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Fundamentos de Eletricidade

Notas de Aula

Gustavo Sandri
c 2019 Gustavo Sandri
Copyright

E DITORA IFB
Contents

I Corrente Contínua

1 Grandezas Físicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.1 Prefixos numéricos 7

II Corrente Alternada

2 Características da corrente alternada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11


2.1 Corrente contínua versus corrente alternada 11
2.2 Círculo trigonométrico 12

3 Capacitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.1 Tipos de capacitores 19
3.2 Carga e descarga do capacitor 23

4 Indutores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
4.1 Linhas de campo 29
4.1.1 Campo elétrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
4.1.2 Campo magnético . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
4.2 Indutores 33
4.2.1 Tipos de indutores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
4.2.2 Indutância equivalente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
5 Impedância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
5.1 Fasores 41
5.2 Impedância 42
5.3 Impedância equivalente 43
5.4 Potência 44
5.5 Leis de Kirchhoff 48
5.5.1 Lei das malhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
5.5.2 Lei dos nós . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

6 Transformadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
6.1 Transformador Ideal 53
6.1.1 Razão ou relação de tensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
6.1.2 Razão ou relação de corrente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
6.2 Transformador real 56
6.2.1 Eficiência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
6.3 Autotransformador 58
6.4 Polaridade da bobina 59

7 Casamento de impedância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

8 Motores e Geradores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
8.1 Princípio báscio de funcionamento de um gerador 64
8.2 Sistema trifásico 67
8.2.1 Sequência de fase . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
8.2.2 Conversão estrela – delta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
8.2.3 Conversão delta – estrela . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

A CalcEn . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
I
Corrente Contínua

1 Grandezas Físicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.1 Prefixos numéricos
1. Grandezas Físicas

1.1 Prefixos numéricos


8 Chapter 1. Grandezas Físicas

Prefixo Símbolo Equivalente


Yotta Y 1024
Zetta Z 1021
Exa E 1018
Peta P 1015
Tera T 1012
Giga G 109
Mega M 106
x1000 Quilo k 103 ÷1000
0,0,0,0,0
Nenhum 100 0,0,0,0,0
Mili m 10-3 3x
3x Micro µ 10-6
Nano n 10-9
Pico p 10-12
Femto f 10-15
Atto a 10-18
Zepto z 10-21
Yocto y 10-24

Figure 1.1: Prefixos numéricos


II
Corrente Alternada

2 Características da corrente alternada 11


2.1 Corrente contínua versus corrente alternada
2.2 Círculo trigonométrico

3 Capacitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.1 Tipos de capacitores
3.2 Carga e descarga do capacitor

4 Indutores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
4.1 Linhas de campo
4.2 Indutores

5 Impedância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
5.1 Fasores
5.2 Impedância
5.3 Impedância equivalente
5.4 Potência
5.5 Leis de Kirchhoff

6 Transformadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
6.1 Transformador Ideal
6.2 Transformador real
6.3 Autotransformador
6.4 Polaridade da bobina

7 Casamento de impedância . . . . . . . . . . 61

8 Motores e Geradores . . . . . . . . . . . . . . . . 63
8.1 Princípio báscio de funcionamento de um gerador
8.2 Sistema trifásico

A CalcEn . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
2. Características da corrente alternada

2.1 Corrente contínua versus corrente alternada

Corrente Contínua Corrente Alternada

Figure 2.1: Corrente contínua versus corrente alternada. Representação de um sinal CC versus um
sinal CA ao longo do tempo.

A corrente contínua (CC ou DC, do inglês Direct Current) é um fluxo de elétrons que se move
sempre na mesma direção. Uma fonte de corrente contínua mantêm o mesmo nível de corrente ao
longo do tempo. Veja a figura 2.1, por exemplo, onde é visto a variação de um sinal de corrente
contínua ao longo do tempo. Existe um polo positivo e negativo bem definido.
Já na corrente alternada (CA ou AC, do inglês Alternated Current) o sentido da corrente varia
no tempo e a forma de onda usual é a senoidal, como mostrado na figura 2.1. Assim, não existe um
polo positivo nem negativo pois a polaridade fica se invertendo. Entretanto, existe o que chamamos
de fase, terra e neutro. Fase é o fio que fornece a onda senoidal e cuja polaridade fica oscilando
entre positivo e negativo. Terra e neutro são fios que são mantidos ao nível de tensão de 0 V (ou
muito próximo disso). O primeiro é um fio de proteção contra choques, descargas elétricas, etc., e o
segundo é a tensão de referência e fornece o caminho para fechar os circuitos.
Apesar de os termos CC e CA se referirem diretamente ao termo corrente, é comum usarmos
estes termos para falar de outras grandezas elétricas. Assim, é usual o termo tensão CC para nos
12 Chapter 2. Características da corrente alternada

referirmos a tensões que produzem uma corrente contínua ou tensão CA para tensões que produzem
uma corrente CA. Existe também os termos potência CC e potência CA e, apesar da redundância,
também se usa os termos corrente CC e corrente CA. Em equipamentos encontrados no dia a dia,
entretanto, é mais usual os termos em inglês:
DC Voltage DC Current DC Power
AC Voltage AC Current AC Power
Tensões CC são fornecidas por baterias, pilhas, células solares e dínamos, por exemplo. Apesar
de serem fontes CC, podemos ter variação do nível de tensão fornecido por estas fontes, como é o
caso da bateria que conforme se descarrega diminui a tensão de saída. Entretanto, estas variações
dos níveis de tensão costuma ser muito lenta, normalmente imperceptível, e nunca ocorre a inversão
de polaridade.
Tensões CA são quase sempre fornecidas por geradores. Hidroelétricas, termoelétricas (a
carvão, nuclear) e eólica são estações de geração de energia elétrica que se utilizam de alguma
forma de energia para colocar o rotor dos geradores rodarem e é o gerador quem produz a tensão
CA.
É possível converter fontes CC em CA e vice versa usando circuitos retificadores ou inversores.
Inversor
CC CA
Retificador

Fontes CC possuem menos perdas de transmissão do que fontes CA devido ao efeito pelicular.
O efeito pelicular é a tendência dos elétrons fluírem apenas na superfície dos condutores e este
efeito é tão mais intenso quando maior for a frequência. Por outro lado, é muito simples alterar a
tensão de uma fonte CA apenas utilizando transformadores. Transformadores costumam possuir
alta eficiência. Por isso a tensão CA é a utilizada para a transmissão de energia. A tensão CA
é aumentada para tensões em torno de 500 kV para a transmissão. Com o aumento da tensão,
diminui-se a corrente que circula pela linha e diminui-se as perdas por efeito Joule. Na estação
onde a energia será consumida utilizamos um outro transformador para baixar esta tensão para
o valor desejado (220 V , por exemplo). A maioria dos equipamentos que usamos no dia-a-dia,
entretanto, precisam ser alimentados por fontes CC. Para isso utilizamos retificadores.
Fontes CC possuem apenas um parâmetro que é a amplitude de tensão/corrente que fornecem.
Fontes CA, por outro lado, possuem 3 parâmetros principais utilizados para descrevê-las: amplitude,
frequência e fase.

2.2 Círculo trigonométrico


Fontes CA são quase sempre ondas senoidais. Portanto elas herdam as características deste tipo
de onda. A onda do seno pode ser entendida através do círculo trigonométrico dado pela imagem
abaixo.
B

A
2.2 Círculo trigonométrico 13

Nela temos um círculo e uma seta que inicialmente se encontra no ponto A. Vamos supor que
esta seta roda no sentido anti-horário com velocidade constante. Vamos desenhar um gráfico da
altura da ponta desta seta ao longo do tempo. A medida que a seta se desloca do ponto A ao ponto
B vamos desenhando um traço ascendente em nosso gráfico.
B

Do ponto B ao C (figura acima) a curva que estava no seu máximo começa agora a descer,
atingindo uma altura igual a zero quando atinge o ponto C.

D
Do ponto C ao ponto D o gráfico continua com sua tendência de queda, atingindo agora valores
negativos, até atingir o valor máximo negativo no ponto D.

D
Finalmente, do ponto D a seta retorna ao ponto inicial, completando assim uma volta. A partir
de então o gráfico vai começar um novo ciclo, repetindo o comportamento anterior. A curva abaixo
resume o desenho da onda senoidal a medida que a seta roda no círculo trigonométrico.
14 Chapter 2. Características da corrente alternada

As características desta onda são:


• Período: T , é o tempo que a onda leva para completar um ciclo (dar uma volta completa no
círculo trigonométrico). Medido em segundos.
• Frequência: f , é quantos ciclos a onda faz por segundo (quantas voltas ela dá por segundo
no círculo trigonométrico). Medido em Hertz. Existe uma relação entre frequência e período
dada por
1
f= (2.1)
T
• Amplitude: Informa dentro de qual faixa de valores a onda varia. É medido em volts se
for uma onda de tensão e em amperes se for uma onda de corrente. Existem três valores de
amplitude que são usados:
– Valor de pico: Informa o valor nos picos da onda. No gráfico abaixo é representado
por Vp (tensão de pico, Ip para corrente de pico)
– Valor de pico a pico: É o valor de um pico ao outro. Representado por Vpp (tensão de
pico a pico, Ipp para corrente de pico a pico) no gráfico abaixo. Vpp é o dobro de Vp
– Valor RMS: É a amplitude de uma fonte CC equivalente. É calculado como:
Vp
VRMS = √ (2.2)
2

Vp

Vpp

• Fase: quando descrevemos o círculo trigonométrico assumimos que a seta começava o seu
percurso partindo do ponto A, mas nada impede que se começe o percurso por qualquer outro
ponto inicial, como no gráfico abaixo onde temos 3 pontos inciais diferentes.
B

θC
θB
A

Isso vai deslocar a onda para a direita ou para a esquerda. Este ponto inicial do círculo trigonométrico
é que define a fase de uma onda, que é medida em graus. No exemplo acima, a onda A tem fase de
θA = 0◦ , a onda B θB = 90◦ e a onda C θC = 225◦ .
Entretanto, o mais importante na análise de circuitos CA não é a fase de uma onda, mas sim a
diferença de fase entre duas ondas. Assim, dizemos que a onda B está adiantada em relação a onda
A de 90◦ , que a onda C está adiantada da onda B de 135◦ e que a onda A está adiantada da C de
135◦ . Para saber qual onda está adiantada em relação a outra basta olhar no circulo trigonométrico.
2.2 Círculo trigonométrico 15

A onda mais adiantada é aquela que tem o menor ângulo em relação a outra se percorrermos o
círculo em sentido horário e este ângulo é a diferença de fase entre elas.

Exemplo

A B
200

150

100

50

-50

-100

-150

-200
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1

a Qual a amplitude destas fontes de tensão?


Para a onda A temos: Vp = 200 V , Vpp = 400 V e VRMS = 200
√ = 141, 42 V .
2
Para a onda B temos exatamente os mesmos valores pois possuem a mesma amplitude.
b Qual o período?
Tanto a onda A quanto a B levam 0, 5 s para completarem um ciclo. Logo o período
delas é de 0, 5 s.
c Qual a frequência?
Conhecendo o período, podemos calcular a frequências usando a equação (2.1):
1
f= = 2 Hz
0, 5

d Qual onda está adiantada? De quantos graus?


Podemos encontrar esta informação no círculo trigonométrico.

Assim podemos ver que a onda A está adiantada da B de 135◦


16 Chapter 2. Características da corrente alternada

Exemplo

-1

-2

-3

-4
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1

a Qual a amplitude destas fontes de tensão?


Para a onda A temos: Vp = 4 V , Vpp = 8 V e VRMS = √4 = 2, 83 V .
2
Para a onda B temos: Vp = 2 V , Vpp = 4 V e VRMS = √2= 1, 41 V .
2
b Qual o período?
A onda A começa a se repetir em 0, 4 s. Já a B só vai começar a ser repetir em 0, 8 s.
Logo o período da A é 0, 4 s e da B 0, 8 s
c Qual a frequência?
Usando a equação (2.1), a frequência da onda A é de:
1
f= = 2, 5 Hz
0, 4
E da B é de:
1
f= = 1, 25 Hz
0, 8

d Qual onda está adiantada? De quantos graus?


Não faz sentido dizer qual onda está adiantada pois eles estão em frequências difer-
entes
3. Capacitores

Um capacitor é formado por duas placas condutoras de eletricidade (normalmente de metal)


separadas entre si por um isolante elétrico. Na figura abaixo temos um esquemático simples de um
capacitor que usa o ar como isolante elétrico.

+ + + + + + + + + +
+ + + + + + + + +
+ + + + + + + + + + + +

- - - - - - - - - - - -
-

Ao se conectar uma fonte de tensão externa, como uma pilha, esta vai tentar impor um fluxo
de elétrons no capacitor, retirando elétrons da placa conectada no polo positivo e injetando eles
na placa conectada no polo negativo. Isso faz surgir uma corrente elétrica. Aos poucos vai se
acumulando uma carga positiva em uma das placas e uma carga negativa na outra.
Como cargas de sinais opostos se atraem, as cargas acumuladas na placa positiva atraem as
cargas acumuladas na placa negativa e esta força de atração vai aumentando conforme mais carga
se acumula no capacitor. Esta força de atração faz surgir uma tensão no capacitor. Quando esta
tensão se igualar a tensão da fonte externa (no caso a pilha) esta não vai mais ser capaz de induzir
um fluxo de elétrons e o capacitor permanece carregado.
Podemos fazer uma analogia com água para explicar o funcionamento de um capacitor. Imagine
duas caixas d’água como na figura a seguir. Cada caixa d’água representa uma das placas do
capacitor nesta nossa analogia. Vamos conectar uma bomba de água para tentar retirar a água de
uma das caixas para a outra. A bomba funciona como a pilha e o fluxo de água é equivalente ao
fluxo de elétrons. A medida que a bomba retira água de uma caixa e injeta na outra, vai surgindo
um desnível entre as duas caixas d’água. O desnível é equivalente a carga acumulada no capacitor.
18 Chapter 3. Capacitores

O desnível de água faz surgir uma força que dificulta injetar mais água na caixa d’água, similar a
tensão que surge no capacitor. A bomba continua injetando água na caixa d’água até que o desnível
seja tal que a bomba não é capaz de injetar mais água na caixa. Neste ponto atingimos um estado
de equilíbrio. Entretanto, se desligarmos a bomba a água volta sozinha de uma caixa para a outra
só pela força da gravidade devido ao desnível, até que ambas as caixas voltem a ter o mesmo nível
de água.

Assim, o capacitor é um dispositivo que consegue acumular carga elétrica se aplicado uma
tensão nele. Ao se remover ou diminuir esta tensão, o capacitor devolve a carga elétrica acumulada
nele.
A carga acumulada em um capacitor é dada pela equação:

Q = CV (3.1)
onde Q é a carga acumulada no capacitor, em Coulombs, C é a capacitância do capacitor que mede
a capacidade dele acumular carga, medido em Farads, e V é a tensão sobre o capacitor, medido em
Volts.
A capacitância do capacitor é uma característica que depende da forma como o capacitor foi
construído. Alguns fatores influenciam na capacitância, como:
• Área das placas: Quanto maior a área das placas maior será a capacitância do capacitor
pois, com uma área maior, ele é capaz de acumular mais carga para uma mesma tensão.
Existem no mercados capacitores variáveis, onde é possível ajustar o valor da capacitância
fazenda girar uma pina que faz deslocar um conjunto de placas, aumentando ou diminuindo
a capacitância do capacitor, como este da imagem abaixo

• Espessura do material isolante: Quando menor for a espessura do isolante, também


chamado de dielétrico, maior será a capacitância do capacitor.
3.1 Tipos de capacitores 19

• Materiais utilizados: Os materiais utilizados para a construção influenciam no valor da


capacitância. Por exemplo, quanto maior for a permeabilidade elétrica do isolante maior
será a capacitância. Além disso, utilizar materiais com maiores condutâncias para formar as
placas também permite produzir um capacitor com menor resistência parasita
As cargas acumuladas nas placas criam um campo elétrico, representado pelas linhas de forç
abaixo. Uma linha de força é uma linha imaginária desenhada de modo a representar o sentido da
força que o campo elétrico aplicaria em uma partícula de carga positiva.

Campo Elétrico

+ + + + + + + + + +

- - - - - - - - - -

Podemos ver pelas linhas de força que a carga positiva acumulada na placa superior tem uma
tendência de serem atraída para a placa acumulada com carga negativa. É esta força que faz surgir
a tensão elétrica no capacitor. Quanto maior a carga acumulada, mais forte será o campo elétrico
gerada e maior a tensão no capacitor.

3.1 Tipos de capacitores


Basicamente, os capacitores tem a mesma função: armazenar energia. O que os diferencia
geralmente são a aplicação e o material dielétrico (isolante). Capacitores são usados há muito
tempo, e por isso existem tantas variações, para se adequarem as necessidades que foram surgindo
ao decorrer da evolução da eletrônica.
1. Eletrolítico: Diferencia-se dos demais por ter o material dielétrico de espessura extrema-
mente pequena com relação aos outros. Internamente é composto por duas folhas de alumínio,
separadas por uma camada de óxido de alumínio, enroladas e embebidas em um eletrólito
líquido. Este capacitor possui polaridade, ou seja, um jeito correto de coloca-lo em qualquer
circuito (terminal maior o positivo), caso ele seja polarizado da maneira incorreta, o capacitor
entra em processo de curto circuito. Neste capacitor é muito perigoso polariza-lo incorreta-
mente, pois ele pode explodir liberando gases. Os mais modernos não explodem nestes casos,
apenas incham. Geralmente este capacitor vem com marcação de qual terminal é positivo
e qual é negativo. Esse tipo de capacitor é encontrado em fontes de tensão, onde além de
tornar a fonte mais estável é capaz de filtrar possíveis ruídos que possam vir da rede elétrica.
20 Chapter 3. Capacitores

2. Poliéster: Formado por várias camadas de poliéster e alumínio, o que o torna bastante
compacto. Este capacitor tem uma capacidade de autorregeneração, no caso de dano entre
as camadas (por pulsos de tensão acima do especificado, por exemplo), o material metálico
que está sobre a folha de poliéster evapora, por ser muito fino, evitando um curto circuito. A
quantidade de folhas e a espessura das mesmas determinam a capacitância deste capacitor.

3. Cerâmico: Um dos modelos mais conhecidos e usados. Consiste em um disco de cerâmica


(material dielétrico), com duas fitas metálicas em cada uma das suas faces. Este capacitor
geralmente causa certa confusão nos valores descritos sobre sua superfície (como valor de
capacitância, por exemplo). São usados para circuitos de alta frequência e corrente contínua,
e armazenam pequenas quantidades de cargas elétricas. São encontrados em televisões,
rádios, flash de câmeras, roteadores etc.

4. Tântalo: São usados para substituir os capacitores de eletrolítico, quando se quer minimizar
o circuito. Seu material dielétrico é o Óxido de Tântalo, tem baixa corrente de fuga, e uma
vida útil geralmente maior do que de outros eletrolíticos. Estes também merecem cuidado na
hora da polarização, pois se polariza-lo de maneira incorreta certamente ocasionará em uma
explosão imediata. Para prevenir isto, como de costume, os fabricantes tomam o cuidado de
deixar o terminal positivo maior que o terminal negativo.
3.1 Tipos de capacitores 21

5. Mica: O material dielétrico deste capacitor, obviamente, é a mica. As placas são de prata, e
estas envolvem a folha de mica. Altamente estável quanto à temperatura e possui baixa perda
de carga. Muito usado sem circuitos osciladores e circuitos ressonantes. Estes capacitores
podem ou não possuir terminais, como os já citados possuem. Alguns modelos são soldados
diretamente na placa a qual será montado o circuito, isso ocasiona uma boa dissipação do
calor quando se está trabalhando com potências elevadas.

6. SMD: São usados em todo tipo de equipamentos eletrônicos. O material dielétrico destes
capacitores pode ser de cerâmica, tântalo, entre outros. Por serem muito pequenos, geralmente
são montados nos circuitos por robôs. Ele não possui terminais, este componente é de
montagem em superfície.
22 Chapter 3. Capacitores

7. Variável: São usados em circuitos sintonizados, como a sintonia de um rádio. O material


dielétrico geralmente é o ar, e as placas são de alumínio ou latão. Não são indicados para
trabalhar em altas potencias e tensões elevadas.

8. Óleo e Papel: Não são mais fabricados, e por isso são verdadeiras raridades. Eles eram
usados em equipamentos valvulados, onde requer alta isolação. Sua composição era de fitas
de alumínio enroladas em um papel embebido por óleo. Da mesma forma, os capacitores de
papel já não são mais fabricados, eles eram usados nos primórdios da eletrônica. Eram con-
stituídos por folhas metálicas e um tubo enrolado de papel. Estes materiais eram embebidos
de cera de abelha.

Capacitor a óleo Capacitor a papel

Assim como para resistores, é adotado um símbolo para representar os capacitores no desenho
de circuitos. Os principais símbolos adotados são:

+
não polarizado polarizado

+ +
polarizado polarizado

variável variável

O sinal de mais (+) nem sempre está presente no símbolo dos capacitores que possuem
polaridade, mas a diferença do desenho do terminal positivo do negativo permite discriminá-los.
3.2 Carga e descarga do capacitor 23

3.2 Carga e descarga do capacitor


Vamos considerar o circuito abaixo. Supomos que os dois resistores tenham resistências iguais e
que o capacitor esteja inicialmente descarregado. As duas chaves podem ser usadas para fechar ou
abrir o circuito.

chave 1 R1 chave 2

+ R2
10 V C
-

chave 1 fechada aberta aberta


chave 2 aberta aberta fechada
I II III
10 V

5V

corrente
entrando
no
capacitor

• No intervalo de tempo I, a chave 1 é fechada e a chave 2 fica aberta. Com isso forma-se um
circuito que liga o capacitor à fonte de 10 V através do resistor R1 . Como o capacitor está
descarregado, a fonte impõe um fluxo de corrente que vai carregando o capacitor. A corrente
que carrega o capacitor é calculada como:

V −VC
I=
R1
onde V é a tensão da fonte (10 V ) e VC é a tensão sobre o capacitor. Como o capacitor está
descarregado, VC = 0 V inicialmente.
Conforme o capacitor carrega, vai surgindo uma tensão no capacitor devido a força de atração
entre as cargas opostos acumuladas em cada uma das placas do capacitor. Com isso, como
24 Chapter 3. Capacitores

fica mais difícil de a fonte injetar carga no capacitor e a corrente começa a diminuir e,
portanto, a quantidade de carga que entra no capacitor por segundo diminui. Como é a carga
acumulada no capacitor que determina a tensão do capacitor, a tensão do capacitor começa a
subir cada vez mais lentamente. Finalmente, quando a tensão no capacitor se iguala a tensão
da fonte, a fonte não é mais capaz de injetar corrente no capacitor e o fluxo de corrente cessa.
O capacitor mantêm a sua carga.
• No intervalo de tempo II, ambas as chaves estão abertas. Assim o capacitor fica desconectado
e não consegue nem ganhar nem perder carga. A sua tensão e carga se mantêm.
• No intervalo de tempo III, a chave 2 é fechada. A força de atração das cargas acumuladas
na placa do capacitor faz surgir uma corrente que passa pelo resistor R2 , descarregando o
capacitor. Esta corrente é calculada como:
VC
I=−
R2
O sinal negativo é porque a corrente está saindo do capacitor.
A medida que o capacitor descarrega, a tensão sobre ele diminui, diminuindo também a
corrente que ele fornece ao resistor, até que o fluxo de corrente vai a zero quando o capacitor
está totalmente descarregado.

Exercício 3.1 Dada a curva de tensão sobre o capacitor, esboce a sua corrente. Assuma que
cada divisão do tempo tenha 1 s.
a)

5V

b)
3.2 Carga e descarga do capacitor 25

2V

-2 V

c)

10 V

-10 V

Exercício 3.2 Dada a curva da corrente entrando no capacitor, esboce a tensão sobre ele
assumindo que esteja inicialmente descarregado. Assuma que cada divisão do tempo tenha 1 s.

3 mA

-3 mA
26 Chapter 3. Capacitores

Exercício 3.3 Calcule a capacitância equivalente.


a)

C1 = 10 µF C2 = 2000 nF

b)

C1 = 60 µF C2 = 40 µF

c)

C1 = 10 nF

C2 = 90 nF

d)

C1 = 70 µF C2 = 30 µF


3.2 Carga e descarga do capacitor 27

Exercício 3.4 Considere o circuito abaixo. Vamos assumir que o capacitor está inicialmente
descarregado e que os resistores R1 e R2 possuem a mesma resistência.

chave 1 R1 chave 2

+ R2
10 V C
-

As chaves 1 e 2 alternam entre abertas e fechadas nos instantes marcadas no gráfico abaixo.
a) Esboce a curva de tensão sobre o capacitor supondo que os intervalos de tempos marcados
sejam suficientes para o capacitor carregar e descarregar.

10 V

5V

chave 1 aberta fechada aberta aberta fechada


chave 2 aberta aberta aberta fechada fechada

b) Se o valor de R1 aumentasse, o que aconteceria com a curva de carregamento co capacitor?


c) Se o valor de R2 aumentasse, o que aconteceria com a curva de carregamento co capacitor?

4. Indutores

4.1 Linhas de campo


4.1.1 Campo elétrico
Os campos elétricos são produzidos por corpos carregados. Normalmente representamos o campo
elétrico através de linhas de campo. As linhas de campo elétrico são linhas imaginárias que indicam
o sentido da força elétrica que um corpo carregado eletricamente exerceria sobre uma partícula de
carga positiva (partícula de prova). Mas especificamente, as linhas de campo indicam o sentido
e direção que esta partícula de prova seria forçada a seguir devido ao campo elétrico criado pelo
corpo carregado.

+ -

Partícula carregada positivamente Partícula carregada negativamente

Acima temos as linhas de campo elétrico (também chamadas de linhas de força) produzidos por
uma partícula de carga positiva e outra de carga negativa. Na partícula de carga positivo as linhas
estão saindo pois ela tem tendência de repelir cargas positivas. Na partícula de carga negativa, do
contrário, ela tende a atrair partículas de carga positiva.
Quanto mais próximo as linhas estiverem desenhadas, mais forte é o campo elétrico. Nos
exemplos acima, é nas proximidades da partícula que o campo elétrico é mais forte e é também lá
que temos a maior densidade de linhas.
30 Chapter 4. Indutores

O campo gerado por duas ou mais partículas, ou mesmo um corpo carregado, podem assumir
formas distintas. A figura a seguir representa o campo elétrico produzido por duas partículas de
cargas opostas.

+ -

Os capacitores são dispositivos que armazenam energia no campo elétrico produzido entre suas
placas.

4.1.2 Campo magnético


O campo magnético é produzido pelo movimento de partículas carregadas. Imãs naturais são
exemplos de materiais que produzem um campo magnético devido ao spin de seus elétrons1 .

1 De forma não rigorosa, o spin de um elétron representa o sentido que estes giram em torno de si mesmo
4.1 Linhas de campo 31

Existe muitas semelhanças entre campos elétricos e magnéticos, mas eles não são iguais. Os
imãs possuem um polo norte (N) e um polo sul (S). Assim como partículas de cargas opostas se
atraem, polos opostos se atraem. Da mesma forma, polos iguais se repelem.
As linhas de campo magnético indicam o sentido que uma bússola apontaria se fosse colocada
naquele ponto do espaço. Quanto mais próximas estas linhas estiverem desenhadas, mais forte é o
campo magnético.
Ao se fazer passar uma corrente por um condutor surge uma campo magnética que circula o
condutor, como mostrado na figura abaixo. Este campo é tão mais intenso quando maior for a
corrente que estiver passando pelo condutor.

O sentido de rotação do campo magnético é dado pela regra da mão direita.

Podemos aumentar a intensidade do campo magnético gerado enrolando o condutor sobre si


mesmo na forma de uma bobina ou solenoide. Cada trecho do condutor produzirá um campo
magnético girante e a contribuição de cada trecho se soma de forma a produzir um campo magnético
mais intenso, com forma similar a aquele produzido por um imã. De fato, ao se fazer isso estamos
construindo um eletroímã2 .

2 Eletroímãs são imãs controlados por eletricidade


32 Chapter 4. Indutores

A intensidade o campo magnético produzido por um solenoide depende de vários fatores:


• Corrente: Quanto maior a corrente elétrica circulando pelo solenoide, mais forte será o
campo magnético gerado;
• Número de voltas: Quanto mais voltas forem dadas no solenoide, mais forte será o campo
magnético;
• Permeabilidade magnética: Quanto maior a permeabilidade magnética do meio em que o
solenoide foi construído, mais forte será o campo magnético. A permeabilidade magnética é
uma característica dos materiais que indica o quão fácil é fazer passar um fluxo magnético
por ele. Materiais ferromagnéticos possuem alta permeabilidade magnética, enquanto que o
ar possui baixa permeabilidade magnética.
Na forma matemática, podemos escrever:

µN
B= i, (4.1)
l
onde B é o campo magnético gerado, µ é a permeabilidade magnética, N é o número de voltas do
solenoide, l é o comprimento do solenoide e i é a corrente circulando o solenoide. Assim, uma
forma de produzir um eletroímã mais forte é utilizar um núcleo de ferrite onde de algum outro
material ferromagnético, de forma a aumentar a permeabilidade magnética.
Na natureza os materiais se opõem à variação do campo magnético. Imagine os exemplos
dados na figura abaixo. Nelas temos uma bobina colocada próximo de um imã. No primeiro caso o
imã está se aproximando do solenoide. A medida que o imã se aproxima, o campo magnético vai
ficando cada vez mais forte nas proximidades do solenoide. Para se opor a variação deste campo
magnético é induzida uma corrente no solenoide de forme a produzir um campo magnético que
force o imã a se afastar.
No segundo exemplo temos o caso contrário. Agora o imã está se afastando. É induzida então
uma corrente no solenoide de forma a atrair o imã.
I I

S N N S N S N S
4.2 Indutores 33

Repare que conseguimos produzir uma corrente elétrica através da variação do campo magnético.
Como o solenoide do exemplo estava curto-circuitada a corrente conseguia circular livremente.
Caso o solenoide estive em circuito aberto a corrente não mais iria conseguir circular, mas ainda
assim a variação do campo magnético iria produzir uma tensão nos terminais do solenoide, tentando
forçar a circulação de uma corrente.

4.2 Indutores
Os indutores são dispositivos que armazenam energia no campo magnético. Eles são um condutor
(fio), normalmente enrolado na forma de uma bobina, por onde pode se fazer passar uma corrente
elétrica. Os símbolos usados para representar o indutor são os dados abaixo:

Núcleo de ar Núcleo de ferro

Ao se fazer passar uma corrente pelo indutor, esta faz surgir um campo magnético nele. Se a
corrente diminuir ou aumentar este campo magnético também vai mudar. A variação do campo
magnético induz uma tensão no indutor para se opor à esta variação.
A equação do indutor é

∆I
V =L . (4.2)
∆t

Nesta equação:
• V : É a tensão induzida no indutor
• L: É a indutância do indutor, dada em Henry (H)
∆t : É a velocidade que o a corrente elétrica varia no tempo
• ∆I
Esta equação é muito parecida com aquela do capacitor. Apenas para relembrar, na tabela
abaixo temos a relação entre tensão e corrente para o resistor, capacitor e indutor.

V = RI I = C ∆V
∆t V = L ∆I
∆t
Resistor Capacitor Indutor

Repare que no capacitor a corrente depende da variação da tensão e no indutor é a tensão que
depende da variação da corrente.

4.2.1 Tipos de indutores


Os indutores podem se diferenciar nas características construtivas de cada modelo. Veja abaixo os
principais tipos de indutores:
1. Núcleo de ar: Nos indutores de núcleo de ar não usa-se material ferromagnético no núcleo,
como citado anteriormente. Este possui perdas baixas, o que resulta em uma alta frequência.
De baixa indutância e usado para altas frequências.
34 Chapter 4. Indutores

2. Núcleo ferromagnético: Nestes modelos, o núcleo é feito de um material ferromagnético,


o que resulta em uma indutância muito maior, porém, também ocasiona em perdas. A
indutância maior é graças ao material, pois ele é capaz de concentrar melhor o campo
magnético.

3. Núcleo laminado: Usados em indutores de baixa frequência e transformadores. O núcleo é


feito por laminas de material aço-silício, envolvi as por verniz isolante. Estes compostos não
são escolhidos a toa. O verniz previne perdas por corrente parasita, e o silício adicionado ao
aço faz com que a histerese no material seja reduzida.

4. Núcleo de ferrite: Estes indutores são feitos de um tipo de cerâmica ferromagnética, que tem
um melhor desempenho em altas frequências, onde são mais empregadas. Não apresentam
correntes parasitas além de baixa histerese.

5. Bobinas toroidais: O núcleo toroidal geralmente é feito de ferrite, e tem um formato de


rosca. Graças a este formato, é criado um caminho pelo qual o campo magnético circula.
Este tipo de núcleo é usado em bobinas que tem formato de bastão. Neste caso o campo
4.2 Indutores 35

magnético sofre perdas à circular de uma extremidade a outra, pelo contato com o ar. Por
isso este núcleo foi projetado para fazer um caminho para este campo, evitando o número de
perdas.

Exercício 4.1 Dada a curva de corrente sobre o indutor, esboce a sua tensão. Assuma que cada
divisão do tempo tenha 1 s e que o indutor tenha 50 mH.
a)

5A

b)
36 Chapter 4. Indutores

2A

-2 A

c)

10 A

-10 A

Exercício 4.2 Dada a curva de tensão sobre o indutor, esboce a corrente passando por ele
assumindo que esteja inicialmente descarregado. Assuma que cada divisão do tempo tenha 1 s e
que o indutor seja de 2 H.
4.2 Indutores 37

3 mV

-3 mV

4.2.2 Indutância equivalente


Quando dois (ou mais) indutores estiverem em série, como na figura abaixo, a corrente que passa
por eles será a mesma, entretanto eles não terão a mesma queda de tensão. Estes dois indutores
podem ser substituídos por um único indutor equivalente. A queda de tensão sobre o indutor
equivalente é a soma da queda de tensão sobre cada indutor individual.
L1 L2 Leq
I I

+ - + - + -
V1 V2 V = V1+V2

Pela relação entre tensão e corrente para o indutor, temos que:

∆I
V1 = L1
∆t
∆I
V2 = L2
∆t

A tensão sobre o indutor equivalente é dada por:

∆I ∆I
V = V1 +V2 = L1 + L2
∆t ∆t
∆I
V = (L1 + L2 )
∆t
∆I
V = (Leq )
∆t

Ou seja, podemos concluir que Leq = L1 + L2 . Ou seja, a indutância equivalente para indutores
em séria é a soma de suas indutâncias.
Quando os indutores estiverem em paralelo a queda de tensão neles será a mesma, conforme
figura a seguir. Entretanto a corrente I que entra neles é dividida, parte indo para o primeiro indutor
38 Chapter 4. Indutores

e o restante para o outro. Podemos substituir estes dois indutores por um indutor equivalente pelo
qual a corrente que passa por ele é igual a soma das correntes passando por cada indutor.
I1
Leq
I I = I1+I2

+ -
V
I2
+ -
V

Para este indutor equivalente é válida a seguinte equação:

∆I
V = Leq
∆t
∆I1 + I2
V = Leq
 ∆t 
∆I1 ∆I2
V = Leq +
∆t ∆t

Para cada indutor temos a seguinte equação

∆I1 ∆I1 V
V = L1 → =
∆t ∆t L1
∆I2 ∆I2 V
V = L2 → =
∆t ∆t L2

Substituindo isto na equação do indutor equivalente, temos:

 
V V
V = Leq +
L1 L2
1 1
 
V = LeqV +
L1 L2
1 1
 
1 = Leq +
L1 L2
1 L L
Leq =  = 1 2
1
+ 1
L1 L2
L1 + L2

Repare que a associação de indutores em série e paralelo segue a mesma lógica que resistores
em série e paralelo.

Exercício 4.3 Calcule a indutância equivalente dos seguintes circuitos


a)
50 mH 5000 µH
4.2 Indutores 39

b)
100 nH 5 µH

c)
15 mH

10 mH

d)
65 mH

35 mH

e)
8 mH

5,2 mH

12 mH

f)
100 pF 50 pF

100 pF

g)
40 Chapter 4. Indutores
9H

70 H
10 H 70 H
60 H
20 H

23,41 H


5. Impedância

5.1 Fasores
Fasor é uma forma de representar funções senoidais, como aquelas das tensões e correntes alternadas.
Ele relaciona a amplitude (A) e fase (θ ) em um único número complexo. Eles são vetores que
giram em uma determinada velocidade em um círculo trigonométrico.

Nós já vimos esta representação quando foi introduzido as correntes e tensões alternadas.
O ângulo inicial deste vetor é a sua fase e a amplitude dele é a amplitude da onda. Sabendo a
frequência da onda, todo o seu comportamento pode ser descrito apenas pela posição inicial do
fasor. Existem
√ duas formas de representar um número complexo apresentados na tabela abaixo. Na
tabela j = −1 é o número imaginário.

Polar Retangular
Representação A∠θ x + jy
A: Amplitude x: parte real
Variáveis
θp: fase y: parte imaginária
A = x2 + y2 x = A cos(θ )
Relação
θ = atan xy y = A sin(θ )

Estas duas formas são equivalentes, mas costumamos utilizar mais a forma polar ao se resolver
problemas de circuitos CA. Fasores são utilizados para representar como a tensão ou a corrente
42 Chapter 5. Impedância

variam ao longo do tempo. Temos então os fasores de tensão e de corrente. Imagine, por exemplo,
uma fonte de tensão alternada com 220 VRMS de amplitude e uma fase inicial de 120◦ . Esta tensão é
representada de forma fasorial por 220∠120◦ V . Sempre usamos os valor em RMS para os fasores
de tensão e corrente. Isto facilita os cálculos de potência que veremos mais para frente.
A frequência que a tensão ou corrente alternada oscila não é representada pelo fasor, mas é
sempre um valor fixo determinado. Assim, um fasor de tensão 220∠120◦ V de uma rede de 60 Hz
representa uma onde senoidal de tensão com 220 VRMS , 120◦ de fase, oscilando a uma frequência
de 60 Hz. Imagine agora que aplicamos esta tensão à um resistor de 100 Ω. O fasor de corrente
pode ser calculado usando a Lei de Ohm:

V 220∠120◦
I= = = 2, 2∠120◦ ,
R 100
ou seja, o fasor corrente é 2, 2∠120◦ A que representa uma corrente de 2, 2 ARMS , com fase de 120◦ ,
oscilando a 60 Hz.
É comum ao montarmos nossas equações, representar valores fasoriais com letras maísculas e
seu correspondente não fasorial com letra minúscula. Assim, a tensão de uma fonte AC seria dada,
por exemplo, pela letra v, enquanto que o fasor correspondente seria dado pela letra V .

5.2 Impedância
Impedância elétrica ou simplesmente impedância, é a oposição que um circuito elétrico faz à
passagem de corrente quando é submetido a uma tensão. Ele é uma generalização do conceito de
resistência que também inclui capacitores e indutores.
As equações que relacionam tensão e corrente podem ser convertidas para suas formas fasorias.
De fato, já fizemos isso no exemplo anterior usando o resistor já que sua equação fasorial é idêntica
a forma não fasorial.
A tabela abaixo mostra como ficam as equações fasorias para o resistor, indutor e capacitor
onde ω = 2π f é a frequência angular que as ondas de tensão e corrente estão oscilando, f é a
frequência em Hertz.

Resistor Capacitor Indutor

Equação v = Ri i = C ∆v
∆t v = L ∆i
∆t
Eq. fasorial V = RI I = jωCV V = jωLI
−j 1
Impedância R ωC = ωC ∠ − 90 ◦
jωL = ωL∠90 ◦

Comparando com a equação obtida para o resistor, podemos achar um componente que faz um
papel semelhante a resistência para o capacitor e o indutor, que é chamado de impedância. Assim,
a impedância de um resistor é a sua própria resistência, já a impedância do capacitor e do indutor
depende do valor de capacitância ou indutância e variam com a frequência do circuito.
Para o capacitor:
• Quanto maior a capacitância, menor a sua impedância
• Quando maior a frequência, menor a sua impedância
Para o indutor:
• Quanto maior a indutância, maior a sua impedância
• Quanto maior a frequência, maior a sua impedância
5.3 Impedância equivalente 43

Vamos retomar o exemplo anterior. Imagine uma fonte de tensão com fasor 220∠120 V a 60Hz.
Vamos calcular a corrente que esta fonte induz em um resistor de 100 Ω, um capacitor de 100 F e
num indutor de 100 H.
A impedância do resistor é igual a sua resistência. Logo o fasor corrente será

220∠120
I= = 2, 2∠120 A.
100
O impedância do capacitor é calculada como
1 1
∠ − 90 = ∠ − 90 = 2, 65 × 10−5 ∠ − 90 Ω
ωC 2π60 100
logo, o fasor da corrente passando pelo capacitor será dado por

220∠120
I= = 8, 30 × 106 ∠210 A = 8, 30∠210 MA.
2, 65 × 10−5 ∠ − 90
A impedância do indutor é

ωL∠90 = 2π60 100 = 3, 77 × 104 ∠90 Ω

logo, o fasor da corrente passando pelo indutor será

220∠120
I= = 0, 00583∠30 A = 5, 83∠30 mA
3, 77 × 104 ∠90

Exercício 5.1 Calcule a impedância, a 100Hz, de


a) Um resistor de 3 kΩ
b) Um capacitor de 20 µF
c) Um indutor de 50 nH 

Exercício 5.2 Calcule a impedância, a 200Hz, de


a) Um resistor de 3 kΩ
b) Um capacitor de 20 µF
c) Um indutor de 50 nH 

5.3 Impedância equivalente


Assim como fizemos com resistores, capacitores e indutores calculando a resistência, capacitância
e indutância equivalente para circuitos série, paralelo e misto, também é possível calcular a
impedância equivalente de um circuito. Como a impedância é uma generalização da resistência, as
regras seguem as mesmas para os cálculos com resistência, mas agora com números complexos.

Exercício 5.3 Calcule a impedância equivalente suponde que os circuitos operem numa fre-
quência angular de ω = 400 rad/s (ω = 2π f ).
44 Chapter 5. Impedância
a) b)
625 nF
3 kΩ

10 H 10 H

c) 2 µF

7,5 H 7 kΩ

5.4 Potência
Em circuitos CC, a potência era calculada como o produto entre a tensão e a corrente. Assim, uma
fonte de 200 V fornecendo 10 A de corrente, está fornecendo 2000 W de potência. Isso continua
sendo válido para circuitos CA, mas como a tensão e a corrente estão variando com o tempo, a
potência fornecida pela fonte também varia com o tempo.

Tensão

Corrente

Potência
5.4 Potência 45

Repare, no gráfico acima, que existem momentos em que a fonte de tensão está fornecendo
potência e em outros momentos está consumindo potência. A fonte está fornecendo potência
quando sua tensão ou corrente possuem o mesmo sinal (ambas positivas ou ambas negativas) e está
recebendo potência quando a tensão e a corrente possuem sinais opostos. Além disso, a potência
vai para zero quando a tensão ou a corrente passam pelo zero.
Para análise de circuitos CA, costumamos nos focar mais na potência média consumida/fornecida
por uma fonte. Definimos três conceitos novos:
• Potência ativa: Em partes do ciclo a fonte pode estar fornecendo potência e em outros
momentos está recebendo esta potência de volta. A potência ativa fornecida por uma fonte é
a potência média que esta fonte realmente forneceu ao longo do ciclo, ou seja, é descontada
aquela potência que o circuito devolveu a fonte.
• Potência reativa: É a potência média que a fonte fornece em parte do ciclo e que recebe de
volta em outra parte do ciclo.
• Potência aparente: Devido a potência reativa dá se a impressão de que uma fonte está
fornecendo mais potência do que de fato está sendo consumida. A potência aparente é a
potência média que a fonte aparenta estar fornecendo.

Reativa

Aparente
Ativa

A figura acima ilustra o conceito destas potências médias. Para diferenciá-las, cada uma destas
potências recebe uma unidade diferente:
• Potência ativa: Watts (W )
• Potência aparente: Volt-Ampère (VA)
• Potência reativa: Volt-Ampère reativo (VAr)
O cálculo destas potências médias é feita diretamente com os fasores de tensão e corrente:

P = V × I∗ (5.1)

onde I ∗ significa o conjugado complexo do fasor corrente que é obtido trocando o sinal do ângulo
do fasor corrente, ou trocando o sinal da parte imaginária, como por exemplo:
46 Chapter 5. Impedância

Fasor corrente → Fasor corrente conjugado


3∠45 → 3∠ − 45
10∠ − 23 → 10∠23
4 + 5i → 4 − 5i
2 − 3i → 2 + 3i

Na equação (5.1), o valor P é chamado de potência complexa. A parte real de P é a potência


ativa, a parte imaginária é a potência reativa e o módulo é a potência aparente. Vamos supor, por
exemplo, que uma fonte de 20∠30 V , forneceu uma corrente de 10∠45 A. A potência complexa
fornecida por esta fonte é calculada como:

P = 20∠30 × 10∠45∗
= 20∠30 × 10∠ − 45
= 200∠ − 15 = 193, 19 − 51, 76i

Ou seja, a potência ativa foi de 193, 19 W , a reativa foi de −51, 76 VAr e a aparente de 200 VA.
Quanto menor for a potência reativa de um circuito melhor, pois a potência reativa aumenta
a corrente que circula, aumentando as perdas nas linhas de transmissão, sem efetivamente ser
consumida pelo circuito. O fator de potência é um parâmetro do circuito que fornece uma relação
entre potência ativa e reativa. É calculado como:

potência ativa
fator de potência = (5.2)
potência aparente
Ou, de forma equivalente, o fator de potência pode ser calculado em função do ângulo da
potência complexa P.

fator de potência = cos (ângulo da potência complexa) (5.3)

No caso do exemplo acima, a potência ativa foi 193, 19 W e a potência aparente foi 200 VA.
Logo o fator de potência é

193, 19
fp= = 0, 9659 = 96, 59%
200
Ou, calculando em função do ângulo da potência complexa, que é −15 graus:

f p = cos(−15) = 0, 9659 = 96, 59%

Para termos um circuito com uma boa eficiência energética, é preferível que o fator de potência
fique próximo de 100%.
O ângulo da potência complexo também nos fornecem outras informações. Se ele for um ângulo
positivo significa que a carga a que a fonte está conectada possui um comportamento mais indutivo.
Se for negativo, possui um comportamento indutivo. Se o ângulo for zero, a carga é puramente
resistiva. Uma fonte que possua potência complexa 200∠15 ou 200∠ − 15 terão o mesmo fator
de potência, pois cos(15) = cos(−15) = 96, 59%. Entretanto o primeiro é indutivo e o segundo é
capacitivo.
5.4 Potência 47

Exercício 5.4 Para os circuitos abaixo, calcule:


1. Impedância equivalente
2. Corrente fornecida pela fonte
3. Potência ativa, reativa e aparente
4. O fator de potência
a) b) c)

20 4∠90 20 4∠-90 20 4

d) 3 e) 3

50 5∠90 50 5∠-90

f) g)

50 10∠90 10 50 10∠-90 10

Exercício 5.5 O circuito a) abaixo representa o modelo de um motor de indução ligado a uma
fonte de tensão de 100 VRMS . Em b) temos exatamente o mesmo circuito, mas foi adicionado
um capacitor em paralelo com a fonte. Para cada um dos circuitos, calcule a corrente fornecida
pela fonte e as potências ativa, reativa e aparente fornecida pela fonte. Justifique a diferença
encontrada em cada circuito.
a) 5∠90

100 50 20∠90

b) 5∠90

24∠-90 100 50 20∠90


48 Chapter 5. Impedância

Este capacitor é comumentemente utilizado na indústria para corrigir o fator de potência,


reduzindo as perdas nas linhas de transmissão. Normalmente é utilizado um banco de capacitores
para fazer a correção. 

Exercício 5.6 Os circuitos abaixo estão operando a 60 Hz. Para cada um deles, calcule:
1. Impedância equivalente
2. Corrente fornecida pela fonte
3. Potência ativa, reativa e aparente
4. O fator de potência
a) b) c)

20 10 mH 20 530 µF 20 4 kΩ

d) 3 kΩ e) 3Ω

50 15 H 50 530 µF

f) g)

50 25 mH 10 Ω 50 250 nF 10 kΩ

5.5 Leis de Kirchhoff


As leis de Kirchhoff que foram estudadas para circuitos em corrente contínua também são válidas
para circuitos em corrente alternada. Utilizando a representação fasorial junto das leis de Kirchhoff
podemos encontrar as correntes e quedas de tensão em qualquer circuito CA.
Para relembrar, são duas as leis de Kirchhoff

5.5.1 Lei das malhas


A Lei das malhas, também chamada de lei de Kirchhoff das tensões ou de segunda lei de Kirchhoff,
é uma consequência da conservação da energia. Ela indica que quando percorremos uma malha
(percurso fechado) em um dado sentido, a soma dos ganhos e quedas de tensão é igual a zero. Uma
outra forma de se enunciar esta lei é: a tensão aplicada a um circuito fechado é igual à soma das
quedas de tensão.
Para aplicar a Lei das Malhas, devemos convencionar o sentido que iremos percorrer o circuito.
A tensão poderá ser positiva ou negativa, de acordo com o sentido que arbitramos para a corrente e
5.5 Leis de Kirchhoff 49

para percorrer o circuito.


• Se a corrente entrar pelo terminal positivo e sair pelo negativo, a corrente está perdendo
tensão ao passar por este dispositivo
• Se a corrente entrar pelo terminal negativo e sair pelo positivo, a corrente está ganhando
tensão ao passar por este dispositivo

- -
+ +

+ +
- -

Perdendo tensão Ganhando tensão


negativo positivo

Assim, o ganho ou queda de tensão em fontes de tensão é facilmente determinado. Para


resistores, indutores e capacitores a queda de tensão V pode ser calculada usando as equações que
relacionam a corrente e tensão nestes dispositivos, relembrada abaixo.

I I I
+ + + V= I
V = RI V = jωLI jωC
V V V
Z=R Z = jωL = ωL∠90 Z = 1 = 1 ∠-90
- - - jωC ωC

De forma mais genérica, a queda de tensão pode ser calculada pela impedância Z pela equação

V = ZI (5.4)

Exercício 5.7 Calcule o valor do fasor tensão V marcado na figura.


a) 22∠-56 b) 24∠14
+ - + -
+
+

50 50 17∠-30
V
V
-

- +
-

Exercício 5.8 Calcule a corrente passando pelo resistor usando a lei das malhas.
50 Chapter 5. Impedância

Np
Ns

Vp Vs

Exercício 5.9 Calcule a corrente que passa por cada impendância do circuito abaixo usando a
lei das malhas

100∠0
45∠50 + 45∠50

-
100∠-120 100∠120
-
-
+

45∠50 

5.5.2 Lei dos nós


A Lei dos nós, também chamada de lei de Kirchhoff das correntes ou de primeira lei de Kirchhoff,
indica que a soma das correntes que chegam em um nó é igual a soma das correntes que saem. Esta
lei é consequência da conservação da carga elétrica, cuja soma algébrica das cargas existentes em
um sistema fechado permanece constante.

Exercício 5.10 Calcule a corrente passando pelo resistor usando a lei dos nós.
Np
Ns

Vp Vs

Exercício 5.11 Calcule a corrente que passa por cada impendância do circuito abaixo usando a
lei dos nós.
5.5 Leis de Kirchhoff 51

100∠0
45∠50 + 45∠50

-
100∠-120
- 100∠120

-
+

+
45∠50 
6. Transformadores

6.1 Transformador Ideal


Na seção 4.1.2 vimos que ao fazer passar corrente por uma bobina surge um campo magnético.
Desta forma a bobina é um eletroímã, ou seja, um imã controlado por eletricidade. Além disso,
vimos que podemos induzir uma corrente em uma bobina ao se aproximar ou afastar um imã da
bobina. Na natureza, os materiais tendem a se opor a variação do campo magnético. Portanto é
produzida uma corrente que produz um campo magnético que tenderá a impedir a movimentação
do imã. Este é o fenômeno por trás da levitação magnética W.

I I

S N N S N S N S

Podemos substituir o imã por uma outra bobina ligada a uma fonte CA. A fonte CA produz uma
tensão que varia ao longo do tempo, seguindo uma curva senoidal. Portanto, o campo magnético
que esta bobina produz também varia com o tempo. A outra bobina produzirá então uma corrente
de forma a se opor a variação do campo magnético. Esta é a estrutura básica de um transformador.
As duas bobinas não possuem contato elétrico, mas é possível transferir energia de uma bobina
para a outra através do campo magnético que enlaça as duas.

I I
~
S N S N
54 Chapter 6. Transformadores

Este é o princípio de funcionamento de carregadores sem fio. Neles existe uma base que é
conectada a uma fonte de energia. Esta base possui uma bobina que gera um campo magnético
variante no tempo de alta frequência. O celular, por sua vez, possui uma bobina que ao tentar se
opor a variação do campo magnético da base produz um corrente que é utilizada para carregar a
bateria do celular. Assim, a energia elétrica é transferida da base para o celular através do campo
magnético, sem necessidade de fios.
A região que engloba as duas bobinas, permitindo o enlace magnético entre elas é chamado
de núcleo. O transformador básico consiste de duas bobinas isoladas eletricamente uma da outra
e enroladas em torno de um núcleo comum. O acoplamento magnético é usado para se transferir
energia elétrica de uma bobina para outra. A bobina que recebe a energia de uma fonte CA
é denomina de primário. A bobina que fornece energia para uma carga CA é denominada de
secundário. O núcleo dos transformadores usados em baixa frequência costuma ser feito de material
magnético, geralmente laminado. O núcleo dos transformadores usados em altas frequências
são feitos de ferro em pó e cerâmica ou de materiais não-magnéticos. Algumas bobinas são
simplesmente enroladas em torno de formas ocas não magnéticas, como papelão ou plástico, de
modo que o material que forma o núcleo na verdade é o ar.

+ +

~ Vp Vs Carga
- -

Bobina do primário Bobina do secundário


6.1 Transformador Ideal 55

Se considerarmos que um transformador funciona sob condições ideais ou perfeitas, a transfer-


ência de energia de uma tensão para outra se faz sem perdas.

6.1.1 Razão ou relação de tensão

A tensão nas bobinas de um transformador é diretamente proporcional ao número de espiras das


bobinas (número de voltas). Essa relação é expressa através da fórmula

Vp N p
= (6.1)
Vs Ns

onde Vp = tensão na bobina do primário


Vs = tensão na bobina do secundário
Np = número de espiras da bobina do primário
Ns = número de espiras da bobina do secundário

A razão Vp /Vs é chamada de razão ou relação de tensão (RT). A razão Np /Ns é chamada de
razão ou relação de espiras (RE).
Uma razão de 1:4 (lê-se um para quatro) significa que para cada volt no primário do trans-
formador há 4 volts no secundário. Quando a tensão do secundário é maior do que a tensão do
primário, o transformador é denominado de transformador elevador. Uma razão de 4:1 significa
que para 4 volts no primário há somente 1 volt no secundário. Quando a tensão no secundário for
menor do que a tensão no primário, o transformador é denominado de transformador abaixador.

Exercício 6.1 Um transformador de filamento reduz os 120 V no primário para 8 V no se-


cundário. Havendo 150 espiras no primário e 10 espiras no secundário, calcule a razão de tensão
e a razão de espiras

Np
Ns

Vp Vs

Exercício 6.2 Um transformador com núcleo de ferro operando em uma linha de 120 V possui
500 espiras no primário e 100 espiras no secundário. Calcule a tensão no secundário. 

Exercício 6.3 Um transformador de potência tem uma razão de espiras de 1:5. Se a bobina do
secundário tiver 1000 espiras e a tensão no secundário for de 30 V , qual a razão de tensão, a
tensão no primário e o número de espiras no primário? 
56 Chapter 6. Transformadores

6.1.2 Razão ou relação de corrente


Em um transformador ideal, a potência consumida no primário é exatamente igual a potência
fornecida pelo secundário pois não há perdas. A potência consumida no primário é calculada como

Pp = Vp × Ip∗ (6.2)

No secundário, a potência fornecida é calculada como

Ps = Vs × Is∗ (6.3)

Através das equações (6.2) e (6.3), sabendo que Pp = Ps , chegamos a seguinte relação

Vp × Ip∗ = Vs × Is∗ (6.4)

Através desta equação e da equação (6.1) podemos expressar a relação de corrente por

Np Is
= (6.5)
Ns Ip

onde Ip = corrente na bobina do primário


Is = corrente na bobina do secundário

Ou seja, a razão de corrente é o inverso da razão de espiras e da razão de tensão.

Exercício 6.4 Quando o enrolamento do primário de um transformador de núcleo de ferro


opera com 120 V , a corrente no enrolamento é de 2 A. Calcule a corrente no enrolamento do
secundário se a tensão for aumentada para 600 V . 

Exercício 6.5 Um transformador para campainha com 240 espiras no primário e 30 espiras no
secundário consome 0, 3 A de uma linha de 120 V . Calcule a corrente no secundário. 

6.2 Transformador real


Na prática não existem transformadores ideais pois todos eles apresentam perdas de energia. O
transformador ideal é apenas uma aproximação para simplificar os cálculos. Um transformador real
tem várias fontes de perdas de energia:
• Os fios usados para construir as bobinas possuem uma resistência elétrica que, mesmo que
seja pequena, causará perdas através do efeito joule. Assim, a medida que passa corrente
elétrica pelo transformador ele vai aquecendo. Este é um dos fatores que limita a potência
máxima que um transformador é capaz de fornecer. Se forçarmos um transformador a
fornecer mais potência do que a que ele foi projetado ele pode aquecer a ponto de derreter os
fios das bobinas.
• Nem todo campo magnético produzido no primário passa pelo secundário, como exem-
plificado na imagem a seguir. As linhas tracejadas em azul representam linhas de campo
magnético que englobam as duas bobinas. Mas o primário também produz o campo mag-
nético representado pelas linhas tracejadas em vermelho, que não passam pela bobina do
6.2 Transformador real 57

secundário e não irão produzir uma corrente no secundário. Para reduzir este problema é
comum utilizar materiais ferromagnéticos no núcleo dos transformadores que criam uma es-
pécie de caminho por onde o campo magnético circula. Como analogia, materiais condutores,
como o cobre, criam um caminho para a corrente elétrica da mesma forma que materiais
ferromagnéticos criam um caminho para o campo magnético.

I
~

• Ao mesmo tempo que os núcleos de material ferromagnético ajudam a resolver o problema


da dispersão do campo magnético eles introduzem um outro problema pois materiais fer-
romagnéticos normalmente são bons condutores de corrente. Devido a variação do campo
magnético será induzido uma corrente no núcleo dos transformadores. Para reduzir este
efeito, o núcleo costuma ser construído na forma de lâminas que são cobertas por uma
película isolante para reduzir a corrente no núcleo do transformador (chamadas de corrente
de Foucault)

Núcleo Campo magnético

Bobinas

Núcleos "E-I" Núcleos "F" Entrelaçados

• Uma outra perda introduzida pela núcleo é a perda por histerese. É necessário gastar uma
certa energia para alinhar os spins magnéticos de materiais ferromagnéticos. Esta energia é
perdida pela inversão do campo magnético no núcleo à medida que a corrente alternada de
magnetização aumenta e diminui e muda de sentido.
Devido a estas perdas, a tensão e a corrente no secundário será, na prática, um pouco menor do
que a prevista pelo modelo de transformador ideal.
58 Chapter 6. Transformadores

6.2.1 Eficiência
A eficiência de um transformador é igual a razão entre a potência de saída no secundário e a
potência de entrada no enrolamento do primário. Um transformador ideal tem eficiência de 100%
porque libera toda a energia que recebe. Devido às perdas no núcleo e no cobre, a eficiência na
prática é menor do que 100%. Expresso na forma de equação,

Ps
Ef = (6.6)
Pp

onde E f = eficiência
Ps = potência ativa de saída no secundário
Pp = potência ativa de entrada no primário

Exercício 6.6 Qual é a eficiência de um transformador se ele consome 900 W e fornece 600 W ?


Exercício 6.7 Um transformador tem uma eficiência de 90%. Se ele fornece 198 W a partir de
uma linha de 110 V , calcule a potência de entrada e a corrente no primário. 

Exercício 6.8 Um transformador operando a uma tensão de 100 V no primário, consome uma
corrente de 10∠40 A no primário. No secundário foi verificado uma tensão de 250 V e uma
corrente de 3∠40 A. Qual a eficiência deste transformador? 

6.3 Autotransformador
O autotransformador constitui um tipo de transformador de potência. Ele consiste em um só
enrolamento. Fazendo-se derivações ou colocando-se terminais em pontos ao longo do comprimento
do enrolamento, podem ser obtidas diferentes tensões. O autotransformador da figura abaixo possui
um único enrolamento entre os terminais A e C. É colocada uma derivação no enrolamento, de onde
sai um fio que forma o terminal B. A simplicidade do autotransformador o torna mais econômico e
de dimensões menores. Entretanto, ele não fornece isolação elétrica entre os circuitos do primário e
do secundário.

Vp B
Vs
C C

São muito utilizados em circuitos onde a razão de tensão é pequena e que não consomem
potências elevadas, como aqueles usados para transformar 220 V em 110 V e vice-versa. Podem
ser usados tanto como abaixadores como elevadores de tensão.
6.4 Polaridade da bobina 59

Exercício 6.9 Um autotransformador contendo 200 espiras é ligado a uma linha de 120 V . Para
se obter uma saída de 24 V , calcule em qual posição deverá ficar a derivação do transformador
contando a partir do terminal C, conforme figura anterior. 

6.4 Polaridade da bobina


O símbolo usado para o transformador não dá indicação sobre a fase da tensão através do secundário,
visto que a fase desta tensão na verdade depende do sentido dos enrolamentos em volta do núcleo.
Para resolver esse problema são usados pontos para indicar a fase dos sinais do primário e do
secundário. As tensões estão em fase ou 180 graus fora de fase cm relação a tensão do primário.
Entrada Saída Entrada Saída
62 Chapter 7. Casamento de impedância

7. Casamento de impedância

0.8
Corrente [V]

0.6

0.4

0.2

0
10 -1 10 0 10 1 10 2 10 3
Resistência [ohms]

10

6
Tensão [V]

0
10 -1 10 0 10 1 10 2 10 3
Resistência [ohms]
63
2.5

2
Potência [W]

1.5

0.5

0
10 -1 10 0 10 1 10 2 10 3
Resistência [ohms]
66 Chapter 8. Motores e Geradores

8. Motores e Geradores

8.1 Princípio báscio de funcionamento de um gerador

N S
S

S N N S
N

90°
135°
45°
S

S N 180° 0° N S
N

-45°
-135°
-90°
N
S

S N N S
N

S N
8.1 Princípio báscio de funcionamento de um gerador 67

Rotor com imã

N S N S
Rotor com bobina

Monofásico Trifásico
68 Chapter 8. Motores e Geradores
8.2 Sistema trifásico 69

8.2 Sistema trifásico

Estrela ou Y Triângulo ou ∆
a ou R a ou R

Va +
- Vc -
+
Va
neutro + -

Vc - -
+ + b ou S
Vb

+
-
b ou S

Vb
c ou T c ou T

Estrela ou Y Triângulo ou ∆
a ou R a ou R

Va +
- Vc -
+
Va
+ -
neutro
Vc - -
+ + b ou S
Vb
+
-

b ou S

Vb
c ou T c ou T

- impedância do enrolamento

• Tensão de fase
• Tensão de linha
70 Chapter 8. Motores e Geradores

8.2.1 Sequência de fase

Vc
Va = Vm / 0º
Vb = Vm / -120º Sequência
de fases abc
Vc = Vm / 120º Va ou positiva
Vb
Va + V b + Vc = 0
Vb

Va = Vm / 0º Sequência
de fases acb
Vc = Vm / -120º Va ou negativa
Vb = Vm / 120º
Vc

Estrela ou Y Triângulo ou ∆

Zc
Z Zc
c

n
Zc

Zc
c
Z

Exercício 8.1 Uma fonte trifásica em estrela com 220 V de tensão de linha e sequência de fase
positiva alimenta uma carga trifásica em estrela que possui uma impedância de Zc = 50∠35 Ω.
8.2 Sistema trifásico 71

Va +
Zc
-

n
Vc - -
+ +

Zc

c
Z
Vb

a) Supondo que o neutro da fonte esteja conectado ao neutro da carga, calcule a corrente
fornecida por cada fase da fonte e a queda de tensão em cada impedância da carga.
b) Supondo que os neutros não estejam conectados, calcule a corrente fornecida por cada fase
da fonte e a queda de tensão em cada impedância da carga.
c) Se a carga fosse reconfigurada para ficar em delta qual seria a corrente fornecida por cada
fase da fonte e a queda de tensão em cada impedância da carga? 

8.2.2 Conversão estrela – delta

c Z1Z2 + Z2Z3 +Z1Z3


Za= ------------------------
Z1
Z3
Z Za Z1Z2 + Z2Z3 +Z1Z3
b
n
Zb= ------------------------
Z2
Z1

2
Z

a Zc b
Z1Z2 + Z2Z3 +Z1Z3
Zc= ------------------------
Z3
72 Chapter 8. Motores e Geradores

8.2.3 Conversão delta – estrela


c ZbZc
Z1 = ---------------
Za + Zb + Zc
Z3
Z Za
b
n ZaZc
Z2 = ---------------
Za + Zb + Zc
Z1

2
Z

a Zc b
ZaZb
Z3 = ---------------
Za + Zb + Zc
A. CalcEn
74 Chapter A. CalcEn
75
76 Chapter A. CalcEn

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