Você está na página 1de 10

Plantas daninhas: um guia prático para o produtor

Letícia Inoue em https://blog.agromove.com.br/plantas-daninhas/

Ter conhecimento sobre o que são plantas daninhas, como elas atuam e como identificá-las é
extremamente importante para uma boa produção.

Neste texto apresentaremos um guia prático sobre as plantas daninhas. Desde as principais
plantas presentes no Brasil, até os principais manuais de identificação utilizados.

O que são plantas daninhas

Como já foi comentado no texto sobre MIPD, plantas daninhas são plantas que competem com
as plantas cultivadas por água, luz e nutrientes. Além disso, estas plantas são hospedeiras de
pragas, doenças e nematoides o que aumenta o custo na produção.

De forma histórica, as plantas daninhas se mostram presentes desde o início da agricultura e da


pecuária. Neste período, as plantas consideradas daninhas eram aquelas que não podiam ser
aproveitadas com fonte de alimento, fibra ou forragem.

Com o desenvolvimento da população humana, houve um aumento das áreas de produção


agrícola. A partir daí, as comunidades infestantes tornaram-se cada vez mais densas, diversas e
especializadas, afetando profundamente os agroecossistemas e as atividades agrícolas.

Do ponto de vista botânico, as plantas daninhas são consideradas pioneiras. Ou seja, quando um
habitat natural, por algum motivo, é alterado, estas plantas são as primeiras a germinar, iniciando
um novo ciclo para a recolonização deste habitat.

O fato de serem plantas pioneiras e possuírem uma alta capacidade de colonização explica a
dificuldade em seu manejo.

Uma das características da sua alta capacidade de infestação é a produção de um grande número
de sementes por planta. Um único indivíduo é capaz de dar origem, em alguns casos, a mais de
10.000 sementes.
Figura 1- Tabela de plantas e sua produção de sementes.
Fonte: Mecanismos de sobrevivência.

Principais plantas daninhas do Brasil

O Brasil está entre os maiores produtores agrícolas no mundo. Somente na cultura da soja, é
responsável por 32,3% da produção mundial. Saiba mais sobre a cultura da soja.

Essa alta produção se dá por diversos fatores climáticos, de solo e outros que são extremamente
favoráveis. No entanto, esses fatores também favorecem o crescimento das diversas espécies de
plantas daninhas.

De acordo com Holm (1978), existe um total de 200 espécies diferentes de plantas daninhas no
mundo. Porém, existem plantas daninhas que atuam de maneira mais agressiva em
determinadas culturas.

Abaixo, segue uma lista das principais plantas daninhas que afetam as principais lavouras do
Brasil.

Apaga fogo (Alternanthera ficoidea)

• Características: Planta anual ou perene, dependendo das condições, herbácea, prostrada


ou ascendente, de 0,5 a 1,2 m de comprimento, nativa do Brasil (Lorenzi, 2000).

• Propagação: As sementes são lisas e brilhantes, de cor castanho-amarelada a castanho-


avermelhada. Alastra-se por enraizamento dos nós em contato com o solo.
• Observação: Trata-se de uma planta daninha de importância crescente na agricultura,
devido ao aumento recente de sua infestação. Atualmente, é mais frequente na região
do Brasil-Central. Quando são feitas queimadas para renovação de pastagens, a massa
úmida dessa planta daninha dificulta a progressão do fogo, advindo, assim, o nome
apaga-fogo (Kissmann & Groth, 1999).

• Principais culturas afetadas: soja, cana de açúcar, milho, arroz, arroz irrigado e algodão.

Figura 2 - Planta Apaga fogo.


Fonte: Manual de Identificação e Manejo de Plantas Daninhas.

Caruru (Amaranthus viridis)

• Características: Planta anual, herbácea, glabra, de 30-50 cm de comprimento e 30-40 cm


de altura (Lorenzi, 2000). Desenvolve bem da primavera ao outono na região meridional
do Brasil.

• Propagação: As sementes são lisas e brilhantes. Propaga-se apenas por sementes.

• Observação: É ocasionalmente consumida na forma de saladas e refogados.

• Principais culturas afetadas: é uma daninha de grande importância, principalmente


quando está presente em lavouras perenes (cafezais, pomares e canaviais), devido à
condição de sombreamento e maior teor de matéria orgânica destes locais. Pode ser
encontrada também em terrenos baldios e lavouras anuais, geralmente em solos de boa
fertilidade e em condições de sombreamento.

Figura 3 - Planta Caruru.


Fonte: Manual de Identificação e Manejo de Plantas Daninhas.
Buva (Conyza spp.)

• Características: A Conyza bonariensis possui cerca de 40-120 cm de altura, nativa da


América do Sul (Lorenzi, 2000). As suas folhas apresentam margens lisas ou minúsculos
dentes. A Conyza canadensis possui cerca de 80-150 cm de altura. Suas folhas apresentam
margens denteadas.

• Propagação: Propagam-se por sementes de fácil dispersão pelo vento.

• Observação: Existem duas espécies de maior importância no Brasil que são Conyza
bonariensis e Conyza canadensis. São espécies anuais, herbáceas, de caules densamente
folhosos. Biótipos de buva foram cientificamente confirmados como resistentes ao
herbicida Glyphosate no Brasil (Vargas et al., 2007).

• Principais culturas afetadas: feijão, soja, girassol, cana de açúcar, algodão, arroz, arroz
irrigado e pastagens.

Figura 4 - Planta Buva.


Fonte: Manual de Identificação e Manejo de Plantas Daninhas.

Tiririca (Cyperus haspan)

• Características: Planta perene, herbácea, de 10-65 cm de altura. Originária da Índia, está


disseminada em mais de 92 países (Lorenzi, 2000). Uma característica marcante dessa
espécie é sua inflorescência avermelhada ou vermelho-acastanhada.

• Propagação: Propaga-se por sementes, rizomas, bulbos e, principalmente, por


tubérculos.

• Observação: Em épocas de baixa temperatura, o crescimento é lento, sendo bastante


sensível ao sombreamento. Além de sua grande capacidade competitiva, exerce um
efeito inibidor (alelopático) sobre algumas culturas, como a cana de açúcar.

• Principais culturas afetadas: no Brasil, é encontrada em quase todos os tipos de solos,


climas e culturas, exceto em lavouras de arroz inundado.
Figura 5 - Planta Tiririca.
Fonte: Manual de Identificação e Manejo de Plantas Daninhas.

Corda de viola (Ipomoea acuminata)

• Características: Planta anual, trepadeira, herbácea de caule com leve pilosidade, de 1-2
m de comprimento, nativa da América do Sul. As folhas são cordiformes (formato de
coração), podendo ser alongadas, com ponta de lança (Gazziero et al., 2006a). Até
mesmo, em uma única planta, são encontrados os dois tipos de folhas (Kissmann & Groth,
1999). As flores possuem cor branca na base do tubo e rosa na parte superior, com centro
avermelhado.

• Propagação: Propaga-se apenas por sementes.

• Observação: É uma das espécies daninhas mais prejudiciais em culturas anuais e perenes
das Regiões Centro-oeste, Sudeste e Sul. É particularmente indesejada em lavouras de
cereais devido às dificuldades causadas na colheita mecânica, além de conferir alta
umidade nos grãos. É a espécie de Ipomoea mais comum em lavouras de cereais (Lorenzi,
2000).

• Principais culturas afetadas: cana de açúcar, arroz, milho, pastagens, soja e trigo.

Figura 6 - Planta Corda de viola.


Fonte: Manual de Identificação e Manejo de Plantas Daninhas.

Guanxuma (Sida glaziovii)

• Características: Planta anual ou perene, de 30-80 cm de altura, nativa do Continente


Americano (Lorenzi, 2000). É uma planta daninha frequente em áreas cultivadas do Brasil.
O caule possui grande capacidade de rebrota (Kissmann & Groth, 2000).
• Propagação: Propaga-se por meio de sementes.

• Observação: Infesta principalmente lavouras anuais, perenes e pastagens. É bastante


encontrada também em cultivos de cereais, no sistema de semeadura direta.

• Principais culturas afetadas: infestante em culturas anuais, pomares, eucalipto, cafezais


e terrenos desocupados, é frequente na cultura da cana de açúcar.

Figura 7 - Planta Guanxuma.


Fonte: Manual de Identificação e Manejo de Plantas Daninhas.

Capim amargoso (Digitaria insularis)

• Características: Planta perene, herbácea, com 50-100 cm de altura, nativa das regiões
tropicais e subtropicais do Continente Americano. Vegeta com grande vigor, formando
touceiras que florescem praticamente durante todo o verão. Tem grande facilidade de
rebrotamento quando cortada, queimada ou após o controle químico.

• Propagação: As unidades de dispersão das sementes, chamadas de cariopse, possuem


longos pelos que facilitam o transporte pelo vento. Propaga-se por sementes e através de
curtos rizomas.

• Observação: Plantas desenvolvidas são evitadas pelo gado por serem amargas, daí o
nome amargoso. Assim, a espécie tende a ocupar cada vez mais áreas, diminuindo o valor
dos pastos. É menos comum em solos cultivados com frequência, contudo, é uma das
mais importantes infestantes de áreas de semeadura direta de cereais no sul do País
(Lorenzi, 2000).

• Principais culturas afetadas: pastagens, algodão, alho, cana de açúcar, cacau, milho e
soja.
Figura 8 - Planta Capim amargoso.
Fonte: Manual de Identificação e Manejo de Plantas Daninhas.

Beldroega (Portulaca oleracea)

• Características: Planta anual, herbácea, de 20-40 cm de comprimento. A estrutura


carnosa e com grande reserva de água sugere que a origem da espécie seja de uma região
de baixa pluviosidade, provavelmente do norte da África (Lorenzi, 2000). O ciclo varia de
2-4 meses. A partir da base da planta saem diversos ramos e o conjunto deles podem
formar reboleiras de 1 m de diâmetro.

• Propagação: Propaga-se por meio de sementes.

• Observação: É uma planta daninha comum em todo o País, onde infesta, principalmente,
áreas de horticultura (Kissmann & Groth, 2000). Prefere solos ricos em matéria orgânica.
É muito prolífica, com uma única planta chegando a produzir 10.000 sementes, que
podem permanecer dormentes no solo por mais de 19 anos. Nas condições do Brasil, suas
sementes germinam o ano todo.

• Principais culturas afetadas: café, algodão, batata, cana de açúcar, pastagens, soja, milho
e cacau.

Figura 9 - Planta Beldroega.


Fonte: Manual de Identificação e Manejo de Plantas Daninhas.

Carrapicho de carneiro (Acanthospermum hispidum)

• Características: Planta anual de difícil controle devido à germinação irregular. Sempre


verde, ereta, com folhas e ramos desde a base. O caule é de cor verde-clara com muitos
pelos transparentes.
• Propagação: Propaga-se apenas por sementes. A dispersão é pelos frutos, que se
prendem facilmente ao pelo de animais, às roupas de trabalhadores rurais e outras
superfícies. A produção dos frutos é muito grande, chegando a milhões por hectare.

• Observação: As folhas são ovais, pilosas, com margens irregulares e de cor verde,
dispostas duas por nó. Os frutos têm superfície dura, áspera, de coloração castanho-
amarelada a castanho-escuro, com cerdas e espinhos recurvados e aspecto parecido com
a cabeça de um carneiro, daí o nome popular.

• Principais culturas afetadas: batata, cana de açúcar, cacau, café, algodão, milho e soja.

Figura 10 - Planta Carrapicho de carneiro.


Fonte: Manual de Identificação e Manejo de Plantas Daninhas da cultura da soja.

Losna branca (Parthenium hysterophorus)

• Características: Planta anual que ocorre o ano todo, em regiões tropicais e subtropicais.
O caule tem consistência carnosa, mas de difícil rompimento; coloração verde com sulcos
verde escuros e pelos brancos. As folhas apresentam cor verde com pelos curtos que
podem causar efeito alérgico nas pessoas.

• Propagação: A dispersão se dá pelos frutos, que se prendem a partes das flores que
servem como alas que são carregadas pelo vento.

• Observação: O nome comum tem origem na pilosidade branca presente no caule e nas
folhas. Esta espécie tem histórico no Brasil de biótipo resistente aos herbicidas inibidores
da enzima ALS.

• Principais culturas afetadas: pinus, café, cana de açúcar, algodão, fumo, pastagens, soja
e milho.
Figura 11 - Planta Losna branca.
Fonte: Manual de Identificação e Manejo de Plantas Daninhas da cultura da soja.

É importante destacar que existem muitas outras espécies de plantas daninhas e que as espécies
citadas nesta lista podem não ser as mais importantes para determinado cultivo. Por isso deve-
se sempre realizar a identificação e manejo adequado das plantas daninhas presentes na
lavoura.

Identificação das plantas daninhas

O Brasil é um país de tamanho continental, o 5º maior país em extensão do mundo, e por isso
possui diversos tipos de solo, ecossistemas e condições edafoclimáticas. Ademais, são ainda mais
diversas as culturas produzidas no país, portanto é de se esperar que as plantas daninhas que
afetam a lavoura, sejam diferentes de local para local e de cultura para cultura.

Outros fatores também afetam a flora daninha, como manejo adotado em outros cultivos,
proximidade com outras lavouras infestadas, lavouras cultivadas anteriormente, etc.

Portanto, a identificação das plantas daninhas presentes na lavoura é extremamente importante


para que seja possível definir o manejo correto. Tendo em vista que o mesmo método de manejo
não possui a mesma eficácia para todas as espécies de plantas daninhas.

Para que a identificação seja adequada, é importante portar de manuais confiáveis para a
consulta. Segue abaixo, uma lista de sugestões de manuais para serem consultados.

1. Manual de identificação de plantas infestantes


2. Plantas infestantes e nocivas - BASF
3. Manual de identificação e controle de plantas daninhas - PLANTARUM
4. WSSA
5. Manual de Identificação e Manejo de Plantas Daninhas
em Cultivos de Cana de açúcar
6. Manual de identificação de plantas daninhas da cultura da soja

Conclusão

As plantas daninhas são consideradas um dos maiores problemas da agricultura atual. Não
somente por competirem com as plantas cultivadas, como também por serem hospedeiras de
diversas pragas e doenças.

Além disso, por serem plantas consideradas pioneiras, as plantas daninhas possuem uma efetiva
capacidade de propagação. Principalmente por meio de sementes.

Hoje, sabe-se que existem muitas espécies de plantas daninhas e que cada uma reage de maneira
diferente com relação à cultura afetada. Ademais, cada região, clima, solo, cultivos entre outras
coisas, define qual planta daninha germina em uma determinada lavoura.

Portanto não existe uma receita de bolo.

É preciso realizar uma identificação adequada e somente a partir daí, escolher o melhor método
de manejo.

Salientando que o ideal é sempre consultar um Engenheiro Agrônomo.

Restou alguma dúvida? Envie para nós em contato@agromove.com.br!

Quer saber como aumentar a rentabilidade da sua fazenda acesse Agromove.

Curso Estratégia Pecuária 10X.

Você também pode gostar