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I - PRELIMINARMENTE
II - DOS FATOS
Todos os Requerentes residem em imó veis situados na Rua 4200 - Dos Pinos - Bairro
Centro, no Município de Balneá rio Piçarras/SC, há , pelo menos, 6 (seis) anos.
Apó s tornar o imó vel como sua moradia habitual, os Requerentes nã o conseguiram
realizar a ligaçã o de luz em suas residências, mesmo apó s diversas tentativas junto à
concessioná ria.
Ocorre que, a ré negou o pedido de ligaçã o sob o argumento de que os imó veis estariam
em á rea irregular, sendo que no referido local já ocorre o fornecimento de energia elétrica
em outras residências.
O Município tem a obrigaçã o de adequar o local, para que os moradores da regiã o possam
viver com segurança.
Haja vista que a energia elétrica nas residências além de ser um serviço pú blico de cará ter
imprescindível, trata-se também de mecanismo de segurança pú blica, sendo que a
ausência de iluminaçã o nas ruas gera desconforto e insegurança para todos os habitantes
da regiã o. Durante a noite a rua é extremamente escura, o que causa medo aos
transeuntes e moradores, pois facilita a açã o de bandidos.
Ressalte-se que a rua onde os requerentes residem é uma á rea residencial, situaçã o há
muito tempo já consolidada. Ademais, outras residências daquela mesma rua
possuem o fornecimento de energia elétrica regular, até porque, essencial à vida
humana!
Frise-se que os requerentes residem no imó vel, com sua família, sendo indiscutível a
necessidade de fornecimento de energia elétrica nos dias de hoje. Destarte, ante a
negativa de fornecimento de luz pela via administrativa, assiste direito os requerentes de
buscar a tutela judicial para que seja determinada a instalaçã o do serviço pú blico de
fornecimento de energia elétrica, imediatamente, sob pena de multa diá ria a ser arbitrada
por esse D. Juízo, em caso de descumprimento.
Ressalte-se que a Celesc se negou a fornecer o serviço, bem como, de receber qualquer
requerimento dos requerentes, sob a justificativa de que estes nã o possuem situaçã o
regular.
É importante salientar que todos os requerentes estã o com seus imó veis em fase de
regularizaçã o, através da usucapiã o, sendo o Sr. Emerson sob o nú mero 5003764-
18.2020.8.24.0048, a Sra. Maria sob o nú mero 5003766-85.2020.8.24.0048 e o Sr. Adir
sob o nú mero 5001479-52.2020.8.24.0048.
Por fim, que se impõ e a aplicaçã o dos preceitos do CDC, invertendo-se o ô nus da prova em
favor das requerentes, bem como, ao final, sejam as requeridas condenadas a indenizar os
danos morais impostos pelas requeridas e evidentemente sofridos pelos requerentes.
III - DO DIREITO
Prova
O serviço de energia elétrica é um serviço essencial para garantia dos direitos bá sicos dos
cidadã os. Trata-se de uma relaçã o consumerista, que deve ser apreciada à luz do Có digo
de Defesa do Consumidor por se adequarem com perfeiçã o aos conceitos legais de
consumidor e fornecedor, nos termos dos artigos 2° e 3° do CDC.
Essa legislaçã o visa a proteçã o aos direitos do consumidor, bem como disciplina as
relaçõ es e as responsabilidades entre o fornecedor com o consumidor final,
estabelecendo padrõ es de conduta, prazos e penalidades. O princípio norteador do direito
do consumidor, previsto no artigo 4º, I, do CDC, reconhece a existência de uma parte
vulnerá vel, o que é nitidamente o caso dos Requerentes e nos leva a indícios e presunçõ es
de hipossuficiência econô mica. Nesse contexto, é inegá vel a desigualdade material que
clama pela incidência do CDC.
Ademais, nos termos dos artigos 2º, I, e 3º, d, III, da Lei n. 11.445/2007, que estabelece as
diretrizes nacionais para o saneamento bá sico, os serviços e políticas pú blicas pautam-se
pelo princípio da universalizaçã o do acesso, a qual consiste na ampliaçã o progressiva do
acesso de todos os domicílios ocupados ao saneamento bá sico. Da mesma forma, o art. 22
do CDC obriga à s Concessioná rias de serviços pú blicos ao fornecimento de serviços
adequados, eficientes, seguros e contínuos (este ú ltimo, diretamente relacionado aos
essenciais, no qual se inclui o serviço objeto da presente lide), in verbis:
Importa assinalar que a presente medida judicial tem como objetivo a defesa de direito
bá sico do consumidor, a ser observado quando do fornecimento de produtos e serviços
(relaçã o de consumo), na forma como prescreve o art. 6.º, X, do CDC (adequada e eficaz
prestaçã o dos serviços pú blicos em geral), sem prejuízo da reparaçã o dos danos
provocados (a teor do art. 6.º, VI, do CDC, "a efetiva prevençã o e reparaçã o de danos
patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos"). O artigo 175 da Carta Magna, no
seu pará grafo ú nico, inciso IV, preconiza:
(...)
Registre-se que o artigo 4º, inciso VII, do Có digo de Defesa do Consumidor, imputa ao
Estado o dever da melhoria dos serviços pú blicos. Assim, deve a administraçã o pú blica
diretamente ou por terceiros (como o caso das concessioná rias de energia elétrica) zelar
nã o só pela implantaçã o, manutençã o e melhoria dos serviços pú blicos, o que nã o está
ocorrendo no presente caso, ao se negar o fornecimento de energia elétrica aos
requerentes.
Ora, repita-se, nã o se trata de á rea que foi recentemente ocupada, mas de regiã o que já se
encontra consolidada como zona urbana, havendo várias casas edificadas há anos. Ora,
em tais casos, como os dos requerentes, deve haver o sopesamento dos direitos em
conflito, prevalecendo o da dignidade da pessoa humana (art. 1º, inciso III, da CF/88), da
razoabilidade e da proporcionalidade, garantidos constitucionalmente. Privar os
moradores destas localidades em detrimento de situaçã o fá tica consolidada há anos, é
apenas punir aqueles que à s duras penas e com muito esforço, batalharam para
conquistar sua moradia pró pria. De fato, inexiste qualquer ó bice formal à prestaçã o de
serviços de fornecimento de á gua e energia elétrica em assentamentos precá rios. Ao
contrá rio, a Lei Maior consigna a obrigaçã o da Uniã o, dos Estados e dos Municípios de
promover a “melhoria das condiçõ es habitacionais e de saneamento bá sico” (art. 23, IX).
Por sua vez, regulamentaçã o da matéria foi dada pela Resoluçã o Normativa n. 414/2010
da Agência Nacional de Energia Elétrica sobre Condiçõ es Gerais de Fornecimento de
Energia Elétrica, estabelecendo direitos e deveres dos consumidores. Explícito no sentido
de assegurar a universalizaçã o do atendimento, ainda que provisoriamente, para
unidades consumidoras localizadas em á reas nã o regularizadas, o referido diploma
destina atençã o especial à populaçã o de baixa renda:
(...)
Além disso, cobra regularmente imposto sobre a propriedade imóvel onde estão
edificadas as unidades dos requerentes.
Volte-se a dizer que a administraçã o pú blica, por meio de concessioná ria já vem
prestando serviço essencial de abastecimento de á gua potá vel de forma regular no imó vel
dos requerentes, mas o mesmo nã o ocorre com a energia.
Por derradeiro, salienta-se que os requerentes nã o estã o litigando pelo fornecimento
gratuito de energia ou qualquer outro benefício, almeja, apenas, ter abastecimento de
energia elétrica individualizado com a contraprestaçã o devida, o qual se constitui um
serviço essencial e qualifica-se como direito fundamental.
No caso em tela, serviço pú blico essencial foi negado aos requerentes sob o argumento de
que a rua em que se localizam suas unidades, trata-se de á rea irregular. Entretanto, alguns
dos vizinhos da rua possuem normal fornecimento do serviço negado.
No caso em tela, temos que as requeridas foram as ú nicas responsá veis pela situaçã o
imposta aos requerentes, eis que negaram o mais bá sico dos serviços essenciais, e,
mesmo apó s as insistentes tentativas de tratativas de negociaçã o efetuadas pelo mesmo,
negaram soluçã o ao caso, causando desta forma transtornos, perturbaçõ es e
constrangimentos aos requerentes, situaçõ es estas jamais experimentadas antes.
Deve-se observar que a angú stia experimentada pelos requerentes foi causada ú nica e
exclusivamente, por irresponsabilidade e negligência das requeridas.
Destarte, expostas as razõ es fá ticas e jurídicas do pedido, é medida que se impõ e, e recai
sobre as requeridas a obrigaçã o de reparar o dano sofrido pelos requerentes.
Uma exata reparaçã o do dano moral pode ser praticamente impossível, todavia, uma
compensaçã o pela via indireta do dinheiro, nã o o é.
Plenamente aplicada por nosso Tribunal, a Teoria do Valor do Desestímulo, pela qual, ao
fixar o valor do dano moral caberá ao magistrado analisar nã o só o potencial do dano, o
grau de culpabilidade, a hipossuficiência do consumidor, mas especialmente o poderio
econô mico do lesante, para que a sançã o atenda nã o apenas à reparaçã o do mal sofrido,
mas especialmente, ao cará ter punitivo, cujo fim é o de desestimular que se reiterem as
prá ticas lesivas.
Sendo assim, o valor da indenizaçã o nã o deve ser atrelado ao valor monetá rio do bem nã o
ofertado, mas sim, ao potencial lesivo das prá ticas de atendimento e condutas das
requeridas, que nã o se restringem aos requerentes, mas a todos os consumidores.
Quantos sã o lesados da mesma forma e jamais procuram o judiciá rio para exercer seus
direitos?
Abaixo, segue transcriçã o de um julgado do Egrégio Tribunal de Santa Catarina, onde este
entendimento é corroborado:
Com relaçã o a tutela de urgência, antigamente denominada tutela antecipada, nos ensina
o Mestre Luiz Guilherme Marinoni, em sua obra "A Antecipaçã o da Tutela na Reforma do
Processo Civil":
"A tutela pode ser prestada quando há receio de dano, mas também quando o dano está
sendo ou já foi produzido".
No presente caso, a medida ora pleiteada em cará ter liminar, reveste-se dos requisitos do
fumus boni iuris e do periculum in mora, de sorte que deve ser concedida de pronto, pois
somente assim logrará assegurar aos requerentes a tutela judicial necessá ria à
salvaguarda de seus direitos, eis que serviço pú blico de fornecimento de energia elétrica é
essencial à vida moderna e à efetivaçã o do princípio da dignidade humana estampado em
nossa Constituiçã o.
No caso em comento, o fumus boni juris está amplamente demonstrado pelas normas
acima transcritas, pelo princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, bem
como pelos fatos e provas colacionadas.
Quanto ao periculum in mora, este reside no fato de que a demora até que seja procedida a
citaçã o das requeridas e a apresentaçã o de suas defesas, farã o com que os requerentes e
seus familiares continuem impedidos de usufruir de um princípio bá sico assegurado em
nossa Carta Magna.
V - DOS PEDIDOS
Outrossim, requerem:
d) A inversã o do ô nus da prova, conforme preceitua o artigo 6º, inc. VIII, do CDC, em
favor dos requerentes, devendo constar tal decisã o no mandado de citaçã o;
e) Em caso de eventual necessidade, seja oportunizado a produçã o de provas, sem
exceçã o, em direito admitidas, com a concessã o de prazo para arrolar testemunhas,
inclusive com o depoimento pessoal dos representantes das requeridas;
Dá -se à causa o valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), para efeitos fiscais, considerando
a parte economicamente mensurá vel da demanda.
Termos em que,
Pede deferimento.
GUSTAVO MACHADO
OAB/SC 27.559