Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
6DOYHR%UDVLOQRPHGHYHJHWDO
O Brasil é o único país do mundo cujo nome veio de uma planta, o pau-
brasil. Não sabemos ao certo como esta peculiaridade pode nos ajudar a
sermos diferentes do resto do globo. Mas, pelo menos, em um nível
simbólico, somos a única nação do planeta que está plantada em sua própria
terra! Ora, isto já é uma boa semente com a qual podemos fazer poesia. Mas o
objetivo deste trabalho é menos “poetar” e mais investigar os nossos
quinhentos anos de história, contados sob a ótica desta madeira que nos foi
tão primordial: o pau-brasil. Mas, se somos um país, com inúmeras florestas -
acredite se quiser, mesmo depois de tanta devastação! - por que escolher,
então, o pau-brasil para ser o protagonista desta aventura? Simplesmente
porque ele é, dentre todas as madeiras da flora brasileira, a de maior
importância histórica.
$iUYRUHSDXEUDVLO
9RFrMiYLXXPSDXEUDVLO"
0HXQRPHFLHQWtILFRp&DHVDOSLQLDHFKLQDWD/DPPDVSRGHPHFKDPDU
GHSDXEUDVLO
Talvez você não saiba, mas ás arvores são identificadas sempre por dois
nomes. Um (às vezes, vários) é aquele como nós popularmente a chamamos e
o outro é como os cientistas, preocupados com a classificação rigorosa de
suas espécies, a denominam e registram. Com o pau-brasil não poderia ser
diferente. Seu nome científico é &DHVDOSLQLD HFKLQDWD /DP.. Ora, mas isso
mais parece um palavrão ou até mesmo uma ofensa para a pobre da árvore!
Nada disso! Acontece que, como em todo nome científico, há neste batismo
algumas regras bem simples que, uma vez conhecidas, tiram das palavras seu
ar arrogante e indecifrável. Vejamos que regras são essas. Primeiramente, as
palavras estão escritas em latim que, apesar de ser uma língua morta (ninguém
mais fala latim hoje em dia), ainda batiza diversas descobertas da ciência.
Vamos desvendar o primeiro mistério: o primeiro nome de uma árvore sempre
diz respeito a seu gênero, aqui no caso, “Caesalpinia” - que na verdade é uma
homenagem a um grande médico e botânico do século XVI - Andrea
Cesalpino. Próximo enigma: o segundo nome de uma árvore se refere à sua
espécie. A palavra “echinata” é a forma latina do adjetivo “equinado”, que
nada mais quer dizer do que “vegetal cheio de espinhos”. Um bom exemplo
de um sujeito prá lá de equinado é o ouriço-do-mar, não é verdade? E, por
fim, a terceira palavra que dá nome a uma árvore é a abreviação do nome da
pessoa que a registrou. “Lam.” é a abreviação de Lamarck, o botânico que, em
1789, descreveu o pau-brasil, conforme as normas da nomenclatura botânica.
Viu como foi fácil desvendar o significado do nome científico! Agora, vamos
aos nomes populares com os quais os indígenas, os europeus e, nós
brasileiros, chamávamos e ainda chamamos, nossa amiga &DHVDOSLQLD:
ibirapitanga, ibirapiranga, ibirapita, muirapiranga, orabutã, brasileto, pau-
rosado e pau-de-pernambuco. Ufa! Até que foi bom ter prevalecido a forma
“pau-brasil” para batizar nosso país, pois você já pensou se a outrora Terra de
Santa Cruz adotasse, por exemplo, o nome Ibirapitanga. A esta altura
2
seríamos todos “ibirapitanguenses”. Nada contra a palavra em si, mas que
“brasileiro” é muito mais fácil de pronunciar, ah, isso é verdade!
&DUDFWHUtVWLFDVGRSDX
EUDVLO
3
3$8%5$6,/7(67(081+$'2'(6&2%5,0(172
4XHPGHVFREULXTXHP"
$SUpKLVWyULDGR%UDVLO
'HRQGHYLHUDPQRVVRVtQGLRV"
³%UDVLO´GHVGHTXDQGR"
³8PD LOKD QD PHVPD ODWLWXGH GD ,UODQGD GR 6XO 2 QRPH SRGH VHU
JDpOLFRMiTXH%UHVDLOpXPQRPHGHXPDQWLJRVHPLGHXVSDJmRHDPEDVDV
VtODEDV µEUHV¶ H µDLO¶ GHQRWDP DGPLUDomR &RQVLVWH QXP JUDQGH DQHO GH
WHUUDFHUFDQGRXPPDULQWHULRUFRPLOKRWDV2PRUWDORUGLQiULRQmRSRGHYr
ORHVRPHQWHXQVSRXFRVHOHLWRVIRUDPDEHQoRDGRVFRPDYLVmRGR%UD]LO´
³5HYHODQGR´R%UDVLO
6
Por que a missão - que já não era inédita - de travar comércio com as
Índias teve que contar com a maior esquadra montada em Portugal: treze
navios e mil e quinhentos homens? E por que, para chefiar tal empreitada, o
rei d. Manuel I designou um comandante que não possuía a menor
experiência como navegador: Pedro Álvares Cabral?
Tais perguntas são feitas até hoje pelos historiadores que não se
contentam com a tese oficial do descobrimento. Pensam eles que o 22 de
abril, na verdade, foi uma “tomada de posse” de uma terra já conhecida.
Vamos examinar as origens de tal hipótese.
$VRULJHQVGRGHVFREULPHQWR
(RTXH&DEUDOWHPDYHUFRPHVWDKLVWyULD"
(HLVTXHRHXURSHXGHVFREUHRSDXEUDVLO
8
comercial para Portugal que, antes, a comprava dos mercadores do Oriente
que atuavam nas rotas tradicionais do comércio indiano.
Logo, a coroa portuguesa declarou a exploração do pau-brasil um
monopólio real. Isso significava que só poderia dedicar-se a esta atividade
quem obtivesse uma concessão da coroa portuguesa, que cobrava pelos
direitos concedidos. A primeira concessão de exploração foi conferida a
Fernando de Noronha (que, quem diria, virou nome de arquipélago
paradisíaco!) ainda em 1501. O primeiro arrendatário e seus associados
posteriores tinham como obrigação enviar naus à nova terra, descobrir
“trezentas léguas de costa” e pagar uma parcela à Coroa, além de construir e
manter fortalezas. Ao colono era vedado explorar ou queimar o lenho corante.
Registra a História que, pela concessão obtida, Fernando de Noronha pagava,
anualmente, 4 mil cruzados. Já em 1519 os negócios do primeiro arrendatário
pareciam bastante promissores, pois a essa época já lhe fora possível retirar
mais de 5 mil toras, segundo registro de Amazonas de Almeida Torres em seu
livro %UHYHV1RWDVSDUDR(VWXGR)ORUHVWDOGR%UDVLO.
Os espanhóis, em respeito ao Tratado de Tordesilhas, afastaram-se do
litoral brasileiro. No entanto, corsários franceses - que não reconheciam a
legitimidade do acordo - lá agiam com relativa liberdade, extraindo a madeira
ilegalmente.
A participação de nossos indígenas na extração do pau-brasil foi
fundamental, pois somente as tripulações dos navios não davam conta de
cortar e transportar uma árvore de grande porte.
A princípio, o trabalho indígena foi conseguido por meio da prática do
escambo, isto é, mediante a troca por algumas bugigangas e quinquilharias
que despertavam neles grande interesse, como, pedaços de tecido, espelhos, e,
às vezes, facas e canivetes.
Mais habilitados no trato com os indígenas, os contrabandistas
franceses, no entanto, conseguiram maiores vantagens que os portugueses.
Porém, seu sistema de extração causou graves prejuízos às matas: ao invés de
cortar as árvores, ateavam fogo na parte inferior do tronco, provocando assim
muitos incêndios, que matavam animais e destruíam preciosas essências.
3DXEUDVLOOXFURVjYLVWDGHVWUXLomRDSUD]R
9
trabalho desejado pelos europeus, estes apelavam para a violência e para o
trabalho escravo.
A exploração do pau-brasil não deu origens a núcleos coloniais fixos de
ocupação e povoamento, uma vez que, realizada como atividade predatória,
era nômade, deslocando-se pelo litoral à medida que a madeira ia se
esgotando. Foram construídas apenas algumas feitorias - fortificações de
caráter militar - em alguns pontos onde a madeira era mais abundante. Essas
feitorias, construídas tanto por portugueses quanto por franceses, serviam
para a defesa contra os concorrentes, contra ataques de tribos hostis e para o
depósito das mercadorias.
Como toda atividade predatória, a extração do pau-brasil foi se
tornando cada vez mais difícil devido à escassez das árvores, que passaram a
ser encontradas somente de 10 a 20 léguas da costa. Já em 1530, em alguns
locais do litoral, o pau-brasil se tornara escasso, embora o Brasil tenha
continuado a exportar a madeira até o início do século XIX.
A exploração era bastante rudimentar, trazendo como conseqüência a
destruição de grande parte de nossas florestas. Assim, com o descobrimento,
iniciou-se também o desmatamento indiscriminado que ainda hoje ameaça
nossa biodiversidade.
9HJHWDomRWURSLFDOXPDYHOKDVHQKRUD
)ORUHVWDDFDVDDQFHVWUDO
3URJUHVVRPHXEHPPHXPDO
+RPHPSUHGDGRUFLYLOL]DGR
12
$TXDQWDVDQGDQRVVRVLVWHPDHFROyJLFR"
9LYDDGLIHUHQoD
8PDOLomRVHOYDJHP
13
Dizem os brancos que os indígenas são ingênuos e ignorantes, dando
muita importância ao pensamento mágico e mítico que rege as culturas
primitivas. No entanto, podemos parar um pouco e pensar que o pensamento
racionalista, científico, do homem branco, tem nos ajudado a evoluir e a
progredir em todos os terrenos da atuação humana, mas, no entanto, ele com
certeza, não pode garantir nossa sobrevivência como espécie. A mesma razão
“branca” que descobre a cura das doenças e calcula a idade do universo,
também produz a bomba atômica e devasta o meio-ambiente. Sendo assim,
seria muito bom que o homem pudesse voltar-se, de vez em quando, às lições
de povos que pensam e agem de maneira radicalmente diferente da sua.
Uma das lições mais brilhantes de um habitante da floresta foi recolhida
pelo francês Jean de Léry, no século XVI, de um velho índio tupinambá.
O índio e seus companheiros intrigavam-se com a intensa divisão do
trabalho existente entre os colonizadores, não entendendo como as coisas que
usavam não eram produzidas por eles próprios. Para um índio, cada um
fabrica as coisas que usa e, de modo geral, todos fazem de tudo. Outra
divergência estava na finalidade do trabalho. As sociedades indígenas
recusavam o trabalho excessivo, não por incapacidade ou indolência, mas por
considerá-lo inútil. Sem a ambição do branco em dedicar-se ao acúmulo de
riquezas, eles limitavam-se a satisfazer suas necessidades pessoais, vivendo
felizes desta maneira. O índio, trabalhava para viver, o branco parecia viver
para trabalhar. Por isso, os índios não entendiam por que o colonizador vinha
de tão longe para tirar tanta madeira da floresta.
“- Os nossos tupinambás muito se admiram de os franceses e outros
estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutã. Por quê vindes
vós outros, maíres e perôs (franceses e portugueses), buscar lenha de tão
longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra? Seria pra levá-la
a algum deus?
Respondi que tínhamos muita, mas não daquela qualidade, e que não a
queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraímos tinta para tingir, tal
qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas. Retrucou o
velho imediatamente:
- E porventura precisais de muito?
- Sim - respondi-lhe - pois no nosso país existem negociantes que
possuem mais panos, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis
imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios
voltam carregados.
14
- Ah! - retrucou o selvagem - tu me contas maravilhas - acrescentando
depois de bem compreender o que eu lhe dissera - Mas esse homem tão rico
de que me falas não morre?
- Sim - disse eu - morre como os outros.
Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer
assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo:
- E quando morrem para quem fica o que deixam?
- Para seus filhos, se os têm - respondi - na falta destes, para os irmãos
ou parentes mais próximos.
- Na verdade - continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum
tolo - agora vejo que vós outros maíres sois grandes loucos, pois atravessam o
mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e
trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que
vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los
também? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de
que depois de nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso
descansamos sem maiores cuidados.”
)DWRVTXHVHUHSHWHPOLo}HVTXHQmRVHDSUHQGHP
17
O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não
tramou o tecido da vida: ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer
ao tecido, fará a si mesmo.
Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala com ele de amigo
para amigo, não pode estar isento do destino comum. É possível que sejamos
irmãos, apesar de tudo. Veremos. De uma coisa estamos certos - e o homem
branco poderá vir a descobrir um dia: nosso Deus é o mesmo Deus. Vocês
podem pensar que O possuem, como desejam possuir nossa terra: mas não é
possível. Ele é o Deus do homem, e Sua compaixão é igual para o homem
vermelho e para o homem branco. A terra lhe é preciosa, e feri-la é desprezar
seu criador. Os brancos também passarão; talvez mais cedo que todas as
outras tribos. Contaminem suas camas, e uma noite serão sufocados pelos
próprios dejetos.
Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente,
iluminados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão
especial lhes deu o domínio sobre a terra e sobre o homem vermelho. Esse é
um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam
exterminados, os cavalos bravios sejam todos domados, os recantos secretos
da floresta densa impregnados do cheiro de muitos homens, e a visão dos
morros obstruída por fios que falam. Onde está o arvoredo? Desapareceu.
Onde está a águia? Desapareceu. É o final da vida e o início da sobrevivência.
3$8%5$6,/0,/(80$87,/,'$'(6"
,Q~WLOSDLVDJHP"
(YROXLUVHPSUHGHVWUXLUMDPDLV
'DPDGHLUDDRFRUDQWH
19
&RPRH[WUDLUGRSDXEUDVLOVXDWLQWDFRUDQWH
• Quantidade.
Junte 500 g de serragem para cada kg de fibras.
• Tratamento
Coloque a serragem em um balde com 7 litros de água na temperatura
ambiente. Acrescente uma colher de sopa (10 ml) de amoníaco. Misture bem e
deixe de molho por uma noite.
• Tingimento
Ferva por uma hora em tacho de cobre.
Coe separando a serragem da tintura.
Mergulhe as meadas.
Cozinhe por 1 hora a 90º C.
Retire as meadas e coloque-as à sombra para tomar ar por um dia.
Retorne ao banho e cozinhe por mais 30 minutos.
Enxagüe em água corrente.
3DXSUDWRGDREUD
03%0~VLFDGRSDXEUDVLO
20
Com esta é impossível não filosofar um pouquinho. Quem diria: um
país extremamente musical tem como nome de batismo (versão que cai como
uma luva neste raciocínio) uma madeira da qual se extrai música! Estava
escrito! Somos brasileiros e musicais, brasileira e musicalmente enraízados.
Abstrações filosóficas à parte, vamos aos fatos concretos. Segundo dados
históricos, coube a um gênio projetista francês do século XVIII, François
Tourte, a criação do arco de violino a partir da madeira considerada a ideal - o
pau-brasil - conhecido na França também como “Fernambouc”, uma
corruptela de Pernambuco. Mas aqui, toda a elevação espititual que o som de
um violino pode suscitar fica bastante comprometida quando se sabe que
tanto não se fazem omeletes sem se quebrarem os ovos, quanto não se fazem
arcos de violino sem se derrubarem árvores.
Os dados a respeito do uso do pau-brasil na confecção de arcos de
violino são bastante incompletos. Não existem números confiáveis sobre a
quantidade de madeira exportada para este propósito e quanto se gasta de
madeira para se fazer um arco. Negociantes de madeira relutam em divulgar
estas informações, mas estima-se que anualmente negociam-se 200 metros
cúbicos, embora este número possa aumentar, pois muita madeira é gasta no
processo de fabricação dos arcos. (Um arco de violino típico requer o uso de 1
kg de madeira).
O preço dos arcos varia de 2 mil a 5 mil dólares, sendo que nos Estados
Unidos a média é maior do que na Europa. Existem poucos negociantes que
importam a madeira para a Europa e para os EUA (três ou quatro
comerciantes nestas localidades) e eles também suprem a demanda asiática do
produto.
A estimativa no número de profissionais que confeccionam arcos de
violino varia mas a 7KH 6WUDG 'LUHFWRU\ (uma lista dos maiores
confeccionadores e vendedores de arcos de violino do mundo) calcula mais de
250 nomes, entre pessoas e empresas. Imagina-se que existam no mundo
cerca de 700 profissionais envolvidos na confecção dos arcos, sendo a grande
maioria residente nos Estados Unidos, embora na Alemanha e na China haja
um significativo número deles. No entanto, nem todos usam o pau-brasil. Na
China, por exemplo, são usadas madeiras locais como a “Beech Fagus sp.” e
no Brasil, alguns utilizam-se de uma espécie amazônica que, embora resulte
em arcos de menor qualidade, serve bem aos propósitos de estudantes de
violino. Um pequeno número de empresas está fabricando arcos com fibra de
carbono, mas muitos músicos relutam em usá-los.
A maioria dos confeccionadores de arcos trabalha sozinha e produz, no
máximo, cerca de 50 arcos por ano, mas muitas empresas empregam de 10 a
21
20 pessoas, aumentando a produção especializada em arcos mais baratos para
estudantes do instrumento. A maior produtora da Europa, por exemplo, é uma
companhia suíça que vem fabricando 3000 arcos por ano, nos últimos 25
anos. Cerca de 75% dos arcos europeus são confeccionados por mais ou
menos 10 oficinas da Alemanha, França e Suíça.
Muito da madeira é processada no Brasil, reduzindo as toras brutas em
cerca de um 1/4. Esforços são feitos para garantir a obtenção de pranchas com
textura lisa, sem nós ou fendas. As pranchas são então exportadas e vendidas
aos clientes que as armazenam para secagem. Depois, então, elas são cortadas
em forma de arco, moldadas nas formas requeridas e secas novamente.
Algumas companhias no Brasil já cortam a madeira diretamente em forma de
arco para exportação.
O que deve ser cobrado das autoridades competentes é uma rigorosa
vigilância sobre essa indústria, a fim de evitarem abusos que levem a novos
desastres ecológicos. Caso contrário, cada vez que um arco de violino no
mundo fizer gemer o instrumento, seremos forçados a nele reconhecer o grito
lancinante de um pau-brasil caindo ao chão, indefeso!
3$8%5$6,/80$+,67Ï5,$'(08,7$6&85,26,'$'(6
Esta seção bem que poderia se chamar Você sabia quê?”, pois são
inúmeras as curiosidades que cercam a história de nossa madeira. Muito bem,
prepare seu espírito fofoqueiro e vamos bisbilhotar um pouco a vida da velha
senhora &DHVDOSLQLD
23
não fossem ajudados pelos selvagens não poderiam sequer em um ano
carregar um navio de tamanho médio.
Os selvagens, em troca de algumas roupas, chapéus, facas, machados
(...) cortam, serram, racham, atoram e desbastam o pau-brasil, transportando-o
nos ombros nus às vezes de 2 a 3 léguas (de 13 a 20 quilômetros) por sítios
escabrosos, até a costa junto aos navios ancorados, onde os marinheiros o
recebem.” (Jean de Lery - Viagem à Terra do Brasil - 1557)
24
• O pau-brasil é coisa nossa!
Diogo de Campos Moreno, a quem se atribui o “Livro que dá razão do
Estado do Brasil”, defendeu o corte de pau-brasil pelos habitantes da
Capitania de Porto Seguro que, para ele, seria o único “remédio” para
diminuir um pouco a penúria em que a população vivia.
• Je t’aime, pau-brasil
Os franceses chegaram com uma expedição ao rio Doce onde os nativos
tentaram convencê-los a desembarcar, com a condição de que ajudariam a
cortar e carregar a madeira na nau. Os franceses não acreditaram: se
aceitassem, seriam facilmente dominados e talvez comidos. Em 1558, outra
nau francesa apareceu, desta vez em Itapemirim, na Capitania do Espírito
Santo. Não teve tanta sorte: os tripulantes desceram, foram combatidos e vinte
deles presos. Portugal chegou a fortificar Porto Seguro para rechaçar os
invasores.
25
• Durante excursão que realizou pela “costa do pau-brasil”, em 1981, o
botânico Francismar Francisco Alves Aguiar encontrou vários povoados
com o nome de Pau-brasil.
• “Eu mesmo nunca vi pau-brasil, nem sei pra que serve.” e “A professora
nunca me falou dele.” são frases recolhidas entre os habitantes de Pau-
brasil (ES), no início da década de 80.
26
• Não há registros da existência do pau-brasil no sul do país e nem sequer na
Amazônia. Não há referência dele nessas regiões nem mesmo pelos índios
que as habitavam.
/(*,6/$d280',5(,72'$)/25(67$
3DXEUDVLOHVVHIRUDGDOHL
([FHVVRHSXQLomR"
28
equilíbrio da natureza, mas pela evasão dessa riqueza sem controle da corte.
As normas, porém, jamais foram cumpridas.
/HLHFROyJLFDRXOHLGHPHUFDGR"
0DGHLUDVGHOHL
,]DEHODSULQFHVDTXHOLEHURXJHUDO
3UHFLVDVHGHFyGLJRIORUHVWDO7UDWDUDTXL
,QFRQVWLWXFLRQDOLVVLPDPHQWH
'RSULPHLURFyGLJRIORUHVWDODJHQWHQXQFDHVTXHFH"
$iUYRUHTXHIDOWRXjFHULP{QLDGHVXDSUHPLDomR
30
$35(6(59$d2'23$8%5$6,/
3UHVHUYHRTXHpVHX
)XQGDomR1DFLRQDOGR3DXEUDVLO3(
0XLWRDOpPGR-DUGLP%RWkQLFR5-
,QVWLWXWR)ORUHVWDO63
5HVHUYDELROyJLFD%$
32
3(53(&7,9$6,$&/21$*(0'$(63e&,(
+\%UDVLO+HOOR'ROO\
%DKLDXPSRUWRVHJXURSDUDRSDXEUDVLO
33
'HVFREULQGRRSDXEUDVLO
$HVFDODGD
5HSODQWDQGRR%UDVLO
3(563(&7,9$6,,(67$d2(&2/Ï*,&$'23$8%5$6,/
3Uy[LPD(VWDomR3DXEUDVLO
3(563(&7,9$6,,,80)Ï5803$5$23$8%5$6,/
2FRQFtOLRGDSUHVHUYDomR
3$8%5$6,/$32(6,$'((;3257$d2
0$1,)(672'$32(6,$3$8%5$6,/
37
bailes e das frases feitas. Negras de jockey. Odaliscas no Catumbi. Falar
difícil.
38
Houve um fenômeno de democratização estética nas cinco partes sábias
do mundo. Instituíra-se o naturalismo. Copiar. Quadro de carneiros que não
fosse lã mesmo, não prestava. A interpretação no dicionário oral das Escolas
de Belas Artes queria dizer reproduzir igualzinho... Veio a pirogravura. As
meninas de todos os lares ficaram artistas. Apareceu a máquina fotográfica. E
com todas as prerrogativas do cabelo grande, da caspa e da misteriosa
genialidade de olho virado - o artista fotógrafo.
Na música, o piano invadiu as saletas nuas, de folhinha na parede.
Todas as meninas ficaram pianistas. Surgiu o piano de manivela, o piano de
patas. À pleyela. E a ironia eslava compôs para a pleyela. Stravinski.
A estatuária andou atrás. As procissões saíram novinhas das fábricas.
Só não se inventou uma máquina de fazer versos - já havia o poeta
parnasiano.
Oswald de Andrade
80'2&80(172+,67Ï5,&2'(
Eu El-rei. Faço saber aos que este Meu regimento virem, que sendo
informado das muitas desordens que ha no certão do páo brasil, e na
conservação delle, de que se tem seguido haver hoje muita falta, e ir-se buscar
muitas legoas pelo certão dentro, cada vez será o damno mayor se se não
atalhar, e der nisso a Ordem conveniente, e necessária, como em cousa de
tanta importancia para a Minha Real Fazenda, tomando informações de
pessoas de experiência das partes do Brasil, e comunicando-as com as do Meu
Conselho, Mandei fazer este Regimento, que Hei por bem, e Mando se guarde
daqui em diante inviolavelmente.
Primeiramente Hei por bem, e Mando, que nenhuma pessoa possa
cortar, nem mandar cortar o dito páo brasil, por si, ou seus escravos ou
Feitores seus, sem expressa licença, ou escripto do Provedor mór de Minha
Fazenda, de cada uma das Capitanias, em cujo destricto estiver a mata, em
que se houver de cortar; e o que o contrário fizer encorrerá em pena de morte
e confiscação de toda sua fazenda.
O dito Provedor Mór para dar a tal licença tomará informação da
qualidade da pessoa, que lha pede, e se della ha alguma suspeita, que o
descaminhará, ou furtará ou dará a quem o haja de fazer.
O dito Provedor Mór fará fazer um livro por elle assignado e
numerado, no qual se registrarão todas as licenças que assim der, declarando
os nomes e mais confrontações necessarias das pessoas a que se derem, e se
declarará a quantidade de páo para que se lhe dê licença, e se obrigará a
entregar ao contractador toda a dita quantidade, que trata na certidão, para
com ella vir confrontar o assento do Livro, de que se fará declaração, e nos
ditos assentos assignará a pessoa que levar a certidão, e a pessoa, que levar a
licença, com o Escrivão.
E toda a pessoa, que tomar mais quantidade de páo de que lhe for
dada licença, além de o perder para Minha Fazenda, se o mais que cortar
passar de dez quintaes, incorrerá em pena de cem cruzados, e se passar de
cincoenta quintaes, sendo peão, será açoutado, e degradado por des annos
para Angola, e passando de cem quintaes morrerá por elle, e perderá toda sua
fazenda.
O provedor fará repartição das ditas licenças em o modo, que cada
um dos moradores da Capitania, a que se houver de fazer o córte, tenha sua
42
parte, segundo a possibilidade de cada um, e que em todos se não exceda a
quantidade que lhe for ordenada.
Para que não córte mais quantidade de páo da que eu tiver dada
por contracto, nem se carregue a cada Capitania, mais da que boamente se
póde tirar della; Hei por bem, e Mando, que em cada um anno se faça
repartição da quantidade do páo, que se ha de cortar em cada uma das
Capitanias, em que ha mata delle, de modo que em todo se não exceda a
quantidade do Contracto.
A dita Repartição do páo que se ha de cortar em cada Capitania se
fará em presença do Meu Governador daquelle Estado pelo Provedor Mór da
Minha Fazenda, e Officiaes da Camara da Bahia, e nella se terá respeito do
estado das matas de cada uma das ditas Capitanias, para lhe não carregarem
mais, nem menos páo do que convém para benefício das ditas matas, e do que
se determinar aos mais votos, se fará assento pelo Escrivão da Camara, e
delles se tirarão Provisões em nome do Governador, e por elle assignadas, que
se mandarão aos Provedores das ditas Capitanias para as executarem.
Por ter informação, que uma das cousas, que maior damno tem
causado nas ditas mattas, em que se perde, e destroe mais páos, é por os
Contractadores não aceitarem todo o que se córta, sendo bom, e de receber, e
querem que todo o que se lhe dá seja roliço, e massiço do que se segue ficar
pelos mattos muitos dos ramos e ilhargas perdidas, sendo todo elle bom, e
conveniente para o uso das tintas: Mando a que daqui em diante se aproveite
todo o que fôr de receber, e não se deixe pelos matos nenhum páo cortado,
assim dos ditos ramos, como das ilhargas, e que os contractadores o recebão
todo, e havendo duvida se é de receber, a determinará o Provedor da Minha
Fazenda com informação de pessoas de credito ajuramentadas; e porque
outrosym sou informado, que a causa de se extinguirem as matas do dito páo
como hoje estão, e não tornarem as árvores a brotar, é pelo mao modo com
que se fazem os córtes, não lhe deixando ramos, e varas, que vão crescendo, e
por se lhe pôr fogo nas raizes, para fazerem roças; Hei por bem, e Mando, que
daqui em diante se não fação roças em terras de matas de páo do brasil, e
serão para isso coutadas com todas as penas, e defesas, que estas coutadas
Reaes, e que nos ditos córtes se tenhão muito tento á conservação das arvores
para que tornem a brotar, deixando-lhes varas, e troncos com que os possão
fazer, e os que o contrario fizerem serão castigados com as penas, que parecer
ao Julgador.
Hei por bem, e Mando, que todos os annos se tire devassa do córte
do páo brasil, na qual se perguntará pelos que quebrarão, e foram contra este
Regimento.
43
E para que em todo haja guarda e vigilância, que convém Hei por
bem, que em cada Capitania, das em que houver matas do dito páo, haja
guardas, duas dellas, que terão de seu ordenado a vintema das condemnações
que por sua denunciação se fizeram, as quaes guardas serão nomeadas pelas
Camaras, e approvadas pelos Provedores de Minha Fazenda, e se lhes dará
juramento, que bem, e verdadeiramente fação seus Officios.
O qual Regimento Mando se cumpra, e guarde como nelle se
contém e ao Governador do dito Estado, e ao Provedor Mór da Minha
Fazenda, e aos Provedores das Capitanias, e a todas as justiças dellas, que
assim o cumprão, e guarde, e fação cumprir, e guardar sob as penas nelle
contheudas; o qual se registrará nos Livros da Minha Fazenda do dito Estado,
e nas Camaras das Capitanias, aonde houver matas do dito páo, e valerá posto
que não passe por carta em meu nome, e o effeitto della haja de durar mais de
um anno, sem embargo da Ordenação do segundo Livro, titulo trinta e nove,
que o contrario dispoem. Francisco Ferreira o fês a 12 de Dezembro de 1605.
E eu o Secretário Pedro da Costa o fis escrever “Rey”.
80$3$/$95$),1$/$5(63(,72'$35,0(,5$3$/$95$
'2%5$6,/
45