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1. A PARTIDA
Mas de Camila, a jovem elfo, não se ouvia nada. Ela estava apenas
levantando a cabeça desnorteada, até que olhando a mãe, com seu
olhar triste e desapontado, perguntou:
- Vai dar nove horas... Há 15 anos você depende de mim para não
perder a hora. Até quando?
E logo em seguida voltou para dentro. Acontece que aquele dia era
muito especial. Na vila dos elfos, quando os jovens completavam 15
anos, eles saiam de suas casas e iam em busca de suas próprias vidas
buscando trabalho, lar, comida e parceiros. Camila, naquele dia,
completava 16 anos, e ainda estava morando com seus pais, isto já era
motivo suficiente para se tornar a desonra da família. Então por
decisão de seus pais, ela iria embora hoje, estando pronta ou não.
A jovem arrumou suas malas, e se preparou para partir. Na saída, se
reuniu com seus pais e sua irmã mais nova para se despedir, esta,
segurando o choro olhou no fundo de seus olhos e falou:
- Não, vai ser assim olha: eu vou sair, procurar uma casa legal, fazer
minhas coisas e depois, quando terminar, vou voltar aqui pra contar
minhas aventuras e te levar pra visitar a minha casa. Você já não sabe
que eu sou corajosa? Vai ser rapidinho relaxa! Vai ficar tudo de boa!
Tá bom?
- Tá...
E fungando o nariz, sua irmã se acalmou. Sua mãe, ainda séria, pegou
uma mochila, e disse:
- Não está não!... Toma aqui, tem comida pra 3 dias mais ou menos.
- Cuidado lá em filha...
Então sua mãe respondeu como se estivesse falando com uma criança:
- Já sei, vou ir lá no Uzi. O cara vai saber me ajudar! Ele é meu melhor
amigo...
Então ela secou suas lágrimas e caminhou por quase duas horas, até
chegar no reino dos magos, Motherock, que ficava na mesma floresta
que sua aldeia.
Motherock era um dos poucos lugares que Camila conhecia, mas era
um dos mais interessantes. “Um reino específico de magos é uma
coisa muito incrível!” ela pensava, pois a cada esquina se encontrava
uma surpresa diferente: gatos com asas de morcego, peixes com
pernas, dragões pairando pelos céus, poções duvidosas e palavras
estranhas que faziam tudo mudar.
Uzi, seu melhor amigo, era um jovem mago. Alto e inteligente, ele
vem de uma linhagem específica de bruxos que trabalham com
matérias da natureza. Sendo assim, ele consequentemente conhecia
da mais simples a mais peculiar planta que poderia gerar poções
malignas, ou um simples chá para tosse.
Ele ficava na universidade de bruxos mais renomada do reino, todos
os professores eram muito rigorosos e nunca deixavam os alunos atoa
por muito tempo. Então ele estava sempre andando com frascos e
pergaminhos por aí com seu manto branco e azul. “É realmente a cara
dele!” pensava Camila rindo mentalmente.
Mesmo sendo muito bem protegida, Camila sempre conseguia entrar
escondido na Universidade pra ver seu amigo, ela vivia com seu arco e
flecha nas costas. Passava escondida pelos guardas, e amarrava sua
corda em uma flecha e atirava na prateleira de janela da torre onde
Uzi dormia. Ela sempre foi boa de mira, mas nem sempre acertava, na
tora de madeira para poder escalar. Então, de vez em quando, Uzi
tinha que dar desculpas dizendo que suas experiencias deram um
resultado meio perigoso...
Ao chegar na Universidade, Camila pegou sua corda e amarrou
firmemente numa flecha, e rindo sussurrou:
- DE NOVO DESGRAÇA?!
- De novo isso mulher! Não tem um mês que você não quebre a
janela! O inspetor já veio aqui tantas vezes que eu tive que dizer que
estou trabalhando num projétil, vivo que obedece a ordens que nem
um cachorro, mas que ele sempre foge quebrando a vidraça.
- Pow Camila, você sabe que eu faço isso pelo seu bem! Sua família
não iria gostar de receber um cara em casa sendo que você já tem 16
anos, você sabe!
Camila riu, sabia o que ele estava tentando fazer. E, logo em seguida,
para surpresa dos dois, ela por impulso, simplesmente o abraçou...
Preocupado, Uzi disse:
- Camila calma!
Ele a abraçou de volta, e quando ele sentiu que ela tinha ficado mais
tranquila, ele a soltou e disse:
- Vem cá, senta aqui do meu lado... Fala pra mim, o que está
acontecendo?
- “Já” nada Uzi! Você sabe muito bem que eu estava atrasada! E o pior
é que eu não tenho nada... Eu não faço a mínima ideia do que fazer,
pra onde ir... É como se o mundo inteiro estivesse me julgando e
esperando eu estragar ainda mais as coisas, é horrível!
- Ah... Não é tão ruim assim Camila. Se tu for parar pra pensar, se
você arrumar um trabalho, metade dos seus problemas vão ir embora.
- Mas como eu vou fazer isso, se eu nem sei qual é meu elemento
cara?!
Oque ela estava tentando dizer, era que deis de crianças, com mais
ou menos 5 anos de idade, os elfos manifestam uma habilidade
baseada nos quatro elementos: Terra, fogo, água e ar. Dependendo de
qual elemento você herdar da natureza, você recebe uma função
diferente.
Elfos com o elemento fogo, tem a capacidade de dominá-lo, sendo
assim são responsáveis por aquecer as casas e os minérios que são
garimpados. Também, são eles que cuidam dos incêndios florestais,
que vem com as tempestades, e os incêndios domésticos que
acontecem com frequência na aldeia.
Além de cuidarem da iluminação das ruas. Quando o sol se põe, eles
vão em cada rua e acendem as tochas com um fogo próprio para
iluminação, um fogo que nunca se apaga.
Já os elfos da terra, são responsáveis pela comida e arquitetura da
cidade. Eles abrem planícies para construção de casas, ou fazem
pastos para as ovelhas e vacas.
Além de tornarem a terra fértil para o plantio, mas, essa tarefa não
depende só deles. Pois é aí que entram os elfos do ar.
Esses, são responsáveis por trazer as brisas e ventanias. Mas acima de
tudo, são os elfos do ar que trazem as estações do ano para a vila,
então, sem eles não temos tempo de colheita, dias quentes ou frios. E,
muito menos, a delicada neve, ou, o doce aroma das flores que
desabrocham na primavera.
E por último, existem ainda, os elfos do elemento água. Mesmo
parecendo simples, elfos da água representam a base da vida moderna
na vila. São eles que trazem o saneamento e a água potável. Também
são eles que fazem os rios passarem pelos lugares certos.
Todos os elfos tem seu papel muito bem definido na sociedade, todos
tem uma função, uma utilidade. Os cidadãos viviam em paz
trabalhando em equipe.
Porém Camila era excluída, pois ela não sabia qual era seu elemento.
Ela nunca teve sequer indícios de qual eram seus dons, ou sua função
de vida, ou pelo menos o motivo de sua existência...
Ela dizia se sentir culpada, mas na verdade, ela nunca se importou.
Na maior parte do tempo, sua mente não se importa com nada e nem
ninguém. Isso gerava motivos e justificativas para ser rotulada de
egoísta por sua mãe, que a conhecia mais do que ela mesma. Pelo
menos, era no que ambas acreditavam...
Só que, como mudar algo que está dentro de você, que sempre fez
parte da sua personalidade, nunca te causou problemas por estar ali, e
que já serviu de defesa para você? Ela não fazia ideia. E pra falar a
verdade, ela não se importava com isso, pois “na maior parte do
tempo, sua mente não se importa com nada e nem ninguém...”
Pois bem, após explicar detalhadamente a seu amigo sobre as classes
operárias de cada elfo, por mais que triste, ela já estava bem mais
calma. Camila olhou pros lados e exclamou na esperança de não ser
só uma pergunta retórica:
- Se eu não tenho nem um elemento, como é que eu vou conseguir
uma casa Uzi?
Uzi então, tentou mostrá-la que nem tudo estava perdido, e que ela
ainda poderia ter alguma utilidade:
- Sim...
- Não tem elemento certo pra essa profissão, porque você não precisa
de elemento pra isso!
- Camila, agora que você falou isso eu pensei aqui, aquela tua amiga, a
fada. A espécie dela também não tem esse negócio de sair de casa ou
algo assim?
- Quem?... A Letícia? Ahh... Bom, ela tinha me dito que assim que as
fadas nascem, elas já se tornam independentes. Elas não são de viver
em bando, então só as fortes sobrevivem.
- Então, mulher! Fala com ela e pede ajuda, a bichinha teve que se
virar assim que nasceu, com certeza sabe oque fazer.
-É que... A gente não se fala mais... Tivemos alguns problemas, e ela
só parou de falar comigo. Não sei se seria uma boa ideia, não quero
ser interesseira.
- Camila, é situação de vida ou morte. Se ela é uma pessoa tão incrível
quanto você sempre diz, ela vai te ajudar independente disso. Até
poque, uma pessoa é uma pessoa. Devemos ajudar independente dos
problemas que a gente tem com ela.
- É... Você tem razão, eu vou lá falar com ela. Tchau Uzi.