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Além disso, as seções de escoamento podem apresentar variações de

rugosidade ao longo do seu contorno. Desta forma, é necessária a estimativa de um


valor médio para representar o coeficiente de rugosidade de Manning.
Para seções simples onde há variação de rugosidade ao longo do perímetro,
pode-se estimar o coeficiente de rugosidade de Manning através da seguinte
fórmula.

2
 ∑ (Pi ⋅ n i ) 3
n= 
 P 

onde: n é o coeficiente de rugosidade de Manning global; Pi é o perímetro molhado


associado à superfície i; ni é o coeficiente de rugosidade de Manning associado à
superfície i; e, P é o perímetro molhado da seção total.
Para seções compostas de canais artificiais e, sobretudo, para seções
naturais, a determinação de um valor de n global através do perímetro molhado não
apresenta resultados satisfatórios. Desta forma, calcula-se uma rugosidade
equivalente para a seção total, através de uma ponderação pelas áreas associadas
a um trecho da superfície, conforme proposto pelo U.S. SoilConservation Service e
apresentado a seguir.

∑ (A i ⋅ ni )
n=
A

onde: n é o coeficiente de rugosidade de Manning equivalente para a seção; Ai é a


área associada a uma superfície i; ni é o coeficiente de rugosidade de Manning
associado à superfície i; e, A é a área molhada da seção de escoamento.

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1.2.3 Dimensionamento de Canais

Canais são estruturas hidráulicas utilizadas para a condução da água de


forma a compatibilizar as necessidades com os volumes disponíveis, no tempo e no
espaço.
O dimensionamento hidráulico de canais é feito através dos procedimentos
baseados, usualmente, na hipótese de regime de escoamento uniforme, que é
caracterizado por uma constância da profundidade da água, da área molhada da
seção transversal e da velocidade do escoamento, com a utilização da fórmula de
Manning.

1 2
Q= ⋅ A ⋅ Rh 3 ⋅ I
n

onde: Q é a vazão do escoamento (m³/s); n é o coeficiente de rugosidade de


Manning; A é a área da seção transversal ao escoamento (m²); Rh é o raio hidráulico
da seção transversal do escoamento (m); e I é a declividade longitudinal do fundo do
canal (m/m).
Os canais devem ser dimensionados para as chamada seções de máxima
eficiência, que corresponde àquela seção que apresenta a maior vazão de
escoamento para o menor perímetro molhado.
A seguir são apresentados quadros correspondentes às características
geométrica das seções de escoamento e às seções de máxima eficiência.

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Característica Geométricas das seções Seções de Máxima Eficiência

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No caso particular das seções circulares, que são utilizadas nas redes de
esgoto e de drenagem de águas pluviais, o dimensionamento pode ser feito através
de tabelas que relacionam a vazão relativa (Qx/Qp) e a velocidade relativa (Ux/Up)
com a altura relativa da lâmina de água no interior do conduto (y/D).
As vazões e as velocidades à seção plena, Qp e Up respectivamente podem
ser dadas pelas seguintes equações:

0,1 8 0,4 2
Qp = ⋅ π ⋅D 3 ⋅ I e Up = ⋅ π ⋅D 3 ⋅ I
n n

Para condutos parcialmente cheios, utiliza-se a tabela a seguir:

Para canais prismáticos, de acordo com as características do material do


canal, deve se considerar inclinações máximas do talude lateral para se evitar
colapsos das margens. Para isso é preciso seguir as orientações apresentadas na
tabela a seguir.

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Inclinação Máxima do Talude
Material do Canal
H:V z(H):1(V)
Rocha sã vertical 0
Rocha alterada ¼:1 0,25
Solo argiloso compactado ½:1 a 1:1 0,50 a 1,00
Solo em geral, canais largos 1:1 1,00
Solo em geral, canais estreitos 1½:1 1,50
Solo arenoso solto 2:1 2,00
Solo argiloso poroso 3:1 3,00

1.2.3.1 Borda Livre

Borda Livre é a distância vertical entre o topo do canal e a superfície de água


nas condições de projeto. É uma faixa de segurança adicional na altura do canal
dado às incertezas no dimensionamento hidráulico.
Usualmente a borda livre é definida com valores variando entre 5 a 30% da
profundidade do escoamento.
Uma opção é proceder ao dimensionamento considerando a vazão de cálculo
majorada de 30%. (Qp = 1,3 ⋅ Q)

1.2.3.2 Sobrelevação em Curvas

Nos trechos de curva, devido ao efeito da força centrífuga, a água tende a


deslocar-se em direção da margem externa das curvas. Isso causa uma
sobrelevação nessa margem e, por consequência, um abaixamento do nível de água
na outra margem.
Para o caso do regime de escoamento subcrítico a sobrelevação pode ser
determinada pela seguinte equação.

U2 ⋅ B C = 1,0 (sem transição) 4 ⋅ U2 ⋅ B


∆y = C ⋅  limitada por: rcmín =
g ⋅ rc C = 0,5 (com transição) g⋅ y

onde: ∆y é a sobreelvação (B); U é a velocidade média do escoamento (m/s); B é a


largura do topo do canal (m); g é a aceleração da gravidade (9,81 m/s²); e, rc é o raio
central da curva (m).
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Para o caso do regime de escoamento supercrítico, devido ao fato de
existirem ondas transversais ao escoamento, a sobrelevação pode ser determinada
pelo seguinte processo:

 Determina-se o valor de θ (ângulo de alternância da máxima sobrelevação)


através do ábaco a seguir;

 Determina-se o valor de β, ymáxe ymín através das seguintes equações:

( )
β = arcsen Fr−1 (
y = Fr2 ⋅ sen 2 β ± θ
2
)
ondeFr é o número de Froude do escoamento3.
 Em seguida, calculam-se as alturas máxima e mínima de lâmina d’água no
escoamento:
hmáx = y máx ⋅ h0 hmín = ymín ⋅ h0

3
Vide Apêndice B

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B

h
0

1.2.4 Dimensionamento de Bueiros

Bueiros são estruturas hidráulicas, normalmente construídas em fundo de


vales, que objetivam a passagem de águas dos talvegues por sob obras de
terraplanagem.
Os bueiros, normalmente, não possuem características de reservação de
água, desta forma o seu dimensionamento é feito pela vazão máxima do hidrograma
de projeto.
Os bueiros podem ser classificados quanto ao número de linhas como
simples (S), Duplo (D) ou Triplo (T); quanto à forma da seção como Tubular (T) ou
Celular (C) e quanto ao material de construção como de Concreto (C) ou Metálicos
(M).
Por exemplo, tem-se: BDTM∅1,00 é bueiro Duplo Tubular Metálico, com
diâmetro 1,00 m, ou BTCC 3,00x2,00 é bueiro Triplo Celular de Concreto, com
dimensões 3,00 m de base por 2,00 m de altura.
Para o dimensionamento dos bueiros é necessário o conhecimento do
funcionamento dos mesmos.
O funcionamento do bueiro será como canal quando as extremidades de
montante e de jusante não se encontram submersas. Logo, existe uma superfície
livre ao longo de todo o conduto e a vazão afluente é inferior a vazão admissível à
estrutura hidráulica.
Essa condição é verificada para profundidade de montante até 20% superior à
dimensão vertical do bueiro.

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Bueiro funcionando como canal

Nessa condição, o dimensionamento é dependente do regime do


escoamento. Desta forma, para se determinara o regime de escoamento dentro do
bueiro deve-se calcular a declividade crítica utilizando-se as equações seguintes:

n2
Ic = 32,82 ⋅ 3 ..............................................para bueiros tubulares
D
4
2,6 ⋅ n 2  4 ⋅H 3
Ic = 3 ⋅ 3 +  ..............................para bueiros celulares
H  B 

onde: Ic é a declividade crítica (m/m); n é o coeficiente de Manning; D é o diâmetro


do bueiro (m); H é altura do bueiro (m); e, B e a largura do bueiro (m).
Desta forma, compara-se a declividade do fundo do bueiro (I) com a
declividade crítica calculada e toma-se uma das três decisões:

 I <Ic⇒ escoamento subcrítico;


 I >Ic⇒ escoamento supercrítico;
 I = Ic⇒ escoamento crítico.

Para a condição de escoamento subcrítico, a vazão admissível (Qadm) e a


velocidade média do escoamento (U) podem ser determinadas através das
seguintes equações:

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 0,305 8 3
Q = ⋅D ⋅ I
 adm
n
 .................................para bueiros tubulares
U = 0 ,452 2
3
 ⋅D ⋅ I
n

  (0,8 ⋅ B ⋅ H)5  I
Q adm =  2

  (B + 1,6 ⋅ H)  n ............................para bueiros celulares


 Q adm
U = 0,8 ⋅ B ⋅ H

Para a condição de escoamento supercrítico, tem-se:

 5
Q adm = 1,533 ⋅ D 2
 .......................................para bueiros tubulares
U = 2,56 ⋅ D

 3
Q adm = 1,075 ⋅ B ⋅ H 2
 ...................................para bueiros celulares
U = 2,56 ⋅ H

Em todos esses casos, o dimensionamento é para uma profundidade da


lâmina d’água igual a 80% da dimensão vertical do bueiro.
Quando a vazão de dimensionamento supera a vazão admissível do
funcionamento como canal a água acumula na entrada do bueiro e este passa a
funcionar como um orifício.

Bueiro funcionando como orifício

Para a condição de funcionamento do bueiro como orifício, a vazão


admissível (Qadm) e a velocidade média do escoamento (U) podem ser determinadas
através das seguintes equações:
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Q adm = 2,192 ⋅ D 2 ⋅ h
 .................................para bueiros tubulares
U = 2,79 ⋅ h

Q adm = 2,751⋅ B ⋅ H ⋅ h


 ................................para bueiros celulares
U = 2,56 h

Quando os níveis de água de montante e de jusante superam a altura do


bueiro (H ou D), diz-se que o bueiro trabalha afogado com funcionamento como
conduto forçado.

Bueiro funcionando como conduto forçado

Nessa condição a seguinte equação é satisfeita:

Hm = H j − I ⋅ L + ∆H

onde: Hm é a carga a montante do bueiro (m); Hj é a carga a jusante do bueiro (m); I


é a declividade do fundo do bueiro (m/m); L é o comprimento do bueiro (m); e, ∆h é a
perda de carga quando do escoamento ao longo do bueiro (m).
A perda de carga do escoamento ao longo do bueiro pode ser calculada
através da seguinte equação:

 
 2 ⋅ g ⋅ n2 ⋅ L  U2
∆H =  Ce + Cs + 4  ⋅ 2 ⋅ g
 Rh 3
 

ondeCe e Cs são os coeficientes de perda de carga na entrada e na saída do bueiro,


respectivamente, normalmente tabelados conforme apresentado a seguir:

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Coeficientes de perda de carga na entrada para bueiros tubulares
Tipo de estrutura de entrada Concreto Metálico
“bolsa” saliente, com ou sem muro e alas 0,2 -
“ponta” saliente, com ou sem muro e ala 0,5 -
Saliente, sem muro e alas - 0,9
Saliente, com muro e alas - 0,5
Muro de testa, final do tubo arredondado 0,2 -
Muro de testa, sem alas - 0,2 a 0,5
Tubo bisetado 0,7 0,7
Seção terminal conformada com o aterro 0,5 0,5

Coeficientes de perda de carga na entrada para bueiros celulares


Tipo de estrutura de entrada Faixa Usual
Entrada angular 0,2 a 0,7 0,5
Entrada hidraulicamente adequada 0,2 a 0,7 0,2

Para o coeficiente de perda de carga na saída de bueiros, os valores variam


entre 0,3 a 1,0, porém, é usualmente utilizado o valor igual a 1,0.
Para todos os casos apresentados existe a possibilidade de se utilizar linhas
de bueiro duplas ou triplas. Desta forma, deve-se reduzir a capacidade de vazão no
bueiro em 5% para cada linha adicional em função das condições de entrada.

1.2.5 Dimensionamento de Escadas ou Descidas de Água

Escada ou Descida de Água são estruturas muito utilizada em engenharia


hidráulica compostas de degraus e utilizadas para vencer desníveis.
Quando os desníveis são pequenos e permitem a formação de degraus como
patamares longo o suficiente para a formação de ressaltos hidráulicos, tem-se os
chamados escoamentos em degraus, conforme mostrado na figura a seguir.

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O dimensionamento desse tipo de estrutura é feito através de um parâmetro
chamado Número de Queda dado pela seguinte equação:

Dn
(Q )
= B
2

g ⋅ h3

onde: Dn é o número de queda; Q é a vazão de dimensionamento (m³/s); B é a


largura da escada (m); g é a aceleração da gravidade (m/s²); e, h é a altura do
degrau (m).
Desta forma, as dimensões do degrau são dadas pelas fórmulas a seguir, em
função do número de queda:

Ld
= 4,30 ⋅ Dn0,27
h
yp
= 1,00 ⋅ Dn0,22
h
y1
= 0,54 ⋅ Dn0,425
h
y2
= 1,66 ⋅ Dn0,27
h
L = 6,9 ⋅ (y 2 − y1 )

onde: Ld é o comprimento da queda (m); yp é a profundidade da água na parte


anterior da queda (m); y1 é a profundidade da água na parte posterior da queda (m);
y2 é a profundidade conjugada de jusante do ressalto hidráulico (m); L é o
comprimento do ressalto hidráulico (m).
Quando a declividade do terreno é elevada (0,087 m/m a 1,42 m/m, ângulo
com a horizontal variando entre 5º a 55º), os degraus são curtos o suficiente para
que não haja a formação do ressalto hidráulico e o escoamento salte sobre eles,
provocando turbilhonamento (skimmingflow).
Nesta situação a escada funciona como um canal e os degraus funcionam
com uma rugosidade do revestimento desse canal.

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