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ESCOLAR
BENTO, Franciele1 - UEM-PR
franb1981@hotmail.com
Resumo
Introdução
Este texto foi concebido por agentes inseridas e atuantes em instâncias diferentes, mas
inter-relacionadas e interdependentes. Uma das instâncias é o interior da escola fundamental e
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
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Mestre em educação do Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Estadual de Maringá
(UEM).
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Para a produção deste texto, contamos com a orientação da Profª Drª Fátima Maria Neves - Programa de Pós-
Graduação em Educação, da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
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físicas, morais e intelectuais impostas pela sociedade na qual está inserida. Desse modo, a
educação é concebida por esse estudioso como um processo de socialização nas novas
gerações.
É oportuno ressaltar, não obstante, que a definição de educação dada por Durkheim
(1975) diferencia-se da apresentada por Kant (1996). Segundo Durkheim (1975), a concepção
de kantiana é de certo modo idealista, compreende a educação de uma única forma, o que, em
sua visão, é um equívoco, pois se considerarmos a história, perceberemos que nunca existiu
uma educação ideal, que servisse para todos os povos em todos os tempos.
Reportando-nos neste momento ao cenário brasileiro atual, destacamos a concepção de
educação do antropólogo Carlos Rodrigues Brandão (1984), com vasta publicação nos
campos da cultura e da educação popular. Embasando-se na definição dada pelo sociólogo
Emile Durkheim (s/d), ele define a educação como “uma prática social”. Em outras palavras,
Cabe então observar que, para ambos - Durkheim e Brandão -, as postulações sociais
têm supremacia sobre os indivíduos e sobre os princípios e as propostas educacionais.
Na perspectiva do filósofo brasileiro Paulo Ghiraldelli (2007), a palavra educação é
caracterizada como um termo designado para referenciar o ato educativo, uma prática social
compreendida somente como um determinado ato relativo ao tempo e ao espaço no qual se dá
a relação ensino-aprendizagem. Para esse estudioso, a relação ensino-aprendizagem é sempre
orientada por alguma teoria, de acordo com os objetivos almejados (GHIRALDELLI, 2007).
Percebe-se que, tal como Brandão (1984), esse intelectual concebe a escola como uma
instância determinada socialmente.
Ampliando nosso olhar sobre o conceito de Educação, apresentamos outra perspectiva,
a qual percebe o ato educativo como emergente da prática docente e encharcado de
procedimentos, em que se destacam a mediação, a criação e a construção do saber. Para tal,
selecionamos intelectuais que, apesar de pertencerem a bases filosóficas distintas,
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Julia (2001) acrescenta ainda que por cultura escolar se podem entender também “as
culturas infantis (no sentido antropológico do termo), que se desenvolvem nos pátios de
recreio e o afastamento que apresentam em relação às culturas familiares” (JULIA, 2001,
p.11). Contudo, o autor nos lembra que “a cultura escolar não pode ser estudada sem a análise
precisa das relações conflituosas ou pacíficas que ela mantém, a cada período de sua história
[...]” (JULIA, 2001, p.10).
Para Julia (2001), a cultura escolar é constituída por três elementos essenciais, “[...]
primeiro, a construção do espaço escolar específico; segundo, a implementação de cursos
graduados em níveis e, o terceiro, o corpo profissional específico” (JULIA, 2001, p.14).
Sendo a cultura popular composta dessa maneira, o estudo sobre esse conceito apenas é
possível, como já mencionado anteriormente, se o pesquisador ultrapassar os muros das
instituições escolares e fizer emergir deste espaço fontes e objetos de estudos mais peculiares
desse sistema, como material didático, cadernos de anotações de professores, programa das
disciplinas, recursos didáticos, os cadernos dos alunos e outros.
Adverte-se, todavia, que dentre tais fontes de pesquisa, é imprescindível para o
estudo das culturas escolares a produção discente, ou seja, os cadernos, atividades, trabalhos e
tarefas de casa dos alunos. Não obstante, o autor alerta “[...] que este material, na maioria das
vezes é descartado tanto pelos alunos e pais, bem como pelos professores ou as instituições
educativas” (JULIA, 2001, p.16). Desse modo, cabe aos estudiosos - sejam eles oriundos do
campo da docência ou da pesquisa - realizar um inventário sistemático das práticas
pedagógicas a partir dessas fontes, o que, “[...] permitiria compreender as modificações,
frequentemente insensíveis, que surgem de geração em geração” (JULIA, 2001, p.34).
Chervel (1990) admite que a escola tem como função formar indivíduos, e para
cumprir tal tarefa ela reproduz os conhecimentos que lhe são impostos “pela sociedade que a
rodeia e pela cultura na qual ela se banha” (CHERVEL, 1990, p.180). Entretanto, ele observa
que a escola também “forma uma cultura que adentra, adapta e transforma a cultura da
sociedade que a permeia” (CHERVEL, 1990 p.184). Na visão desse intelectual, o lugar de
produção no qual se encontra cada professor e cada aluno faz com que a reprodução de
conhecimentos dentro do universo escolar não se torne regra, e se tal reprodução acontecer,
não ocorrerá sem resistências nem sempre da mesma maneira.
Identificada com Chervel (1990), Bittencourt (2004) também firma posição quanto
ao papel desempenhado pela instituição escolar. A autora destaca que Chervel (1990)
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reconhece os limites da escola e, sobretudo, sabe que ela tende a obedecer a “uma lógica
particular e específica da qual participam vários agentes internos e externos”
(BITTENCOURT, 2004, p.39). Apesar disso, essa autora compreende a instituição escolar
como “lugar de produção de um saber próprio”
Chervel (1990) e Julia (2001) consideram que o “único limite verdadeiro com o qual
se depara a liberdade pedagógica do mestre é o grupo de alunos que se encontra diante de si”.
Aliás, como acrescenta o autor, é a mudança deste público “que impôs frequentemente a
mudança dos conteúdos ensinados” (JULIA, 2001, p.34). Nesse mesmo debate e sob o mesmo
viés, os historiadores da educação, na visão de Nóvoa (s/d), precisam transferir os seus
olhares para o interior da realidade educativa: “[...] chegou o tempo de olhar com mais
atenção para a internalidade do trabalho escolar, nomeadamente nos momentos de conflitos e
rupturas” (NÓVOA, s/d, p.05).
Levando em consideração o exposto, é oportuno frisar que o ato educativo ganha
visibilidade quando pensamos a escola não como reprodutora de conhecimentos científicos,
mas como produtora de cultura propriamente escolar. A partir disso, questionamos: quanto e
como essas postulações teóricas são apropriadas no interior das práticas escolares? De que
forma elas podem contribuir para uma prática docente significativa? A nosso ver, essas
questões ganham possibilidades de problematização quando as práticas e os saberes escolares
se tornam objeto de estudo. Uma das alternativas pode ser analisada por meio do conceito de
cultura escolar.
Procurando possíveis respostas para tais questões, tramitamos por tendências
diversas de escola e de educação e, ainda, pelo espaço da cultura escolar. A partir do trajeto,
em linhas gerais, pudemos destacar duas grandes formas de conceder o conceito de Educação.
A primeira, a nosso ver, aproxima-se da noção educatio, termo latino que significa uma
educação entendida como instrução, formação, em outras palavras, transmissão de
conhecimentos (FAITANIN, 2007). Essa concepção, a nosso ver, tradicional, é necessária em
alguns momentos, especialmente na imposição de regras, na abordagem de conteúdos
sistematizados desconhecidos dos alunos. É defendida - como referido anteriormente - por
autores como Erasmo de Roterdã (1466-1536), Emmanuel Kant (1724-1804) e Émile
Durkheim (1858-1917), e no cenário brasileiro, pelo antropólogo Carlos Rodrigues Brandão
(1940-) e pelo filósofo Paulo Ghiraldelli (1957-).
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Referências
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