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JUSTIÇA FEDERAL

Subseção Judiciária de Porto Alegre


1ª Vara do Juizado Especial Federal Previdenciário e
Juizado Especial Federal Avançado Previdenciário de Gravataí

PROCESSO Nº 2009.71.50.030815-5
PARTE AUTORA: OSMILDO RAMIRO FERREIRA DE MORAES
RÉU: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL

Vistos etc.

Dispensado o relatório, na forma do art. 38 da Lei nº 9.099/95, passo a


decidir.

Trata-se de demanda na qual a parte autora postula a revisão de seu


benefício a fim de que lhe seja estendida a diferença (de 1,75% em maio/04)
observada entre o reajuste aplicado ao teto dos benefícios e às prestações em
manutenção em tal competência. Requer o pagamento das diferenças decorrentes
corrigidas monetariamente e acrescidas de juros de mora.

Do julgamento de improcedência com base no art. 285-A do CPC.

A matéria sob julgamento é exclusivamente de direito e já foi objeto de


apreciação por este juízo em diversas oportunidades, no sentido da improcedência do
pedido. Assim, ante a autorização do art. 285-A do CPC, fica dispensada a citação e
passo a reproduzir a fundamentação da sentença prolatada no processo nº
2010.71.50.000463-6, cujos argumentos aplicam-se ao caso em exame:

Dos reajustes

Menciona a parte autora que o INSS aplicou o índice integral e não pro
rata ao reajustar o teto dos benefícios previdenciários, alterado pela Emenda
Constitucional nº 41/03, em maio de 2004 (através do Dec. nº 5.061/04). Argumenta
que somente a Constituição pode estabelecer, com a finalidade de ajuste atuarial,
disparidade de critérios entre os reajustes do teto e dos benefícios. Sustenta a
inconstitucionalidade e ilegalidade da sistemática adotada e alega que os mesmos
índices aplicados ao teto devem ser estendidos aos benefícios.

Ante tal fato, cumpre registrar que os arts. 14 da EC nº 20/98 e 5º da EC


nº 41/03, em razão de critérios políticos discricionários, majoraram substancialmente
os tetos dos benefícios previdenciários e estabeleceram que o referido parâmetro
deveria “ser reajustado, de forma a preservar, em caráter permanente, seu valor real”,
pelos mesmos índices aplicados aos benefícios do regime geral de previdência social.
As elevações do teto referidas, ressalte-se, não consubstanciaram reajustes a serem
aplicados aos benefícios em manutenção, que tem disciplina própria.
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Na hipótese, percebe-se que de fato foi aplicado ao teto o índice integral


de reajuste e não pro rata em maio de 2004, conforme referido pela parte autora.
Todavia, não há qualquer ilegalidade ou inconstitucionalidade no referido
procedimento.

A este passo, cumpre registrar que o reajuste do teto do salário-de-


contribuição, para que seja preservado seu valor real, está vinculado ao reajuste dos
benefícios previdenciários, não o inverso. O reajuste dos benefícios é feito por
regramento específico, por índices e nas épocas estabelecidas pelo legislador ordinário
(por expressa delegação constitucional – art. 201, § 4º, da CF c/c os arts. 41 e 41-A da
Lei nº 8.213/91), e não está, reitere-se, atrelado à elevação do teto, sendo possível
elevar o limite das contribuições sem majorar os benefícios em manutenção.

Ademais, embora o art. 28, § 5º, da Lei nº 8.212/91 estabeleça 1

correlação entre a elevação dos benefícios e do teto, referido dispositivo não autoriza a
extensão aos benefícios dos reajustes operados em relação ao limite do salário-de-
contribuição. De fato, há vinculação entre o valor do salário-de-benefício e do próprio
benefício e o teto do salário-de-contribuição, conforme disposto nos arts. 29, § 2º, e
33, ambos da Lei nº 8.213/91, que estabelecem que aqueles não podem ultrapassar a
importância estipulada para este. Dessa forma, para preservar o valor real dos
benefícios, o teto do salário-de-contribuição não pode sofrer reajuste em percentual
inferior ao aplicado às prestações em manutenção, o que não significa que seja
possível estender aos benefícios eventual elevação operada quanto ao teto.

Analisando a questão, a juíza Joane Unfer Calderaro explica:

“(...) o legislador estabeleceu, de forma explícita, conforme inclusive reiterou na


parte final do artigo 14 da EC nº 20/98, que o valor limite dos salários-de-
contribuição deve ser reajustado de acordo com os índices concedidos aos benefícios
e não no efeito contrário. Tal vinculação se dá apenas em relação ao salário-de-
contribuição em consonância com o benefício e não de forma inversa, estando os
reajustes daquele vinculados aos deste. A lei não veda a elevação do teto dos
salários-de-contribuição sem a conseqüente majoração do valor dos benefícios. E
mais, pode-se concluir que o art. 14 da EC 20/98 não exige que o reajuste do limite
dos salários-de-contribuição seja estipulado por lei, mas que o reajuste seja feito de
acordo com os índices concedidos aos benefícios, ou seja, o reajuste deve observar os
índices aplicados aos benefícios, para preservação do valor real, mas não
necessariamente deve ser feito através do mesmo instrumento legal. Também não
exige que o reajuste seja implementado pelo legislador constitucional. Então, nada

1
“Art. 28 (...)
§ 5º. O limite máximo do salário-de-contribuição é de Cr$ 170.000,00 (cento e setenta mil cruzeiros), reajustado a partir da data de
entrada em vigor desta lei, na mesma época e com os mesmos índices que os do reajustamento dos benefícios de prestação continuada da
Previdência Social.”

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impede que essa recomposição seja efetuada através do exercício do poder


regulamentar do administrador, desde que não haja defasagem em relação aos
índices aplicados aos benefícios, ou seja, o reajuste pode até ser maior que o
legalmente utilizado para os benefícios, sem que, como visto alhures, haja imposição
de vinculação do reajuste dos benefícios aos índices de reajuste aplicados aos
salários de contribuição. Importa mencionar também que sequer os arts. 20, § 1º, e
28, § 5º, da Lei 8.212/91 exigem que a recomposição seja feita através de lei, mas
impõem a observância da periodicidade e dos índices de reajuste dos benefícios de
prestação continuada pagos pela Previdência Social. Assim, pelos fundamento
retromencionados, não prospera a alegação da parte autora de que a norma
constitucional só se realiza se ao limite de cobertura e aos benefícios for aplicado o
mesmo índice, o que, na sua visão, implicaria em estender aos benefícios os
“aumentos” que o Poder Executivo, invadindo a competência do constituinte,
atribuiu ao limite de cobertura; seja porque não houve “invasão” de competência do
constituinte pelo poder Executivo, seja porque o que a constituição e a lei garantem é
que o reajuste do teto do salário de contribuição observe o reajuste atribuído aos
benefícios e não o contrário.”

Nesse contexto, verifica-se que a Constituição e a Lei não vedam que o


limite do salário-de-contribuição seja reajustado sem que ocorra a consequente
majoração do valor dos benefícios. O que se proíbe é a elevação dos benefícios sem a
elevação das contribuições. Além disso, como os benefícios não podem ultrapassar o
limite dos salários-de-contribuição, os reajustes aplicados àqueles devem incidir
também em relação este.

Nessa esteira, não se observa ilegalidade nos reajustes em questão, tendo


em conta que os últimos reajustes deferidos aos benefícios previdenciários haviam
sido realizados há um ano, sendo correto o procedimento de aplicar-se o reajuste
integral ao teto, notadamente se observarmos que as elevações de tal parâmetro
promovidas pelas Emendas não caracterizaram reajustes, mas sim aumentos
promovidos em razão de critérios políticos. Ademais, ainda que se entendesse que o
reajuste do teto deveria ter sido proporcional (pro rata), o procedimento adequado
seria reconhecer sua inconstitucionalidade, afastando a aplicação das normas que
estabeleceram os reajustes em valores alegadamente superiores aos previstos na
Constituição, determinando a redução do teto e não a elevação do índice de reajuste
dos benefícios em manutenção, como requer a parte autora, sob pena de atuação do
juiz como legislador positivo, o que é vedado.

EM FACE DO EXPOSTO, julgo improcedente o pedido e extingo o


processo, com a resolução do mérito, com fundamento nos arts. 285-A e 269, I, ambos
do CPC.

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Não há condenação em custas e honorários advocatícios (art. 1.º da Lei


n.º 10.259/01 c/c arts. 54 e 55 da Lei n.º 9.099/95). Defiro o benefício da AJG à parte
autora na forma da Lei nº 1.060/50.

Havendo recurso, cite-se o INSS para apresentar resposta no prazo de 30


dias, nos termos do §2º do art. 285-A do CPC. Transcorrido o prazo, remetam-se os
autos à Turma Recursal.

Não havendo recurso, certifique-se o trânsito em julgado e, após, dê-se


baixa e arquivem-se os autos.

Publique-se. Registre-se. Intime-se.

Graziela Cristine Bündchen


Juíza Federal Substituta

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