afetam as transações. Com relação à freqüência, temos a dizer que é o
atributo para o qual Williamson rende menor ênfase, e talvez por isso seja o menos
polêmico, supondo apenas uma relação positiva entre a mesma e a internalização da
recorrente transação. Mas, retomando os propósitos das instituições, a superação dos
mercados pelas firmas não isenta, absolutamente, as hierarquias de imperfeições.63
63
WILLIAMSON (1987a, p. 811) alega que a análise das organizações ficou por muito
tempo obliterada em função das deficiências teóricas em responder "Why can't a large firm do
everything that a collection of small firms can do and more?", ou seja, em explicar as fontes das
falhas organizacionais. As complexidades de tal tarefa se explicam (idem): "assessing bureaucratic
failure is unavoidably a comparative institutional issue [...] [and] is an interdisciplinary issue.
Economists, however, rarely possess the requisite knowledge of internal organization to perform
these comparative assessments, while sociologists [...] are rarely interested in the comparative
analysis of differential efficiency."
40
As linhas tracejadas ilustram o caso em que uma (grande) firma tem vantagens de
escala, ou seja, menores custos de produção, mas maiores custos burocráticos. A curva DG
original sofreria uma rotação no sentido horário, partindo de um ponto mais elevado no
eixo dos custos, representada agora por DG'.65 Em função das economias de escala
atingidas pela firma, a curva DC recuaria em direção à origem dos eixos, indicando
menores custos de produção para a firma com um mesmo grau de especificidade dos ativos
64
Talvez aqui o argumento deixe-se levar apenas pela ótica das economias de escala, mas
não de escopo - em que uma empresa possa ter maior "familiaridade" com um equipamento ou
técnica de produção, por exemplo, que precise de um complemento a jusante ou a montante.
65
A prova deste tipo de deslocamento é apresentada em WILLIAMSON (1985, p. 94).
42
- fato descrito pela nova curva DC'. A nova curva DC' + DG' estará também mais próxima
da origem dos eixos e terá valores negativos para a diferença entre custos conjuntos da
organização hierárquica e organização pelo mercado a partir de k2, que está em níveis mais
baixos de especificidade de ativos que o ponto anterior k1. Isso significa que grandes
firmas, ao diagnosticar economias de escala na produção de bens com alguma
especificidade que normalmente compram no mercado, estarão mais tentadas à integração,
mesmo enfrentando maiores custos para organizar a transação internamente.66
Por fim, retornando ao caso geral, seria então vantajoso recorrer ao mercado, na
ótica dos custos de organização das transações e na obtenção de economias de escala,
quando houvesse um grau de especificidade dos ativos k* << k1, enquanto organizar inter-
namente uma transação seria vantajoso quando k* >> k1. Os sinais duplos indicam a saída
do intervalo de indiferença estabelecido na vizinhança do ponto k* em função da
racionalidade limitada dos agentes.
66
WILLIAMSON (1985, p. 95) afirma também que, geralmente, as firmas organizadas sob a
forma M (multidivisional) tendem a ser mais integradas que as organizadas sob a forma U
(unidivisional), pois conseguem eliminar distorções burocráticas que estas últimas mantém, e
também por permitirem maior e melhor fluxo de informações (interno) do que é possível ser
conseguido por um agente externo no mercado de capitais (vide também HUGHES, 1987, p. 575).
43
Acreditamos que essa rude apresentação da "lógica" evolucionista esteja longe dos
refinamentos possuídos pelo leitor, mas pode ainda assim, a princípio, permitir que o
direcionamento de suas críticas à TCT seja melhor situado.
67
A Professora Vanessa Petrelli, numa ocasião em que o projeto desta pesquisa foi posto à
prova, também percebeu e sugeriu esse mesmo desafio, mas entendeu que ele envolvia esforços
mais que hercúleos diante dos contingenciais limites de um Mestrado.
68
Numa discussão da analogia biológica, que lhes é peculiar, as espécies são representadas
economicamente por firmas ou por técnicas (cf. NOOTEBOOM, 1992, p. 286-287), assim como os
genes são identificados pelas rotinas utilizadas pelas firmas ou pelas tarefas que compõem cada
técnica, cf. NELSON e WINTER (1982) e MAGNUSSON e OTTOSSON (1996). Em junção,
podemos transcrever HODGSON (1988, p. 208): "As Thorstein Veblen perceived long ago, and
Richard Nelson and Sidney Winter (1982) have argued more recently, the firm has an ability to
store and reproduce a large number of gene-like habits and routines".
45
De certa forma, aos olhos evolucionistas a TCT parece conter avanços relevantes -
se comparada à análise neoclássica tradicional - na composição de uma teoria das firmas;
no entanto, ainda lhe falta superar um caráter estático. A literatura evolucionista a que
tivemos acesso mostrou-se bastante receptiva e disposta a incorporar preocupações e
argumentações da TCT em sua agenda de pesquisas.69 A aliança porém não viria sem
atritos.70
Essa principal crítica pode ser expressa de forma sintética pelas palavras de Bart
NOOTEBOOM (1992, p. 281):
Também David Teece deixa claro que "In order to fully develop its capabilities,
transaction cost economics must be joined with a theory of knowledge and production"
(1990, p. 59, apud FOSS, N., 1996b, p. 9).
69
Do ponto de vista williamsoniano, poder-se-ía dizer que as preocupações e argumentações
evolucionistas são passíveis de incorporação pela TCT, já que para WILLIAMSON (1985, p. xii)
"transaction cost arguments are often best used in conjunction with, rather than to the exclusion of,
other ways of examining the same phenomena." No entanto, se se acredita que não há interseção
dos domínios de aplicação entre a TCT e a(s) abordagem(ns) evolucionista(s) da firma, elas passam
então a concorrer diretamente (cf. FOSS, N., 1996c, p. 13 e 1996b, p. 12). Há, porém, em tal
interpretação margens tanto para considerações de complementaridade quanto de excludibilidade,
como mencionaremos mais à frente nesta seção e nas conclusões, como sugerem WINTER (1993,
p. 189-193) e GROENEWEGEN e VROMEN (1996).
70
Talvez seja válido criar um aparato institucional que dê chance a esta transação... Sem o
abuso do jogo de palavras, é o que se encontra sugerido em DOSI et al. (1994, apud BERGERON,
1996, p. 152 - aliás, com a plena concordância deste, cf. p. 134).
71
O mesmo argumento é apresentado em NOOTEBOOM (1996, p. 329).
46
72
Parece haver por parte de Pondé uma certa empatia por interpretar a noção de incerteza
adotada por Williamson como aquela derivada (literalmente) de Knight, ou de alguma forma
próxima àquela derivada de G. Shackle (muito simpática à visão pós-keynesiana). Nesse sentido
certamente caminharia uma interpretação heterodoxa de Williamson, na tentativa de visualizar
contribuições da TCT que se afastem do mainstream neoclássico. Embora NORTH (1993a) adote
um conceito mais amplo de incerteza, que engloba a impossibilidade de se definir uma distribuição
de probabilidades e, assim, mais próximo das interpretações heterodoxas de incerteza,
WILLIAMSON (1991a, p. 291, reproduzido sem alterações em WILLIAMSON, 1996a, p. 116)
parece, no entanto, ater-se ainda ao risco (lembrando novamente a importante dicotomia herdada de
Knight): "Greater uncertainty could take either of two forms. One is that the probability
distribution of disturbances remains unchanged but that more numerous disturbances occur. A
second is that disturbances become more consequential (due, for example, to an increase in the
variance)". Essa interpretação de Williamson é expressa por AZEVEDO (1996), sendo também
comum a autores pós-keynesianos, como para Stephen DUNN (1998), Gary Slater e Mahmood
Messkoub (em contato pessoal). Autores neoclássicos normalmente não fazem qualquer referência
ao assunto, ao que parece por consentimento, o que engrossa as fileiras da leitura ortodoxa da TCT.
A dubiedade de Williamson, no entanto, permanece. Ao explicar seu conceito de incerteza
comportamental, WILLIAMSON (1985, p. 58) cita Ludwig von Mises (1949 - grifo de
Williamson): "any reference to frequency is inappropriate, as our statements always deal with
unique events". Na mesma página (nota de rodapé 17), cita também o próprio Shackle (1961, p.
55): "in a great multitude and diversity of matters the individual has no record of sufficient number
of sufficiently similar acts, of his own or other people's, to be able to construct a valid frequency
table of the outcomes of acts of this kind. Regarding these acts, probabilities are not available to
him"; e ainda Georgescu-Roegen (1971, p. 83): "a measure for all uncertainty situations ... has
absolutely no meaning, for it can be obtained only by an intentionally mutilated representation of
reality". À margem das diferentes nuances das definições citadas, há em comum a impossibilidade
de formar distribuições de probabilidade (e, assim, de "calcular riscos"), o que entra em conflito
com o uso do conceito feito em seu artigo de 1991, como citado acima.
73
PONDÉ (1996, p. 538) afirma que: "A consciência de que - abandonada a maximização e
o equilíbrio - o desempenho do mercado só pode ser explicado a partir da análise de condicionantes
'estruturais' que os modelos neoclássicos não oferecem é compartilhada por seguidores de
diferentes correntes - pós-keynesianos, 'velhos' institucionalistas, 'novos' institucionalistas,
evolucionistas e neo-austríacos". Seu esforço, como já sugerido, caminha para uma tentativa de
síntese entre a TCT e a teoria evolucionista da firma, incorporando contribuições de outras
correntes heterodoxas - o que em parte espelha um certo esforço contido nesta dissertação, como já
comentado.
47
(1995) chamou de "cheia do mainstream" (cf. PONDÉ, 1996, p. 539).74 No entanto, seria
necessário incluir um aspecto dinâmico à TCT, que abrangesse a evolução de formas ou
arranjos institucionais que são gerados no intuito de reduzir os custos de transação.75 Isto
pode ser melhor expresso nas palavras do próprio autor (PONDÉ, 1993a, p. 64 - grifo no
original): "as opções quanto às maneiras de organizar as atividades econômicas não
existem enquanto possibilidades dadas que devem ser descobertas e avaliadas pelos
agentes econômicos, mas precisam ser inventadas no bojo de um processo de inovação
cuja natureza e determinantes podem ser melhor compreendidos a partir da Teoria dos
Custos de Transação".
74
Tal posição suscita controvérsias: GROENEWEGEN e VROMEN (1996, p. 367), por
exemplo, admitem que "Williamson and others can thus be said to have expanded the domain of
'standard' or 'conventional' approach". Entretanto, em seguida argumentam que (p. 368): "Certainly,
TCE [Transaction Cost Economics] follows the neoclassical program in being methodologically
individualistic and stressing economizing behavior, but with respect to the type of rationality,
opportunistic behavior, and relationships with the complex, uncertain environment, TCE clearly
departs from neoclassical orthodoxy. The impression exists that Oliver Williamson wants to stay
close to the neoclassical approach in order to save 'rigorous analysis', but realizes very well that
orthodoxy is not equipped to explain economic governance structures". A interpretação de Pondé, e
também a de Groenewegen e Vromen, parecem estar inseridas no que FERNÁNDEZ (1996a, p.
159) identifica como uma tentativa da heterodoxia em evidenciar aspectos teóricos comuns entre as
correntes críticas ao mainstream neoclássico. Conquanto a TCT contenha elementos "estranhos" ao
mainstream, estará tanto à mercê de tal interpretação quanto das que sugerem uma unificação ou
complementaridade com a teoria neoclássica.
75
Ou que procurasse explicar a evolução de estruturas institucionais mais eficazes na
acumulação de competências (cf. FOSS, N., 1996c, p. 15).
48
Críticas de natureza semelhante são feitas por autores evolucionistas mais próximos
a Friedrich Hayek e à Escola Austríaca (como Richard Langlois, Nicolai Foss e Paul
Robertson), a partir do que chamam de competence-based ou capabilities approach da
firma (cf. FOSS, N., 1996b,c).77 Sua preocupação está centrada nos processos de
construção, aquisição, combinação, utilização, transmissão e proteção das competências
das instituições produtivas - em particular, as firmas. Tais competências são descritas
como "the rules - the routines - that agents follow within an organization [that] embody
(often tacit) knowledge that is useful for action. This knowledge constitutes the capabilities
of the firm" (LANGLOIS, 1994a, p. 5 - grifo no original) 78. Deve-se atentar, porém, para
o fato das rotinas serem a representação do que a firma realmente faz, enquanto as
competências - além de as englobarem - significam também o que a firma poderia fazer
com a realocação dos recursos que utiliza (cf. LANGLOIS e ROBERTSON, 1995, p. 16).
76
HODGSON (1996, p. 253) afirma inclusive que "The very act of learning means that not
all information is possessed and global rationality is ruled out. [...] The phenomenon of learning is
antagonistic to the concepts of rational optimization and equilibrium".
77
É possível encontrar outras designações para essa linha do pensamento econômico, como
neo-austríacos ou pós-marshallianos.
78
Para LANGLOIS (1994b, p. 9 - grifo no original): "The meaning of the term capabilities is
ambiguous in the literature, often seeming synonymous with competence but sometimes also
seeming to refer to higher-level routines, that is, to the organization's ability to apply its existing
competences and create new ones (Teece, Pisano, and Shuen 1992)."
49
79
Ou seja, separar "produção" de "gestão", fazendo recair a atenção desta última sobre as
trocas - make or buy decisons (cf. FOSS, N., 1996b, p. 17 e 1996c, p. 14; e também LANGLOIS e
FOSS, N., 1997, p. 5).
80
Neste ponto, citamos também DIETRICH (1994, p. 5 - grifo nosso): "the development of a
dynamic analysis of the firm must be based on governance structure benefits as well as costs". As
argumentações de Dietrich serão consideradas com mais detalhes na próxima seção.
50
81
Para uma abrangente explicação da dicotomia entre custos de produção e transação, e sua
influência negativa sobre a qualidade da análise dos limites da firma, vide LANGLOIS e FOSS, N.
(1997, p. 9-10).
82
Vale imaginarmos adicionalmente que a racionalidade limitada é característica tanto de
gestores quanto de trabalhadores de chão-de-fábrica. Esse ponto também é levantado por
MARGINSON (1993, p. 138): "Only employers are faced by a problem of bounded rationality".
Mesmo DEMSETZ (1988, p. 176, nr. 4 - grifos no original) realça que "'bounded rationality' is not
used to emphasize the differences in the content of the information that may be possessed by the
personnel and traditions of different firms".
83
Sidney WINTER (1982, p.89, apud HODGSON 1993b, p. 89) alega que "even if the
contents of the organizational memory are stored only in the form of memory traces in the
memories of individual members, it is still an organizational knowledge in the sense that the
fragment stored by each individual member is not fully meaningful or effective except in the
context provided by the fragments stored by other members". A exemplo de Winter, HODGSON
(1993a, p. 232) alega que "the capabilities of an organization such as a firm are not generally
reducible to the capabilities of individual members". Em HODGSON (1993b, p. 89) podemos
complementar o argumento: "because organizational knowledge is tacit knowledge, no individual
can express it in a codified form. The knowledge becomes manifest only through the interactive
practice of the members of the group". Hodgson também comenta que a adoção de tal premissa por
autores ligados à Escola Austríaca (como N. Foss e Langlois) representa um afastamento
interessante do individualismo metodológico defendido pela mesma, e notoriamente por Hayek.
84
LANGLOIS e FOSS, N. (1997, p. 19) reforçam o argumento com o conhecido caso da
máquina de lâmpadas descrito por Michael Polanyi, ou seja, possuir a mesma tecnologia e os
mesmos "manuais" do concorrente não resulta em custos idênticos de produção. É interessante
notar que Williamson utiliza o mesmo exemplo de Polanyi para justificar que "Idiosyncratic
investments in human capital are in many ways more interesting and less obvious than are those in
physical capital" (1979, p. 242); cita também um caso descrito por Charles Babbage em que
manufaturas inglesas continuavam a vender seus produtos para seus tradicionais comerciantes
alemães através de pedidos escritos a mão e sem assinatura (e receber os devidos pagamentos) em
períodos de guerra, nos quais tal comércio era proibido e severamente penalizado. Isto para, por
51
educating potential licensees and franchisees, of teaching suppliers what it is one needs
from them, etc. become very real factors behind firms choosing their efficient boundaries"
85
(FOSS, N., 1996c, p. 15) . A propósito, LANGLOIS e ROBERTSON (1995, p. 18 -
grifos no original) alertam para a necessidade de considerarmos de forma mais nítida o que
a firma pode tentar fazer a respeito de seu futuro, ou melhor, admitir uma distinção das
surpresas do tempo à la Knight:
Because of uncertainty, markets, where they exist, may function imperfectly, and
those firms that cope best with uncertain conditions will be in the best position to
implement their strategies. In this context, however, uncertainty has two separate
meanings that need to be distinguished. The first, which we can call structural
uncertainty, arises when a firm needs to base its decision on judgements about
future outcomes that are as yet unknowable. The second type of uncertainty, which
we term parametric uncertainty, arises from the possibility of a range of market
imperfections including bounded rationality and opportunism. Whereas it is
possible to adopt strategies to insure against parametric uncertainty, or at least to
mitigate its effects, structural uncertainty cannot be eliminated strategically.86
fim, afirmar que "understanding and trust [...] are valued human assets which, once developed, will
be sacrificed with reluctance" (idem, p. 244).
85
O escopo das competências pode categorizar em "similares" (ou "complementares") ou, ao
contrário, "díspares" as atividades contextualizadas numa dada situação de escolha dos limites da
firma e sugere que atividades similares ou complementares próximas podem ser melhor dirigidas
sob uma gestão unificada, cf. RICHARDSON (1972, citado por FOSS, N., 1996c, p. 15) e também
FOSS, N. (1996a, p. 16).
86
A questão voltará a ser comentada na seção seguinte, mas desde já podemos levantar um
ponto fundamentado na noção de incerteza radical: como seria possível aos agentes, no nível do
processo decisório que precede e acompanha toda transação, distinguir os fatos imprevisíveis
daqueles que não lhes são sequer conhecidos?
87
Vale apresentar a opinião de DUGGER (1993, p. 196): "[...] routine is a powerful
transaction cost economizer".
52
14). Quando tais competências não estão ainda formadas nos mercados ou não podem ser
constituídas a baixos custos,88 um controle organizacional centralizado - em
firmas/hierarquias - parece ter maior habilidade em redirecionar ou reformular as rotinas já
existentes em prol de uma certa oportunidade empresarial. Contudo, não se pode deixar de
considerar que a concentração da coordenação de novas competências sob relações hierár-
quicas envolve dois importantes obstáculos (LANGLOIS, 1994a, p. 6): "(1) the
recalcitrance of asset-holders whose capital would have creatively to be destroyed [...]
[and] (2) the 'dynamic' transaction costs of informing and persuading new input-holders
whose capabilities are necessary to the success of the innovation". Sendo assim, o processo
schumpeteriano de destruição criadora existente no ambiente competitivo pode implicar
reconfigurações de competências em ambos os sentidos: de antigas competências pulveri-
zadas no mercado para novas competências coordenadas de forma centralizada ou vice-
versa (LANGLOIS e FOSS, N., 1997, p. 21). Por extensão do raciocínio, a existência da
firma se explica em sua capacidade de coordenar competências. Nas palavras de FOSS, N.
(1996c, p. 2): "firms exist because they can more efficiently coordinate collective learning
processes than market organization is able to."89
88
Uma vez que seja bastante provável a propriedade difusa ou não coincidente, por um lado,
da parte a ser "destruída" e, por outro, da parte a ser "criada".
89
HODGSON (1988, p. 209) ainda acrescenta que esse ambiente competitivo é
potencialmente corrosivo para hábitos e rotinas que mantêm e transmitem capacitações e/ou
competências produtivas, "and the existence of the firm can in part be explained by its ability to
protect and sustain these routines within its institutional framework".
53
firma.90 Ou ainda: "the ability to transact (and therefore the cost of transacting) is itself a
capability" (LANGLOIS e FOSS, N., idem, p. 18, referindo-se a WINTER, 1988).
Apelando para a prolixidade (útil, esperamos), tal idéia parece encontrar suporte relevante
também na afirmação de GROENEWEGEN (1996, p. 1 - nosso grifo): "The general
strategy out of which TCE [transaction cost economics] works can be summarized as
follows: After having characterized the transaction, the potential governance structures are
discussed in terms of transaction cost minimizing capabilities."91
90
É interessante observar a opinião de JACOBY (1990, p. 324), para quem devemos ter o
cuidado de não superestimar tal fato. Isso se justifica por termos neste século uma organização do
trabalho muito mais homogênea em códigos e procedimentos, relativos principalmente à
racionalização e a controles burocráticos (tanto da produção quanto de sua coordenação), que no
século passado, quando as idiossincrasias a serem absorvidas estavam muito mais relacionadas, por
exemplo, às características pessoais dos proprietários.
91
Para formulações mais amplas das complementaridades entre as idéias evolucionistas e o
contractual approach da firma, como definido mais à frente em nossa nota de rodapé 108, vide
FOSS, N. (1996b, p. 10-1), pois para o mesmo "contractual theories may help us better understand
the organization and accumulation of capabilities (cf. Milgrom & Roberts, 1992). This is a clear
complementarity between the two theories. But the complementarity is potentially double-sided -
for the notion of the firm as a bundle of capabilities may influence propositions from contractual
theories of economic organization, too". Comentários nos mesmos moldes são feitos por
LANGLOIS e FOSS, N. (1997, p. 26-9).
92
NOOTEBOOM (1993, p. 448) constrói uma série de qualificações em que dependências
em algum grau assimétricas são desenvolvidas a partir de diferentes especificidades numa relação
entre agentes - onde a especificidade pode estar no produto transacionado ou nos procedimentos de
transação de um produto. Vários aspectos dessas idéias estão presentes nos estudos de casos feitos
posteriormente por NOORDERHAVEN; NOOTEBOOM e BERGER (1996).
54
A essa altura, cabem algumas considerações mais diretas à TCT, buscando alguma
evidência de sua preocupação com os temas críticos deste tópico. Segundo FOSS, N.
(1996b, p. 9), Williamson parece finalmente reconhecer a necessidade de complementar a
noção da firma como entidade contratual com a de um conjunto de competências quando
rescreve a hipótese de eficiência que guia as instituições econômicas: "Align transactions,
which differ in their costs and competences in a discriminating (mainly, transaction cost
economizing) way" (WILLIAMSON, 1991a, p. 79 apud FOSS, N., ibid. - grifos de N.
Foss). Mesmo antes, todavia, Williamson, ao sintetizar o campo de análise da organização
das transações em três perguntas exploratórias, apresenta uma delas como segue: "what are
the costs and competences of alternative modes of organization for managing
transactions?" (1987a, p. 810 - nosso grifo). Se não nos custa ir um pouco mais longe no
tempo, podemos ver que WILLIAMSON (1985, p. 18 - nosso grifo) faz menção a alguma
forma de competência das instituições ao delimitar os objetivos da organização econômica:
"Transaction cost are economized by assigning transactions (which differ in their
attributes) to governance structures (the adaptive capacities and associated costs of which
differ) in a discriminating way". Antes ainda, ao explicar as vantagens da hierarquia sobre
uma relação bilateral, WILLIAMSON (1979, p. 253 - nosso grifo) afirma que:
"Obligational contracting (bilateral structures, where the autonomy of the parties is
maintained) is supplanted by the more comprehensive adaptive capability afforded by
administration". Para que possamos julgar de forma mais conveniente tal trajetória de
mudanças, tentamos localizar o ponto de partida da hipótese. Temos, então,
WILLIAMSON (1975, p. 21), ao explicar o foco de análise sobre o estudo das falhas
organizacionais, afirmando que o mesmo se situa em: "namely, the assignment of
economic activity to firm and market in such a way as to economize on transaction costs
[...]", sentença esta que não apresenta sequer a referência à capacidade de adaptação que
apareceria nas passagens dos trabalhos mais recentes. A idéia parece realmente ter
incorporado a sofisticação sugerida por N. Foss, embora precise ganhar o caráter de
imprescindível e ter suas implicações desenvolvidas no modelo.
55
while transaction cost considerations undoubtedly explain why firms come into
existence, once most production is carried out within firms and most transactions
are firm-firm transactions and not factor-factor transactions, the level of
transactions cost will be greatly reduced and the dominant factor determining the
institutional structure of production will in general no longer be transaction costs
but the relative costs of different firms in organizing particular activities.93
93
Nesse sentido, principalmente, recai a defesa da complementaridade entre enfoques
evolucionistas e a TCT feita por LANGLOIS e FOSS, N. (1997, p. 31).
94
Alguns dos casos citados referem-se, e.g. aos estudos de "distritos industriais" ou da
"especialização flexível" feitos por PIORE e SABEL (1983, apud NOOTEBOOM, 1992, p. 283), e
à indústria automobilística alemã, estudada por SEMLINGER (1991, apud idem).
95
Alega-se muitas vezes que o progresso técnico é um elemento - de extrema importância -
negligenciado por Williamson; mas há a preocupação de outros autores, como David Teece, no
56
porém, acaba levando LANGLOIS e ROBERTSON (1995, p. 30) a afirmarem que a TCT é
uma teoria de curto prazo, capaz apenas de dar respostas a mudanças institucionais em
situações momentâneas (comentários a respeito desse ponto serão feitos mais à frente nesta
seção). Se o que se deseja é incluir na análise a passagem do tempo, é preciso incluir
aspectos de conhecimento e aprendizado. Através destes, no longo prazo,96 os custos de
transação passarão a ser irrelevantes, na medida em que atue uma tendência para as
atividades, inclusive a de transacionar, se tornarem crescentemente rotinas ou para o
conhecimento contido nas competências da firma acabarem se disseminando ou sendo de
alguma outra forma replicado. Nesse caso, os limites da firma serão determinados inteira-
mente pelas competências relativas entre a mesma e os mercados, ou mais precisamente
pelos custos dinâmicos de transação.97 O argumento pode ser sumariado no Quadro 2
(reproduzido de LANGLOIS e ROBERTSON, 1995, p. 42).
sentido de conjugá-lo com o marco teórico da TCT (cf. PONDÉ, 1996, p. 547). Podemos, no
entanto, simplesmente imaginar que ambientes de alto potencial inovativo não fazem parte do que
Williamson se propôs explicar, apesar das generalizações dos títulos das obras de sua "trilogia".
96
Sendo o longo prazo definido não no tempo operacional em que todos os fatores de
produção se tornam variáveis, mas como "the asymptotic end-state of a process of learning"
(LANGLOIS e ROBERTSON, 1995, p. 33). Etapas sucessivas de aprendizado indicam, então,
seqüências de curtos termos.
97
DUNN (1998, p. 5) corrobora a crítica. Nesse ponto, é interessante anotar uma das críticas
pós-keynesianas à TCT: os custos de transação são um fenômeno de curto prazo, vigorando para
esse intervalo a capacidade explanatória (parcial) da TCT. Para Stephen Dunn, Williamson tem
uma visão ergódica da natureza e seus fenômenos, cuja linha condutora é a eficiência, em função
da adoção do princípio darwinista da seleção natural. Sendo assim, com o desenrolar dos eventos
será possível aos agentes aprender sobre as distribuições objetivas de probabilidade que descrevem
o ambiente ergódico, diminuindo a surpresa potencial (no caso, Williamson na verdade estaria se
referindo ao risco knightiano, e não à incerteza) e construindo contratos mais eficientes com
utilização crescente dos mercados (como prevê a TCT para ambientes com incerteza reduzida). Ou
seja, para Dunn (p. 6), "Williamson's argument has to be one of 'in the beginning there were
markets' and then there were firms (in the short run) and then there were markets (in the long run)."
57
Quadro 2
Efeitos da Difusão do Aprendizado Sobre os Limites da Firma
98
A respeito das inovações em geral, mas focalizando aquelas radicais com maior atenção,
HODGSON (1988, p. 212) interroga a TCT sobre seu princípio decisório para as formas
organizacionais mais eficientes: "The development of future technology is so riddled with radical
uncertainty that no comprehensive future markets of this type could exist. We are then entitled to
ask what transaction costs are being saved by not using such a non-existent market? In general, this
alternative opportunity is absent. There are thus no opportunities foregone, and therefore there is no
saving on costs". SAWYER (1993, p. 30), em suporte a Hodgson, ainda afirma: "In the presence of
uncertainty and bounded rationality, future markets may not exist [...]".
58
principalmente, 1991a) pode ser vista como uma absorção de críticas de tal natureza.99
Porém, não absorve ainda a problemática do aprendizado e das competências.
99
LINDENBERG (1996, p. 188) argumenta que a construção teórica das formas híbridas
tem alimentado o que chamou de cocktail approach, em que, sem a falta de demarcações precisas,
análises são feitas com bases post hoc. Isto pode colocar a TCT numa situação que Karl Popper
chamaria de "não falseabilidade". Para uma elaboração de dimensões analíticas na caracterização
de redes de firmas, vide ROBERTSON e LANGLOIS (1995).
59
ativos para um fornecedor prevaleça uma relação bilateral,100 e não uma hierárquica
(integração vertical), como a mais eficiente em termos de custos conjuntos de produção,
transação e aprendizado.101
100
NOORDERHAVEN; NOOTEBOOM e BERGER (1996), em seu estudo de caso,
encontraram uma relação negativa entre dependência percebida pelo fornecedor com relação ao seu
cliente e especificidade física de ativos (possuída pelo primeiro), demonstrando a fragilidade de
uma relação bilateral na presença de um tipo de especificidade de ativo. Isto porque associam maior
dependência sentida pelo fornecedor com a busca (de sua parte) por uma estrutura de gestão que
proporcione maiores salvaguardas - o que não se mostrou efetivo para os casos estudados.
101
Isso porque a verticalização, se comparada à cooperação, pode reduzir os custos de
transação mas reduzir ou aumentar os custos de aprendizado: "Learning costs rise because supply
units will be less motivated to learn. They decline because what is learned by the supply unit is
easier being transfered to the purchasing unit" (BEIJE, 1996, p. 315).
102
Ou ainda "rendas de longa duração", geradas por vantagens competitivas sustentadas,
como sugere FOSS, N. (1996c, p. 8).
103
De um modo geral, DIETRICH (1994, p. 177) acaba afirmando que para a abordagem
neo-schumpeteriana a "Orthodox transaction cost reasoning with its economising behaviour is only
relevant within a given techo-economic paradigm when general organisational and technological
characteristics are not subject to systemic change". No entanto, adverte que a própria visão neo-
schumpeteriana incorre em um determinismo tecnológico que atrapalha a análise da influência
sócio-institucional na configuração das mudanças tecno-econômicas, evidenciando exclusivamente
o inverso.
60
Pondé entretanto adverte sobre o perigo da natureza de tal crítica, pois pode
significar "jogar fora a criança com a água do banho". Ou seja: "ao criticar as noções
neoclássicas de eficiência alocativa e otimização [pode-se] fechar o espaço necessário para
desenvolver uma teoria schumpeteriana da concorrência, que exige uma análise de como as
firmas buscam elevar seus lucros aumentando sua eficiência capitalista" (PONDÉ, 1996, p.
540). Podemos também acabar incorrendo na não distinção de um curto e de um longo
prazo analíticos, ou seja, ignorarmos que para chegar no longo prazo (tempo real ou
operacional) é preciso deparar-se com várias decisões eminentemente de curto prazo. Em
suma, o que se alerta é para que não superestimemos as lacunas da TCT, cobrando o que
ela não se propôs explicar, e não façamos das análises de eficiência alocativa ou de curto
prazo um elemento desprezível nas decisões empresariais em detrimento da eficiência
dinâmica, de maior identificação com o longo prazo.
para a firma.104 Ou seja, "in the same way as physical productive capacity (machines) the
human resource acquires a specific character through a process: it must be shaped before it
can be utilised in new forms" (AMENDOLA e GAFFARD, idem, p. 630).105 A teoria da
firma deveria voltar-se para os motivos da cooperação (ou ausência dela) entre e intra-
firmas, que tornam viáveis os processos de mudança, e não preocupar-se com os limites
entre firmas e mercados - como sugere a tradição coaseana.
104
O termo usado por AMENDOLA e GAFFARD (1994, p. 630) não significa excesso
físico ou numérico, mas expressa a necessidade de uma flexibilidade ativa que consiste em
capacidade ou competência para criar e usar novas e diferentes opções ou combinações de fatores,
e implica afirmar que a atuação (produção e/ou capacidade produtiva) de uma firma em dado
momento no tempo é construída sempre sobre a utilização parcial de pelo menos um de seus fatores
(o trabalho, neste caso). Tal argumento parece estar fortemente ancorado em Edith PENROSE
(1959, apud LANGLOIS e ROBERTSON, 1995, p. 14; vide também ROBERTSON e
LANGLOIS, 1994, p. 365), para quem as firmas têm tendência a adquirir recursos em excesso:
primeiro, por questões de indivisibilidade destes; e, segundo, por questões de aprendizado e
adaptação dos recursos humanos ao longo do tempo em atividade na firma, pois absorvem e
aplicam mais (e mais apropriados) conhecimentos e informações oriundos tanto do ambiente
externo quanto do próprio ambiente interno da organização.
105
Mas se há capacidade humana em excesso, como argumentam, pode não ser estritamente
necessário que a mão-de-obra precise ser moldada a novas tarefas se estas exigem competências
ainda não exploradas, mas existentes. O argumento pode ainda estar generalizando e/ou
superestimando a exigência de qualificações numa situação de alto nível de desemprego e, assim,
invertendo a causalidade: há desemprego porque muitos trabalhadores não têm qualificação e nem
todos querem arcar com os custos de qualificá-los, enquanto pode-se dizer que há cada vez menos
postos de trabalho (por algum outro motivo qualquer) e os que existem podem preferencialmente
ser ocupados por trabalhadores com, por exemplo, mais qualificação formal ou escolar.
106
Ou mais precisamente pelo contractual approach, que reúne a TCT, a teoria da agência
de Holmstron, a teoria do nexo de contratos de Alchian, Demsetz e Cheung, e a abordagem dos
contratos incompletos de Grossman e Hart, de acordo com FOSS, N. (1996c, p. 4). Tal tratamento
conjunto, no entanto, concorre com PONDÉ (1993a,b e 1994, anteriormente nesta seção), já que
62
este acredita ser a adoção da incerteza e da racionalidade limitada um diferencial da TCT com
relação à teoria da agência e do nexo de contratos.
107
Mais sobre o assunto pode ser encontrado em FOSS, N. e CHRISTENSEN (1996).
108
Preocupação semelhante é levantada por FREEMAN (1994, p. 471) ao comentar que
muitos estudos de economistas neo-schumpeterianos vêm enfatizando o papel da confiança nas
relações entre firmas em rede (e.g. NOORDERHAVEN, 1992) - embora negligenciem, como
também o faz a TCT, os papéis do poder e do medo nessas mesmas relações. A questão chega a
causar imensa objeção por parte de alguns estudiosos no campo da administração de empresas;
DONALDSON (1995, p. 166) chega a dizer que: "a more accurate title for the two theories of
agency and transaction cost theory, in regard to their theories of organizational management, might
be the theory of managerial delinquency". Isso porque alega ser a centralidade do oportunismo uma
condenação axiomática da natureza humana (principalmente dos gestores), exógena à toda e
qualquer estrutura organizacional, enquanto deveríamos enxergar que o comportamento e a
motivação dos agentes econômicos são em uma parte determinados pela própria estrutura
organizacional com a qual trabalham - portanto, endógenos -, e em outra por contingências
estruturais. Ou seja, o oportunismo é apenas um tipo de comportamento dentre vários outros, e.g. a
confiança e a subseqüente cooperação. Sendo assim, "The best approach lies in the continued
construction of contingency theories in which a variety of behaviours and structures are seen as
appropriate depending on the situation" (idem, p. 201). WILLIAMSON (1985, p. 406) apenas não
se onera: "operationalizing trust has proved inordinately difficult. A noncalculative orientation may
help to unpack the issues. Organization theorists would appear to be well suited to the task."
109
Mais diretamente, pode-se perguntar como é possível associar e.g. espionagem industrial,
apropriação espúria ou uso de patentes alheias e conflitos trabalhistas com estratégias empresariais
cooperativas bem sucedidas?
63
110
Ou as idiossincrasias bi(multi)laterais.
111
No sentido de NOOTEBOOM (1996, p. 330) em que a decisão em questão é racional
pois, antes de mais nada, contribui para a sobrevivência do tomador.
64
i.e. definirem os limites da firma. Para consolidar tal crítica, vale observar que FREEMAN
(1994, p. 473) exemplifica estudos de caso sobre indústrias norte-americanas em que a
subcontratação de serviços de P&D se tornou bastante comum (rotineira e com baixos
custos de transação): mesmo em tais condições, raramente as atividades de P&D (grandes
geradoras de aprendizado e competências) são completamente contratadas de terceiros,
mas apresentam-se como complementares às atividades mantidas dentro das firmas.
Dosi, para exemplificar, formula o que chama de um toy model, onde uma organi-
zação pode ser descrita por cinco dimensões: i) a distribuição formal de autoridade; ii) a
distribuição real de poder, em função da distribuição formal de autoridade alcançada;113 iii)
a estrutura de incentivos; iv) a estrutura de fluxos de informações; e v) a distribuição de
conhecimentos e competências. Mesmo que uma dessas dimensões prepondere sobre o
processo de seleção, não será difícil encontrar alinhamentos imperfeitos na correlação com
112
Ponto esse também defendido por HODGSON (1996, p. 262) e DIETRICH (1993, p.
184).
113
Questões críticas sobre a ausência de considerações de poder na TCT são mais fortemente
formuladas por outras correntes do pensamento econômico, como poderemos ver na próxima
seção. No entanto, além de DOSI (1995), observamos que NOORDERHAVEN (1992, p. 230)
também faz referência a tal problema: "transaction cost theory, although ostensibly discussing
hierarchical organization, can perhaps be typified most adequately as a theory of internal and
external markets and market failures, because the nature of hierarchy is scarcely explored in this
literature [...]".
65
as demais dimensões. Isso quer dizer que, mesmo dentro das organizações "mais aptas" ou
"mais eficientes" em tal aspecto ou dimensão primordial, serão encontradas dimensões
sub-ótimas, e ainda mais: entre elas encontraremos variedades multidimensionais.114 Ou
como expresso por PONDÉ (1996, p. 549): "a manifestação [de] assimetrias em efetivas
pressões seletivas é mediada por diversos elementos que caracterizam o ambiente em que
as empresas operam". Segundo ainda HODGSON (1993a, p. 233): "An evolutionary
theoretical framework with multiple levels of selection provides an alternative to the
prominent reductionism of modern economics." Sobre isto, DOSI (1995, p. 10) comenta,
por fim, que: "one starts having a co-evolutionary picture whereby the changes of
particular organizational traits - say, those impinging upon the forms of transaction
governance - are shaped and constrained by other organizational characteristics related, for
example, to the reproduction of power within the organization or to its past strategic
commitments."
114
HODGSON (1993b, p. 96, citando Julio ROTEMBERG, 1991), ainda sugere que "under
certain conditions the internal organization of the firm may be suboptimal, even if the firm is profit
maximizing. This also challenges the view that the reason for the existence of the firm is its
capacity to reduce transaction costs."
115
Uma dificuldade metodológica aparece, entretanto, para que se estude a lógica dos e os
próprios limites da firma quando ela mesma é a unidade de análise. Para uma melhor discussão do
problema, vide LANGLOIS e FOSS, N. (1997, principalmente sua seção III.B).
66
como fatores determinantes das decisões de internalização das transações e, portanto, dos
limites entre firmas e mercados (podendo inclusive abarcar aqueles elementos priorizados
pela TCT). Em suas palavras (CHANDLER, 1992, p. 490):
the organizational skills developed in one function often gave the firm a
competitive advantage in a related product market. The move into new markets
based on competitive advantage in one function required the building of
complementary facilities and skills, and, in turn, trained managers in the ways of
seeking out and capturing market opportunities.[...] Thus in analyzing the continued
development of existing industries and the building of new ones, the firm would
seem to be a more promising unit of analysis than the transaction, and the concept
of the organizational capabilities that permit it to remain competitive, and therefore
profitable, in national and international markets more pertinent than those of
bounded rationality and opportunism.
De um modo geral, a questão do aprendizado parece ter espaço para absorção pela
TCT a partir do conceito da "transformação fundamental" (WILLIAMSON, 1985, p. 61; e
1987a, p. 810). Isso porque o estabelecimento de uma relação contratual com um determi-
67
De uma forma geral, reunimos nesta seção autores simpáticos a uma interdiscipli-
naridade um tanto peculiar no estudo dos fenômenos sociais, e em especial dos fatos
econômicos. Tal miscibilidade envolve primordialmente a economia e a política, embora
seja também recorrente à sociologia, por exemplo. Essa característica deve muito de sua
origem à herança teórica dos economistas clássicos, e em seu veio mais crítico à ordem
econômica vigente, fundamenta-se principalmente nas obras de Karl Marx - cuja centrali-
dade reside em explicar a dinâmica sócio-econômica a partir da luta de classes (capitalistas
versus trabalhadores). Não buscamos aqui, no entanto, uma definição estrita de Economia
Política - se é que isso é possível.116 O termo é usado de forma muito comum para designar
estudos cujas bases ou preocupações teóricas repousam nas obras de economistas
clássicos, como Smith, Ricardo, Malthus e Stuart Mill, dentre outros, mas sobretudo Marx.
Apesar disso, é possível perceber que não se confinam a tal espaço, e um exemplo de sua
abrangência está nas idéias apresentadas nesta seção, que têm pitadas keynesianas,
institucionalistas (old) e neo-schumpeterianas.
116
Tal impressão de impossibilidade não é apenas pessoal, tendo sido detectada também em
conversas com alguns economistas integrantes da Sociedade Brasileira de Economia Política.
68
117
Assumem explicitamente o vínculo com o pensamento marxista dentro da Economia
Política, por exemplo, DIETRICH (1993, p. 168, e 1994, p. 7), MARGINSON (1993, p. 148) e
PITELIS (1993b, p. 8, e 1993c, p. 271). A propósito, Christos Pitelis e Michael Dietrich foram
consultados "pessoalmente" por e-mail sobre a legitimidade de sua inclusão nesta seção e
manifestaram aquiescência; Dietrich ressaltou ainda estar trabalhando atualmente num grupo de
pesquisa em Economia Política e considera o título bastante apropriado por permitir flexibilidade
entre campos teóricos distintos na economia (incluindo o regulacionista francês e o neo-
schumpeteriano) e também interdisciplinaridade. MARGLIN (1974), embora não o assuma
explicitamente, é certamente o autor com maior influência marxista dentre os autores aqui
estudados. Outra especificidade de Marglin é que seu artigo precede as principais obras de
Williamson, e sua referência aos custos de transação se resume a uma curta nota de rodapé (a de
número 46) comentando o artigo de Coase de 1937; no entanto, o artigo de Marglin é
freqüentemente lembrado pelos demais (principais) autores desta seção em suas publicações pós-
1974.
69
permanece na TCT como herança de Coase, enquanto os dois seguintes foram criação do
próprio Williamson.
Para a primeira das críticas, tanto DIETRICH (1994, p. 17) quanto PITELIS
(1993a, p. 18-9) e SAWYER (1993, p. 33) citam o argumento de FOURIE (1989, apud
DIETRICH, dentre os demais) que os mercados nada produzem - são apenas o locus das
trocas de mercadorias e serviços anteriormente produzidos de alguma forma coordenada,
ou seja, que a troca (ou consumo) de bens pressupõe a sua produção.118 Isso significa dizer
que as firmas não podem vir suprimir os mercados, mas que os mercados só existem graças
às firmas e, portanto, não é lógico afirmar que é sempre possível à firma desverticalizar-se
e recorrer ao mercado, como sugeriu COASE (1937) e assim a análise estático-
comparativa torna-se falha por construção.119
118
CHESNAIS (1996, apud WALSH, 1996, p. 519) critica a TCT de forma semelhante, ou
seja, por ignorar a firma como a instituição central para a criação e transformação dos recursos - e
não apenas alocação - e, por conseguinte, tratá-la como uma "mera" alternativa ao mercado. Crítica
semelhante vem de LAZONICK (1991, p. 169, apud SAMUELS, 1995, p. 580, que, a propósito,
considera Lazonick um autor com bastante autonomia teórica, mas com viés institucionalista): "The
history of twentieth-century capitalist development shows ... that as a dynamic process firms create
markets, not vice-versa. By definition, Coase's approach casts the firm as a passive player that
arises out of 'market failure' rather than 'organizational success.'"
119
Em adição, pode-se imaginar a existência de recursos que somente uma firma, ao crescer,
é capaz de produzir, como por exemplo a capacitação e a experiência de seu pessoal, as vantagens
de mercado auferidas por boa reputação e, enfim, a capacidade organizacional para formular e
implementar estratégias de utilização de tais recursos (cf. PENROSE, 1987, p. 563).
70
Dietrich (1991) argues that the 'transaction benefits' of each governance structure
must be taken into account as well as the 'costs'. While this point is valid, it points
to another ambiguity in the definition of transaction costs. The term could be
defined net (by deducting transaction benefits from costs), or gross (exclusive of
transaction benefits). Clearly, the net definition of transaction costs is the one that
is relevant to the Coase-Williamson theory of the firm.121
120
FOURIE (1993) ao longo de seu artigo, também faz várias referências ao descuido da
TCT para com a instância da produção, quer na forma explícita dos seus custos, quer na dinâmica
operacional que neles resulta. MÉNARD (1996, p. 166, nota de rodapé 5 - grifo no original) contra
argumenta: "it seem to me a deep misunderstanding of transaction cost economics to argue, as in
Fourie (1993), that this approach ignores production costs. True, this aspect has not been high on
our research agenda so far; most of the attention has been focused on the trade-off between 'make'
or 'buy', because this was crucial to legitimize, among economists, the necessity of considering
alternatives to markets. However, both Williamson and Coase have been very explicit on the
importance in the research program of transaction cost economics of understanding 'the factors
which govern what a firm does and how it does it' (Coase, 1991)". DEMSETZ (1988, p. 176, nota
de rodapé 4) também ameniza a crítica: "It would be wrong to claim that he [Williamson] has
completely ignored production cost"; no entanto, ainda adverte (p. 164): "Although information is
treated as being coslty for transaction or management control purposes, it is implicitly presumed to
be free for production purposes. What one firm can produce, another can produce equally well, so
the make-or-buy decision is not allowed to turn on differences in production cost". O próprio
WILLIAMSON (1996a, p. 8, nr. 3) comenta: "firms are not concerned with transaction costs to the
exclusion of revenues and production costs."
121
O artigo de Dietrich a que Hodgson se refere é "Firms, markets, and transaction cost
economics", publicado no Scottish Journal of Political Economy, volume 38, n. 1.
71
Para PITELIS (1996, p. 273), "In the beginning, there was probably nothing. If the
emergence of the human race, as we know it, is our starting point, then in the beginning,
there was a 'family', or self-sufficiency. This is the starting point, the state of nature". A
partir daí, a primeira coisa a ser analisada, então, é a produção e não a troca, e a primeira
pergunta a ser feita é "por que produzir para a troca se há custos para efetuá-la, e não para
consumo próprio?" (PITELIS, 1993c, p. 271). A resposta de tal pergunta já teria sido
exaustivamente construída por economistas clássicos, como Adam Smith e Karl Marx,
qual seja a apropriação de benefícios (aumento de produtividade e do produto total) obti-
dos através da especialização e da divisão do trabalho (PITELIS, 1994, p. 117-8).122 Isso
explicaria não só a origem das firmas (inclusive as individuais, oriundas da especialização
concomitante à divisão do trabalho), mas também dos próprios mercados - que, a
propósito, são entidades inseparáveis ou necessariamente complementares.123 Nas palavras
do próprio PITELIS (1993c, p. 272):
exchange, the market, the unitary firm and the Coasean firm (the multi-person
hierarchy) can all be explained in terms of the benefits from the division of labour.
The transition from single producers exchanging in markets to the employment
relation (historically putting-out first, factory system afterwards), has been because
of their efficiency properties (in terms of transaction and/or production costs) in
allowing a better exploitation of (the division of) labour (and for the case of the
factory system possible benefits from team work).
122
Em SHAPIRO (1991, p. 50) também encontramos referência ao incentivo do lucro para
que a produção se dirigisse para a troca no mercado, em lugar da produção para auto-suficiência, e
que isso tem permitido à economia capitalista ser muito mais dinâmica (em termos de promoção de
avanços tecnológicos) do que se poderia imaginar sem tal direcionamento O artigo de Shapiro pode
ser visto como uma explicação da natureza da firma na busca do lucro pela atividade inovadora -
facilitada pelos benefícios alavancados na cooperação obtida com as relações de trabalho, ou
employment contract, que a firma incorpora -, pressionada sempre pela competição. Embora seu
escopo de trabalho não coincida com o da TCT, Shapiro refere-se a vários de seus elementos para
explicar o processo inovativo. Alguns exemplos disso podem ser mencionados, como a elevada
especificidade do ativo "inovação" como produto e, em geral, dos processos e qualificações
(tecnológicas e humanas) que a produzem, e ainda a total impossibilidade de se estabelecer
contratos completos para organizar sua execução, aproximando firmas diferentes com a criação de
canais de comunicação e coordenação do aprendizado (caso que Williamson trataria por relações
híbridas) ou internalizando as atividades de pesquisa e desenvolvimento. Por fim Shapiro
acrescenta que, para a atividade central da dinâmica capitalista - em função de suas características -
, a hierarquia (embora não necessariamente a grande firma, como sugerido por Schumpeter) tem se
mostrado o locus ideal.
123
PITELIS (1993c, p. 263). Ou como ainda afirmam COWLING e SUGDEN (1993, p. 70):
"It [market versus hierarchies] is a false dichotomy".
72
124
O trecho citado por Fourie é de NORTH (1981, p. 41, apud FOURIE, 1993, p. 46).
125
"Although there is no consensus on exactly what a firm is, the management of some
production (and/or distribution) process appears - both intuitively and in most textbook definitions
of the firm - to be central to the nature of the firm" (FOURIE, 1993, p. 42, grifo no original).
126
Hodgson, no entanto, defende a posição de Coase e Williamson por interpretar a
concepção de firma dos mesmos como uma entidade que abrange múltiplos agentes numa relação
hierárquica; Fourie e Dietrich, ao contrário, enxergam o produtor self-employed como uma firma, o
que não acontece com aqueles. Isso leva HODGSON (1993b, p. 80 - grifo no original) a afirmar:
"Hence it is quite reasonable for Coase to advance the proposition that the market is an alternative
way of organizing production to the firm. At least two alternatives are possible: there can be a
community of self-employed producers organized by the market, or there can be a capitalist firm
organizing the same segment of productive activity through an employment relationship". FOURIE
(1993, p. 43) reconhece a defesa: "Hodgson [...] argues that one must assume that Coase has in
mind what Marx calls 'the capitalist firm', i.e. a firm in which the capitalist owners own the product
of the property, and hire and control labour power under a contract of employment. According to
Hodgson, this definition of a (capitalist) firm would exclude the one-person firm. That would seem
to protect Coase against the criticism voiced above". FOURIE (idem, p. 62), no entanto, insiste no
73
COASE (1991, p. 64) acaba por reconhecer o problema de sua definição da firma
com base exclusivamente na relação de emprego (e, portanto, multipessoal)127: "I consider
that one of the main weaknesses of my article stems from the use of the employer-
employee relationship as the archetype of the firm", conquanto tal preocupação oblitera a
análise da "main activity of a firm, running a business" (idem, p. 65).128 No entanto, as
implicações que resultariam de tal revisão não são desenvolvidas.
argumento da firma individual e ainda estende a critica a Coase e Williamson por não qualificarem
uma parceria multipessoal, onde não há uma relação empregatícia, como uma firma capitalista.
127
A relação de emprego como essência da firma também é questionada por PITELIS (1996,
p. 274): "Authority and fiat may exist in a family which operates as a production unit (firm?), but
this would not be a Coasean firm, as the latter presupposed an 'employment contract' [...]".
128
Interessante notar que a autocrítica de Coase é percebida por PITELIS (1993c, p. 267),
mas não por FOURIE (1993 - na mesma obra) - justamente quem mais insiste na relevância da
lacuna deixada pelo primeiro.
74
129
Para os propósitos da discussão, podemos distinguir duas instâncias de poder: aquela de
exercício externo à firma, no sentido tradicional de concorrência imperfeita (i.e. poder de mercado),
e aquela de exercício interno à firma, ou literalmente o poder exercido na organização hierárquica.
É possível perceber que alguns autores confinam-se a uma ou outra instância em particular, mas as
críticas à TCT englobam ambas. Em decorrência disso, é por vezes necessário discutir em
separado cada uma das dimensões analíticas do poder, como delineadas acima. Por exemplo,
autores ligados à Economia Política utilizam bastante a segunda instância, principalmente com base
na argumentação de S. MARGLIN (1974).
75
estranha de Williamson para o caso da indústria de aço norte-americana: "Given [...] the
large efficiency gains that Stone reports the efficiency hypothesis or a combined
efficiency-power hypothesis cannot be rejected! (WILLIAMSON, 1985, p. 236, apud
PITELIS, 1996, p. 277 - grifo e exclamação de Pitelis). Por isso PITELIS (idem)
questiona: "can we distinguish between authority (the sine qua non of the Coasean firm)
and power (which Coase and Williamson reject)? One answer could be that market power
is acceptable, but not Marglinian-type power."131
Among the ways in which the term power is used are the following: the power of
capital over labor (Bowles and Gintis, 1993); strategic power exercised by
established firms in relation to extant and prospective rivals (Shapiro, 1989);
special interest power over the political process (Moed, 1990a); and resource
dependency. Although all are relevant to economic organization, the last is
distinctive to organization theory.
Isso porque considera difuso o conceito de poder, afirmando (idem): "Unable to define
power, some specialists report that they know it when they see it. That has led others to
conclude that power is a 'disappointing concept. It tends to become a tautological label for
the unexplained variance' (March, 1988, p. 6)". Ainda mais (1996b, p. 23): "Most
discussions of power never identify the critical dimensions which power differentials
work. Instead, it becomes an exercise in ex post rationalization: power is ascribed to that
party which, after the fact, appears to enjoy the advantage."132
130
Dietrich não faz referência à transformação fundamental como passível de
compatibilidade com a situação sugerida, como anteriormente cogitado neste trabalho.
131
Vide nossa nota de rodapé 131.
132
É uma sombria coincidência que JOSKOW (1991, p. 81) aponte justamente para críticas
aos trabalhos empíricos que vêm sendo feitos utilizando e, mais importante, alegando ratificarem o
instrumental da TCT: ao se concentrarem em casos particulares de organizações ou de contratos
76
sociologia há trabalhos caminhando em tal direção. Pitelis não deixa de lembrar que em
1977, Stanley Fischer criticava a TCT justamente por não apresentar operacionalização.133
Com alguma ironia, Pitelis afirma que a perspectiva do poder precisa urgentemente de um
Williamson para operacionalizar seus conceitos.
Vale ainda notar que Gregory DOW (1987, p. 27) chama atenção para os efeitos
dos custos de transação sobre a estrutura dos mercados, argumentando que a mera existên-
cia de tais custos leva a posições diferenciadas de poder entre os agentes participantes. Isso
porque algumas das manifestações ex ante dos custos de transação são justamente os
custos de descoberta dos preços relevantes e dos potenciais parceiros comerciais, e da
negociação de contratos, dentre outros. Se tais custos de transação ex ante são
significativamente grandes, podem então limitar severamente o número de parceiros
potenciais ou avaliáveis, criando uma situação de small number que discrimina agentes
num suposto processo de licitação, criando poder de mercado para os mesmos. A
conseqüência lógica dessa visão é exposta em seguida (p. 28): "To put it a bit
paradoxically: the mere existence of positive transaction costs may suffice to prevent
transaction cost minimization."
Mas para PITELIS (1993a, p. 20) e também para DIETRICH (1993, p. 181), em
concordância com Marglin, a passagem do sistema de putting-out para o fabril foi
motivado pelo desejo dos principais (capitalistas) aumentarem seus lucros pelos ganhos de
produtividade e também pela redução do oportunismo dos empregados,136 como
apresentamos há pouco. No entanto, a relação de emprego que surgiu levou ao
desaparecimento da "oportunidade dos empregados serem oportunistas,"137 ou seja, tal
oportunidade só restava ao empregador - gerando uma situação de exercício do poder.138
Mais ainda, MARGLIN (1974, p. 35) diz que o interesse dos capitalistas em tal momento
era fazer com que as únicas "opções" restantes ao trabalhador fossem ou trabalhar para eles
em suas fábricas, ou não trabalhar.
available methods at their disposal to do so, namely, reduce transaction costs and increase their
power over markets, labor, etc., if they can get away with it, and for as long as they can. Not to do
so will simply defy self-interested behavior (let alone opportunistic behavior), the very basis of
Williamson-type analysis. [...] Efficiency can lead to market power, which may be used to further
monopoly-type power, as one would expect! [...] [E]fficiency and (market) power are inseparable,
part of a dialectical process [...]" (idem, p. 283).
135
KŒNIG (1993) adverte que tal explicação de Williamson, tanto como qualquer outra que
detenha a mesma característica, será sempre contestável pelo simples fato de ser mono-causal.
136
A propósito, MAGNUSSON e OTTOSSON (1996, p. 354) argumentam que, em termos
de redução nos custos de transação, uma alternativa viável ao putting-out seria uma organização da
produção ainda mais descentralizada, formada por produtores independentes ainda mais atomizados
(petty), e não o surgimento de fábricas.
137
Nas palavras de DIETRICH (1993, p. 181): "the factory shifted the basis of the
information asymmetry between workers and entrepreneurs-capitalists in favour of the latter, thus
facilitating the extraction of a latent surplus [...]".
138
Se Williamson então persiste com seu motivo "eficiência", DOW (1987, p. 34) impõe um
desafio: "One must [...] explain why [...] curbs on subordinate opportunism do or do not offset the
newly opened possibilities for opportunism by superior authorities".
78
to the extent that the increase in output is secured through employers' ability to
extract more labour effort from a given workforce, then labour input has increased
as well. Thus while costs may have been minimized and profits increased, the
efficiency implications of strengthening authority relation are indeterminate - both
outputs and inputs have increased.
cional (ou de Pareto), mas estaria em acordo com o exercício de poder. Se assim o foi,
"both costs and benefits of resource allocation will have increased with the shift from
putting-out to factory, but the latter to a greater extent than the former. [...] Transaction
cost reasoning, by itself, is only relevant to the ex post situation when the embezzlement
problem (the previously stolen materials) has been removed" (ibid.).139
Não obstante, vale notar que Dietrich, na maior parte de seu trabalho, parece
preocupar-se com o uso do poder principalmente numa instância de troca, ou seja, poder
monopólico nas relações entre firmas (DIETRICH, 1993, p. 184, e 1994, p. 42).140 Já
WILLIAMSON (1994) parece voltar-se para as instâncias de produção e distribuição ao
rechaçar o conhecido argumento de ALCHIAN e DEMSETZ (1972)141 pelo qual as
relações dentro de uma hierarquia não são diferentes daquelas presentes no mercado.
Williamson afirma (p. 325): "The argument that the firm 'has no power of fiat, no
authority, no disciplinary action any different in the slightest degree from ordinary market
contracting' (A. Alchian and H. Demsetz, 1972, p. 777) is exactly wrong: firms can and do
exercise fiat that markets cannot."142 Isso, entretanto, não exime Williamson das críticas
quanto à desconsideração do poder em qualquer instância por motivos "operacionais."
139
Vale também apresentar o que diz MARGLIN (1974, p. 29 - grifo no original):
"discipline and supervision could and did reduce costs without being technologicaly superior." Isso
é obtido da seguinte forma (p. 36): "Disciplining the work force meant a larger output in return for
a greater input of labour, not more output for the same input. Supervising - insofar as it meant
something different from disciplining - the work force simply reduced the real wage; an end to
embezzlement and like deceits changed the division of the pie in favour of capitalist".
140
Embora não seja sinônimo de relações de autoridade, hierarquia ou influência, e sim, no
aspecto econômico, uma certa habilidade de um indivíduo ou grupo em dirigir recursos de uma
certa forma, mesmo diante de interesses contrários ou mesmo oposição de outros (DIETRICH,
1994, p. 184).
141
"Telling an employee to type this letter rather than to file that document is like my telling
a grocer to sell me this brand of tuna rather than that brand of bread" (ALCHIAN e DEMSETZ,
1972, p. 777).
142
Neste ponto é interessante notar que HODGSON (1988, p. 199) vê em tal afirmação um
avanço da TCT com relação à idéia do nexo de contratos: "One reason why the work of Oliver
Williamson and his followers is superior do that of Alchian and Demsetz is that a distinction
between market and non-market institutions is firmly upheld. Instead of the firm being, in essence,
a market, there is a 'creative tension' between markets and hierarchic organizations such as the
capitalist firm [...]. The employment relation is said to be different from the grocer-consumer
relation because employees have unique personal skills which are not completely known in
advance".
80
intrafirm contract [...] is different from commercial contract [...]. It arises from the
distinction between employment and commercial contracts. Only employment
contracts legally obligate suppliers (employees) to be loyal to purchasers (firms).
[...] One may surmise that there is some legal obligation of the seller (employee)
not to violate (within limits) the loyalty towards the buyer (employer) - but not vice
versa.
143
MARGINSON (1993, p. 159-160), no entanto, alerta para o fato de muitos economistas
estarem focalizando apenas o componente de coerção do exercício do poder. Para ele, "Regard
needs to be paid to the limits on the exercise of coercion to secure worker effort, and to the
importance of normative factors. More broadly, the role of non-coercive means of maintaining
power, including socialization and legitimation, requires attention."
144
Qualificações específicas estas que estreitam as qualificações gerais exigidas no mercado
de trabalho, criando uma relação de dependência bilateral e, portanto, desencorajam a saída do
trabalhador da firma. MÉNARD (1996a, p. 159) exemplifica: "in a firm, an employee may be
extremely well qualified, but easily replaceable; conversely, another employee may have low
qualifications but be extremely specific because of some kow-how gained through his or her
81
Diante de tal contra argumento que maiores benefícios pecuniários bastariam para
explicar tal "venda" de assimetria do poder, PITELIS (1994, p. 42), MCGUINNESS (1990,
p. 58) e MARGLIN (1974, p. 39) levantam a questão: seria isso o bastante para incorporar
custos e benefícios "psicológicos" de uma situação de completa dependência?146 Suas
respostas se dão claramente na negativa. Dessa forma, quanto ao poder nas relações
hierárquicas, PITELIS (1996, p. 276) lamenta não haver evidência histórica para a
abordagem da eficiência do contrato de trabalho de Williamson; ao contrário, evidências
activity within the organization." E, neste último caso, "it would be extremely difficult for the
holder of this asset to trade this specific know-how on the labor market."
145
MARGINSON (1993, p. 143-4) contesta Williamson de forma ainda mais veemente ao
tentar demonstrar que o poder de barganha dos trabalhadores não depende apenas de qualificações
específicas à firma, mas também de sua organização (principalmente em sindicatos, mas não
necessariamente) e de sua mobilização: "Firm-specific skills are neither necessary nor sufficient for
bargaining power to exist".
146
Pergunta esta, aliás, que COASE (1937, p. 390) parece responder de forma discordante ao
dizer: "it would rather seem that the opposite tendency is operating if one judges from the stress
normally laid on the advantage of 'being one's own master' ".
82
147
O artigo de MARGLIN (1974), a propósito, preocupa-se justamente em reunir
evidências, principalmente, da superação do sistema de putting-out pelo fabril apoiando-se no
resgate e análise de publicações daquele período, tentantdo mostrar as intenções reveladas (em seu
estado "bruto") de homens de negócio, governantes e legisladores em modificar ou não tanto os
direitos de propriedade quanto a interpretação das jurisprudências evolvidas culturalmente. Este foi
o caso, por exemplo, da máxima da justiça inglesa pela qual um homem é inocente até que se prove
o contrário: se houvesse suspeita de sabotagem ou roubo de matéria-prima por um produtor
doméstico, caberia a ele o ônus de provar sua inocência, ou na ausência de tais provas seria
considerado culpado (idem, p. 35-6).
148
Mais explicitamente, essa instância se refere ao poder do capital sobre o trabalho, como é
ressaltado por MARGLIN (1974, seções 3 e 4) e por MARGINSON (1993, seção 3.3) em sua
interpretação do artigo de Marglin. Tal visão é compatível com a de Pitelis quando, antes de
concordar com a visão predatória das relações hierárquicas, explica quais seriam suas origens: "In
the Coasean assertion 'agents' agree to work under the authority of 'principals' voluntarily, because
they expect to gain out of the increased (transaction cost-related) efficiency gains resulting from
emergent hierarchies. This need not be true. The alternative is that 'agents' are obliged to do so, by
the principals [...]. An example would be employers and/or the state possibly in mutual support of
each other and in the pursuit of mutual gain [...], and/or because they simply have no better
alternative, i.e., the alternative is to work for another principal or not work at all (be unemployed).
In the first two cases the process is clearly predatory, while in the third it is contractual in a rather
meaningless sense [...]."
149
WALSH (1996, p. 519) argumenta: "Williamson argues that firms may behave
opportunistically, but not why they decide to behave more opportunistically under certain
circumstances than others". No entanto, a citação imediatamente acima de Williamson é uma
explicação, quer consideremos o oportunismo endógeno ou exógeno ao agente econômico. Em
83
transações entre firmas ou mercados de distintas sociedades resta (de forma preponderante, ainda
mais após a mudança dos regimes políticos dos países europeus do Leste) ao menos uma
semelhança: são capitalistas (como tenta Williamson delimitar seu trabalho de 1985 intitulando-o
"The Economic Institutions of Capitalism"). O conceito pode ser endógeno ao capitalismo, e
portanto generalizável (embora falseável) e aparecer em diferentes intensidades nas diferentes
sociedades interligadas por tal sistema.
150
O mesmo argumento é reforçado por GROENEWEGEN e VROMEN (1996, p. 372). Um
canal de debate sobre este ponto abre-se a partir de duas posições, quais sejam: i) o oportunismo é
um fator endógeno (assim como outros aspectos comportamentais) tanto ao ambiente institucional
quanto ao arranjo institucional ou estrutura de gestão, onde pode-se esperar que cada um deles
tenha a capacidade de suscitar diferentes comportamentos (e em diferentes intensidades) - onde o
aspecto da "atmosfera organizacional" levantado, e posteriormente abandonado, por Williamson
teria relevância; e ii) a questão resolve-se apenas por alinhamento de incentivos, ou seja, contratos
(explícitos ou implícitos) definem garantias, como, por exemplo, de estabilidade e de poder
decisório no chão-de-fábrica, que cortam as intenções de oportunismo, como seria a argumentação
decorrente do grupo de economistas caracterizado por Williamson pela ênfase nos alinhamentos ex
ante (vide nossa seção 3.1). O segundo caminho, no entanto, teria problemas em explicar o
conhecido caso do diferencial produtivo entre as fábricas da Toyota no Japão e EUA, com
estruturas de incentivos semelhantes, e também o comportamento diferenciado da Toyota para com
seus fornecedores japoneses e norte-americanos, que o próprio Williamson evidencia (1985, p.
120-123).
Essa oposição no debate parece apontar para a adoção por Williamson da primeira das
posições. No entanto, a ausência de dinâmica implica um engajamento incompleto ou parcial, já
que a TCT assume, para princípio de análise, um ambiente institucional dado.
151
Segundo DIETRICH (1994, p. 19-20), o conceito de racionalidade limitada desenvolvido
por Herbert SIMON (1957 e 1961, por ele citados) divide-se em duas partes: 1) limitações
inerentes aos indivíduos em processar informações a não ser de modo trivial - complexidade
informacional; e 2) desconhecimento por parte dos indivíduos de todos os estados futuros possíveis
do mundo e de todas as relações causais relevantes - incerteza informacional. E por tal
84
177): "given complexity, there is no reason to assume that individual perceptions and
objectives will allow the definition of a unique maximizing strategy." E ainda: "how can
objectively fair returns be defined when bounded rationality exists?" (ibid). DOW (1993,
p. 110) expõe o mesmo problema: "If agents cannot anticipate and plan for all future
contingencies, it follows that they cannot compute the transaction cost associated with
each governance structure, since these costs depend precisely on the magnitude of the
distortions occurring in various future states of the world." Mais à frente (p. 126, sua nota
de rodapé 14), Dow complementa: "Any definition of bounded rationality which rules out
comprehensive planning for all future contingencies will also [...] rule out ex ante
computation of transaction costs".
A exemplo de PONDÉ (1994, p. 40), DIETRICH (idem, p. 26) conclui sua crítica
dizendo ser desnecessária a centralidade creditada por Williamson ao oportunismo, sendo
ela prescindível ou pelo menos "não logicamente indispensável". Não é possível separar a
incerteza do comportamento individual dos agentes, ou referindo-se a Hodgson e Keynes:
"uncertainty is only identifiable in terms of how confident an individual is about an event
occurring."155
154
Embora visando em suas críticas um alvo teórico distinto ao de Dietrich, GUSTAFSSON
(1996, p. 21) também chama a atenção para a eventual criação de instituições de suporte a
transações que sejam eficientes na redução dos custos de transação e na promoção de
previsibilidade e estabilidade, ou seja, que reduzam oportunismo (ou incerteza comportamental).
Em sua opinião, essa é uma atitude que por natureza estabelece alguma forma de punição a
comportamentos desviantes; mas devemos atentar que o comportamento inovador (do qual se
acredita depender o progresso econômico ou, de forma específica, a possibilidade de percepção de
lucros extraordinários) é uma forma de comportamento desviante. A estrutura de gestão criada com
o intuito de mitigar ou reduzir o oportunismo pode estar ao mesmo tempo impedindo o
comportamento inovador e, assim, sendo ineficiente em termos dinâmicos. Portanto, outras
dimensões (como o potencial inovador em jogo) devem estar presentes na conformação das regras
de gestão das transações.
155
A propósito, na visão de DUNN (1998, p. 3), o conceito pós-keynesiano de incerteza
"fundamental" (trabalhado por Paul Davidson), característico de um ambiente não ergódico como o
nosso mundo real, suprime qualquer necessidade de referência à incerteza "comportamental" de
Williamson, que alia oportunismo e racionalidade limitada. Para Dunn (ibid. - grifo no original),
"[...] Post-Keynesian would suggest that the 'impossibility of foreseeing future knowledge' also
arises in contemplation of a nonergodic environment even if agents could make 'full use of present
knowledge'. [...] The Post-Keynesian emphasis on choice under uncertainty need not, therefore, be
tied to any (behavioural) conception of the processing abilities of agents [...]". Em seguida (p. 8),
Dunn complementa: "Individual agents are ignorant of the available courses of action or of the
extent of future states of the world because of the irreversible and open-ended nature of time,
because the future is transmutable and not because of limitations in the processing abilities of
economic agents [...]". Para uma discussão mais detalhada da contraposição entre as visões
ergódica e não ergódica do mundo na teoria econômica, vide Paul DAVIDSON (1996).
86
transformar o indivíduo num pária social, fadado ao ostracismo por seu comportamento
culturalmente reprovável.
A esse aspecto é dedicada boa parte do artigo de Gregory DOW (1987, p. 20), para
quem as relações de autoridade, em lugar de remediar o oportunismo no único sentido
considerado pela TCT (empregado para empregador, ou cargos hierárquicos inferiores para
os superiores), acabam gerando as condições estruturais que encorajam o oportunismo de
superiores hierárquicos (em qualquer nível) para com os inferiores. Tais condições se
apresentam principalmente na forma de (idem, p. 21): "information impactedness, small
numbers, and availability of a tool (decision by fiat) which is tailor-made for unilateral
pursuit of self-interest." Se a redução do oportunismo deve ser considerada de forma séria
e ubíqua, então cabe à firma também criar alguma forma de monitoramento recíproco onde
subordinados possam detectar e punir abusos de autoridade, interpretados como comporta-
mento oportunista por parte de superiores hierárquicos (p. 24).
156
Para maiores detalhes a respeito das particularidades das firmas japonesas, vide AOKI
88
motivados pela insatisfação com o caminho trilhado pela escola neoclássica tradicional.157
Essa referência en passant pode ajudar a identificar com mais clareza o conteúdo de suas
críticas à TCT,158 por ela vista preponderantemente como extensão da economia
neoclássica.159
(1986).
157
Como sugerido por COLANDER (1996, p. 435-6), MACHLUP (1967, p. 3), JACOBY
(1990, p. 318), e ainda SAMUELS (1995, p. 571).
158
Procuraremos dar atenção ao argumento apresentado por RAMSTAD (1996, p. 413):
"scholars rooted in the "old" institutional economics have watched with great interest, and perhaps
some envy as well, as the "new" institutional economics has taken root within the economics
profession and gained legitimacy" (grifo nosso). Não é nosso foco levantar discussões motivadas
por "rivalidade invejosa" entre old e new institucionalistas, e assim tentaremos ser seletivos nesse
aspecto do debate.
159
O que fica claro em RAMSTAD (1996, p. 423) ao considerar "The Economic Institutions
of Capitalism" uma importante contribuição à "neoclassical institutional economics", e também em
DUGGER (1995, p. 455) ao tratar principalmente as obras de Douglass C. North como uma
"neoclassical theory of institutional change", mas também "The Mechanisms of Governance" como
"neoclassical economics at its very best" (DUGGER, 1996b, p. 1216). Vide também
GROENEWEGEN e VROMEN (1996, p. 367) comentando o artigo de William DUGGER, "The
Transaction Cost Analysis of Oliver E. Williamson: a new synthesis?", publicado no Journal of
Economic Issues, volume 17, p. 95-114, 1983. Para uma visão diferente, vide EGGERTSSON
(1990).
89
A primeira das críticas que reunimos é bastante particular. Ela vem do fato de uma
das mais vistosas idéias da TCT, a utilização da transação como unidade de análise, ser
atribuída por Williamson a John R. Commons - eminente pensador social da primeira
metade do século e considerado um dos pais da OIE.160 No entanto, tal identificação é
contestada veementemente por autores ligados àquela escola.
160
Além, obviamente, do reconhecimento da importância das instituições para a instância
econômica, a ligação com Commons parece ser verdadeiramente a única relação genealógica entre
a OIE e a NEI, como sugere AZEVEDO (1996, p. 1, nr. 1), a despeito de alegações de um vínculo
mais amplo.
90
Isso significa que em função do arranjo coletivo desenvolvido ou obtido em uma sociedade
ou em um grupo de indivíduos e do espectro de soberania daí configurado decorrem as
transações em suas três categorias. Ou seja, mesmo os mercados - como instituições
erigidas pela ação humana coletiva - funcionam de acordo com os princípios de direitos de
propriedade, de resolução de conflitos e com os quesitos de performance ou execução
delineados pelo exercício da soberania.
161
É interessante observar que a última seção do artigo de RAMSTAD (1996, p. 422) é
intitulada "Conclusion: a Transaction is not a Transaction", onde as frases que o encerram são: "It
must be understood [...] that it is not eclecticism when an exponent of the OIE employs the
transaction cost framework to analyze or evaluate the governance of contractual arrangements. It is
more akin to apostasy".
91
162
Embora RUTHERFORD (1996, p. 127) considere promissora a atenção dada por
Williamson à substituição dos mercados por hierarquias como se pudesse corresponder à substitui-
ção de bargaining transactions por managerial transaction. É particularmente interessante notar a
insistência por parte de vários autores da OIE em realçar as diferenças teóricas para com a TCT, o
que talvez se dê, pelo menos em parte, em função do componente "rivalidade invejosa" insinuado
por Ramstad (vide nossa nota de rodapé 160). No entanto, a própria distinção entre mercados e
hierarquias por Williamson - insistindo no emprego do fiat dentro destas - evidencia o exercício do
comando entre agentes para a produção de riquezas, o que de alguma maneira é bastante compa-
tível com as managerial transactions descritas por Commons.
92
de poder nas transações. Miller, no entanto, sugere ser essa admissão uma mera
acomodação, pois retira a influência do poder como objeto almejado e instrumento de
atuação nas relações econômicas, e na verdade justifica a concentração de poder apenas
com critérios de eficiência (ou minimização dos custos de transação): "Transaction cost
analysis is, as is orthodoxy generally, a defense of the status quo and a rationalization of
existing conglomerate activity. The thrust of the argument is that the status quo is, on its
face, both acceptable and desirable - that what is, is, after all, what should be. The positive
and the normative are equated" (MILLER, 1993, p. 1044).164
Pelo aspecto hierárquico do poder, HODGSON (1993b, p. 90) ainda comenta sobre
os efeitos de diferentes "atmosferas" institucionais: a firma, ao ser capaz de engendrar, por
exemplo, lealdade e confiança nos agentes, exerce alguma forma de convencimento à ação
(e.g. coletiva) que ultrapassa qualquer tipo de recompensa ou incentivo (monetário) ou que
permite ir além das cláusulas contratuais negociadas. Nas suas palavras (ibid.): "The firm,
by engendering loyalty and trust to some degree, encourages people to act differently. By
trust or compulsion, that is by the use of social power, the managers of the firm may
succeed in imposing their will on the employees. Without this ability to generate more
cohesive and less atomistic behaviour the firm would not be able to function."165
163
Sendo o poder definido, de forma semelhante a PITELIS (1993a, citado na seção
anterior), por Philip KLEIN (1987, p. 1341) como "the ability to influence decisionmaking".
164
A crítica é corroborada por DOW (1987, p. 34), para quem a pressuposição de sinonímia
entre existência e eficiência é estritamente funcionalista, ou seja, serve para adaptar o método ou a
teoria a um propósito particular diante de fenômenos reais: "it is essential that functionalist
premises be used only as a heuristic guide to the generation of empirical hypotheses, and not as a
tautological rationalization for the status quo."
165
Para uma visão diferente, vide TURVANI (1996, p. 203). Em sua interpretação de
KNIGHT (1921 - ou seja, o alvo principal das críticas de COASE, 1937), a autora defende a distin-
ção dos conceitos de autoridade e poder: a autoridade é estabelecida com base na eficiência e está
incorporada nas pessoas que convivem, em maior ou menor intensidade, com as organizações buro-
cráticas modernas - idéia que remete a Weber -, embora necessite sempre alguma forma de legiti-
mação (mesmo que através do carisma); o poder, por conseguinte, pode estar presente nas relações
entre os mesmos agentes, mas sem o suporte da eficiência ou da racionalidade burocrática à qual se
credita alguma forma de eficácia. Interessante é notar que tal interpretação de Knight serve bastante
aos propósitos de Williamson em combinar seu conceito de hierarquia com algo semelhante à
"autoridade" e sua racionalidade de eficiência, justificando a ausência de qualquer consideração
sobre relações de poder. Em contraste, FOURIE (1993, p. 63) afirma que o poder (inclusive o de
coerção física, cabível legalmente ao estado) é uma das fontes de autoridade, especialmente da
existente nas firmas.
94
Talvez por isso seja importante para a TCT repensar as premissas do fiat, que é
usado por Williamson justamente para rebater as críticas da corrente do "nexo de contra-
tos" (notoriamente Alchian e Demsetz, como será discutido em nossa seção 4.4), mas que
parece ainda deixá-lo na esfera estritamente neoclássica dos indivíduos com liberdade de
escolha em qualquer situação (vide discussão apresentada em nossa nota de rodapé 43).166
166
Claude Ménard, um dos economistas da NEI mais preocupados em lapidar a conceituação
da TCT, tenta distinguir autoridade de hierarquia sem aludir ao poder (MÉNARD, 1996a, p. 155-
7). Para ele, a autoridade pode existir em diferentes arranjos institucionais, formais ou informais, a
partir do que chama "influência" (legitimada pelas capacitações do indivíduo e sua situação numa
rede de relações). Já a hierarquia é específica das organizações formais, sendo identificada pela
capacidade de usar o comando como instrumento de coordenação, legitimada por alguma regra do
ambiente institucional que garanta um status formal a quem exerça. A distinção de Ménard, no
entanto, não cria nenhuma categoria distinta das que os críticos da TCT mais afastados da
ortodoxia neoclássica continuariam chamando de poder, e por isso parece servir "apenas" para
rebater os argumentos da abordagem do "nexo de contratos", como será discutido em nossa seção
4.4. Embora essa pareça ser a única intenção de MÉNARD (idem, p. 157) e, por isso, sua
argumentação não mereça críticas em si, pode estar evidenciando o desinteresse da NEI em
operacionalizar o poder, como comentado anteriormente em nossa seção 4.2.
167
Ou mesmo motivado por emulação organizacional, cf. BURLAMAQUI (1995, p. 52),
sendo tais formas de comportamento aparentemente decorrentes do que KEYNES (1982, cap. 12)
chamou de "psicologia coletiva" ou "de massa", por sua vez decorrente da incerteza e das
racionalidades limitadas de "indivíduos ignorantes", que utilizam tal recurso por entender que "A
sabedoria universal indica ser melhor para a reputação fracassar junto com o mercado do que
vencer contra ele" (idem, p. 130). E tal comportamento "does not always result from full, conscious
choice, as all animal species are born with some capacity to imitate" (HODGSON, 1988, p. 127). O
próprio HODGSON (1993b, p. 92-93) dá exemplo de historiadores que encontram muitos paralelos
entre a hierarquização das estruturas militares do século XVII e a hierarquização organizacional
estabelecida nas origens do sistema fabril, como uma mistura de path dependency, context
dependency e, claramente em nossa opinião, de mimêsis - muito embora entre instituições com
naturezas e propósitos significativamente distintos.
168
Entretanto, SELZNICK (1996, p. 274) vê com bons olhos a adoção do conceito de racio-
nalidade limitada e as considerações de incerteza pela NEI na medida em que podem permitir a
95
Para a TCT, nos chamados mercados internos de trabalho (internal labor markets),
criados a partir da especificidade do capital humano dentro da firma, deve haver entre
empregador e empregados o estabelecimento de um contrato que vise a eficiência na
redução dos custos ex ante e ex post de transação (em qualquer de seus componentes).
Segundo Sanford JACOBY (1990, p. 328), isso resulta num conjunto de adaptações às
forças que promovem a eficiência alocativa ou transacional, mas também numa
contrapartida eficiente do empregador em conceder os incentivos pactuados, que são
formados e desejados pelos empregados de acordo com especificidades sociais e históricas.
Se tais condições não forem satisfeitas, então não se chega a um contrato eficiente (nos
termos de Pareto - como também evidenciou Dietrich na seção anterior), e podemos estar
diante do exercício unilateral do poder. Para Jacoby, casos comuns de uso do poder surgem
através, por exemplo, da ação coletiva de empregadores em serem indolentes na revisão
dos incentivos, ou mesmo da ação coletiva de empregados (e.g. sindicalismo) em exigi-los,
acelerando ou brecando um processo de mudança institucional - que nem sempre ruma à
eficiência e que pode contar com o suporte de governos e sistemas legais (na formulação
das rationing transactions, por exemplo).
Ainda sobre esse ponto, vemos em DUGGER (1996a, p. 431-2) uma interpretação
interessante do problema, numa perspectiva holística que tenta envolver as peculiaridades
"motivacionais" do trabalho de Williamson:
Both Commons and Williamson worked for the outsider. However, the outsider
Commons worked for was virtually powerless (the labor movement) while the
outsider Williamson works for is far from powerless (the giant conglomerate). With
his 'clients' having little, Commons dealt explicitly with power in his formulations;
with his 'clients' having much, Williamson does not. The thrust of each is
fundamentally different. While Commons was trying to extend state sovereignty to
análise da interação dos indivíduos dentro das organizações a partir da "construção social" de suas
mentes, ou na interação de diferentes padrões de percepção e avaliação na elaboração de e.g.
rotinas (onde duas racionalidades limitadas, formadas culturalmente, podem ser melhores do que
uma no esforço de configurar instituições. Veja também JACOBY, 1990, p. 336, para uma visão
otimista de conciliação entre as diferentes visões "institucionalistas", a partir do mesmo exemplo).
Embora RAMSTAD (1996, cf. nossa nota de rodapé 163) considere apostasia, os sinais de simpatia
ocasionalmente emergentes entre old e new institucionalistas são considerados muito bem-vindos
por Warren J. SAMUELS (1995, p. 578-9), um reconhecido contribuinte da OIE; em suas próprias
palavras (idem, p. 570, continuação de sua nota de rodapé 2): "I should defend my assertion that
institutional and neoclassical economics are supplementary, notwithstanding their different
methodological and philosophical foundations and practices".
96
A partir do conceito de estado de Weber como uma comunidade que clama com
sucesso o monopólio do uso legítimo da força física dentro de um certo território,
DUGGER (1993, p. 190) constrói uma nova definição, que faz jus à sua interpretação do
capitalismo e do comportamento econômico nas sociedades no século XX:
[...] is relevant to the issues and problems of our time, for the corporation has
become powerful enough to rival the state itself. [...] This makes Williamson highly
relevant, but not for the reasons he would wish. He is relevant not for helping us to
understand the inherent efficiency of corporate hierarchy, but for helping us to
understand the growing power of corporate government, as the corporation evolves
into the corporate-state.
97
169
Isso também é lembrado por RUTHERFORD (1996, p. 107): "Veblen's view of the firm
as a device for the manipulation of markets, does not, however, imply that businessmen are not
interested in minimizing the cost of production of the output they do produce, or in the efficient
management of the industrial plant".
170
A propósito, uma pergunta muito breve me foi feita por Giuseppe Fontana, economista do
grupo de estudos pós-keynesianos da Universidade de Leeds, para a qual a resposta foi o silêncio:
"Where is money in transaction costs theory?"
98
(influence) the tone of the market for the time being, the apprehensions of other
large operators, or the transient faith of investors' (Veblen, 1932, p. 21). [...]
Competition for Veblen was a process where firms used not only coordinating and
economizing, but any and all strategies available to put their rivals at a
disadvantage.
171
Um tratamento detalhado de cada caso é feito por DUGGER (1993, p. 198-202).
172
A questão da ubiqüidade dos determinantes dos custos de transação (e seu tratamento
dentro da TCT) é discutível, como levantada por Noorderhaven (para o oportunismo, em nossa
seção 4.1), N. Foss (para a racionalidade limitada, em nossa seção 4.1), Dietrich (também para o
oportunismo, em nossa seção 4.2), e Moschandreas (para o oportunismo, mais à frente nesta seção).
99
173
E ainda é trabalhado em HODGSON (1993a, p. 226) e HODGSON (1993b, p. 94):
"while both Williamson and the 'old' institutionalists appeal, to different degrees, to an evolutionary
metaphor in their work, it does not support the kind of Panglossian interpretation to be found in the
work of Williamson and many others. In contrast to much ‘new’ institutionalist writing, the work
of Thorstein Veblen (1919), for instance, does not involve the notion that evolution always works
towards progressive or optimal outcomes".
100
[...] institutionalists reject concepts of the natural order of things in favour of a view
of the world as created by human individual and collective activity and
consequently as subject to human control rather than under the sway of automatic
mechanisms - a position which manifestly enables them to examine the details of
human action and interaction, including the social or cultural as well as the
individual aspects of phenomena. 175
174
A analogia com o processo darwinista de seleção artificial foi feita originalmente por
Commons. Para maiores detalhes, vide RAMSTAD (1994b, p. 107-9).
175
Vale aqui relatar um ponto de forte divergência entre a abordagem neoclássica e a OIE:
as sociedades (ou organizações sociais em sentido amplo) estabelecem-se e procuram satisfazer as
necessidades de seus componentes individuais de acordo com "leis naturais"? Ou são as
organizações sociais elas próprias expressão da ação humana, que sob os limites daquelas e com as
novas e maiores possibilidades abertas por arranjos estáveis de seus componentes (instituições),
que seguem se reproduzindo ou se modificando?
176
PITELIS (1993b, p. 7) acrescenta que o artigo de 1937 de Coase está transformando a
teoria econômica ortodoxa "[...] from a mono-institutional theory to a duo-institutional, at first, and
gradually to a poly-institutional one".
101
177
Ou como diz MARGINSON (1993, p. 137): "to paraphrase Marx, efficiency acts as the
motor of history".
178
Em nossa visão, as críticas ao individualismo metodológico utilizado pela TCT são de
certa forma generalizadas, como se fossem dirigidas à teoria neoclássica - embora com algumas
ressalvas (e.g. a influência de algumas instituições sobre os indivíduos ao criarem uma "atmosfera
organizacional" propícia às relações de troca; no entanto, é bom lembrar que esta ressalva tem a
sua própria ressalva, como apresentada na seção anterior). Por tal motivo, assumimos tal discussão
também como sendo de amplo conhecimento para os estudiosos de Teoria Econômica, e isentamo-
nos de inseri-la nesta dissertação. Para o eventual interesse do leitor, uma apresentação concisa de
tais problemas pode ser encontrada em HODGSON (1988, 1993a e 1996) e RUTHERFORD (1996,
cap. 3). Para uma discussão das críticas ontológicas e epistemológicas à TCT, vide PRATTEN
(1997).
102
preceitos devem ser relevantes para sua sobrevivência; com isso os indivíduos incorporam
tais elementos à sua cultura, aprendendo a ser oportunistas cada vez mais e aceitando e
confinando-se aos limites de sua racionalidade. As firmas reagem, incrementando ou
aprofundando os componentes de sua estrutura relacionados àqueles preceitos esperados
dos indivíduos, agora comprovados pela ação dos mesmos, e assim sucessivamente, num
círculo vicioso que retroalimenta indivíduos e firmas nas premissas em questão.
In contrast [[to] the view of the human agent in [...] individualistic tradition], as
Bowles points out, the work performance function should not be regarded as
exogenously given, as partly a consequence of immutable 'human nature'; it is
endogenous and partly a function of the institutions and structures involved. We
could add here that it is also a function of the general atmosphere of cooperation
and trust.
Nas palavras de MILLER (1993, p. 1050): "The analysis ignores interaction and
interdependence between society and the individual or, for that matter, among individuals,
except when they engage in exchange". Dessa forma, as posições e orientações de políticas
públicas, por exemplo, permanecem normativas, reduzindo casos particulares à lógica
interna do mundo ou do homem contratual, e virtualmente idênticas às geradas pela
ortodoxia neoclássica.
Com a mesma ênfase, SAMUELS (1995, p. 571 e 580) apresenta como um dos
princípios básicos da OIE a visão holística pela qual a economia é muito mais que os
mercados. Isso porque estes são, na verdade, um mecanismo (ou mesmo uma instituição)
resultante da operação de instituições humanas mais básicas (como normas de convivência
103
179
Argumentos semelhantes são apresentados por SIMON (1991; vide nossa nota de rodapé
42).
180
Problema também identificado por outras correntes, como apresentado nas seções
imediatamente anteriores. JACOBY (1990, p. 331) faz críticas semelhantes; o interessante é sua
sugestão de que há uma grande identificação da TCT com modelos de relações de emprego
marxistas: "To mitigate opportunism in employment requires either hierarchical monitoring and
governance procedures or less visible control mechanisms like deferred rewards and supra-market
clearing wages that increase the worker's cost of job when malfeasance is detected. Some Marxian
models of employment rely on similar notions: that as the cost of job loss decreases, opportunism
and the need for control both increase (Weisskopf et al., 1983)". PFEFFER (1982, p. 166, apud
DOW, 1987, p. 20) também enxerga alguma aproximação: "it is not easy to distinguish the radical
analysis of Edwards (1979) from the transaction cost framework". No entanto, há uma diferença
104
crucial que os separa: para a TCT o oportunismo é da própria natureza humana, enquanto para tais
modelos marxistas ele é uma característica do homem na sociedade capitalista (cf. BOWLES, 1985,
apud JACOBY, idem).
181
Apesar de Neil Kay se considerar um integrante da abordagem dos custos de transação
(GALBRAITH e KAY, 1986, p. 72), também critica tanto o papel secundário dado por Williamson
à cultura, quanto a centralidade e generalização do oportunismo como característica comportamen-
tal definitiva (KAY, 1993, p. 248).
182
Já que Williamson alega considerar apenas alguns indivíduos, em algumas ocasiões,
agindo de forma oportunista.
105
Recognizing, [...] that not all individuals are inclined to act opportunistically all of
the time implies that other motives may be significant, at least for some individuals
and for some of the time, raises serious doubts regarding the efficiency of internal
systems built on the assumption of universal opportunism. Such systems
incorporate auditing, monitoring, and the adoption of administrative lines of
authority and subordination that may have serious adverse effects on the work
'atmosphere', encouraging perfunctory, rather than cooperative, behavior. More
seriously, perhaps, the lack of trust and confidence associated with the expectation
of opportunism may actually encourage individuals to behave in the postulated
opportunistic fashion. 183
183
JACOBY (1990, p. 334) reforça tal argumento: "It [the presumption of innate
opportunism] leads to a proliferation of control structures - supervision, rules, and deferred rewards
- intended to inhibit opportunism. These create resentment and distrust among employees, who
correctly perceive the controls as expressions of their employer's distrust. Expectations fulfil
themselves when worker resentment breeds opportunism and the employer is forced to implement
additional controls, now with the conviction that his initial beliefs were justified." HODGSON
(1988, p. 210-1) também insiste neste ponto: "Even a hierarchical and non-participatory firm
involves a measure of trust between its agents [...]. If trust and cooperation are functional to the
efficiency of the firm, then a form of organization or regime in which they were promoted could
well be superior in terms of performance. Whilst all firms embody trust and loyalty in some
measure, firms which promote these attributes to a greater degree are more likely to be efficient
[...]. The firm, by engendering loyalty and trust to some degree, encourages people to act
differently. Without this ability to generate more cohesive and less atomistic behaviour the firm
would not be able to function [...]. No recognition is made (by Williamson) of the effect of the
institutional environment in moulding actions and beliefs [...]. It is not being suggested that
capitalist or other firms are institutions of benevolence and philanthropy - far from it. What is being
106
Podemos lembrar aqui que WILLIAMSON (1985, p. 44, e 1996a, p. 55) diz estar
preocupado em estudar as características da natureza humana como nós realmente a
conhecemos.185 Entretanto, HODGSON (1996, p. 250-1) - ao apresentar críticas
semelhantes às de Moschandreas - alega que a referência da TCT apenas ao oportunismo
implica uma posição metodológica ambígua que na verdade refuta o critério de realismo
supostamente defendido.186
argued is that some extra-contractual elements, including a measure of loyalty and trust, even if
small, are essential for the firms to function at all."
184
MARGINSON (1993, p. 138) levanta a mesma questão, dizendo que na TCT "workers
are assumed to act opportunistically, while employers are assumed to act in accordance with an
(undefined) community interest."
185
A citação original é de COASE (1984, p. 231, apud WILLIAMSON, 1985, p. 44):
"Modern institutional economics should study man as he is, acting within the constraints imposed
by real institutions".
186
O artigo de HODGSON (1996) é uma versão de sua apresentação numa conferência reali-
zada em 1994, da qual também Williamson participou. Hodgson então, em sua nota de rodapé 5 (p.
264), comenta a apresentação de Williamson no que se refere ao oportunismo: "Williamson asked
his audience to refer to Shakespeare for illustrations of the ubiquity of opportunism. Indeed, there
are examples of such behavior in plenty. But it is a travesty to suggest that Shakespeare's view of
human nature is wholly one of 'self-interest seeking with guile.' Such a one-sided picture is
contradicted by the selfless dedication of Cordelia to her father in King Lear and the devotion of
the lovers to each other in Romeo and Juliet, and by many other examples. Shakespeare's moral
discourse is replete with transcendent and non-pecuniary values of duty, trust, and love, while
simultaneously recognizing human limits and frailties". E mais (idem, p. 255): "Opportunism
exists, but plentiful evidence suggests that it is not the single most important characteristic of
human nature. Failures of cooperation and coordination can also arise because of divergent
perceptions, lack of information and understanding, or even incongruous individual motives which
107
are entirely altruistic". Nesse ponto, podemos perceber semelhanças com as críticas de DIETRICH
(1994), apresentadas em nossa seção 4.2.
108
187
Nas palavras de DOW (1987, p. 24): "who guards the guardians [?]".
188
Algumas implicações de tal fato são comentadas em nossa nota de rodapé 169. Uma outra
implicação derivada de tal crítica, embora não comentada por Hodgson, é a necessidade de explicar
a formação das expectativas dos agentes.
189
Já que é "praticamente impossível" achar o valor exato dos custos em função da
racionalidade limitada dos agentes. (Vide nossa seção 3.1.)
190
Vide nossa seção 3.3.
109
costs then it would amount to maximizing behaviour of the orthodox type". Por isso
HODGSON (idem) adverte:
Williamson has a choice. He can either accept or reject the assumption that
transaction cost minimization is assumed to be performed by a deliberative agent.
However, if he accepts this assumption he cannot simultaneously embrace the
concept of bounded rationality. If 'economizing on transaction costs' is cost-
minimizing behaviour by a calculating agent, then this is inconsistent with Simon's
concept.
191
HODGSON (1988, p. 299) reforça seu argumento: "Whilst Williamson’s contribution to
postwar economic theory is of significant net value, it is marred by a terminological and analytical
imprecision and the use of confusing and sometimes obscurantist jargon".
192
Williamson demonstra uma clara inconsistência quando contrastamos tal citação com o
alegado propósito de trabalhar a natureza humana "como ela realmente é". Não é demais lembrar
que, além das referências já feitas anteriormente (vide também nossas notas de rodapé 187 e 188),
WILLIAMSON (1987, p. 592, apud PRATTEN, 1997, p. 799) reafirma: "Studying man as he is
necessarily requires that behavioral assumptions be assessed not merely with reference to analytical
convenience - which is a leading reason why maximising assumptions play such a prominent role
in economics - but also with respect to their correspondence to reality. Implausible behavioral
assumptions are not a matter of indifference, much less merit, if studying human nature as we know
it is to be taken seriously".
110
Para começar esta seção, gostaríamos de prestar algumas diligências para que
sejam evitadas (maiores) controvérsias sobre a delimitação dos argumentos e qualificação
dos autores aqui considerados. Por isso começamos pedindo a atenção do leitor para uma
proposição feita por Thráinn EGGERTSSON (1990, p. 5-10), baseando-se nos critérios
metodológicos propostos por Lakatos, qual seja, que a construção teórica de Williamson
não só consegue modificar o "cinturão de proteção" da teoria neoclássica mas ainda atinge
e rompe seu "núcleo rígido" - constituído pelas premissas de escolhas com racionalidade
substantiva, equilíbrio e preferências estáveis - ao erigir a TCT sob o suposto de
racionalidade limitada.193 Dessa forma teríamos, por um lado, construções teóricas
"neoinstitutionalists" (mantendo o núcleo rígido neoclássico), como as de A. Alchian, H.
Demsetz e as do próprio Eggertsson, e, por outro, teorias "new institutionalists" (que
abandonam em maior ou menor grau aquele "núcleo"), como as de Williamson e de
Douglass North.
193
Tal distanciamento é também notado por AZEVEDO (1996, p. 11).
194
Notoriamente estamos considerando aqui Armen Alchian, Harold Demsetz, Steven
Cheung e Thráinn Eggertsson. Além disso, vide, e.g., PONDÉ, 1996, p. 539, e seus comentários
apresentados em nossa seção 4.1.
195
"Entre essas teorias, destacam-se a Teoria de Agente-Principal (Jensen & Meckling,
1976), [...] Seleção Adversa (Akerloff, 1970), [...] Moral Hazard (Arrow, 1968), [...]" (AZEVEDO,
1996, p. 7). Uma outra passagem da Tese de Paulo Azevedo ajuda a explicar nosso escopo de
111
parte com aqueles colaboradores do que Williamson chamou "enfoque da agência" (vide
nossa seção 3.1).
Outro ponto que nos parece relevante apresentar a priori é o próprio cuidado de
Williamson em evidenciar suas diferenças para com a ortodoxia sem dela se afastar
(1996a, p. 6-8),196 utilizando três principais argumentos: i) os propósitos e efeitos das
diferentes formas de organização econômica continuam envoltos em eficiência, ou
economização dos custos de transação;197 ii) as preocupações da TCT continuam em
grande parte as mesmas da ortodoxia, tais quais integração vertical ou lateral, gestão cor-
porativa, organização do trabalho, dentre outras; e iii) permanecem os comprometimentos
neoclássicos centrais, quais sejam, uma perspectiva sistêmica combinada ao espírito
racional.198 No entanto, como comentado há pouco, a inclusão da racionalidade limitada no
núcleo da TCT é um pilar de sustentação externo ao núcleo neoclássico. Além disso, uma
outra questão intrigante vem de um recorrente pressuposto da TCT, contido na forte
afirmação feita por WILLIAMSON (1975, p. 20) que "in the beginning there were
markets." Tal posição, que o aproxima do pensamento neoclássico, é posta em xeque em
sua mais recente obra (WILLIAMSON, 1996a, p. 13):
qualificação (p. 38): "O papel do pressuposto de racionalidade limitada é decisivo, distinguindo a
ECT da genericamente denominada 'Teoria dos Contratos' "; e também (p. 39): "Ainda filiada à
tradição ortodoxa, a literatura de Agente-Principal apóia-se no pressuposto de racionalidade plena
por parte dos agentes econômicos". Uma visão diferente vem de Oliver HART (1989, p. 359-360),
que parece esperar um futuro conciliador de tais abordagens: "One promising sign is that the
different approaches economists have used to address this issue - neoclassical, principal-agent,
transaction cost, nexus of contracts, property rights - appear to be converging".
196
A despeito da própria ambigüidade de Williamson em tentar evidenciar as diferenças
entre a TCT e a abordagem neoclássica, como já comentado anteriormente, e ao mesmo tempo
manter-se aliado ao mainstream, admite que "[...] many of the insights of the transaction cost
approach will be absorbed within the corpus of 'extended' neoclassical analysis. The capacity of
neoclassical economics to expand its boundaries is quite remarkable in this respect" (1989, p. 178).
Para uma evidência de tal capacidade de absorção neoclássica vide POSSAS (1995).
197
Para ARCHIBALD (1987, p. 357) a resposta de Coase (e, por extensão, a de Williamson)
para a existência das firmas - qual seja, a existência de custos de transação - é suficiente para
interpretá-la como neoclássica, pois permite a continuidade do pressuposto de retornos constantes
de escala (fundamental à teoria do equilíbrio geral), e impede que se cogite a possibilidade de
existirem firmas em virtude de sua capacidade em gerar retornos crescentes de escala (no mínimo).
198
Como já evidenciado anteriormente neste trabalho, Williamson parece bastante
preocupado em legitimar seu programa de pesquisa. A explícita ruptura com o arcabouço
neoclássico certamente impossibilitaria seu objetivo, fechando várias portas em sua progressão,
como pode ser interpretado a partir de sua descrição dos personagens e do ambiente acadêmico em
sua pós-graduação - o que intitulou de "Carnegie connection" (WILLIAMSON, 1996a, cap. 1).
112
[...] although hierarchies have the appearance of being more complex governance
structures than markets are, that can be disputed. As Friedrich Hayek observed,
'The price system is just one of those formations which man has learned to use ...
after he stumbled upon it without understanding it' (1945, p. 528). If the 'natural'
way to manage transactions is through authority (hierarchy), then the presumption
that 'in the beginning there were markets' must be reversed. Authority is something
with which we have direct experience (in managing households and more
generally) and think that we understand. By comparison, markets are where the
sublteties reside. 199
199
É interessante notar aqui que para John R. COMMONS (1950, p. 44): "The latest [variety
of transaction] to come historically into prominence were the bargaining transactions; the most
ancient were the managerial transactions". Para uma distinção entre as variedades de transações
categorizadas por Commons, pedimos ao leitor que retorne à nossa seção 4.3, referente à OIE.
200
Vide, por exemplo, nossa nota de rodapé 143.
201
ALCHIAN e DEMSETZ (1972, p. 783-4).
113
Com a mesma atenção dada por Alchian e Demsetz às diferentes formas em que a
informação pode fluir num determinado arranjo contratual, PUTTERMAN (1995, p. 388-
389) apresenta argumento semelhante (com maior ênfase no aspecto informacional):
"Firms represent assembled coalitions of inter-specialized input suppliers who, in part by
sharing refined and continuously generated information about their mutually advantageous
combination, cooperatively generate quasi-rents above their outside opportunity earnings".
De asserções nesses moldes veio a designação da firma como um "nexo de contratos,"203
202
O argumento de Alchian e Demsetz é levado ao extremo por FAMA (1980, p. 303-304),
como sugere MÉNARD (1995, p. 162 e 169, e sua nota de rodapé 17), para quem as firmas "não
existem" (o que existe são unidades tecnológicas de produção), a não ser como meras "entidades
legais" ou "ficções" para os propósitos da ciência econômica.
203
Embora a expressão venha dos trabalhos de Eugene FAMA (1980, p. 303: "[...] the set of
contracts called a firm") e JENSEN e MECKLING (1976, p. 321 - grifos no original: "[...] most
organizations are simply legal fictions which serve as a nexus for a set of contracting relationships
among individuals. This include firms [...]"), como relembra MÉNARD (1995, p. 171 e 176),
acredito ser apropriado para sintetizar também os argumentos de Alchian e Demsetz, como o
próprio DEMSETZ (1988, p. 169) admite: "The firm properly viewed is a 'nexus' of contracts".
Vale notar que JENSEN e MECKLING (idem, p. 320-321) acham tal visão das relações contratuais
muito restrita: "We sympathize with the importance they attach to monitoring, but we believe the
emphasis which Alchian-Demsetz place on joint input production is too narrow and therefore
misleading. Contractual relations are the essence of the firm, not only with employees but with
suppliers, customers, creditors, etc. The problem of agency costs and monitoring exist for all of
these contracts, independent of whether there is joint production in their sense; i.e., joint production
can explain only a small fraction of the behavior of individuals associated with a firm".
114
donde decorre a ótica não muito intuitiva que qualquer empregado pode a qualquer mo-
mento "demitir seu chefe." Em reforço ao argumento apresentado, lemos ainda (idem, p.
783-4):
The employee 'orders' the owner of the team to pay him money in the same sense
that the employer directs the team member to perform certain acts. The employee
can terminate the contract as readily as can the employer, and long-term contracts,
therefore, are not an essential attribute of the firm. Nor are 'authoritarian',
'dictational', or 'fiat' attributes relevant to the conception of the firm or its
efficiency. [...] And it is not true that employees are generally employed on the
basis of long-term contractual arrangements any more than on a series of short-term
or indefinite length contracts.
204
MÉNARD (1996a, p. 152) comenta novamente a visão alternativa de Alchian e Demsetz:
"Some economists, such as Alchian and Demsetz (1972), have challenged the idea that the
'superior-subordinate relationship' is at the core of firm as a governance structure. Among new
institutional economists, however, there is an increasing consensus that what distinguishes formal
organizations from markets in coordinating resources and monitoring transactions is the central
importance of some agents, the 'entrepreneurs' or the managers, in directing decisions [...]."
Obviamente a NEI não pode clamar originalidade pela idéia, e poderá extrair algum benefício de
alguns pensadores que já propuseram com notoriedade a importância do empresário capitalista,
como por exemplo Karl MARX (1848), Thorstein VEBLEN (1904), Joseph SCHUMPETER
(1912) e John M. KEYNES (1936).
115
205
Dirigindo-se a Cheung, MÉNARD (1996b, p. 156) faz uma réplica em oposição aos
arranjos contratuais como objeto de investigação (e em defesa das estruturas de gestão): "[...] the
fact that blood is found in all mammals cannot be denied; it does not mean that monkeys and
humans are all alike!"
116
A partir de tal visão, DEMSETZ (1988, p. 170) chega a propor que a abordagem do
nexo de contratos deve mesmo abandonar a visão "extrema" de Coase, ou seja, que em
oposição aos mercados estão as firmas: "[...] firm-like contractual arrangements brush
aside the question of absolutes - 'When is a nexus of contracts a firm?' - and substitute
instead a question of relatives - 'When is a nexus of contracts more firm-like?'"207 Talvez
seja apenas um problema semântico, mas a expressão "firm-like" pressupõe a existência de
206
Na mesma linha argumenta DEMSETZ (1988, p. 162).
207
Para MÉNARD (1995, p. 171 e também 1996a, p. 166, nota de rodapé 6), parece também
ter havido por parte de DEMSETZ (1988, p. 159) alguma reconsideração quanto à natureza da
firma - não mais o "nexo de contratos" mas uma "problem solving institution" peculiar, onde o
papel da autoridade é relevante ou central para as trajetórias seguidas por ela, ou "de onde veio" e
"para onde vai". PITELIS (1993c, p. 267 e 274) também comenta a retratação de Demsetz no
mesmo artigo.
117
um parâmetro chamado "firma", que apesar de não existir para Demsetz, recebe a definição
de "nexo de contratos". Na leitura do artigo, pode-se ter a impressão de que Demsetz quer
dizer algo como: "olhe esse aglomerado de contratos presente numa grande firma, com
inúmeras ramificações, estas tendo variados tamanhos, formando uma figura densa que se
assemelha a um floco de neve ao microscópio: ele até se parece com o que alguns chamam
de firma, mas por baixo de todo o emaranhado nada mais há, em essência, do que relações
contratuais. E estas são a essência e única dimensão analítica relevante para explicarmos a
forma do floco". Ainda mais, sua linha de raciocínio estabelece uma circularidade (também
não muito intuitiva, embora curiosa) que permitiria ao indivíduo ser uma firma, ou um
nexo de contratos (DEMSETZ, 1988, p. 170-171): "[...] a person must deal with himself in
a relationship that is continuous over a lifetime, and conflicts do arise between the
capabilities and tastes of a person today, or in one set of circumstances, and the 'same'
person tomorrow, or in a different set of circumstances". Aliás, na ótica de Demsetz, a
dedução lógica seria que nada é uma firma, embora a visão do nexo de contratos defendida
exija dos agentes individuais esforços cooperativos baseados no work team,208 ou seja,
leva-nos novamente a uma interpretação nada familiar que um mesmo indivíduo possa
contratar-se e conter em si mesmo uma equipe de trabalho.209
208
Como fica evidente em DEMSETZ (1988, p. 163): "[...] the substance of the firm is
reflected in the style of cooperative behavior that obtains".
209
Embora Demsetz considere a possibilidade da firma individual (numa concepção, a nosso
ver, um tanto problemática), e assim concorde com Fourie e Pitelis (cujos argumentos foram
apresentados em nossa seção 4.2), certamente não encontrariam eles pontos de contato na
explicação de sua razão de existência e lógica de funcionamento.
118
produção, mas submetendo-o a uma dicotomia, qual seja (p. 161-162): "[...] I use
transaction cost and management cost to refer to the costs of organizing resource,
respectively, across markets and within firms". Isso de alguma forma pode ser interpretado
como uma admissão da existência da firma, definitivamente distinta dos mercados (ou dos
contratos spot que o caracterizariam), e, por extensão, a admissão da ótica de Coase, em
seu artigo de 1937, pela qual a firma se caracterizaria pelos contratos de trabalho de longo
prazo e pelas relações de autoridade que deles derivam para a coordenação da produção e
das transações. No entanto, não parece possível enxergar tal conciliação de forma tão
direta, já que Demsetz, ao longo do restante do artigo, não aborda nenhuma situação ou
exercita qualquer raciocínio nos quais relações de autoridade apareçam. Ao contrário,
parece reafirmar em algumas passagens toda a lógica do nexo de contratos, voluntários,
cooperativos e entre iguais, como por exemplo na seguinte afirmação (DEMSETZ, 1988,
p. 166):
Consider the long-term contract that Coase identifies with the employment
relationship. From Coase's perspective, costly transactions lead to greater reliance
on longer-term contracts. The firm hires an employee for a duration rather than for
each day or for each instant. There is much truth to this but, in principle at least,
since employees can quit at any instant, or be fired, we have a long-term
arrangement only because it is in the interest of both parties to continue in
association. The avoidance of costly transacting is part of the motivation for this
interest, but our focus on this has led us to ignore other, possibly more important,
reasons for continued association. If these other reasons exist [...], then a durable
association replicating that achievable through a long-term contract would be
sought even if transaction cost were zero. A series of costless transitory market
negotiations would bring the same employers and employees together, so that, de
facto, the firm that is characterized in terms of employment contracts would be
achieved through repeated market negotiations.210
210
Mais ainda, ao explicar os diferentes arranjos contratuais em função da alocação de
incentivos e melhor aproveitamento do conhecimento de cada agente (a partir de seus variados
graus de volatilidade ou flexibilidade), DEMSETZ (1988, p. 167) comenta: "[...] the role of
transaction cost in explaining the manner in which organization responds to these problems
(incentive compatibility) is like the role of gravity in explaining chemical reactions; gravity
influences chemical reactions, but seldom is it the key variable whose behavior importantly
explains variations in the reactions observed". Talvez Demsetz não recorra à mesma analogia hoje
em dia, após missões espaciais prestarem serviços à elaboração de novos materiais no espaço.
119
211
Idéia essa que parece ter algo em comum com o que Dugger (em nossa seção 4.3)
chamou de vantagem do segundo movimento - o que certamente seria negado pelo próprio em
razão da virulência com que critica a economia neoclássica, e mais ainda os economistas de
Chicago perfilados em tal corrente, como foi possível perceber em seus diversos trabalhos e nas
suas participações nos debates da AFEEMail (lista de conversação pela internet de economistas
ligados à OIE).
120
212
A mesma interpretação continua sendo usada por Benjamin Klein alguns anos depois
(KLEIN, B., 1988, e.g., p. 213-214 e 223).
213
Uma aplicação desta visão "imperialista" à organização familiar e sua relação com a
organização do trabalho com utilização do instrumental da TCT pode ser vista em Robert POLLAK
121
talvez por ser justamente a área em que se concentra seu maior interesse,214 JOSKOW
(1991, p. 80-81) alega que:
People who apply transaction cost reasoning to understand the reasons why real
organizations emerge have too often gone to the other extreme, finding transaction
cost explanations for almost any organizational arrangement that appears. They
frequently ignore or do not analyse systematically, the possibility that there may be
market power motivations or market power consequences for these organizational
arrangements as well [...].
214
Ou pelo menos o tema envolve alguns de seus trabalhos anteriores, feitos com o próprio
Richard Schmalensee, como por exemplo "Markets for Power", Cambridge: MIT Press, de 1983;
"Incentive Regulation for Electric Utilities", publicado no Yale Journal on Regulation, volume 4,
de 1986; e "The Performance of Coal Burning Electric Generating Units in the United States: 1960-
1980", publicado no Journal of Applied Econometrics, volume 2, de 1987.
123
Figura 5
Proposta de Joskow para Integração Teórica
Ambiente
Institucional
- Direitos de propriedade
- Leis de contrato
- Anti-truste
- Condições básicas de mercado - Regulação administrada
- Número de agentes - Lei constitucional e instituições políticas
- Interações competitivas
Moderna - Comportamento estratégico Organização e
Organização Performance dos
Industrial Mercados
- Assimetria de informações
- Competição imperfeita
- Características dos custos de produção
- Poder de mercado
- Assimetria de informações
- Custos de monitoramento
- Oportunismo
- Custos de transação
- Contratos incompletos
Estruturas de
Gestão
215
Um relato bastante amplo da evolução da legislação antitruste norte-americana desde os
anos 50 é feito por Paul JOSKOW (1991).
124
fatores importantes mas já, de algum modo, exaustivamente considerados sejam deixados
de lado.216
216
Tal recurso, afinal, é arrogado por Williamson para a ênfase na economização (vide nossa
seção 3.1) e por Ménard para a ênfase da análise nos custos de transação (vide nossa nota de rodapé
125
122).
126
5 CONCLUSÕES
disformes que separam abordagens até então imiscíveis. Nessa visão, aproximamo-nos do
que GROENEWEGEN e VROMEM (1996) tratam por "pluralismo teórico". Ao contrário
da visão monística, a visão pluralista admite a combinação ou co-existência de teorias não
conciliáveis, obviamente quando não contraditórias. HODGSON (1996, p. 254) também
defende uma mudança de explicações singulares para outras pluralistas, quando o
fenômeno a ser estudado tem significativa complexidade - o que é o caso da firma.
Também KŒNIG (1993) adverte para os problemas de teorias monocausais: estarão
sempre sendo contestadas, quer por outras explicações monocausais, quer por explicações
pluricausais; e ainda estão sempre expostas a falácias e reificação de conceitos ou
princípios. O próprio Williamson não deixa de lembrar que a abordagem da TCT é poten-
cialmente enriquecida em poder exploratório ao combinar-se com outras abordagens
(obviamente, no espectro da não-contraditoriedade). Williamson também alega que a TCT
tem potencialmente muito de complementar com a teoria neoclássica - mas não é nesse
ponto que recai nosso interesse. Como argumentado em nossa seção 4.4, a manutenção do
núcleo rígido neoclássico e a tentativa de utilizar a TCT para fortificar seu cinturão de
proteção (caracterizando a chamada "cheia do mainstream") sinalizam um potencial de
progresso, no sentido lakatosiano do termo, bastante inferior ao que parece sinalizar o
abandono do núcleo rígido neoclássico, mesmo que ainda parcialmente, se tomarmos por
parâmetro a controvérsia marginalista. A TCT em si encampa um rol muito maior de
"novos fatos" passíveis de tratamento do que a "abordagem da teoria dos preços aplicada",
como indicam GROENEWEGEN e VROMEN (1996, p. 376), e uma relação pluralista
com outras correntes não ortodoxas parece promissora em encampar ainda mais.
parte desse grupo, ao menos por parecer estar preocupada em firmar componentes teóricos
comportamentais e ambientais mais próximos da realidade e situados fora do núcleo da
teoria neoclássica, colocando-se à frente da controvérsia marginalista.
Um tema bastante recorrente nas críticas heterodoxas à TCT é o seu uso da estática
comparativa. Autores como Nooteboom, Pondé, Langlois, N. Foss, Dietrich, Pitelis,
Hodgson e Knoedler, dentre outros, destacam a necessidade de se adotar uma perspectiva
dinâmica para explicação de processos de mudança. Disso derivam dois outros temas
discutidos com freqüência, quais sejam, as questões do aprendizado e do poder, bastante
negligenciadas pela TCT. Uma visão pluralista de complementação teórica, no entanto, é
possível, como sugerem GROENEWEGEN e VROMEN (1996, p. 372-374). Em seu
artigo, relembram que Williamson em várias ocasiões sugere que a TCT tem vasta
aplicação em mercados de produtos intermediários e no mercado de capitais, onde
prevalece a simetria de informações, e parece menos exitoso em situações de assimetria de
informações, como no mercado de trabalho e no de produtos finais - onde haveria espaço
apropriado para uma abordagem de poder. Também em mercados onde as condições de
competição (e contestabilidade) são acirradas, a motivação da minimização dos custos de
transação tem forte aplicabilidade e é capaz de garantir um processo de seleção (embora no
sentido "fraco") mais vigoroso das estruturas de gestão. Uma outra questão apresentada por
Hodgson e Nooteboom refere-se à importância das mudanças tecnológicas e dos regimes
inovativos para a teoria das firmas, o que clama por considerações de aprendizado e
formação de competências, lembrando que WILLIAMSON (1985, p. 143) admite ser o
tema um complicador relevante para a análise das organizações (ao qual não se dispõe a
destrinchar, ao dedicar pouco mais de uma página com conteúdo um tanto evasivo para o
assunto, num livro de 450).
As críticas direcionadas aos atributos humanos também têm pontos de contato entre
as correntes não ortodoxas. A ênfase da TCT na eficiência, por exemplo, acaba deixando
um tanto implícito a complacência com comportamentos maximizadores (ou
minimizadores), conquanto Williamson não admita o comportamento de satisficing. Isso
130
Embora essa nossa síntese conclusiva, como antecipadamente previsto, não corres-
ponda à síntese não reducionista a qual nos referimos na primeira parte deste trabalho,
acreditamos representar um apontamento que engatinha em tal direção, como havíamos
proposto desenvolver - pelo menos num espectro pluralista dentro da ciência econômica.
As questões de interdisciplinaridade, muitas vezes levantadas pelo próprio Williamson,
dentre outros, obviamente situam-se ainda muito além desta modesta pesquisa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
_____. The theory of the firm revisited. Journal of Law, Economics, and Organization,
v. 4, p. 141-162, 1988. Reproduzido in: WILLIAMSON, Oliver E.; WINTER, Sidney
G. (Eds.). The nature of the firm: origins, evolution, and development. New York:
Oxford University Press, p. 159-178, 1993.
DIETRICH, Michael. Transaction costs ... and revenues. In: PITELIS, Christos (Ed.).
Transaction costs, markets and hierarchies.Oxford: Blackwell, p. 166-187, 1993.
_____. Transaction cost economics and beyond: towards a new economics of the firm.
London: Routledge, 1994.
_____. Opportunism, learning, and organizational evolution. In: GROENEWEGEN, John
(Ed.). Transaction cost economics and beyond. Boston: Kluwer Academic
Publishers, p. 225-248, 1996.
DONALDSON, Lex. American anti-management theories of organization: a critique
of paradigm proliferation. Cambridge, Mass.: Cambridge University Press, 1995.
DOSI, Giovanni. Hierarchies, markets and power: some foundational issues on the nature
of contemporary economic organizations. Industrial and Corporate Change, v. 4, n.
1, p. 1-19, 1995.
DOW, Gregory K. The function of authority in transaction cost economics. Journal of
Economic Behavior and Organization, v. 8, p. 13-38, 1987.
_____. The appropriability critique of transaction cost economics. In: PITELIS, Christos
(Ed.). Transaction costs, markets and hierarchies. Oxford: Blackwell, p. 101-132,
1993.
DUGGER, William M. Transaction cost economics and the state. In: PITELIS, Christos
(Ed.). Transaction costs, markets and hierarchies. Oxford: Blackwell, p. 188-216,
1993.
_____. Williamson, Oliver E. In: HODGSON, G. M.; SAMUELS, W. J.; TOOL, M. T.
(Eds.). The Elgar companion to institutional and evolutionary economics. Hants:
Edward Elgar,1994. v 2, p. 378-380.
_____. Douglass C. North's New Institutionalism. Journal of Economic Issues, v. XXIX,
n. 2, p. 453-458, 1995.
_____. Sovereignty in transaction cost economics: John R. Commons and Oliver E.
Williamson. Journal of Economic Issues, v. XXX, n. 2, p. 427-432, 1996a.
_____. Oliver E. Williamson: The mechanisms of governance. Journal of Economic
Issues, Book Reviews, v. XXX, n. 4, p. 1212-1216, 1996b.
DUNN, Stephen P. Bounded rationality, "fundamental" uncertainty and the firm in
the long run. Manuscrito não publicado, Leeds University, Leeds, 1998.
EGGERTSSON, Thráinn. Economic behavior and institutions. Cambridge, Mass.:
Cambridge University Press, 1990.
FAMA, Eugene. Agency problems and the theory of the firm. Journal of Political
Economy, v. 88, p. 288-307, 1980. Reproduzido parcialmente in: PUTTERMAN,
Louis; KROSZNER, Randall S. The economic nature of the firm: a reader. 2. ed.
Cambridge, Mass.: Cambridge University Press, p. 302-314, 1996.
135
GROENEWEGEN, John. Transaction cost economics and beyond: why and how? In:
_____. (Ed.). Transaction cost economics and beyond. Boston: Kluwer Academic
Publishers, 1996. p. 1-10.
_____; VROMEN, Jack J. A case for theoretical pluralism. In: _____ (Ed.). Transaction
cost economics and beyond. Boston: Kluwer Academic Publishers, 1996. p. 365-380.
GROSSMAN, Sanford J.; HART, Oliver D. The costs and benefits of ownership: a theory
of vertical and lateral integration. Journal of Political Economy, v. 94, n. 4, p. 691-
719, 1986.
GUSTAFSSON, Bo. Methodological problems of institutional economic history. Não
publicado; artigo apresentado no "Eight Symposium of Economic History",
Universidade de Barcelona, 11-13 dez. 1996.
HAMILTON, Gary G.; FEENSTRA, Robert C. Varieties of hierarchies and markets: an
introduction. Industrial and Corporate Change, v. 4, n. 1, p. 51-91, 1995.
HART, Oliver. Incomplete contracts. In: THE NEW PALGRAVE: a dictionary of
economics. Londres: Macmillan Press, 1987. v. 2, p. 752-759.
_____. An economist's perspective on the theory of the firm. Columbia Law Review, v.
89, p. 1757-1774, 1989. Reproduzido parcialmente in: PUTTERMAN, Louis;
KROSZNER, Randall S. The economic nature of the firm: a reader. 2. ed.
Cambridge, Mass.: Cambridge University Press, 1996. p. 354-360.
HODGSON, Geoffrey M. Economics and institutions: a manifesto for a modern
institutional economics. Cambridge: Polity Press, 1988.
_____. Evolution and institutional change: on the nature of selection in biology and
economics. In: MAKI, Uskali; GUSTAFSSON, Bo; KNUDSEN, Christian (Eds.).
Rationality, institutions & economic methodology. London: Routledge, 1993a. p.
222-241.
_____. Transaction costs and the evolution of the firm. In: PITELIS, Christos (Ed.).
Transaction costs, markets and hierarchies.Oxford: Blackwell, 1993b. p. 77-100.
_____. Corporate culture and the nature of the firm. In: GROENEWEGEN, John (Ed.).
Transaction cost economics and beyond. Boston: Kluwer Academic Publishers,
1996, p. 249-270.
HUGHES, Alan. Conglomerates. In: THE NEW PALGRAVE: a dictionary of economics.
London: Macmillan Press, 1987. v. 1, p. 573-575.
JACOBY, Sanford M. The New Institutionalism: what can it learn from the Old?
Industrial Relations, v. 29, n. 2, p. 316-359, Spring 1990.
JENSEN, Michael; MECKLING, William. Theory of the firm: managerial behavior,
agency costs, and ownership structure. The Journal of Financial Economics, v. 3, p.
305-360, 1976. Reproduzido parcialmente in: PUTTERMAN, Louis; KROSZNER,
Randall S. The economic nature of the firm: a reader. 2. ed. Cambridge, Mass.:
Cambridge University Press, 1996. p. 315-335.
137
JOSKOW, Paul L. The role of transaction cost economics in antitrust and public utility
regulatory policies. The Journal of Law, Economics, & Organization, v. 7, p. 53-
83, 1991.
_____. The New Institutional Economics: alternative approaches. Journal of Institutional
and Theoretical Economics, Concluding Comment, v. 151, n. 1, p. 248-259, 1995.
KAY, Neil M. The evolving firm: strategy and structure in industrial organization.
London: MacMillan Press, 1987.
_____. Markets, false hierarchies and the role of asset specificity. In: PITELIS, Christos
(Ed.). Transaction costs, markets and hierarchies. Oxford: Blackwell, 1993. p. 242-
261.
KEYNES, John Maynard. A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo:
Atlas, 1936 [1982].
KHALIL, Elias L. After the special nature of the firm: beyond the critics of orthodox
neoclassical economics. In: GROENEWEGEN, John (Ed.). Transaction cost
economics and beyond. Boston: Kluwer Academic Publishers, 1996. p. 289-308.
KLEIN, Benjamin. Transaction cost determinants of "unfair" contractual arrangements.
The American Economic Review, Borderlines of Law and Economic Theory, v. 70,
n. 2, p. 356-362, 1980.
_____. Vertical integration as organized ownership: the Fisher Body-General Motors
relationship revisited. Journal of Law, Economics, and Organization, v. 4, p. 199-
213, 1988. Reproduzido in: WILLIAMSON, O. E.; WINTER, S. G. (Eds.). The
nature of the firm: origins, evolution, and development. New York: Oxford
University Press, 1993. p. 213-226.
_____; CRAWFORD, Robert G.; ALCHIAN, Armen. Vertical integration, appropriable
rents and the competitive contracting process. Journal of Law and Economics, v. 21,
p. 297-326, 1978. Reproduzido in: PUTTERMAN, Louis; KROSZNER, Randall S.
The economic nature of the firm: a reader. 2. ed. Cambridge, Mass.: Cambridge
University Press, 1996. p. 105-124.
KLEIN, Philip A. Power and economic performance: the institutionalist view. Journal of
Economic Issues, v. XXI, n. 3, p. 1341-1377, 1987.
KNIGHT, Frank. Risk, uncertainty, and profit. New York: Harper& Row, 1921 [1965].
KNOEDLER, Janet T. Transaction cost theories of business enterprise from Williamson
and Veblen: convergence, divergence, and some evidence. Journal of Economic
Issues, v. XXIX, n. 2, p. 385-395, 1995.
KOUTSOYIANNIS, A. Modern microeconomics. 2. ed. London: Macmillan Press,
1979.
KŒNIG, Gilbert. Les théories de la firme. Paris: Economica, 1993.
LANGLOIS, Richard N. Do firms plan? Não publicado; artigo apresentado na
"Conference 'Frontières de la Firme' ", Université de Lumière, Lion, 28 jan. 1994a.
_____. Cognition and capabilities: opportunities seized and missed in the history of
the computer industry. Não publicado; artigo apresentado na "Conference on
138
_____. On transaction costs economics and the nature of the firm. Economie Appliquée,
v. XLVI, n. 3, p. 109-130, 1994.
_____. Seven reasons why "beyond" transaction costs economics to thesmoeconomics. In:
GROENEWEGEN, John (Ed.). Transaction cost economics and beyond. Boston:
Kluwer Academic Publishers, 1996. p. 271-288.
POLLAK, Robert A. A transaction cost approach to families and households. Journal of
Economic Literature, v. XXIII, p. 581-608, jun. 1985.
PONDÉ, João L. S. P. de S. Coordenação e aprendizado: elementos para uma teoria
das inovações institucionais nas firmas e nos mercados. Campinas: 1993a.
Dissertação (Mestrado em Economia) - IE, UNICAMP.
_____. Trajetórias evolutivas e competitividade: uma análise da indústria de software. In:
XXI ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA (1993 : Belo Horizonte). Anais,
Belo Horizonte: ANPEC, 1993b. p. 365-384.
_____. Coordenação, custos de transação e inovações institucionais. Campinas:
IE/UNICAMP, Texto para Discussão n. 38, 1994.
_____. Concorrência e mudança institucional em um enfoque evolucionista. In: XXIV
ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA (1996 : Águas de Lindóia). Anais.
Águas de Lindóia: ANPEC, 1996. p. 536-555.
POSSAS, Mário L. Racionalidade, coordenação e mudança: uma agenda para a teoria
da dinâmica macroeconômica.Versão ampliada de texto apresentado em conferência
de concurso para vaga de Professor Titular em Economia da FEA/IEI/UFRJ, mimeo,
1993a.
_____. Racionalidade e regularidades: rumo a uma integração micro-macrodinâmica.
Economia e Sociedade, v. 2 , p. 37-61, ago. 1993b.
_____. A cheia do mainstream: comentários sobre os rumos da ciência econômica. Rio
de Janeiro: IEI/UFRJ, Texto para Discussão n. 327, 1995.
PRATTEN, Stephen. The nature of transaction cost economics. Journal of Economic
Issues, v. XXXI, n. 3, p. 781-804, 1997.
PUTTERMAN, Louis. Markets, hierarchies, and information: on a paradox in the
economics of organization. Journal of Economic Behavior and Organization, v. 26,
p. 373-390, 1995.
RAMSTAD, Yngve. Transaction. In: HODGSON, G. M.; SAMUELS, W. J.; TOOL, M. T.
(Eds). The Elgar companion to institutional and evolutionary economics. Hants:
Edward Elgar,1994a. v. 2, p. 330-334.
_____. On the nature of economic evolution: John R. Commons and the metaphor of
artificial selection. In: MAGNUSSON, Lars (Ed.). Evolutionary and neo-
schumpeterian approaches to economics. Boston: Kluwer Academic Publishers,
1994b. p. 101-122.
_____. Is a transaction a transaction? Journal of Economic Issues, v. XXX, n. 2, p. 413-
425, 1996.
141