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O âmbito competitivo do esporte determina inexorabilidade de um vencido e de um

vencedor, todavia outro aspecto possibilita sua permanência na contemporaneidade. Trata-se


da moral esportiva: nem demasiadamente branda a ponto dos competidores degladiarem-se,
nem demasiadamente rígida para não fomentar desinteresse. Entre esses extremos,
encontra-se a liberdade religiosa que é usar vestimentas desportivas e de devoção, algo não só
vital para o convívio multicultural, mas também autorreferencial à índole pan-acolhedora do
esporte.
Apesar do conflito intercultural que estorva o ideal multicultural esportivo entre valores
ocidentais europeus e valores orientais islâmicos, sua solução não se dá pela via radical. As
ideias de Boaventura de Sousa Santos, sociólogo português, sobre a hermenêutica diatópica
que esteja mais vinculada ao universalismo dos direitos humanos pertence à discussão, posto
que elas contemplam tanto as particularidades locais, quanto a direção projetada visando à
sintonia coletiva global. Por essa ótica, o multiculturalismo harmônico e necessário para o
esporte ocorre, não pela interdição de tradições milenares, e sim, pela liberdade dada aos seus
integrantes.
Ademais, o grande marco esportivo reside justamente em sua capacidade
pan-acolhedora capaz de transmutar a índole humana competitiva em um espaço não-sectário.
Não é por acaso que os jogos olímpicos ocorrem em cidades capazes de atender a uma
demanda internacional de indivíduos culturalmente antípodas, mas essencialmente humanos.
Por isso, as falas da Agnès Buzyn, da Aurore Bergé e da Lydia Guirous destoam do coeso
ideário desportivo e revelam suas idiossincrasias resultantes de uma politização profusa.
Nesse sentido, o esporte ganha mais sendo permissivo com as distintas manifestações
culturais que buscando uma politização excessiva com o radicalismo sectário. A via diplomática
segue como a melhor resolução, pois, onde a competição e a partidarização reinam durante o
jogo, fora dele, deve-se buscar um clima harmônico que respeite as tradições pessoais e
mantenha o ​fair play​. Afinal, porque a expressão "levar na esportiva" associa o esporte com a
ponderação, senão por ambos estarem intrinsecamente juntos?

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