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Introdução
Inicialmente, importa salientar que a sistemática de emissão de Nota Técnica do setor jurídico
não é de exclusividade do setor público ou privado, sendo adotada por diversos âmbitos de estudo e
atuação, que não envolvem somente a parte técnica e jurídica, mas diversas áreas científicas. Assim,
sua interpretação não é vinculante e deve ser analisada sistematicamente com as pesquisas e dados
apresentados no período de análise.
Além disso, a presente nota técnica não substitui os demais pareceres técnicos especializados,
bem como a soberania da decisão da instituição que está ligada, na medida em que este são os
detentores da revisão final, portanto, estão aptos a analisar todas as nuances sociais, cientificas e
políticas atinentes a cada proposição destacada.
Assim, a presente análise jurídica exarada não tem força vinculante, não podendo ser analisada
separadamente sem uma apresentação sistemática dos dados apresentados no período de consulta
verificado. Ademais, a conclusão emitida é estritamente jurídica e pode não corroborar com outras
análises cientificas dos diversos ramos envolvidos.
Considerações
Considerando que houve procura para emissão de nota técnica para o seguinte caso: cliente que
recebeu boleto com as informações de cobrança, mas sem existência de nota fiscal com numerações
que vinculam a origem da obrigação, tratando-se de suposta fraude; e
Considerando que houve pedido a empresa cliente para verificar as medidas cabíveis para
coibir a referente tentativa de golpe é cabível apresentar a seguinte nota técnica, que tem suas
considerações delineada abaixo.
Análise
Na situação jurídica apresenta é possível verificar que há uma suposta relação jurídica entre a
empresa cliente - que recebeu um boleto bancário contendo informações de cobrança, mas que
estavam desprovidas de qualquer nota fiscal que vinculassem a existência dessa relação comercial – e
¹¹
Advogado especialista do Programa de Pós-Graduação em direito tributário e empresarial da Faculdade de Educação do
Piauí | diegoleite@urbanovitalino.com.br
Inicialmente, sobre a situação apontada, insta destaca que os boletos bancários não estão
acompanhados de notas fiscais. Como esses documentos fiscais são obrigatórios e vinculação a
operação comercial, cabe aqui uma cautela por parte da empresa no sentido verificar a real origem da
suposta obrigação, pois, caso realmente exista uma obrigação baseada em algum outro documento ou
mesmo título executivo, é prudente constar que se trata realmente de uma fraude, antes de tomar
qualquer atitude. Inclusive, é possível que haja uma obrigação não cumprida pela empresa, que
poderá acarretar uma ação de cobrança ou mesmo em uma execução.
Desse modo, é importante analisar os documentos que foram apresentados pelo fornecedor,
pois a depender do documento de cobrança é possível que este seja um título capaz de geram uma
ação executiva.
Os títulos de crédito, por exemplo, são documentos necessários ao exercício de direitos neles
contidos e somente traduzem efeito quando preenchem os requisitos legais. Por isso, averiguar a
origem da relação comercial do presente caso é tão importante.
Todos os títulos enumerados pelo artigo 784 do Código de Processo Civil – CPC, seja
particular ou público, autorizam a execução forçada. Por isso, estrategicamente é necessário que a
empresa se certifique de que realmente não houve qualquer obrigação comercial que tenha originado
a cobrança pleiteada.
Sabe-se que a nota fiscal é um documento que tem a finalidade de comprovar venda de
produtos e serviços de uma empresa para uma determinada pessoa física ou jurídica. Nesse sentido, é
necessário verificar a origem da transação para efeitos de tributação sobre a transação comercial.
Todo empreendedor deve emitir a nota fiscal ao fazer qualquer operação negocial. A obrigação
vale para os microempreendedores individuais (MEIs), para o microempreendedor (ME) e para as
empresas de pequeno porte (EPPs).
Assim, a emissão de Nota Fiscal - NF é obrigatória para a maioria das empresas, mas o
Microempreendedor Individual está dispensado quando o consumidor é pessoa física. Portanto, é
preciso ficar atento a essa exceção. Todavia, na presente situação é possível verificar que o
consumidor não é uma pessoa física. Portanto, a expedição da nota fiscal é obrigatória.
Nesse sentido, para que tal negócio jurídico tenha sua existência comprovada e seja apto para
qualquer demanda executiva é imprescindível a apresentação dos títulos executivos que originaram a
transação comercial.
Por outro lado, caso realmente tenha sido apresentado apenas a simples juntada de boletos
bancários e notas fiscais, sem nenhum documento, como uma letra de câmbio, duplicata ou cheque,
Por outro lado, considerando que realmente não houve nenhuma relação comercial que desse
origem ao boleto e que realmente há indícios de um suposto golpe, é necessário avaliar a situação e
os documentos para constatar a ocorrência ou não do golpe.
É imperioso afirmar que, antes de se determinar se houve realmente um golpe, não se pode
imputar um fato criminoso a uma pessoa sem provas, sob pena da configuração da tipificação penal
do crime de calúnia. Assim, o ideal é que a empresa evite entrar em contato direto com os supostos
fraudadores ou mesmo discutir sobre o ocorrido diretamente.
Inicialmente, deve-se constatar que se tratar realmente de um golpe. É preciso entender que,
atualmente, existem dois tipos de boletos bancários: os registrados e simples. O primeiro é mais
seguro e evitar inconsistências de pagamento, além de garantir maior transparência na relação
comercial.
Desse modo, a empresa pode verificar, em primeiro plano, se o boleto bancário é registrado ou
simples. Fato que pode ajudar a identificar fraude de uma forma mais efetiva, caso seja verificado o
número do banco de origem.
O segundo tipo de boleto, é um tipo não registrado e que não possui as mesmas características
de segurança e credibilidade e pode ser alterado ocasionado golpes como o que pode ter ocorrido no
presente caso analisado.
De acordo com as novas regras de boleto registrado, na maioria das transações não será mais
obrigada a emissão de novos boletos vencidos e para a emissão de 2ª via o código de barras não será
mais alterado, fato que dificulta a constatação de fraudes. Assim, é possível verificar essa numeração
para evitar cair em golpes.
Portanto, é prudente que seja notificado o Ministério Público estadual para que seja oficiado o
Banco Central – BACEN para investigar a origem do esquema fraudulento. Sendo possível, também
pode ser feito denuncia interna para o próprio BACEN, caso haja evidente indício de fraude na
emissão dos boletos.
Sobre o assunto é possível destacar que até mesmo as empresas podem ser consumidores e
fornecedoras de serviços. Por exemplo, as empresas ao consumirem os produtos bancários de uma
instituição financeira são consideradas consumidores, pois efetivamente não pertencem a cadeia
produtiva, apenas consomem um produto que o banco cobra por isso.
Ademais as fraudes referentes às cobranças são comuns e as vítimas da vez são sempre os
pagadores de boleto, que podem ser pessoas físicas ou jurídicas. Caso a empresa tenha caído em um
golpe de um boleto fraudado deve realizar procedimentos delineados na presente nota técnica.
Portanto, na presente situação jurídica apresentada a empresa que sofreu o golpe do boleto
fraudado é consumidor de um serviço bancário e foi prejudicada diante da falta de segurança
ocasionada pela má prestação da instituição, que deixou de promover um ambiente seguro de emissão
e validação de seus boletos.
Na presente situação analisada, é possível inferir que o boleto não foi expedido online, quando
não é emitido através do sistema de banco, mas por uma instituição bancária, que cobrou pelo serviço
de emissão.
Insta destacar, que o banco não poderia ser responsabilizado pela fraude, caso houvesse sido
feita a emissão registrada do boleto, pois ela não teria aconteceu dentro do seu ambiente de controle.
Desse modo, a depender do registro ou não do boleto a instituição bancária pode vir a
responder pela reparação do dano ocasionado por um boleto fraudulento. Quando a transação
comercial é originada nas dependências comerciais de um estabelecimento em que o boleto falso foi
emitido. Portanto, seja no ambiente físico ou online das dependências da instituição financeira, esta
deverá responder pelos danos gerados, cabendo o ressarcimento do valor pago pelo boleto fraudado.
Se a empresa efetivamente tenha pagado um boleto falso, adulterado, é necessário tirar cópias
do boleto e do comprovante de pagamento e ir com os papéis e documentos registrar um boletim de
ocorrência ou se for o caso registrar um Termo Circunstanciado de Ocorrência – TCO na delegacia
especializada em defraudações da região local da empresa. Em seguida, é preciso procurar o banco
fornecedor do boleto de cobrança para efetivar o ressarcimento.
Conclusão
A presente publicação não pretende exaurir os preceitos e diretrizes de análise e gestão de risco
da empresa, mas apenas de balizar a sua decisão estratégica como base em uma investigação jurídica
das possíveis consequências jurídicas.
Com base nessas alegações, cabe frisar que a controvérsia trazida a lume cinge-se as medidas
adotadas para verificação de suposta tentativa de fraude, através de boleto bancário falso.
Como destacado, uma das primeiras iniciativas da empresa é avaliar se realmente está diante de
um golpe. O ideal é a que haja um sistema de prevenção de fraudes, que pode ser um mero
treinamento dos colaboradores para verificar o sistema de emissão de boletos, para constatar que os
códigos identificadores da transação batem com o débito.
Superado a fase da constatação do golpe, cabe analisar se houve o pagamento do boleto ou não.
No caso do pagamento do boleto falso já tiver sido efetivado é importante providenciar os registros
cabíveis da ocorrência e o contato com a instituição financeira expediu o boleto para que esta realize
a restituição dos valores pagos e forneça os dados necessários para evitar novos golpes. Nesse
sentido, é possível inferir que a instituição bancária é responsável solidariamente pela fraude
ocorrida, visto que os fraudadores utilizaram a rede mundial de computadores pelo sistema bancário
para realizar a fraude. Então, como o se beneficia das negociações eletrônicas e se mantêm inerte
quanto a prevenção de fraudes na emissão de seus boletos, cabe a ela a responsabilidade pela
reparação do dano ocorrido.
Todavia, acaso o banco se negue a realizar o pagamento, deve ser analisado o meio de cobrança
extrajudicial ou mesmo judicial adequado, como uma ação de restituição e reparação de danos, para
isso a empresa deve encaminhada a demanda detalhada para a avaliação da responsabilidade jurídica
do fornecedor.