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São Paulo, terça-feira, 18 de julho de 1995

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A 13ª coluna
JUCA KFOURI

A cena aconteceu no movimentado aeroporto de Detroit, pouco mais


de um ano atrás.
Identificado como jornalista brasileiro pela credencial que trazia
pendurada, o cidadão foi abordado por um colega holandês que
também acabara de cobrir o pálido empate entre Brasil e Suécia.
``Satisfeito, brasileiro?", perguntou o simpático holandês.
``Nem tanto, nem tanto. Estamos indo adiante, mas jogando um
futebol muito distante dos nossos sonhos", respondeu o brasileiro.
Imediatamente, o jornalista patrício ouviu uma gargalhada e um
comentário.
``Está vendo, eles nunca estão satisfeitos."
Era um jornalista alemão comentando com outro, norte-americano, o
tom da resposta que os três tinham acabado de ouvir. Parecia até um
complô, mas não passava de uma bem-humorada provocação. Logo
em seguida, chegaram um italiano e um argentino, todos devidamente
credenciados.
O brasileiro ouviu, então, uma aula de futebol dada por uma Torre de
Babel. Será que ele não percebia que, enfim, o Brasil estava jogando
de forma competitiva? Será que ele não percebia que o time de
Parreira jogava para ganhar e não para dar espetáculo? Que só os
europeus gostavam do estilo aberto e corajoso que caracteriza os
times brasileiros, exatamente porque eles ganhavam da nossa seleção
na hora da decisão? Será que o jornalista brasileiro estava cego para
não perceber que os comandados de Dunga passavam horas sem
correr o risco de sofrer o gol? Ou será que o jornalista em questão era
menos jornalista e mais poeta, querendo ver um futebol que não
existe mais? Pior, talvez fosse mesmo um alienado que ainda nem se
tinha dado conta de que o Brasil seria o campeão, como dois mais
dois são quatro.
Atordoado, o jornalista atendeu ao chamado para o vôo de volta a São
Francisco, onde o Brasil enfrentaria os Estados Unidos, e se pôs a
pensar: ``Nem que o Parreira tivesse contratado o melhor escritório de
advocacia do mundo ele encontraria defensores tão convictos. Quem
sabe se eles não têm razão? Ou será que só eu -e a imprensa brasileira
em geral- estou no passo certo e o mundo inteiro errado?".
Tudo isso vem à lembrança poucas horas antes de o Brasil enfrentar a
Argentina. O Brasil que vem jogando tão bonito sob o comando de
Zagalo, livre da ansiedade depois da conquista do tetra. Será mesmo
que não dá mais para jogar bonito e ganhar?
A resposta você já sabe. Espero que esta 13ª coluna tenha dado sorte a
Zagalo.

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