Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FISIOLOGIA VEGETAL
HORMÔNIOS VEGETAIS
1. INTRODUÇÃO
A morfologia e fisiologia dos organismos multicelulares não poderiam ser mantidas sem
uma serie de comunicações eficientes entre células, tecidos e órgãos. E não é diferente nos
vegetais, a regulação e a coordenação do metabolismo, crescimento e a morfogênese
majoritariamente necessitam de sinais químicas de uma parte para outra da planta. O
crescimento e o desenvolvimento das plantas são resultado de uma série de eventos
coordenados em nível celular por um complexo sistema de sinais que permitem que se
produzam alterações sincronizadas no crescimento e/ou no metabolismo celular. As plantas,
por serem fixas, precisam responder a diversos sinais ambientais de uma forma integrada e
programada e, para isso, devem ser não só capazes de percebê-los em todas as etapas de seu
desenvolvimento, como também a informação recebida deve ser enviada a diferentes partes da
planta.
Essa comunicação intercelular é realizada por “mensageiros químicos”, chamados de
hormônios vegetais, ou fitormônios, que possuem a função de transportar informações
especificas entre as células, regulando assim, o crescimento e o desenvolvimento vegetal. Os
hormônios vegetais são compostos orgânicos ou moléculas sinalizadoras, que atuam como
reguladores vegetais provocando respostas, na promoção, inibição, retardamento ou
modificação em relação aos processos fisiológicos das plantas. Os fitormônios são
comumente chamados de mensageiros químicos, que modulam processos celulares e vão
indicar como e com quais proteínas as células irão interagir, eles atuam interagindo com
proteínas especificas que funcionam como receptores ligados a rotas de transdução de sinais.
Apesar dos hormônios vegetais se apresentarem em pequenas concentrações, são altamente
capazes de atuar na ativação das respostas em células-alvo rapidamente.
Existem dois grupos principais de classificação dos hormônios quanto seus locais de
atuação. Os hormônios que são transportados para sítios de ação em tecidos distantes do local
de síntese são referidos como hormônios endócrinos. Já aqueles que agem em células
adjacentes ao local de síntese são chamados de hormônios parácrinos. Independentemente do
local de atuação, a percepção de hormônios por um receptor tem como resultados a ocorrência
de eventos, sejam eles transcricionais ou pós-transcricionais, que por sua vez, atuam na
indução de uma resposta fisiológica. O desenvolvimento vegetal é regulado por cinco tipos
principais de hormônios: auxinas, giberelinas, citocininas, etileno e ácido abscísico, mas, além
desses outros fitormônios são caracterizados, como: brassinosteroides, ácido salicílico,
estrigolactona e o ácido jasmônico (figura 1). Ao longo do resumo, será apresentado
detalhadamente os principais.
Figura 1. Estruturas química dos fitormônios. (a) Auzinas, (b) Giberelinas, (c) Citocininas, (d)
Etileno, (e) Ácido abscísico, (f) Brassinosteroides, (g) Ácido salicílico, (h) Estrigolactona e (i)
Ácido jasmônico.
2. DESENVOLVIMENTO
O termo Auxina vem do grego “auxein” que significa crescer, aumentar. Foi
proposto inicialmente pelo botânico holandês Fritz Went, que demonstrou em seus
estudos a presença de uma substância ativa na promoção do crescimento das plantas.A
auxina foi o primeiro fitormônio a ser descoberto e estudado quando se refere a
mecanismos de expansão celular vegetal na ação do mesmo, uma vez que a auxina tem
função direta na regulação das taxas de crescimento e desenvolvimento vegetal, sendo
fundamental para este fim. Após a predição de sua existência, iniciaram estudos por
Darwin na obra “The Power of Movement in Plants” em 1881, em que se avaliou a
curvatura de bainhas de folhas jovens (coleóptilos) de plântulas do alpiste e os
hipocótilos de outras espécies e respondiam unilateralmente a iluminação, crescendo em
direção à luz, fenômeno conhecido como fototropismo. Com o experimento, verificou-
se que, um sinal produzido na região apical se deslocava para baixo fazendo com que as
células inferiores crescessem mais rapidamente no lado sombreado ao invés do lado
iluminado. Entretanto, caso houvesse um corte na região apical, removendo-a ou se
fosse coberto de modo que não permitisse a passagem de luz, concluindo com as
observações que a região apical do vegetal, era um ponto sensor da luz, que deveria
haver algum sinal, chamado por ele como “influência transmissível” (Figura 2). Essas
observações quando estudadas mais tarde por outros pesquisadores, confirmando os
resultados obtidos nas ideias do livro publicado por Darwin em 1881, e aprofundando
suas observações.
Figura 4. Ensaio de blocos doador e receptor para quantificação do transporte polar da auxina
em caule jovem.
O AIA mantém uma relação estrutural com o triptofano, aminoácido esse como
seu provável precursor. No entanto, se teve dificuldade nas demonstrações de
incorporação do triptofano exógeno marcado na AIA em tecidos de plantas. Apesar
disso, evidências tem demonstrado que as plantas convertem esse aminoácido em AIA,
por diversas rotas, as quais serão descritas abaixo:
A rota AIP (ácido indol 3-pirúvico) ou AIP: provável ser a mais comum das
três vias. Envolve uma reação de desaminação para formar AIP, seguindo de
uma reação de descarboxilação para formação do indol-3-acetaldeído (IAld),
sendo então oxidado a AIA por uma desidrogene específica.
A rota TAM (triptamina) ou TAM: Esta rota se assemelha com a do AIP, com
exceção pela ordem inversa das reações de desaminação e descarboxilação e
pelas enzimas que estão envolvidas.
A rota IAN (indol-3-acetonitrila) ou IAN: o triptofato nesta rota é inicialmente
convertido em indol-3-acetaldoxima e após em indol-3-acetonitrila, sendo a
enzima que converte o IAN em AIA chamada nitrilase.
Quanto aos efeitos fisiológicos da auxina que dão norte de orientação para o
crescimento vegetal é o fototropismo, fenômeno este que a planta tem sua projeção em
direção a luz, que garante com que as folhas possam receber luz solar o bastante para
realização do processo fotossintético. Já o gravitropismo, o crescimento se dá pelo
efeito gravitacional, que dá possibilidade do crescimento das raízes em direção ao solo e
a parte aérea em sentido contrário. Por fim, o tigmotropismo, ou seja, resposta de
crescimento em função do toque permite as raízes crescerem ao redor de rochas por
exemplo.
Sua primeira menção como um produto natural de tecidos vegetais foi registrada
em 1910 por H.H Cousins que relatou ao governo da Jamaica o que se chama de
“emanações” de frutos armazenados em câmaras, neste caso, laranjas, causavam o
amadurecimento de forma precoce de bananas ao passo que os gases passassem por uma
câmara contendo os frutos. Explica-se esse fato, devido à baixa sintetização das laranjas
em relação ao etileno quando se compara com outros frutos a exemplo de maçãs, sendo
provável então segundo Cousins que elas estivessem infectadas pelo fungo Penicillium,
que produz grandes quantidades de etileno.
O etileno aparenta até o momento, ser o único gás que participa da regulação de
processos fisiológicos de plantas. Em respostas nas plantas, pode se citar como
respostas a expansão e diferenciação celular, crescimento de plântulas, abscisão foliar e
floral, germinação e respostas aos estresses bióticos e abióticos. Entre 1917 e 1937
foram realizados vários estudos sobre os efeitos implicados pelo etileno no
amadurecimento de frutos como observações feitas pelo cientista inglês Gane, em 1935,
que apresentou comprovações químicas que o etileno era produzido por plantas. Já
Hitchock e Zimmerman em suas observações também em 1935, sugeriram que o etileno
atuava como regulador endógeno, podendo ser considerado como hormônio de
amadurecimento de frutos.
Ao longo de 25 anos, o etileno ficou em segundo plano pela sua falta de
reconhecimento como hormônio vegetal, onde cientistas acreditavam que os efeitos
causados por ele se deviam a auxina, neste caso o primeiro hormônio a ser descoberto,
acreditando que ele era o principal hormônio vegetal, considerando o etileno como
exercício insignificante e indireto quando se tratava das funções fisiológicas. Entre os
anos de 1930 e 1950 houve uma diminuição nos interesses em se estudar o etileno
devido à inexistência de técnicas precisas para a análise do etileno e descoberta de
novos hormônios. Mas, em 1959, cientistas americanos e australianos intensificaram
inúmeros estudos através de demonstrações por cromatografia gasosa como técnica
analítica para a sua quantificação. Atualmente, estudos para a sua detecção se dá
fotoionização e fotoacústicos, favorecendo a quantificação de teores de etileno.
O transporte do etileno se difere quando comparado com os demais hormônios
por se manifestar independente dos tecidos vasculares de outras células, assim se
difunde facilmente no interior dos tecidos, através dos espaços celulares podendo
facilmente ser perdido para o ambiente pela sua característica de gás. Pela sua afinidade
com os lipídios, é capaz de se difundir com relativa facilidade através da casca de frutos
a exemplo da maçã. O etileno é derivado do aminoácido metionina e do intermediário
S-adenosilmetionina que é gerado no ciclo de Yang.
Sua produção pode ser observada em quase toda a porção superior das plantas,
apesar de que a taxa de produção dele dependa diretamente do tipo de tecido e dos seus
estádios de desenvolvimento. Cabe ressaltar como regiões ativas na síntese do etileno as
meristemáticas e dos nós, onde o etileno pode aumentar a sua produção quando há o
amadurecimento de frutos, abscisão foliar e a senescência da flor. As lesões causadas
em tecidos vegetais também podem induzir sua síntese, bem como ocorrência de
estresses fisiológicos, sendo o aminoácido metionina precursor do etileno e o ácido 1-
aminociclopropano-1-carboxílico que atua como intermediário na conversão da
metionina em etileno.
Sua biossíntese pode variar de forma circadiana, com ocorrência de picos ao
longo do dia, com valores mínimos durante a noite. Quando os frutos passam pelo
processo de amadurecimento, taxas de ACC e biossíntese do etileno tendem a aumentar.
As atividades enzimáticas tanto da ACC oxidase, ACC síntase são aumentados bem
como dos níveis de mRNA de subgrupos de genes que codificam cada enzima. Assim,
quando há aplicação de ACC em frutos que não estejam totalmente maduros, sua
presença aumenta timidamente a produção do etileno, o que sugere dizer que a atividade
de ACC oxidase que responde pela limitação do amadurecimento.
O etileno pode ser induzido por condições de estresse a exemplo de exposições à
seca, inundações, ferimentos mecânicos entre outros. Nesses casos, sua produção se dá
via biossintética e o aumento em sua produção são resultantes, ou pelo menos em partes
de um aumento na transcrição do mRNA da ACC síntase. Essas determinações de se
produzir etileno em função de estresses desencadeia como resposta abscisão foliar,
regeneração de lesões, senescência e aumento a resistência a moléstias. O etileno
também pode ser produzido sob indução da auxina, pela semelhança das respostas de
ambos nas plantas, por exemplo, a indução de floração em abacaxi e a inibição do
alongamento caulinar. Essas respostas são explicadas pelo fato da capacidade de
promoção das auxinas na síntese de etileno através do aumento das atividades de ACC
síntase. Pode-se então associar através de observações que algumas respostas atribuídas
à presença das auxinas como o caso do ácido indol-3-acético ou AIA, são na verdade a
produção de etileno em resposta da auxina.
O etileno quando produzido pode atuar na regulação pós-transcricional,
manifestados em alguns tecidos vegetais através da citocinina que promove igualmente
a biossíntese do etileno. Exemplo pode ser dado em plantas estioladas de Arabidopsis
com aplicações endógenas de citocinina tendem a aumentar produção de etileno, que
tem como resultado fenótipos de resposta tríplice que consiste na inibição e no
intrumescimento do hipocótilo, inibição do alongamento da raiz e no aumento
exarcebado do gancho plumunar. Uma das respostas mais pronunciadas em plantas pela
presença do etileno no dia-a-dia refere-se às mudanças ocorridas em seus frutos
(amadurecimento). Essas mudanças em suas características podem ser a quebra
enzimática das paredes celulares, que resulta no amolecimento do fruto, permitindo que
o mesmo possa se tornar comestível, hidrólise do amido, condicionando o acúmulo de
açúcares e desaparecimento de ácidos orgânicos e compostos fenólicos. Quando o fruto
se encontra maduro, indica que as sementes já podem então serem dispersas. Exemplos
são a identificação de genes em tomateiros regulados durante o seu amolecimento
resultante da hidrólise da parede celular e modificação na sua tonalidade de cor do verde
para o vermelho pela perda da clorofila e da síntese do pigmento carotenoide licopeno
(Figura 9) e concomitantemente ocorre a produção de componentes que lhe
condicionam aroma e sabor, os tornando palatáveis e carnosos, atrativos para consumo
humano e de animais.
As relações entre dois ou mais hormônios durante o ciclo de vida das plantas já é
bem discutida ao longo do tempo. Porém somente após avanços técnicos possibilitaram
se obter uma visão mais especifica sobre os mecanismos moleculares inclusos nestas
interações.
Figura 11. Fechamento estomático em resposta ao ácido abscísico. (A) estômato aberto com
interações de trocas gasosas com o ambiente (B) Fechamento estomático na presença da luz,
reduzindo a perda de água.
Figura 12. Estrutura química de isômeros e enantiômeros do ABA e sistema de numerações dos
carbonos na molécula do (+) –cis-ABA.
Figura 13. Localização e características dos receptores de ABA. O primeiro receptor, o FCA é
uma proteína envolvida no controle da estabilidade do RNAm. O ABAR, é um receptor
presente nos cloroplastos e envolvivo no controle de respostas desencadeadas pelo hormônio
como fechamento estomático, germinação e expressão gênica. O GCR2, terceiro receptor,
localizada na membrana plasmática que também pode controlar abertura estomática, geminação
e expressão gênica.
3. CONCLUSÃO
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CID, L. Pedro Barrueto. Hormônios Vegetais em Plantas Superiores. Brasília:
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2005. 188 p.
TAIZ, Lincoln; ZEIGER, Eduardo. Fisiologia Vegetal. 5. ed. Porto Alegre: Artmed,
2013. 918 p.
TAIZ, Lincoln et al. Fisiologia e Desenvolvimento Vegetal. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2017. 858 p.