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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS


Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Alimentos
Área de Nutrição Experimental

Avaliação dos níveis sanguíneos do hormônio tireoidiano


ativo (T3) e do estado nutricional relativo ao selênio de
mulheres residentes em área de exposição ao mercúrio

Maritsa Carla de Bortoli


Tese para obtenção do grau de
DOUTOR

Orientadora Profª Tit. Silvia M. F. Cozzolino

Co-orientadora Drª Déborah I. T Fávaro

São Paulo
2009
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Alimentos
Área de Nutrição Experimental

Avaliação dos níveis sanguíneos do hormônio tireoidiano


ativo (T3) e do estado nutricional relativo ao selênio de
mulheres residentes em área de exposição ao mercúrio

Maritsa Carla de Bortoli


Tese para obtenção do grau de
DOUTOR

Orientadora Profª Tit. Silvia M. F. Cozzolino

Co-orientadora Drª Déborah I. T Fávaro

São Paulo
2009
MARITSA CARLA DE BORTOLI

Avaliação dos níveis sanguíneos do hormônio tireoidiano ativo (T3) e do estado


nutricional relativo ao selênio de mulheres residentes em área de exposição ao
mercúrio

Comissão Julgadora
Tese de doutorado

Profª Titular Silvia M. F. Cozzolino


Orientadora/Presidente

Prof Dr Meyer Knobel


1ª Examinador

Profª Dra Carla Soraya Costa Maia


2ª Examinador

Profª Dra Elizabeth de Souza Nascimento


3ª Examinador

Profª Dra Célia Colli


4ª Examinador

São Paulo, 05 de fevereiro de 2010.


Para meus pais, Carlos e Mabel.
Para minha irmã, Stella.
Para minhas afilhadas, Flora, Nina e Mariana.

“If we knew what it was we were doing, it would not be called research, would it?”
Albert Eisntein
Agradecimentos

À Professora Silvia M. Franciscato Cozzolino que sempre acreditou em mim e


me apoiou incondicionalmente durante todos esses anos que convivemos.

À Professora Déborah Inês Teixeira Fávaro, que me aceitou como orientada e


se tornou para mim um modelo de pesquisadora.

Às participantes da pesquisa.

Aos prefeitos, secretários de saúde e líderes comunitários que auxiliaram na


formação dos grupos desta pesquisa.

À Pesquisadora Lúcia Yuyama que muito solicitamente me recebeu em seu


estado e me auxiliou em uma parte importantíssima deste estudo.

À Dra. Luciana Aparecida Farias que sempre esteve presente neste trabalho,
deste o projeto até as últimas análises. E que me ensinou muito sobre ciência e
sobre vida.

Ao CNPq e FAPESP pelo apoio financeiro e científico.

À minha irmã Stella de Bortoli que, além de minha melhor amiga, esteve
sempre disposta a encarar os desafios das coletas de sangue e algumas
análises. Que colocou seu trabalho de lado para fazermos as coletas em Novo
Airão. Que me consolou quando eu chorava e riu comigo nos momentos de
felicidade!!!

À minha amiga Cristiane Cominetti pela inestimável ajuda em todas as fases


desse projeto. Que esteve presente no projeto, nas coletas, nas análises, nos
pedidos de auxílio negados e concedidos, e nas horas de sufoco com o Word.
E também nas horas em que eu precisava de uma conversa amiga, não só de
conversas científicas.
À Dra Aderuza Horst que participou comigo em todas as fases desta pesquisa
e me propiciou momentos de descontração e alegria quando eu mais precisei.

Aos funcionários e amigos da secretaria de Pós-graduação, Elaine e Jorge.

Aos amigos da secretaria do Departamento de Alimentos, Mônica, Cléo e


Edilson.

Aos meus amigos Alessandro, Luciano, Lutcha, Claribel, João Roberto, João
Paulo, Andrea, Adriana e Aécio, que mesmo quando distantes sempre
acompanharam meu progresso nesta pesquisa.

Aos meus tios, tias, primos, primas e minha Noninha que sempre torceram por
mim.

Aos amigos do Laboratório de Minerais que me acolheram, me ajudaram e me


aturaram muitas vezes. Continuem com a boa pesquisa!!!
BORTOLI, M. C. Avaliação dos níveis sanguíneos do hormônio tireoidiano ativo (T3) e do
estado nutricional relativo ao selênio de mulheres residentes em área de exposição ao
mercúrio, 2009. Tese (Doutorado) – Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de
São Paulo, 2009.

RESUMO

Este trabalho teve por objetivo avaliar, em seres humanos, se a exposição ao mercúrio
acarreta alterações no estado nutricional relativo ao selênio que possam interferir na
ativação do hormônio tireoidiano T3. Estas alterações poderiam ocorrer pela redução
da disponibilidade do selênio, uma vez que este mineral é considerado um fator
protetor contra a intoxicação pelo mercúrio, realizando ligações com o metal e desta
forma, inibindo sua absorção; e portanto, a conversão do hormônio tiroidiano T4 em T3
poderia ser prejudicada, tendo em vista que é dependente de selenoproteínas. Alguns
estudos têm avaliado a relação entre mercúrio e selênio na população brasileira, no
entanto, não têm observado qual o efeito desta interação nos hormônios tiroidianos. A
importância deste estudo está em detectar se existem estas alterações, e se elas
forem observadas, sugerir formas de melhorar o estado nutricional relativo ao selênio,
para minimizar a contaminação por mercúrio e os problemas acarretados pela redução
dos níveis circulantes do hormônio tiroidiano ativo. Nesta pesquisa foram formados
três grupos, um em Cubatão, um em Novo Airão na região amazônica e, como grupo
controle, um em São Paulo. Foi observado que os grupos de Cubatão e São Paulo
não se encontram em risco de intoxicação por mercúrio. Já o grupo formado em Novo
Airão apresentou teores altos do metal. A ingestão de selênio em todos os grupos
apresentou índices de inadequação de consumo acima dos 30%, no entanto, todos se
apresentaram adequados em relação aos parâmetros bioquímicos do mineral, e
também em relação às concentrações dos hormônios tireoidianos. Nesta pesquisa foi
observado que na região amazônica, apesar dos valores elevados de mercúrio, este
não provocou efeito no estado nutricional relativo ao selênio e no metabolismo normal
dos hormônios tireoidianos. Mais estudos são necessários para que a dinâmica entre
selênio e mercúrio seja completamente elucidada, principalmente em regiões onde
possa ocorrer exposição aguda ao metal, onde se acredita que as consequências
dessa exposição seriam deletérias sobre o status do mineral e suas funções.
Palavras-chave: selênio, mercúrio, hormônios tireoidianos, avaliação nutricional.
BORTOLI, M. C. Assessment of thyroid hormone (T3) levels and selenium status of
women living in mercury exposure area, 2009. Tese (Doutorado) – Faculdade de Ciências
Farmacêuticas, Universidade de São Paulo, 2009.

ABSTRACT

The aim of this work was to assess, in human beings, if mercury exposure may
lead to changes in selenium status that may interfere with the conversion of
active thyroid hormone T3. Changes in selenium status could occur for a
reduction in its bioavailability, once the mineral is considered as a protection
factor against mercury intoxication, by bounding to the metal and inhibiting its
absorption, and so disturbing the conversion of T4 to T3, witch is dependent on
selenoproteins. Some researches have assessed the relationship between
mercury and selenium in Brazilian population, but these studies did not
observed the effects of this interaction in the thyroid hormones concentrations.
This research is important because it might detect if there is such interaction,
and if it is observed, may suggest viable ways to ameliorate selenium status,
reduce mercury contamination risk and the problems that might occur due to
reduction on active thyroid hormones concentration. For this research three
groups were formed, one in the city of Cubatão, one in Novo Airão in the
amazon region, and, as a control group, one in São Paulo city. Is has been
observed that the groups of Cubatão and São Paulo are not in risk for mercury
intoxication. However, in Novo Airão, the levels of Mercury found were high.
Analysis of selenium intake in all groups show that in all of than inadequate rate
intake was over 30%, however, in every group biomarkers for selenium were
adequate, as well as the thyroid hormone levels. Hence, this study observed
that in Amazon region, in spite of high mercury levels, there is no effect in
selenium status and in the thyroid hormone. Further investigations are needed
to fully elucidate mercury and selenium interaction, especially in regions were
an acute exposure to the metal might happen, when the consequences of this
mey be deleterious to selenium status and its functions.
Keywords: selenium, mercury, thyroid hormones, nutritional assessment.
Sumário
1  Introdução ................................................................................................. 13 
2  Revisão de Literatura ................................................................................ 16 
2.1  Mercúrio........................................................................................................... 16 
2.1.1  Intoxicação por mercúrio .......................................................................... 19 
2.1.2  Mercúrio no Brasil .................................................................................... 23 
2.1.3  Interação mercúrio e selênio ..................................................................... 28 
2.2  Selênio ............................................................................................................. 30 
2.2.1  Introdução ................................................................................................. 30 
2.2.2  Metabolismo ............................................................................................. 31 
2.2.3  Biodisponibilidade, fontes alimentares e recomendação de ingestão....... 32 
Riscos na deficiência e toxicidade .......................................................................... 34 
2.2.4  Funções ..................................................................................................... 36 
2.3  Glutationa peroxidase ...................................................................................... 37 
2.4  Iodotironinas desiodases .................................................................................. 39 
3  Justificativa................................................................................................ 42 
4  Objetivos ................................................................................................... 43 
4.1  Geral................................................................................................................. 43 
4.2  Específicos ....................................................................................................... 43 
5  Hipóteses .................................................................................................. 44 
6  Indivíduos e métodos ................................................................................ 45 
6.1  Delineamento do estudo................................................................................... 45 
6.1.1  Critérios de inclusão ................................................................................. 46 
6.2  Avaliação antropométrica ................................................................................ 46 
6.3  Avaliação do consumo alimentar ..................................................................... 47 
6.4  Avaliação bioquímica ...................................................................................... 48 
6.4.1  Coleta de sangue ....................................................................................... 48 
6.4.2  Coleta de cabelo........................................................................................ 49 
6.4.3  Determinação de selênio no plasma e nos eritrócitos ............................... 50 
6.4.4  Determinação da atividade da GPx nos eritrócitos................................... 50 
6.4.5  Determinação de mercúrio nas amostras de cabelo .................................. 51 
6.4.6  Determinação dos hormônios tireoidianos ............................................... 51 
6.4.7  Análise estatística ..................................................................................... 52 
7  Resultados ................................................................................................ 53 
7.1  Caracterização da população estudada............................................................. 53 
7.2  Avaliação da composição corporal .................................................................. 57 
7.3  Avaliação do consumo alimentar ..................................................................... 60 
7.4  Indicadores bioquímicos .................................................................................. 67 
7.4.1  Mercúrio ................................................................................................... 68 
7.4.2  Selênio no plasma ..................................................................................... 71 
7.4.3  Selênio nos eritrócitos .............................................................................. 73 
7.4.4  Atividade da GPx ..................................................................................... 75 
7.4.5  Hormônios da tireóide .............................................................................. 77 
8  Discussão.................................................................................................. 79 
9  Conclusões ............................................................................................. 100 
10  Referências bibliográficas .................................................................... 101 
11  Anexos ................................................................................................. 119 
Lista de figuras e tabelas

Figura 1 – Ilustração sobre o ciclo global do mercúrio. 1) emissões


antropogências e naturais lançam o mercúrio na atmosfera; 2) metilação e
emissão do mercúrio das águas de superfície; 3) oxidação do mercúrio na
atmosfera; 4) deposição seca ou úmida do mercúrio. ...................................... 18 
Figura 2 – Ilustração sobre o metabolismo intracelular do selênio (enterócito),
em mamíferos. Os metabólitos de selênio entram na célula, juntam-se ao pool
intracelular existente, e são metabolizados por diferentes vias até serem
reduzidos a selenito, que é a fonte para a síntese de selenocisteína. (Se =
selênio; GSSeSG = selenodiglutationa; CH3SeH = metilselenol; H2Se =
selenito; Sec = selenocisteína; GSH = glutationa; TrxR = tiredoxina redutase;
Trx = tioredoxina). ............................................................................................ 32 
Tabela 1 – Teores de selênio em alguns alimentos conforme tabelas distintas,
para os Estados Unidos e para o Brasil. .......................................................... 34 
Tabela 2 – Recomendação de ingestão diária de selênio, de acordo com os
estágios de vida. .............................................................................................. 35 
Tabela 3 – Faixas de classificação do estado nutricional conforme IMC. ........ 47 
Tabela 4 – Distribuição das participantes de São Paulo (SP), Cubatão (CB) e
Novo Airão (AM), quanto à idade (anos) e tempo de residência no município
(anos). .............................................................................................................. 53 
Tabela 5 – Distribuição das participantes de São Paulo (SP), Cubatão (CB) e
Novo Airão (AM) quanto ao número de filhos................................................... 55 
Figura 5 – Distribuição das participantes quanto ao número de filhos, em São
Paulo (SP), Cubarão (CB) e Novo Airão (AM).................................................. 55 
Tabela 6 – Distribuição das participantes, em porcentagem, quanto ao estado
civil. [São Paulo (SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM)] ................................ 56 
Tabela 7 – Distribuição das participantes, em porcentagem, quanto ao grau de
escolaridade. [São Paulo (SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM)] .................. 56 
Tabela 8 – Composição corporal segundo peso (kg) e estatura (m) das
participantes de São Paulo (SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM). ............... 58 
Tabela 9 – Composição corporal segundo IMC das participantes de São Paulo
(SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM). ........................................................... 58 
Figura 6 – Distribuição das participantes de São Paulo (SP), Cubatão (CB) e
Novo Airão (AM), segundo IMC........................................................................ 59 
Tabela 10 – Distribuição, em porcentagem, de mulheres residentes em São
Paulo (SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM) quanto às faixas de classificação
do IMC. ............................................................................................................. 59 
Tabela 11 – Ingestão de energia e necessidade energética estimada, das
participantes dos grupos São Paulo (SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM). . 61 
Tabela 11 – Porcentagem de adequação do consumo energético de mulheres
residentes em São Paulo, (SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM). ................. 61 
Tabela 12 – Ingestão de carboidratos, em porcentagem em relação ao
consumo energético, de mulheres residentes em São Paulo (SP). Cubatão
(CB) e Novo Airão (AM). .................................................................................. 62 
Figura 7 – Distribuição da ingestão de carboidratos, em porcentagem, em
relação ao consumo energético de mulheres residentes São Paulo (SP),
Cubatão (CB) e Novo Airão (AM). .................................................................... 62 
Tabela 13 – Ingestão de proteínas, em porcentagem em relação ao consumo
energético, de mulheres residentes em São Paulo (SP). Cubatão (CB) e Novo
Airão (AM). ....................................................................................................... 63 
Figura 8 – Distribuição da ingestão de proteínas, em porcentagem, em relação
ao consumo energético de mulheres residentes em São Paulo (SP), Cubatão
(CB) e Novo Airão (AM). .................................................................................. 63 
Tabela 14 – Ingestão de lipídeos, em porcentagem em relação ao consumo
energético, de mulheres residentes em São Paulo (SP). Cubatão (CB) e Novo
Airão (AM). ....................................................................................................... 64 
Figura 9 – Distribuição da ingestão de lipídeos, em porcentagem, em relação
ao consumo energético de mulheres residentes em São Paulo (SP), Cubatão
(CB) e Novo Airão (AM) ................................................................................... 65 
Tabela 15 – Ingestão de selênio (µg/dia) de mulheres residentes em São Paulo
(SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM) ............................................................ 65 
Figura 10 – Ingestão de selênio de mulheres residentes em São Paulo (SP),
Cubatão (CB) e Novo Airão (AM). .................................................................... 66 
Tabela 16 – Correlação de Pearson para variáveis ingestão de proteínas e
selênio, para os grupos São Paulo (SP), Cubatão (CB) ,Novo Airão (AM), e
todos juntos. ..................................................................................................... 67 
Tabela 17 – Teor de mercúrio (ppm) em amostras de cabelo de mulheres
residentes em São Paulo (SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM). .................. 69 
Figura 12 – Teor de mercúrio (ppm) em amostras de cabelo de mulheres
residentes em São Paulo (SP) e Cubatão (CB). .............................................. 70 
Figura 13 – Teor de mercúrio (ppm) em amostras de cabelo de mulheres
residentes em Novo Airão (AM). ...................................................................... 70 
Tabela 18 – Concentração plasmática de selênio (µg L-1) em mulheres
residentes em São Paulo (SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM). .................. 71 
Figura 14 – Distribuição da concentração de selênio plasmático em mulheres
residentes em São Paulo (SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM). .................. 72 
Tabela 19 – Concentração de selênio eritrocitário (µg L-1)em mulheres
residentes em São Paulo (SP), em Cubatão (CB) e em Novo Airão (AM) ....... 73 
Tabela 20 – Valore de atividade da GPx (U/gHb) em mulheres residentes em
São Paulo (SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM). ......................................... 75 
Tabela 21 – Concentração dos hormônios tireoidianos T3 e T4 de mulheres
residentes em São Paulo (SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM). .................. 77 
Tabela 22 – Razão entre T3 e T4 dos grupos São Paulo (SP), Cubatão (CB) e
Novo Airão (AM). .............................................................................................. 78 
Tabela 23 – Concentração de TSH nos grupos formados em São Paulo (SP),
Cubatão (CB) e Novo Airão (AM). .................................................................... 78 
Introdução 13

1 Introdução

A intoxicação por mercúrio causada pelo consumo de alimentos se


deve a compostos orgânicos do metal como, por exemplo, o metilmercúrio ou
dimetilmercúrio. Estes compostos são altamente tóxicos, lipossolúveis,
rapidamente absorvidos e se acumulam nos eritrócitos e no sistema nervoso
central. Podem estar presentes em peixes e outros organismos aquáticos uma
vez que a microflora bacteriana destes animais sintetiza o metilmercúrio a partir
de compostos existentes nos sedimentos e na água. Com exceção destes
alimentos outros gêneros alimentícios geralmente contêm o mercúrio em sua
forma inorgânica, que é menos biodisponível (BELITZ & GROSH, 1997;
HATHCOCK & RADER, 1999; MAIHARA & FÁVARO, 2005).
Em humanos o metilmercúrio proveniente da dieta é quase
completamente absorvido, sendo então, convertido no organismo em mercúrio
inorgânico, e atinge como órgão alvo o sistema nervoso central
(JONNALAGADDA & PRASADA RAO, 1993).
A exposição humana ao metilmercúrio pode apresentar uma
variedade de riscos à saúde, sendo que a gravidade dos danos é dependente
da dose, e os maiores riscos relacionam-se com os efeitos neurológicos e
comportamentais. Além disso, o metilmercúrio é considerado o único composto
contaminante que uma vez na cadeia alimentar pode resultar em desfecho fatal
para os seres humanos. As fatalidades e danos neurológicos foram observados
nos casos de exposições extremamente altas e agudas, como no caso dos
acidentes ocorridos em Minamata e no Iraque. Os fetos são considerados mais
sensíveis ao envenenamento por mercúrio que os adultos. Nos fetos, os danos
podem ser irreversíveis para o desenvolvimento do sistema nervoso central,
como observado nas crianças nascidas com retardo mental, convulsivas, cegas
e surdas, após as catástrofes acima citadas (FAN & TOMAR, 1999; NATIONAL
ACADEMIC PRESS, 2000).
No Brasil, estudos conduzidos com populações amazônicas
demonstraram que a exposição ao mercúrio nesta região é crônica e pode ser
consequência de ações humanas, como os garimpos, ou do próprio solo da
Introdução 14

região, que é naturalmente rico no metal (LEINO & LODEINOS, 1995; MALM et
al., 1995; DÓREA et al., 2003; PINHEIRO et al., 2005).
Em Cubatão, apesar do histórico de poluição da cidade, não foram
realizados muitos estudos cujo objetivo principal fosse o de avaliar a exposição
da população ao metal. No entanto, algumas pesquisas demonstram que há
concentrações elevadas de mercúrio na água e sedimentos no sistema
estuarino de Santos, assim como nos peixes desta região, que é o local de
deposição das águas do Rio Cubatão, que corta a cidade de mesmo nome
(HORTELLANI et al., 2005; FARIAS et al., 2005).
Entretanto, a ingestão de selênio pode estar entre os fatores
nutricionais que modificam a toxicidade do metilmercúrio, mas a importância
prática da ingestão de selênio em populações expostas ao metal ainda não foi
estabelecida. A ação protetora do selênio ocorre porque este se liga com o
mercúrio, no entanto, esta ligação pode torná-lo indisponível para o organismo
e, desta forma, para executar suas funções (WATANABE, 2002; GONZAGA et
al., 2009).
As principais funções do selênio dizem respeito ao seu papel em
selenoproteínas, como a glutationa peroxidase (GPx), a tioredoxina redutase e
as iodotironinas desiodases.
A GPx, encontrada em muitos tecidos animais, é reconhecida como
uma componente do maior sistema protetor contra a peroxidação lipídica
endógena e exógena. A enzima contém selênio e é reativa para uma variedade
de hidroperóxidos orgânicos. Por sua capacidade de redução, a GPx catalisa a
desativação do peróxido de hidrogênio ou hidroperóxidos orgânicos (derivados
de lipídeos insaturados). Estas reações servem para proteger o organismo dos
efeitos deletérios do estresse oxidativo in vivo, diminuindo o dano potencial dos
radicais livres e promovendo uma segunda linha de defesa contra os
hidroperóxidos (WENDEL, 1981; YUAN & KITTS, 1997; TAPIERO et al., 2003).
As iodotironinas desiodases (I, II e III) são enzimas, dependentes de
selênio, que catalisam a desiodação da tiroxina em triiodotironina e
triiodotironina reversa, regulando desta maneira a conversão do T4 em T3 e a
concentração deste hormônio no organismo. Portanto, em casos de deficiência
de selênio o nível plasmático de T4 estaria aumentado e o de T3 diminuído,
resultando numa menor síntese e concentração do hormônio triiodotironina
Introdução 15

ativo (REILLY, 1996; BURK & LAVANDER, 2003; GONZAGA et al., 2009;
CUNHA & RAVENZWAAY, 2005).
Em virtude da importância do selênio na proteção contra a
intoxicação por mercúrio e nos efeitos que essa interação pode ter no
organismo, neste estudo avaliamos o estado nutricional relativo ao selênio de
mulheres expostas ao metal e as consequências desta exposição no
metabolismo dos hormônios tireoidianos.
Revisão de Literatura 16

2 Revisão de Literatura

2.1 Mercúrio

O mercúrio existe naturalmente no meio ambiente e ocorre em várias


formas químicas. Estas formas químicas podem ser organizadas em três
grandes categorias: mercúrio metálico, também conhecido como mercúrio
elementar, e expresso como Hg (0) ou Hg0; mercúrio inorgânico e mercúrio
orgânico que podem ser formados pela associação a outras substâncias nas
formas di- ou trivalente do metal (Hg2+ ou Hg3+). A alternância entre uma forma
química e outra pode ocorrer sob a influência de fatores ambientais naturais ou
mesmo pela ação de microorganismos (especialmente bactérias ou fungos)
(UNITED STATES, 1999; UNEP, 2002).
O mercúrio metálico ou elementar representa o metal não ligado a
nenhuma outra substância, ou seja, puro. É líquido à temperatura ambiente e
nestas condições pode formar vapores de mercúrio, que são incolores e
inodoros, e cuja taxa de evaporação é diretamente proporcional à elevação da
temperatura (UNITED STATES, 1999; UNEP, 2002).
Quando o mercúrio se combina a outras substâncias origina suas
formas orgânicas e não orgânicas. Na forma inorgânica ocorre a ligação com
substâncias como cloro, enxofre e oxigênio. Os compostos formados são
denominados sais de mercúrio e geralmente são encontrados na forma de pós
brancos, exceto o sulfito de mercúrio ou cinabre, que é vermelho e oxida-se
pela exposição à luz. Quando o metal se combina com carbono forma
compostos orgânicos. Dentre todos os compostos orgânicos, o mais conhecido,
estudado e potencialmente perigoso para a saúde dos seres humanos é o
metilmercúrio (NATIONAL ACADEMIES PRESS, 2000; UNEP, 2002).
Dentre todas as formas químicas de mercúrio existentes, as mais
comuns, isto é que tem maior ocorrência naturalmente, são: o mercúrio
elementar, o sulfito de mercúrio, o cloreto de mercúrio e o metilmercúrio
(ATSDR, 1999; NATIONAL ACADEMIES PRESS, 2000).
Revisão de Literatura 17

O mercúrio é empregado em diversas finalidades. O metal é extraído


na forma de minério de cinabre, que contém sulfito de mercúrio. A forma
metálica é refinada pelo aquecimento do minério a altas temperaturas que gera
o vapor de mercúrio, este é então capturado e resfriado para formar o metal
líquido. Existem muitos usos para o mercúrio metálico, como na produção de
gás cloro e soda cáustica, na extração de ouro em garimpos e em joalherias,
em termômetros, barômetros, baterias e em interruptores elétricos. Cerca de
50% das restaurações odontológicas metálicas contém mercúrio metálico, e em
países asiáticos e latino-americanos algumas infusões e medicamentos
herbais, principalmente os com fins religiosos, podem conter o metal. Alguns
compostos inorgânicos do metal são utilizados como fungicidas ou agentes
anti-sépticos e desinfetantes. No passado a utilização medicamentosa dos sais
de mercúrio era maior, mas os produtos com o metal foram substituídos por
outros livres de mercúrio e mais eficientes. No entanto, ainda hoje os sais
inorgânicos de mercúrio são utilizados com finalidades antibacterianas. Além
da utilização farmacológica, as formas inorgânicas do metal são utilizadas em
tintas, inclusive naquelas destinadas a tatuagens (WHO, 2000; CLARKSON et
al., 2003).
Até a década de 70, no século passado, compostos orgânicos de
mercúrio (metilmercúrio e etilmercúrio) eram utilizados para proteger sementes
e grãos contra infecções fúngicas. Depois que ficaram conhecidos os efeitos
adversos da utilização ou ingestão do metilmercúrio, o uso destes como
fungicidas foi banido. Compostos de fenilmercúrio também foram utilizados
como agentes anti-fúngicos em tintas de parede, mas seu uso também foi
banido, por volta do início da década de 90, porque promovia a liberação de
vapores do metal no ambiente (ATSDR, 1999).
O mercúrio ocorre naturalmente como um mineral e é distribuído no
ambiente por meios naturais e antropogênicos. O ciclo bio-geoquímico global
natural do mercúrio é caracterizado pela remoção dos vapores do elemento
dos solos e águas de superfície, seguido pelo transporte atmosférico,
deposição do mercúrio novamente na terra e na água, e absorção do metal
pelo solo ou sedimentos. O mercúrio depositado é revolatilizado outra vez para
a atmosfera. É importante ressaltar que as erupções vulcânicas também têm
Revisão de Literatura 18

papel importante neste processo (UNITED STATES, 1997; ATSDR, 1999;


WHO, 2000, CLARCKSON et al., 2003).
As maiores fontes antropogênicas de liberação do metal no ambiente
incluem a mineração e a metalurgia, também os processos industriais como
nas indústrias cloro-álcalis, a combustão de combustíveis fósseis,
principalmente o carvão, a produção de cimento e a incineração industrial e
hospitalar (UNITED STATES, 1997; ATSDR, 1999; WHO, 2000).
Na figura 1 está representado o ciclo global do mercúrio, ilustrando a
ocorrência natural e a emissão antropogênica, bem como a metilação do
composto.

1 3

Figura 1 – Ilustração sobre o ciclo global do mercúrio. 1) emissões


antropogências e naturais lançam o mercúrio na atmosfera; 2) metilação e
emissão do mercúrio das águas de superfície; 3) oxidação do mercúrio na
atmosfera; 4) deposição seca ou úmida do mercúrio.
Adaptado de SOUZA & BARBOSA (2000)

Sendo um elemento, o mercúrio não pode ser quebrado ou


degradado em substâncias inofensivas. Durante seu ciclo pode ter seu estado
modificado pela adição ou remoção de outros elementos, mas seu estado mais
simples, elementar, é prejudicial para o ambiente e para a saúde dos seres
humanos. Uma vez liberado, seja dos minérios ou pela queima de combustível
Revisão de Literatura 19

fóssil, e livre na atmosfera torna-se móvel, mantendo o ciclo entre a superfície


terrestre e a atmosfera (UNEP, 2002).

2.1.1 Intoxicação por mercúrio

Tendo em vista o ciclo global do mercúrio e as emissões


antropogênicas, as principais fontes de exposição da população ao metal
incluem a inalação dos vapores do elemento, inclusive aqueles liberados pelo
amálgama dentário; a ingestão de água e alimentos contaminados; e o
mercúrio utilizado em tratamentos médicos, como um composto de etilmercúrio
utilizado como um preservante em algumas vacinas, o timerosal. A ingestão
dietética é a mais importante forma de exposição não ocupacional, sendo os
pescados as principais fontes de mercúrio na dieta e responsáveis pela
ingestão de metilmercúrio (ATSDR, 1999; CLARKSON, 2003).
No início da década de 50, na região da baía de Minamata, Japão,
foram observados fenômenos estranhos que aconteciam inicialmente entre os
peixes e moluscos da região. Sem explicação, os primeiros morriam e boiavam
nas águas e as ostras tinham suas conchas abertas e o corpo decomposto.
Depois destes animais, os gatos começaram a ser afetados e também
começaram a morrer (HARADA, 1995).
No final do ano de 1953, a doença misteriosa passou a afetar os
habitantes, principalmente os pescadores e suas famílias, que passaram a
apresentar sintomas neurológicos, como tremores, desequilíbrio, ataxia e
sintomas visuais e auditivos, e as crianças nascidas de mães contaminadas
apresentavam graves problemas no desenvolvimento neural. Por volta do ano
de 1956 o problema havia tomado proporções epidemiológicas e recebeu o
nome de “Doença de Minamata”. Durante as investigações foi descoberto que
a população era consumidora de grandes quantidades de peixes e produtos
marinhos da região. Além disso, foram observadas concentrações elevadas de
mercúrio em órgãos autopsiados. O mercúrio era proveniente dos dejetos de
uma empresa, a Chisso Company, que produzia em larga escala fertilizantes,
produtos químicos, resinas sintéticas e agentes para plastificação (HARADA,
1995; ETO, 1997; KOROGI et al., 1998).
Revisão de Literatura 20

O resultado, até hoje chamado de “Doença de Minamata”, foi o


primeiro caso mundial descrito de contaminação por metilmercúrio (KOROGI et
al., 1998).
Os sintomas decorrentes da “Doença de Minamata” nos adultos se
deviam principalmente a alterações cerebrais, cerebelares e nas inervações
periféricas. Foram também observadas alterações patológicas em órgãos, com
inflamações erosivas no trato gastrintestinal, redução da proliferação de células
da medula óssea, degeneração gordurosa de fígado e rins, e nos casos fatais
foram notados problemas pancreáticos. No entanto, o pior legado da
contaminação em Minamata ocorreu com as crianças nascidas das mães
contaminadas, ainda que estas não apresentassem sintoma algum. As crianças
nasciam com mal desenvolvimento cerebral ou paralisia cerebral. Também
foram relatados casos de distúrbios psicomotores e de personalidade, redução
da capacidade intelectual, epilepsia e sintomas neurológicos semelhantes aos
desenvolvidos pelos adultos (ETO, 1997; ETO, 2000; EKINO et al., 2007). A
exposição pré-natal ao metilmercúrio interfere com o crescimento e migração
dos neurônios e tem a potencialidade de causar defeitos no sistema nervoso
central durante seu desenvolvimento (NATIONAL ACADEMIES PRESS, 2000).
Muitas pessoas morreram em decorrência da “Doença de Minamata”, no
entanto, outras vivem até hoje, sujeitas às sequelas da contaminação.
Outro caso importante de contaminação por metilmercúrio ocorreu
no Iraque, na década de 70. Neste episódio a população consumiu pão feito à
base de grãos tratados com metilmercúrio, usado como agente antifúngico. Os
resultados foram semelhantes aos descritos em Minamata, e as crianças
nascidas de mães contaminadas também sofreram as mesmas consequências
(AMIN-ZAKI et al.,1974; NATIONAL ACADEMIES PRESS, 2000; UNEP, 2002;
MURATA et al., 2007).
Estes exemplos demonstram o risco de intoxicação por
metilmercúrio, bem como a fragilidade do feto frente à contaminação materna
ao composto, principalmente porque foi observado que em ambos os casos, a
dose que provocava alterações nos fetos era menor do que aquela necessária
para afetar os adultos (NATIONAL ACADEMIES PRESS, 2000).
A conversão de mercúrio inorgânico em metilmercúrio ocorre
primariamente em microorganismos de ambientes aquáticos. Uma vez na
Revisão de Literatura 21

forma metilada, o mercúrio se bio-acumula na cadeia alimentar, pois os


organismos microscópicos são consumidos por peixes, e dentre estes os
menores são consumidos pelos maiores. Esta cadeia de bio-acumulação pode
resultar em concentrações elevadas de metilmercúrio em algumas espécies de
peixes, que se tornam as fontes principais de exposição ao mercúrio para os
seres humanos (NATIONAL ACADEMIES PRESS, 2000).
Outro exemplo do risco de intoxicação pelo metilmercúrio diz
respeito à sua taxa absortiva. Após ingestão oral, a absorção do mercúrio
metálico é irrelevante, a originária de formas inorgânicas varia entre 2 e 38% e
é praticamente completa para as formas orgânicas. Além da capacidade de ser
absorvido, o metilmercúrio distribui-se no organismo através do sangue e pode
se acumular no cérebro. No feto (quando atinge a mãe) devido a sua habilidade
em penetrar as barreiras placentária e sanguínea, é convertido nesses tecidos
em um cátion inorgânico divalente do metal (UNITED STATES, 1997; ATSDR,
1999).
Após estes incidentes, muitas pesquisas foram realizadas para
avaliar os riscos de exposição ao metilmercúrio e, com base nesses estudos,
órgãos internacionais estabeleceram limites de ingestão seguros do metal. A
Organização Mundial da Saúde (WHO, World Health Organization)
estabeleceu, em 1990, um limite de ingestão de 0,47 µg/kg de peso
corpóreo/dia e a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (1997)
determinou que este limite não deveria ultrapassar 0,1 µg/kg/dia. Tendo em
vista que estas recomendações já seriam ultrapassadas com a ingestão diária
de 10 a 20g de pescado contaminado (IPCS, 1990), o relatório em conjunto da
FAO/WHO (2007) propôs uma ingestão semanal tolerável de 1,6 µg de
metilmercúrio/kg de peso corpóreo. De acordo com este relatório, o valor
recomendado seria considerado suficientemente baixo para proteger os
embriões e fetos, vistos como o grupo mais vulnerável da população à
exposição ao metal.
Em consequência dessas recomendações surgiram outras que
propuseram as concentrações toleráveis de mercúrio e metilmercúrio em
peixes comestíveis. Estas recomendações podem classificar como impróprias
ao consumo amostras de pescados que ultrapassarem os valores
recomendados. A legislação brasileira prevê o limite máximo de 500 µg kg-1 de
Revisão de Literatura 22

mercúrio total para espécies de peixes não predatórias e 1000 µg kg-1 para as
predatórias (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 1998), no
entanto, não estabelece um limite para o metilmercúrio. Para este composto
orgânico a FAO/WHO (2007) recomenda que os valores sejam de 500 µg kg-1
para as espécies herbívoras, e para as carnívoras de 1000 µg kg-1. Ambas as
recomendações encontram-se muito próximas, visto que cerca de 90% do
mercúrio total encontrado nos peixes está na forma de metilmercúrio (IPCS,
1990).
Para avaliar a exposição ao mercúrio, além do cálculo de ingestão
alimentar, são empregados biomarcadores que podem determinar a exposição
individual ou populacional, e entre os mais utilizados para a determinação das
concentrações do mercúrio total ou do metilmercúrio, encontram-se os cabelos,
a urina e o sangue.
Amostras de cabelo têm sido frequentemente utilizadas em diversos
estudos como um biomarcador para a exposição ao mercúrio em populações.
Durante a formação do cabelo, o mercúrio presente no sangue entra no folículo
capilar, e uma vez incorporado ao cabelo, permanece inalterado (ATSDR,
1999; DOLBEC et al., 2001). Este biomarcador também vem sendo utilizado
para a análise sequencial do metal no cabelo, mostrando-se útil para identificar
variações sazonais na exposição ao metal. Uma vez que o cabelo cresce cerca
de 1 cm a cada mês a exposição ao mercúrio pode ser recapitulada em
segmentos de fios de cabelo, sendo que aqueles mais próximos ao couro
cabeludo refletem exposição mais recente e os mais distantes, exposições
passadas. Dolbec et al. (2001) conduziram um estudo sobre a variação sazonal
de mercúrio na bacia amazônica. A população do estudo foi composta de
mulheres em idade fértil, cujas amostras de cabelo foram segmentadas e
analisadas centímetro a centímetro. Os pesquisadores observaram que houve
variação no teor de mercúrio em relação à época do ano, sendo maior a
concentração nos segmentos de cabelo que representavam a época da seca e
menor naquele da época das cheias. Ainda relataram que naquelas pessoas
com relato de consumo diário de peixe os teores do metal eram mais altos. No
entanto, a análise sequencial de exposição ao metal não é possível em todos
os estudos, tendo em vista a quantidade de amostra necessária para proceder
as análises.
Revisão de Literatura 23

A concentração de mercúrio em amostras de cabelo nas populações


não expostas ao metal, ou sem risco de exposição, deve situar-se abaixo do
limite de 2000 mg kg-1, e para aquelas expostas admite-se valores de até 6000
mg kg-1 (IPCS, 1990).

2.1.2 Mercúrio no Brasil

No Brasil, especialmente na região amazônica, estudos têm sido


realizados para avaliar as concentrações de mercúrio em água, sedimento,
peixes e nos seres humanos. Além das concentrações do metal em si, estuda-
se também o impacto provocado nas populações expostas ao metal.
A região acima citada tem sido a mais estudada visto os altos teores
do metal encontrados em diversas espécies de peixes, no entanto, outras
regiões também despertam o interesse dos pesquisadores. A seguir serão
descritos alguns estudos conduzidos nas duas regiões de interesse desta
pesquisa: a região amazônica e a cidade de Cubatão.

2.1.2.1 Região Amazônica

No ano de 2008 veio a público uma revisão sobre as publicações


referentes à contaminação por mercúrio na região amazônica, principalmente
sobre a região correspondente ao território brasileiro. Nesta revisão os autores
observaram que desde 1990 até 2005 haviam sido publicados 455 trabalhos,
entre teses e dissertações, relatórios, resumos, artigos e livros. Também
observaram que os temas estavam distribuídos entre saúde, impacto
ambiental, saúde e impacto ambiental, revisões e tecnologias. Relataram que o
número de publicações cresceu de 20 ao ano no início da década de 90 para
30 ao ano em 2005 (HACON et al., 2008).
De acordo com os dados anteriores, nas últimas décadas houve
aumento nas observações de poluição por mercúrio da bacia amazônica e
aumento na concentração do metal em amostras de cabelos de comunidades
ribeirinhas, cuja dieta é baseada no consumo de pescados. O mercúrio
proveniente da atividade garimpeira e da lixiviação é liberado no ecossistema
Revisão de Literatura 24

aquático, e desta forma entra da cadeia alimentar, atingindo também os seres


humanos (MALM, 1998; DOLBEC et al., 2001).
Tendo em vista a vasta extensão da bacia amazônica, muitos
estudos foram conduzidos em regiões distintas, mas de maneira geral, esta
região é considerada como uma área com elevada emissão antropogênica de
mercúrio especialmente pela grande quantidade de atividade garimpeira. No
entanto, estudos mais recentes demonstraram que regiões identificadas como
não impactadas pela interferência humana também apresentam concentrações
elevadas do metal, evidenciando que este ocorre naturalmente nos solos da
região (SILVA et al., 2006).
Na região do estado de Rondônia, na bacia do Rio Madeira, um
estudo conduzido para avaliar os teores de mercúrio no solo, sedimentos, água
e peixes demonstrou que os teores do metal estavam elevados em toda a
extensão do rio, e que o mercúrio derivado da atividade garimpeira
concentrava-se em regiões localizadas. Este, portanto, é um dos estudos que
corroboram com a hipótese de que o solo da região amazônica é um rico
depósito do metal (LECHLER et al., 2000).
Na mesma região foi avaliado o teor de mercúrio total em cabelos de
comunidades indígenas da etnia Pakaanóva. Neste estudo foram analisadas
amostras de 910 índios, entre homens, mulheres e crianças, e a média total
encontrada para a concentração do metal foi de 8,37 µg g-1. Quando foram
separados por classes, as mulheres apresentaram teores de 8,91 µg g-1, e
naquelas em idade fértil, com idades entre 14 e 44 anos, esses valores
apresentaram média de 8,55 µg g-1, sendo que 25% delas obtiveram valores
entre 10,88 µg g-1 e 39,4 µg g-1. Segundo os autores estes dados são
preocupantes e indicam a necessidade de programas de vigilância ambiental
em saúde, que considerem as peculiaridades dos sistemas de nutrição destes
índios (SANTOS et al., 2003).
O mesmo grupo (SANTOS et al., 1999), em outro estudo desta vez
no estado do Pará, obteve valores médios para mercúrio em amostras de
cabelo de 11,75 µg g-1 e 19,91 µg g-1 em duas populações distintas, Brasília
Legal e São Luiz do Tapajós, que estavam expostas ao metal por localizarem-
se em regiões com grande atividade mineradora, e em outra comunidade,
Santana de Itaqui, onde não havia a atividade foram observaram valores de
Revisão de Literatura 25

4,33 µg g-1. Neste estudo não foram separados os indivíduos da comunidade


por gênero, mas foi realizada uma análise do teor de mercúrio em relação ao
tempo de residência nas áreas pesquisadas. De acordo com esta análise, foi
observado que para as comunidades expostas, os níveis de mercúrio eram
elevados e pareciam ser maiores naqueles indivíduos com idade até 25 anos,
enquanto que em Santana de Itaqui não foram observadas diferenças no teor
de mercúrio em relação ao tempo de residência. A explicação sugerida pelos
autores é de que os níveis de mercúrio foram maiores nos indivíduos de até 25
anos porque foi nesta época que teve início a atividade garimpeira, já os
indivíduos maiores de 30 anos tiveram valores menores por não terem sofrido
exposição intra-uterina ao mercúrio.
Sobre o teor do metal e seus compostos em peixes, numa avaliação
do teor de metilmercúrio no Tucunaré (uma espécie de peixe encontrada em
praticamente toda a região amazônica) de amostras coletadas em três rios:
Negro, Madeira e Tapajós (tributários do Rio Amazonas) foram encontrados
valores variando entre 0,04 e 1,43 µg g-1, e apesar desta variação não houve
diferença estatística significativa entre as concentrações do metal nos peixes
encontrados nos três rios, apesar de o Rio Tapajós ser conhecido pela grande
atividade garimpeira (KEHRIG et al., 2008).
Outro estudo, desta vez com espécies dos rios Madeira e Negro,
também observou que o teor de mercúrio em peixes não foi significativamente
diferente entre os dois rios, apesar da diferença entre a atividade garimpeira
em ambos (DÓREA & BARBOSA, 2006).
Numa pesquisa conduzida com populações ribeirinhas do Parque
Nacional do Jaú, Farias et al. (2006) observaram que o consumo de mercúrio
por crianças encontrava-se próximo ou superior ao valor máximo permitido pela
OMS (1996) (5µg de Hg/kg de peso corpóreo). Os dados encontrados,
diferentes de outras regiões brasileiras, se deviam principalmente ao alto
consumo de peixes pelos participantes da pesquisa. Além disso, relataram em
seu estudo que a porcentagem de inadequação no consumo de selênio atingia
40% das crianças.
Silva et al. (2006) estudando a bacia do Rio Negro, uma das maiores
reservas hidrográficas do planeta, representando cerca de 14% da bacia
amazônica brasileira, observaram que a taxa de deposição de mercúrio, seja
Revisão de Literatura 26

de ordem natural ou antropogênica, é mais elevada do que a taxa de


evaporação do metal das águas de superfície, tornando esta bacia um depósito
do metal. Estes resultados estão de acordo com uma observação anterior da
mesma região, que apesar do pequeno impacto antropogênico, apresentou
teores elevados do metal (FADINI &JARDIM, 2000).
Também no Rio Negro, em outro estudo, foram analisadas várias
espécies de peixes, e apesar da bacia deste rio não ter sofrido tanto o impacto
das emissões antropogênicas do mercúrio, os níveis do metal encontrados nos
peixes analisados apresentaram-se superiores a 0,5 ppm (ou 500 µg kg-1,
conforme valores utilizados anteriormente). Ainda neste trabalho os autores
recomendam cautela no consumo de peixes, e que uma ação de
conscientização para a população deveria acontecer, para que esta esteja
ciente dos riscos de exposição ao metal com o consumo excessivo dos
pescados (BELGER & FORSBERG, 2006). No entanto, apesar de obterem
resultados semelhantes em peixes do Rio Negro, Barbosa et al. (2003)
acreditam que o impacto de aconselhar as populações ribeirinhas sobre a
redução no consumo de peixes pode ser negativo, tendo em vista que o
pescado constitui uma importante fonte protéica da dieta desses indivíduos, e o
consumo dos mesmos pode trazer mais benefícios do que riscos à saúde.
Muitos outros estudos poderiam ser citados, mas o que foi relatado
até aqui pode contextualizar a região e o risco de exposição ao mercúrio que
as populações, especialmente as ribeirinhas, estão expostas. Para concluir,
Passos & Mergler (2008) em sua revisão caracterizam o problema da
exposição ao mercúrio numa região tão vasta e tão abandonada pelas
autoridades. De acordo com seu trabalho, as populações amazônicas já
castigadas e desafiadas pela pobreza, pela falta de saneamento básico, pela
alta prevalência de doenças tropicais e pelo acesso limitado a cuidados básicos
de saúde, tem sua vulnerabilidade aumentada pelas consequências fisiológicas
da exposição ao mercúrio. Os esforços na redução das atividades garimpeiras
trouxeram benefícios para os mineradores e suas famílias, mas não refletiram
em redução nas concentrações de mercúrio em peixes e nos seres humanos.
Na maioria dos países que compõem a região amazônica não foram
estabelecidos guias sobre o consumo de peixes pelas autoridades de saúde
pública, possivelmente pela importância do valor nutricional dos pescados e
Revisão de Literatura 27

também porque os efeitos adversos da exposição ao metal não parecem tão


importantes quanto outros problemas de saúde pública já existentes. Relatam
que existe a necessidade real de tratar o problema, e isto pode se dar com
mais pesquisas e estudos que proponham soluções viáveis para a redução da
exposição ao metal, mas que ao mesmo tempo mantenham as tradições e a
biodiversidade alimentares, melhorando desta forma as condições de saúde
das populações.

2.1.2.2 Cubatão

O município de Cubatão ocupa uma área de 148km2, localizada no


litoral sul do estado de São Paulo, cerca de 60km distante da capital. Estudos
anteriores demonstraram níveis de contaminação por mercúrio nesta região,
causada principalmente pelo descaso com os dejetos de indústrias do ramo
petroquímico e siderúrgico, de refino de petróleo, de cimento, de fertilizantes e
de metais não-ferrosos (BOLDRINI et al., 1990; LAMPARELLI et al., 1998).
Também foram observadas concentrações elevadas do metal em medições
realizadas em estação de coleta do estuário de Santos (LAMPARELLI et al.,
1998).
Quando as águas do Rio Cubatão chegam à Baía de Santos sofrem
diluição, no entanto, HORTELLANI et al. (2005), observaram teores elevados
do metal na água e nos sedimentos no sistema estuariano de Santos, e
FARIAS et al. (2005), observaram teores do metal em amostras de peixes
consumidos na região. Ainda que os valores obtidos nos peixes não
ultrapassassem os limites recomendados pela legislação brasileira para
ingestão de mercúrio (500 µg kg-1) (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA
SANITÁRIA, 1998), o consumo crônico das espécies poderia acarretar
problemas com a exposição ao mercúrio. A presença de mercúrio na Bacia de
Santos pode ser um indicador de que a contaminação ainda existe no
município de Cubatão, e é um risco em potencial para a sua população,
principalmente quando esta consome pescados.
Em 2005 foi detectada a presença de mercúrio no mangue de
Cubatão. Foram então analisados água e sedimentos desta região para
Revisão de Literatura 28

observar o ciclo e a mobilidade do metal, e foi constatado que o mercúrio


estava associado a outros metais em sua forma iônica e também à matéria
orgânica, principalmente nos sedimentos. Estes dados são importantes porque
o mangue da cidade de Cubatão é localizado nas circunvizinhanças do
Complexo Industrial, e junto à foz do Rio Cubatão. Além disso, muitas famílias
se instalaram nesta área (HIPÓLITO et al., 2005).
No entanto, poucos estudos foram realizados no município de
Cubatão. Na base de dados do NCBI (National Center for Biotechnology
Information), a busca com a palavra “Cubatão” refere 38 resultados, quando
esta busca é modificada para “Cubatão e Mercúrio” somente 2 resultados são
relatados.
Dentre os estudos conduzidos na cidade muitos se referem à
exposição ao benzeno e aos efeitos da poluição do ar, mas sobre a
concentração de mercúrio no cabelo de seus moradores, apesar do histórico de
poluição da cidade, somente uma pesquisa aparece nas bases de dados
consultadas.
Neste estudo, realizado por Santos Filho et al. (1993), crianças de 1
a 10 anos de idade foram distribuídas em dois grupos para a pesquisa, grandes
consumidoras de peixes e não consumidoras, e apesar de os pesquisadores
não relatarem diferença estatística significativa entre os grupos quanto ao teor
de mercúrio no cabelo, foram observados teores de metal entre 0 e 3 mg kg-1.
De acordo com estes dados, os valores superiores são mais elevados do que
os recomendados pela OMS (1990), que é de 2 mg kg-1.
O outro estudo, realizado pelo mesmo grupo, refere-se aos teores do
metal no sangue das mesmas crianças cujas amostras de cabelo foram
analisadas. De acordo com os resultados, as crianças com maior consumo de
peixe apresentaram também os maiores níveis do metal no sangue (SANTOS
FILHO et al., 1993).

2.1.3 Interação mercúrio e selênio

Apesar dos riscos de exposição ao mercúrio, existem interações


entre o metal e nutrientes que podem minimizar os problemas oriundos desta
contaminação. Estas interações podem influenciar e alterar a absorção,
Revisão de Literatura 29

distribuição, excreção e a toxicidade do mercúrio no organismo. No entanto, as


evidências não são conclusivas e alguns trabalhos mostram incertezas sobre
estes efeitos em relação à toxicidade do metal (UNITED STATES, 1997;
UNEP, 2002).
Em estudos com animais, a administração simultânea de doses de
mercúrio e selênio resultou em diminuição da toxicidade de ambos os
elementos em exposições crônicas e agudas (UNITED STATES, 1999).
Os complexos formados por mercúrio e selênio são menos
conhecidos do que aqueles formados com compostos sulfúricos, utilizados na
terapia de quelação em casos de exposição aguda ao metal, mas não menos
importantes, principalmente porque os compostos apresentam maior afinidade
entre si. Quando mercúrio e selênio se ligam, formam selenido de mercúrio,
que é insolúvel. Esta interação é considerada protetora, uma vez que o selênio
liga-se ao mercúrio e reduz o risco do aparecimento de sintomas de toxicidade
do mercúrio em animais (RAYMOND & RALSTON, 2004). A formação destes
complexos poderia ocorrer tanto no trato gastrintestinal, formando complexos
que não são absorvidos, como depois da absorção (GONZAGA et al., 2009).
O mecanismo protetor do selênio ainda não está completamente
elucidado, mas acredita-se que possa envolver a redistribuição do mercúrio, a
competição entre os dois por sítios de absorção, a diminuição da sensibilidade
do mercúrio a receptores quando complexado ao selênio, ou a prevenção dos
danos oxidativos pelo aumento da quantidade de selênio disponível (quando
suplementado) para a síntese da Glutationa Peroxidase (GPx). Animais
tratados com selênio podem permanecer sem serem afetados pela toxicidade
do mercúrio, apesar do acúmulo tecidual em doses que em outras condições
seriam associadas aos efeitos tóxicos do metal (UNITED STATES, 1999).
No entanto, existem controvérsias sobre o efeito protetor do selênio
contra a toxicidade do mercúrio. Um estudo conduzido com recém nascidos
das Ilhas Faroe, conhecidas pelo alto teor de mercúrio no organismo dos
indivíduos desta comunidade, não conseguiu comprovar a eficiência do selênio
na redução da toxicidade por metilmercúrio, que era originário da dieta das
mães (CHOI et al., 2007).
Alguns cientistas têm estudado esta relação com cautela, pois se um
metal consegue ultrapassar a barreira hemato-encefálica, penetrar no cérebro
Revisão de Literatura 30

e modificar a síntese de selenoproteínas, algum efeito prejudicial pode ser


esperado. Sendo assim é plausível supor que nos casos de exposição ao
mercúrio a síntese de selenoproteínas, especialmente no cérebro, esteja
comprometida, e os danos causados por esta alteração no metabolismo das
selenoproteínas seriam potencialmente mais graves nos indivíduos com estado
nutricional relativo ao selênio inadequado (RAYMOND & RALSTON, 2004).
Segundo Watanabe (2002), do ponto de vista de saúde pública,
deveria ser dada maior importância aos estudos de interações entre selênio e
mercúrio, principalmente quando relacionados a questões ambientais.

2.2 Selênio

2.2.1 Introdução

O selênio, em oposição ao mercúrio, é um nutriente essencial, e


apesar do foco inicial do estudo deste elemento ter sido sua toxicidade, em
1973 foi evidenciada sua importância como componente da GPx e mais tarde
como parte importante das iodotironinas desiodases. Portanto, suas funções
vão além da já referida potencialidade em modificar a toxicidade do mercúrio, e
abrangem o sistema antioxidante, a proteção aos riscos de doenças crônicas
não transmissíveis, a resposta do sistema imunológico e o sistema endócrino
pela conversão da tiroxina (T4) em triiodotironina (T3) (THOMASSEN et al.,
1994; TINGGI, 2003; GONZAGA et al., 2009).
A ingestão inadequada ou excessiva do mineral depende de uma
série de fatores desde o teor do mesmo nos alimentos até sua forma química
no início da cadeia alimentar. Estes fatores incluem a distribuição do elemento
no solo, que é determinada pela natureza do mesmo, seu pH e a presença de
metais pesados que possam quelar o mineral; de como é absorvido pelas
plantas que o colocam na cadeia alimentar; e as vias de ingestão e absorção
(REILLY, 1996; RAYMANN, 2000).
Revisão de Literatura 31

2.2.2 Metabolismo

O selênio ocorre nos alimentos e suplementos nas formas: orgânica,


como selenometionina, derivada de fontes vegetais, selenocisteína, originária
principalmente de fontes animais, e selenometilselenocisteína e as formas
inorgânica como selenito e selenato, estes três encontrados normalmente em
suplementos, já que a ocorrência em alimentos é pequena (SHIOBARA et al.
1998; RAYMAN, 2000).
Após a ingestão, o selênio é absorvido principalmente pelo duodeno,
ceco e cólon. As formas químicas do selênio são absorvidas de maneira
distintas. A selenometionina e a selenocisteína são absorvidas por transporte
ativo, a primeira intacta e a segunda compartilhando mecanismos de absorção
de aminoácidos, já a selenometilselenocisteína é convertida a metilselenol. O
selenito é absorvido por difusão simples e o selenato por carreadores
mediados por sódio (REILLY, 1996; FAIRWEATHER-TAIT, 1997; LETAVAYIVÁ
et al., 2006).
Quando o selênio entra nos enterócitos é reduzido a selenito e nesta
forma é transportado no sangue ligado a proteínas, como albumina e β-
lipoproteínas de muito baixa densidade. O selenito será utilizado no organismo
para a síntese da selenocisteína, que é precursora das selenoproteínas. A
principal via de excreção é a urinária, mas quando consumido em doses
elevadas pode ocorrer a excreção pulmonar, que é responsável pelo odor de
alho na respiração (REILLY, 1996; LETAVAYIVÁ et al., 2006; PAPP et al.,
2007).
Na figura 2 está representado esquematicamente o metabolismo do
mineral em mamíferos.
Revisão de Literatura 32

Se alimentar
Selenometionina
Selenito Pool intracelular de selênio
Selenato
Selenocisteína
Outras formas
liases
Selenometionina
H2Se
GSH (selenito)
Selenito,
selenato TrxR/Trx

GSSeSG, CH3SeH, etc


Sec

Incorporação não-específica
de proteínas ligadoras de Se

Selenoproteínas

Figura 2 – Ilustração sobre o metabolismo intracelular do selênio (enterócito),


em mamíferos. Os metabólitos de selênio entram na célula, juntam-se ao pool
intracelular existente, e são metabolizados por diferentes vias até serem
reduzidos a selenito, que é a fonte para a síntese de selenocisteína. (Se =
selênio; GSSeSG = selenodiglutationa; CH3SeH = metilselenol; H2Se =
selenito; Sec = selenocisteína; GSH = glutationa; TrxR = tiredoxina redutase;
Trx = tioredoxina).
Adaptado de PAPP et al. (2007)

2.2.3 Biodisponibilidade, fontes alimentares e recomendação de ingestão

O teor de selênio nos alimentos é dependente das concentrações do


mineral no solo, e de como este entra na cadeia alimentar. Por todo o mundo a
distribuição da concentração de selênio difere de uma região para outra, sendo
que a faixa de variação encontrada na maior parte do planeta está entre 0,01 e
2 mg kg-1, mas níveis mais altos podem ocorrer como é o caso da Irlanda,
aonde as concentrações atingem níveis superiores a 1000 mg kg-1. As faixas
litorâneas e regiões com solos derivados de rochas vulcânicas e calcárias
tendem a ter concentrações maiores do mineral, enquanto que as formações
basálticas e de granito concentram-no menos (NAVARRO-ALARCÓN &
Revisão de Literatura 33

LÓPEZ-MARTÍNEZ, 2000; OLDFIELD, 2002; HARTIKAINEM, 2005;


COMINETTI & COZZOLINO, 2009).
A biodisponibilidade do mineral é influenciada, principalmente, pela
forma química em que este se encontra nos alimentos, sendo que os
compostos orgânicos são melhor absorvidos do que os inorgânicos. Outros
fatores nutricionais também podem influenciar a biodisponibilidade do mineral
como a quantidade de proteína e lipídeos da dieta, a presença de metais
pesados e o estado nutricional relativo ao selênio do indivíduo. A quantidade de
proteínas do alimento influencia a biodisponibilidade do selênio, uma vez que
as plantas absorvem o mineral do solo nas formas de selenatos e selenitos. O
selênio então substitui grupos sulfúricos nos aminoácidos e transforma-os em
selenometionina e selenocisteína, que servirão para a síntese de mais seleno-
aminoácidos, e para a bioacumulação nos animais que consumirem estas
plantas. O processamento dos alimentos também pode influenciar no teor de
selênio, pois por volatilização podem ocorrer perdas do mineral (ORTUÑO,
1997; NAVARRO-ALARCÓN & LÓPEZ-MARTÍNEZ, 2000; ALISSA et al.,
2003).
A castanha-do-brasil e o rim bovino são consideradas as melhores
fontes do mineral, mas este também é encontrado em boas quantidades nas
carnes vermelhas e nos peixes, exceto quando há contaminação por mercúrio
nos últimos, o que pode reduzir a biodisponibilidade do selênio. Os produtos
lácteos podem fornecer boas quantidades do mineral, especialmente se
encontrarem-se na forma integral. Dentre as verduras as melhores fontes são:
alho, couve-flor, couve de Bruxelas, brócolis, repolho e cogumelos (todos ricos
em grupos sulfúricos), as demais são consideradas fontes pobres no mineral,
assim como as frutas. O trigo, e consequentemente a farinha de trigo e seus
derivados, podem ser boas fontes do mineral em regiões aonde o solo
apresenta teores elevados de selênio (RAYMAN, 2000; ALISSA et al., 2003;
NAVARRO-ALARCON & CABRERA-VIQUE, 2008).
Como dito anteriormente, o teor do mineral no solo influencia a
concentração deste nos alimentos. Na tabela 1 encontra-se um quadro
comparativo com o teor de selênio em alimentos encontrados em uma tabela
americana e em alimentos consumidos no Brasil (USDA, 2002; FERREIRA et
al.,2002).
Revisão de Literatura 34

Tabela 1 – Teores de selênio em alguns alimentos conforme tabelas distintas,


para os Estados Unidos e para o Brasil.
Teor médio de selênio (µg/100g)
Alimento (100g) Estados Unidos1 Brasil2
Filé mignon 35,1 5,2
Fígado bovino 39,7 7,3
Coxa de frango 13,5 12
Sobrecoxa de frango 17,3 6,4
Peito de frango 24,7 8,9
Presunto 17,4 7,2
Ovo de galinha inteiro 31,7 15
Iogurte 2,2 1,7
Leite desnatado 3,3 2,6
Leite integral 3,7 1,9
Feijão preto 3,2 11,9
Arroz polido 9,3 1,9
Farinha de trigo 33,9 6,4
Pão francês 27,1 7,3
Macarrão cozido 26,4 2,3
1 2
Fontes: USDA (2002) e FERREIRA et al. (2002)

Na tabela 2 encontram-se as recomendações para ingestão diária do


mineral, de acordo com os estágios de vida e também os valores para o limite
máximo tolerável de ingestão (UL – tolerable upper intake level).

Riscos na deficiência e toxicidade

A deficiência no mineral está classicamente associada com o


desenvolvimento de duas doenças: a doença de Keshan e a de Keshan-Beck,
ambas descritas na China onde os níveis extremamente baixos de ingestão do
mineral se refletem nas concentrações sanguíneas (DIPLOCK, 1991).
A doença de Keshan é uma cardiomiopatia endêmica, caracterizada
por sintomas de insuficiência cardíaca congestiva, podendo levar à morte
súbita ou derrame, e acomete principalmente mulheres jovens e crianças. A
Revisão de Literatura 35

doença de Keshan-Beck é também endêmica, e ocorre em áreas de deficiência


de selênio e iodo, é uma osteoartropatia, onde os pacientes, principalmente
jovens, apresentam níveis sangüíneos de tiroxina e triiodotironina muito baixos
comparados a indivíduos sem a enfermidade (TAPIERO et al., 2003).
Apesar de mais de 20 anos de pesquisas, as evidências ligando a
baixa ingestão de selênio com o aumento do risco de doença cardíaca
coronariana são fracas. Há interesse no estudo dos possíveis mecanismos
protetores do selênio sobre a incidência de aterosclerose, principalmente no
que se relaciona com suas propriedades in vitro na oxidação das lipoproteínas
de baixa densidade (LDL), na função imune e no metabolismo do ácido
araquidônico, no entanto, ainda são aguardados resultados nesse campo
(ALISSA et al., 2003).

Tabela 2 – Recomendação de ingestão diária de selênio, de acordo com os


estágios de vida.
Estágio de Vida AI*1/EAR2(µg/dia) RDA3(µg/dia) UL4(µg/dia)
Recém-nascidos e Crianças
0 – 6 meses 15* - 45
7 – 12 meses 20* - 60
1 – 3 anos 17 20 90
4 – 8 anos 23 30 150
9 – 13 anos 35 40 280
Adolescentes
14 – 18 anos (M) 45 55 400
14 – 18 anos (F) 45 55 400
Adultos
> 19 anos (M) 45 55 400
> 19 anos (F) 45 55 400
Gestantes
14 - 50 anos 49 60 400
Lactantes
14 - 50 anos 59 70 400
Fonte: NATIONAL ACADEMIES PRESS (2000).
1
AI (adequate intake – ingestão adequada)
2
EAR (estimated average requiremen – necessidade media estimada)
3
RDA (recomended dietary allowance – ingestão dietética recomendada)
4
UL (tolerable upper intake level – limite máximo tolerável de ingestão)
Revisão de Literatura 36

A toxicidade ao selênio provoca um quadro conhecido como


selenose, que se manifesta pela quebra e até mesmo perda de unhas e fios de
cabelos, sintomas gastrintestinais, erupções cutâneas, irritabilidade e fadiga e
caracteriza-se pelo odor de alho na respiração. Além destes sintomas, podem
ocorrer alterações endócrinas, principalmente aquelas relacionadas com o
hormônio do crescimento e com os hormônios tireoidianos. A gravidade da
selenose depende da forma química do selênio ingerido, do tempo de
exposição às doses elevadas, do estágio de vida e do estado nutricional geral
do indivíduo (NATIONAL ACADEMIES PRESS, 2000; GOLDHABER, 2003;
NAVARRO-ALARCÓN & CABRERA-VIQUE, 2008).

2.2.4 Funções

Algumas plantas utilizam o selênio como autoproteção, uma vez que


o excesso do mineral pode intoxicar os predadores. O mineral também
participa de diversos processos catalíticos de bactérias e em mamíferos é
necessário para a sobrevivência, fertilidade, desenvolvimento e controle do
estresse (FLOHÉ et al., 2000).
O selênio exerce suas funções por meio das selenoproteínas. Das
25 selenoproteínas identificadas, algumas possuem função enzimática
redutora, via selenocisteína, o que promove atividade antioxidante ou catalítica.
Algumas selenoproteínas com papel reconhecidamente antioxidante são a GPx
(glutationa peroxidase), e TrxR (tioredoxina redutase) e a SeP (selenoproteína
P) (TAPIERO et al., 2003; PAPP et al., 2007).
O sistema tioredoxina é constituído pela TrxR, tioredoxina e NADPH,
e é reconhecido como o maior sistema redox celular presente nos organismos
vivos. Por seu importante papel redutor, a TrxR tem ação na regulação da
expressão gênica por meio do controle redox de fatores de transcrição como
NF-κB, o Ref-1, AP-1, P53, receptores de glicocorticóides, e as quinases
reguladoras da apoptose. Portanto, a TrxR regula, indiretamente, atividades
celulares como proliferação e morte celular e ativação da resposta imune
(PAPP et al., 2007).
Revisão de Literatura 37

A SeP é uma selenoproteína extracelular, suas concentrações


plasmáticas são influenciadas pelo estado nutricional relativo ao selênio do
indivíduo, e por este motivo pode servir como um biomarcador para o mineral.
Para a SeP, além da função antioxidante na redução de hidroperóxidos
fosfolipídicos, também foram descritas ações de transporte e armazenamento
plasmático do mineral, e papel na ligação com metais pesados, especialmente
o mercúrio. Uma vez que já foram identificadas 4 isoformas da SeP, é possível
que outras funções sejam descritas para ela num futuro próximo (BURK et al.,
2003; BURK & HILL, 2005; RICHARDSON, 2005).
Além do papel antioxidante e da ligação a metais pesados, as
selenoproteínas iodotironinas desiodases catalisam a conversão do pró-
hormônio tiroxina (T4) em sua forma ativa a triiodotironina (T3) e do T3 reverso
em diiodotironina. O selênio está envolvido com a redução do risco de doenças
crônicas não transmissíveis e com a manutenção da integridade do sistema
imunológico (RAYMAN, 2000; JHCI, 2003; TAPIERO et al., 2003).
Ainda não existem evidências concretas sobre o papel do selênio na
redução do risco de desenvolvimento de câncer. No entanto, existem falhas na
compreensão das bases bioquímicas e moleculares dos efeitos
anticarcinogênicos das várias formas de selênio. Estudos epidemiológicos,
clínicos e de intervenção têm demonstrado que o selênio pode ser considerado
como um agente quimioprotetor para alguns casos de câncer de próstata.
Outros estudos, incluindo aqueles que já estão em andamento e outros que
serão iniciados podem trazer respostas mais concretas sobre a ação do
mineral nesta doença (MEUILLET et al., 2004).

2.3 Glutationa peroxidase

Dentre as selenoproteínas com função antioxidante, o grupo da GPx


é o mais numeroso, sendo que quatro tipos diferentes de GPx já têm sua
função estabelecida e todas agem reduzindo, a partir da glutationa (GSH),
hidroperóxidos de hidrogênio ou outros hidroperóxidos orgânicos a água e
álcool, protegendo, desta forma, as células dos danos oxidativos. Na reação a
seguir está demonstrado o metabolismo da GSH, considerado o mecanismo de
Revisão de Literatura 38

defesa antioxidante mais importante para o organismo (BRIGELIUS-FLOHÉ,


1999; BURK & HILL, 1999; HOLBEN & SMITH, 1999; MATÉS et al., 1999;
PAPP et al., 2007).

GPX
ROOH + 2 GSH ROH + GSSG + H2O

Para que a atividade protetora da glutationa, representada por seu


papel redutor de espécies reativas e consequente oxidação da GSH à
glutationa dissulfeto (GSSG), seja mantida, a GSH precisa ser regenerada
através do ciclo catalítico, que consiste na ação da glutationa oxidase e da GPx
oxidando GSH à GSSG, e na ação da glutationa redutase, regenerando GSH a
partir de GSSG, na presença de NADPH (HUBER et al., 2008).
No grupo das GPx, as enzimas diferem entre si na distribuição
tecidual e nos substratos específicos em que atuam, sendo que a GPx1 é a
selenoproteína mais abundante nos mamíferos e localiza-se no citosol celular;
a GPx2 localiza-se no trato gastrintestinal e protege principalmente a região do
cólon dos hidroperóxidos lipídicos; a GPx3 ou plasmática é encontrada nos
fluidos extracelulares e aparece em grandes concentrações nos túbulos renais;
e finalmente, a GPx4, ou GPx fosfolipídeo hidroperóxido, encontrada em
diversos tecidos celulares, principalmente no citosol, reduz eficientemente
hidroperóxidos fosfolipídicos e outros hidroperóxidos menos solúveis. Há
também a GPx5, expressa somente no epidídimo de ratos, a GPx6 que ocorre
em tecidos embrionários e epitélio olfativo, e a GPx7, que se parece com a
GPx4, mas sem o resíduo de selenocisteína que é substituído por cisteína
(HOLBEN & SMITH, 1999; MATÉS et al., 1999; BROWN & ARTHUR, 2001;
TAPIERO et al., 2003; PAPP et al., 2007).
Embora a GPx utilize o mesmo substrato que a catalase (os
hidroperóxidos), ela pode reagir eficientemente com hidroperóxidos orgânicos e
lipídicos, sendo considerada a maior fonte de proteção no organismo para
baixos níveis de estresse oxidativo (MATÉS et al., 1999).
O estado nutricional relativo ao selênio influencia a síntese das
selenoproteínas. Em casos de ingestão mais baixa do mineral algumas
selenoproteínas recebem quantidades adequadas de selênio para executar
suas funções, enquanto outras têm sua atividade diminuída. Nos casos de
Revisão de Literatura 39

deficiências graves e prolongadas, praticamente todas as selenoproteínas tem


sua síntese diminuída. Para a GPx, especialmente a GPx1, a restrição na
ingestão de selênio resulta em redução da atividade enzimática, pois esta é a
selenoproteína que apresenta maior sensibilidade à depleção mineral, e na
repleção é a que precisa de mais tempo para restabelecer os níveis normais de
expressão (YUAN & KITTS, 1997; BRIGELIUS-FLOHÉ, 1999; NAVARRO-
ALARCON & CABRERA-VIQUE, 2008).

2.4 Iodotironinas desiodases

A glândula tireóide sintetiza dois hormônios muito importantes ao


organismo: a triiodotironina (T3) que é a forma biológica ativa do hormônio
tireoidiano que ocorre no fígado, rins e tireóide; e a tiroxina (T4) que é
biologicamente inativa e produzida exclusivamente na tireóide. Cerca de 93%
do hormônio tireoidiano liberado da própria glândula está na forma de T4 e
apenas 7% na forma de T3. Esta concentração representa cerca de 20% do T3
necessário ao organismo, portanto os outros 80% serão gerados com a
desiodação do T4 nos tecidos, principalmente no fígado (GUYTON & HALL,
1996; TAPIERO et al., 2003).
Resumidamente, o efeito geral do hormônio tireoidiano é aumentar a
expressão de um grande número de genes, principalmente aqueles
responsáveis pela expressão de enzimas, proteínas estruturais, proteínas
transportadoras, etc. Esse efeito gera, ao final do processo, um aumento
considerável no metabolismo corporal. A necessidade da conversão do T4 em
T3 se dá porque os receptores nucleares possuem mais afinidade com o último
do que com o primeiro, sendo que 90% das ligações ocorrem com o T3 e
somente 10% com T4 (GUYTON & HALL, 1996).
A produção dos hormônios tireoidianos é regulada por vários fatores
como a secreção do hormônio estimulante da tireóide ou tireotrofina (TSH), que
é secretado pela hipófise em resposta aos níveis circulantes de T3 e em
resposta à disponibilidade de iodo; a modulação da secreção do T4 pela
tireóide; e a regulação da produção do T3 nos tecidos periféricos por meio de
eventos metabólicos influenciados pela atividade do sistema enzimático das
Revisão de Literatura 40

iodotironinas desiodases. As diferenças entre gêneros e etnias são


insignificantes na avaliação tireoidiana, exceto nos casos de gestação que são
influenciados pela secreção dos estrógenos placentários e da gonadotrofina
coriônica. Em indivíduos saudáveis, variações na composição corporal e no
nível de atividade física, na postura ou hábitos corporais, não geram impacto
significativo na função tireoidiana (FISHER, 1996; TAPIERO et al., 2003).
A conversão do T4 em T3, e posteriormente do T3 reverso em
diiodotironina, se dá pela ação de enzimas, as iodotironinas desiodases, que
são a segunda maior classe conhecida de selenoproteínas (BROWN &
ARTHUR, 2001).
As iodotironinas desiodases atuam na formação e regulação do
hormônio tireoidiano ativo T3. A desiodação do T4 para formar T3 e a conversão
do T3 reverso em 3-3’-diiodotironina é regulado por iodotironinas desiodases.
Os tipos 1, 2 e 3 dessa enzima são todos de selenoproteínas, portanto, o
selênio pode ser considerado essencial para o desenvolvimento, crescimento e
metabolismo normais. As desiodases 1 e 2 são responsáveis pela conversão
do T4 em T3, sendo que a primeira é responsável por esta conversão nos
tecidos periféricos e a outra no sistema nervoso central e na glândula pituitária;
e a desiodase do tipo 3 é responsável por catalisar a conversão do T4 em T3
reverso e, posteriormente, deste em diiodotironina (REILLY, 1996; HOLBEN &
SMITH, 1999; BROWN & ARTHUR, 2001; BURK & LAVANDER, 2003;
TAPIERO et al., 2003; GONZAGA et al., 2009; CUNHA & RAVENZWAAY,
2005; NAVARRO-ALARCON & CABRERA-VIQUE, 2008).
Considerando-se que as iodotironinas desiodases são
selenoproteínas, pode-se supor que em estados de deficiência em selênio o
nível plasmático de T4 estará aumentado e o de T3 diminuído, resultando numa
menor síntese e concentração do hormônio triiodotironina ativo (REILLY, 1996;
BURK & LAVANDER, 2003; GONZAGA et al., 2009; CUNHA &
RAVENZWAAY, 2005).
Em seu protocolo para detecção de efeitos da suplementação de
selênio na glândula tireóide Cunha & Ravenzway (2005) citam três estudos
com animais (ratos) recebendo dietas com diferentes conteúdos de selênio,
aonde aqueles que recebiam dieta deficiente no mineral apresentaram menor
Revisão de Literatura 41

concentração de T3 do que aqueles com teor adequado de selênio na


alimentação.
Num estudo com humanos, Hawke & Keim (2003) submeteram dois
grupos de indivíduos a dietas com diferentes níveis de selênio, em seus
resultados observaram que no grupo com dieta pobre no mineral, ocorreu uma
significativa diminuição nos níveis de T3.
Além desses efeitos, em outra pesquisa, Derumeaux et al. (2003)
observaram que o estado nutricional relativo ao selênio tem uma relação
inversa com o aumento do volume da tireóide e risco de bócio em mulheres.
Ainda que em homens os resultados não tenham se demonstrado significativos
para determinar esta relação inversa, os autores relatam que esta relação já
havia sido descrita em estudos populacionais anteriores (VALEIX et al., 1999
apud DERUMEAUX et al., 2003), demonstrando desta forma a estreita relação
entre o selênio e o metabolismo da tireóide, nos seres humanos.
A conversão do T4 em T3 pode ser avaliada pelo monitoramento da
razão T3/T4 no sangue. Portanto, a razão T3/T4 pode ser utilizada como um
marcador funcional do estado nutricional relativo ao selênio em estudos com
seres humanos. Seria lógico levantar a hipótese de que o papel regulador dos
hormônios da tireóide sobre as taxas metabólicas celulares pode ser modulado
pelo estado nutricional relativo ao selênio no organismo, sendo que as
necessidades do mineral podem estar aumentadas em resposta à atividade
celular aumentada. (BROWN & ARTHUR, 2001).
Embora a atividade das desiodases esteja relativamente protegida
em estados nutricionais marginais de selênio, Rayman (2000) em sua revisão
observou que os níveis de ingestão de selênio por populações européias
podem comprometer o metabolismo dos hormônios tireoidianos, como
observado em jovens escoceses, cuja ingestão baixa do mineral resultou em
uma razão T3/T4 tão baixa quanto aquela encontrada em idosos.
Justificativa 42

3 Justificativa

Tendo em vista a importância da relação entre mercúrio e selênio, e


entre este e os hormônios da tireóide, o presente trabalho poderá lançar uma
nova reflexão sobre o problema da exposição ao mercúrio. Procurará
demonstrar se existe alteração na conversão dos hormônios tireoidianos frente
à exposição ao metal. E se forem observadas alterações, poderão ser
propostas maneiras de minimizar os efeitos deletérios do mercúrio, pela
orientação da manutenção de um estado nutricional relativo ao selênio
adequado.
O fato de o trabalho ser realizado com mulheres saudáveis e muitas
delas em idade fértil se dá pela importância da proteção que o selênio pode
oferecer frente à exposição ao mercúrio, visto que, a intoxicação do mesmo
nos seus descendentes pode ser mais grave do que nas próprias mães. Além
disso, disfunções tireoidianas, causadas por deficiência em selênio ou não,
podem também afetar a prole. Portanto, mulheres saudáveis, formam um grupo
relevante de estudo, pois se forem detectadas alterações que influenciem o
estado nutricional relativo ao selênio e/ou dos hormônios tireoidianos, as
soluções oferecidas para minimizar este problema podem beneficiar tanto as
participantes quanto, no caso daquelas em idade fértil, seus filhos.
Objetivos 43

4 Objetivos

4.1 Geral

- Observar se em grupos da população expostos ao mercúrio há


alterações no estado nutricional relativo ao selênio e no metabolismo
dos hormônios tireoidianos.

4.2 Específicos

- Analisar e comparar a concentração de mercúrio em amostras de cabelo


nos grupos.
- Avaliar os níveis sanguíneos dos hormônios tireoidianos (T3, T4 e TSH)
das participantes da pesquisa e compará-los entre os grupos.
- Caracterizar os grupos quanto ao estado nutricional relativo ao selênio,
bem como quanto a atividade da enzima glutationa peroxidase.
- Analisar o consumo alimentar habitual das participantes, e compará-los
entre si.
- Avaliar o estado nutricional geral da população nos grupos estudados.
- Caracterizar os grupos quanto à escolaridade e hábitos de vida.
Hipóteses 44

5 Hipóteses

As populações de Cubatão, de Novo Airão e de São Paulo são


diferentes entre si em relação à exposição ao mercúrio?
O estado nutricional relativo ao selênio está comprometido em
populações residentes em áreas de exposição ao mercúrio?
Haverá alterações na atividade da enzima glutationa peroxidase
nestas populações?
O comprometimento do estado nutricional relativo ao selênio, em
decorrência da exposição ao mercúrio, acarreta alterações sanguíneas nas
concentrações de hormônios tireoidianos?
As alterações nas concentrações desses hormônios representariam
um aumento nos valores de T4 e uma diminuição nos valores de T3?
Indivíduos e Métodos 45

6 Indivíduos e métodos

6.1 Delineamento do estudo

O presente trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa


da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo
(Anexo 1).
O estudo realizado foi do tipo transversal para a caracterização dos
níveis de hormônios tireoidianos e do estado nutritional relativo ao selênio em
mulheres residentes em áreas de exposição ao mercúrio e também daquelas
residentes em área não exposta ao metal.
Foram formados três grupos no estudo. O primeiro composto por
mulheres residentes em Cubatão (SP), o outro em São Paulo (SP) e o terceiro
grupo composto por mulheres residentes em Novo Airão (AM). O tamanho
amostral, mínimo de 25 participantes em cada grupo, foi definido em consulta
ao Centro de Estatística Aplicada do Instituto de Matemática e Estatística da
Universidade de São Paulo (CEA – USP).
Para o recrutamento das participantes do grupo de Cubatão foi
contactada a Secretaria Municipal de Saúde deste município, e por seu
intermédio foram agendadas reuniões com líderes comunitários de quatro
bairros da cidade aonde ocorreu a pesquisa.
A formação do grupo de Novo Airão ocorreu por intermédio do INPA
(Instituno Nacional de Pesquisas na Amazônia), que contactou a Secretaria de
Ação Social do município. As funcionárias dessa secretaria convidaram as
voluntárias para participar de reuniões sobre o estudo, que ocorreram com a
chegada da pesquisadora na cidade.
As participantes do grupo controle foram voluntárias do município de
São Paulo, convocadas aleatóriamente entre as funcionárias do Instituto de
Pesquisas Energético Nucleares (IPEN) e em uma organização não
governamental.
Todas as voluntárias que concordaram em participar do estudo
receberam informações sobre a pesquisa e assinaram um termo de
consentimento livre e esclarecido (Anexo 2), assegurando-se a confiabilidade e
Indivíduos e Métodos 46

sigilo das informações pessoais. Em seguida responderam a um questionário


de triagem inicial, que incluiu perguntas sobre saúde e hábitos de vida (Anexo
3), e foram submetidas aos critérios de inclusão do estudo.

6.1.1 Critérios de inclusão

Participaram do estudo mulheres adultas, com idade entre 19 e 50


anos, aparentemente saudáveis, isto é, que não relatassem doenças
conhecidas, que não estavam em período de gestação ou lactação, que não
utilizavam suplementos alimentares, e que residiam no município pesquisado
por mais de 1 ano.
Todas as voluntárias que não responderam a todos os crtitérios de
inclusão não tomaram parte no estudo.

6.2 Avaliação antropométrica

A avaliação antropométrica consistiu na tomada de medidas


corporais conforme metodologia descrita por FIDANZA (1991). As medidas
consistiram de:

Peso: registrado em balança portátil digital com capacidade para


150 kg e precisão de 100g. O peso foi verificado e anotado. Esta medida foi
tomada com as participantes trajando roupas leves, na posição ereta e sem
calçados.

Estatura: verificada por meio de estadiômetro portátil, com haste


móvel, que foi fixado em parede lisa e livre de rodapés. As participantes foram
posicionadas com as costas voltadas para a parede, sem adornos na cabeça,
sem calçados, com os pés unidos, a postura ereta e olhando para frente. A
leitura deu-se no centímetro mais próximo quando a barra horizontal do
estadiômetro tocou a cabeça.
Indivíduos e Métodos 47

Com os dados obtidos das medidas anteriores foi calculado o Índice


de Massa Corporal.

Índice de Massa Corporal: obtido pela razão entre o peso em


quilogramas e a altura em metros elevada ao quadrado [IMC= peso (kg) /
estatura (m)2]. Este índice é utilizado para classificar o estado nutricional geral
dos indivíduos. O índice é interpretado por comparação com a classificação da
World Health Organization (Organização Mundial da Saúde) de 2000,
demonstrado na tabela 3.

IMC Classificação
< 18,5 Desnutrição
18,5 |—| 24,9 Normalidade
25,0 |—| 29,9 Sobrepeso/Pré-Obesidade
> 30 Obesidade
Tabela 3 – Faixas de classificação do estado nutricional conforme IMC.
Fonte: OBESITY, 2000.

6.3 Avaliação do consumo alimentar

O consumo alimentar foi avaliado pela aplicação de registro


alimentar de 24 horas de três dias não consecutivos, contemplando dois dias
da semana e um dia de final de semana, abrangendo em curto período de
tempo a variabilidade de alimentos consumidos, conforme o método de
BASIOTIS et al., 1987.
As voluntárias receberam informações orais e escritas sobre o
preenchimento do registro, bem como as folhas para as anotações (Anexo 4).
A análise do valor nutricional das dietas individuais obtidas através
dos registros alimentares foi realizada pelo Software NutWin da Escola Paulista
de Medicina/UNIFESP, modificado com inclusão de valores de selênio em
alimentos. Para a inclusão dos valores de selênio em alimentos foram
utilizados dados de alimentos consumidos no Brasil (FERREIRA et al., 2002) e
quando estes não estavam disponíveis foram utilizados dados de tabela
estadunidense (USDA, 2002).
Indivíduos e Métodos 48

Para a avaliação dos registros alimentares relativos às participantes


da Amazônia, foram utilizados dados de análise de composição centesimal de
alguns alimentos da região amazônica, coletados no mesmo período que as
outras amostras. Os resultados destas análises encontram-se em anexo
(Anexo 5).

A adequação da dieta quanto aos padrões de normalidade para


macronutrientes e selênio, conforme fase de vida, foi realizada de acordo com
as DRIs/2001. A prevalência de ingestão inadequada de selênio foi calculada
pelo método de ponto de corte da EAR, quando foi ajustada a distribuição dos
valores de ingestão e considerada somente a variabilidade entre os indivíduos
do grupo (NATIONAL ACADEMIES PRESS, 2002).

6.4 Avaliação bioquímica

Todos os materiais de vidraria ou recipientes plásticos utilizados na


pesquisa foram previamente lavados e desmineralizados por banho em ácido
nítrico a 20%, por 12 horas, e enxaguados por 10 vezes em água deionizada
para minimização de contaminação por minerais.

6.4.1 Coleta de sangue

Para a coleta de sangue, as voluntárias compareceram nos dias e


locais agendados, em jejum de 12 horas. Foram colhidos 15 mL de sangue em
seringas plásticas descartáveis com capacidade de 20 mL e agulhas de aço
inoxidável descartáveis, por pessoa habilitada para este procedimento.
O sangue foi distribuído em tubos distintos: 1) 8 mL em tubos de
vidro contendo EDTA (1mg/mL) como anticoagulante para análise de selênio e
glutationa peroxidase; e 2) 7 mL em tubos sem anticoagulante para análise dos
hormônios da tireóide.
O sangue para análise de selênio e glutationa peroxidase foi
separado em plasma e eritrócitos. O procedimento se deu por uma
centrifugação (centrífuga refrigerada - Sorvall Instruments - RC5C) a 3000g/min
Indivíduos e Métodos 49

por 15 minutos a 4oC quando o plasma foi aspirado com pipeta automática,
acondicionado em eppendorfs desmineralizados e armazenado em ultra-
freezer a -80oC. Para separação dos eritrócitos foi utilizado o método de
WHITEHOUSE et al. (1982), que consistiu em três lavagens sucessivas com
5mL de solução fisiológica a 0,9%, homogeneização lenta por inversão e
centrifugação a 10000g/min por 10 minutos a 4oC. Após a última centrifugação
o sobrenadante foi desprezado e os eritrócitos cuidadosamente recolhidos com
micropipeta e acondicionados em eppendorfs desmineralizados e mantidos em
ultra-freezer a -80oC até o momento das análises de selênio e glutationa
peroxidase.
Para a análise dos hormônios tireoidianos, o sangue total foi
centrifugado (centrífuga refrigerada – Sorvall Instruments – RC50) a 3000g/min
por 10 minutos a 4ºC. O soro foi então coletado em eppendorfs e encaminhado
ao Laboratório de Análises Clínicas da Universidade de São Paulo para
análise.
Durante o processamento do sangue no município de Novo Airão foi
utilizada uma centrífuga não refrigerada, no entanto, foram mantidas as
mesmas rotações utilizadas nos outros processamentos. O sangue foi
armazenado e transportado em nitrogênio líquido até a sede do INPA, em
Manaus, quando foi, então, condicionado em gelo seco para o transporte até a
cidade de São Paulo.

6.4.2 Coleta de cabelo

As amostras de cabelo foram coletadas no mesmo dia em que a


coleta de sangue foi agendada. O procedimento consistiu em coletar uma
pequena amostra de cabelo da região occipital, próximo ao escalpo, na
quantidade aproximada de 1g (quando possível) utilizando-se uma tesoura de
aço inox, limpa a cada coleta com álcool a 70%. As amostras foram
identificadas e transportadas em sacos plásticos até o laboratório, onde foi
realizado o procedimento de limpeza. Os cabelos foram cortados em
segmentos de aproximadamente 0,5 mm, enxaguados por filtragem duas vezes
em acetona, duas vezes em água deionizada, e novamente em acetona, e
Indivíduos e Métodos 50

secaram à temperatura ambiente. Após o procedimento de limpeza as


amostras foram acondicionadas em papel filtro e sacos plásticos até o
momento da análise.

6.4.3 Determinação de selênio no plasma e nos eritrócitos

A determinação da concentração de selênio no sangue (plasma e


eritrócitos) deu-se por meio de espectrofotometria de absorção atômica por
geração de hidretos acoplados à cela de quartzo.
A curva padrão do aparelho foi preparada utilizando-se o padrão
Tritisol (MERK), diluído em HCl (1,2N) e água Milli-Q®.
As amostras foram digeridas por via ácida úmida (HNO3 a 68% PA
Merk) em bloco digestor, com temperatura máxima de 150°C, por 16 horas.
Posteriormente, ocorreu a adição de HCl (1,2N) e novamente as amostras
foram submetidas ao bloco digestor, a 100°C por duas horas, para a redução
do Se (VI) em Se (IV). Após a redução as amostras foram diluídas e analisadas
(HAO et al.,1996; GONZAGA, 2002).
O equipamento utilizado foi um espectrofotômetro da marca
HITACHI, modelo Z-5000, equipado com lâmpada de cátodo oco, com gerador
de hidretos acoplado.
A reprodutibilidade do método foi conseguida pela análise de
amostras em duplicata, com leitura em triplicata, e a validade pela recuperação
dos padrões Seronorm Serum e Seronorm Whole Blood.
Os resultados foram obtidos com a média das absorbâncias
corrigidas para o fator de diluição e os valores foram expressos em g L-1.

6.4.4 Determinação da atividade da GPx nos eritrócitos

Para a análise da atividade da GPx nos eritrócitos foi determinada a


concentração de hemoglobina, obtida em espectrofotômetro UV visível
(HITACHI, Modelo U1100, em 540nm) de acordo com método de VAN
ASSENDELFT (1972), e os valores expressos em gHb/mL.
Indivíduos e Métodos 51

A atividade enzimática foi obtida por meio de kits comerciais


(RANDOX Laboratories) adaptados para uso em analisador bioquímico
automático (Liasys®) conforme o método descrito por MARAL et al. (1977). As
análises foram realizadas no Laboratório de Distúrbios Nutricionais da
Faculdade de Medicina Veterinária da USP.
Os valores obtidos para a atividade da GPx foram corrigidos para a
diluição e concentração de hemoglobina e expressos em U/gHb.

6.4.5 Determinação de mercúrio nas amostras de cabelo

A determinação de mercúrio nas amostras de cabelo se deu por


espectrofotometria de absorção atômica com geração de vapor a frio (CV-
AAS). As amostras foram digeridas por via ácida úmida (HNO3 e H2SO4 PA
Merk) em bloco digestor, em temperatura máxima de 90°C, por 3 horas. Após a
digestão foi adicionado às amostras K2Cr2O7 a 10% para estabilização do
mercúrio, e estas foram então diluídas. No momento da leitura as amostras
foram aspiradas no aparelho juntamente com solução de SnCl para a redução
de Hg2 em Hg0.
A reprodutibilidade do método foi conseguida pela leitura de
amostras em duplicata, e a validade pela recuperação dos materiais de
referência certificados Human Hair – IAEA 086 e 085; Human Hair BCR-
CRM397 e Dolt 3.
Os resultados foram obtidos com a média das absorbâncias
corrigidas para o fator de diluição e os valores foram expressos em ppm.

6.4.6 Determinação dos hormônios tireoidianos

As determinações das concentrações de T3 e T4 totais foram


realizadas por método de eletroquimioluminescência, enquanto que para o TSH
utilizou-se a metodologia ELISA. Estas análises foram realizadas pelo
Laboratório de Análises Clínicas da Universidade de São Paulo.
Indivíduos e Métodos 52

6.4.7 Análise estatística

Para todos os dados obtidos foram calculados: média, mediana,


desvio padrão, valores mínimo e máximo, que foram representados em tabelas
e figuras. Todos os parâmetros foram testados para distribuição normal pelo
teste de Shapiro Wilk e homogeneidade de variância pelo teste de Levene.
Para os parâmetros que apresentaram distribuição normal e homogeneidade
de variância (p>0,05) foram aplicados testes paramétricos, para aquelas
variáveis que não mostraram distribuição normal e/ou homogeneidade de
variância foram aplicados testes não-paramétricos. Todos os testes utilizados,
tanto paramétricos como não paramétricos, foram considerados
estatisticamente significativos quando apresentaram nível de significância de
95% (p<0,05). Às variáveis foi aplicado teste de análise de variância (ANOVA
ou Kruskal-Wallis, significativo se p>0,05). Para as variáveis que apresentaram
diferença estatisticamente significativa, foi realizado teste de comparação
múltipla (Tukey). Algumas variáveis também foram submetidas a testes de
correlação (Pearson ou Spearman).
Os valores de selênio plasmático, selênio eritrocitário, atividade da
GPx, T3, T4, TSH, e mercúrio foram testados pelo Teste t de Student de
comparação de média de uma única variável com relação aos valores de
referência, e foram considerados estatisticamente significativos quando
apresentaram nível de significância de 95% (p<0,05).
Para o cálculo da adequação da ingestão de selênio foi utilizado o
método do ponto de corte da EAR. A distribuição normal foi testada por
Kolmogorov-Smirnov. Quando não foi observada distribuição normal, os
valores foram convertidos em seus logaritmos naturais. Foram, então,
calculadas as variabilidades intra e interindividual de ingestão do mineral pelo
teste de análise de variância (significativo se p<0,05). Depois, a variabilidade
intraindividual foi removida e, desta forma, pode ser calculada a distribuição de
ingestão do nutriente ajustado. Com os resultados foi verificada a prevalência
de ingestão inadequada do nutriente (z), que foi comparada com valores de
porcentagem em tabela específica.
As análises estatísticas foram realizadas com os softwares Excel
versões 2003 e 2007, Statistica 8.0 e SPSS 13.0.
Resultados 53

7 Resultados

7.1 Caracterização da população estudada

Foram formados três grupos no estudo. Um grupo controle,


composto por 70 mulheres residente em São Paulo (SP), e dois grupos de
estudo, com 43 mulheres residentes em Cubatão (CB) e 54 residentes em
Novo Airão (AM).
Por meio do questionário de triagem inicial as participantes
responderam perguntas sobre saúde e hábitos de vida e os resultados estão
descritos por meio das tabelas e figuras abaixo.
As tabelas 4 e 5 representam a distribuição das participantes do
estudo quanto a idade e tempo de residência no município; e número de filhos,
respectivamente, e as figuras 3, 4 e 5 ilustram esta distribuição.

Tabela 4 – Distribuição das participantes de São Paulo (SP), Cubatão (CB) e


Novo Airão (AM), quanto à idade (anos) e tempo de residência no município
(anos).

Idade Tempo de residência no município


(anos) (anos)
Dados SP CB AM SP CB AM
(n=70) (n=43) (n=55) (n=70) (n=43) (n=55)
Média 33,8 32,7 32,3 22,3 24,2 20,6
Máximo 49 46 49 49 44 46
Mínimo 20 19 19 1,4 4 1

De acordo com estes resultados, não foi observada diferença entre


as participantes quanto à idade (p=0,5) e ao tempo de residência no município
onde foi realizada a pesquisa (p=0,2).
Resultados 54

55

50

45

40
Idade (anos)

35

30

25

20
Median
25%-75%
Non-Outlier Range
15 Outliers
SP CB AM Extremes
GRUPOS

Figura 3 – Distribuição das participantes quanto à idade (anos), em São Paulo


(SP), Cubarão (CB) e Novo Airão (AM).
60

50

40
Tempo de residência (anos)

30

20

10

0
Median
25%-75%
Non-Outlier Range
-10 Outliers
SP CB AM Extremes
GRUPOS

Figura 4 – Distribuição das participantes quanto ao tempo de residência nos


municípios (anos), em São Paulo (SP), Cubarão (CB) e Novo Airão (AM).
Resultados 55

Tabela 5 – Distribuição das participantes de São Paulo (SP), Cubatão (CB) e


Novo Airão (AM) quanto ao número de filhos.
Número de Filhos
Dados SP CB AM
(n=73) (n=43) (n=55)
Média 1,8a 1,8b 2,6a,b
Máximo 8 6 10
Mínimo 0 0 0
a: p=0,05; b: p=0,09

Em relação ao número de filhos, foi observada uma diferença


marginalmente significativa entre os grupos de acordo com o teste de análise
de variâncias (p=0,08). Quando aplicado o teste de Tukey de comparações
múltiplas, foi observado que esta diferença ocorria entre os grupos de São
Paulo e Novo Airão (p=0,05), e a diferença entre Cubatão e Novo Airão era
marginalmente significativa (p=0,09). Já entre os grupos São Paulo e Cubatão,
não foi observada diferença entre o número de filhos das participantes (p=0,9).

12

10

6
Nº de filhos

0
Median
25%-75%
Non-Outlier Range
-2 Outliers
SP CB AM Extremes
GRUPOS

Figura 5 – Distribuição das participantes quanto ao número de filhos, em São


Paulo (SP), Cubarão (CB) e Novo Airão (AM).
Resultados 56

As tabelas 6 e 7 relacionam o estado civil e o grau de escolaridade


das participantes do estudo.

Tabela 6 – Distribuição das participantes, em porcentagem, quanto ao estado


civil. [São Paulo (SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM)]
SP CB AM
Dados (n=70) (n=43) (n=55)
Estado civil (%)
Solteiras 42,9 23,3 36,4
Amasiadas 18,6 23,3 20
Casadas 34,4 41,9 34,5
Separadas 4,3 9,3 3,6
Viúvas 0 2,1 5,4

Tabela 7 – Distribuição das participantes, em porcentagem, quanto ao grau de


escolaridade. [São Paulo (SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM)]
SP CB AM
Dados
(n=70) (n=43) (n=55)
Escolaridade (%)
1º grau incompleto 47,1 20,9 34,5
1º grau completo 7,1 9,3 5,4
2º grau incompleto 8,6 16,3 5,4
2º grau completo 20 44,2 47,3
3º grau incompleto 2,9 4,6 3,6
3º grau completo 14,3 4,6 3,6

Com relação à ocupação, em São Paulo, a grande maioria, 71,4%


(n=50), exercia a função de auxiliar de limpeza, entre as outras ocupações
citadas havia psicóloga, estudante, auxiliar administrativo, advogada,
psicopedagoga, do lar, agente de proteção social, operadora de telemarketing,
orientadora social, gerente de serviços, coordenadora de projetos sociais,
assessora de vendas, copeira e auxiliar de superintendência. Em Cubatão
30,2% (n=13) das participantes era do lar, 30,2% (n=13) eram agentes de
saúde e 16,3% (n=7) eram domésticas. Havia também costureiras, auxiliares
de enfermagem, balconistas, cozinheiras, auxiliares administrativos,
Resultados 57

estudantes, enfermeira e auxiliar de farmácia. Em Novo Airão 15% (n=8) eram


auxiliares de serviços gerais, 15% (n=8) eram monitoras de programas sociais
e 15% (n=8) trabalhavam como auxiliares administrativo, entre as outras
profissões relatadas havia domésticas, merendeiras, agentes de saúde,
auxiliares de enfermagem, estudantes, coordenadoras de programas sociais,
professoras, agricultoras, do lar, pescadoras, gari, cozinheira, agente social, e
3,6% (n=2) relataram estar desempregadas.
Sobre os hábitos de vida, relataram uso de algum tipo de
medicamento 45,7% (n=32) das participantes de São Paulo, 53,5% (n=23) das
residentes de Cubatão, e 12,7% (n=7) daquelas de Novo Airão. Os
medicamentos relatados foram contraceptivos orais de uso contínuo, e de uso
esporádico analgésicos, antiácidos e antiinflamatórios, no entanto, o uso destes
fármacos não apresentou restrição para a pesquisa. Sobre outros hábitos de
vida, as participantes que relataram tabagismo representavam 30% (n=21) das
participantes de São Paulo, 11,6% (n=5) de Cubatão, e 20% (n=11) das
mulheres pesquisadas em Novo Airão. Sobre prática de atividade física regular,
houve relato de apenas 8,6% (n=6) das participantes de São Paulo, 46,5%
(n=20) das mulheres do grupo formado em Cubatão, e 27,3% (n=15) das
participantes de Novo Airão.

7.2 Avaliação da composição corporal

Para a avaliação da composição corporal foi utilizado o Índice de


Massa Corporal (IMC). Este índice, calculado a partir de medidas simples de
peso e estatura possui boa correlação com a porcentagem de gordura corporal
e pode ser empregado na avaliação de grupos populacionais (OBESITY, 2000).
Abaixo, nas tabelas 8 e 9, estão representados os dados relativos à
avaliação antropométrica, e a figura 6 ilustra a distribuição das participantes
quanto ao IMC.
De acordo com os resultados observou-se que há diferença
significativa, de acordo com o teste de análise de variâncias, entre a estatura
das participantes (p=0,000). Quando aplicado o teste de comparações
múltiplas de Tukey, a diferença foi observada entre os grupos São Paulo e
Resultados 58

Novo Airão (p=0,000022) e entre Cubatão e Novo Airão (p=0,000022), em


ambos os casos as participantes de Novo Airão apresentaram estatura menor
do que as participantes dos outros grupos. Já entre São Paulo e Cubatão não
houve diferença estatística significativa (p=0,86).
Com relação ao peso, a diferença entre os grupos apresentou-se
marginalmente diferente (p=0,07) pela análise de variâncias, no entanto,
quando aplicado o teste de comparações múltiplas não foi observado diferença
significativa entre os grupos separadamente.

Tabela 8 – Composição corporal segundo peso (kg) e estatura (m) das


participantes de São Paulo (SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM).
Peso (kg) Estatura (m)
Dados SP CB AM SP CB AM
(n=70) (n=43) (n=55) (n=70) (n=43) (n=55)
Média 65,3 70,4 64,1 1,60a 1,61b 1,53a, b
Mediana 62,9 66,7 62,4 1,60 1,61 1,53
Máximo 122,6 106,9 99,2 1,75 1,76 1,71
Mínimo 42,8 39,0 32,3 1,45 1,50 1,37
Desvio Padrão 14,1 15,1 13,4 0,06 0,05 0,06
a: p=0,000022; b: p=0,000022

Tabela 9 – Composição corporal segundo IMC das participantes de São Paulo


(SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM).
IMC
Dados SP CB AM
(n=70) (n=43) (n=55)
Média 25,4 27,2 27,2
Mediana 24,2 25,5 26,3
Máximo 44,2 39,9 38,0
Mínimo 17,5 16,9 17,1
Desvio Padrão 5,1 5,6 5,1

Apesar da diferença significativa na variável estatura, e da diferença


marginalmente significativa na variável peso, não foi observada diferença na
variável IMC (p=0,10) entre os grupos.
Resultados 59

50

45

40

35
IMC

30

25

20
Median
25%-75%
Non-Outlier Range
15 Outliers
SP CB AM Extremes
GRUPOS

Figura 6 – Distribuição das participantes de São Paulo (SP), Cubatão (CB) e


Novo Airão (AM), segundo IMC.

A tabela 10 apresenta a distribuição das participantes de cada grupo,


em porcentagem, segundo as faixas de classificação do IMC.

Tabela 10 – Distribuição, em porcentagem, de mulheres residentes em São


Paulo (SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM) quanto às faixas de classificação
do IMC.
SP CB AM
IMC
(n=70) (n=43) (n=55)
Desnutrição (<18,5) 2,9 (n=2) 2,3 (n=1) 1,8 (n=1)
Normalidade (18,5|—| 24,9) 55,7 (n=39) 44,2 (n=19) 34,5 (n=19)
Sobrepeso (25,1|—|29,9) 28,6 (n=20) 25,6 (n=11) 36,4 (n=20)
Obesidade (>30) 12,9 (n=9) 27,9 (n=12) 27,3 (n=15)

Apesar de não ter sido observada diferença significativa entre os


dados de IMC dos três grupos, concentra-se nas faixas relativas às
classificações de sobrepeso e obesidade 41% das mulheres do grupo São
Paulo, 53% das participantes de Cubatão e 63% daquelas de Novo Airão.
Resultados 60

7.3 Avaliação do consumo alimentar

Para a avaliação do consumo alimentar, as participantes


preencheram três registros alimentares de 24 horas, de dias não consecutivos,
e referentes a dois dias de semana e um dia de final de semana, para garantir
a variabilidade da ingestão alimentar. A taxa de devolução dos registros
alimentares do grupo de São Paulo foi de 100% (n=70), do grupo Cubatão foi
de 97,7% (n=42) e de Novo Airão de 98,2% (54). Os dados foram inseridos no
programa NutWin da Escola Paulista de Medicina/UNIFESP, modificado com
inclusão de valores de selênio para os alimentos relatados nos registros
(USDA, 2002; FERREIRA et al., 2002).
Com base nos dados de peso, altura, idade e prática de atividade
física foi calculada a necessidade energética estimada (EER – Estimated
Energy Requirement) das participantes pela fórmula EER (kcal) = (354,1 –
(6,91 x idade [a]) + coeficiente de atividade física x (9,36 x peso [kg] + 726
x estatura [m])) (NATIONAL ACADEMIES PRESS, 2002).
Nas tabelas 11 e 12 estão descritos os valores para ingestão
energética e necessidade energética estimada; e a porcentagem de adequação
entre consumo e necessidade energética das participantes de ambos os
grupos, respectivamente.
Conforme os resultados, pode se observar que entre os grupos não
houve diferença significativa entre consumo (p=0,24) e porcentagem de
consumo e necessidade (p=0,61), no entanto, houve diferença entre a
necessidade energética estimada (p=0,002) de acordo com o teste de análise
de variâncias, e após a aplicação do teste de comparação múltipla de Tukey a
diferença foi observada entre os grupos Cubatão e Novo Airão (p=0,002), mas
não entre São Paulo e Cubatão (p=0,19) e São Paulo e Novo Airão (p=0,18).
Resultados 61

Tabela 11 – Ingestão de energia e necessidade energética estimada, das


participantes dos grupos São Paulo (SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM).
Dados Energia Consumida Necessidade Energética
(cal) Estimada (cal)
SP CB AM SP CB AM
(n=70) (n=42) (n=54) (n=70) (n=42) (n=54)
Média 1958 2107 1969 2107 2173a 2048a
Mediana 1968 2103 1943 2070 2139 2028
Máximo 3440 3150 2801 2744 2578 2576
Mínimo 945 958 788 1787 1819 1644
Desvio Padrão 498 532 406 185 172 167
a: p=0,002

Tabela 11 – Porcentagem de adequação do consumo energético de mulheres


residentes em São Paulo, (SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM).
Porcentagem de adequação entre
consumo e necessidade energética
Dados SP CB AM
(n=70) (n=42) (n=54)
Média 92,8 97,7 94,6
Mediana 89,8 99,3 98,1
Máximo 185,9 156,7 141,4
Mínimo 43 45,5 43,7
Desvio Padrão 25 26 24

Por estes resultados observa-se que a necessidade energética


estimada para o grupo Cubatão é maior do que aquele de Novo Airão, no
entanto, entre os outros grupos não foi observada diferença.
A tabela 12 apresenta e a figura 7 ilustra, respectivamente, os
resultados de ingestão de carboidratos, em porcentagem em relação ao valor
energético consumido, das participantes de todos os grupos.
De acordo com estes resultados, observa-se que há uma diferença
marginalmente significativa (p=0,07) no consumo de carboidratos, de acordo
com o teste de análise de variâncias, mas a diferença não é significativa entre
os grupos quando observada pelo teste de Tukey de comparações múltiplas.
Resultados 62

Tabela 12 – Ingestão de carboidratos, em porcentagem em relação ao


consumo energético, de mulheres residentes em São Paulo (SP). Cubatão
(CB) e Novo Airão (AM).
Carboidratos (% do VET)
Dados SP CB AM
(n=70) (n=42) (n=54)
a a
Média 50,9 53,2 52,2a
Mediana 51,3 53,1 52,6
Máximo 69,7 64,2 70,1
Mínimo 28,8 35,4 37,7
Desvio Padrão 7,2 6,3 6,7
a: p=0,07

75

70
Ingestão de carboidratos (%) em relação ao consumo energético

65

60

55

50

45

40

35

30 Median
25%-75%
Non-Outlier Range
25 Outliers
SP CB AM Extremes
GRUPOS

Figura 7 – Distribuição da ingestão de carboidratos, em porcentagem, em


relação ao consumo energético de mulheres residentes São Paulo (SP),
Cubatão (CB) e Novo Airão (AM).

Também se observa que a porcentagem de ingestão de carboidratos


em relação ao consumo total está adequada nos três grupos conforme a
recomendação do Institute of Medicine (NATIONAL ACADEMIES PRESS,
Resultados 63

2002), que preconiza o consumo de 50 a 60% das calorias da dieta na forma


de carboidratos.
Abaixo, na tabela 13 e figura 8, a representação da ingestão de
proteínas, em porcentagem em relação ao consumo energético total, de todos
os grupos.

Tabela 13 – Ingestão de proteínas, em porcentagem em relação ao consumo


energético, de mulheres residentes em São Paulo (SP). Cubatão (CB) e Novo
Airão (AM).
Proteínas (% do VET)
Dados SP CB AM
(n=70) (n=42) (n=54)
a a
Média 18,3 16,4 19a
Mediana 18,1 15,8 18,8
Máximo 27,8 22,6 26,7
Mínimo 11,3 10,2 12,7
Desvio Padrão 3,8 2,9 3,5
a: p=0,001

30

28
Ingestão de proteínas (%) em relação ao consumo energético

26

24

22

20

18

16

14

12

10 Median
25%-75%
Non-Outlier Range
8 Outliers
SP CB AM Extremes
GRUPOS
Figura 8 – Distribuição da ingestão de proteínas, em porcentagem, em relação
ao consumo energético de mulheres residentes em São Paulo (SP), Cubatão
(CB) e Novo Airão (AM).
Resultados 64

De acordo com estes resultados, pelo teste de análise de variâncias


há diferença significativa na ingestão de proteínas (p=0,0001) entre os grupos.
No entanto, quando realizada a análise da comparações múltiplas de Tukey
não pode ser estabelecida onde se encontrava a diferença entre cada um dos
grupos (SP-CB, p=0,1; SP-AM, p=0,8; CB-AM, p=0,3).
Com relação à recomendação do NATIONAL ACADEMIES PRESS
(2002) sobre a ingestão de proteínas, em porcentagem em relação ao valor
energético total da dieta, que deve ser entre 10 e 35%, as participantes de
todos os grupos apresentaram consumo adequado deste macronutriente.
Na tabela 14 e figura 9 estão representados os valores de consumo
de lipídeos, em porcentagem em relação ao valor energético total, das
participantes dos três grupos.

Tabela 14 – Ingestão de lipídeos, em porcentagem em relação ao consumo


energético, de mulheres residentes em São Paulo (SP). Cubatão (CB) e Novo
Airão (AM).
Lipídeos (% do VET)
Dados SP CB AM
(n=70) (n=42) (n=54)
Média 30,1 29,4 28,7
Mediana 30,5 30,1 28
Máximo 40,8 40,1 45,5
Mínimo 19,6 18,2 17,1
Desvio Padrão 4,9 5,7 5,5

De acordo com o teste de análise de variâncias não houve diferença


significativa entre o consumo de lipídeos entre os grupos do estudo. Com
relação às recomendações do NATIONAL ACADEMIES PRESS (2002) para a
ingestão de lipídeos, em porcentagem em relação ao valore energético total,
que não deve ser superior a 35%, todos os grupos apresentaram consumo
adequado deste macronutriente.
Resultados 65

50
Ingestão de lipídeos (%) em relação ao consumo energético

45

40

35

30

25

20
Median
25%-75%
Non-Outlier Range
15 Outliers
SP CB AM Extremes
GRUPOS
Figura 9 – Distribuição da ingestão de lipídeos, em porcentagem, em relação
ao consumo energético de mulheres residentes em São Paulo (SP), Cubatão
(CB) e Novo Airão (AM)

A ingestão de selênio está representada pela tabela 15 e pela figura


10, abaixo.

Tabela 15 – Ingestão de selênio (µg/dia) de mulheres residentes em São Paulo


(SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM)
SP CB AM
(n=70) (n=42) (n=54)
Média 57,1 53,3 53,9
Mediana 51,6 50,3 48,4
Máximo 133,4 102,9 145,1
Mínimo 20,8 13,6 13,9
Desvio Padrão 23,6 18,6 26,1

Conforme estes resultados não houve diferença estatística


significativa (p=0,6) sobre o consumo de selênio entre os grupos do estudo.
Resultados 66

160

140

120
Ingestão de Se (mcg)

100

80

60

40

20
Median
25%-75%
Non-Outlier Range
0 Outliers
SP CB AM Extremes
GRUPOS

Figura 10 – Ingestão de selênio de mulheres residentes em São Paulo (SP),


Cubatão (CB) e Novo Airão (AM).

Foi calculada a prevalência de inadequação de ingestão de selênio


pelo método de ponto de corte da EAR. Para o cálculo foi ajustada a
distribuição dos valores de ingestão e considerada somente a variabilidade
entre os indivíduos do grupo. De acordo com os cálculos a ingestão de selênio
estava inadequada em 38,21% das participantes do grupo de São Paulo, em
50% das participantes residentes em Cubatão, e em 44,04% das participantes
residente em Novo Airão.

Uma vez que os resultados demonstraram que o consumo de


proteínas é diferente entre os grupos, mas estatisticamente não foi possível
comprovar em qual grupo era maior ou menor, e que há uma elevada
prevalência de inadequação na ingestão de selênio em cada um deles, foi
aplicado um teste de correlação de Pearson para as variáveis de ingestão de
proteínas e de selênio. Os testes de correlação foram aplicados para cada
grupo individualmente e para todos os grupos juntos. Foi observada correlação
em todas as análises, dos grupos individualmente e dos grupos como um todo.
Abaixo, na tabela 16, estão representados os valores obtidos para a análise de
Resultados 67

correlação entre as variáveis. Por meio destes resultados, uma correlação


positiva, pode-se observar que quanto maior o consumo de proteínas também
é maior o consumo de selênio, em todos os grupos e em cada um deles
separadamente. A figura 11 ilustra a correlação positiva entre consumo de
proteínas e selênio para todos os grupos.

Tabela 16 – Correlação de Pearson para variáveis ingestão de proteínas e


selênio, para os grupos São Paulo (SP), Cubatão (CB) ,Novo Airão (AM), e
todos juntos.
SP CB AM Todos
R 0,7182 0,6554 0,6537 0,6714
P 0,000 0,000 0,000 0,000

160

140 r = 0,6714; p = 0.0000

120

100
Se (mcg)

80

60

40

20

0
20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
PTN g

Figura 11 – Gráfico de dispersão, com tendência linear, sobre correlação entre


ingestão de proteínas e selênio entre todos os grupos do estudo.

7.4 Indicadores bioquímicos

Todas as análises foram realizadas utilizando-se reagentes com


grau PA. Antes das leituras dos parâmetros bioquímicos os equipamentos
foram submetidos à curva de calibração para a determinação do cálculo
estatístico entre repsosta do equipamento e quantidade do analito, que foi
utilizado para a determinação da concentração dos biomarcadores.
Resultados 68

A validação das metodologias empregadas se deu por meio da


análise de materiais de referência certificados, Seronorm Sorum® e Whole
Blood® para a determinação do selênio; Human Hair – IAEA 086 e 085; Human
Hair BCR-CRM397 e Dolt 3 para o mercúrio; padrão de hemoglobina para a
leitura da concentração de hemoglobina eritrocitária; e Controle de Atividade de
GPx Randox® para determinação da atividade da enzima. Quando foram
obtidas curvas de calibração adequadas, mas houve recuperação do material
de referência inferior à esperada, os valores obtidos com as leituras foram
corrigidos para o valor certificado do material.
Para a determinação do mercúrio o limite de detecção do
equipamento (LD) era de 1 ng g-1 e o limite de quantificação (LQ) de 10 ng g-1.
Para a determinação do selênio o LD e o LQ foram determinados a cada
análise. Foram realizadas 10 leituras do “branco”, solução tratada de forma
idêntica às análises, porém sem nenhum analito. Foi calculado o desvio padrão
entre as leituras obtidas e o LD calculou-se com a multiplicação deste valor por
3, e o LQ com a multiplicação de 10 vezes o valor de LD. As amostras que não
atingiram estes valores foram consideradas como zero para os cálculos
estatísticos, mas quando ocorreram foram citadas nos resultados. Em anexo
(Anexo 06) quadro com dados sobre validação das metodologias, LD e LQ.

7.4.1 Mercúrio

Os resultados das análises de mercúrio nos cabelos estão expressos


na tabela 17, a seguir. Dos resultados obtidos para as participantes de São
Paulo foram observadas duas amostras que apresentaram valores abaixo do
limite de quantificação, e por isso foram consideradas para as análises
estatísticas como zero, para as participantes do estudo residentes em Cubatão
e Novo Airão não houve ocorrência de valores abaixo dos determinados como
LQ.

De acordo com o teste de análise de variâncias, houve diferença


entre os grupos (p=0,000), e conforme o teste de comparações múltiplas foi
observada diferença entre os grupos São Paulo e Novo Airão (p=0,000022) e
entre este e Cubatão (p=0,000022). Já entre os grupos São Paulo e Cubatão
Resultados 69

não foi observada diferença (p=0,99). Para a representação gráfica, foram


separados os grupos de São Paulo e Cubatão (figura 12) daquele de Novo
Airão (figura 13) para melhor visualização dos dados, uma vez que a diferença
entre os valores encontrados entre o último grupo e os demais era muito
elevada.

Tabela 17 – Teor de mercúrio (ppm) em amostras de cabelo de mulheres


residentes em São Paulo (SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM).
SPa CB AM
Dados
(n=70) (n=43) (N=55)
b,c b,d
Média 0,18 0,19 5,67b,c,d
Mediana 0,13 0,13 4,52
Máximo 0,66 0,88 18,67
Mínimo 0,00 0,01 0,04
Desvio Padrão 0,16 0,18 4,52
a: duas amostras abaixo do LQ, consideradas como zero; b: p=0,000; c: p=0,000022; d: p=0,000022

Após os resultados dos testes estatísticos iniciais, os grupos


separados para esta representação gráfica foram submetidos a novas análises
estatísticas e de acordo com o teste t de Student confirmou-se não haver
diferença entre os valores de mercúrio nas amostras coletadas das
participantes de São Paulo e Cubatão (p=0,821).
Os teores de mercúrio encontrados em amostras de cabelos das
participantes de cada um dos grupos foi testado, pelo teste t de Student para
uma única variável, em relação ao valor máximo permitido pela OMS (1990)
que é de 2 ppm. Os resultados demonstraram que os valores de todos os
grupos foram diferentes, estatisticamente, daquele preconizado como nível de
segurança para a OMS (p<0,05), indicando que os grupos São Paulo e
Cubatão apresentaram resultados significativamente inferiores ao máximo
recomendado e Novo Airão valores superiores a este. Uma vez que as
populações amazônicas são consideradas como comunidades expostas
naturalmente ao mercúrio, aos resultados do grupo amazônico foi realizado o
mesmo teste anterior com valor de referência de 6 ppm, que de acordo com a
OMS (1990) é um valor tolerado para estas circunstâncias. De acordo com este
novo teste, os valores encontrados para o grupo de Novo Airão são iguais
Resultados 70

(p=0,59), estatisticamente, ao valor máximo recomendado para populações


expostas ao metal.

1,0

0,9

0,8

0,7

0,6
Hg (ppm)

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1

0,0 Median
25%-75%
Non-Outlier Range
-0,1 Outliers
SP CB Extremes
GRUPOS

Figura 12 – Teor de mercúrio (ppm) em amostras de cabelo de mulheres


residentes em São Paulo (SP) e Cubatão (CB).

20

18

16

14

12
Hg (ppm)

10

2
Median
25%-75%
0 Non-Outlier Range
Outliers
-2 Extremes
AM

Figura 13 – Teor de mercúrio (ppm) em amostras de cabelo de mulheres


residentes em Novo Airão (AM).
Resultados 71

7.4.2 Selênio no plasma

Nenhuma amostra analisada apresentou valores abaixo do LD ou do


LQ. Os valores referentes as concentração de selênio plasmático em ambos os
grupos estão descritos na tabela 18.

Tabela 18 – Concentração plasmática de selênio (µg L-1) em mulheres


residentes em São Paulo (SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM).
SP CB AM
(n=70) (n=43) (n=55)
Média 81,7ª,b,c 60,7ª,b,d 101,8ª,c,d
Mediana 79,9 60 91,3
Máximo 123,6 97,8 319,9
Mínimo 45,6 29,5 31,2
Desvio Padrão 18,8 19,4 50,9
a: p=0,000; b: p=0,009; c:0,004; d: p=0,00002

De acordo com estes resultados, por meio do teste de análise de


variâncias, existe diferença significativa (p=0,000) entre os grupos. Após a
aplicação do teste de Tukey para comparações múltiplas foi observada
diferença entre os grupos SP e CB (p=0,009), SP e AM (p=0,004) e CB e AM
(p=0,00002), portanto, segundo esses resultados as participantes de Novo
Airão obtiveram os maiores valores de selênio plasmático enquanto que
aquelas de Cubatão os menores.
A figura 14 ilustra a distribuição do selênio plasmático nos três
grupos do estudo.
Resultados 72

325

300

275

250

225
Se plasmático (mcg L-1)

200

175

150

125

100

75

50
Median
25%-75%
25
Non-Outlier Range
Outliers
SP CB AM Extremes
GRUPOS

Figura 14 – Distribuição da concentração de selênio plasmático em mulheres


residentes em São Paulo (SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM).

Para os valores encontrados em cada grupo foi aplicado o teste t de


Student para uma única variável em relação aos valores de referência do
mineral, que variam entre 53 e 109 µg L-1 (ALEGRIA et al., 1996). Os valores
de selênio plasmático observado para todos os grupos encontram-se dentro
dos valores de referência para o mineral (p<0,05), entretanto, para o grupo de
Novo Airão os valores são iguais, estatisticamente, ao valor máximo
recomendado (p=0,29).
Tendo em vista os resultados obtidos foi aplicado um teste de
correlação entre a concentração de selênio no plasma e a quantidade de
selênio ingerido, nos três grupos e no grupo como um todo, mas não foi obtida
correlação entre estes parâmetros.
Já em relação ao mercúrio, foi observada uma fraca correlação
positiva com os teores de selênio plasmático (p=,000; r=0,3837) quando foi
comparado o grupo como um todo. Ao serem separados os grupos, a força da
Resultados 73

correlação enfraqueceu e manteve-se somente como marginalmente


significante para o grupo amazônico (p=0,092; r=0,2317).

7.4.3 Selênio nos eritrócitos

Dentre os resultados nenhuma amostra analisada apresentou valores


abaixo do LD ou do LQ. A tabela 19 expressa os valores referentes aos valores
de selênio eritrocitário nos três grupos.

Tabela 19 – Concentração de selênio eritrocitário (µg L-1)em mulheres


residentes em São Paulo (SP), em Cubatão (CB) e em Novo Airão (AM)
SP CB AM
(n=70) (n=43) (n=55)
Média 86,3ª,b 85,9ª,c 199,8ª,b,c
Mediana 79,5 88,8 171,2
Máximo 201,9 129,6 640,2
Mínimo 21,9 45,6 72,5
Desvio Padrão 34,7 24,9 104,4
a: p=0,0000; b: p=0,000022; c: p=0,022

Conforme os resultados acima, segundo o teste de análise de


variâncias, há diferença estatística entre os grupos (p=0,0000). Depois de
aplicado o teste de comparações múltiplas de Tukey observou-se que não há
diferença estatística significativa entre os grupos São Paulo e Cubatão
(p=0,99), mas há diferença entre estes e o grupo formado em Novo Airão (SP-
AM, p=0,000022; CB-AM, p=0,000022). Portanto, o grupo de Novo Airão
apresentou média de concentração eritrocitária maior do que os outros dois
grupos. Abaixo, a figura 15, ilustra a distribuição das concentrações de selênio
eritrocitário encontrados entre os três grupos.
Para este parâmetro também foi aplicado o teste t de Student para
uma única variável em relação aos valores de referência para o mineral, que
variam entre 60 e 120 µg L-1 (ORTUÑO et AL, 1997). De acordo com os
resultados os grupos formados em São Paulo e Cubatão encontram-se
adequados em relação e estes valores, porém o grupo formado em Novo Airão
apresentou valores superiores ao valor máximo de referência.
Resultados 74

400

350

300

250
Se er

200

150

100

50
Median
25%-75%
0 Non-Outlier Range
SP CB AM Outliers
GRUPOS
Figura 14 – Distribuição da concentração de selênio eritrocitário em mulheres
residentes em São Paulo (SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM).

Foi observada uma correlação positiva entre os valores de selênio


plasmático e eritrocitário, indicando que aquelas participantes cujo teor estava
mais elevado em um dos compartimentos sanguíneos, também se encontrava
da mesma forma no outro (p=0,00; r=0,7018). No entanto, não foi observada
nenhuma correlação entre a concentração eritrocitária de selênio e os valores
de ingestão do mineral.
Com relação ao mercúrio, houve uma correlação positiva entre os
parâmetros (p=0,000; r=0,6393) quando foram analisados todos os grupos
juntos, indicando que quanto maiores os valores de mercúrio, também eram
maiores os de selênio eritrocitário. No entanto, quando a mesma análise foi
realizada com os grupos separadamente, assim como aconteceu com o selênio
plasmático, a correlação manteve-se apenas no grupo amazônico, e também
com menor força (p=0,005; r=0,3728).
Resultados 75

7.4.4 Atividade da GPx

De acordo com os resultados de GPx, expressos na tabela 20, pelo


teste de análise de variâncias houve diferença entre os grupos (p=0,0000), e
após a aplicação do teste de Tukey de comparações múltiplas constatou-se
que os grupos formados em São Paulo e Cubatão não apresentaram médias
diferentes entre si (p=0,82), mas eram diferentes do grupo formado em Novo
Airão (p=0,00002, para ambos os casos).

Tabela 20 – Valore de atividade da GPx (U/gHb) em mulheres residentes em


São Paulo (SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM).
SP CB AM
(n=70) (n=43) (n=55)
Média 37,1ª,b 38,2ª,c 73,3ª,b,c
Mediana 36,0 36,9 73,3
Máximo 74,6 66,3 129,8
Mínimo 9,8 22,8 30,1
Desvio Padrão 12,2 9,7 16,8
a: p=0,0000; b: p=0,00002; c: p=0,00002

Na figura 15, abaixo, está demonstrada a variação da atividade da


enzima entre as mulheres dos diferentes grupos.
Resultados 76

140

120

100
Atividade da Gpx (U/gHb)

80

60

40

20
Median
25%-75%
Non-Outlier Range
0 Outliers
SP CB AM Extremes
GRUPOS
Figura 15 – Distribuição da atividade da GPx em mulheres residentes em São
Paulo (SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM).

De acordo com o teste t de Student para uma única variável, aplicado


nos grupos individualmente em relação aos valores de referência dos
parâmetros (27,5 - 73,6 U/gHb), todos os grupos encontram-se dentro dos
valores recomendados, no entanto, a média do grupo de Novo Airão apresenta-
se igual ao valor superior recomendado.
Quando foram realizados testes de correlação para os valores de
atividade da GPx com outros parâmetros, observou-se que há correlação
positiva com os teores de mercúrio (p=0,000; r=,5656) quando comparados
todos os grupos juntos, mas não se observa esta correlação quando os grupos
são analisados isoladamente. Já com os teores de selênio eritrocitário a
correlação positiva observada nos grupos em conjunto (p=0,000; r=0,5634),
enfraquece quando os grupos são analisados separadamente, como é o caso
de São Paulo (p=0,04; r=0,2364) e de Cubatão (p=0,018; r=0,3645) e não é
mais observada no grupo formado em novo Airão.
Resultados 77

7.4.5 Hormônios da tireóide

A análise dos hormônios tireoidianos foi realizada pelo Laboratório de


Análises Clínicas da Universidade de São Paulo. Para a leitura de T3 e T4 foi
utilizada metodologia de eletroquimioluminescência e para a leitura de TSH a
metodologia de ELISA.
Na tabela 21 estão descritos os valores de T3 e T4, dos três grupos
do estudo.

Tabela 21 – Concentração dos hormônios tireoidianos T3 e T4 de mulheres


residentes em São Paulo (SP), Cubatão (CB) e Novo Airão (AM).
T3 T4
Dados SP CB AM SP CB AM
(n=70) (n=43) (n=55) (n=70) (n=43) (n=55)
Média 1,34 1,34 1,27 7,57ª,b 8,92ª,b,c 7,39ª,c
Mediana 1,32 1,30 1,29 7,55 8,80 7,22
Máximo 2,1 1,90 1,65 11,15 13,80 9,87
Mínimo 0,87 0,90 0,80 4,89 6,00 5,22
D.Padrão 0,27 0,24 0,17 1,53 1,62 1,01
a: p=0,0000; b: p=0,000045; c: p=0,000023

De acordo com estes resultados há diferença estatística, segundo o


teste de análise de variâncias, entre os grupos para as concentrações médias
de T4, e esta diferença fica evidenciada, após a aplicação do teste de Tukey,
entre São Paulo e Cubatão (p=0,000045) e Novo Airão e Cubatão
(p=0,000023). Desta forma, o grupo formado em Cubatão foi o que apresentou
as maiores concentrações deste hormônio, e este fato refletiu-se também na
razão entre T3/T4, neste grupo, uma vez que esta razão é inversamente
proporcional aos valores de tiroxina (T4), e os resultados estatísticos também
foram semelhantes, como é observado na tabela 22, onde estão descritos
estes resultados.
Resultados 78

Tabela 22 – Razão entre T3 e T4 dos grupos São Paulo (SP), Cubatão (CB) e
Novo Airão (AM).
SP CB AM
(n=70) (n=43) (n=55)
,b ,b,c
Média 0,178ª 0,152ª 0,174ª,c
Mediana 0,175 0,148 0,171
Máximo 0,283 0,217 0,227
Mínimo 0,132 0,119 0,126
Desvio Padrão 0,027 0,020 0,027
a: p=0,000001; b: p=0,000025; c: p=0,000134

Os resultados referentes ao hormônio estimulante da tireóide estão


descritos na tabela 23.

Tabela 23 – Concentração de TSH nos grupos formados em São Paulo (SP),


Cubatão (CB) e Novo Airão (AM).
SP CB AM
(n=70) (n=43) (n=55)
Média 2,22 2,32 1,92
Mediana 2,09 2,22 1,89
Máximo 4,66 4,68 4,17
Mínimo 0,04 0,63 0,54
Desvio Padrão 1,13 1,02 0,86

Para este parâmetro não foi observada diferença estatística entre os


grupos do estudo.
Conforme os valores de referência fornecidos pelo Laboratório de
Análises Clínicas da Universidade de São Paulo para estas metodologias,
todos os grupos apresentaram valores dentro das faixas de normalidade para
os três hormônios (T3: 0,5 – 2,1 ng/mL; T4: 4,5 – 13,0 µg/100mL; TSH: 0,53 –
4,7 µU/mL) conforme resultados do Teste t de Student para uma única variável,
aplicada em cada grupo individualmente e em relação aos valores de
referência (p<0,05).
Os hormônios tireoidianos não apresentaram correlações fortes com
nenhum dos outros parâmetros analisados.
Discussão 79

8 Discussão

Para responder o objetivo geral deste trabalho e verificar a


ocorrência de alterações no estado nutricional relativo ao selênio e nas
concentrações dos hormônios tireoidianos de mulheres em idade fértil e
residentes em área de exposição ao mercúrio, em relação aos seus pares em
área não exposta, esta pesquisa foi realizada nos municípios de São Paulo,
Cubatão e Novo Airão. Nestas cidades foram formados grupos de mulheres em
saudáveis, que não relatassem doenças crônicas não transmissíveis, não
estivessem grávidas ou amamentando e que não fizessem uso de suplementos
alimentares. Os grupos formados não foram representativos da população de
cada cidade, pois segundo a última contagem de população realizada no Brasil
em 2007, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2007), a
cidade de São Paulo possui população de 10.886.518 habitantes, Cubatão
conta com 120.271 habitantes, e Novo Airão com 14.630 habitantes. Portanto,
neste estudo os grupos formados em cada uma destas localidades foram,
apenas, estatisticamente significativos para a comparação do estado nutricional
relativo ao selênio, da atividade da enzima glutationa peroxidase, dos níveis de
hormônios tireoidianos em mulheres residentes em locais com diferentes níveis
de exposição ao mercúrio.
Ao início do estudo foram coletadas amostras de 73 mulheres em
São Paulo, 48 em Cubatão e 56 em Novo Airão. Tendo em vista os objetivos
do estudo, foram retirados dos resultados finais os dados daquelas que
apresentaram valores aumentados do hormônio estimulante da tireóide (TSH).
Foram removidas do estudo, portanto, 3 (4,1%) mulheres do grupo formado em
São Paulo, 5 (6,2%) mulheres do grupo de Cubatão e uma mulher do grupo de
Novo Airão (1,8%). Apesar de os grupos não serem representativos da
população aonde foram formados, a porcentagem de mulheres que
apresentaram os valores alterados do TSH está de acordo com a literatura para
a prevalência de hipotireoidismo subclínico, aonde há elevação no nível de
TSH sem comprometimento dos valores de T3 e T4, que ocorre em 2 a 8,5% da
população (WILSON & CURRY, 2005; DEVDHAR et al., 2007; GOLDEN et
al.,2009).
Discussão 80

Após a remoção dos dados das participantes acima citadas, todos os


resultados apresentados, e agora discutidos, referem-se aos grupos formados
com 70 mulheres em São Paulo, 43 em Cubatão e 55 em Novo Airão.
Conforme os resultados apresentados anteriormente, em relação aos
parâmetros de avaliação antropométrica foi observada diferença de estatura
entre os grupos formados no estudo, sendo aquelas do grupo amazônico mais
baixas que as dos outros grupos. Apesar desse dado, as médias de IMC entre
os grupos não se apresentaram estatisticamente diferentes, no entanto, a
proporção de mulheres com IMC acima da normalidade, sobrepeso e
obesidade, nos grupos de Novo Airão e também no de Cubatão foi maior dos
que aquela encontrada no grupo formado em São Paulo.
De acordo com dados nacionais, em mulheres, as taxas de
prevalência de sobrepeso variam entre 25 e 29,2%, enquanto que as de
obesidade variam entre 9,5 e 13,8% (MARTORREL el al., 2000; FILOZOF et l.,
2001; ABRANTES et al., 2003; FORD & MOKDAD, 2008).
Conforme estes dados, nesta pesquisa, a prevalência de sobrepeso
e obesidade no grupo de São Paulo encontra-se próximo daqueles relatados
na literatura, mas para os grupos formados em Cubatão e Novo Airão os
valores estão mais elevados do que os dados nacionais. Para estes grupos os
valores se aproximam mais aos encontrados para a população européia no
estudo de SEIDELL & FLEGAL (1997), aonde a taxa de prevalência de
obesidade naquelas mulheres era de 21,7% e para sobrepeso de 34,6%.
No Brasil um estudo recente foi realizado com mais de 48 mil
famílias, cujo principal objetivo era estudar a renda familiar, o consumo de
gêneros alimentares e a composição corporal da população. Conforme este
último parâmetro avaliado, foram apresentadas as taxas de prevalência de
obesidade no país todo e em cada uma das capitais estaduais estudadas. Foi
observado que, nas mulheres, a taxa de prevalência de obesidade média no
país e em São Paulo era a mesma, 10,77%, já em Manaus essa taxa era de
8,73%, no entanto, não foi relatado qual era a proporção de mulheres com
sobrepeso (LOBATO et al., 2009). De acordo com estudo supracitado, os
valores encontrados nesta pesquisa para o grupo de São Paulo são próximos
aos daquela, mas os encontrados para o grupo formado na Amazônia, apesar
de não ser a mesma cidade, são mais elevados.
Discussão 81

Os resultados encontrados no grupo formado em Novo Airão também


são diferentes daqueles apresentados no trabalho de Barbosa et al. (2001),
aonde mulheres de populações ribeirinhas que vivem às margens do Rio
Negro, assim como aquelas mulheres do referido grupo do estudo,
apresentaram média de IMC de 22,4. No trabalho de Barbosa et al. (2001), o
IMC não foi apresentado por faixas de classificação, mas o valor médio
encontrado é menor do que o encontrado no grupo de Novo Airão.
Além dos valores aumentados de IMC em relação aos encontrados
na literatura, outro ponto importante a ser ressaltado sobre esses dados nos
grupos formados em Cubatão e Novo Airão é que em ambos houve o maior
número de relatos de prática de atividade física regular do que no grupo de São
Paulo, sendo observado este relato em 46,5% das mulheres no primeiro grupo
e 27,3% no segundo. Na literatura são descritos casos de subrelato quando se
trata de avaliação do consumo alimentar, tanto na quantidade de porções
quanto nos alimentos em geral, especialmente entre mulheres (BRIEFEL et
al.,1997). O que se observa aqui é que pode ter acontecido um relato
hiperestimado em relação às práticas saudáveis por parte das mulheres desses
dois grupos, de outra forma, este fato certamente refletir-se-ia nos índices de
IMC encontrados entre as participantes.
Com relação a avaliação do consumo alimentar das participantes
desta pesquisa, houve alta taxa de retorno das anotações realizadas sobre a
ingestão alimentar de 24 horas, relativas aos períodos de 3 dias. Apenas uma
participante em Cubatão (2,3%) e uma em Novo Airão (1,8%) não devolveram
os registros anotados.
Após a análise dos dados observou-se que o consumo alimentar,
bem como a proporção de ingestão em relação às necessidades energéticas,
eram iguais para todos os grupos. No entanto, foi observada diferença entre
eles em relação à necessidade energética calculada para as participantes, de
acordo com o teste de análise de variâncias. O grupo formado em Cubatão
apresentou maior média de necessidade energética do que os outros grupos,
este fato pode estar associado com a média de peso das participantes desse
grupo, apesar deste dado não se ter apresentado diferente estatisticamente em
relação aos outros grupos. E apesar das participantes de Novo Airão
Discussão 82

apresentarem menor estatura que as participantes dos dois outros grupos, este
dado não se refletiu em diferenças no cálculo de necessidade energética.
Mais importante que o valor de calorias consumidas per se é a
análise da porcentagem do consumo destas em relação às necessidades
energéticas calculadas. Considerando-se, então, as estimativas de consumo e
de necessidade energética, as participantes do grupo São Paulo ingeriram em
média 92,8% de calorias relativas à necessidade, em Cubatão este consumo
representou 97,7% das necessidades, e em Novo Airão 94,6%. Entretanto,
apresentaram consumo energético acima das necessidades calculadas 31,4%
das participantes do grupo formado em São Paulo, 47,6% das participantes de
Cubatão e 40,7% das mulheres do grupo de Novo Airão. A maior porcentagem
de mulheres com consumo energético superior ao necessário nos grupos de
Cubatão e Novo Airão pode estar associado ao maior valor médio de IMC
encontrado em ambos, apesar de não serem estatisticamente diferentes
daquele encontrado no grupo formado em São Paulo.
Sobre a contribuição dos macronutrientes no valor energético total
(VET) da dieta, o Institute of Medicine (NATIONAL ACADEMIES PRESS)
recomenda que entre 10 e 35% do VET seja atingido na forma de proteínas;
em torno de 30% (20 – 35%) do VET como lipídeos e entre 50 e 60% do VET
na forma de carboidratos (NATIONAL ACADEMIES PRESS, 2002). Observa-
se, portanto, que neste estudo todos os grupos apresentaram distribuição
média de macronutrientes em relação ao VET conforme as recomendações.
Apesar dos grupos apresentarem, em média, consumo adequado de
macronutrientes em relação às recomendações do NATIONAL ACADEMIES
PRESS, houve diferença entre o consumo de proteínas entre os grupos, aonde
foi observado menor consumo deste nutriente entre as mulheres do grupo
formado em Cubatão. Este fato refletiu-se também na ingestão de carboidratos,
que se apresentou marginalmente diferente entre os grupos, com maior média
de consumo pelo grupo Cubatão.
Embora os resultados para o IMC não tenham demonstrado
diferença significativa entre os grupos, os dados de consumo alimentar do
grupo formado em Cubatão, apresentam-se em concordância com o estudo de
Lobato et al. (2009), uma vez que uma de suas conclusões refere-se ao
aumento do IMC com o aumento do consumo de carboidratos, especialmente o
Discussão 83

encontrado em sua forma simples. Outros autores, por outro lado, acreditam
que a contribuição dos carboidratos não é tão importante quanto à dos lipídeos
para a prevalência da obesidade. De acordo com alguns estudos foi
demonstram que o consumo elevado de carboidratos (maior que 55% do valor
energético total da dieta) estava relacionado com os menores valores de IMC,
enquanto que os maiores valores do índice encontravam-se em indivíduos com
consumo reduzido do nutriente em detrimento do consumo de lipídeos (MEENA
& ABHIMANYU, 1996; BOWNMAN et al., 2002), mas nesta pesquisa não foi
observado consumo de lipídeos significativamente diferente entre os grupos.
Entretanto, o grupo formado em Novo Airão apresentou maior consumo de
proteínas, mas este dado não se refletiu nos valores de peso e IMC para este
grupo.
A recomendação de ingestão de selênio segundo a EAR é de
45µg/dia (NATIONAL ACADEMIES PRESS, 2000), e é considerada adequada
para atender às necessidades fisiológicas e para promover a melhor atividade
das selenoproteínas GPx e SelenoproteínaP (THOMSON, 2004). Conforme
esta recomendação todos os grupos apresentaram média de consumo do
mineral adequada e não houve diferença significativa entre a ingestão diária do
mineral entre eles, que foi de 57,1 µg/dia no grupo de São Paulo, 53,3 µg/dia
em Cubatão e 53,9 µg/dia em Novo Airão. Entretanto, quando foi calculada a
prevalência de inadequação de ingestão de selênio pelo método de ponto de
corte da EAR, foi observado que a ingestão de selênio estava inadequada em
38,2% das participantes residentes em São Paulo, 50% daquelas de Cubatão e
em 44% naquelas residentes em Novo Airão. Os dados de inadequação
representam a porcentagem de mulheres que não atingiram a ingestão
adequada de acordo com os valores recomendados para EAR. No entanto, há
também um valor que determina a necessidades basal de ingestão do mineral
(a quantidade mínima necessária para prevenir o aparecimento de sinais e
sintomas clínicos e patológicos de deficiência) que foi calculada em 20,4µg/ dia
para mulheres (FAO/WHO, 2004). De acordo com este valor, somente nos
grupos formados em Cubatão (2,4%) e em Novo Airão (5,5%) houve registro de
ingestão inferior a esta.
Discussão 84

A ingestão de selênio é influenciada por diversos fatores, como o


teor do mineral no solo e os hábitos alimentares de uma população. No Brasil,
o conteúdo de selênio no solo é variável, apresentando concentrações mais
baixas nos estados de São Paulo e Mato Grosso ou mais elevadas em Santa
Catarina e Amazonas. A diversidade no teor do mineral no solo do país reflete-
se na concentração do selênio nos alimentos e na ingestão média da
população que varia de baixa a adequada (entre 20 e 114µg/dia) (GONZAGA
et al., 2009).

A falta de dados dos teores do mineral em alimentos consumidos no


Brasil deixa uma lacuna e expõem uma vulnerabilidade na avaliação do
consumo alimentar deste mineral. Muitos dos valores de selênio empregados
ultimamente na análise são referentes a alimentos oriundos de países com
concentrações altas do mineral no solo ou com políticas de fortificação de
alimentos com o mesmo, e por este motivo podem representar erroneamente
os valores de ingestão do mineral em nossas pesquisas. Poucos estudos
identificaram o teor de selênio em alimentos, ou dietas, consumidos no Brasil.
Em 2002, Ferreira et al., analisaram a concentração do mineral em alguns
gêneros alimentares consumidos rotineiramente pela população e produzidos
em vários estados da nação. Dentre os alimentos com maior teor do mineral
apareceram as carnes (aves, peixes e vermelha) e o feijão. Outros gêneros
considerados como básicos para a alimentação nacional (arroz, farinhas e
laticínios) apresentaram níveis baixos do mineral.

Tendo em vista que, além da castanha-do-brasil, as principais fontes


do mineral são também fontes de proteína, aplicou-se nos dados deste estudo
o teste de correlação de Pearson, que demonstrou que o consumo de um
nutriente estava positivamente associado à ingestão do outro (r=0,67; p<0,05).
Esta correlação poderia explicar porque no grupo Cubatão a taxa de
prevalência de inadequação de ingestão do mineral foi mais elevada do que
nos outros grupos, uma vez que a ingestão de proteínas neste grupo era,
também, menor. No entanto, no grupo formado em Novo Airão, o resultado de
inadequação de ingestão de selênio também foi elevado, mas neste grupo o
consumo protéico era maior do que em Cubatão. Então, aplicou-se o mesmo
teste nos grupos separadamente e a correlação continuou a mostrar-se
Discussão 85

positiva, indicando que as mulheres que consumiam maior quantidade de


proteínas também consumiam maior quantidade do mineral, e aquelas com
menos ingestão do macronutriente também apresentaram menor ingestão do
mineral.

Dados de ingestão de selênio, por mulheres adultas saudáveis, em


outros países são muito variáveis. Nos Estados Unidos são descritos valores
de 79 µg/dia (LEVANDER & MORRIS, 1984; HA & SMITH, 2003), 90 µg/dia
(HA & SMITH, 2009) e 126 µg/dia (PHILIP KARL et al., 2009), em mulheres
que participaram como grupo controle em diferentes estudos. Também em
mulheres estadunidenses 6 meses após o parto e que não amamentavam a
ingestão observada foi de 69 (±6) µg/dia (LAVANDER et al., 1987) Na
Inglaterra uma discussão sobre os valores de ingestão do mineral ocorreu no
final da década de 90, uma vez que se observou que o consumo do mesmo
estava diminuindo com o passar dos anos e chegavam a preocupantes
34µg/dia (RAYMANN, 1997). Nos dias atuais, mulheres londrinas, em período
pós-parto, apresentaram consumo de 51,5 (±34) µg/dia (DERBYSHIRE et al.,
2009). No México foram observados valores de 63 (±20) µg/dia (MIER-
CABRERA et al., 2009). Na Espanha a ingestão calculada do mineral, estimada
com base nos valores séricos obtido para o estudo, foi de 46,8 µg/dia
(NAVARRO et al., 1995). Valores mais baixos foram relatados na Nova
Zelândia, com consumo diário de 27 µg (DUFFIEL & THOMSON, 1999).

No Brasil poucos estudos determinam a ingestão do mineral em


grupos saudáveis da população. Uma pesquisa com mulheres adultas
saudáveis, residentes na cidade de São Paulo, mas praticando dieta
vegetariana, observou consumo médio de selênio de 55,5 µg/dia (BORTOLI,
2005). Desta forma, fica demonstrado que apesar de praticarem uma dieta
vegetariana, as mulheres da pesquisa supracitada apresentaram consumo
muito semelhante às mulheres dos três grupos deste estudo. Outro estudo, de
suplementação de selênio com castanhas-do-brasil, apontou que o consumo
do mineral pelos participantes (dados para ambos os gêneros) antes do início
da intervenção era de 94,4 (±23,1) µg/dia (STRUNZ et al., 2008), no entanto,
este valor é referente a dados de tabelas estrangeiras, e portanto, pode não
representar verdadeiramente a ingestão de um grupo consumindo alimentos
Discussão 86

brasileiros. Na região amazônica, um estudo sobre a ingestão alimentar de


crianças ribeirinhas de Rondônia, observou médias de consumo entre 41,8
(±33) e 179,0 (±207) µg/dia (ROCHA, 2009). Também na região amazônica,
outro estudo com crianças ribeirinhas do estado do Amazonas, onde as dietas
foram analisadas em duplicata, observou que a ingestão de selênio variou
entre 12 e 54 µg/dia (a EAR para esta faixa etária é de 23 µg/dia) e que a taxa
de inadequação de consumo do mineral era de 40%. Apesar de este estudo ter
sido realizado com crianças, pode-se observar a alta taxa de inadequação do
consumo do mineral, e este dado pode revelar um indício sobre o consumo
habitual das populações desta região, uma vez que o consumo alimentar das
crianças é influenciado pelo consumo alimentar dos adultos, em especial suas
mães (FARIAS et al., 2006).

O consumo de selênio, em diferentes grupos, é muito variável.


Talvez a observação mais correta sobre este parâmetro resida na taxa de
inadequação de consumo, que pode fornecer a equipes de saúde
embasamento para maiores cuidados com as populações assistidas, mas este
dado ainda é escasso entre os estudos de avaliação do estado nutricional
deste mineral.
Nesta pesquisa, para determinar o estado nutricional relativo ao
selênio, além da ingestão do mineral, foram analisadas as concentrações deste
no sangue das participantes, bem como a atividade da GPx.

A concentração plasmática de selênio é considerada como um bom


biomarcador para o mineral, mas reflete seu estado relativo a apenas um curto
período de tempo (THOMSON, 2004). A média de selênio plasmático
observada foi de 81,7 µg L-1 em São Paulo, 60,7 µg L-1 em Cubatão e 101,8 µg
L-1 em Novo Airão. De acordo com estes valores houve diferença significativa
entre as concentrações entre todos os grupos, sendo que Novo Airão
apresentou os maiores valores e Cubatão os menores, mas todos os grupos
apresentaram resultados médios considerados adequados conforme os valores
de referência adotados para o parâmetro, entre 53 e 109 µg L-1 (ALEGRIA et
al., 1996).

No entanto, apesar de os valores descritos por Alegria et al. (1996)


terem sido aceitos para comparações com valores observados em adultos
Discussão 87

saudáveis pelos estudos conduzidos por este laboratório, ainda não existe um
valor de referência estabelecido mundialmente para selênio plasmático ou
sérico devido às grandes diferenças encontradas para estes parâmetros em
diversos outros estudos. Os fatores que interferem com estes parâmetros vão
desde o nível de selênio no solo até fontes alimentares utilizadas pelas
populações avaliadas. Em 2004, Thomson publicou uma revisão onde propõe
níveis plasmáticos mínimos de selênio associados com: 1) prevenção dos
sinais de deficiência, especificamente com o aparecimento de sintomas da
doença de Keshan (concentrações superiores a 21 µg L-1); 2) melhor atividade
das iodotironinas desiodases (níveis acima de 69 µg L-1); e 3) melhor atividade
da GPx plasmática (valores entre 84 e 100 µg L-1).

Em relação aos valores de referência adotados neste estudo e os


valores propostos por Thomson (2004), nenhuma participante de nenhum dos
grupos formados apresentou valores plasmáticos inferiores a 21 µg L-1.
Apresentaram valores relativos à normalidade [entre 53 e 109 µg L-1, segundo
Alegria et al. (1996)] 85,7% das participantes do grupo de São Paulo, 60,5%
daquelas de Cubatão e 56,4% das mulheres do grupo formado em Novo Airão.
No entanto, apresentaram valores inferiores àqueles recomendados para
melhor atividade das iodotironinas desiodades 30% das participantes de São
Paulo, 67,4% das de Cubatão e 25,5% das de Novo Airão. Valores acima de
109 µg L-1 foram observados em 10% das mulheres do grupo de São Paulo e
34,5% daquelas de Novo Airão, mas em nenhuma mulher do grupo formado
em Cubatão.

Além das diferenças entre os valores encontrados em diversos


estudos em virtude da geografia do selênio, alguns estudos relatam valores
sanguíneos observados no plasma e outros no soro. Apesar das diferentes
concentrações que possam ser observadas nos dois compartimentos em
relação aos níveis de selênio, nesta pesquisa serão também adotados valores
de selênio sérico para comparações com os valores plasmáticos aqui
encontrados, desde que a metodologia de coleta, armazenamento e separação
das amostras de sangue apresentem-se em concordância com os utilizados e
descritos nesta. Este procedimento já foi adotado anteriormente para a
Discussão 88

discussão do estado nutricional relativo ao zinco, quando Brown et al. (2004)


em seu relatório para o IZiNCG encontraram a mesma dificuldade.

As concentrações plasmáticas ou séricas do mineral, assim com os


dados de ingestão, são muito variáveis e representam bem as diferenças entre
os teores do mineral em várias regiões do planeta. As variações entre as
concentrações plasmáticas do mineral podem ser observadas na meta-análise
publicada por Flores-Mateo et al. (2006), que observou em diversos estudos
valores entre 52,5 e 106,8 µg L-1. Outros exemplos incluem um estudo com
população dinamarquesa em que as mulheres em idade fértil apresentaram
concentração sérica de selênio entre 94,4 e 97 µg L-1 (RASMUSSEN et al.,
2009). Outro estudo, realizado em uma região chinesa cujo teor do mineral no
solo é elevado, conduzido com pacientes com hepatite C crônica, nos controles
foram observados valores médios de selênio plasmático de 216,69 (±7,44) µg
L-1 (KO et al., 2005). No Irã, mulheres do grupo controle em um estudo sobre
câncer de mama tinham valor médio de selênio plasmático de 138,4 (±40,36)
µg L-1 (MORADI et al., 2008). Nos Estados Unidos, mulheres vivendo em
região rural e urbana do estado de Ohio, considerado como pobre em conteúdo
de selênio no solo, apresentaram concentrações plasmáticas médias do
mineral entre 109 (±3) µg L-1 e 126 (±2) µg L-1 respectivamente (SNOOK et al.,
1983). Ainda nos Estados Unidos, foram registradas concentrações de selênio
plasmático em mulheres saudáveis que participaram de pesquisas como grupo
controle para estudos comparativos com outros grupos de estudo valores de
105 (±25) µg L-1 (HA & SMITH, 2009), 119 µg L-1 (STEPHENSEN et al, 2007);
124 (±5) µg L-1 (HA & SMITH, 2003) e 136 (±4) µg L-1 (LAVANDER & MORRIS,
1984). Neste mesmo país, em mulheres com seis meses após o parto que não
amamentavam, os valores médios foram de 144 (±7) µg L-1 (LAVANDER et al.,
1987). Na Austrália, também em mulheres saudáveis, foram encontrados
valores de 101,6 (±1,8) µg L-1 (LYMBERG et al., 2008). Valores séricos do
mineral encontrados em mulheres espanholas era de 74,9 µg L-1 (30,2 – 175 µg
L-1) (NAVARRO et al., 1995), e de mulheres francesas na pré-menopausa era
de 84,48 (±15) µg L-1 (ARNAUD et al, 2006). Na Nova Zelândia, um estudo
sobre ingestão alimentar, apresentou resultados médios de selênio plasmático
em mulheres adultas saudáveis de 66,3 (±11,8) µg L-1 (DUFFIELD &
Discussão 89

THOMSON, 1999). Também na Nova Zelândia, em estudo de suplementação


que não separou os participantes por gênero, antes da intervenção os valores
médios de selênio no plasma variavam entre 85 e 88 µg L-1 (THOMSON et al.,
2008). No Brasil, estudo com vegetarianos, demonstrou concentrações
plasmáticas do mineral nas mulheres de 77,3 µg L-1, indicando adequado
estado nutricional, apesar da dieta adotada (BORTOLI & COZZOLINO, 2009).
Também no Brasil, um estudo de suplementação de selênio apontou que os
participantes (de ambos os gêneros) tinham concentração plasmática de 56
(±9) µg L-1 antes da intervenção dietética (STRUNZ et al., 2008). Na Inglaterra,
um estudo sobre suplementação, observou níveis plasmáticos antes do início
da intervenção de 80 a 84 µg L-1, em média em cada grupo, no entanto, neste
estudo também não houve separação dos valores por gênero (BROWN et al.,
2001).

Como se observa, os valores encontrados para a maioria dos


estudos são consistentes com estados nutricionais adequados do mineral,
assim como os dados encontrados nesta pesquisa. No entanto, a variabilidade
de resultados é grande, e dependente dos teores do mineral em alimentos.

Já a concentração do selênio nos eritrócitos revela um estado


nutricional relativo ao mineral referente a um período de tempo maior, uma vez
que o mineral é incorporado às células vermelhas durante sua síntese
(THOMSON, 2004). Neste estudo, as concentrações médias de selênio
eritrocitário encontradas foram 86,3 µg L-1 em São Paulo, 85,9 µg L-1 em
Cubatão e 199,8 µg L-1 nas mulheres do grupo formado em Novo Airão. Para
este parâmetro foi observada diferença entre as médias dos grupos, aonde São
Paulo e Cubatão apresentaram-se estatisticamente iguais, enquanto que Novo
Airão era mais elevado. Para este parâmetro também não foi encontrada
correlação com os valores de ingestão do mineral. Conforme estes resultados,
pode se observar que os grupos formados em São Paulo e Cubatão
apresentaram resultados considerados adequados em relação às referências
de 60 até 120 µg L-1 (ORTUÑO et AL, 1997), já para o grupo de Novo Airão, os
valores encontrados são maiores do que os de referência. Em relação a estes
valores de referência, 15,7% das mulheres do grupo formado em São Paulo e
20,9% daquelas do grupo de Cubatão apresentaram valores inferiores a 60 µg
Discussão 90

L-1, e nas residentes em Novo Airão não houve observação de tais valores.
Com relação aos valores superiores a 120 µg L-1, em 14,3% das participantes
do grupos de São Paulo, 9,3% das de Cubatão e 49% das de Novo Airão foram
observadas tais concentrações. No entanto, também já foram encontrados em
outros estudos, como o conduzido por PLEBAN et al. (1982), valores médios
entre 149,9 e 250 µg L-1 em mulheres americanas em idade fértil e saudáveis.
Neste estudo, recomendavam, já naquela época, que os valores de referência
para este mineral deveriam ser determinados de acordo com a região
geográfica em que as pessoas vivem e, principalmente, de onde se originam os
alimentos consumidos pela população.

Como para todos os outros biomarcadores desse mineral, as


concentrações eritrocitárias de selênio também são influenciadas por sua
ingestão e por este motivo muitos estudos realizados em diferentes países
apresentam valores diversos. Entretanto, a comparação entre resultados de
selênio eritrocitário é complexa, uma vez que não existe padronização quanto à
expressão desses resultados. Muitos estudos apresentam-nos como nesta
pesquisa, em µg L-1, outros sobre o valor de hemoglobina e muitos não os
utilizam como marcador para longos períodos e preferem à este a
concentração do selênio o presente no sangue total, mas diferentemente do
que foi descrito e ocorreu entre plasma e soro, não é possível realizar uma
comparação entre os valores compreendidos nos eritrócitos e aqueles do
sangue total. Portanto, os estudos que contemplam selênio eritrocitário
ocorrem em menor número do que aqueles relativos ao plasma ou ao soro.

Valores para selênio eritrocitário foram descritos em um estudo


realizado com chineses, vivendo em região de solo rico no mineral, que
apresentavam concentração média do mineral nos eritrócitos de 139,08 (±5,76)
µg L-1 (KO et al., 2005), e estes valores representam a população controle do
estudo. Nos Estados Unidos, mulheres saudáveis vivendo, em zonas rural e
urbana, no estado de Ohio apresentaram, respectivamente, níveis médios de
selênio eritrocitário de 203 (±6) µg L-1 e 237 (±6) µg L-1 (SNOOK et al., 1983).
Também deste país, mulheres na pré-menopausa que faziam parte de um
grupo controle no estudo de Ha & Smith (2009) apresentaram valores médios
de 188 (±36) µg L-1. Níveis mais baixos foram encontrados em mulheres
Discussão 91

vegetarianas, vivendo na cidade de são Paulo, onde os valores médios obtidos


foram de 66,9 µg L-1 (BORTOLI & COZZOLINO, 2009), indicando que apesar
de não deficientes no mineral, a concentração eritrocitária responde a algumas
restrições dietéticas.

Já na região amazônica, em um estudo conduzido com populações


ribeirinhas do Tapajós, Lemire et al. (2006) analisaram o selênio no sangue
total e constataram que em 65,7% dos participantes do estudo os valores eram
adequados, conforme os valores de referência, mas os outros 34,3%
apresentaram valores acima dos recomendados como referência, incluindo um
participante cujo resultado era acima do NOAEL estabelecido para o
parâmetro. De acordo com os autores não houve relato de concentrações
condizentes com estados de desnutrição no mineral. Os valores relatados na
literatura para níveis elevados de selênio no sangue em seres humanos são
referentes a regiões de solo muito rico no mineral ou ao consumo de grande
quantidade de peixes e frutos do mar.

Em outro estudo, com mulheres vivendo em comunidades ribeirinhas


do rio Tapajós, Pinheiro et al. (2005) encontraram, em cabelos, valores de
selênio considerados adequados aos parâmetros de referência para este tipo
de amostras. No entanto, relataram que nas grávidas que participaram do
estudo as concentrações eram menores do que nas não grávidas, podendo ser
este um mecanismo de proteção do feto, com o deslocamento do mineral das
mães para estes, uma vez que os valores de mercúrio também estavam
elevados, mas este dado será abordado nesta discussão posteriormente.

Assim como para o selênio eritrocitário também foi observada


diferença nos valores de atividade da GPx entre os grupos. As médias
encontradas foram de 37,1U/gHb em São Paulo, 38,2U/gHb em Cubatão e
73,3 U/gHg em Novo Airão. Conforme estes dados, os valores referentes a São
Paulo e Cubatão são iguais, mas aqueles encontrados para Novo Airão são
mais elevados. Todos os três grupos apresentaram-se adequados conforme os
valores de referência, sendo que aquele formado na Amazônia os valores
médios são iguais ao valor máximo de referência. Houve correlação entre a
concentração eritrocitária do mineral e a atividade da enzima (r=0,56; p<0,05).
Em relação aos valores de referência para atividade enzimática (27,5 –
Discussão 92

73,6U/gHb) 21,4% das participantes do grupo de São Paulo e 13,9 das do


grupo de Cubatão apresentaram valores abaixo da referência mínima, e
nenhuma mulher do grupo formado em Novo Airão apresentou tal valor. Já em
relação aos valores máximos, 45,5% das mulheres do grupo de Novo Airão e
1,4% das mulheres do grupo de São Paulo apresentaram valores superiores a
estes, e no grupo de Cubatão não foi observado nenhum caso.

Resultados para atividade da GPx eritrocitária são poucos também


os descritos na literatura, uma vez que grande parte dos estudos referem a
GPx plasmática, que não pode ser utilizada para comparação com os
resultados desta pesquisa. No entanto, em alguns estudos que utilizam o
marcador eritrocitário, observa-se que há diferenças também em relação aos
locais onde os estudos foram conduzidos.

Em mulheres americanas, os valores médios encontrados em dois


estudos, onde as participantes saudáveis ou em pré-menopausa faziam parte
do grupo controle, foram de 21U/gHb (HA & SMITH, 2003) e 16,4 (±3,1)U/gHb
respectivamente (HA & SMITH, 2009). Num estudo iraniano sobre câncer de
mama, mulheres saudáveis, que compunham o grupo controle, apresentaram
média de GPx eritrocitária de 20,29 (±2,24) U/gHb (MORADI et al., 2008). No
estudo inglês citado anteriormente, onde não foi feita separação dos resultados
entre os gêneros, a atividade da GPx eritrocitária entre os grupos antes da
suplementação variavam entre 58 e 62 U/gHb (BROWN et al., 2001). No
estudo chinês sobre pacientes com hepatite C crônica, também citado
anteriormente, os participantes do grupo controle apresentaram valores médios
de GPx eritrocitária de 51,26 U/gHb (KO et al., 2005). Em um estudo sobre
peroxidação lipídica em obesos, conduzido no Kuait, os participantes do grupo
controle (IMC entre 19 e 25) apresentaram média de atividade de GPx de 98,4
(±3,3) U/gHb, no entanto, neste grupo havia 30 mulheres e 20 homens, mas os
resultados não foram apresentados por gêneros separadamente (OLUSI,
2002).

De acordo com o que foi descrito na literatura sobre os resultados


para os biomarcadores de selênio, há grande variação entre os dados, e as
variações encontradas são referentes a diversos fatores, como dieta e,
principalmente, local de realização das pesquisas. No entanto, pode-se
Discussão 93

observar que neste estudo, os valores encontrados para todos os três grupos
condizem com um estado nutricional relativo ao mineral adequado.

Em relação aos teores de mercúrio encontrados em amostras de


cabelo, os grupos formados em São Paulo (0,18 ppm) e Cubatão (0,19 ppm)
não apresentaram diferença entre si, mas houve diferença entre esses e o
grupo formado em Novo Airão (5,67 ppm). Dentre as participantes dos dois
primeiros grupos, nenhuma apresentou valor de mercúrio no cabelo acima de 2
ppm, valor máximo recomendado pela OMS (1990), e no grupo de Novo Airão
21,8% das mulheres apresentaram concentrações abaixo desse valor. No
entanto, também existe uma recomendação para valores máximos em regiões
onde há exposição reconhecida ao mercúrio (6 ppm), e 30,9% das mulheres
residentes em Novo Airão apresentaram valores acima destes.

Os valores encontrados para os grupos formados em São Paulo e


Cubatão indicam que não há risco de exposição ao metal para estas mulheres.
Já os resultados encontrados para o grupo formado em Novo Airão são
coerentes com os encontrados na literatura para esta região. Os teores de
mercúrio observados em amostras de cabelo de comunidades ribeirinhas ao
longo do Rio Negro, assim como a cidade amazônica estudada nesta pesquisa,
apresentaram concentrações de mercúrio em cabelos em média de 18,31 (±
11,12) ppm (BARBOSA et al., 2001). Na região do reservatório de Balbina,
também no estado do Amazonas, valores de mercúrio em amostras de cabelo
de mulheres foram relatadas em médias de 7,4 (±4,6) ppm (KEHRIG et al.,
1998). Na região do rio Madeira, na comunidade indígena de Pakaanóva os
valores médios encontrados do metal na população em geral foram de 8,37
ppm, e entre as mulheres em idade fértil os valores eram de 8,55 ppm
(SANTOS et al., 2003). Já na região do Rio Tapajós, no estado do Pará, onde
há histórico de contaminação por mercúrio em decorrência de garimpo, foram
encontrados valores médios de mercúrio em amostras de cabelo em várias
comunidades ribeirinhas em torno de 25 a 34 ppm (MALM et al., 1995), 12,5
(2,9 – 27) ppm (DOLBEC et al., 2001) e 9,39 (5,25 – 21) ppm em mulheres não
gestantes e 8,25 (1,51 – 19,43) em gestantes (PINHEIRO et al., 2005).
Também nesta região, Santos et al. (1991) observaram valores entre 11,75 e
19,91 ppm em comunidades vivendo em regiões onde o garimpo estava
Discussão 94

presente, mas em uma localidade que não havia esta atividade os valores
médios encontrados foram de 4,33 ppm.
Apesar dos valores elevados de mercúrio encontrados em amostras
de cabelos, em dois estudos foram realizadas avaliações clínicas na população
para observação de sintomas da intoxicação pelo metal, descrito como doença
de Minamata. No estudo de Dorea et al. (2003), com mulheres vivendo em
comunidades ribeirinhas no Rio Negro, os sintomas pesquisados foram
fraquezas musculares, amortecimento de membros, tremores, desequilíbrio,
alterações sensoriais, no entanto, nesta população, esses sinais não foram
observados. Em outro estudo, realizado no Pará, Malm et al. (1995), realizaram
avaliações clínicas que procuravam por sintomas como desequilíbrio sensitivo,
constrição de campo visual, ataxia, redução da capacidade auditiva, tremores,
reflexos de tendões e desequilíbrios mentais e salivares, mas também não
encontraram entre as populações ribeirinhas analisadas nenhum desses sinais.

Com relação aos valores encontrados para os hormônios


tireoidianos, nos três grupos, as médias de T3 e T4 totais e TSH encontraram-
se dentro dos valores de normalidade para estes parâmetros. Apenas uma
participante do grupo formado em Cubatão apresentou valor acima do
recomendado para o T4 total, e três mulheres do grupo de São Paulo
apresentaram valores para TSH abaixo do recomendado. No entanto, nas
participantes do grupo Cubatão a concentração média de T4 observada foi
maior do que nos outros grupos, e consequentemente a razão T3/T4 foi menor.

Em uma revisão sobre a influencia da suplementação com selênio


na função tireoidiana, Thompson et al. (2005) observaram que a razão T3/T4
dos indivíduos estudados, antes da suplementação com o mineral, variava
entre 0,18 e 0,21. Após a suplementação houve pequena diminuição dos
valores de T4 e aumento da razão entre os dois hormônios, indicando que em
uma população em que o estado nutricional do selênio é adequado, pouca
alteração é observada nos níveis dos hormônios tireoidianos.

Chegaram à mesma conclusão Raymman et al. (2008) estudando os


efeitos da suplementação de selênio em idosos no Reino Unido. Os níveis dos
hormônios tireoidianos, bem como a razão T3/T4, sofreram alteração pequena e
não significativa pós-suplementação com o mineral, demonstrando que
Discussão 95

também neste grupo, quando o estado nutricional relativo ao selênio está


adequado, a suplementação com esta finalidade não é indicada. No entanto,
ressaltam a importância de outros estudos que procurem observar os mesmos
parâmetros em grupos vivendo em regiões pobres em selênio.

Os resultados para a razão T3/T4 encontrados em ambos os estudos


assemelham-se aos encontrados neste estudo para os grupos formados nas
cidades de São Paulo e de Novo Airão, mas estão mais elevados do que os
obtidos para Cubatão.

Em outro estudo, no entanto, sobre intervenção dietética Hawkes &


Keim (2003), confinaram em unidade metabólica 12 homens saudáveis e os
distribuíram em dois grupos com modificação no conteúdo de selênio nas
dietas, uma com alto teor do mineral (297 µg/dia) e outra com baixo teor do
mineral (14 µg/dia). Ao fim do estudo, no grupo com dieta rica em selênio
observaram redução do T3 e aumento do TSH, sugerindo a instalação de
hipotireoidismo subclínico, associado com ganho de peso nos participantes, e
observaram o inverso no outro grupo. De acordo com estes resultados, os
autores sugerem que o selênio dietético influencia o metabolismo dos
hormônios tireoidianos, levando a modificações no metabolismo energético e
consequentes alterações no peso e composição corporal, mas estes resultados
são contrários aos encontrados nos estudos anteriores, quando a
suplementação com selênio, em grupos com estado nutricional relativo ao
mineral adequado, apresentaram redução, ainda que pequena, dos níveis de
T4 e maior razão entre T3 e T4. Portanto, ainda serão necessários mais, e
maiores, estudos para determinar o efeito do status de selênio ou da sua
suplementação nos indivíduos para os hormônios tireoidianos.

De acordo com os resultados encontrados neste trabalho observa-se


que o grupo formado em São Paulo apresentou resultado de ingestão de
selênio adequado, com menor porcentagem de inadequação do consumo do
mineral (38,21%) entre os três grupos. Os valores plasmáticos e eritrocitários
de selênio, atividade da GPx e hormônios tireoidianos encontrados estavam em
concordância com os valores de referência, e a concentração de mercúrio em
amostras de cabelo estava abaixo do valor máximo tolerável recomendado pela
Discussão 96

OMS (1999), tornando este grupo adequado ao papel de grupo controle do


estudo.

O grupo formado em Novo Airão apresentou valores de concentração


de mercúrio elevadas em relação aos valores de referência, mas em
concordância com outros estudos realizados na mesma região. Apesar da
porcentagem de inadequação de consumo de selênio (44,04%) entre as
participantes deste grupo, os valores plasmáticos e eritrocitários do mineral e a
atividade da GPx apresentaram-se adequados, e inclusive mais elevados do
que os outros dois grupos desta pesquisa. Os valores bioquímicos de selênio
encontrados no grupo formado em Novo Airão não condizem com os dados de
ingestão do mineral, e levam a crer que os alimentos produzidos e consumidos
naquela região apresentam valores mais elevados de selênio do que em outras
regiões. Alterações no teor de selênio entre as diversas regiões brasileiras já
foram observadas por Cozzolino & Martens (2002) quando analisaram
amostras de solo, feijão e carnes de diversas localidades do país. Portanto,
novamente, conclui-se a necessidade urgente de tabelas nacionais, e
principalmente regionais tendo em vista as dimensões continentais do país,
sobre os teores do metal nos alimentos. A utilização de dados de selênio
estrangeiros ou mesmo nacionais, mas estes ainda insuficientes, tendem a
produzir dados super ou subestimados nas pesquisas realizadas sobre
consumo alimentar do mineral no Brasil. Para o grupo formado em Novo Airão,
os dados aqui encontrados são evidentemente subestimados, pois os valores
sanguíneos do mineral, bem como a atividade da GPx, apresentaram-se
superiores aos outros dois grupos desta pesquisa, e refletem um resultado
equivocado sobre o consumo do mineral. Sobre as concentrações dos
hormônios tireoidianos observadas neste grupo, estas não estavam alteradas
em relação aos valores de referência ou em relação ao grupo controle,
indicando que os resultados encontrados para mercúrio e para o status de
selênio das participantes não influenciaram os mesmos.
A origem da presença de concentrações elevadas de mercúrio na
região amazônica não está completamente elucidada, tendo em vista que o
número de estudos conduzidos nesta região ainda pode ser considerado
Discussão 97

pequeno em relação ao tamanho de sua área total. Acredita-se que a


contribuição do garimpo em algumas regiões, apesar de representar uma
emissão antropogênica importante do metal, não seria suficiente para
contaminar de forma significativa todo o ambiente, principalmente porque há
muitos relatos de teores elevados do mesmo em regiões livres deste tipo de
atividade (WASSERMAN et al., 2003). No entanto, apesar da dificuldade de
estabelecer o ciclo biogeoquímico completo do metal nesta vasta área, as
populações naturais destas regiões não apresentam sinais de intoxicação ao
mercúrio (MALM, et al., 1995; DOREA et al., 2003), ainda que o consumo de
peixes seja um hábito da população, principalmente pela facilidade de acesso a
este tipo de alimentos (MALM, 1998; DOLBEC et al., 2001). Nesta pesquisa
92,7% das mulheres do grupo formado em Novo Airão relataram consumo de
peixes pelo menos uma vez por semana. Ainda que o mecanismo desta
possível proteção contra os sintomas de intoxicação pelo mercúrio não tenha
sido completamente esclarecido, pode estar relacionado aos níveis de selênio
encontrados nestas comunidades. Apesar de poucos estudos terem relatado os
valores de selênio em seres humanos naquela região, os valores encontrados
nesta pesquisa, apesar de mais elevados do que nos outros grupos, não são
característicos de intoxicação pelo mineral, sendo, portanto, comparáveis com
dados de outras pesquisas conduzidas em locais de solos seleníferos e
também com alguns dados amazônicos. Acredita-se que a exposição crônica
ao mercúrio, associada com elevados níveis de selênio, possa promover a
acumulação do mercúrio ligado ao selênio em tecidos, sem que haja sintomas
de sua presença no organismo, e também que o sequestro do selênio pelo
mercúrio seja compensado nesses casos, não permitindo que as
concentrações do mineral atinjam níveis compatíveis com desnutrição, e desta
forma a síntese das selenoproteínas seja completamente preservada. O que
não ocorre em casos de intoxicação aguda pelo metal (FALNOGA et al.,2006).

O grupo formado por mulheres residentes em Cubatão, apesar de


não apresentar risco de intoxicação por mercúrio, e cujos resultados podem ser
considerados adequados para todos os outros parâmetros, apresentou maiores
valores de T4 em relação aos outros grupos, e consequentemente, menor
razão T3/T4. Também foi neste grupo que ocorreu a maior porcentagem de
Discussão 98

inadequação de ingestão de selênio (50% das participantes), e também a maior


porcentagem de mulheres (64,7%) com valores plasmáticos do mineral abaixo
de 69µg/L, considerado como o valor mínimo para a melhor atividade das
iodotironinas desiodases (THOMSON, 2004). No entanto, apesar de as
participantes do grupo formado em Cubatão apresentarem risco de deficiência
de selênio, e este fato poder estar influenciando o metabolismo regular dos
hormônios tireoidianos, principalmente as concentrações de T4, é necessário
também avaliar o status de iodo das participantes antes de propor uma
suplementação com selênio. Se houver também um quadro de inadequação do
status de iodo nestas mulheres, a suplementação com selênio poderia levar à
desiodação excessiva dos hormônios tireoidianos, perda de iodo pela urina e
estimulação pelo TSH da tireóide depletada de iodo (KÖHRLE, 2005).

A presença de mercúrio no sistema estuarino de Santos ainda é


observada (HOTELLANI et al., 2005), no entanto, a ingestão dietética de peixes
e frutos do mar não foi verificada nos registros alimentares das mulheres
componentes deste grupo de estudo, e pode indicar o motivo pelo qual o
mercúrio que ainda é presente nos rios e mangues da região não chega até os
seres humanos, e desta forma não os expõe a riscos de desenvolvimento de
sintomas decorrentes de intoxicação pelo metal
Outro dado importante observado neste grupo é o menor consumo
de proteínas em relação aos outros grupos. Conforme descrito anteriormente, o
menor consumo deste tipo de nutriente pode estar associado também com a
menor ingestão de selênio, uma vez que os alimentos que compõem este
grupo também são boas fontes do mineral. O consumo de proteínas deste
grupo apresentou correlação positiva com a ingestão do mineral (r=0,6554;
p<0,05), o que está em concordância com a maior taxa de inadequação de
consumo do mineral entre todos os grupos do estudo. No entanto, apesar da
porcentagem elevada de mulheres deste grupo com valores plasmáticos de
selênio abaixo do considerado como essencial para melhor atividade das
desiodases (THOMSON, 2004), não foi observada correlação entre esses
parâmetros.
Discussão 99

Tendo em vista todos estes resultados, estudos sobre o teor de


selênio em alimentos consumidos pela população brasileira são necessários
para melhor avaliação da ingestão do mineral em populações.
Na cidade de Cubatão mais pesquisas poderiam ser realizadas para
determinar o status de iodo da população, e então implementar medidas para a
melhora do estado nutricional relativo ao selênio sem riscos à saúde da tireóide
da população.
Para a região amazônica, mais estudos são necessários para
determinar a relação entre mercúrio e selênio nas populações ribeirinhas, que
retiram seu alimento, e muitas vezes também seu sustento, das águas
amazônicas. A interação entre esses elementos ainda precisa ser elucidada,
especialmente em regiões como esta, aonde os níveis de ambos os elementos
são elevados e a exposição da população a eles é crônica.
Conclusões 100

9 Conclusões

Considerando os dados apresentados, conclui-se que a exposição ao


mercúrio, observada apenas no grupo de Novo Airão, não apresentou efeito
sobre o estado nutricional relativo ao selênio ou no metabolismo normal dos
hormônios tireoidianos das mulheres componentes deste grupo.
Apesar de no grupo formado em Cubatão não ter sido observado
risco de exposição ao mercúrio, foram constatadas maiores concentrações de
hormônio tireoidiano T4, menores níveis plasmáticos de selênio e maior taxa de
inadequação de consumo de selênio. Estes dados apontam para um possível
problema de saúde pública em relação a ingestão deste mineral. No entanto, a
prevalência de altas taxas de inadequação de ingestão de selênio em todos os
grupos avaliados pode ter se dado por falta de dados adequados do valor do
mineral em alimentos consumidos nas diferentes regiões do Brasil,
especialmente em relação aos dados de Novo Airão aonde os parâmetros
bioquímicos para o mineral mostraram-se mais elevados
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Anexos 119

11 Anexos
Anexos 120

ANEXO 1 – Ofício com aceite do Comitê de Ética em Pesquisas com Seres


Humanos da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de
São Paulo para a realização desta pesquisa
Anexos 121
Anexos 122
Anexos 123

ANEXO 2 – Termo de consentimento Livre e Esclarecido

Universidade de São Paulo


Faculdade de Ciências Farmacêuticas

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

I – DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO SUJEITO DA PESQUISA OU LEGAL RESPONSÁVEL

1. Nome do Paciente:...................................................................................................................
Documento de Identidade Nº :......................................................... Sexo: ( ) M ( )F
Data de Nascimento:............/............/...........
Endereço:.........................................................................................Nº:....................Apto:..............
Bairro:..............................................................Cidade:...................................................................
CEP:...................................................Telefone:............................................................................

II – DADOS SOBRE A PESQUISA

Título do Protocolo de Pesquisa: Avaliação dos níveis sangüíneos do hormônio tireoidiano


ativo (T3) e do estado nutricional relativo ao selênio em mulheres residentes em área de
exposição ao mercúrio, Cubatão (SP).

Pesquisador: Maritsa Carla de Bortoli


Cargo/Função: Pesquisadora – Nível Doutorado
Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP
Departamento de Alimentos - Nutrição Experimental

AVALIAÇÃO DO RISCO DA PESQUISA

Risco Mínimo ( X ) Risco Médio ( ) Risco Baixo ( ) Risco Maior ( )

Duração da Pesquisa : 6 meses

III – REGISTRO DAS EXPLICAÇÕES DO PESQUISADOR AO PACIENTE OU SEU


REPRESENTANTE LEGAL SOBRE A PESQUISA, CONSIGNANDO:

Justificativa da Pesquisa
Considerando-se a importância do selênio na função tireoidiana e na possível proteção à
intoxicação pelos compostos de mercúrio, é fundamental um estudo sobre as interações entre
estes minerais numa população exposta aos riscos oferecidos pela presença do mercúrio,
como é a população de Cubatão (SP), visto que esta população poderia se beneficiar com os
resultados, buscando um equilíbrio nutricional entre os minerais citados.

Objetivos da Pesquisa
Objetivo Geral: Avaliar os níveis sangüíneos do hormônio tireoidiano ativo (T3) e o estado
nutricional relativo ao selênio de mulheres adultas residentes em área de exposição ao
mercúrio.
Objetivos Específicos: Avaliar o estado nutricional geral da população. Avaliar a concentração de
mercúrio em amostras de cabelo. Avaliar o consumo alimentar habitual das participantes. Avaliar o
conteúdo de selênio e mercúrio em alimentos consumidos pela população estudada.
Procedimentos
Anexos 124

Coleta de Sangue:
Jejum de 12 horas. Serão coletados 20ml de sangue, com seringas e agulhas de aço
inoxidável estéreis e descartáveis, e transferido para tubos com anticoagulante EDTA, e tubos
sem anticoagulante. A coleta de sangue será realizada
______________________________(local a definir), pelo profissional
___________________________________ O sangue será transportado para o Laboratório de
Minerais (FCF/USP), onde será processado e analisado.

Método para Análise do Selênio no Plasma e Eritrócitos: Espectrofotometria de Absorção


Atômica.
Método para Análise da Atividade da Glutationa Peroxidase: Espectrofotômetria
Método para Análise dos Hormônios Tireidianos: Eletroquimioluminescência

Coleta de Cabelo:
Será cortada uma pequena mecha de cabelo da região occipital, próximas ao couro cabeludo,
que serão identificadas e transportadas ao Laboratório de Análises com Ativação de Nêutrons
(LAN/IPEN) para análise.

Método para Análise de Mercúrio no Cabelo: Espectrofotometria de Absorção Atômica por


Vapor a Frio.

Peso:
O peso será verificado com balança digital com subdivisão de 100 g, com a participante trajando roupas
leves, e sem calçados.

Altura:
A altura será verificada com estadiômetro portátil com haste móvel, onde a participante estará sem
calçados e deve permanecer com os pés unidos e postura ereta.

Recordatório Alimentar:
Serão fornecidos formulários e informações orais e escritas para o preenchimento de três registros
alimentares de 24 horas. As informações serão avaliadas por meio do Software Virtual Nutri (FSP/USP), e
adequação da dieta será realizada de acordo com as DRIs de 2001.

Desconfortos e riscos esperados:


Podem ocorrer edemas ou hematomas após a coleta de sangue na região da punção, bem
como tontura e ou fraqueza imediatamente após o procedimento, no entanto, há pouca
probabilidade de a participante sofrer algum dano à saúde como conseqüência imediata ou
tardia.

Benefícios que poderão ser obtidos:


Com a realização deste protocolo experimental a participante receberá um relatório com: a)
análise dos níveis sangüíneos dos hormônios tireoidianos, b) avaliação do estado nutricional
relativo ao selênio, c) determinação da atividade da enzima glutationa peroxidase, d) análise da
determinação de mercúrio em amostras de cabelo, e) avaliação antropométrica, e f) análise do
consumo alimentar habitual. Com estes dados será possível formular orientação nutricional
com relação ao consumo alimentar e à composição corporal.

Critérios de Inclusão e Exclusão:


a) Inclusão: Voluntárias com idade entre 19 e 40 anos; que não façam uso de suplementos
alimentares; aparentemente saudáveis; que não sejam gestantes ou lactantes.
b) Exclusão: Voluntárias com idade inferior a 19 anos ou superior a 40 anos; que relatarem de
uso de suplementos alimentares; portadoras de doenças conhecidas; gestantes ou
lactantes.
Anexos 125

IV – ESCLARECIMENTOS DADOS PELO PESQUISADOR SOBRE GARANTIAS DO


SUJEITO DA PESQUISA
Este termo de consentimento assegura à participante da pesquisa:
Anonimato (sua identidade será preservada). Os resultados serão destinados apenas a
publicações científicas e serão fornecidos exclusivamente para o respectivo participante.
Acesso às informações da pesquisa, a qualquer tempo, sobre procedimentos, riscos e
benefícios relacionados à pesquisa, inclusive para dirimir eventuais dúvidas.
Liberdade de retirar seu consentimento a qualquer momento e de deixar de participar do
estudo.

V – INFORMAÇÕES DE NOMES, ENDEREÇOS E TELEFONES DOS RESPONSÁVEIS


PELO ACOMPANHAMENTO DA PESQUISA, PARA CONTATO EM CASO DE
INTERCORRÊNCIAS CLÍNICAS E REAÇÕES ADVERSAS.

Maritsa Carla de Bortoli


Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Av. Professor Lineu Prestes, 580
Bloco 14 – Laboratório de Minerais
Fone: 3091-3625

VI – CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIDO

Declaro que, após convenientemente esclarecido pelo pesquisador e ter entendido o que me
foi explicado, consinto em participar do presente Protocolo de Pesquisa.

_____________, __________ de ________________________ de ___________.

_________________________________ __________________________________
Assinatura do sujeito de pesquisa Assinatura do pesquisador
ou responsável legal (carimbo ou nome legível)
Anexos 126

ANEXO 3 – Questionário de Triagem Inicial


QUESTIONÁRIO DE TRIAGEM INICIAL
Data: _____/_____/______ Questionário Nº_______________
Nome: ________________________________________________________
Endereço: Rua _________________________________________________
Número: _______ Complemento: _______________ Bairro: ______________
Telefones / Residencial:(____) _________ Celular: (___) _________________
Reside em Cubatão desde: _________________________________________
Data Nascimento: ____dia_____mês/____ ano (Idade atual: ______________)
Estado civil ( ) solteira ( ) casada ( ) viúva ( ) separada/desquitada
Filhos: _________________________________________________________
Profissão: ______________________________________________________
Escolaridade: ____________________________________________________

Você já teve ou tem alguma das seguintes doenças diagnosticadas por um


médico?
a) Doenças renais ou cardíacas ( )Sim ( )Não
b) Hipertensão, anemia ou diabetes ( )Sim ( )Não
c) Alterações no metabolismo ósseo ( )Sim ( )Não
d) outras: ( )Sim ( )Não
8. Você se encontra em algum destes estados relacionados abaixo?
a) Gestação ou lactação ( )Sim ( )Não
b) Uso de suplementos vitamínicos e/ou minerais ( )Sim ( )Não
9. Você toma atualmente algum remédio prescrito ou não por médico?
( ) não ( ) sim, nome:__________________________________________
10. Você pratica atividade física?
( ) não ( ) sim, tipo e frequência:_________________________________
11. Você consome bebidas alcoólicas?
( ) não ( ) sim, tipo e frequência:_________________________________
12. Você fuma?
( ) não ( ) sim, quantos cigarros por dia:__________________________

RESULTADO DA TRIAGEM
Elegível ao estudo ( ) não ( ) sim

Se sim, Assinou termo de consentimento? ( ) não ( ) sim

Responsável pela anamnese_______________________________________


Anexos 127

ANEXO 4 – Critérios e folhas para preenchimento dos registros


alimentares de 24 horas
NOME: _________________________________________________________
DATA DE ENTREGA DO FORMULÁRIO: ____/____/____
Anotar os alimentos consumidos por três (3) dias, distribuindo da seguinte forma:
Dois dias da semana (segunda, terça, quarta, quinta ou sexta-feira);
Um dia final de semana (sábado ou domingo).
Anotar todos os alimentos consumidos durante o dia e a noite, desde a hora em que o
participante acordar até a hora em que ele for dormir. Se o paciente se alimentar
durante a madrugada, deve-se fazer o devido registro;
No dia que estiver fazendo o registro, não mudar o hábito alimentar, escolher dias que
possuam alimentos de uso comum;
Descrever o tipo de refeição realizada: café da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar
e ceia.
Colocar os horários das refeições;
Anotar os alimentos e guloseimas (balas, chicletes, salgadinhos, pirulitos) consumidos
durante as refeições e nos intervalos das mesmas;
Anotar, na forma de medidas caseiras, a quantidade de alimento consumido;
Medidas caseiras que poderão ser utilizadas: colheres (de sopa, de arroz, de
sobremesa, de chá, de café), concha, escumadeira, copo (americano, de requeijão),
xícara (de chá, de café), prato (de mesa, de sopa, pires ou de sobremesa);
Descrever o tipo de alimento com suas características. Ex: leite (desnatado, integral,
tipo B, tipo C, de caixinha ou saquinho e a marca), pão (francês, de fôrma, de leite,
doce, de mel, caseiro, industrializados), iogurte (o tipo, a marca e o sabor); feijão
(carioca, preto, só o caldo, só o grão, 50% de cada um, ingredientes complementares),
bolachas (recheadas, sem recheio, o sabor, a marca), gelatina (anotar o sabor e a
marca), frutas (anotar o tipo e o tamanho), margarina (o tipo, a marca, a quantidade
consumida anotada em pontas de faca), vegetais folhosos (anotar o tipo), suco
(natural, em pó, concentrado – colocar o sabor e a diluição), refrigerante (sabor, se
light ou normal), bolo (sabor, com ou sem recheio, com ou sem cobertura, de festa –
descrição dos ingredientes principais), salada de frutas (colocar o tipo de fruta e
outros ingredientes complementares);
Marcar o tipo de preparação: se o alimento é frito, cozido, grelhado, ensopado, à
milanesa, empanado;
Registrar os alimentos em unidades ou porções de modo que possamos estimar o
consumo em quantidade. Ex. cortes de carnes padronizados em iscas, fatias, bifes,
cubos, etc;
Anexos 128

Anotar preparações que utilizem mais de um ingrediente, discriminando todos. Ex:


sopa de legumes (anotar os legumes e ingredientes complementares).
REGISTRO ALIMENTAR

Anote os alimentos que você ingerir pelos próximos três (03) dias. Inclua um dia do
fim de semana (sábado ou domingo). Preencha adequadamente as quantidades em
medidas caseiras. Lembre-se que quanto mais informação, melhor.
Observe o exemplo:
Horário Alimento Quantidade em medidas caseiras
8h Pão francês ½ unidade
12 h Arroz branco 3 colheres de sopa cheias
16 h Bolacha recheada sabor morango 4 unidades

AGORA PREENCHA O SEU!


Data / / - dia da semana :
Horário Alimento Quantidade em medidas caseiras
Anexos 129

ANEXO 5 – Composição centesimal e concentração de selênio (por


100g) em alimentos coletados na região amazônica.

Alimento Umidade Carboidrato Proteína Lipídeo Cinzas Energia Se


(%) (g) (g) (g) (g) (kcal) (µg)
Farinha 10,4 87,4 1,1 0,5 0,6 358,5 nd
d’água
Tapioca 44,5 55,3 0,03 0,2 0,06 222,8 nd
Pupunha 45,8 36,1 3,1 14,4 0,6 286,6 nd
Tucumã 5544,5 11,6 4,9 38 1,1 407,6 nd
Castanha- 5,2 11,9 15,1 64,3 3,4 687,1 169190
do-brasil
Tucunaré 78,4 1,2 18,7 0,5 1,2 84,1 195
(filé)
Tucunaré 71,6 2,2 15,5 3,8 6,9 104,8 141
(carcaça)
Piranha 74,9 0,9 21,5 1,5 1,3 128,8 114
(filé)
Piranha 68,3 2,47 16 9,1 7,1 162,7 57
(carcaça)
Matrinxã 67,5 6,9 16,8 7,5 1,2 141,1 137
(filé)
Matrinxã 74,5 1,7 11,3 9,9 2,6 120,7 120
(carcaça)
Jaraqui 73,3 1,2 20,5 3,7 1,2 201,6 144
(filé)
Jaraqui 62,9 0 19 14 4,2 82,7 98
(carcaça)
Cará (filé) 79,3 1,4 19,5 0,8 1,0 145 280
Cará 68,1 1,7 16,1 8,2 5,9 230
(carcaça)
nd= não detectado
Anexos 130

ANEXO 6 – Validação dos resultados analíticos

Leitura de mercúrio em amostras de cabelo (ng g-1)


Material de referência Valor Valor DPR ER LD LQ
encontrado certificado
IAEA – 0086 597,5 ± 11 573 ± 39 1,821 -4,611 0,01 0,1
(Human Hair)
Dorm 1 754 ± 3 798 ± 74 0,398 5,513 0,01 0,1
(Fish Muscle)
BCR-CRM397 12190 ± 67 12300 ± 500 0,5474 0,8943 0,01 0,1
(Human Hair)

Leitura de selênio em amostras de plasma (µg L-1)


Material de Valor Valor DPR ER LD LQ
referência encontrado certificado
Seronorm serum 58,5 ± 0,00 80 ± 6 0,0006 19,8 0,00001 0,0001
(CB)
Seronorm serum 37,5 ± 0,00 59,2 ± 5,6 0,002 48,61 0,001 0,01
(SP)
Seronorm serum 41,6 ± 0,00 59,2 ± 5,6 0,0009 43,1 0,07 0,7
(AM)

Leitura de selênio em amostras de eritrócitos (µg L-1)


Material de referência Valor Valor DPR ER LD LQ
encontrado certificado
Seronorm whole 66,4 ± 0,00 82 ± 3 0,0003 9,0 0,00001 0,0001
blood (CB)
Seronorm whole 90,0 ± 0,00 120 ± 23 0,0004 -23,31 0,039 0,39
blood (SP)
Seronorm whole 72,6 ± 0,00 120 ± 23 0,0002 0,496 0,07 0,7
blood (AM)

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