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INSTITUTO MACAPAENSE DO MELHOR ENSINO SUPERIOR - IMMES

CURSO DE BACHARELADO EM ODONTOLOGIA

PAPER EM ESTUDOS SÓCIO-ANTROPOLÓGICOS

MACAPÁ - AP
2021
PAPER EM ESTUDOS SOCIO-ANTROPOLÓGICOS

Relatório apresentado Ao Instituto


Macapaense do Melhor Ensino
Superior - IMMES, como parte das
exigências para a obtenção de nota.

Macapá, ____ de _______ de 2021.

________________________________________
Acadêmica

MACAPÁ - AP
2021
RESUMO

Atualmente os implantes dentários são muito comuns no cotidiano das clínicas


odontológicas, os implantes vêm com a necessidade da substituição de dentes
inutilizados ou a falta deles na arcaria humana. No Brasil, a implantodontia tem
ganhando mais espaço e notoriedade dentro das clínicas, logo, é comum que
haja trabalhos acerca da implantodontia, mostrando mais a respeito de novas
técnicas utilizadas pelos profissionais dentistas em seu cotidiano. Neste
presente estudo, foi realizado uma leitura de cinco artigos que relatava a
respeito da implantodontia, porém, deixo claro que ainda é necessário que
mais estudos sejam realizados com mais amostras de técnicas utilizada por
dentistas.

Palavras-chave: Implantodontia, implante dental, cuidado dentário

RESUME

Currently, dental implants are very common in daily dental clinics, implants
come with the need to replace unused teeth or the lack of them in the human
arch. In Brazil, implant dentistry has been gaining more space and notoriety
within clinics, therefore, it is common that there are studies about implant
dentistry, showing more about new techniques used by dentists in their daily
lives. In this present study, five articles that reported on implantology were read,
however, I make it clear that it is still necessary that more studies be carried out
with more samples of techniques used by dentists.

Keywords: Implantology, dental implant, dental care


O que se Ensina aos Futuros Cirurgiões-Dentistas? Um Estudo de Caso
Etnográfico sobre Currículo e Práticas Escolares em Odontologia

1 INTRODUÇÃO

No campo odontológico, residem as vivências que levaram à percepção


do problema da pesquisa, bem como o objeto material da investigação
empírica. Mais que algo a ser necessariamente verificado, este pressuposto se
me apresentou como um estímulo à busca pelo entendimento da realidade
social que determina o objeto em questão. Deste enunciado norteador derivou
o significado que atribuo à pergunta que compõe o título do presente trabalho.

O interesse em compreender os aspectos socioculturais subjacentes ao


currículo e às referidas práticas levou-me a realizá-lo por meio de uma
pesquisa etnográfica, considerando entre outros, que este método permitiria
observar de perto os agentes enquanto portadores de interpretações e o
sentido que atribuem à seleção que operam em seu cotidiano, de alternativas
organizacionais e pedagógicas.

Ao estar lá, apliquei o olhar e o ouvir sensibilizados pela teoria, tal como


sugere Oliveira, valendo-me da observação participante como principal técnica
de investigação. Desta forma, para compor os registros de campo
acompanhei, orientado por um flexível roteiro de observação, aulas
teóricas, laboratoriais e clínicas, reuniões de docentes e rotinas que se
desenvolviam nos corredores em períodos de intervalo entre aulas, entrada e
saída. A validação dos achados decorrentes da observação participante foi
cuidada por meio do exercício de sua triangulação com informações obtidas em
entrevistas focalizadas com professores, reuniões de grupo focal com alunos e
análise de documentos. As referidas entrevistas tiveram sempre o intuito de
esclarecer achados decorrentes da observação participante e de dar ouvidos à
diversidade das interpretações nativas sobre fenômenos identificados em
campo.
Situação semelhante se operou nas duas reuniões de grupo focal
ocorridas, das quais participaram, ao todo, vinte e três alunos. Também nestas
reuniões o intuito foi encontrar e confrontar interpretações, buscando
contemplar a polifonia dos agentes. Ressalto que os mesmos recursos de
registro das doze entrevistas foram utilizados nessas sessões. Quanto aos
documentos, cumpre destacar que estes foram tratados como evidências
materiais da cultura da escola. Seguindo a orientação de Viégas, tais
documentos foram submetidos a uma leitura inicialmente aberta, por meio da
qual procurei identificar recorrências, discrepâncias, ausências e outros
aspectos, em um exercício que me facultou observar algumas categorias
analíticas como, por exemplo, as que permitiram o estudo do uso do tempo e
dos cenários de ensino na escola caso, apresentadas no quarto artigo científico
que compõe o presente trabalho.

Ainda no que concerne à validade, foi preciso, também, tomar


permanentemente em conta o fato da escola caso estudada ter sido local de
formação profissional e de prática docente de um dos autores, dado que tal fato
remete a reflexões epistêmicas sobre isenção científica e objetividade na
pesquisa social.

Uma dessas dificuldades está no fato de que a familiaridade com o


contexto não assegura o conhecimento do ponto de vista e da visão de mundo
dos diferentes agentes em uma situação social, nem das regras que regem
essas interações e promovem a continuidade do sistema.

Para o eminente antropólogo francês, numa ciência em que observador


e observados são da mesma natureza, o observador, ele mesmo, é parte de
sua observação e, por isso, há que se perceber integrante do objeto do estudo
e analisar os limites e as possibilidades com os quais lida no empreendimento
de seus esforços em transcender o lugar que ocupa e relativizá-lo.

Eis porque, no decurso da investigação empírica, foi destinado tempo à


discussão, com alguns dos agentes envolvidos, das interpretações sobre os
registros tomados em campo.
Concluindo, é relevante manifestar que, em estudos como este, a
generalização dos achados não constitui intenção. Embora se aceite que a
análise de similaridades e diferenças entre casos torne possível julgar em que
medida os resultados de um estudo etnográfico podem ser vistos como indícios
do que ocorre ou não em outros, o que se procura com este método é, como
afirma Lévi-Strauss, observar e analisar grupos humanos tomados em sua
especificidade» para, complementa, captar a lógica que define a especificidade
de um sistema cultural particular.

DESENVOLVIMENTO

Inicialmente é necessário compreender o texto das Diretrizes


Curriculares Nacionais para o ensino da Odontologia (Brasil, 2002) como uma
fonte documental da política curricular emanada do nível macro e, como tal,
para atender às funções político administrativas de orientação do sistema, de
controle e de assinaladas por Goodson (1995) e Gimeno Sacristán (2000).

Pensar as Diretrizes como política curricular seria, também, considerá-


las como a. sintetização de uma seleção procedida no seio da cultura pública
(FORQUIN, 1992; 1993; 2000; PÉREZ GÓMEZ, 2001) - no caso, da cultura da
corporação odontológica -, considerando a. historicidade dos currículos como
critério para definição dos valores, saberes e. competências universalmente
propagáveis pela escola. Entretanto, estudo histórico procedido anteriormente
(COSTA, 1999) evidenciou que as. Diretrizes Curriculares Nacionais definiram
uma importante deflexão no processo evolutivo. constituído como individualista,
tecnicista, centralizador e assistencialista, a ênfase na. responsabilidade social
e não exercício de competências e habilidades que demandam
sólida. formação humanista, crítica e reflexiva (BRASIL, 2002), bem como a
intenção de. fortalecimento da articulação com o Sistema Único de Saúde -
propugnada pelo Programa. Nacional de Reorientação da Formação
Profissional em Saúde (BRASIL, 2005). Questionar a legitimidade social ou o
mérito das orientações contidas na atual política. de formação odontológica
seria negar um avanço no processo de. profissão diante do novo contexto
imprimido pelas mudanças trazidas pela. e Dourado (2001), interferem
diretamente na esfera da produção do conhecimento e da. Entendemos,
contudo, que reside na fraca historicidade dessas políticas curriculares. A
externalidade de sua produção, a “vocação universalista da escola” designada
por. Candau (2000) e o reforço do caráter prescritivo das políticas curriculares
pelo sistema. de avaliação vigente (SOUZA, 2003) dificultam a construção do
novo modelo de formação. odontológica atualmente proposto, da maneira
processual sugerida por Oliveira e Destro (1999).

Corroborando sobre os riscos da abordagem universalista, Silva (2000)


afirma que em. muitos casos são considerados universais os valores, critérios e
saberes de alguns que, em posição de fazê-lo, pronúncia ou universalismo. de
homogeneização cultural. Contudo, como destaca Moreira (2002), os
movimentos em direção à. homogeneização ou à diversificação não se dão
sem lutas. identidades culturais e as regras de afirmação e defesa de política
por parte dos. 

Nossa análise parte da premissa de que há entre educação e cultura


uma relação. Jean-Claude Forquin (1993), em seu livro Escola e Cultura: como
bases. epistemológicas do conhecimento escolar, afirma que a cultura é “o
conteúdo substancial da. educação, sua fonte e sua justificação última”; que “a
educação nada é fora da cultura e. sem ela “e que, reciprocamente, é pela e na
educação [...] que a cultura se transmite e se perpetua”. Mas a que conceito de
cultura o autor se refere? acepções possíveis para o termo, Forquin (1993)
propõe que, para fins de análise da função de transmissão da educação, seja
cultura compreendida como, um patrimônio de conhecimentos e de
competências, de instituições, de valores e símbolos, constituído ao longo de
gerações e característico de uma comunidade humana particular, definida
de. modo mais ou menos amplo e mais ou menos exclusivo de um processo
perpetuo de seleção e decantação, sendo suporte. Também Pérez Gómez
(2001) compreende a função de transmissão cultural da educação ao defini-la
como um “complexo processo de enculturação”. adotar o conceito de “cultura
como o conjunto de significados, expectativas e comportamento
compartilhados por um determinado grupo social”, porque considera essencial
às reflexões sobre educação entender “os mecanismos explícitos e tácitos
de intercâmbio cultural de significados”. Sua referência conceitual, que
considera a cultura. como um sistema simbólico, é derivada da escola
antropológica norte-americana, pela. contribuição de Clifford Geertz (1989), e
auxilia a perceber que a educação transmite, também como patrimônio
característico de uma comunidade humana particular, significados.

Independentemente da tendência mais ou menos semiológica dos


conceitos de cultura. que empregam Forquin e Pérez Gómez, ambos
concordam que certos aspectos da cultura. são condensados, em determinado
grupo social, como merecedores de uma transmissão. Para tanto, afirma
(Forquin, 1992: 28), “há locais e meios. conhecimentos, de competências, de
representações e de disposições”.

Não é recente a preocupação com a questão da seleção cultural


inerente a contribuições ao estudo das dinâmicas sociais envolvidas nesse
processo. remontam ao final dos anos 1960 e reforçaram-se com o aporte
teórico-metodológico da. chamada Nova Sociologia da Educação durante a
década de 1970. Conhecimento e Controle: novos rumos para a sociologia da
educação (Young, 1980) - cuja. publicação, em 1971, é considerada um dos
marcos inaugurais do movimento, o texto de Brasil Bernstein já apontava,
segundo Forquin (1993), para o complexo sistema subjacente. formas
dominantes de poder e controle social na escola como instituição e na
sociedade. Afirmava Bernstein (1980). A seleção cultural que constitui o
currículo decorre de um processo contínuo de. decantação, cristalização e
transposição didática - expressões usadas por Forquin (1992) -. perpetuação
da incorporação, as novas gerações, de certos padrões, normas, modos de
agir e de pensar, enfim, do habitus.

Das disposições necessárias para se orientar e agirem em um dado


espaço social também. conforma suas categorias de percepção e sua visão do
mundo, as quais, para Bourdieu. (2007) são, essencialmente, “produtos da
incorporação das estruturas objetivas do. espaço social que levam os agentes
a tomar o mundo social tal como ele é, a. aceitarem-no como natural, mais do
que a rebelarem-se contra ele ”. as estruturas e as categorias que tornam
possível o conhecimento do mundo social se coloca. pois, no cerne da luta
política “pelo poder de conservar ou de transformar o mundo
social. conservando ou transformando as categorias de percepção desse
mundo ”(Bourdieu ,. 2007: 142) .. O currículo, portanto, deve ser percebido em
perspectiva relacional4. das relações de poder operantes nas dinâmicas sociais
vigentes num dado momento desde. o nível macro-político definidor de
prescrições curriculares formais e pretensamente. universalistas até a
microssociedade representada na sala de aula onde o currículo real se. Mas
não se pode descuidar de entendê-lo, também, em sua historicidade,
como. expressão de lutas simbólicas precedentes; afinal, em termos de
currículo, “as. (Goodson, 1995: 19) .. Forquin (1992: 29) já indicara como uma
primeira evidência a se sublinhar quando do.

Interpretado à luz de Bourdieu, o imperativo da perpetuação do mundo referido


na. citação anterior melhor soaria como o imperativo da perpetuação das
relações de força num. Do autor (2007: 142), resgatamos a ideia de que. Se as
relações de força objetivas tendem a reproduzir-se nas visões. relações, é
porque os princípios estruturantes da visão de mundo. radicam nas estruturas
objetivas do mundo social e porque as. relações de força estão sempre
presentes nas consciências em. necessário percebê-lo, a um tempo, como a
seleção de uma parcela da cultura de uma. sociedade destinada à transmissão
institucionalizada no contexto da escola, observando-se. tanto a perenidade de
determinados saberes, valores, conteúdos, etc. o “esquecimento ativo”
(Forquin, 1993: 29) de outros, e sentido essa seleção como a. expressão de
lutas simbólicas presentes e passadas que, travadas tanto fora quanto
no. interior da escola, definiram o habitus a ser incorporado por cada agente
conforme a posição. que ocupa no espaço social, definindo, também, com ele e
através dele, a perpetuação das. próprias relações de força que o instituíram.
Inicialmente justificamos, a partir do argumento argumento por Gilberto Velho,
a. application, como abstração didática, do conceito de cultura na forma plural -
culturas -; dado. que tal uso pode ser considerado base de interpretações mais
integradoras do. Velho (1994: 64) afirma que :. Quando definimos cultura como
um conceito, sabemos que ela pode. ser e utilizado para efetuar recortes em
função de interesses. fenômenos sócios-culturais que podem ser diferenciados
e contrastados. com outros conjuntos a que também denominamos culturas. É
com base nessa busca pela identificação de conjuntos de fenômenos
socioculturais. que Pérez Gómez (2001), em seu livro A Cultura Escolar na
Sociedade Neoliberal ,. criação a ideia de escola como espaço ecológico de
cruzamento de culturas ,. pensamentos, sentimentos e condutas dos
estudantes requerer acesso aos “definiçõesmbios. subterrâneos de significados
que se especificam nos momentos e nas situações mais. inadvertidas da vida
cotidiana da escola ”. 16-17). descrição taxonômica das culturas que se
entrecruzam no contexto escolar, definindo as. categoria cultura crítica, cultura
social, cultura experiencial, cultura institucional e cultura. Por cultura crítica, o
autor designa o conjunto de significados e produções que, nos. diferentes
campos do saber e fazer, os grupos humanos foram acumulando ao longo
da. Por cultura social, compreende os valores, as normas, as ideias, as
instituições e os. comportamento que dominam os padrões humanos em
sociedades formalmente. democráticas, regidas por leis de mercado e
percorridas e estruturadas pela onipresença. Por cultura experiencial, a
configuração de. significados e comportamento que os alunos elaboram, de
forma particular, em sua vida. prévia e paralela à escola, mediante os
previsõesmbios com o meio familiar e social que. Por cultura institucional, o
conjunto de significados e. comportamento que a escola detém enquanto
instituição social. Por cultura acadêmica, a. seleção de conteúdos destilados da
cultura pública para seu trabalho na escola, ou seja, o. o conjunto de
significados e comportamento objetivo se pretende provocar. novas gerações
da instituição escolar .. comportamento que a escola detém enquanto
instituição social. Por cultura acadêmica, a. seleção de conteúdos destilados da
cultura pública para seu trabalho na escola, ou seja, o. o conjunto de
significados e comportamento objetivo se pretende provocar. novas gerações
da instituição escolar .. comportamento que a escola detém enquanto
instituição social. Por cultura acadêmica, a. seleção de conteúdos destilados da
cultura pública para seu trabalho na escola, ou seja, o. o conjunto de
significados e comportamento objetivo se pretende provocar. novas gerações
da instituição escolar.

Ainda que reconheçamos a utilidade de todas as categorias definidas por


Pérez. Gómez (2001) para compreensão da escola enquanto espaço de
interação sociocultural ,. particularmente caras à proposta deste trabalho são
como categorias cultura acadêmica e. cultura institucional. aproximando-se da
categoria escolar aplicada por outros autores (Forquin, 1992, 1993; Chervel,
1998; Julia, 2001) e já explorada na seção anterior. aquela que incentiva o
olhar a voltar-se para o interior da escola, advogando, como também. o fazem
Nóvoa (1992), Canário (1996) e Gomes (1996), pela existência de uma cultura
da. escola enquanto organização, que a confere uma identidade própria e
configura sua forma. determinada de estabelecer os padrões pessoais e
curriculares internamente e de lidar. com as influências macroestruturais a que
está reunida .. Para definir sua categoria cultura institucional, Pérez Gómez
(2001: 131) enuncia :. A escola, como qualquer outra instituição social,
promoção e. reproduz sua própria cultura específica. como inércias que a
escola se esforça em conservar e reproduzir. reforçam a vigência de valores,
de expectativas e de crenças ligadas. à vida social dos grupos que obtêm a
instituição escolar .. A definição de cultura institucional no âmbito da escola
enunciada por Pérez Gómez na. citação anterior sintetiza e integra os diversos
elementos da cultura organizacional que. Nóvoa (1992) já classificara, caminho
para o trabalho de pesquisa empírica no. pressupostos conceituais que
definem os valores, as crenças e ideologias constitutivos da. missão e do
paradigma orientadores da organização, e os primeiros pelas
manifestações. verbais, conceituais, visuais, simbólicas e comportamentais
evidenciáveis através da. observação dedicada do cotidiano escolar5
Lembrando, a partir de Bourdieu (2007: 11), que “as relações de comunicação
são, de. modo inseparável, relações de poder ”que tanto dependente do poder
simbólico acumulado. por determinados agentes quanto lhes permite acumulá-
lo, é importante ressaltar a posição. privilegiada que os professores podem
assumir no espaço social escolar por deterem. primordialmente a função de
comunicar e “impor - ou mesmo de inculcar - instrumentos de. (Bourdieu, 2007:
12) .. Posto que não é possível tratar do tema currículo - ou cultura escolar -
sem tratar de. que maneira estas culturas na escola conformam sua identidade
organizacional: a cultura da.

Microfísica do Poder

Quando fiz meus estudos, por volta dos anos 50−55, um dos problemas que se
colocava era o do. problema Lyssenko que dominava, mas creio que em torno
deste caso escandaloso, que durante. tanto tempo foi dissimulado e
cuidadosamente escondido, apareceu uma série de questões. Duas palavras
podem resumi−las: poder e saber. Para mim, tratava−se de dizer o seguinte: se
perguntarmos a uma. ciência como a física teórica ou a química orgânica quais
as suas relações com as estruturas. políticas e econômicas da sociedade, não
estaremos colocando um problema muito complicado? um, saber como a
psiquiatria, não será a questão muito mais fácil de ser resolvida porque o perfil.
epistemológico da psiquiatria é pouco definido, e porque a prática psiquiátrica
está ligada a uma. série de instituições, de exigências econômicas imediatas e
de urgências políticas de. No caso de uma ciência tão "duvidosa" como a
psiquiatria, não. poderíamos apreender de forma mais precisa o
entrelaçamento dos efeitos de poder e de saber? certamente possui uma
estrutura muito mais sólida do que a psiquiatria, mas também está. O que me
"desconcertou" um pouco, na época, foi. o fato de que esta questão que eu me
colocava não interessou em absoluto aqueles para quem eu.

reconhecer pela instituição universitária e pelo establishment; portanto, deviam


colocar as mesmas. questões que eles, tratar dos mesmos problemas e dos
mesmos domínios. "Apesar de sermos. marxistas, não estamos alheios ao que
vos preocupa; porém, somos os únicos a dar às vossas. velhas preocupações
soluções novas". tradição liberal, universitária (como, de modo mais amplo, na
mesma época, os comunistas se. apresentavam como os únicos suscetíveis de
retomar e revigorar a tradição nacionalista). domínio que tratamos, o fato de
terem querido retomar os problemas mais acadêmicos e mais. nobres" da
história das ciências. A medicina, a psiquiatria, não eram nem muito nobres
nem muito. A segunda razão é que o estalinismo pós−estalinista, excluindo do
discurso marxista tudo o que. não fosse repetição amedrontada do que já tinha
sido dito, não permitia a abordagem de caminhos. questões como a dos efeitos
de poder da psiquiatria ou o funcionamento político da medicina.. Engels e
Lênin, entre os universitários e os marxistas, realimentando toda uma tradição
de discurso. sobre a "ciência" no sentido que lhe era dado no século XIX, os
marxistas pagavam sua fidelidade. ao velho positivismo com uma surdez
radical com relação a todas as questões de psiquiatria. pavloviana.

não suspeitava e que mostrava quanto meus livros anteriores eram ainda
tímidos e acanhados.. Sem a abertura política realizada naqueles anos, sem
dúvida eu não teria tido coragem para. retomar o fio destes problemas e
continuar minha pesquisa no domínio da penalidade, das prisões. Enfim, talvez
haja uma terceira razão, mas não estou em absoluto seguro de que tenha.
Entretanto, me pergunto se não havia por parte dos intelectuais do. utilização
política da psiquiatria ou, de forma mais geral, do esquadrinhamento disciplinar
da. Sem dúvida, por volta dos anos 55−60, poucos tinham conhecimento da
amplitude real. do Gulag, mas creio que muitos a pressentiam, muitos tinham a
sensação de que sobre estas. coisas melhor era não falar. facilidade a direção
do Partido, que não ignorava nada, podia lançar palavras de ordem, impedir.
Uma edição do Petit Larousse que acaba de sair diz: "Foucault:: filósofo que
funda sua teoria da. história na descontinuidade". Sem dúvida me expliquei de
forma. insuficiente em As Palavras e as Coisas, se bem que tenha falado muito
acerca disto. Pareceu−me. que em certas formas de saber empírico como a
biologia, a economia política, a psiquiatria, a. , o ritmo das transformações não
obedecia aos esquemas suaves e continuistas de. ciência ainda alimenta
muitas análises históricas; ela não me parece historicamente pertinente.. Numa
ciência como a medicina, por exemplo, até o fim do século XVIII, temos um
certo tipo de. discurso cujas lentas transformações − 25, 30 anos − romperam
não somente com as proposições. "verdadeiras" que até então puderam ser
formuladas, mas, mais profundamente, com as maneiras. simplesmente novas
descobertas; é um novo "regime" no discurso e no saber, e isto ocorreu em.
Meu problema não foi absolutamente de dizer: viva a descontinuidade, estamos
nela e. nela ficamos; mas de colocar a questão: como é possível que se tenha
em certos momentos e em. certas ordens de saber, estas mudanças bruscas,
estas precipitações de evolução, estas. Mas o importante em tais mudanças
não é se serão rápidas ou de grande amplitude, ou melhor,. esta rapidez e esta
amplitude são apenas o sinal de outras coisas: uma modificação nas regras de.
mudança de conteúdo (refutação de erros antigos, nascimento de novas
verdades), nem tampouco. uma alteração da forma teórica (renovação do
paradigma, modificação dos conjuntos sistemáticos).. constituir um conjunto de
proposições aceitáveis cientificamente e, consequentemente,. susceptíveis de
serem verificadas ou infirmadas por procedimentos. problema de regime, de
política do enunciado científico. Neste nível não se trata de saber qual é o.
poder que age do exterior sobre a ciência, mas que efeitos de poder circulam
entre os enunciados. científicos; qual é seu regime interior de poder; como e
por que em certos momentos ele se.

A noção de repressão por sua vez é mais pérfida; em todo caso, tive mais
dificuldade em me livrar. efeitos do poder. Quando escrevi a História da
Loucura usei, pelo menos implicitamente, esta. que a mecânica do poder tinha
conseguido reprimir e reduzir ao silêncio. noção de repressão é totalmente
inadequada para dar conta do que existe justamente de produtor. Quando se
define os efeitos do poder pela repressão, tem−se uma concepção. puramente
jurídica deste mesmo poder; identifica−se o poder a uma lei que diz não. Ora,
creio ser esta uma noção negativa, estreita e esquelética do poder. Se o poder
fosse somente repressivo, se não fizesse outra. que de fato ele permeia,
produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso. Deve−se.
considerá−lo como uma rede produtiva que atravessa todo o corpo social muito
mais do que uma. chamar uma nova "economia" do poder, isto é,
procedimentos que permitem fazer circular os. efeitos de poder de forma ao
mesmo tempo continua, ininterrupta, adaptada e "individualizada" em. Estas
novas técnicas são ao mesmo tempo muito mais eficazes e muito menos.
dispendiosas (menos caras economicamente, menos aleatórias em seu
resultado, menos. suscetíveis de escapatórias ou de resistências) do que as
técnicas até então usadas e que. repousavam sobre uma mistura de
tolerâncias mais ou menos forçadas (desde o privilégio. reconhecido até a
criminalidade endêmica) e de cara ostentação (intervenções espetaculares e.
descontínuas do poder cuja forma mais violenta era o castigo "exemplar", pelo
fato de ser.

Esta figura nova tem uma outra significação política: permitiu senão soldar,
pelo menos rearticular. consciência universal, sujeito livre, opunha−se àqueles
que eram apenas competências a serviço. politização se realiza a partir da
atividade específica de cada um, o limiar da escritura como marca. sacralisante
do intelectual desaparece, e então podem se produzir ligações transversais de
saber. para saber, de um ponto de politização para um outro. próprio lugar e
por meio de intercâmbios e de articulações, participar de uma politização global
dos. Este processo explica por que, se o escritor tende a desaparecer como
figura de proa,. "permutadores", pontos de cruzamento privilegiados. do ensino
em regiões ultra−sensíveis politicamente acha−se sem dúvida aí. universidade
não deve ser interpretada como perda de força mas, pelo contrário, como.
multiplicação e reforço de seus efeitos de poder no meio de um conjunto
multiforme de intelectuais. da escritura que se assistiu no decênio 60, sem
dúvida não passava de canto do cisne: o escritor. justamente de uma "teoria",
que ele tenha precisado de cauções científicas, apoiadas na. lingüística, na
semiologia, na psicanálise, que esta teoria tenha tido suas referências em
Saussure. ou Chomski, etc. atividade do escritor não era mais o lugar da ação.

Pode−se supor que o intelectual "universal", tal como funcionou no século XIX
e no começo do. século XX, derivou de fato de uma figura histórica bem
particular: o homem da justiça, o homem da. lei, aquele que opõe a
universidade da justiça e a eqüidade de uma lei ideal ao poder, ao. As grandes
lutas políticas no século XVIII se. fizeram em torno da lei, do direito, da
constituição, daquilo que é justo por razão e por natureza,. O que hoje se
chama "o intelectual" (quero dizer o. intelectual no sentido político, e não
sociológico ou profissional da palavra, ou seja, aquele que faz. uso de seu
saber, de sua competência, de sua relação com a verdade nas lutas políticas)
nasceu,. creio, do jurista; ou em todo caso, do homem que reivindicava a
universalidade da lei justa,. O intelectual "universal" deriva do jurista−notável e
tem sua expressão mais completa. intelectual "específico" deriva de uma figura
muito diversa do "jurista−notável": o "cientista−perito".. preparava há muito
tempo nos bastidores, estava mesmo presente em um canto do palco desde,.
pós−darwinianos, que ele começa a aparecer nitidamente. evolucionismo e os
socialistas, os efeitos bastante ambíguos do evolucionismo (por exemplo,
sobre. em nome de uma verdade científica "local" − por importante que seja −
se faz a intervenção do. ponto de inflexão na história do intelectual ocidental
(deste ponto de vista, Zola é muito. significativo: é o tipo de intelectual
"universal", portador da lei e militante da eqüidade; mas alimenta. inclusive,
domina muito mal, cujos efeitos políticos sobre seu próprio discurso são
bastante. Se se estudasse isto de perto, geria possível ver como os físicos, na
virada do século,.

Em nossas sociedades, a "economia política" da verdade tem cinco


características historicamente. importantes: a "verdade" é centrada na forma do
discurso científico e nas instituições que o. verdade tanto para a produção
econômica, quanto para o poder político); é objeto, de várias. comunicação);
enfim, é objeto de debate político e de confronto social (as lutas "ideológicas")..
Parece−me que o que se deve levar em consideração no intelectual não é,
portanto, "o portador de. valores universais"; ele é alguém que ocupa uma
posição específica, mas cuja especificidade está. ligada às funções gerais do
dispositivo de verdade em nossas sociedades. intelectual tem uma tripla
especificidade: a especificidade de sua posição de classe (pequeno. burguês a
serviço do capitalismo, intelectual "orgânico" do proletariado); a especificidade
de suas. condições de vida e de trabalho, ligadas à sua condição de intelectual
(seu domínio de pesquisa,. ); finalmente, a especificidade da política de
verdade nas. Há um combate "pela. verdade" ou, ao menos, "em torno da
verdade" − entendendo−se, mais uma vez, que por verdade. não quero dizer "o
conjunto das coisas verdadeiras a descobrir ou a fazer aceitar", mas o
"conjunto. das regras segundo as quais se distingue o verdadeiro do falso e se
atribui ao verdadeiro efeitos. específicos de poder"; entendendo−se também
que não se trata de um combate "em favor" da. verdade, mas em torno do
estatuto da verdade e do papel econômico−político que ela. "ciência/ideologia",
mas em termos de "verdade/poder". profissionalização do intelectual, da
divisão entre trabalho manual e intelectual, pode ser.

NIETZSCHE, A GENEALOGIA E A HISTÓRIA

A genealogia é cinza; ela é meticulosa e pacientemente documentária. Paul


Rée se engana, como os ingleses, ao descrever gêneses lineares, ao ordenar,
por exemplo,. ditas e queridas não tivesse conhecido invasões, lutas, rapinas,
disfarces, astúcias. genealogia, um indispensável demorar−se: marcar a
singularidade dos acontecimentos, longe de. toda finalidade monótona;
espreitá−los lá onde menos se os esperava e naquilo que é tido como. não
possuindo história − os sentimentos, o amor, a consciência, os instintos;
apreender seu retorno. A genealogia exige, portanto, a minúcia do saber, um
grande número de materiais acumulados,. Ela deve construir seus
"monumentos ciclópicos"1. não a golpes de "grandes erros. benfazejos" mas
de "pequenas verdades inaparentes estabelecidas por um método severo"2. A
genealogia não se opõe à história como a visão altiva e. profunda do filósofo ao
olhar de toupeira do cientista; ela se opõe, ao contrário, ao desdobramento.
meta−histórico das significações ideais e das indefinidas teleologias. "origem".

Um dos textos mais significativos do uso de todas estas palavras e dos jogos
próprios do termo. Ursprung é o prefácio de Para Genealogia da Moral. texto
como a origem dos preconceitos morais; o termo então utilizado é Herkunft.
Nietzsche volta atrás, fazendo a história deste inquérito em sua própria vida;
ele se lembra do. tempo em que "caligrafava" a filosofia e em que se
perguntava se era preciso atribuir a Deus a. pesquisa de Ursprung; mesma
palavra para caracterizar um pouco mais longe o trabalho de Paul. Rée7. Em
seguida, ele evoca as análises propriamente nietzscheanas que começaram
com. Humano, Demasiadamente Humano; para caracterizá−las, fala de
Herkunfthypotesen. emprego da palavra Herkunft não é arbitrário: ela serve
para caracterizar vários textos de Humano,. Demasiadamente Humano
consagrados à origem da moralidade, da justiça, do castigo. em todos estes
desenvolvimentos, a palavra que tinha sido utilizada então era Ursprung8. na
época de Para Genealogia da Moral, e nessa altura do texto, Nietzsche
quisesse acentuar uma. oposição entre Herkunft e Ursprung com a qual ele
não trabalhava dez anos antes. imediatamente depois da utilização
especificada desses dois termos, Nietzsche volta, nos últimos. parágrafos do
prefácio, a utilizá−los de um modo neutro e equivalente9. Por que Nietzsche
genealogista recusa, pelo menos em certas ocasiões, a pesquisa da origem.
essência exata da coisa, sua mais pura possibilidade, sua identidade
cuidadosamente recolhida em. tal origem é tentar reencontrar "o que era
imediatamente", o "aquilo mesmo" de uma imagem. exatamente adequada a si;
é tomar por acidental todas as peripécias que puderam ter acontecido,. todas
as astúcias, todos os disfarces; é querer tirar todas as máscaras para desvelar
enfim uma. Ora, se o genealogista tem o cuidado de escutar a história em vez
de acreditar. Que atrás das coisas há "algo inteiramente diferente": não.
nasceu de uma maneira inteiramente "desrazoável" − do acaso10. fanáticas e
sempre retomadas, da necessidade de suprimir a paixão − armas lentamente
forjadas. ao longo das lutas pessoais". De fato, ela é apenas uma "invenção
das classes dominantes"12. começo histórico das coisas não é a identidade
ainda preservada da origem − é a discórdia entre.

em busca de sua "origem", negligenciando como inacessíveis todos os


episódios da história; será,. ao contrário, se demorar nas meticulosidades e nos
acasos dos começos; prestar uma atenção. escrupulosa à sua derrisória
maldade; esperar vê−los surgir, máscaras enfim retiradas, com o rosto. do
outro; não ter pudor de ir procurá−las lá onde elas estão, escavando os
basfond; deixar−lhes o. tempo de elevar−se do labirinto onde nenhuma
verdade as manteve jamais sob sua guarda. genealogista necessita da história
para conjurar a quimera da origem, um pouco como o bom. acontecimentos da
história, seus abalos, suas surpresas, as vacilantes vitórias, as derrotas mal.
digeridas, que dão conta dos atavismos e das hereditariedades; da mesma
forma que é preciso. saber diagnosticar as doenças do corpo, os estados de
fraqueza e de energia, suas rachaduras e. seus desfalecimentos, seus furores
secretos, suas grandes agitações febris como suas síncopes, é.

A análise da Herkunft. deve mostrar seu jogo, a maneira como elas lutam umas
contra as outras, ou seu combate frente a. emergência de uma espécie (animal
ou humana) e sua solidez são asseguradas "por um longo. combate contra
condições constantes e essencialmente desfavoráveis". sua uniformidade, à
simplicidade de sua forma, pode se impor e se tornar durável na luta perpétua.
com os vizinhos ou os oprimidos em revolta". externo não a ameaça mais, e
quando "os egoísmos voltados uns contra os outros que brilham de. algum
modo lutam juntos pelo sol e pela luz"27 Acontece também que a força luta
contra si mesma:. Contra sua lassidão ela reage, extraindo sua força desta
lassidão que não deixa. então de crescer, e se voltando em sua direção para
abatê−la, ela vai lhe impor limites, suplícios,. macerações, fantasiá−la de um
alto valor moral e assim por sua vez se revigorar. movimento pelo qual nasce o
ideal ascético "no instinto de uma vida em degenerescência que luta. por sua
existência"28. a Igreja se encontrava menos corrompida29; na Alemanha do
séc. muita força para se voltar contra si próprio, castigar seu próprio corpo e
sua própria história e se. espiritualizar em uma religião pura da consciência.. A
emergência é portanto a entrada em cena das forças; é sua interrupção, o salto
pelo qual elas. Nietzsche chama Entestehungsherd'30 do conceito de bom não
é exatamente nem a energia dos. fortes nem a reação dos fracos; mas sim esta
cena onde eles se distribuem uns frente aos outros,. instinto, seu grau ou seu
desfalecimento, e a marca que ele deixa em um corpo, a emergência. designa
um lugar de afrontamento; é preciso ainda se impedir de imaginá−la como um
campo. fechado onde se desencadeara uma luta, um plano onde os
adversários estariam em igualdade; é. de preferência − o exemplo dos bons e
dos malvados o prova− um "não−lugar", uma pura. responsável por uma
emergência; ninguém pode se auto−glorificar por ela; ela sempre se produz.
assim que nasce a diferença dos valores31; classes dominam classes e é
assim que nasce a idéia. de liberdade32; homens se apoderam de coisas das
quais eles têm necessidade para viver, eles. lhes impõem uma duração que
elas não têm, ou eles as assimilam pela força − e é o nascimento. da lógica33.
Nem a relação de dominação é mais uma "relação", nem o lugar onde ela se
exerce é. ritual; ela impõe obrigações e direitos; ela constitui cuidadosos
procedimentos. marcas, grava lembranças nas coisas e até nos corpos; ela se
torna responsável pelas dívidas.. Universo de regras que não é destinado a
adoçar, mas ao contrário a satisfazer a violência. próprias contradições, acaba
por renunciar à violência e aceita sua própria supressão nas leis da. sem
cessar o jogo da dominação; ela põe em cena uma violência meticulosamente
repetida. desejo da paz, a doçura do compromisso, a aceitação tácita da lei,
longe de serem a grande. propriamente falando sua perversão: "Falta,
consciência, dever têm sua emergência no direito de. obrigação; e em seus
começos, como tudo o que é grande sobre a terra, foi banhado de sangue"34.
em que as regras substituiriam para sempre a guerra; ela instala cada uma de
suas violências em. um sistema de regras, e prossegue assim de dominação
em dominação.

finalizadas; elas são feitas para servir a isto ou àquilo; elas podem ser burladas
ao sabor da. O grande jogo da história será de quem se apoderar das regras,
de. quem tomar o lugar daqueles que as utilizam, de quem se disfarçar para
pervertê−las, utilizá−las. ao inverso e voltá−las contra aqueles que as tinham
imposto; de quem, se introduzindo no aparelho. que os dominadores
encontrar−se−ão dominados por suas próprias regras. emergências que se
podem demarcar não são figuras sucessivas de uma mesma significação; são.
Se interpretar era colocar lentamente em foco uma significação oculta na
origem, apenas a. violência ou sub−repção, de um sistema de regras que não
tem em si significação essencial, e lhe. impor uma direção, dobrá−lo a uma
nova vontade, fazê−lo entrar em um outro jogo e submetê−lo a. novas regras,
então o devir da humanidade é uma série de interpretações. Trata−se de.
fazê−las aparecer como acontecimentos no teatro dos procedimentos.
O sentido histórico, e é nisto que ele pratica a "Wirkliche Historie", reintroduz no
devir tudo o que se. Cremos na constância dos instintos e imaginamos que eles
estão sempre atuantes aqui e ali, agora. Mas o saber histórico não tem
dificuldade em colocá−los em pedaços − em mostrar. seus avatares, demarcar
seus momentos de força e de fraqueza, identificar seus remos. mesmos,
podem obstinar−se em sua própria destruição36. intoxicado por venenos −
alimentos ou valores, hábitos alimentares e leis morais simultaneamente;. ele
cria resistências37. A história "efetiva" se distingue daquela dos historiadores
pelo fato de que. ela não se apoia em nenhuma constância: nada no homem −
nem mesmo seu corpo − é bastante. se voltar em direção à história e
apreendê−la em sua totalidade, tudo o que permite retraçá−la. como um
paciente movimento contínuo: trata−se de destruir sistematicamente tudo isto.
despedaçar o que permitia o jogo consolante dos reconhecimentos. histórica,
não significa "reencontrar" e sobretudo não significa "reencontrar−nos".
"efetiva" na medida em que ela reintroduzir o descontínuo em nosso próprio
ser. sentimentos; dramatizará nossos instintos; multiplicará nosso corpo e o
oporá a si mesmo. deixará nada abaixo de si que teria a tranqüilidade
asseguradora da vida ou da natureza; ela não. se deixará levar por nenhuma
obstinação muda em direção a um fim milenar. Ela aprofundará. aquilo sobre o
que se gosta de fazê−la repousar e se obstinará contra sua pretensa
continuidade..

Podem−se apreender a partir de então as características próprias do sentido


histórico como. Nietzsche o entende, e que opõe a "Wirkliche Historie" à
história tradicional. relação habitualmente estabelecida entre a irrupção do
acontecimento e a necessidade continua.. acontecimento singular em uma
continuidade ideal − movimento teleológico ou encadeamento. A história
"efetiva" faz ressurgir o acontecimento no que ele pode ter de único e agudo.
preciso entender por acontecimento não uma decisão, um tratado, um reino, ou
uma batalha, mas. obedecem nem a uma destinação, nem a uma mecânica,
mas ao acaso da luta38. Elas aparecem sempre na álea singular do
acontecimento. cristão, universalmente tecido pela aranha divina,
contrariamente ao mundo grego dividido entre o. reino da vontade e ó da
grande besteira cósmica, o mundo da história "efetiva" conhece apenas um.
único reino, onde não há nem providência, nem causa final, mas somente "as
mãos de ferro da. necessidade que sacode o copo de dados do acaso"39. todo
surgimento do acaso opõe, para controlá−lo, o risco de um acaso ainda
maior40. o mundo tal qual nós o conhecemos não é essa figura simples onde
todos os acontecimentos se. valor primeiro e último; é ao contrário uma miriade
de acontecimentos entrelaçados; ele nos parece. hoje "maravilhosamente
colorido e confuso, profundo, repleto de sentido"; é que uma "multidão de. erros
e fantasmas" lhe deu movimentos e ainda o povoa em segredo41. nos
convençam disto. referências ou sem coordenadas originárias, em miríades de
acontecimentos perdidos..

Ele tem também o poder de interverter a relação entre o próximo e o longínquo


tal como foi. compraz em lançar um olhar para o longínquo, para as alturas: as
épocas mais nobres, as formas. procura se aproximar destas coisas ao
máximo, colocar−se aos pés destes cumes em condições. A história "efetiva",
em contrapartida, lança. energias; ela perscruta as decadências; e se afronta
outras épocas é com a suspeita − não. rancorosa, mas alegre − de uma
agitação bárbara e inconfessável. Mas olha do alto, mergulhando para
apreender as perspectivas, desdobrar as dispersões e as. que os historiadores
operam sub−repticiamente: eles fingem olhar para o mais longe de si mesmos,.
mas de maneira baixa, rastejando, eles se aproximam deste longínquo
promete−dor (no que eles. são como os metafísicos que vêem, bem acima do
mundo, um além apenas para prometê−lo a si. mesmos a titulo de
recompensa); a história "efetiva" olha para o mais próximo, mas para dele se.
separar bruscamente e se apoderar à distância (olhar semelhante ao do
médico que mergulha para. "Historicamente e fisiologicamente" costuma dizer
Nietzsche42. sentido histórico, o ódio contra a idéia do devir, o egipcianismo", a
obstinação "em colocar no. começo o que vem no fim" e em "situar as coisas
últimas antes das primeiras"43. valor; ela tem que ser o conhecimento
diferencial das energias e desfalecimentos, das alturas e. desmoronamentos,
dos venenos e contravenenos. Ela tem que ser a ciência dos remédios4
Finalmente, última característica desta história efetiva: ela não teme ser um
saber perspectivo. historiadores procuram, na medida do possível, apagar o
que pode revelar, em seu saber, o lugar. de onde eles olham, o momento em
que eles estão, o partido que eles tomam − o incontrolável de. O sentido
histórico, tal como Nietzsche o entende, sabe que 6 perspectivo, e não. Ele
olha de um determinado ângulo, com o propósito. deliberado de apreciar, de
dizer sim ou não, de seguir todos os traços do veneno, de encontrar o. Em vez
de fingir um discreto aniquilamento diante do que ele olha, em vez de aí. onde
olha quanto o que olha. A Wirkliche Historie" efetua, verticalmente ao.

Nesta genealogia da história que esboça em vários momentos, Nietzsche liga o


sentido histórico à. saíram, ao mesmo tempo, de um mesmo signo em que se
pode reconhecer tanto o sistema de. Sigamos, portanto, sem diferenciá−los
ainda, sua comum genealogia.. A proveniência (Herkunft) do historiador não dá
margem a equívoco: ela é de baixa extração. das características da história é a
de não escolher: ela se coloca no dever de tudo compreender. sem distinção
de altura; de tudo aceitar, sem fazer diferença. Nada lhe deve escapar mas
também. nada deve ser excluído. Os historiadores dirão que isto é uma prova
de tato e discreção: com que. direito fariam intervir seu gosto quando se trata
daquilo que se passou realmente? insensível a todos os nojos: ou melhor, ele
tem prazer com aquilo mesmo que o coração deveria. Sua aparente serenidade
se obstina em não reconhecer nada de grande e em reduzir tudo. Nada deve
ser mais elevado do que ele. tudo saber é para surpreender os segredos que
rebaixam. "Baixa curiosidade". demagogo: "ninguém é maior do que vocês" diz
este "e aquele que tiver a presunção de querer ser. superior a vocês − a vocês
que são bons − é malvado"; e o historiador, que é seu duplo, o imita:. "nenhum
passado é maior do que seu presente e tudo o que na história pode se
apresentar com ar. de grandeza, meu saber meticuloso lhes mostrará a
pequenez, a crueldade, e a infelicidade". parentesco do historiador remonta a
Sócrates.

E assim como o demagogo deve invocar a verdade, a lei das essências e a


necessidade. eterna, o historiador deve invocar a objetividade, a exatidão dos
fatos, o passado inamovível. demagogo é levado à negação do corpo para
melhor estabelecer a soberania da idéia intemporal;. o historiador é levado ao
aniquilamento de sua própria individualidade para que os outros entrem. Ele
terá portanto que se obstinar contra si mesmo: calar suas. preferências e
superar o nojo, embaralhar sua própria perspectiva para lhe substituir uma. E
neste mundo em que ele terá refreado sua vontade. apagar de seu próprio
saber todos os traços do querer, ele reencontrará do lado do objeto a. A
objetividade do historiador é a interversão das relações. do querer no saber e é
ao mesmo tempo a crença necessária na Providência, nas causas finais, e. "Eu
não posso mais suportar estes. eunucos concupiscentes da história, todos os
parasitas do ideal ascético; eu não posso mais. suportar estes sepulcros
caiados que produzem a vida; eu não posso suportar seres fatigados e.

Passemos à Entestehung da história; seu lugar é a Europa do séc. bastardias,


época do homem−mistura. Com relação aos momentos de alta civilização
ei−nos como. bárbaros: temos diante dos olhos cidades em ruínas e
monumentos enigmáticos; detemo−nos. diante das muralhas abertas;
perguntamo−nos que deuses puderam habitar aqueles templos. As grandes
épocas não tinham tais curiosidades nem tão grandes respeitos; elas não.
oferece um espetáculo imenso cujos momentos mais fortes são omitidos ou
são dispensados. sejam nossa obra e que nos pertençam, nós vivemos
cercados de cenários. europeu não sabe quem ele é; ele ignora que raças se
misturaram nele; ele procura que papel. Compreende−se então porque o séc.
espontaneamente historiador: a anemia de suas forças, as misturas que
apagaram todas as suas. características produzem o mesmo efeito que as
macerações do ascetismo; a impossibilidade em. apoiar no que foi feito antes e
em outros lugares o constrangem à baixa curiosidade do plebeu.. Mas se esta
é a genealogia da história, como ela pode se tornar análise genealógica? A não
ser que nos apoderemos dela, que a dominemos e a voltemos contra seu. Isto
é de fato o próprio de Entestehung: não é o surgimento necessário daquilo que.
metafísica foi a demagogia ateniense, o rancor plebeu de Sócrates, sua crença
na imortalidade.. Mas Platão teria podido apoderar−se desta filosofia socrática,
teria podido voltá−la contra ela. mesma − e sem dúvida mais de uma vez ele foi
tentado a fazê−lo. fundá−la. E preciso despedaçá−lo a partir daquilo que ele
produziu e não. fundá−lo em uma filosofia da história; tornar−se mestre da
história para dela fazer um uso. genealógico, isto é, um uso rigorosamente
antiplatônico. libertar−se−á da história supra−histórica.

história−reminiscência, reconhecimento; outro é o uso dissociativo e destruidor


da identidade que. se opõe à história−continuidade ou tradição; o terceiro é o
uso sacrificial e destruidor da verdade. que se opõe à história−conhecimento.
Trata−se. de fazer da história uma contramemória e de desdobrar
consequentemente toda uma outra forma. armadura de cavaleiro, à época
wagneriana a espada do herói germânico; mas são ouropéis cuja. Deixe−se a
alguns a liberdade de venerar essas. Deixe−se a eles se fazerem. algibebes
das identidades disponíveis. Não que ele a rechace por espírito de seriedade;
pelo. contrário, ele quer levá−la ao extremo: quer colocar em cena um grande
carnaval do tempo em que. identidades marcadamente reais do passado,
trata−se de nos irrealizar em várias identidades. reaparecidas: e retomando
todas estas máscaras − Frederic de Hohenstaufen, César, Jesus,. Dionísio e
talvez Zaratustra − recomeçando a palhaçada da história, nós retomaremos em
nossa. irrealidade a identidade mais irreal do Deus que a traçou, "talvez nós
descobriremos aqui o domínio. em que a originalidade nos é ainda possível,
talvez como parodistas da história e como polichinelos. de Deus"46
Reconhece−se aqui o duplicador paródico daquilo que a segunda
Extemporânea. chamava de "história monumental": história que se dava como
tarefa restituir os grandes cumes do. devir, mantê−los em presença perpétua,
reencontrar as obras, as ações, as criações segundo. omonograma de sua
essência íntima. Mas, em 1874, Nietzsche criticava essa história inteiramente.
Trata−se, ao. contrário, nos últimos textos, de parodiá−la para deixar claro que
ela é apenas paródia.

Outro uso da história: a dissociação sistemática de nossa identidade. bastante


fraca contudo, que nós tentamos assegurar e reunir sob uma máscara, é
apenas uma. paródia: o plural a habita, almas inumeráveis nela disputam; os
sistemas se entrecruzam e se. Quando estudamos a história nos sentimos
"felizes, ao contrário dos. metafísicos, de abrigar em si não uma alma imortal
mas muitas almas mortais"47. destas almas, a história não descobrirá uma
identidade esquecida, sempre pronta a renascer, mas. evolução nós somos
capazes de separar pedaços e considerá−los à parte"48. dirigida, não tem por
fim reencontrar as raízes de nossa identidade, mas ao contrário, se obstinar.
em dissipá−la; ela não pretende demarcar o território único de onde nós
viemos, essa primeira. pátria à qual os metafísicos prometem que nós
retornaremos; ela pretende fazer aparecer todas as. segundo as
Considerações Extemporâneas, a "história−antiquário". Tratava−se, então, de.
reconhecer continuidades nas quais se enraíza nosso presente: continuidades
do solo, da língua,. da cidade; tratava−se, "cultivando−se com uma mão
delicada o que sempre existiu, de conservar,. para aqueles que virão, as
condições sob as quais se nasceu"49. Extemporâneas lhe objetava que ela
corre o risco de prevenir toda criação em nome da lei de. Um pouco mais tarde
− já em Humano, Demasiadamente Humano − Nietzsche retoma a. tarefa
antiquária, mas em direção inteirarnente oposta. clarificar Os sistemas
heterogêneos que, sob a máscara de nosso eu, nos proíbem toda identidade.

Terceiro uso da história: o sacrifício do sujeito de conhecimento. segundo a


máscara que ela usa, a consciência histórica é neutra, despojada de toda
paixão,. interroga toda consciência científica em sua história, ela descobre,
então, as formas e. transformações da vontade de saber que é instinto, paixão,
obstinação inquisidora, refinamento. cruel, maldade; ela descobre a violência
das opiniões preconcebidas: contra a felicidade ignorante,. contra as ilusões
vigorosas através das quais a humanidade se protege, opiniões preconcebidas.
com relação a tudo aquilo que há de perigoso na pesquisa e de inquietante na
descoberta50. análise histórica deste grande querer−saber que percorre a
humanidade faz portanto aparecer. tanto que todo o conhecimento repousa
sobre a injustiça (que não há, pois, no conhecimento. dimensões, o
querer−saber não se aproxima de uma verdade universal; ela não dá ao
homem um. sempre faz nascer os perigos; abate as proteções ilusórias; desfaz
a unidade do sujeito; libera nele. tudo o que se obstina a dissociá−lo e a
destruí−lo. à constituição e à afirmação de um sujeito livre, ele traz consigo
uma obstinação sempre maior; a. violência instintiva se acelera nele e cresce;
as religiões outrora exigiam o sacrifício do corpo. humano; o saber conclama
hoje a experiências sobre nós mesmos, ao sacrifício d6 sujeito de. "O
conhecimento se transformou em nós em uma paixão que não se aterroriza
com. nenhum sacrifício, e tem no fundo apenas um único temor, de se extinguir
a si próprio... do conhecimento talvez até mate a humanidade... Se a paixão do
conhecimento não matar a. humanidade se acabe no fogo e na luz, ou na
areia?" problemas que dividiram o pensamento filosófico do sêc. Hegel, pelo
tema segundo o qual "morrer pelo conhecimento absoluto poderia fazer parte
do. fundamento do ser53. no sacrifício que deve fazer do sujeito de
conhecimento. vitoriosas − eu quero dizer a idéia da humanidade se
sacrificando a si própria. Pode−se jurar que. se a constelação dessa idéia
aparecesse no horizonte, o conhecimento da verdade permaneceria a. única
grande meta a que semelhante sacrifício seria proporcionado porque para o
conhecimento. Esperando, o problema nunca foi colocado..."

3 METODOLOGIA

O presente estudo conta uma revisão de literatura sobre o assunto


Implantodontia, especificamente sobre osseointegração, alguns tipos de
implante e um pouco da história da implantodontia. Para a pesquisa, foram
utilizados cinco textos disponíveis para estudo com base em dados científicos a
respeito do tema, para assim, a elaboração do texto completa. Dos textos
utilizados, foram retiradas citações dos mesmos para a realização da parte
escrita.
4 CONCLUSÃO

O presente estudo trouxe a pesquisa, o assunto sobre Implantodontia, o


que nos trouxe o aprendizado sobre formas de implantes, tais como o processo
cirúrgico ao processo de higiene durante o processo de cicatrização, também é
necessário afirmar que a ciência está sempre em constante movimento,
sempre com novas técnicas para o aprimoramento da implantodontia.

O cuidado com a nossa arcaria dentária é essencial, mas independente


dos motivos que levaram a perda, dentro da odontologia sempre terá a opção
de implantes onde o paciente procure o processo que lhe traga melhor
conforto, por isso é necessário que haja consultas regulares ao dentista para
que seja realizado o processo de cuidado dos dentes.

REFERÊNCIAS

AMORIM, A. Implantodontia: Histórico, Evolução e Atualidades. Id on Line Rev.


Mult. Psic. V.13, N. 45, p. 36-48, 2019.

COSTA, CRR. As diferentes características de sistemas e modelos de


implantes dentários: uma revisão de literatura. Semana Acadêmica: Revista
Científica. ISSN 2236-6717. Fortaleza, ano MMXVII, Vol. 01, Nº. 108, Publicado
em: 03/07/2017.
GRINGS, J. PROTOCOLO DE BRANEMARK: UMA REVISÃO DE
LITERATURA. Porto Alegre 2018.

MARTINEZ, L. PRÓTESES PARCIAIS REMOVÍVEIS NA IMPLANTODONTIA.


BELO HORIZONTE, 2015.

MAZZONETTO, R. Pesquisa básica em Implantodontia. REVISTA


IMPLANTNEWS 2010;7 (3a-PBA):83-92

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