ISSN 1517-4506
COMISSÃO DE PUBLICAÇÃO
Valesca Bragoto Bertanha (coordenadora)
Aline Choueke Turnowski (suplente)
COMISSÃO EDITORIAL
Aline Choueke Turnowski, Antonio Geraldo de Abreu Filho, José Carlos Garcia, Lucianne Sant’Anna de Menezes,
Margarida Azevedo Dupas, Maria Augusta Steffen Toniolo, Talita Minervino Pereira, Valesca Bragotto Bertanha
CONSELHO EDITORIAL
Cassandra Pereira França (Universidade Federal de Minas Gerais), Claudia Paula Leicand (Instituto Sedes Sapientiae), Durval Mazzei
Nogueira Filho (Instituto Sedes Sapientiae, GREA/Instituto de Psiquiatria da USP), Ede de Oliveira (Instituto Sedes Sapientiae,
Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos), Eliane Michelini Marraccini (Instituto Sedes Sapientiae), Emir Tomazelli (Instituto
Sedes Sapientiae), Flávio Carvalho Ferraz (Instituto Sedes Sapientiae), Francisca Isabel Teixeira (Instituto Sedes Sapientiae, Socie-
dade Brasileira de Psicanálise de São Paulo), Fuad Kyrillos Neto (Universidade Federal de São João Del Rei), José Carlos Garcia
(Instituto Sedes Sapientiae), José F. Miguel H. Bairrão (Universidade de São Paulo/Ribeirão Preto), Lineu Matos Silveira (Instituto
Sedes Sapientiae), Lucianne Sant’Anna de Menezes (Instituto Sedes Sapientiae, Universidade Federal de Uberlândia), Maria Bea-
triz Romano de Godoy (Instituto Sedes Sapientiae, Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo), Maria Lúcia Castilho Romera
(Universidade Federal de Uberlândia), Marina Ferreira da Rosa Ribeiro (Instituto Sedes Sapientiae), Marly T. M. Goulart (Instituto
Sedes Sapientiae), Marta Cerruti (Instituto Sedes Sapientiae), Nora de Miguelez (Instituto Sedes Sapientiae), Sonia Maria Parente
(Instituto Sedes Sapientiae, Universidade Ibirapuera), Suzana Alves Viana (Instituto Sedes Sapientiae), Tiago H. Rodrigues Rocha
(Universidade Federal do Triângulo Mineiro) Dados Internacionais de Catalogação-na-Fonte (CIP)
Instituto Brasileiro de Informação em Ciências e Tecnologia
GRUPO DE DIVULGAÇÃO : Margaret Simas Ramos
Marques GRUPO DE ENTREVISTAS: Talita Nacif (coordenadora), Boletim formação em psicanálise / Instituto Sedes Sapientiae,
Departamento Formação em Psicanálise. – Vol. 1, no. 1 (maio/jun. 1992)
Marina Fibe de Cicco, Mariana Ali Mies GRUPO DE PUBLICAÇÃO
– . São Paulo: O Departamento, 1992-
DE LIVROS: Lucianne Sant’Anna de Menezes (coordenadora),
Ana Raquel Bueno Moraes Ribeiro, Luciana Bocayuva Ano XXI, v.21, (jan./dez. 2013)
Khair GRUPO DE RESENHAS: Emir Tomazelli, Mônica Salgado Anual
(coordenadora) GRUPO DE REVISÃO DE TRADUÇÃO: Maria Periodicidade bianual de 1992 a 1994; anual a partir desta data.
Julia Arantes (coordenadora), Nora de Miguelez OFICINA DE ISSN 1517-4506
TEXTOS: Lineu Matos Silveira JORNAL ACTO-FALHO: Luciana
Khair (coordenadora), Fernanda Zacharewicz, Talita Rodrigues 1. Psicanálise – Periódicos. 1. Instituto Sedes Sapientiae.
Departamento Formação em Psicanálise.
Marques REVISÃO PORTUGUÊS: Stella Regina Azevedo Alves dos
CDU 159.964.2 (05)
Anjos DIAGRAMAÇÃO: Wellington Carlos Leardini PROJETO
CAPA: Silvia Massaro PROJETO GRÁFICO: Esper Leon JORNALISTA
Indexação: Index Psi Periódicos (www.bvs-psi.org.br)
RESPONSÁVEL: Marcos Daniel Cézari – MTPS 11.193
Corpo Docente
Armando Colognese Júnior, Cecília Noemi Morelli de Camargo, Durval Mazzei
Nogueira Filho, Ede Oliveira Silva, Eliane Michelini Marraccini, Emir Tomazelli,
Ésio dos Reis Filho, Homero Vetorazzo Filho, José Carlos Garcia, Ligia Valdés
Gomez, Maria Beatriz Romano de Godoy, Maria Cristina Perdomo, Maria Helena
Saleme, Maria Luiza Scrosoppi Persicano, Maria Teresa Scandell Rocco, Nora
Susmanscky de Miguelez, Oscar Miguelez, Suzana Alves Viana, Vera Luíza
Horta Warchavchik.
Objetivos
Curso de especialização, que tem como objetivo a formação de psicanalis-
tas. Busca transmitir a Psicanálise em sua especificidade, com base nos três
elementos essenciais da formação: análise pessoal, supervisão e estudo crí-
tico da teoria psicanalítica a partir dos aportes das escolas francesa e inglesa.
Visa desenvolver a escuta transferencial, considerando o sujeito em sua sin-
gularidade. Trabalha a clínica psicanalítica, desde a descrição clássica feita
por Freud até as formas de sofrimento observadas na contemporaneidade.
Destinado a
Psicólogos, médicos e profissionais com formação universitária, com expe-
riência pessoal em análise individual e com percurso na teoria psicanalítica.
Conteúdo programático
1. Seminários teóricos: Formações do inconsciente, O inconsciente, Pulsões,
Narcisismo, As identificações, Neurose obsessiva e histeria, O Complexo de
Édipo em Freud, Angústia, Superego e Édipo Kleinianos, Teoria das Posi-
ções e Inveja em M. Klein, Perversão e Psicose em Freud e em M. Klein;
2. Seminários clínicos;
3. Supervisão individual (no 4º ano);
4. Monografia de conclusão de curso: com orientação individual, a ser realizada
após a finalização dos seminários teóricos e clínicos;
Duração
O curso regular tem duração de quatro anos.
Horário/concentração
Quartas-feiras, com média de seis horas/aula semanais e mais uma hora e
meia de atividades.
Seleção
Duas entrevistas individuais. Apresentação de curriculum vitae (contendo foto)
em duas cópias e um breve texto, no qual justifique sua a busca por esta for-
mação (um para cada entrevistador).
Corpo docente
Antonio Geraldo de Abreu Filho, Berenice Neri Blanes, Celina Giacomelli, Ma-
ria Salete Abrão Nunes da Silva, Maria Tereza Viscarri Montserrat, Patrícia
Leirner Argelazi.
Objetivos
O curso propõe trabalhar os conceitos que fundamentam a Psicaná-
lise e que servem de alicerce à sua prática. Pretende, com isso, fornecer
Destinado a
Àqueles que se interessam pela Psicanálise e que pretendam uma iniciação
ao seu estudo: médicos, psicólogos e profissionais com formação universitá-
ria em geral.
Conteúdo programático
1. Especificidade da Psicanálise: Psiquismo e corpo, Terapias medicamentosas,
Psicoterapias e Psicanálise;
2. A Divisão do Sujeito: Dois conceitos fundamentais: Inconsciente e Pulsão,
Aparelho psíquico: consciente, pré-consciente e inconsciente, o ponto de
vista tópico, O Recalque: Desejo, conflito e defesa. Pontos de vista dinâmico
e econômico, Discussão clínica;
3. Formações do Inconsciente: Atos falhos, sonhos e sintomas, Discussão clínica;
4. Ponto de vista estrutural: Complexo de Édipo / Identificações, Segunda Teo-
ria Tópica;
5. Neurose, Psicose e Perversão: Neurose, Psicose, Perversão, Uma introdução à
psicopatologia psicanalítica, Discussão de casos: um estudo comparativo,
6. Questões da Clínica: A situação analítica, Transferência e contratransferên-
cia, Resistência, A interpretação;
7. O Analista: Diferenças entre formação e informação.
8. O tripé da formação analítica: Análise do analista, supervisão e estudo da
teoria.
Duração
um ano.
Mais informações:
Secretaria do Instituto Sedes Sapientiae
Rua Ministro Godói, 1484
05015-900 - Perdizes, São Paulo/SP
(11) 3866 2730
www.sedes.org.br / sedes@sedes.org.br
Boa Leitura!
Comissão Editorial
Amor de transferência
Transference love
OSCAR MIGUELEZ 41
LEITURA
Sem memória e sem desejo:
o valor da reconstrução em análise
uma breve reflexão sobre questões técnicas
ARMANDO COLOGNESE JÚNIOR 189
ENTREVISTA
Entrevistado: Ede de Oliveira Silva
MARINA FIBE DE CICCO E TALITA NACIF 199
CITAÇÕES
Sobre formação 203
Psicanalista, Professora
A interpretação é um dos instrumentos da análise. Mas o analista não só in- do Departamento de
Formação em Psicanálise do
terpreta: também assinala, pergunta, comunica construções, fica em silêncio. Instituto Sedes Sapientiae,
O termo “interpretação” aparece em Freud no terreno da teorização Doutora em Psicologia
dos sonhos. Clínica pela PUC- SP,
autora de “Complexo
Trata-se de, a partir do conteúdo manifesto, descobrir o conteúdo la- de Édipo hoje”, Casa do
tente, ou seja, fazer aparecer o sentido do sonho, o conflito entre o desejo in- Psicólogo, 2007; “Otávio:
novas psicopatologias no
consciente que o anima e as defesas contra ele.
divã”, Trivium-ed. 1, 2009
Mais tarde, por extensão, o termo “interpretação” passa a designar as e diferentes artigos em
intervenções do analista que revelam o significado oculto, não só dos sonhos, revistas especializadas.
Co-autora de “Trauma,
mas também das outras produções do inconsciente, a partir das associações memória e transmissão”,
do paciente. Trata-se especialmente dos sintomas, mas também dos lapsos, Primavera Editorial, 2011.
Mas, será possível dizer o que seria uma “boa” interpretação? Acredito
que não, mas podemos fazer algumas reflexões a respeito daquilo que se apro-
xima à essa espécie de “interpretação ideal”.
Com certeza, não é uma exaustiva explicação, sobre o material do pa-
ciente, transferencial ou não.
Também não é um recurso a um fragmento de teoria, mesmo que per-
tinente ao material: aqui se trataria de uma interpretação selvagem.
Também não é o uso do jargão analítico: Por que “agressão” e não
“raiva”? Por que “excluído” e não “de fora”? Por que não retomar, se possível,
as próprias expressões do paciente? “Encanei”, “de bode”, “frescura”, mágoa”,
“birra”, “peripaque”, são palavras ricas para retomar.
Smirnoff (1995) disse que “a interpretação, liberada de qualquer acade-
micismo de escola, (...) depende da capacidade criadora do analista” (p. 68). Eu
não acredito que seja possível se libertar de todo academicismo, mas coincido
com ele em que a criatividade do analista está presente numa “boa” interpre-
tação. Não penso, como Beller (1995) que se trate do “que pertence ao domí-
nio da inspiração poética” (p. 119). Também não coincido com Le Guen (1995),
quando diz que “interpretar não é traduzir de uma língua a outra, e sim, ser o
instrumentista que interpreta uma obra musical” (p. 130). Música, poesia, escul-
tura, são boas metáforas, mas não penso que a única criatividade é a do artista.
Interpretar é criar sentido, é trazer à luz algo novo, mesmo que já esteja
implícito na fala do paciente. Penso que provavelmente, a “boa” interpretação
é breve, é simples, é criativa.
The interpretation
REFERÊNCIAS
BELLER, lsi. Que se trate de escanção lógica. In: MAJOR, R. Como a interpreta-
ção vem ao psicanalista. São Paulo: Escuta, 1995.
ETCHEGOYEN, R.H. Fundamentos da técnica psicanalítica. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1987.
FREUD, S. Obras Psicológicas Completas. Buenos Aires: Amorrortu, 1982.
KAUFMANN, P. Dicionário enciclopédico de psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1996.
LAPLANCHE, J. La prioridad del otro en psicoanálisis. Buenos Aires: Amor-
rortu, 1996.
LAPLANCHE, J. & PONTALIS J.B. Vocabulário da psicanálise. São Paulo: Mar-
tins Fontes, 1992.
LE GUEN, C. Em toda lógica... In: MAJOR, R. Como a interpretação vem ao psi-
canalista. São Paulo: Escuta, 1995.
MANNONI, O. Isso não impede de existir. Campinas: Papirus, 1991.
______ . La outra escena. Buenos Aires: Amorrortu, 1973.
ROSOLATO, G. Ensayos sobre lo simbólico. Barcelona: Anagrama, 1974.
ROUDINESCO, E. & PLON, M. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1998.
SMIRNOFF, V. O modo interpretativo. In: MAJOR, R. Como a interpretação vem
ao psicanalista. São Paulo: Escuta, 1995.
STEIN, C. O psicanalista e seu ofício. São Paulo: Escuta, 1988.
VIDERMAN, S. A construção do espaço analítico. São Paulo: Escuta, 1990.
Comentário
Os artigos que compõem o primeiro número do Boletim foram escritos em
circunstâncias bastante particulares da história de nosso Departamento. Tra-
tava-se de dar o empurrão inicial à revista e de ampliar o diálogo intra e extra
instituição. Dividimos entre todos os temas que achamos pertinentes, mesmo
que não fossem necessariamente aqueles que cada um estava pesquisando ou
que orientava as próprias questões clínicas e teóricas.
Relendo hoje esse artigo considero que ele é bastante informativo, ge-
ral e objetivo, com poucas colocações pessoais. Dele, sublinharia hoje algumas
direções aí já esboçadas.
A primeira delas: penso que uma interpretação é efeito da abertura da
escuta de analista e analisando aos múltiplos efeitos de sentido da trama das
falas no percurso da sessão. Associação livre e atenção flutuante costumam
ser as chaves que abrem a esses efeitos, quase sempre inesperados. É por isso
que o analista interpreta, mas também o paciente interpreta. Frases, palavras
avulsas, um riso, um suspiro, um trocadilho.
A segunda direção que desejo desenvolver um pouco mais está li-
gada ao enfadonho recurso às classificações e metodologias estratégicas
que percorrem muitos dos textos sobre teoria da técnica. Penso que elas
perturbam a criatividade do par analítico com um ranço super- egoico
que abafa o novo, o singular, o nunca pensado antes. Interpretação trans-
ferencial ou não? Completa ou incompleta? Exata ou inexata? Dentro ou
fora do timing? Da resistência ou do recalcado? Ninguém sabe enquanto a
sessão está se desenrolando e os sentidos abrem e fecham, ora no analista,
ora no analisando. E duvido que alguém saiba depois, na autopsia do “ca-
dáver esquisito” que alguma vez foi uma sessão. Algo bem diferente acon-
tece quando a gente lê ou escuta a alguém contando um historial ou um
fragmento vivo de sessão, aberto ainda a efeitos analíticos sobre quem faz
a leitura ou houve o relato. O Homem dos Ratos pulando do divã do Freud.
Um colega falando em polifonia. Algo interpela nesse “diálogo” em que
ninguém termina de dizer.
O PROBLEMA CONCEITUAL:
Dentre todos os conceitos psicanalíticos problemáticos e discutíveis, talvez o
que gere mais controvérsias, desencontros e dificuldades seja o de acting out.
Seja por se tratar de um daqueles conceitos que vão se ampliando sem parâ-
metros claros, ou pela forma pouco precisa e mesmo dúbia com que o con-
ceito foi inicialmente introduzido por Freud, o fato patente é que, hoje em dia, Psiquiatra e Psicanalista
Professor do Departamento
quando um analista fala em acting out, geralmente outro analista não sabe
Formação em Psicanálise,
exatamente a que fenômeno o primeiro está se referindo. do Instituto Sedes
O termo acting out, usado pelos ingleses para traduzir o agieren do ale- Sapientiae. Professor
do Instituto Paulista de
mão de Freud, é a substantivação do verbo to act out, sobre o qual podemos fa- Psicoterapia da infância
zer algumas considerações: relaciona-se com a ideia de representação teatral e Adolescência (IPPIA).
e o advérbio out introduz o sentido de explicitar algo que está dentro, levando-
-o rapidamente para fora e a um fim. No francês, a expressão mais frequen-
temente utilizada para traduzi-lo é passage a l’acte, que introduz uma outra
dificuldade, por ser já classicamente usada em psiquiatria para atos impulsivos
violentos, como uma agressão sexual, um suicídio, um assassinato, etc. Outra
possibilidade no francês seria mise en acte. Em português, usa-se o termo in-
glês ou a forma traduzida “atuação”. Alguns psicanalistas passaram a usar de
forma incorreta acting in (atuar dentro da sessão) contrapondo-se a acting out
(atuar fora da sessão): tal distinção não tem sentido em inglês.
No Vocabulário de psicanálise (LAPLANCHE & PONTALIS, 1979), encon-
tramos a seguinte definição de acting out:
A COMPULSÃO À REPETIÇÃO:
Desde o início, a ideia de repetição está presente nas elaborações psi-
canalíticas feitas por Freud. O próprio sintoma histérico é entendido como
uma forma de reprodução de conflitos do passado. “As histéricas sofrem,
principalmente, de reminiscências”, disseram Freud e Breuer na Comunica-
ção preliminar (FREUD, 1893), já em 1893. Desde então, essa ideia de repetição
(...) quando se juntam perturbações dos primeiros meses de vida que incre-
mentam as pulsões orais, diminui a tolerância à frustração e aumenta o nar-
cisismo, com os conflitos do segundo ano (relativos à fala, à deambulação e ao
controle esfincteriano) estão dadas as condições para que apareça a tendência
ao acting out. O desenvolvimento da linguagem fica inibido e, paralelamente,
aumenta a tendência aloplástica para a descarga.(Psychoanalitic Quartely).
“Bion sustenta que o bebê nasce com uma pré-concepção do seio e quando se
encontra com o próprio seio (realização) se constitui uma concepção do seio. O
que determina o primeiro pensamento para Bion é a ausência do seio. Frente
a essa situação decisiva, o bebê tem duas alternativas: tolerar ou evitar a frus-
tração (ausência). Se o bebê evita a frustração, transforma o seio ausente em
seio mau presente e o expulsa como um elemento beta. Entretanto, quando é
capaz de refrear a ação e tolerar a frustração, reconhecendo o seio como au-
sente, construiu seu primeiro pensamento. O ato pelo qual, em vez de pensar
o seio bom como ausente, o expulsa como seio mau presente” é, para Etche-
goyen, o protótipo do acting out. (ETCHEGOYEN, 1987, p. 428)
ABSTRACT: This article tells about the problems and contradictions in the accep-
tion of “acting out” at freudian metapsychology, articulating it with the concep-
tion of “transfer” and “compulsion to repeat”. It has a brief resume on the other
authors’ point of view about this subject and offers the “acting out” as a possi-
ble way to the unconscious, that can be either a help or sometimes after to the
psychoanalytic work.
REFERÊNCIAS
ETCHEGOYEN, R. H. Fundamentos da técnica psicanalítica. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1987, 428 p.
FLEM, L. A vida cotidiana de Freud e seus pacientes. Porto Alegre: L&PM, 1988,
p. 45.
FREUD, S. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas de Sigmund Freud.
Rio de Janeiro: Imago, 1969.
(1893). Comunicação preliminar, v.2.
(1905 [1901]). Fragmentos da análise de um caso de histeria, v.7.
(1909). Análise de uma fobia em um menino de cinco anos, v.10.
(1914). Recordar, repetir e elaborar, v.12.
(1920). Além do princípio do prazer, v.28.
(1940 [1938]). Esboço de psicanálise, v.23.
LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J.B.: Vocabulário de psicanálise. 2a ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1979, p. 27.
M’UZAN, M. De l’art à la mort. Paris: Gallimard, 1977 (Tradução livre).
ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1998, p. 5-6.
Até o presente nos temos mantido, na nossa técnica, fiéis ao princípio de que
aos pacientes deve-se lhes negar toda gratificação erótica. Você sabe também,
que aí onde não existe a possibilidade de gratificações mais intensas, estas
são facilmente substituídas por carícias menos íntimas, tal como acontece
em determinado momento, no curso de uma aventura amorosa ou como no
caso do cenário teatral, etc.
Agora bem, imagine você que resultado pode ter comunicar publicamente
sua técnica. Não há revolucionário que, no seu momento, não seja deslo-
cado a sua vez por um outro mais radical que ele. Seriam muitos os franco-
-atiradores em matéria de técnica que diriam a si mesmos: Por que vamos
deter-nos no beijo? Certamente não poderá conseguir-se mais se recor-
rendo ao manuseio, que depois de tudo não vai gerar criança alguma. Mais
tarde chegaram outros, mais audaciosos, que estenderam essas liberdades
ao olhar e mostrar... e pronto veremos a aceitação, na técnica psicanalí-
tica de todas as formas de jogos vigentes no mundo da semi-virgindade
e as carícias, isso tudo conduziria a um incremento enorme do interesse
pela psicanálise tanto por parte dos analistas como dos pacientes. (JO-
NES, 1970 p 200)
Transference love
ABSTRACT: Taking Freud’s text Transference Love as a starting point, this paper
discusses issues related to the handling of the erotic transference in the context
of the constant demands in the psychoanalysis renovation and updating after
100 years of its existence.
REFERÊNCIAS
BLEICHMAR, S. En los orígenes del sujeto. Buenos Aires: Amorrortu, 1986.
______ . A fundação do inconsciente. Porto Alegre: Artes médicas, 1994.
FERENCZI, S. Dificuldades técnicas de uma análise de histeria. In: Obras Com-
pletas, vol III. São Paulo: Martins Fontes, l993.
FREUD, S. Obras Completas de Sigmund Freud. Buenos Aires: Amorrortu, 1976.
(1915) Puntualizaciones sobre el amor de transferencia, v. 12, p 163, 166 e 171.
GINSBURG, C. Chaves do mistério: Morelli, Freud, e Sherlock Holmes. In: ECO,
Umberto. O signo de três. São Paulo: Perspectiva, 1991.
JONES, E. Vida y obra de Sigmud Freud. vol.III. Barcelona: Anagrama, l970, p. 200.
LAGACHE, D. La teoría de la transferencia. Buenos Aires: Nueva Visión, l980.
MANNONI, O. Ça n’empêche pas d’existir. Paris: Éditions du Seuil, 1982.
Oscar Miguelez
Capote Valente 439, cj. 113
05409-001, São Paulo, SP
(11) 3081 1829
oscarmig@uol.com.br
e, por outro lado, assumido pela medicina, pela psiquiatria e pelas terapias
corporais. Isso na prática clínica psicanalítica traz consequências imediatas;
primeiro denuncia a surdez em relação ao corpo entre nós analistas e conse-
quentemente grande parte do mal-estar na atualidade ficaria fora da modali-
dade psicanalítica de escuta.
Outra consequência disto, no que diz respeito à constituição do campo
analítico, é que com efeito conferir ao corpo e ao afeto um lugar crucial na lei-
tura da subjetividade, é também considerar que a prática analítica não é ape-
nas uma escuta do psiquismo, mas uma modalidade de ação - o que Freud já
tinha denominado, no início de sua obra, de ato psicanalítico.
A cura psicanalítica implica, portanto, numa teoria de ação (não de
atuação), com a necessidade de se retomar e desenvolver uma articulação me-
tapsicológica entre a ação analítica e o estatuto corpo-sujeito em psicanálise.
Na verdade esta proposta resume-se no que, a nosso ver, no trabalho
clínico figuraria a constituição de um campo analítico.
O analista no encontro com o analisando ocupa um lugar onde sua in-
tuição analítica, fruto de sua apropriação da teoria psicanalítica e de sua própria
experiência de análise pessoal e de intimidade com sua turbulência pulsio-
nal, torna-o mais suscetível de ser penetrado e contaminado pela fala do ana-
lisando, podendo assim experimentá-la como “palavra encarnada”. A intuição
analítica, utilizada a serviço de um saber pré-estabelecido sobre o analisando,
pode repelir defensivamente qualquer penetração pela fala deste (dita ou não
dita) e com isto cooperar para uma homogeneidade e burocratização do campo.
Propomos nos atermos então a alguns desenvolvimentos teóricos, que
pensamos terem contribuído na direção acima proposta, proporcionando im-
portantes implicações clínicas na constituição do campo analítico.
Retomamos neste sentido a origem da sexualidade humana como ad-
vinda do encontro com um Outro. Do apoio nos cuidados autoconservativos se
constitui a sexualidade humana e a erotização de um corpo, que sempre será
um corpo erógeno pulsional e jamais um corpo biológico. Sobre a existência
desse último com suas funções não discordamos, mas que toda sua represen-
tação seja sempre pulsional ou erógena parece inevitável, pois a representação
é a tradução ou o registro psíquico da pulsão.
1. Laplanche postula a origem do sexual e do inconsciente no encontro com o outro humano sexu-
alizado, que ao cuidar também sexualiza. Através do modelo da Tina propõe que, no encontro ana-
lítico, a reprodução da situação originária se dá em cada sessão, onde um campo sexual é gerado,
a partir de sua derivação tangencial no adaptativo presente no setting e na fala manifesta do ana-
lisando. O campo sexual, reprodução desse originário com seus significantes enigmáticos e cons-
tituído novamente a cada encontro, procura continuamente traduções através das transferências.
ABSTRACT: The author discusses the constitution of the analytical field through the
metapsychology of the anlytical practice. He deals with issues currently faced by
Psychoanalysis as a point of reflection. The fact of thinking of that in a metap-
sychological way can allow the analytical field to be broadened by listening to the
suffering of the contemporary subjectivities more effective
REFERÊNCIAS
AULAGNIER, P. Um intérprete em busca de sentido. São Paulo: Escuta, 1990.
BION, W. R. Estudos psicanalíticos revisados. Rio de Janeiro: Imago, 1988.
BIRMAN, J. Mal-estar na atualidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.
BLEICHMAR, S. Clínica psicanalítica e neogénesis. Buenos Aires: Amorrorcu,
2000.
FÉDIDA, P. A clínica psicanalítica. São Paulo: Escuta, 1988.
______ . Nome, figura e memória. São Paulo: Escuta, 1992.
FREUD, S. Obras Completas de Sigmund Freud. Buenos Aires: Amorrortu, 1969.
(1912) Recomendações aos médicos que exercem psicanálise, v.12.
LAPLANCHE, J. (1987) A Tina. A transcedênda da transferência. São Paulo: Mar-
tins Fontes, 1993.
WINNICOTT, D. W (1960) O ambiente e os processos de maturação. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1990.
RESUMO: Este trabalho lida com as relações que podemos pensar existir entre
a contratransferência, o corpo do analista e as manifestações do feminino.
Trata-se de uma primeira incursão na hipótese de que o gênero do corpo do
analista provoca ressonâncias no trabalho analítico e contribui para a estru-
turação do seu discurso.
FRAGMENTO 1
O 1° fragmento é apenas uma sensação, uma vivência corporal de para-
lisação que vai tomando conta de mim, na medida em que a sessão transcorre,
sem que eu possa colocar em palavras algo que fizesse sentido.
Também não me é possível recordar as falas desta sessão, mesmo por-
que a sensação corporal é a fala emudecida na paralisia da analista.
Termino a sessão exausta pela sensação de mente vazia.
1. Tais fragmentos estão longe de traduzir todos os movimentos que ocorrem no encontro analista-
-paciente, aqui trago um material condensado do caminho que segui em minhas associações.
A hipótese que fiz naquele momento foi a seguinte: para minha pa-
ciente, o compreender[2] garante o desamparo; se não há compreensão, há co-
lisão, como demonstra a sessão.
Num segundo momento, também, pensei: a babá de papel, que é a au-
sência da pessoa e da experiência emocional, não colide.
Seria este seu objetivo: sendo humana, pretendia viver apagando os
vestígios de sê-lo? Ocupava na relação transferencial comigo o lugar babá,
enquanto eu ocupava o lugar que um dia fora o dela: o de quem experi-
menta a irritação por se ver frente a alguém indiferente que não responde
emocionalmente? Era eu, ao mesmo tempo a criança e a babá?
É possível identificar seu esforço cognitivo a um domínio fálico da si-
tuação? A falicidade estando a serviço da necessidade de controlar um perigo,
que colocava em risco toda uma organização que tinha estruturado.
Digo então que ela teve uma experiência real comigo, através da coli-
são; ali eu estivera presente (como pessoa e como analista), e por isto ela fora
ao encontro de uma experiência profundamente perturbadora, porque, ao
experimentar a colisão, sentira muito ódio de mim. Entretanto, esse ódio foi
logo costurado para dentro dela mesma, tão profundamente, que ela perdera
o contato real com ele e, consequentemente, com ela e comigo.
Esta interpretação se fundamentou num sonho que tivera. No sonho,
vê-se costurando uma espécie de túnica (mortalha) sobre corpos, com os quais
uma das associações que tem é com as múmias que visitara, durante uma via-
gem. Mais especificamente, ela costurava para dentro dos corpos uma bomba
à altura dos pés e outra bomba à altura do peito. Seu pai estava ao seu lado,
mas de forma indistinta.
O que lhe chama a atenção é a bomba que, colocada no peito e tam-
bém na altura dos pés, funcionando como um peso, afundaria este corpo, caso
fosse lançado ao mar, ou ao rio; o que procurava descrever era a ideia de que
este corpo seria “enterrado” sob a água.
Através destes fragmentos, gostaria de falar de como teorizo a téc-
nica que se desenvolve na sessão. Mas não estou falando de técnica no
Tomo como pronto que uma análise se processa no solo das transferên-
cias, ou seja, o pathei-mathos de uma análise é o tempo dos desdobramentos e
da elaboração das transferências: a do analisando e a do analista.
Ferro, refletindo sobre os modelos teóricos que temos para a aná-
lise, coloca o pensamento de Bion a respeito de como compreende a fun-
ção do analista.
Tudo isto é sentido pelo bebê de maneiras por demais primitivas para que a
linguagem possa expressá-las. Quando estas emoções e fantasias pré-verbais
são revividas na situação transferencial, aparecem como “lembranças em
3. Atualidade: este conceito faz referência ao “aqui e agora” da sessão, mas, do meu ponto de vista,
envolve também uma referência à pessoa do analista, em especial ao seu corpo, lugar da recep-
ção sensorial no contato com o outro e, ao mesmo tempo, aquilo que será a matéria-prima do seu
pensamento analítico. A babá de papel é o corte de toda sensorialidade no contato com o outro.
mais primitiva, a da relação com a mãe; falo da relação mais primitiva com a
mãe e falo também de uma mãe mais primitiva.
Uma das formas é a demonstrada por uma paciente encantadora. Desde
o início senti grande atração por fazer sua análise, havia um efeito mágico na
sessão. Acolhi-a com entusiasmo e observava, em muitas sessões, que havia
uma sensação sutil de que eu daria conta dela, onde as outras figuras repre-
sentativas de sua vida haviam falhado.
Esta paciente sentia uma angústia que frequentemente estava à beira
do pânico. Isto fazia, fui percebendo, com que estivesse permanentemente
junto a ela para acalmá-la deste pânico, mas nem sempre conseguia fazê-lo
através de interpretações. Minha fala, muitas vezes, precisava conter um ca-
ráter assegurador, onde dizia a ela que iria protegê-la.
Quando não estava em pânico, constituía comigo uma dupla invencí-
vel frente ao mundo lá fora, o mundo dos homens e das mulheres.
Ia do terror à loucura, à certeza da invencibilidade.
Mergulhar nas raízes da feminilidade suscita angústias relacionadas à
estranheza da interioridade e implicam na renúncia ao domínio pelo visual,
projetivo e mental.
O homoerotismo é fálico. Faz alusão à fase do amor dual, onde ambas,
mãe e filha, entregam-se ao prazer de se suporem completas e onde o pai se
faz representar pela exclusão.
Um outro tipo de defesa aparece, através de imagens que lembram a
tumba, onde estão guardadas lembranças que foram varridas do acesso, e que
são fortemente trancadas pelo silêncio e imobilidade, sinais de uma compe-
tição velada.
A paciente que me leva a isto fazia silêncio e dormia frequentemente
nas sessões; fui percebendo que isto acontecia justamente nos momentos em
que, como analista, me sentia mais criativa.
Um dia me contava sobre a concepção do seu filho; usou a expressão
que arrancara este filho do marido, porque este não desejava ter filhos. Naquela
sessão já havia emergido uma referência direta à minha pessoa, através da qual
dizia que uma colega de trabalho não podia conceber a ideia de que ela pudesse
ter boas “tiradas” numa conversa, atribuindo isto ao que ela aprendia comigo.
Em síntese, a designação de uma coisa inacessível como objeto de uma cobiça acusa
a existência no sujeito de um desejo refratado sobre uma barreira intransponível.
... ...
A mulher insiste em ignorar em si própria a instância responsável pelo recal-
camento, esse perseguidor de rosto anônimo; desmascará-lo exigiria o afron-
tamento das regiões obscuras em que se checam ódio e agressividade contra
o Objeto que não poderíamos deixar de amar. (ABRAHAM e TOROK, 1995)
Mas, o que acontece comigo? Analista, é verdade, mas nem por isto menos
mulher. E, exatamente por isto: mãe também pela minha própria substân-
cia. Mais que outros realmente? Meu destino de mulher me predispõe para
ABSTRACT: This work is about the relations that we can think between counter-
-transference, the body of the analyst and the feminine manifestations. It deals
about a first incursion into a hypothesis (or into a question) that how the gen-
der of the analyst’s body provoques resonance in the analytical work and builds
up the structure of his speech.
REFERÊNCIAS
ABRAHAN, N. e TOROK, M. A casca e o núcleo, São Paulo: Escuta, 1995.
ANZIEU, A. A mulher sem qualidade: Estudo psicanalítico da feminilidade. São
Paulo: Casa do Psicólogo, 1991.
BALINT, M. A falha básica - Aspectos terapêuticos da regressão. Porto Alegre: Ar-
tes Médicas, 1993.
BREEN,D. O enigma dos sexos - Perspectivas psicanalíticas contemporâneas da fe-
minilidade e da masculinidade. São Paulo: Imago, 1998.
CHASSEGUET-SMIRGUEL (1988). As duas árvores do jardim. Porto Alegre: Ar-
tes Médicas, 1988.
FÉDIDA, P. Introdução a uma metapsicologia da contratransfirência. In: Rev.
Bras. de Psicanal., 20(4): 613-29, 1986.
Comentário
Ao me ser solicitado uma espécie de olhar a posteriori sobre o artigo acima ci-
tado, lembrei-me de imediato de Fédida quando nos traz o aoristo como con-
dição do tempo na situação analítica.
O aoristo é o tempo de Epos; nele o acontecimento vem do passado para
o presente, revivido na transferência. Não há passado, na verdade, o acontecido
impregna a transferência dessa qualidade de passado-presente trazendo a cena
viva, reconstituída na análise. “Não se estaria muito longe de pensar então que
o aoristo que qualifica o acontecimento é engendrado pela escuta da fala pronun-
ciada.” (Grifo meu.) (FÉDIDA, 1996, p.81)
Talvez a lembrança tenha vindo, porque a sabia impregnada pelas ques-
tões que desde lá continuaram a ser meu interesse de trabalho com a psicaná-
lise: a contratransferência e o feminino.
Estando impregnada pela transferência com o tema que tem sido ob-
jeto de minhas procuras[1] em psicanálise, achei que valia a pena tomar esse
caminho.
Parto de uma afirmação enigmática com a qual me vi às voltas quando
construía minha tese sobre contratransferência.
A contratransferência é o feminino na análise.
Esta frase retornou nesse momento e por isto talvez seja o momento
de enfrentá-la.
Fédida, no artigo O epos - o sítio, escreve que “as transferências são es-
tas potências hipnóticas de apelo das imagens nas quais aguardam em silên-
cio os nomes dos mortos perdidos. Estas transferências foram “outrora” ações
guerreiras - hostis - hoje estranhamente pacificadas”. (FÉDIDA, 1996, p.75)
Potências hipnóticas como o são todas as transferências em estado
bruto, antes de poderem revelar a que vieram. Os nomes dos mortos perdidos, ao
serem pronunciados, quebram o encantamento, desfazendo-se a relação hip-
nótica. Quando os mortos não podem ser contados (nomeados), a ação guer-
reira não respeitou o adversário, houve um assassinato em massa. Os mortos
O mundo de baixo é o reino dos mortos, cuja existência liga-se aos nomes que
eles têm, secretos como essas armas. Reencontrar a guerra é a obra daquele
que, no seu sonho da noite, deverá nomear os mortos... O retorno nascente do
sonho é, para sonhador, sua última chance de conhecer a guerra e de restituir
à linguagem a coragem de seus mortos.
A efetividade da lei racional da comunidade humana - aquela que se exprime
em nome da virilidade e do governo de um logos - age de encontro ao espírito
da comunidade, cuja potência ctônica é o das sombras do mundo de baixo. ...A
guerra torna-se objeto retórico de um discurso no momento em que se identi-
fica aos valores da “virilidade” e a linguagem é novamente perdida.
O que poderia salvar a guerra e a linguagem é o riso da feminilidade - esta
“eterna ironia”, segundo Hegel - que torna a feminilidade inafetável pela morte.
Com isso ela atinge o universal da comunidade racional, lembrando pelo corpo
do seu sexo que a guerra é uma exigência sem concessão nem compromisso,
como deveria ser a morte quando ela se dá a entender. A potência feminina das
sombras do mundo de baixo é temível a ponto da linguagem não se permitir
marcar por elas para dar-lhes nome. Mas a linguagem não domesticará a po-
tência sexual das mulheres. (Grifos meus.) (Ibidem, p.77)
E Ulisses encontra a figura da Mãe em sua descida ao mundo de Hades.
As figuras que o aventureiro enxerga na primeira nekya[3] são, antes de mais
nada, as imagens matriarcais, banidas pela religião da luz: depois da própria
mãe, diante de quem Ulisses se força a assumir a atitude patriarcal de uma con-
veniente dureza, vem as heroínas antiquíssimas. Contudo a imagem da mãe
é impotente, cega e muda, a imagem da alucinação como a própria narrativa
épica nos momentos em que abandona a linguagem à imagem. (ADORNO e
HORKHEIMER, 1985, p.77)
4. “É preciso do sangue sacrificado como penhor de uma lembrança viva para dar fala à imagem, para
que esta, ainda que em vão e efemeramente, se arranque à mudez mítica.” (ADORNO e HORKHEI-
MER, 1985, p.77)
morta. Ouso pensar que talvez fosse além. Palavra vampirizadora, aquela que
levou os pensamentos vivos.)
Segue-se um longo silêncio, onde tal como Ulisses ao ver a imagem da
mãe - impotente, cega e muda - preciso resistir a me tomar como uma analista cruel.
A sessão que se segue é, ao contrário, extremamente rica: sou recom-
pensada, volto ao mundo dos vivos pela sensação de compreender e pelas asso-
ciações que me vêm, através do sonho.
Múmia é palavra do gênero feminino, mas é ambígua, pode-se referir
a um homem como a uma mulher, dispensa o sexo porque seu sentido está
em ser invólucro.
Mas, justamente por isto, creio poder interpretar a múmia do sonho
como referência a um processo de mumificação da mulher. Ela é representa-
ção de uma interioridade sem vida (imagificação da mulher).
Sugiro que minha analisanda, na travessia pela fase da feminilidade
primária, tenha negado o desejo de intrusão e apropriação do interior do ven-
tre materno.
Na fase da feminilidade primária ou feminino primário trava-se uma luta
da menina pelos objetos desejados do interior do corpo materno. Nesse pro-
cesso de roubo, ataque, perseguição e reparação, a menina começa a construir
sua feminilidade. (KLEIN, 1996 e GUIGNARD, 2002)
Em minha analisanda, a violência do ódio faria sangue na relação. Mas
o sangue foi substituído por um processo pálido, a identificação. Mas isto a tor-
nava cópia e não original.
O ódio aparece em mim, sob a forma da irritação, talvez a irritação por
vê-la negar a minha potência como analista, que não a preparara para enfren-
tar a entrevista.
Por outro lado, esta reação contratransferencial atuou como um sinal
da sutileza do mecanismo que enterra a memória épica no corpo da múmia,
quando costura uma bomba no interior da mesma. Ao implodir, não seria ou-
vida por estar enterrada sob as águas.
Mas se fez ouvir na contratransferência. E sua travessia para criar um
útero propício à gestação da palavra, que aqui veio através do sonho, penso que
equivale à construção da feminilidade.
REFERÊNCIAS
ADORNO, T.W.; HORKHEIMER, M. Excurso I: Ulisses ou Mito e Esclarecimento.
In: Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985, p.53- 80.
FÉDIDA, P. O epos – o sítio. In: O sítio do estrangeiro: A situação analítica. São
Paulo: Escuta, 1996, p.75 – 88.
GUIGNARD, F. Tornar-se homem. O papel das identificações maternas e fe-
mininas no vir a ser do masculino no menino. In: Cartas ao objeto.
Rio de Janeiro: Imago, 2002, p.133-151.
KLEIN, M. Estágios iniciais do conflito edipiano. In: Amor, culpa e reparação. Rio
de Janeiro: Imago, 1996, p.214 - 227.
pelo autor que não tinham só relação com as defesas contra o passado esque-
cido. O atual da relação começou a ser percebido mesmo sem adquirir, claro, a
consideração que teria mais tarde. Isto fica evidente nesta colocação:
Qual o paciente que não tem queixas contra o analista ou contra a aná-
lise, mesmo que sejam veladas! Neste momento, lógico, ainda não se trata de
um processo analítico como se veria mais tarde, mas o tipo de relação esta-
belecida já dava margem ao aparecimento de tais queixas. Queixas que nada
tinham a ver com o passado, mas com o real e o atual da relação terapêutica.
O analista era o objeto e o alvo deste descontentamento. Hoje sabemos que
este tipo de queixa embute um tipo de demanda que inevitavelmente leva à
frustração. A demanda de amor, cuidado, carinho, sexual, etc., permeia todo
o processo e por mais explicações racionais que se pudessem dar, principal-
mente em pacientes histéricos, não apaziguavam tais queixumes porque neles
estas situações “podiam atingir dimensões surpreendentes”. Era um impasse
causado pelo próprio processo, que para Freud se transformou em desafio. Na
Se a paciente tiver medo de ficar muito ligada ao médico, de perder a sua in-
dependência em relação a ele, e mesmo de tornar-se sexualmente depen-
dente dele. Este é o caso mais importante, porque suas determinantes são menos
individuais. A causa deste obstáculo reside na solicitude especial inerente ao
tratamento.A paciente tem então novo motivo para a resistência, que se ma-
nifesta não somente em relação a alguma reminiscência específica, mas em
toda tentativa de tratamento. (lbid, p. 360) (grifo nosso).
De início fiquei muito aborrecido com este aumento de meu trabalho, até
que vim aperceber que todo processo obedecia a uma lei: e então também notei que
a transferência dessa espécie não traria nenhum aumento ao que tinha de fazer.
(Ibid, p. 361) (grifo nosso).
tinha de superar a emoção aflitiva despertada por ter sido capaz de alimentar
tal desejo mesmo por um momento: e parecia não fazer diferença para o êxito
do tratamento se ela fizesse deste repúdio psíquico o tema de seu trabalho na
circunstância histórica, ou na circunstância recente relacionada comigo. (Ibid, p.
361-2) (grifo nosso).
Quem quer que procure fazê-lo deve familiarizar-se com as expectativas le-
vantadas no presente volume e, de acordo com as regras nele estabelecidos,
na psicanálise das neuroses se faz uso mais completo desses dois teoremas -
que quando ideias intencionais conscientes são abandonadas, as ideias inten-
cionais ocultas assumem o controle da corrente de ideias e que as associações
superficiais são apenas substitutas por deslocamentos das associações mais
profundas e suprimidas. Na verdade, estes teoremas transformaram-se em
pilares básicos da técnica psicanalítica. Quando instruo um paciente a aban-
donar a reflexão de qualquer tipo e dizer-me o que lhe vem à cabeça, estou
me apoiando firmemente na presunção de que ele não será capaz de aban-
donar as ideias intencionais inerentes ao tratamento e sinto-me justificado
em inferir que aquelas que parecem ser as coisas mais inocentes e arbitrárias
Com isto Freud afirma, apoiado nestes dois teoremas, que o paciente
fala somente dele, dos seus conflitos interiores, do sintoma gerado pelo pro-
cesso e da sua ligação com o analista, mesmo utilizando associações superfi-
ciais, deslocada e sem importância.
Assim, mesmo que o analista não perceba, ele está entranhado no pas-
sado e no presente do paciente e podemos até ir mais adiante afirmando que
também nas expectativas futuras do próprio paciente. Já de posse de todo este
conhecimento teórico e prático nesta época, o Caso Dora soa como algo desto-
ante. Freud não conseguiu empregar estes conhecimentos derivados do estudo
da relação do par analítico. Por que não o fez? Uma possibilidade é a de que estes
conceitos não estavam bem sedimentados e assim não podiam ser extensivos
a todos os casos. A outra possibilidade é que Freud voltou à condição de arque-
ólogo e trabalhou exclusivamente as lembranças da paciente. Se prestarmos
bem atenção, podemos ver que Freud fez uma verdadeira exegese do passado
histórico de Dora, mas mesmo assim o processo terapêutico não prosseguiu.
Ele dá uma verdadeira aula interpretativa sobre os sintomas, os sonhos e o pas-
sado infantil. Montou ou remontou todo o quebra-cabeça e dentro da impor-
tância dada às reminiscências não haveria motivo para sua interrupção. Freud
trabalhou ad nauseam “todos” os produtos psíquicos de sua paciente, que sur-
giram durante o curto tempo de tratamento. Diríamos que ele trabalhou, deu
sentido a todo o passado histórico da paciente, que surgiu durante o processo.
Confirmou a sua teoria dos sonhos, fez uma verdadeira dissecção da estrutura
histórica e com isto começou a descobrir uma sexualidade infantil diferente do
adulto, através dos sintomas orais de Dora. Mas o que ficou faltando então? A
importância deste caso não foi somente pela investigação minuciosa que Freud
fez da histeria, mas das suas conclusões sobre a interrupção do processo, que
foi publicada somente cinco anos mais tarde. Freud faz uma verdadeira mea
culpa do seu fracasso. Quem ganhou com esta intensa reflexão sobre o fracasso
foi a psicanálise. Neste momento (1905/1969), os conflitos relacionados com o
ABSTRACT: The author works through concepts such as past and present in the
clinical practice. For this, he utilizes Freudian technical and metapsychologi-
cal framework. Where, the past could be related to the libidinal history of the
patient, represented in his psychic and transferred to the analyst (transference),
while the present represented by facts that occur during the therapeutic hour is
directed toward the analyst (reference);and it needs to be symbolized. The past
could be the drive representation while the present could be the drive itself. The
analyst has to sail through both moments of the analytic process, digging sym-
bols (archeologist) and constructing symbols (constructor).
REFERÊNCIAS
BION, W.R. Atenção e interpretação. Rio de Janeiro: Imago, 1973, p. 142.
FREUD, S. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas de Sigmund Freud.
Rio de Janeiro: Imago, 1969.
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(1895). Projeto para uma psicologia científica. In: Publicações pré-psicanalíti-
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(1896). Extratos dos documentos dirigidos à Fliess. In: Publicações pré-psica-
nalíticas e esboços inéditos, v.1.
(1900). A interpretação dos sonhos, vols. 4 e 5.
(1905). Fragmentos da análise de um caso de histeria, v.7.
(1915). Pulsões e seus destinos, v.16.
(1915[1914]). Observações sobre o amor transferencial (Novas recomendações
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REFERÊNCIAS
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BIRMAN, J. Cadernos do mal. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009, 331 p.
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(1893-1895). Estudos sobre a histeria-Caso clínico II - Fräulein Anna O., v.2.
(1893-1895). Estudos sobre a histeria- Caso clínico II - Fräulein Elizabeth Von
R., v.2.
(1895). Projeto para uma psicologia científica, v.1.
(1895). Sobre os critérios para destacar da neurastenia uma síndrome particu-
lar intitulada “Neurose de Angústia”, v. 3.
(1905). Fragmento de um caso de histeria, v.7.
(1905). Sobre psicoterapia, v. 7.
(1912). Dinâmica da transferência, v.12.
(1914). Observação o amor de transferência, v.12.
(1914). Recordar, repetir e elaborar (Novas recomendações sobre técnica), v.12.
(1920) Além do princípio do prazer, v. 18.
KRISTEVA, J. As novas doenças da alma. Rio de Janeiro: Rocco, 1993, 239 p.
1. Palestra apresentada no Departamento Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, Psicanalista, professor
em18 de agosto de 2000. da USP e da PUC-SP.
1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Leituras desconstrutivas
Sendo Melanie Klein, por diversas razões, algumas das quais apontarei em se-
guida, objeto de adesões e ódios intensos, o título da minha palestra pode criar
algum mal entendido. O termo “desconstrução” e seus derivados, introduzidos
na terminologia filosófica por Jacques Derrida, embora de uso cada vez mais
comum, pode, por isso mesmo, gerar interpretações muito variadas e mesmo
totalmente descabidas. Cabe, portanto, de início, afirmar com toda a clareza
possível o que uma leitura desconstrutiva não é. Não é uma forma mais ou me-
nos elaborada de oposição ao texto, uma crítica desqualificadora do texto ou
de seu autor. Como se verá a seguir, é, ao contrário, uma forma extremamente
leal, mas também extremamente livre de entrar em contato com um texto
em todas as suas dimensões. Não é o caso de fazer neste momento uma apre-
sentação completa do que uma leitura desconstrutiva vem a ser, o que já fiz
em diversos outros lugares (FIGUEIREDO, 1999). No entanto, algumas poucas
palavras precisam ser reeditadas.
A leitura desconstrutiva parte de alguns pressupostos. No lugar da
“obra” e do seu “autor”, cada um dos quais exibindo uma serena unidade
e soberania, a leitura desconstrutiva trabalha com o textual e com a inter-
textualidade. Concebermos uma “obra” e seu “autor”, dotado de “intenções
autorais”, que instalariam no que ele produz um “sentido” fixo e inalienável
é, de uma certa forma, nos mantermos aquém do que a própria psicanálise
ensina acerca dos sujeitos humanos e suas divisões constitutivas. Tratemos
o texto - cada texto - como uma heterogeneidade em que o suposto sentido
ideal - as teses que mal ou bem nele figuram e lhe dão uma certa identidade
- dependem para ser formuladas de algo que não se formula como tese - o
a-tético. Parte deste a-tético está “presente” no texto na forma de indícios
que podem gerar, inclusive, tensões com o que o autor pretendia ou supu-
nha estar dizendo. Alguns destes indícios nos apontam para textos ainda
não escritos e que talvez nunca o serão. Muito deste a-tético nos remete, as-
sim, a outros textos, da mesma pessoa ou de outras, sobre os quais, a favor
dos quais ou contra os quais, a escrita pôde ser articulada. Entre estes outros
2. São meras quatro páginas e meia dos Writingsof Melanie Klein, vol. UI, 1984.
dizer, entre parênteses, “como aprendemos com Freud e Abraham”, ela vinha
afirmando: “Eu descobri que em adultos o sucesso do trabalho do luto depende
não somente de estabelecer dentro do ego a pessoa de que fazemos o luto.” (Grifo
meu.) Neste ponto, introduz a lembrança de que isso que descobrira tinha an-
tes aprendido com seus mestres. Mas logo em seguida acrescenta que, além
do que os mestres disseram, algo ela descobriu por si mesma.
Dificilmente podemos condenar um psicanalista porque fala em
nome próprio e assume suas ideias e afetos e desejos. Não obstante, não po-
demos desconhecer que esta retórica tão abusada produz efeitos muitas ve-
zes desastrosos na audiência, seja pela via da adesão canônica, seja pelo do
repúdio indignado. Por outro lado, este recurso à experiência própria, esta
fala em que o testemunho prevalece sobre o argumento caracteriza a escrita
feminina no Ocidente. Em uma cultura em que certas atividades estiveram
associadas à posição masculina, entre as quais a atividade de pensar e cons-
truir teorias, cabendo às mulheres o campo das intuições e afetos, é comum
que a escrita feminina insista em um tipo de conhecimento que recorre me-
nos à razão e ao conceito. Há nisso algo de defesa, mas também de ardil: neste
terreno os homens devem calar-se. Podemos encontrar algo muito asseme-
lhado em Santa Tereza D’Ávila, no século XVI (confrontando-se aos doutos
beneditinos) e vamos encontrar páginas bem aparentadas em nossas Cla-
rice Lispector e Adélia Prado, para ficar só com algumas. Julia Kristeva está
escrevendo uma trilogia sobre o Gênio Feminino, ou seja, sobre a produção
cultural em que uma posição feminina é indiscutível na forma, no estilo e
nas ideias. O segundo volume desta trilogia é dedicado à vida e obra de Me-
lanie Klein e acho que realmente esta é uma dimensão muito esclarecedora
da retórica que atua em seus escritos (KRISTEVA, 2000). Contudo, aquele que,
procurando razões e evidências bem argumentadas, encontra testemunhos
pessoais e acha que é só disso que se trata, está se deixando enganar, mesmo
que se sinta frustrado e fique furioso. A partir destes elementos testemunhais,
articulados de início de uma maneira aparentemente simplória, vai se cons-
tituindo um campo conceitual extremamente complexo e se engendrando
uma lógica de difícil apreensão, mas poderosa.
3. Creio que a clínica inspirada em Bion procura evitar esta violência fazendo uma opção mais clara
pelo aqui e agora transferencial. Em virtude disso, Bion não é um autor fácil para iniciantes, já que
não dispõe das belas histórias para serem facilmente contadas e digeridas. Ele está desde sempre
no terreno da mais alta complexidade.
4. Novamente aqui, convém considerar como Bion estabeleceu um contraponto necessário à inva-
são e à imposição de presença que tanto marca a clínica kleiniana em geral.
REFERÊNCIAS
FIGUEIREDO, L. C. Palavras cruzadas entre Freud e Ferenczi. São Paulo: Escuta, 1999.
HEIMANN, P.; ISAACS, S.; KLEIN, M. and RIVIERE, J. The developments of Psycho-
-Analisis. London: The Hogarth Press, 195.
KLEIN, M. Notes on someschizoid mechanisms. The writings of Melanie Klein,
vol III. London: The Free Press, 1984, p. 1-24.
REFERÊNCIAS
ANZIEU, D. Le corps de l’oeuvre. Paris: Gallimard, 1982, 384 p.
DE M’UZAN, M. De l’art à la mort. Paris: Gallimard, 1964, 208 p.
KLEIN, M. Mourning and its relation to maniac-depressive states. In: The wri-
tings of Melanie Klein. vol. I. Londres: The Free Press, 1984, p. 344-369.
______ . The development of mental functioning, In: The writings of Melanie
Klein. vol. III. Londres: The Free Press, 1984, p. 236-246.
Psicanalista e Professor do
1. Este artigo foi extraído de minha Dissertação de Mestrado apresentada no Instituto de Psicolo- Departamento Formação
gia da Universidade de São Paulo, em 1998, com o seguinte título: O ato analítico e seu potencial de em Pscanálise do Instituto
simbolização. Sedes Sapientiae.
A mãe teve que se haver com esse real ou, como preferi chamar, esse
atual da pulsão em busca de ser simbolizado. O que estou tratando de afirmar
é que o analista também se verá convocado a esse lugar como objeto atual da
pulsão. Em outras palavras, penso estar considerando outra maneira de teo-
rizar o campo transferencial, onde o que insiste em se repetir não é apenas o
reprimido, mas a própria atualidade pulsional.
Levando estas questões em consideração, penso que seria importante
esclarecer que estou diferenciando o movimento transferencial articulado ao
desejo e à representação desta outra forma de transferência que surge da cap-
tura do analista como objeto atual da pulsão. O analista se apresenta como re-
curso para inscrição de experiências ainda não vivenciadas pelo paciente. Se
assim é, e seguindo a orientação de Freud quanto à função do analista no sen-
tido de que este não se entregue ao que na transferência representaria uma
tentativa de atuação da fantasia edípica inconsciente do paciente, mas que
ajude o paciente a integrar pela elaboração simbólica esses elementos de sua
história como sujeito. Caberia então ao analista, nesta outra perspectiva trans-
ferencial que estou discutindo, mobilizar recursos para que algo que não pôde,
até então, ser representado pudesse enfim escapar da condição de repetir-se
como insistência em busca de simbolização. Isto se daria através do ofereci-
mento dos recursos de transicionalidade do espaço analítico - incluindo-se
aí sem reservas o analista - para apropriação pulsional por parte do paciente.
Em minha opinião, nossos objetivos ao aplicar a técnica clássica não são al-
terados se acontece de interpretarmos mecanismos mentais que fazem parte
do tipo de distúrbios psicóticos e dos estágios primitivos do desenvolvimento
emocional do indivíduo. Se nosso objetivo continua a ser verbalizar a cons-
cientização nascente em termos de transferência, então estamos praticando
análise; se não, então somos analistas praticando outra coisa que acreditamos
ser apropriada para a ocasião. E por que não haveria de ser assim? (WINNI-
COTT, 1962, p. 155)
primeira tópica, abrindo espaço para o não representado, para o campo pulsio-
nal com toda sua inclemente força energética. Esta é uma questão que Freud
não chegou a integrar em sua teorização sobre a técnica; de fato, não há em sua
obra nenhuma consideração neste sentido. Desta forma, pelo menos enquanto
objeto da técnica, o pulsional para ele ficaria circunscrito ao que se inscreveu
no aparelho psíquico como representante representativo.
Também por isso fiz questão de evocar a clínica das psicoses, pois
entendo que a marca desta vivência -sua impressão indelével - é que nos
conduz a um novo olhar para a experiência transferencial e, como sabe-
mos, foi predominantemente à clínica das neuroses que Freud se dedicou,
faltando-lhe, portanto, maiores oportunidades de observar a transferência
psicótica. Além disso, esta postura de Freud estava coerentemente afinada
com seu modo de entender o psicótico como sendo incapaz de produzir o
que ele considerava imprescindível para a realização de uma análise, a neu-
rose de transferência. Quando teorizava sobre o tema, no entanto, ele tinha
claro que a etiologia das psicoses -seu ponto de fixação -apontava para um
momento muito inicial da relação mãe-bebê, embora nunca tenha tratado
de repensar suas concepções sobre a técnica de maneira a permitir que ela
abarcasse esses novos limites da clínica.
Espero que este ja claro que não estou de forma alguma cobrando de
Freud maior longevidade para que pudesse ter dado conta de questões que o
tempo de apenas uma vida não permitiu resolver. Aponto somente para esta
defasagem entre a produção teórica e a formulação técnica, a fim de poder ex-
pressar os limites com os quais tenho me defrontado na clínica e que clamam
por uma constante reflexão que possa permitir o desenvolvimento de novos
instrumentos para o analista.
Na clínica das psicoses esta reflexão sobre os limites da técnica é por
demais necessária, pois nos revela o analista sendo solicitado a um campo
transferencial espoliado da condição de simbolização. O psicótico é presa de
um mundo mental onde é mantido siderado pelo horror da captura por um
outro que não pode oferecer-lhe a inserção no campo simbólico pela referên-
cia à posição de castrado, ficando, por isso mesmo, alijado da possibilidade
de se localizar na partilha dos sexos como homem ou mulher. Essa é a cena
ABSTRACT: This article presents a brief survey of the Freudian concept of symbol,
considering clinical practice. Following this course, it remarks that in truth, the
clinical practice of ecery psychoanalyst is based on a non-symbolized scope whi-
ch is the drive scope. Psychoanalysts are immerse in a context that transcend the
sphere of representation, as we need to reach a fronteir far from the repressed. It
REFERÊNCIAS
FREUD, S. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sig-
mund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1980.
(1893). Estudos sobre a histeria, v.2.
(1900). A interpretação de sonhos, v.5.
(1905). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, v.7.
(1915). Os instintos e suas vicissitudes, v.14.
(1920). Além do princípio do prazer, v.18.
(1950/1895). Projeto de uma psicologia científica, v.1.
GARCIA-ROZA, L. A. Pulsão de morte e pulsão sexual. In: Acaso e repetição em
psicanálise (Uma introdução à teoria das pulsões). 2. ed.. Rio de Ja-
neiro: Jorge Zahar, 1987.
LORENZER, A. Crítica del concepto psicoanalítico de Símbolo. 1.ed.. Buenos Aires:
Amorrortu, 1976.
SEGAL, H. Notas sobre a formação dos símbolos. In: A obra de Hanna Segal. 1.ed..
Rio de Janeiro: Imago, 1982.
WINNICOTT, D. W. (1962). Os objetivos do tratamento psicanalítico. In:
O ambiente e os processos de maturação (Estudo sobre a teoria do
desenvolvimento emocional). 3. ed.. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.
Comentário
A produção deste texto, circunstanciada que estava pela elaboração de minha
dissertação de mestrado, traz as marcas daquele momento, especialmente no
que se refere ao conjunto de autores explorados. Mas o tema abordado então
continua recebendo minha atenção e guiando minhas ações na clínica.
Penso que o texto, em sua talvez excessiva condensação, tenha exposto
um leque de questões que foi difícil de aprofundar no artigo, mas a relevância
das mesmas torna sua leitura no mínimo interessante. Procurei de início fazer
um apanhado da noção de símbolo na obra de Freud e, a partir daí, desenvol-
ver uma tentativa de compreender a implicação deste conceito para a clínica,
especialmente no que tange à interpretação como instrumento da análise.
Ao reler o texto hoje (15 anos depois) me pareceu importante, por exem-
plo, ter começado a refletir sobre a questão do dualismo pulsional tal como ele
se depreende da obra de Freud e ter me atrevido a assumir uma posição mo-
nista diante do conceito de pulsão.
Muitos anos depois da escrita do texto, tive a oportunidade de discu-
tir sobre o tema com meu, hoje, prezado mestre e amigo Garcia-Roza e ele me
fez perceber que seria possível estabelecer uma diferença importante entre os
conceitos de dualismo e dualidade. Do ponto de vista da Filosofia o dualismo
diria respeito a duas substâncias diferentes, por exemplo: corpo e alma. É o
que podemos observar em Descarte com sua proposição de res cogitans (pen-
samento) e res extensa (corpo), que são consideradas por ele como substâncias
existentes em si mesmas e independentes uma da outra, ainda que isso não
exclua, obviamente, a possibilidade de que elas se relacionem.
Exatamente por este arrazoado é que não poderíamos pensar em du-
alismo com relação às pulsões, pois não é possível estabelecer diferença subs-
tancial entre elas; seja no caso da pulsão sexual e de autoconservação, seja com
relação às pulsões de vida e de morte. Tratar-se-ia neste caso, com muito mais
coerência, de empregar o conceito de dualidade que não aponta para nenhuma
diferença de substância, mas que permite, por exemplo, destacar o aspecto di-
ferencial da pulsão por suas formas de manifestação como pulsão inscrita ou
não inscrita. E aí, bastar-nos-ia seguir Freud quando admite que a pulsão de
(...) o paciente recorreu à identificação projetiva com uma persistência tal que
sugeria que se tratava de um mecanismo de que jamais conseguira valer-se o
REFERÊNCIAS
BION, W. R. Ataques ao elo de ligação. In: Estudos psicanalíticos revisados. Rio
de Janeiro: Imago, 1959.
CAPER, R. Interpretação: Revelação ou Criação? Sobre a função alfa. In: Res-
sonâncias Bion em São Paulo. Simpósio realizado em São Paulo de
13 a 15 de nov. de 1996.
KLEIN, M. As origens da transferência In: Inveja e gratidão e outros trabalhos.
Rio de Janeiro: Imago, 1991.
JOSEPH, B. Diferentes tipos de ansiedade e seu manejo na situação analítica. In:
Equilíbrio psíquico e mudança psíquica. Rio de Janeiro: Imago, 1992.
WINNICOTT, D. A integração do ego no desenvolvimento da criança. In: O am-
biente e os processos de maturação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983.
______ . Os bebês e suas mães. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
______ . Teoria do relacionamento paterno infantil. In: O ambiente e os proces-
sos de maturação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983.
Comentário
Ao receber da revista Boletim do Departamento Formação em Psicanálise
o pedido para escrever um comentário sobre o artigo Transferência – Con-
tinência – Holding – Rêverie, passados treze anos de sua publicação, retomo
o texto e me parece que a inquietação inicialque levou à sua escrita con-
tinua viva e atual.Entretanto, seria ilusório afirmar que ela seja a mesma.
Considerando o aprendido comBion sobre a fugacidade do momento, sei
que outro texto seria produzido quer pretendesse reescrever o primeiro
ouapenas a ele adicionar.
Quero dizer que, do ponto de vista conceitual, algumas palavras aqui
e ali poderiam certamenteser acrescentadas, aprofundando e enriquecendo
o original. Mas hoje penso que a preocupação que o gerou já era desde então
maior que a necessidade de compreensão e esclarecimento dos termos que no-
meiam o artigo, embora sua finalidade primeira tenha sido esta.
Apesar de esta compreensão ser importante, algo subjaz a ela, está
mesmo além dela,ainda é presente e soma-se ao que aqueles conteúdos me
instigam neste momento: as qualidades imprescindíveis ao analista e que de-
vem ser arduamente buscadas em sua formação.
A constatação de que condições especiais são necessárias a ele, tal como
à mãeno exercício de suas funções, amplifica o empenho na busca incessante
por uma aproximação crescente à conquistade um estado mental de abertura
e entrega ao encontro.
Tolerar não tê-lo conquistado plenamente: esta é a difícil tarefa a ser
praticada sem cessar...
Sim, entender a teoria que é utilizada como pilar do trabalho do ana-
lista é fundamental, indispensável. No entanto, o próprio Bion alerta seu leitor
sobre o uso a ser feito da teoria que propõe:
Por essa razão não estou muito interessado nas teorias psicanalíticas; alguém
que se qualifica, pode ir vê-las num livro. Mas a prática da análise é a única
situação em que se lêem pessoas e não livros. É, pois uma pena despender
Creio que seja positivo sermos capazes de reconhecer a dívida que temos para
com nossos antepassados – nossos antepassados mentais. Que nós, como ana-
listas, conheçamos o significado do termo ‘transferência’e ‘contratransferên-
cia’ assim como eram utilizados por Freud, Abraham, Melanie Klein, ou por
qualquer outro, é inteiramente oportuno somentese aprendemos a esquecer
tudo isso de maneira a estarmos abertos a captar o próximo movimento feito
pelo paciente – a próxima etapa, por assim dizer. (BION, 2005)[1]
Este trecho deixa clara mais uma qualidade que deve estar no âmago
da própria continência: ela deve propiciar ao paciente a experiência emocional
de ser compreendido. Fico muito tentada a usar aqui uma frase frequentemente
empregada por um colega: “explicação é bom pra quem explica”.
Sim, a experiência de ser compreendido é totalmente diferente da de
obter compreensão sobre si mesmo.
REFERÊNCIAS
BION, W. R. Conferências brasileiras: 1 – São Paulo/1973. Rio de Janeiro: Imago
Editora, 1974,137 p.
______ . Italian seminars. Londres: Karnac, 2005, 110p.
STEINER, J. Refúgios psíquicos – organizações patológicas em pacientes psi-
cóticos, neuróticos e fronteiriços. Rio de Janeiro: Imago Editora,
1997, 184 p.
RESUMO: Este texto busca refletir sobre a clínica psicanalítica frente a situa-
ções difíceis como os comportamentos compulsivos. Considera a compulsão
como resultado de manifestações do pulsional sem representante psíquico. A
construção, na transferência analítica, possibilitaria a tessitura facilitadora de
novas representações.
1. Expressão que Laplancbe utiliza com frequência, mostrando claramente uma postura de encontro
e troca com os diversos autores psicanalíticos. Os conceitos devem circular dentro do leitor e criar
novos pensamentos.
2. Anotações pessoais de seminários realizados com o dr. Joel Birman.
3. O mal-estar na civilização, texto publicado em 1930, cujo tema principal é o conflito entre as forças
pulsionais e as exigências da cultura, representadas pelo superego. Neste sentido, pensa-se que
o analista, ao favorecer o trânsito do pulsional, provoca o questionamento do superego, muitas
vezes conduzindo a uma quebra em comportamentos adaptados, mas estereotipados e compul-
sivos. Desta forma, seria tarefa do analista incentivar a criatividade do analisando, mostrando-lhe
quando formar uma ideia com o objetivo de manter o status quo por evitação da mudança.
I- CONSTRUÇÕES EM FREUD
Freud define, nesse texto de 1937, o objetivo da análise como o de levar o pa-
ciente a cancelar as repressões feitas em seu desenvolvimento primevo e a
substituí-las por reações que corresponderiam a um estado de maturidade
lhe contam, ou seja, fará o recorte pessoal da história. As crianças que passam
por uma mudança importante nessas primeiras experiências, que sofrem uma
substituição da pessoa que lhes dispensa os cuidados maternos, terão uma es-
pecial dificuldade em historiar elementos perceptivos de ordens muito diversas.
Trata-se de uma interpenetração entre uma fantasia, um indício perceptivo e
uma série de acontecimentos.
O analista é outro historiador à procura de indícios sem pretensãode en-
contrar uma verdade que não seja efêmera. O processo de construção, feito junta-
mente com o paciente, permite a desconstrução da antiga história. Além disso, as
novas construções poderão ser desconstruídas num processo contínuo de refor-
mulação, uma vez que o objetivo da análise não é o da procura de uma verdade, que
só serviria de obstrução. Sua meta é fazer trabalhar, investir,pulsar, ousarsair da re-
petição e do sofrimento desnecessário. Há modificação do passado pelo presente.
No Originário, a relação da criança com o mundo não pode ser metabo-
lizada em uma fantasia ou em um pensamento, já que a criança não mantém
a catexia e o mundo é representado por seus efeitos somáticos. O Primário e
o Secundário partem desta vivência somática para fazer umaconstrução psí-
quica, buscando representar o mundo para aquela psique. Na vida adulta há
vivências que são registradas apenas somaticamente, ou seja, metabolizadas
no registro do Originário.
As manifestações da vida somática do infans provocarão uma emoção
na mãe que afetará a vida psicossomática do bebê. Pensemos, por exemplo,
em um bebê que acabou de adormecer após mamar tranquilamente. A mãe
pode interpretar este comportamento como uma declaração de amor do bebê,
sentir-se narcisizada e reagir com manifestações carinhosas pelo filho. A mãe
vai olhar e interpretar essa criança a partir de sua história infantil, de sua re-
lação com o pai da criança, pelo estado de seu próprio corpo, por suas ativi-
dades repressivas e sublimatórias e pelos acontecimentos importantes deste
momento do encontro.
A mãe só pode criar uma história desta criança ou, mais precisamente,
deste encontro, a partir de sua própria história; imaginará um futuro, o qual
antecipará um ego nesta criança. Esta historização, a partir do intérprete e das
reações do interpretado, irá ocorrendo também nos registros do Primário e do
5. Poderíamos pensar em alguma semelhança entre este “fundo memorizável afetivo” teorizado por
Piera Aulagnier e a “pré-história esquecida” descrita por Freud. A diferença fundamental situa-se
na conotação de esquecido/reprimido que Freud mantém, mesmo que descrevendo um fenômeno
de outra ordem.
ABSTRACT: This paper examines the hazards found by clinical psychoanalysis when
faced by complex situations such as compulsive behavior. It considers compul-
sions as instinctual expressions with no psychical representation. Construction,
done in the framework of analytical transference, could allow the development of
a web that could ease the formation of new representations.
REFERÊNCIAS
AULAGNIER, P.O aprendiz de historiador e o mestre feiticeiro: Do discurso iden-
tificante ao discurso delirante. São Paulo: Escuta, 1989.
______ . A violênda da interpretação. Rio de Janeiro: Imago, 1979.
Comentário
Confesso que fiquei muito intrigada com a proposta da Comissão Editorial
de nos fazer revisitar um texto escrito há 13 anos. Vocês me convocaram
a pensar na questão do tempo. Assim me soou a pergunta: Você mudou
nesse tempo?
Quando, depois de muita relutância, reli o texto, gostei muito do que
estava escrito, mas achei que não conseguiria mais escrever o mesmo artigo.
Nele, tentei entender a metapsicologia do conceito de construção, lan-
çando mão da teoria de Piera Aulagnier, trabalhando os conceitos do irrepre-
sentável e do irrepresentado.
Repito, hoje não conseguiria escrevê-lo, porque o foco que dirigiria
minha escrita seria outro. Tocada por vocês, o meu foco foi para a ques-
tão do tempo.
No artigo de 2001, escrevi que a reinterpretação do passado poderia
modificar o presente e que o ego se encontra na categoria do tempo e de sua
relação com o outro. Mantenho essa ideia, acrescentando e sublinhando que
a interpretação em transferência modifica o passado. As histórias podem ser
mudadas porque se modifica nosso acervo para a sua compreensão e porque
passado e futuro são categorias do presente.
Incluiria, também, o trabalho de Balint sobre a Falha Básica. Balint es-
creveu sobre a vivência clínica de conceitos formulados por Ferenczi. O autor
preocupou-se intensamente em como manter a potência do encontro analítico.
Ferenczi propôs uma liberdade ética para o analista, incentivando que vivesse
integralmente sua contratransferência como material de análise.
Sob esta luz, o conceito de construção poderia ser ampliado, porque fi-
caria sublinhado que a construção surge de um analista vivo, que pulsa e que
se deixa tocar, contagiar, pelo material do analisando. Assim, a história passa a
ser vista de um modo mais amplo do que a relação de causalidade, vista como
um conjunto de materiais em forma de signos e traços, que se atualizam e se
apresentam na relação com o outro.
Agradeço o convite de vocês de rever um passado/presente, de fa-
zer história.
A técnica psicanalítica e sua teoria sempre foram questões que, a meu ver, não po-
dem ser distanciadas da teoria psicanalítica como um todo, nem especificamente.
Como um todo - teoria e teoria da técnica - sublinho que quando pensamos e pro-
curamos lidar na prática clínica com inconsciente, fantasias, recalque, relações de
objeto e, principalmente, transferência, estamos falando de psicanálise. Especifica-
mente, refiro-me à corrente teórica na qual o analista sente-se mais confortável e
costuma se apoiar. Observo que as correntes teóricas introduzem muito mais que
estilos de trabalho ou peculiaridades; elas costumam introduzir uma diferente
forma de observação do psiquismo e, consequentemente, sugerem um modo pe-
culiar de se abordar os fenômenos psíquicos.
Faço essa introdução para que possam acompanhar algumas reflexões
sobre questões técnicas que estarão contidas e baseadas em autores/pensado-
res, ou de estudiosos de uma mesma corrente de pensamento.
O título deste trabalho mostra a direção de minhas reflexões: Klein e Bion.
Psicanalista, Professor e
Membro do Departamento
1. Este texto foi produzido para apresentação no Seminário sobre Técnica Psicanalítica, oferecido Formação em Psicanálise do
pelo Departamento Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, em 1999. Instituto Sedes Sapientiae.
REFERÊNCIAS
BION, W. R. (1967). Notas sobre memória e desejo. In: Melanie Klein hoje. v.2.
Rio de Janeiro: Imago, 1990, p. 30-4.
BRENMAN, E. (1980). O valor da reconstrução na psicanálise de adulto. In: Me-
lanie Klein: Evoluções. São Paulo: Escuta, 1989, p. 125-141.
Comentário
Na quarta discussão que Bion teve em Los Angeles, no Veterans Adminis-
tration Hospital, Brentwood, em abril de 1976[2], o autor abre a discussão
dizendo:
BION – Ver pacientes muitas vezes, como geralmente fazemos, torna mais di-
fícil que se adquira aquele grau de ingenuidade no qual poderíamos vê-los a
cada vez como se jamais os tivéssemos visto antes. É difícil pensar, “Ah, já vai
começar este negócio outra vez – ontem, anteontem, por semanas, meses e
anos”. Não pode ser assim na realidade porque o paciente que vimos ontem,
ou na semana passada, ou no mês passado, não pode ser a mesma pessoa que
vamos ver amanhã. Deveríamos nos aproximar o mais possível de sentir que
esta é a primeira vez que vemos aquele paciente. É difícil, porque nós sempre
sentimos que deveríamos conhecer sua história e assim por diante, e tudo
mais – um refluxo do nosso próprio treinamento médico. Ele é útil por duas ou
três sessões, mas depois disso, esta informação que obtemos através de ouvir
dizer não é importante. Dessa época em diante poderíamos ser lançados em
uma essência diversa – não a essência da história do paciente.
Questionador – O senhor está dizendo que, na verdade, não toma notas. Cada
vez que a pessoa vem ela é uma nova pessoa e só importa aquilo que está pre-
sente naquele momento.
BION – Sim. Como havia dito, Platão assinalou que a linguagem é extre-
mamente enganadora – ela aparenta ser precisa, exata, mas de fato ela não
é mais exata do que a pintura ou desenho. Uma pintura não te conta coisa
alguma – ela tem que ser interpretada. Charcot, que tanto impressionou a
Freud, disse que você tinha que seguir observando um paciente, até que um
padrão começasse a se impor. Na medicina física, os sentidos de um médico,
2. Conversando com Bion, livro da Imago Editora, Rio de Janeiro, 1992, reproduzindo, como explica
Francesca Bion, quatro discussões, de duas horas cada, com intervalos de uma semana cada, no
Veterans Administration Hospital, Brentwood, Los Angeles, em abril de 1976, com um grupo de
aproximadamente vinte e cinco pessoas, composto de residentes de psiquiatria, psicoterapeutas
e psicólogos.
ENTREVISTA
BFP: Nos disseram que a revista do Departamento Formação em Psicanálise
surgiu de uma maneira bastante “lúdica”. Foi da ideia de alguns membros, de
uma determinada turma e de um determinado ano do Curso Formação em
Psicanálise em publicar um jornalzinho para que eles pudessem se comunicar
entre si e com os alunos. Você sabe disso? Como surgiu a revista?
Ede: Houve uma revista muito antes do atual Boletim e era chamada de PA-
THOS. Pode ser que você ainda encontre alguns exemplares no Sedes ou com
alguns dos professores, pois as minhas doei-as ao Sedes. No começo as edições
Médico com formação
eram um tanto artesanais. Esta revista (PATHOS) deu lugar ao Boletim. Na sua psicanalítica no Sedes, no
configuração inicial, em 1992, você pode ver como era diferente do formato Departamento Formação em
Psicanálise, hoje faz parte
atual. Seria interessante que você pudesse ver as capas de rosto deste primeiro do corpo docente deste
ano e comparar as modificações que ocorreram daí em diante. No primeiro mesmo Departamento.
ano de publicação tinha algo de lúdico, como você afirmou, e também artesa-
nal, pois tinha informações sobre o cotidiano, cursos, fofocas e os eventos dos
semestres e assim por diante.
BFP: Estamos pensando em fazer duas revistas anuais a partir de 1913. O que
você pensa disto? Você lê a revista e sente falta de algo? Colocamos esta ques-
tão porque é nossa vontade revigorá-la. E uma ótima maneira é perguntando
aos que bem conhecem o Departamento e sua história.
Ede: Acho que duas vezes por ano seria o ideal, mas, às vezes não temos ar-
tigos suficientes para fechar as duas revistas. Acho que nosso Departamento
produz pouco e, lógico, eu me incluo nesta preguiça coletiva. Seria interes-
sante que você pudesse colher outras informações com outras comissões
editoriais que fizeram parte desta história e assim teria uma ideia mais li-
near deste percurso.
BFP: Após lermos o primeiro número da revista, sugerido por você, pensa-
mos que seria interessante que você também comentasse o seguinte: Muitos
dos temas dos artigos publicados neste primeiro número, em 2000, ainda es-
tão em debate hoje. As (novas patologias, a necessidade do analista ‘inovar’ e
se repensar, considerando o contemporâneo, os déficits de simbolização, etc.).
O que você acha que uma revista de psicanálise deve conter em tempos atu-
ais, qual o seu papel na formação/transmissão/divulgação de conhecimentos
“Não posso responder a esta pergunta, mas podem ver a resposta por sua conta
[...] não me proponho a tentar tomar o lugar da sua inteligência.”
Wilfred Bion
“Ousem fazer operar a sua imaginação especulativa, agrade ou não à sua cul-
tura” [...] “Se por exemplo, este grupo impedisse o desenvolvimento do pen-
samento e do crescimento mental, penso que então morreria.”
Wilfred Bion
“Eu tinha os maiores escrúpulos de consciência por causa de todas essas in-
frações a uma regra fundamental - e a muitas outras que não posso enume-
rar aqui - até que recebi palavras tranquilizantes de pessoas investidas de
autoridade: os conselhos de Freud não pretendiam ser, de fato, mais do que
recomendações para principiantes, que deveriam protegê-los das inépcias e
dos fracassos mais grosseiros, não continham quase nenhuma indicação de
natureza positiva e, por conseguinte, grande liberdade era deixada a esse res-
peito à avaliação pessoal do analista, na medida em que pudesse explicar a si
mesmo as consequências metapsicológicas de sua conduta.”
Sándor Ferenczi
“Na verdade, não sei se devo invejar nos meus colegas mais jovens a faci-
lidade que têm para entrar na posse de tudo aquilo que a geração prece-
dente conquistou ao preço de duros esforços. Às vezes, parece-me que não
é a mesma coisa receber uma tradição já feita e acabada, por válida que
seja, ou estabelecer uma por si mesmo.”
Sándor Ferenczi
“Ninguém pode dizer como você deve viver sua vida ou o que deve pensar ou
que língua deve falar. Portanto, é absolutamente essencial que o analista forje
para si a língua que ele conhece, que sabe como usar, e cujo valor reconhece.”
Wilfred Bion
“Venha ao mundo com criatividade, crie o mundo; é apenas o que você cria o
que possui significado para você. Para a maior parte das pessoas esta última
parte é que deve ser encontrada e posta em prática.”
Donald Winnicott
“Tive minhas lealdades iniciais a Freud, Melanie Klein e outros, mas, por fim,
a lealdade acaba se voltando para nós mesmos, e isso deve acontecer com a
maioria de meus colegas.”
Donald Winnicott
“Sobre Bion e coisas do gênero. Gosto da maneira como ele vai em frente, seguindo
seu próprio caminho, e sou daqueles que esperam bastante dele. [...] Gosto da ma-
neira como Bion aborda esse assunto, e posso aprender algo com ele. [...] Bem, se
esse é o caminho dele, ‘é isso que me dá na telha agora’, como diz a canção popular.”
“Naturalmente, começo a partir de minha própria linguagem, assim como
você começa a partir da sua”
Donald Winnicott
“É como realizar uma intervenção cirúrgica e ter que afiar o bisturi e torná-lo per-
feitamente eficiente enquanto estamos operando. Assim, enquanto vocês exerci-
tam a profissão analítica, devem também exercitar a arte de afiar e tornar exato
o vocabulário que utilizam. É importante que estejam certos do que é o seu voca-
bulário, aquelas poucas palavras que lhes são verdadeiramente úteis, e mantê-las
atualizada e em condições tais que possam transmitir o que pretendem dizer.”
Wilfred Bion
“... fazer o ‘contrário’ do que o mestre [Freud] mandava era o melhor jeito de
seguir o espírito de sua letra, ao passo que obedecer às indicações técnicas
era traí-lo sem remédio” [...] “a falta de ética não está em fazer diferente, mas
em não saber o que fez”
atribuído ao pensamento de Jacques Lacan
É “... preciso que cada psicanalista reinvente, a partir do que ele extraiu de sua
própria análise, a maneira pela qual a psicanálise pode perdurar.”
Jacques Lacan
“Claro que eu passei por considerados cursos de formação, tanto na velha Ta-
vistock quanto no Instituto de Psicanálise, aprendendo mais e mais teorias
que eu considerava precisar saber. Mas só muito tempo depois de eu ter ter-
minado o meu curso de formação e de já ter começado a me recuperar dessa
experiência traumática, passei, então, realmente a pensar que começava a ter
uma ideia de sobre o que se tratava. Ainda não sinto-me satisfeito com rela-
ção a como essa impressão era ou sobre o modo como eu a reuni — este é um
“Espanta-me, por vezes, que os analistas parecem realmente acreditar que eles
terão permissão para ser psicanalistas — eu não sei porquê.”
Wilfred Bion
“... foi nos círculos dos didatas que se postulou e se professa a teoria que con-
fere como finalidade à análise a identificação com o eu do analista. Ora, não
importa em que grau suponhamos que um eu tenha conseguido igualar-se à
realidade da qual supostamente deve tirar medida, a sujeição psicológica em
que assim se alinha a conclusão da experiência é, se nos lerem direito, o que
há de mais contrário à verdade que ela deve tornar patente: a saber, a estra-
neidade dos efeitos inconscientes.”
“... nenhuma espécie de verdade pode ser deslindada sob a forma de um saber
generalizável e sempre verdadeiro”
“... o inconsciente escapa totalmente a este círculo de certezas no qual o ho-
mem se reconhece como eu.”
Jacques Lacan
“Não acho que a minha explicação importe. Eu chamaria atenção para a na-
tureza do problema.”
“Quando sinto uma pressão – seria melhor eu estar preparado no caso de você
me fazer algumas perguntas” –, aí eu digo, ‘às favas com isto, não vou procu-
rar este negócio em Freud nem em lugar nenhum, nem mesmo na minha
afirmação anterior – eu vou tolerá-lo’, Mas é claro que eu estou pedindo que
você também o tolere.”
Wilfred Bion
BION, W. R. (1977) Seminários Italianos (Renzo Birolini, trad.). Textos não pu-
blicados, 71 p.
WINNICOTT, D. W. Os bebês e suas mães. São Paulo: Martins Fontes, 1994, 98p.
WINNICOTT, D. W. O Gesto espontâneo, 2 ed, São Paulo: Martins Fontes, 2005, 244p.
WINNICOTT, D. W. O Gesto espontâneo, 2 ed, São Paulo: Martins Fontes, 2005, 244p.
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GOLDENBERG, R. Corte e costura. Revista Viver Mente & Cérebro. Coleção Me-
mória da Psicanálise. Lacan, n. 4, São Paulo, 2005, p. 40-45.
LACAN, J. Congresso sobre a transmissão (1978). Rev. Letra Freudiana, ano XIV,
n. 0, p. 65-67, s/d.
LACAN, J. Nota Italiana. Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
2003, 608p.
1. LINHA EDITORIAL
O Boletim Formação em Psicanálise, revista do Departamento Formação em Psi-
canálise do Instituto Sedes Sapientiae, tem por proposta editorial a divulgação
de trabalhos relacionados à psicanálise e campos afins, numa tendência con-
temporânea de integração e complementaridade. Nesse sentido, valorizamos
a diversidade na busca de articulações com outras áreas de conhecimentos,
tendo como finalidade maior a busca da compreensão do sofrimento humano
e a constante (re)construção metapsicológica.
2. NORMAS GERAIS
Os originais devem ser enviados para a Comissão Editorial da revista Boletim
Formação em Psicanálise (endereço logo abaixo). Se o material estiver de acordo
com as normas estabelecidas pela revista, ele será submetido à avaliação do
Conselho Editorial. O artigo será lido por dois membros do Conselho, que po-
derão rejeitar ou recomendar a publicação de forma direta ou com sugestões
para reformulações. Caso não haja consenso, haverá uma terceira avaliação.
Se dois conselheiros recusarem o material, este será rejeitado para publicação.
Os originais não serão devolvidos, mesmo quando não aprovados. Sendo o ar-
tigo aprovado, sua publicação dependerá do programa editorial estabelecido.
1. Baseadas no estilo de normalizar de acordo com a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técni-
cas – NBR 10.520, 2002).
3. TIPOS DE TRABALHOS
Além de artigos, a revista publica leituras (comunicações, comentários), rese-
nhas de livros, conferências, entrevistas e traduções.
A tradução deve apresentar também uma cópia do trabalho original,
com todas as indicações sobre a edição e versão de que foi traduzida, acompa-
nhada da autorização do autor.
Folha de resumo
Deverá constar o título do trabalho em português; resumo em português (no
máximo 10 linhas) com palavras-chave (no mínimo 3 e no máximo 5); título
do trabalho em inglês; abstract com keywords (no mínimo 3 e no máximo 5).
Os resumos e as palavras-chave devem ser digitados em itálico.
5. CITAÇÕES
As citações são feitas pelo sobrenome do autor ou pela instituição responsável
ou ainda, caso a autoria não seja declarada, pelo título de entrada, seguido da
data de publicação do documento, separado por vírgulas e entre parênteses.
Citação textual
▪ Até 3 linhas – deve ser inserida no corpo do texto, entre aspas e com
indicação do(s) autor(es), da(s) página(s) e do ano da obra de refe-
rência. Exemplo: Ferraz (2000, p. 20) considera “como tipicamente
perversos certos atos ou rituais praticados com o consentimento
formal do parceiro”.
▪ Com mais de 3 linhas – deve aparecer em destaque e com recuo de
margem esquerda de 4 cm, sem aspas, espaço simples, corpo 11 e
com indicação do(s) autor(es), da(s) página(s) e do ano da obra de
referência. Exemplo:
Esse último exemplo chama atenção para o fato de que é essencialmente a uni-
ficação que jaz ao fundo dos chistes que podem ser descritos como “respostas
prontas”. Pois a réplica consiste em que a defesa, ao se encontrar com a agressão,
“vira a mesa sobre alguém” ou “paga a alguém com a mesma moeda” – ou seja,
consiste em estabelecer uma inesperada unidade entre ataque e contra-ataque.
Citação indireta
O sobrenome do autor é apresentado dentro dos parênteses em letras maiúscu-
las seguidas, seguido do ano da publicação. Exemplo: Em O mal-estar na civili-
zação Freud faz um esforço para circunscrever o mal-estar na modernidade ao
tecer seus comentários sobre as relações entre sujeito e cultura (BIRMAN, 1997).
Citação de autor
▪ No caso de autores cuja obra é antiga e foi reeditada, citar o sobre-
nome do autor com a data publicação original, seguida da data
da edição consultada. Exemplo: Freud (1915/1980) ou (FREUD,
1915/1980).
▪ No corpo do texto deverá constar o sobrenome do autor acrescido
do ano da obra. Exemplo: Reik (1948).
▪ Fora do corpo do texto (citação indireta) o sobrenome do autor deve
vir em letras maiúsculas, seguido do ano da publicação entre pa-
rênteses. Exemplo: (REIK, 1948).
▪ No caso de dois ou três autores os sobrenomes devem ser ligados
por “&” no corpo do texto e por “;” fora do corpo do texto. Exemplo:
Ades & Botelho (1993) ou (ADES; BOTELHO, 1993).
▪ Caso tenha mais de três autores, deverá aparecer somente o sobre-
nome do primeiro, seguido da expressão “et al.”. Laing et al. (1974)
ou (LAING et al., 1997). Obs.: Na lista final de referências todos os
nomes dos autores deverão ser citados.
▪ Em caso de autores com o mesmo sobrenome, indicar as iniciais
dos prenomes. Exemplo: Oliveira, L. C. (1983) e Oliveira V. M. (1984)
ou (OLIVEIRA, L. C., 1983; OLIVEIRA V. M., 1984).
Citação de citação
Utilizar a expressão “citado por”. Exemplo: Para Rank (1923) citado por Costa
(1992)...
6. NOTAS DE RODAPÉ
Caso sejam indispensáveis, as notas devem vir na mesma página em que fo-
rem indicadas, usando o programa automático do Word. As referências dos
autores citados no texto devem ser apresentadas no final do texto, NÃO em
notas de rodapé.
7. REFERÊNCIAS
Devem vir no final do texto, com o título ‘Referências’, relacionadas em or-
dem alfabética pelos sobrenomes dos autores em letras maiúsculas, seguido
das iniciais do prenome e cronologicamente por autor. Quando há várias obras
do mesmo autor, substitui-se o nome do autor pelo equivalente a seis espaços,
seguido de ponto. Exemplo:
Referências
BIRMAN, J. … 1992. (com apenas um autor)
______ . … 1997a.
______ . … 1997b.
JERUSALINSKY, A.; TAVARES, E. E.; SOUZA, E. L. A. … (com dois ou três autores)
LAING, P. et al … (com três ou mais autores)
ROUANET, S.P. …
Artigos de periódicos
Sobrenome do autor em letras maiúsculas, seguido das iniciais do(s) prenome(s),
título do artigo, ponto, título do periódico em itálico, vírgula, cidade, volume,
número, página e ano de publicação. Exemplo:
ROSA, M.D. O discurso e o laço social nos meninos de rua. Psicologia USP, São
Paulo, v.1, n.1, p.205-17, 1990.
Dissertações e Teses
Sobrenome do autor em letras maiúsculas, seguido das iniciais do(s) prenome(s),
título da Dissertação ou Tese em itálico, ponto, ano, ponto, número de folhas,
Resenhas
Sobrenome do autor em letras maiúsculas, seguido das iniciais do pre-
nome, título do livro, ponto, cidade, dois pontos, editora e ano de publi-
cação. Resenha de sobrenome em letras maiúsculas, seguido das iniciais
do prenome do autor da resenha, título da resenha (se houver), ponto,
nome do periódico em itálico, volume, número, páginas e data de publi-
cação da revista.
8. IMAGENS E ILUSTRAÇÕES
Tabelas, gráficos, fotografias, figuras e desenhos devem ser referidos no texto
em algarismos arábicos e vir anexos, em preto e branco, constando o respec-
tivo título e número. Se alguma imagem enviada já tiver sido publicada, men-
cionar a fonte e a permissão para reprodução, quando necessário.
9. DIREITOS AUTORAIS
Os direitos autorais de todos os trabalhos publicados pertencem à revista Bole-
tim Formação em Psicanálise. A reprodução dos trabalhos em outras publicações
requer autorização por escrito da Comissão Editorial da Revista.