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Nota técnica n.

1/2021, de 05 de novembro de 2021


Diego Willan Leite do Vale (¹)

NOTA TÉCNICA que expede a Coordenação da Área do


Direito junto à Coordenação jurídica da EMPRESA S/A -
especialmente em vista da necessidade de análise do caso
concreto apresentado, celebrado em total acordo com a
legislação pátria, aplicando-se o inteiro teor desta Nota
Técnica, igualmente, aos casos congêneres.

Introdução

Inicialmente, importa salientar que a sistemática de emissão de Nota Técnica do setor jurídico
não é de exclusividade do setor público ou privado, sendo adotada por diversos âmbitos de estudo e
atuação, que não envolvem somente a parte técnica e jurídica, mas diversas áreas científicas. Assim,
sua interpretação não é vinculante e deve ser analisada sistematicamente com as pesquisas e dados
apresentados no período de análise.

Além disso, a presente nota técnica não substitui os demais pareceres técnicos especializados,
bem como a soberania da decisão da instituição que está ligada, na medida em que este são os
detentores da revisão final, portanto, estão aptos a analisar todas as nuances sociais, cientificas e
políticas atinentes a cada proposição destacada.

Assim, a presente análise jurídica exarada não tem força vinculante, não podendo ser analisada
separadamente sem uma apresentação sistemática dos dados apresentados no período de consulta
verificado. Ademais, a conclusão emitida é estritamente jurídica e pode não corroborar com outras
análises cientificas dos diversos ramos envolvidos.

Considerações

Considerando que houve procura para emissão de nota técnica para o seguinte caso: cliente que
recebeu boleto com as informações de cobrança, mas sem existência de nota fiscal com numerações
que vinculam a origem da obrigação, tratando-se de suposta fraude; e

Considerando que houve pedido a empresa cliente para verificar as medidas cabíveis para
coibir a referente tentativa de golpe é cabível apresentar a seguinte nota técnica, que tem suas
considerações delineada abaixo.

Análise

Na situação jurídica apresenta é possível verificar que há uma suposta relação jurídica entre a
empresa cliente - que recebeu um boleto bancário contendo informações de cobrança, mas que
estavam desprovidas de qualquer nota fiscal que vinculassem a existência dessa relação comercial – e
¹¹
Advogado especialista do Programa de Pós-Graduação em direito tributário e empresarial da Faculdade de Educação do
Piauí | diegoleite@urbanovitalino.com.br

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o fornecedor dessa empresa. Ao final, a área comercial da empresa supõe que seja uma fraude e
requer a nota técnica de seu setor jurídico.

Inicialmente, sobre a situação apontada, insta destaca que os boletos bancários não estão
acompanhados de notas fiscais. Como esses documentos fiscais são obrigatórios e vinculação a
operação comercial, cabe aqui uma cautela por parte da empresa no sentido verificar a real origem da
suposta obrigação, pois, caso realmente exista uma obrigação baseada em algum outro documento ou
mesmo título executivo, é prudente constar que se trata realmente de uma fraude, antes de tomar
qualquer atitude. Inclusive, é possível que haja uma obrigação não cumprida pela empresa, que
poderá acarretar uma ação de cobrança ou mesmo em uma execução.

Desse modo, é importante analisar os documentos que foram apresentados pelo fornecedor,
pois a depender do documento de cobrança é possível que este seja um título capaz de geram uma
ação executiva.

Agindo de forma cautelosa, a empresa deve verificar, no momento do pagamento, se o nome


que aparece como beneficiário no pagamento eletrônico é o mesmo que está no boleto. Em caso de
nomes distintos, não se deve efetuar o pagamento, em caso de dúvida, é preciso observar os campos
do código de barras do boleto e conferir se correspondem com os dados da transação comercial.

Os títulos de crédito, por exemplo, são documentos necessários ao exercício de direitos neles
contidos e somente traduzem efeito quando preenchem os requisitos legais. Por isso, averiguar a
origem da relação comercial do presente caso é tão importante.

Todos os títulos enumerados pelo artigo 784 do Código de Processo Civil – CPC, seja
particular ou público, autorizam a execução forçada. Por isso, estrategicamente é necessário que a
empresa se certifique de que realmente não houve qualquer obrigação comercial que tenha originado
a cobrança pleiteada.

Sabe-se que a nota fiscal é um documento que tem a finalidade de comprovar venda de
produtos e serviços de uma empresa para uma determinada pessoa física ou jurídica. Nesse sentido, é
necessário verificar a origem da transação para efeitos de tributação sobre a transação comercial.

Todo empreendedor deve emitir a nota fiscal ao fazer qualquer operação negocial. A obrigação
vale para os microempreendedores individuais (MEIs), para o microempreendedor (ME) e para as
empresas de pequeno porte (EPPs).

Assim, a emissão de Nota Fiscal - NF é obrigatória para a maioria das empresas, mas o
Microempreendedor Individual está dispensado quando o consumidor é pessoa física. Portanto, é
preciso ficar atento a essa exceção. Todavia, na presente situação é possível verificar que o
consumidor não é uma pessoa física. Portanto, a expedição da nota fiscal é obrigatória.

Nesse sentido, para que tal negócio jurídico tenha sua existência comprovada e seja apto para
qualquer demanda executiva é imprescindível a apresentação dos títulos executivos que originaram a
transação comercial.

Por outro lado, caso realmente tenha sido apresentado apenas a simples juntada de boletos
bancários e notas fiscais, sem nenhum documento, como uma letra de câmbio, duplicata ou cheque,

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não há que se falar em um título executivo extrajudicial e nem em um perigo efetivo de execução.
Apenas, seria possível que a empresa respondesse a uma ação de cobrança, em que deveria ser
comprovado a origem da obrigação.

Portanto, a empresa que desconhece a origem do suposto débito, analisando estrategicamente,


não deve realizar o pagamento em caso de dúvida quanto a origem da suposta transação, pois caso
seja demandada a pagar saberá a causa que deu origem a transação, mas caso pague errado um boleto
e exista uma relação comercial verdadeira, poderá ser demandada a realizar o pagamento novamente.

Por outro lado, considerando que realmente não houve nenhuma relação comercial que desse
origem ao boleto e que realmente há indícios de um suposto golpe, é necessário avaliar a situação e
os documentos para constatar a ocorrência ou não do golpe.

É imperioso afirmar que, antes de se determinar se houve realmente um golpe, não se pode
imputar um fato criminoso a uma pessoa sem provas, sob pena da configuração da tipificação penal
do crime de calúnia. Assim, o ideal é que a empresa evite entrar em contato direto com os supostos
fraudadores ou mesmo discutir sobre o ocorrido diretamente.

Em atenção ao caso apresentado é necessário agir estrategicamente, prevenindo a área


administrativa para que identifique os golpes, e, se for o caso, se já houver pagamento do boleto, a
empresa deve procurar seguir as orientações a seguir destacadas.

Inicialmente, deve-se constatar que se tratar realmente de um golpe. É preciso entender que,
atualmente, existem dois tipos de boletos bancários: os registrados e simples. O primeiro é mais
seguro e evitar inconsistências de pagamento, além de garantir maior transparência na relação
comercial.

Com a identificação e dados do pagador em um boleto registrado, o banco responsável pela


emissão do boleto pode realizar os protestos em caso de inadimplência, quando autorizado pelo
cedente e o nome do cliente pode ir para os órgãos de proteção ao crédito, como SPC ou SERASA,
fato que pode embasar uma ação de cobrança e uma execução da suposta obrigação. Por isso, a
cautela em verificar se transação comercial tem origem genuína.

Desse modo, a empresa pode verificar, em primeiro plano, se o boleto bancário é registrado ou
simples. Fato que pode ajudar a identificar fraude de uma forma mais efetiva, caso seja verificado o
número do banco de origem.

O segundo tipo de boleto, é um tipo não registrado e que não possui as mesmas características
de segurança e credibilidade e pode ser alterado ocasionado golpes como o que pode ter ocorrido no
presente caso analisado.

De acordo com as novas regras de boleto registrado, na maioria das transações não será mais
obrigada a emissão de novos boletos vencidos e para a emissão de 2ª via o código de barras não será
mais alterado, fato que dificulta a constatação de fraudes. Assim, é possível verificar essa numeração
para evitar cair em golpes.

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Nesse segundo tipo de boleto há uma instituição de pagamentos, que não são propriamente as
instituições bancárias, esses apenas recebem pagamentos em nome de terceiros. São empresas que
estão inclusas em uma plataforma registrando os boletos na sua base de dados, conforme autorização
pelo Banco Central.

Portanto, é prudente que seja notificado o Ministério Público estadual para que seja oficiado o
Banco Central – BACEN para investigar a origem do esquema fraudulento. Sendo possível, também
pode ser feito denuncia interna para o próprio BACEN, caso haja evidente indício de fraude na
emissão dos boletos.

Diante da constatação de um golpe referente a falsificação de boleto bancário a empresa deve


verificar se a presente relação pode ser constatada com de consumo, pois é dever de todo fornecedor
oferecer produtos seguros no mercado nacional, cumprindo com o que determina a Lei n.º 8.078, de
11 de setembro de 1990, e que a emissão de boletos bancário por terceiros conduzida por terceiro não
afasta dele esta responsabilidade.

Sobre o assunto é possível destacar que até mesmo as empresas podem ser consumidores e
fornecedoras de serviços. Por exemplo, as empresas ao consumirem os produtos bancários de uma
instituição financeira são consideradas consumidores, pois efetivamente não pertencem a cadeia
produtiva, apenas consomem um produto que o banco cobra por isso.

Ademais as fraudes referentes às cobranças são comuns e as vítimas da vez são sempre os
pagadores de boleto, que podem ser pessoas físicas ou jurídicas. Caso a empresa tenha caído em um
golpe de um boleto fraudado deve realizar procedimentos delineados na presente nota técnica.

Portanto, na presente situação jurídica apresentada a empresa que sofreu o golpe do boleto
fraudado é consumidor de um serviço bancário e foi prejudicada diante da falta de segurança
ocasionada pela má prestação da instituição, que deixou de promover um ambiente seguro de emissão
e validação de seus boletos.

Na presente situação analisada, é possível inferir que o boleto não foi expedido online, quando
não é emitido através do sistema de banco, mas por uma instituição bancária, que cobrou pelo serviço
de emissão.

Insta destacar, que o banco não poderia ser responsabilizado pela fraude, caso houvesse sido
feita a emissão registrada do boleto, pois ela não teria aconteceu dentro do seu ambiente de controle.

Assim, em regra, o responsável pelo ressarcimento é a instituição financeira que autorizou a


emissão do boleto bancário, pois conforme previsão do Código de Defesa do Consumidor é ele quem
deve proporcionar um ambiente de segurança e confiança para consumo.

Desse modo, a depender do registro ou não do boleto a instituição bancária pode vir a
responder pela reparação do dano ocasionado por um boleto fraudulento. Quando a transação
comercial é originada nas dependências comerciais de um estabelecimento em que o boleto falso foi
emitido. Portanto, seja no ambiente físico ou online das dependências da instituição financeira, esta
deverá responder pelos danos gerados, cabendo o ressarcimento do valor pago pelo boleto fraudado.

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Ou seja, a fraude em boleto bancário é responsabilidade da instituição financeira que
proporcionou a falha em sua segurança, permitindo a adulteração. Sobre tal responsabilidade é
possível constatar que é objetiva, ou seja, independe de culpa, pois a jurisprudência entende que a
instituição financeira deve assumir o risco pela sua atividade, que gera grandes benefícios
financeiros.

No boleto fraudado, a jurisprudência especializada segue o § 3º, do art. 14, do Código de


Defesa do Consumidor, que determina que o fornecedor do produto só deixa de ser o responsável
pela fraude quando prestar um serviço e não existem defeitos ou quando a culpa foi totalmente do
consumidor ou de terceiros envolvidos.

Se a empresa efetivamente tenha pagado um boleto falso, adulterado, é necessário tirar cópias
do boleto e do comprovante de pagamento e ir com os papéis e documentos registrar um boletim de
ocorrência ou se for o caso registrar um Termo Circunstanciado de Ocorrência – TCO na delegacia
especializada em defraudações da região local da empresa. Em seguida, é preciso procurar o banco
fornecedor do boleto de cobrança para efetivar o ressarcimento.

Conclusão

A presente publicação não pretende exaurir os preceitos e diretrizes de análise e gestão de risco
da empresa, mas apenas de balizar a sua decisão estratégica como base em uma investigação jurídica
das possíveis consequências jurídicas.

Com base nessas alegações, cabe frisar que a controvérsia trazida a lume cinge-se as medidas
adotadas para verificação de suposta tentativa de fraude, através de boleto bancário falso.

Como destacado, uma das primeiras iniciativas da empresa é avaliar se realmente está diante de
um golpe. O ideal é a que haja um sistema de prevenção de fraudes, que pode ser um mero
treinamento dos colaboradores para verificar o sistema de emissão de boletos, para constatar que os
códigos identificadores da transação batem com o débito.

Superado a fase da constatação do golpe, cabe analisar se houve o pagamento do boleto ou não.
No caso do pagamento do boleto falso já tiver sido efetivado é importante providenciar os registros
cabíveis da ocorrência e o contato com a instituição financeira expediu o boleto para que esta realize
a restituição dos valores pagos e forneça os dados necessários para evitar novos golpes. Nesse
sentido, é possível inferir que a instituição bancária é responsável solidariamente pela fraude
ocorrida, visto que os fraudadores utilizaram a rede mundial de computadores pelo sistema bancário
para realizar a fraude. Então, como o se beneficia das negociações eletrônicas e se mantêm inerte
quanto a prevenção de fraudes na emissão de seus boletos, cabe a ela a responsabilidade pela
reparação do dano ocorrido.

Todavia, acaso o banco se negue a realizar o pagamento, deve ser analisado o meio de cobrança
extrajudicial ou mesmo judicial adequado, como uma ação de restituição e reparação de danos, para
isso a empresa deve encaminhada a demanda detalhada para a avaliação da responsabilidade jurídica
do fornecedor.

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Diante dos documentos que já foram apresentados e da consulta realizada, é possível constatar
a responsabilidade objetiva da instituição bancária que expediu o boleto. Portanto, caso, de alguma
forma alguém tenha adulterado o boleto emitido, é prudente que a empresa realize todas as
precauções e providencias delineadas nessa nota técnica.

Diego Willan Leite do Vale


Departamento Jurídico

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