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com/lacanempdf
DICIONÁRIO COMENTADO
DO ALEMÃO DE FREUD
Série Analytica
Direção
Dr. Jayme Salomão
Imago
Copyright ri) Lui, Alberto I Ianns,
- 1996
Copidcsque:
LUCIA WATACHIN
Revisão:
MARCOS JOSÉ DA CUNHA
CIP-Brasil. Catalogação-na-Fonte
Sindicaco Nacional dos Editores de Livros, RJ
Inclui bibliografia
ISBN 85-312-0521-2
CDD 150.195203
%-1451. CDU 159.964.2(038)
199G
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
a meu pai, Günther
Apresentação 17
Algumas Questões de Tradução
e Breve Comentário sobre a Língua Alemã 21
Para Consultar os Verbetes 29
Metodologia Utilizada 33
Afirmação: Bejahung 47
O Termo em Alemão 47
Etimologia e Termos Correlatos 48
Comparação com o Termo em Português 48
Exemplos de Uso em Freud 50
Comentários 51
Alienação, Alheamento: Entfremdung 5�
O Termo em Alemão 53
Etimologia e Termos Correlatos 54
Comparação com o Termo em Português 55
E,cemplos de Uso em Freud 56
Comentários 59
Angústia, Ansiedade, Medo: Angst 62
O Termo em Alemão 62
Etimologia e Termos Correlatos 63
Comparação com o Termo em Português 64
Exemplos de Uso em Freud 67
Comentários 71
A posteriori, Ação diferida: Nachtrãglichkeit 80
O Termo em Alemão 80
Etimologia e Termos Correlatos 82
Comparação com o Termo em Português 82
Exemplos de Uso em Freud 84
10
Comentários 86
Catexia, Investimento: Besetzung 89
O Termo em Alemão 89
Etimologia e Termos Correlatos 90
Comparação com o Termo em Português 91
Exemplos de Uso em Freud 93
Comentários 96
Compulsão, Obsessão, Pressão: Zwang 101
O Termo em Alemão 101
Etimologia e Termos Correlatos 102
Comparação com o Termo em Português 103
Exemplos de Uso em Freud 104
Comentários 106
A Consciência (substantivo): das Bewu�tsein 109
O Termo em Alemão lll
Etimologia e Termos Correlatos 111
Comparação com o Termo em Português ll3
Exemplos de Uso em Freud 115
Comentários 117
Defesa: Abwehr 121
O Termo em Alemão 121
Etimologia e Termos Correlatos 122
Comparação com o Termo em Português 123
Exemplos de Uso em Freud 124
Comentários 126
Descarga: Abfuhr 129
O Termo em Alemão 129
Eti�ologia e Termos Correlatos 130
Comparação com o Termo em Português 131
Exemplos de Uso em Freud 132
Comentários 134
Desejo: Wunsch 136
O Termo em Alemão 136
Elimologia e Termos Correlatos 137
Comparação com o Termo em Português 138
Exemplos de Uso em Freud 139
Comentários 143
Desejo, Prazer: Lust 147
O Termo em Alemão 147
Etimologia e Termos Correlatos 149
11
Frustração: Versagung
Privação: das Versagen 252
O Termo em Alemão 252
Etimologia e Termos Correlatos 254
Comparação com o T�rmo em Português 255
Exemplos de Uso em J\reud 257
Comentários 259
Id ou "o isso": das Es 261
O Termo em Alemão 261
Etimologia e Termos Correlatos 263
Comparação com o Termo em Português 264
Exemplos de Uso em Freud 265
Comentários 2ô7
Idéia, Associação livre, Associação: Einfall 270
O Termo em Alemão 270
Etimologia e Termos Correlatos 271
Comparação com o Termo em Português 272
Exemplos de Uso em Freud 273
Comentários 275
Incompatível: Unvertrãglich 277
O Termo em Alemão 277
Etimologia e Termos Correlatos 278
Comparação com o Termo em Português 280
Exemplos de Uso em Freud 281
Comentários 283
Interpretação: Deutung 285
O Termo em Alemão 285
Etimologia e Termos Correlatos 286
Comparação com o Termo em Português 287
Exemplos de Uso em Freud 288
Comentários 290
Ligação: Bindung 293
O Termo em Alemão 293
Etimologia e Termos Correlatos 294
Comparação com o Termo em Português 295
Exemplos de Uso em Freud 296
Comentários 300
Negação ( 1 ), Recusa da realidade, Renegação: Verleugnung 303
O Termo em Alemão 303
Etimologia e Termos Correlatos 304
14
A maioria dos verbetes aqui abordados foram também visitados por outros autores,
porém, em geral, com interesse diverso. 1
Numerosos autores ocupam-se da teoria da tradução e da questão do espírito e do
estilo da linguagem freudiana. Sua intenção é exam,iriar criticamente a tendência geral
das traduções, e não deter-se na problemática de termos isolados.Tratam de poucos
verbetes e o fazem a título de ilustração. Outros, com interesse voltado a questões da
teoria psicanalítica, remetem o leitor ao original alemão para invocar alguns aspectos
Espero que, com as informações que encontrará neste livro, o leitor possa prosse
guir por sua conta o estudo de tais conexões lingüístico-temáticas e que possa ter uma
leitura mais rica, precisa e prazerosa do texto freudiano.
Algumas Questões de Tradução e
Breve Comentário sobre. a Língua Alemã
Poucos autores de língua alemã tiveram sua linguagem e estilo tão esmiuçados
quanto Freud. 1
Sua correspondência pessoal, os trabalhos universitários, os manuscritos e até os
livros que lia na infância são revirados à procura de marcas do seu estilo e de núcleos
temátiços. Tàmbém os lapsos, as repetições e outras pistas psicanalíticas deixadas por ,
Freud nos textos de cunho pessoal e teórico são garimpados na tentativa de articular
dados biográficos com temas e figuras de linguagem recorrentes. Numa espécie de I
radiografia estatística da obra, a informática tem sido colocada a serviço de levantamentos
. de correlações intratextuais, onde aspectos semânticos e de conteúdo têm sido an:ilisados
e classificados quantitativa e qualitativamente. Além disso, diversos termos-chaves têm sido
isolados e seguidos retroativamente, desde épocas anteriores à sua entrada na obra de r
Freud, até sua . origem em campos extra-analíticos, tais como a psiquiatria francesa, a
filosofia alemã, a religião judaica etc. Em paralelo, há tentativas de situar aspectos (
estilísticos e semânticos da obra com o caldo cultural do qual emergiu, estabelecendo-se (
Fundamentalmente a tradução inglesa, a Standa,d Edition of tJr.e Complete P:rychol.ogkal WOTks o[ Sig,nund freud, é um
u-abalho bem-cuidado. Deriva de um esforço pioneiro de compilação e é até hoje a mais completa sistematização
das obras de Freud. Todavia, por drcunstâncias de época, bem como por interferências de cunho pessoal e devido
a lutas políticas e teóricas no contexto institucional, algumas alinhavadas por Riccardo Steiner ( 1 991 ), peca por um
excesso de tecnicismo da linguagem. Ademais, não reproduz diversos aspectos estilísticos importantes, e tampouco
mantém diferenciações terminológicas atualmente incorporadas às traduções mais modernas.
Algumas Questões de Tradução 23
Composição de palavras
No cotidiano dos falantes do alemão podem-se não só cunhar novos termos por
composição (unindo-se palavras), como lapidá-los através de afixação (geralmente por
prefixos e sufixos), tomando-os muito específicos para cada situação.
Nem sempre os prefixos alemães têm sentido único e constante, mas, por via de
regra, seus significados estabilizaram-se em algumas direções. Isto também ocorre, em
português por exemplo, com os prefixos "a-", "des-" e "pré-". Um falante pode deduzir
o sentido que uma palavra recém-criada adquirirá em certo contexto ao ser precedida
por um destes prefixos, como por exemplo em "aestético", "desouvir", "pré-tratamen
to" etc. Entretanto, em ponuguês é mais restrita a possibilidade de conectar partículas
a raízes com o fim de especificar sentidos ou de criar novas palavras. Além disso, não
é _hábito tão disseminado. Em alemão, a liberdade para esse tipo de criação é bem mais
extensa. Há um grande número de prefi.··ws, e muitos têm sentido autônomo, funcio
nando como preposições.
A título de ilustração, vale observar que há 12 variações dicionarizadas para o verbo
"trabalhar" (arbeiten), formadas a partir dos prefixos ab-, auf, aus-, be; ein-, er-, durch-,
nach-, mit-, ver-, V?r- e um- ( outras variações podem ser criadas). Freud utiliza principal
mente seis dessas variações para designar formas específicas de trabalho psíquico:
aufarbeiten, bearbeiten, durcharbeiten, mitarbeiten, umarbeiten e verarbeiten.
26 Breve Comentário sobre a Língua Alemã
Mutações
Escutar-efalar-decompondo
germân icos, mesmo quando abstratos, remetem o falante do alemão à experiência mais
imediata e concreta.
Entretanto, é necessário cuidado quanto a certas inferências sobre a terminologia
germân ica utilizada por Freud, pois nem sempre o fato de os termos germânicos terem
maior riqueza conotativa para o falante de alemão sign ifica que Freud os empregue de
maneira a produzir tais efeitos no leitor. Não é o termo em si, mas o contexto e a forma
como é inserido na frase que determinarão quais das suas possíveis conotações e
sentidos serão ativados para o leitor.
Se Freud utiliza alguns termos de forma a tirar partido de toda a riqueza conotativa
de determinadas palavras germân icas e estes comjustiça se tornaram verdadeiros cults
das traduções - por exemplo, besetzen ("catexizar", "investir") ou verleugnen (''recusar",
"negar") - , outros são empregados de forma tão indiferenciada que poderiam
oerfeitamente ser substituídos por alguma palavra aproximada sem perda de significa
dos. É o que ocorre com as pal�vras Weib (".mulher-fêmea") e Frau ("�ulher-senhora" ),
que possuem amplo universo conotativo e que na língua coloquial podem ser usadas
de modos bastante diversos. Todavia, n os textos de Freud, alternam-se de forma quase
indistinta e aleatória, sem que se possam derivar quaisquer conseqüências teórico-psi
canalíticas desse uso.
Alemão vienense
Além dos aspectos gramaticais e semânticos até agora comentados, cabe uma
observação sobre uma questão freqüentemente levantada a respeito das especificidades
do alemão vienense.
Freud utilizava-se do mesmo alemão culto falado em todos os __países de língua
alemã, que se designa de "alto-alemão" (Hochdeutsch). O grau de homogeneidade do
Hochdeutsch é semelhante ao do português culto falado nas diversas capitais brasileiras.
As grandes diferenças entre os falares regionais não são típicas do alto-alemão, mas
dos dialetos. Há maiores diferenças dialetais dentro de cada país do que n o alto-alemão
falado em diferentes países. As particularidades do alto-alemão falado numa região, a
pronúncia, a entonação e as expressões locais não chegam a constituir um dialeto e
pouco aparecem n o alemão escrito. Assim, o alemão de Freud pode ser partilhado com
naturalidade por não-austríacos, tais como o suíço Jung, o alemão Abraham, o húngaro
Ferenzci, e por n ós, seus leitores atuais.
Para Consultar os Verbetes
\
\
Os verbetes podem ser localizados diretamente pela sua designação em português.
Para as consultas a partir do espanhol, do francês e do inglês, ou pelo original alemão,
deverão ser utilizados os glossários que constam no final do livro (p. 360).
Os verbetes dos glossários precedidos de asterisco não figuram . como verbetes
autônomos, mas aparecem ou são citados no corpo do texto dos verbetes principais.
Termos correlatos, derivados e compostos: São apresentados outros termos que tenham o
mesmo prefixo ou o radical em comum com o verbete em foco. O leitor pode
visualizar os' efeitos que determinado prefixo, ou o radical em destaque, produz
quando entra na composição de outras palavras alemãs.
30 Para Consultar os Verbetes
Resumo das diferenças de significados e conotações: Apresenta urna tabela contrastiva que
relaciona e compara ponto a ponto os significados e as conotações do termo em
alemão com os do termo em português que lhe serviu de tradução. A partir dos
números e letra, o leitor pode visualizar os pontos de correspondência ou as
diferenças entre os termos de cada idioma.
Abreviações Bibliográficas
ESB Ediçiio Standard Bra.sdeira da.s Obra.s Psicológicas Completas de Sigmund Freud.
2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1987. 23 vol.
SA Freud - Studienausgabe. Frankfurt am Main: S. Fischer Verlag, 1989. 1 0 vol.
GW Gesammelte Werk. Frankfurt am Main: S. Fischer Verlag, 1985. 18 vol.
As palavras não existem de per se, sempre se inserem num contexto em constante
mutação. No âmbito do alemão coloquial, em muitos casos, mesmo com o apoio de
dicionários, da fraseologia, de exemplos literários e de entrevistas, é difícil conseguir
objetividade na verificação dos sentidos e sobretudo das conotações. Ainda mais
complexo é estabelecer o emprego lingüístico freudiano da terminologia psicanalítica.
Fazer o texto freudiano falar por si é ficção. Um texto é lido, e cada leitor - e escola
de psicanálise - será mais sensível a determinados sentidos e conotações.
Entretanto, se não há como fazer uma leitura objetiva e neutra, é sempre possível
partilhar com o leitor as premissas e os critérios que sustentam as posições apresentadas.
A seguir, o leitor encontrará informações sobre os critérios que nortearam a escolha
de verbetes, sobre as fontes e critérios para fundamenta� as informações Iingüísticas
derivadas do âmbito coloquial e sobre a metodologi� utilizada na elaboração dos
comentários a respeito do emprego freudiano dos temÍos.
Do ponto de vista lingüístico, o critério de seleção dos verbetes guiou-se por dois
tipos de leitura, urna contrastiva, a outra literária.
A contrastiva é atenta à tradução do verbete isolado. Partindo das diferenças
entre o português e o alemão, busca restituir significados e conotações que se
perdem na tradução. Foram procurados aqueles termos que passam despercebidos
na leitura alemã, mas que, ao serem traduzidos, causam tal estranheza ou perda de
sentido em português que vale a pena retomá-los.
A literária procede do texto alemão. Aponta para aspectos semânticos e estilís
ticos do texto freudiano. Busca evidenciar nos verbetes as características Iingüísticas
das quais Freud tirou partido para imprimir uma estampa ou melodia no Lexto.
Foram excluídos os verbetes que, apesar de possuírem ricas conotações semânticas
·e literárias, são empregados por Freud de forma restrita ao sentido imediato e
indiferente às nuances, isto é, sem tirar proveito de suas características Iingüísticas.
Todavia, a seleção de verbetes, além de pautar-se por questões lingüísticas, tem de
ser orientada por critérios de relevância teórico-psicanalítica. Por isso, procurou-se
incluir os verbete,s já clássicos, por terem sido ressaltados por teóricos e tradutores
34 Metodologia Utilizada
Foram excluídos:
1) Verbetes de origem greco-latina, tais como histeria (Hysterie), libido (Libido),
neurose (Neurose), sexualidade (Sexualitat) etc. Seus significados são praticamente os
mesmos em português.
. 2) Verbetes que não têm sentido ou conotação particularmente diferentes do
português, tais como sonho (Traum), autopreservação (Selbsterhaltung), meta (Ziel) etc.
3) Verbetes que, embora apresentem diferenças conotativas e denotativas com
relação às palavras que os traduzem, podem ser facilmente esclarecidos através de
traduções adicionais - por exemplo, a palavra Stauung, traduzida por "estase�·. mas
que corresponde a "represamento", ou ainda a palavra Schicksal traduzida com
freqüência por "vicissitude", mas que corresponde a "destino".
4) Verbetes que, apesar de possuírem diferenças conotativas com relação ao
português, às vezes difíceis de explicitar, não são utilizados por :Ereud de forma
diferenciada. Por exemplo, Leib (algo como "corpo carnal") e Weib (algo como "mulher
fêmea" ou "a fêmea genérica"). Trata-se de termos que podem ser trocados no texto
freudian,o por equivalentes aproximados sem perda de sentido, pois Freud só os
emprega no sentido imediato e restrito, sem tirar partido de suas conotações.
5) Verbetes que, não obstant� possuam características lingüísticas interessantes e
sugestivas para reflexões no contexto analítico, não são empregados nem no alemão
coloquial nem no texto freudiano de forma a remeter a tais características. Por exemplo,
o verbo "repetir" (wiederholen), cuja composição é "buscar-de-novo", ou o substantivo
"cura" (Heilung), cuja etimologia se liga ao "inteiro" e ao "sagrado", e se diferencia
essencialmente da noção latina de "cura" , ou ainda o termo "culpa" (Schuld), cuja
polissemia, além do significado de "culpa", admite ainda o sentido de "dívida". São
todas características bastante sugestivas, mas que não aparecem nem no e mprego
cotidiano nem em Freud.
6) Verbetes maiores, compostos por palavras tratadas isoladamente neste livro. Por
exemplo, as palavras Triebbefriedigung ("satisfação da pulsão") ou Wunschvorstellung
Metodologia Utilizada 35
("representação do desejo") não são discutidas, pois seus componentes Trieb e Befriedi
gung ou Wunsch e Vorstellung já constam como verbetes individuais.
Alguns verbetes apri,sentam maiores dificuldades, como por exemplo Abkõmmling("derivado"). Esta palavra designa
os derivados das i�éias ou representações recalcadas. Conotativamente, Abkõm,nling remete a um "descendente",
36 Metodologia Utilizada
Denotações e conotações
Estabilidade de significados
Em geral, o Deutsches Wõrterbuch ( 1 854-1 960) inclui usos e exemplos de até três
séculos atrás. Foram considerados apenas os sentidos que eram atuais ao final do
século :IDX e cotejados com um dicionário de 1 935 e outro de 1 993. Muitos verbetes
tornaram-se antiquados para determinado uso, ou já eram incomuns na época, porém
não foi encontrado nenhum verbete cujo significado se tenha realmente alterado a
ponto de causar dificuldades ou distorções de entendimento para os leitores alemães
atuais.
"rebento" ou "filhote", ou ainda a algo -"proveniente". Há no termo ênfase no "brotar" de uma origem que gera
"descendência'', bem como a conotação de algo "vivo" e "autônomo". Tais conotações são mais presentes no termo
alemão do que na palavra portuguesa "derivado", aliás pouco usual como substantivo. No contexto psicanalítico,
tlbkõmmling remete à imagem de novas "idéias" que vão brotando da "idéia" ou "representação" recalcada e que,
como rebentos que passam a ter vida própria, vicejam na vida psíquica. Contudo, na teorização freudiana isto não
gera conseqüências muito diversas do termo "derivado", pois a concepção central de Freud a respeito destas "idéias"
é que sejam oriundas das idéias recalcadas e, por associações ao longo da malha de re•Jresentações, se afastem da
idéia original, vindo a situar-se em pontos mais afastados da malha de representações. Tais derivados não são mais
reconhecidos como originários de uma idéia recalcada, e graças a essa distância podem eventualmente entrar na
consciência ou assumir a forma de sintomas. Na palavra "derivado", utilizada na tradução brasileira, a noção
fundamental de "origem" e "descendência" não se perde. É verdade que Freud utiliza, em conexão com o substantivo
Abkõmmling, verbos e adjetivos ligados a vivacidade, energia e atividade; porém, se esta conotação de vitalidade e
autonomia não está presente na palavra "derivado", ela é devolvida pelo contexto e pelo sentido das frases freudianas,
mesmo no texto em português. Debruçar-se sobre esse tipo de diferença é necessário para um tradutor de Freud,
mas sobrecarregaria o gênero de leitura proposta neste livro; portanto, termos desse tipo foram afinal excluídos.
Metodologia Utilizada 3?
Etimologia
O item "Etimologia" foi incluído pelo interesse histórico. Seu valor para elucidar
o sentido do termo no alemão corrente, ou para eventuais inferências psicanalíticas, é
muito frágil. Por via de regra, as conexões etimológicas não são mais perceptíveis aos
falantes atuais; além disso, muitas das origens retroativamente traçadas são hipotéticas.
É o caso do termo "desejo" (Wunsch), supostamente derivado da raiz indo-européia
* wn[.)]-, ("circular", "vagar procurando por algo"). Provavelmente referia-se à ação de
procurar alimento ou de rastrear pistas na guerra. No indo-europeu, dessa raiz
derivaram os sentidos de "procurar", "desejar", "amar", "gostar", "exigir" e �necessitar".
No antigo indiano já se encontram as formas vánati ("deseja", "deseja intensamente",
"ama") e vanas- ("desejo intenso" , "vontade prazerosa") e no latim, venus, -eris ("prazer
amoroso"). Mais adiante os sentidos se estendem para "ter esperança", "supor",
"aceitar", "estar satisfeito". Em alemão, palavras como Wahn ("loucura"), gewohnen
("acostumar-se"), Wonne ("prazer"), gewirÍnen ( "vencer") e wohnen ( "morar") pertencem
ao mesmo tronco originário de Wunsch. No antigo alto-alemão a palavra tinha a forma
wunsc e já designava "ambição", "algo almejado".
Metodologia Ut111zada 39
náveis como números discretos (que saltam de unidade a unidade), mas que são
perceptíveis como fenômenos de gradação e predominância de sentidos e conotações,
é muitas vezes inviável. Além disso, há uma fluidez inerente aos sentidos e às
conotações, em virtude da peculiaridade com que cada sujeito usa as palavras no seu
idioma. Por fim, para desencorajar tal tentativa, há o fato de que as palavras dificil
mente podem ser analisadas de per se, pois o contexto da frase, em geral, atribui à
palavra muiw de seu sentido, independentemente dela mesma.
Se, contudo, apresentamos tal tabela contrastiva, foi para facilitar a delimitação do
termo alemão a partir do português. Não houve a intenção de fixar de modo definitivo
os sentidos _e as possibilidades de cada palavra; trata-se de uma aproximação, de uma
maneira de circun�crever e dar contorno ao sentido e à tonalidade dos termos.
Tal qual ocorreu na seleção de verbetes, também para se chegar aos sentidos e às
conotações no âmbito do texto freudiano, foi necessário entrecruzar as três grades de
leitura já mencionadas: uma contrastiva, em busca das diferenças entre o português e
o alemão, uma literária, em busca de efeitos estilísticos e semânticos, e uma teórico-psi
canalítica, em busca de aspectos teóricos ressaltados pelo uso freudiano da palavra. As
três lei turas ocorrem simultaneamente, uma orientando a outra. Apenas onde foi
possível fazer as três leituras convergirem, foi considerado lícito sustentar determinada
afirmação sobre o significado e sobre as conotações do termo e incluí-los no item
"comentários".
A seguir, o leitor poderá observar, através do exemplo da palavra Erfüllung
("realização"), como se procedeu para situar os verbetes no texto freudiano.
Leitura contrastiva
não tem vínculo com o sentido de "fazer" e tampouco com o de "satisfação" de desejos
mais imediatos (vontade, sofreguidão, desejo sexual). Numa leitura contrastiva partin
do do inglês, possivelmente essa característica passaria despercebida, pois fulfillment
tem uso semelhante a Erfüllung e seria encaixado pelo leitor de forma "natural" no
f11Lxo do texto. Essa tonalidade conotativa em geral também se destaca de imediato
para o leitor alemão, poi)he parecer um tanto quanto óbvia.
Leitura literária
Por fim, uma leitura que entrecruze a língua alemã e os aspectos de cunho
teórico-psicanalítico poderia buscar trechos e textos de Freud onde é abordada a
questão da "realização" do desejo e compará-la com trechos sobre a "satisfação" do
desejo. Tal análise destacaria duas vertentes de verbos e substantivos interligados, uma
que remete ao desejo de cunho mais imaginário (Wunsch) e outra que remete ao desej o
d e natureza mais carnal e imediata ( Trieb - "pulsão", "instinto") ou (Lust - "desejo",
"vontade"). Isto permitiria desenvolver duas seqüências cujajustificativa seria demasia
do longa, mas que são apresentadas apenas a título de ilustração:
42 Metodologia Utilizada
seqüência de Wunsch:
[Bild ("imagem") - Gediichtnis ("memória") - halluzinieren ("alucinar") - Erfül
lung ("realização") - Wunsch ("desejo") - Vorstellung ("representação", "idéia") -
denken ("pensar")].
iam alinhar outros grupos de conceitos conforme processos de defesa que impliquem
"rechaço" e "fechamento", ou ainda segundo "graus de desconforto" etc.
Conforme mencionado na apresentação, tais relações são apenas alguns Leitmotive
freudianos que percorrem o texto psicanalítico; caberá ao leitor prossegui-los, ou
rearranjá-los. Trata-se de conexões e conotações que podem ser atribuídas aos verbetes
a partir de uma fundamentação que se apóia tanto sobre os dados lingüísticos do âmbito
coloquial quanto sobre os\ textos freudianos dos quais se extraíram os exemplos de
frases e trechos.
Não se pode contar com uma estabilidade de sentido e conotação ao longo de toda
a obra, pois nem sempre Freud utiliza as palavras na acepção coloquial.
Embora valorize a sabedoria psicanalítica contida na linguagem comum e popular,
Freud emprega c9m freqüência termos psicanalíticos que são herança de usos psiquiá
tricos e filosóficos, utilizando-os, desde o início, de maneira particular. Outros ora são
empregados de forma próxima ao uso coloquial, ora ganham autonomia teórica,
44 Metodologia Utilizada
Polissemia e contra-exemplos
E: Afirmación
F: AJ.firmation, acceptation
I: Affirmation
Composição do termo
1) Responder que "sim", formular uma frase com o advérbio "sim", responder
afirmativamente, assentir, confirmar, aceitar, concordar (o verbo pode ser utilizado
como substantivo). Responder sim a uma pergunta (eine Frage bejahen). Em caso de uma
resposta afirmativa (Hinsichtlich einer bejahende Antwort).
Etimologia
be-: do indo-europeu *bhi , derivado de *ambhi (em tomo de); assume no gótico a forma
bi-, no antigo alto-alemão bi-, no médio alto-alemão be-. Inicialmente designava, como
prefixo verbal, a direção espacial de um processo (por exemplo, befallen, atacar ou
acometer); mais tarde passou a indicar também a intervenção temporalmente limitada
sobre um objeto ou pessoa. No alemão atual funciona como prefixo que transforma
advérbios, substantivos, adjetivos e verbos intransitivos em verbos transiúvos.
ja-: A etimologia não está bem estabelecida. No gótico se encontra a forma ja, e no
antigo e no médio alto-alemão,fo. No século XVII o verbo bejahen significava "aprovar",
"conceder". Também era utilizado em oposição a verneinen.
3) Dizer, ter certeza, certificar (pode ser utilizado como substantivo). A testemunha
afirma que foi ele o autor do crime.
4) Dizer, falar (pode ser utilizado como substantivo). Afirma ter vindo ontem.
5) (Rflx) Impor-se, demonstrar segurança (pode ser utilizado como substantivo).
Ela quer se afirmar no grupo.
[Há ainda diversos outr0s usos semelhantes ou derivados.] [NDA, 56]
significados:
1 dizer sim, concordar, assentir 1-
2- 2 declarar firmemente
3- 3 certificar
4- 4 dizer
5- 5 impor-se
conotações:
A enfoca a presença do "sim" A
B refere-se a frase anterior B-
C- e firme e público
D- D declaração autônoma
J "Em ou tras palavras, quando um evento específico é inserido num sonho como
sonho 1 pelo próprio trabalho do sonho, isso implica a mais firme confirmação
(Bestiitigung) da realidade do evento - sua afirmação 2 (Bejahung) mais forte."
A Interpretação dos Sonhos, cap. VI/C ( 1 900) [ESB 4, 32 1 -2]
1 Leia-se: quando um evento específico é inserido num sonho pelo próprio trabalho do
sonho, isso ( ... ).
2 Como se depreende da palavra "confirmação", a subseqüente Bejahung não é uma
afirmação, mas uma aceitação explícita, um "sim" pleno que confirma, admite e aceita algo dito
anteriormente...
3 "O estudo do julgamento nos permite, talvez pela primeira vez, uma compreensão
interna (insight ) da origem de uma função intelectual a partir da ação recíproca dos
1
impulsos instintuais primários.Julgar é uma continuação, por toda a extensão das linhas
2
da conveniência, do processo original através do qual o ego integra as coisas a si, ou
as expel_e de si de acordo com o princípio do prazer. A polaridade de julgamento parece
corresponder à oposição dos dois grupos de instintos que supusemos existir. A
afirmação 3 (Bejahung) - como um substituto da união4- pertence a Eros; a negativa
(Verneinung) - o sucessor da expulsão - pertence ao instinto de destruição."
"A Negativa" ( 1 925) [ESB 19, 299-300]
I No original, em vez de insight, está a palavra alemã Einsicht, a qual significa compreensão;
o termo possui a conotação de uma "compreensão mais completa", e não o caráter de algo
súbito e abrupto, nem o aspecto de uma visão profundamente mobilizadora, quase emocionan
te, que o termo insight tem no uso psicanalítico atual.
2 integra no sentido de inclui, incorpora.
afirmação no sentido de dizer sim, confirmar.
3
4
Em vez de união, unificação.
Bejahung 51
4 "É verdade que não aceitamos o 'não' (Nein) de uma pessoa em análise por seu
valor nominal; tampouco, porém, permitimos que seu 'sim' (Ja) seja aceito. Não há
justificação para que nos acusem de que invariavelmente deformamos suas observações
transformando-as em confirmação.
"Um simples 'sim' do paciente de modo algum não é ambíguo. Na verdade, pode
significar que ele reconhece a correção da construção que lhe foi apresentada, mas
também pode não ter sen't,ido ou mesmo merecer ser descrito como 'hipócrita', uma
vez que pode convir à sua resistência fazer uso de um assentimento em tais circunstân
cias, a fim de prolongar o ocultamento de uma verdade que ainda não foi descoberta."
"Construções em Análise" ( 1 937) [ESB 23, 296-7]
Reformulando a tradução de todo o trecho: É verdade que não aceitamos plenamente o "não"
de uma pessoa em análise; tampouco, porém, deixamos que o seu "sim" seja válido. Não é justo
que nos acusem de reinterpretar sempre, em todos os casos, as declarações do paciente,
transformando-as em confirmações de nossas hipóteses.
Um "sim" direto do analisando tem múltiplos significados. Pode efetivamente indicar que
a construção escutada é reconhecida como correta, mas também pode não ter significado
algum, ou mesmo ser algo que poderíamos designar corno �dissimulação", pois pode ser
conveniente à sua resistência continuar, através de tal concordância, a ocultar a verdade não
revelada.
O termo Bejahung não é muito freqüente em Freud. Sua importância teórica deriva
basicamente do seu uso em contraposição ao termo Verneinung ("dizer não", "negação",
"denegação", "negativa").
Por vezes, Bejahung é empregado isoladamente na acepção de "confirmar", "assen
tir". No exemplo 1, retirado de A Interpretação dos Sonhos ( 1 900), é neste sentido que o
termo é usado.
Bejahen é utilizado por Freud em conjunto com verneinen no contexto da escuta e
da interpretação que o analista faz das falas do paciente; enfatiza o "expressar explícito
do advérbio sim". O paciente dirá "sim" ou "não", cabendo ao analista situar tais
assertivas.
No exemplo 4, retirado do artigo "Construções em Análise" ( 1937), não aparecem
os verbos, mas os respectivos advérbios ja (sim) e nein (não). Freud trata da acusação
freqüentemente feita à psicanálise de que os analistas interpretam arbitrariamente as
falas do paciente, sempre de modo que confirmem as teorias preconcebidas. Tais falas
produzem um "sim" ou um "não", os quais; segundo Freud, não devem ser tomados
· ao pé da letra. Aquilo que é confirmado pelo "sim" ou contestado pelo "não" deverá
52 AJirmação
E: Enajenación
F: Étrangement
I: Estrangement
Composição do termo
Significados do verbo
entfremden e do substantivo Entfremdung
1 ) Verbo reflexivo e transitivo; distanciar-se de outro, esfriar a relação, não mais ter
afeto e simpatia por outro (também utilizado como substantivo, significando alienação,
alheamento, isolamento, distância que leva um a tomar-se estranho ao outro). A esposa
se distanciou do ,marido. O distanciamento entre os dois era evidente.
54 Alienação, Alheamento
Etimologia
Entjremdung será contrastado com "alienação", termo que, apesar de não ser a única
opção de tradução utilizada, tem certo peso e tradição na filosofia e na economia
políüca; quando inserido no contexto psicanalítico, acaba por introduzir alguns con
teúdos estranhos à palavra Entfremdung.
Significados adicionais de
"alienar" e "alienação " não presentes em entfremden e Entfremdung
Conotações adicionais de
"alienação " não presentes em Entfremdung
significados:
1 distanciar-se, esfriar o afeto 1 distanciar-se, esfriar o afeto
2 deturpar (pouco usado) 2-
3 sentimento de estranhamento 3-
4- 4 cessão de posse
5- 5 enlouquecimento
6- 6 inconsciência da realidade
conotações:
A o que era próximo se afasta A (raramente tem esta conotação)
e se estranha
B confronto com o desconhecido B (raramente tem esta conotação)
(surreal)
C- C conteúdos da filosofia e da política
2 "A investigação sexual desses primeiros anos de infância é sempre feita na solidão;
significa um primeiro passo para a orientação autônoma no mundo e estabelece tim
intenso alheamento (Entfremdung) da criança frente às pessoas de seu meio que antes
gozavam de sua total confiança."
Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade ( 1 905) [ESB 7, 1 84-5]
Entfremdung 57
3 "Em muitos histéricos, vê-se que a ausência precoce de um dos pais (por
morte, divórcio ou separação* (Entfremdung), em função da qual o remanescente
absorveu a totalidade do amor da criança, foi o determinante do sexo da pessoa
posteriormente escolhida como objeto sexual, com isso possibilitando-se a inversão
permanente."
, Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade ( 1 905) [ESB 5, 2 1 6]
* O sentido do termo aqui não é de separação - divórcio, mas de distanciamento e esfriamento
da relação.
6 "Aquilo que é mau, que é estranho* (Fremd) ao ego, e aquilo que é externo' são,
para começar, idê �ticos."
"A Negativa" ( 1925) [ESB 19, 297]
"O que é meramente uma representação e subjetivo, é apenas interno; o que é real
está também lá Jora. ( ... ) Outra capacidade do poder de pensar oferece mais uma
contribuição à diferenciação (Entfremdung) entre aquilo que é subjetivo e aquilo que é
58 Alienação, Alheamento
objetivo. A reprodução de uma percepção como representação nem sempre é fiel; pode
ser modificada por omissões ou alterada pela fusão de vários elementos."
"A Negativa" ( 1 925) [ESB 19, 298]
* Fremd significa alheio no sentido de ser estranho, estrangeiro, esquisito; trata-se de um termo
que reúne simultaneamente as noções de "alteridade" e "estranhamento" .
8 "( ... ) que toda essa situação psíquica, de aparência tão confusa e tão difícil de
descrever, pode ser elucidada satisfatoriamente supondo-se que, no momento, tive (ou
poderia ter tido) um sentimento instantâneo: 'O que estou vendo aqui não é real'. Tal
sentimento é conhecido como 'sentimento de desrealização' (Entfremdungsgefühl). Fiz
um intento de afastar esse sentimento, e o consegui à custa de uma falsa afirmação
acerca do passado."
"Um Distúrbio de Memória na Acrópole" ( 1 936) [ESB 22, 299]
consiste em que todos eles servem ao objetivo de defesa; visam manter algo distanciado
do ego, visam rechaçá-lo."
"Um Distúrbio de Memória na Acrópole" (1936) [ESB 22, 300]
No artigo "A Negativa", de 1 925 (exemplo 6), os termos Fremd e Éntfremdung são
empregados em conexão com o processo de diferenciação entre o interno e o externo,
entre o subjetivo e o objetivo e entre o real e o imaginado. Nesse artigo, Freud aborda
a "capacidade de julgar". A esta cabe tomar duas decisões de diferente ordem: 1 )
atribuir determinadas características a u m objeto, e 2 ) decidir s e o objeto está presente
na realidade ou não.
No que tange à atribuição de julgamentos, Freud destaca que, pelos mecanismos
de projeção e introjeção, o ego-prazer considera aquilo que é bom como pertencente
ao eg-o, e aquilo que é "externo/estranho ao eu" (dem !eh Fremd) é igualado àquilo que
é mau.
Quanto ao ego-realidade, a ele cabe se assegurar da realidade ou da falsidade da
presença do objeto, para permitir que o sujeito reencontre o objeto do prazer na
realidade. Para confirmar a realidade é necessário que o sujeito verifique se as marcas
do objeto gravadas em sua memória coincidem com as marcas do objeto percebidas
no mundo exterior. Também envolve a diferenciação (afastamento) entre o dentro e o
fora. Entretanto, pode ocorrer que, ao reproduzir internamente o objeto que lhe
trouxe satisfação, o sujeito o deturpe ou distorça, contribuindo ainda mais para o
afastamento (Entfremdung) entre o subjetivo e o objetivo, cabendo então à "verifica
ção de realidade" controlar até onde chega tal distorção. De certa forma, o
tratamento que Freud dá ao tema da diferenciação entre dentro e fora coloca a
Entfremdung próxima da questão da ilusão e das sensações, pois o "objetivo" ( o,real),
quando reproduzido internamente sob forma "subjetiva" (imaginado, vorgestell
te) , pode estar sendo "distorcido", e precisa ser verificado pelo ego-realidade. Aliás,
esta concepção de distorção também existe na língua coloquial. (Ver sentido 2 de
Entfremdung mais acima no item "Significados do verbo entfremden e do substantivo
Entfremdung", p. 54.)
Todavia, a ilusão e as sensações de irrealidade são temas pertinentes ao conceito
de Entfrerndung tal corno aparecerá na Carta a Romain Rolland ( 1 936), referente a uma
vivência de distúrbios de memória na Acrópole ( exemplos 8, 9, 1 O e 11).
E: Angustia
F: Angoisse
I: Anxiety
Termos simples.
não abarca o pânico ou pavor imediato. Um animal perante o predador sente Angst,
não Furcht. A Furcht se liga freqüentemente à preocupação; a Angst pode ser mais
visceral e imediata, refere-se a um medo e indica reação intensa perante ameaça de
aniquilação ou dano (seja ela real ou imaginária, específica ou inespecífica). Quando
no sentido de pavor, pânico, normalmente não se emprega o termo Furcht, mas Angst.
Neste sentido, freqüentemente se aproxima do pavor, enquanto Furcht tem um caráter
mais antecipatório do qu� Angst.
B) Angst pode referir-se a objetos específicos ou inespecíficos. Diferentemente de
Angst, Furcht sempre se refere a objetos específicos. Ambos podem se referir a temores
por ameaças ainda distantes.
C) Sendo uma reação intensa, Ang,t evoca algo_ que se externaliza claramente. ( expres
são facial, suor, voz etc.) e desencadeia uma ação (de ataque ou fuga), ou, mais raramente,
algo que causa tanto pavor que paralisa o sujeito. A palavra Angst é empregada em
composição com termos como "ataque de medo", "irrupção de medo" etc. Descreve
reações que se exteriorizam fortemente. Não há expressões como "ataque de Furcht"
(temor). Diversamente de Furcht, Angst liga-se a uma prontidão reativa ante o peri,�o.
Etimologia de Angst
Furcht: Os exemplos abaixo indicam que, apesar de Furcht ser empregado geralmen
te no sentido de "temor" e "receio", os derivados e compostos com Furcht também
pertencem ao campo dos grandes medos (por exemplo, o adjetivo " terrível"). Nenhum
destes usos se relaciona com "ansiedade" ou "angústia".
, furchtbar: terrível( mente);fürchterlich: horrível(mente), terrível( mente) gottesfürchtig:
temente a Deus; Furchtlosigkeit: intrepidez, coragem (literalmente: sem temor); Ehr
furcht: respeito (literalmente: temor à honra).
Significados adicionais de
"angústia " e "ansiedade " não presentes em Angst e Furcht
angústia
3) (angústia) Aflição intensa, inquietação, sofrimento por não poder agir, ansieda
de. Estava angustiado de estar preso na cadeia, sem poder ajudar seus amigos. A mãe ficava
angustiada de não poder já abraçar o filho.
4) (angústia) Sofrimento, tormenta. É indescritível a angústia vivida pela família após
a perda de todos os bens. (Em alemão se usaria, por exemplo, a palavra Kummer).
5) (angústia) Sensação de sufocamento, agonia. Fico angustiado em elevadores. (Em
alemão se usaria sich beklommenfühlen.)
ansiedade
6) (ansiedade) Expectativa sofrida. A expectativa em torno da nota da prova o deixava
ansioso.
7) (ansiedade) Expectativa alegre. Estou ansioso por sair logo deférias e conhecer as ilhas
gregas.
8) (ansiedade) Espera afobada, inquietação. Fico ansioso sempre que ela fala, pois é
prolixa demais.
Conotações adicionais de
angústia" e "ansiedade " não presentes em Angst e Furcht
angústia
D) Em português "angústia" refere-se a algo mais próximo de uma "condição
existencial", trata-se de um "sofrimento", de algo que se "volta para o próprio sujeito"
(uma pessoa angustiada pode significar uma pessoa sofrida). No Dicionário Aurélio
( 1994, p. 123) se define "angustiado" como "aflito", "agoniado", "atormentado",
"atribulado" . Ao contrário das palavras utilizadas para definir a "ansiedade", mais
Angsr . 65
centradas na expectativa pelo que virá ( desejar, anelar etc.), as palavras utilizadas para
definir "angústia" se centram no sofrimento do sujeito e o descrevem.
A "angústia" pode ter causas bem diversas das do "medo" - por exemplo, pela
impossibilidade de reagir ("estou angustiado de estar preso e não poder me vingar
dos meus detratores"). Emprega-se o termo sem e com objeto específico (sentir-se
angustiado, ou estar angustiado com algo).
Em geral, "angústia{ é empregado em português corrente de maneira diversa
de "medo"; entretanto, por influência da linguagem psicanalítica, têm-se generali
zado para a língua certos usos do termo como equivalente a "medo" e a "ansiedade":
"angústia perante os lobos", "angústia perante a ameaça de castração" etc. Conota
tivamente, estes usos do termo "angústia" evocam com mais força a imagem de
"aflição" e "agonia", ao passo que em alemão a Angst evoca uma reação mais próxima
do "pavor".
ansiedade
E) A "ansiedade" se refere à "expectativa". Uma "expectativa inquieta" por algo
que ocorrerá. Pode ser a expectativa por uma alegria vindoura ("estou ansioso em
receber logo meu presente"), por uma ameaça ("estou ansioso com o resultado dos
exames médicos") ou simplesmente pelo desenlace de algo ("fico ansioso em filas
demoradas"). No Dicionário Aurélio ( 1 994, p. 127)' "ansiedade" aparece como um
sentimento de "ânsia", no sentido de se sentir ".oprimido", "angustiado"; "anelar",
"almejar"; "desejar com veemência".· É só no emprego da linguagem médica que o
dicionário a define como "receio sem objeto". De modo geral, emprega-se "ansiedade"
com e sem objeto específico.
No uso em português "medo" e "ansiedade" são dois sentimentos demarcados
como diversos e de conotações diferenciadas, mas que se podem bordejar ou superpor
em determinadas circunstâncias. Nem sempre é possível diferenciá-los com exatidão.
A "ansiedade", mesmo quando ligada ao "medo", se refere a uma inquietação medrosa
perante um perigo sem resolução, é uma ameaça que ainda não é imediata; o "medo"
é geralmente uma reação a algo mais imediato.
conotações:
A Angst pode ligar-se a A-
ameaças imediatas.
B Angst e Furcht podem referir-se B ansiedade e angústia também
a ameaças específicas ou inespecíficas. podem referir-se a ameaças específicas
ou inespecíficas.
inespecífico, designando um estado ("estou com medo", "sou medroso", "vivo com
medo" etc.). No sentido de "receio" e "temor" o termo português "medo" também
tende a significar "preocupação" ou "ansiedade" por algo que poderá acontecer. Em
geral, "medo " se refere a uma reação a um perigo real ou imaginário mais imediato.
1 "No caso dos afetos crônicos, tais como o pesar1 (Kummer) e a preocupação2
(Sorge), isto é, a angústia3 (Angst) prolongada, o quadro se complica por um estado de
grave fadiga, que, embora mantenha a distribuição não uniforme da excitação, reduz
sua intensidade."
Estudos sobre a Histeria (III) ( 1 893-5) [ESB 2, 2 09]
1 Para Kummer em vez de pesar, sofrimento angustiante ou preocupação angustiante.
2 Sorge sigp.ifica preocupação, ansiedade por, angústia por, ou seja, estados em que o sujeito tem
medo por aigo vindouro, mas tem de esperar e não pode agir.
3 Ang,t: é medo: o medo prolongado ou medo estendido adquire forte caráter antecípatório
e se aproxima de Kummer e de Sorge.
4 "A psique é invadida pelo afeto de angústia 1 (Angst) quando se sente incapaz de
lidar, por meio de uma reação apropriada, com a tarefa ( um perigo) vinda de fora; e
fica presa de uma neurose de angústia2 (Angst) quando se percebe incapaz de equilibrar
a excitação (sexual) vinda de dentro - em outras palavras, ela se comporta como se
estivesse projetando tal excitação para fora. O afeto e a neurose a ela correspondente
estão firmemente inter-relacionados. O primeiro é uma reação a uma excitação
exógena, e a segunda, uma reação à excitação endógena análoga. O afeto é um estado
que passa rapidamente, enquanto a neurose é um estado crônico, porque, enquanto a
excitaçio exógena age num único impacto, a excitação endógena atua como uma força
constante. Na neurose o sistema nervoso reage a uma fonte de excitação que é interna,
enquanto, no afeto correspondente, ele reage contra uma fonte análoga de excitação
que é externa."
"Sobre os Fundamentos para Destacar da Neurastenia uma Síndrome
Específica Denominada 'Neurose de Angústia"' (1894) [ESB 3, 109]
I
Aqui o sentido de Angst é de medo.
2
Freud, que ao longo de todo o artigo utiliza a designação nosológica Angstneurose (neurose
de angústia, ou neurose de ansiedade), cuja forma em alemão é compactada numa só palavra,
no trecho acima adota uma forma linear e explicativa, utilizando três palavras Neurose der Angst
(que em português equivaleria a dizer "neurose do medo"), ressaltando assim de que afeto se
trata na Angstneurose.
5 "Para fobias da espécie a que pertence a do pequeno Hans, e que são na reali'dade
as mais comuns, o nome 'histeria de angústia' (Angsthysterie) não me parece impróprio;
sugeri o termo para o Dr. W. Steckel."
"Análise de uma Fobia em um Menino de Cinco Anos" ( 1909)
-[ESB 1 0, 122]
7 "No homem e nos animais superiores pareceria que o ato do nascimento, como
a primeira experiência de ansiedade* do indivíduo, imprimiu ao afeto de ansiedade*
certas formas características de expressão. Mas, embora reconhecendo essa vinculação,
não devemos dar-lhe ênfase indevida nem desprezar o fato de que a necessidade
biológica exige que uma situação de perigo deva ter um símbolo afetivo, de modo que
um símbolo dessa espécie teria em qualquer caso que ser criado. Além disso, não penso
que estejamos justificado� ao presumir que, sempre que haja uma irrupção* (Ausbruch)
de ansiedade (Angst), algo como uma reprodução da situação de nascimento se passe
na mente. Nem mesmo é certo que os ataques histéricos, embora originalmente fossem
reproduções traumáticas dessa natureza, conservem esse caráter de modo permanente."
Inibições, Sintomas e Ansiedade (1926) [ESB 20, 1 15]
* Ausbruch é termo que só se compõe com reações explosivas com que se descarregam para
fora os afetos: a "irrupção de uma revolta popular", a "irrupção de raiva-/ cólera" e a "irrupção
de pavo1/fobia/medo". Em alemão não é possível combinar Ambruch com termos que denotem
agonia, aflição e outros sofrimentos mais intemalizados.
Retraduzindo todo o trecho: No homem e nos seres a ele aparentados, o ato de nascimento,
sendo a primeira vivência de medo, parece ter imprimido à expressão do afeto de medo certos
traços característicos. Todavia não deveríamos superestimar a importância deste fato e, ao
reconhecê-lo, não devemos perder de vista que constit�ir um símbolo para o afeto elo medo,
algo útil para as situações de perigo, é urna necessidade biológica e ter-se-ia desenvolvido de
qualquer forma. Creio ser injustificado que em todos eis casos de irrupção de medo se presuma
que algo equiparável à situação de nascimento se passe na vida psíquica. Nem mesmo é seguro
que os ataques histéricos, os quais originalmente são reproduções traumáticas de vivências desse
tipo, mantenham esse caráter permanentemente.
9 "A ansiedade 1 (Angst) é um estado afetivo, e como tal, naturalmente, só pod,e ser
sentida pelo ego. O id não pode ter angústia1 (Angst) como o ego, pois não é uma
organização e não pode fazer umjulgamento sobre situações de perigo. Por outro lado,
muitas vezes acontece ocorrer ou começar a ocorrer processos no id que fazem com que
o ego produza ansiedade (Angstentwicklung). Na realidade, é provável que as primeiras
repressões, bem como a maioria das ulteriores, sejam motivadas por uma ansiedade
(Angst) do ego dessa classe, 2 no tocante a processos específicos do id. Aqui estamos mais
urna vez fazendo uma distinção correta3 entre dois casos: o caso no qual ocorre algo no
id que ativa uma das situações de perigo para o ego e que o induz a emitir o sinal de
ansiedade (Angstsignal) para que a inibição se processe, e o caso no qual uma situação
70 Angústia, Ansiedade, Medo
10 "A ansiedade 1 (Angst) tem uma inegável relação com a expectativa: é ansieda
de \Angst) por algo. Tem uma qualidade de indefinição e falta de objeto. Em linguagem
precisa empregamos a palavra 'medo' 2 (Furcht) de preferência a 'ansiedade' 1 (Angst) se
tiver encontrado um objeto. ( ... ) O verdadeiro perigo (Realgefahr) é um perigo que é
conhecido, sendo a ansiedade realística3 (Realangst) a ansiedade 1 (Angst) por um perigo
conhecido dessa espécie. A ansiedade neurótica4 (neurotische Angst) é a ansiedade
(Angst) por um perigo desconhecido. O perigo neurótico (neurotisch'l! Gefahr) é assim
um perigo que tem ainda de ser descoberto. A análise tem revelado que se trata de
um perigo instintual (Triebgefahr). Levando esse perigo que não é conhecido do ego
até a consciência, o analista faz com 1ue a ansiedade neurótica4 (neurotische Angst) não
seja diferente da ansiedade realística (Realangst), de modo que com ela se pode lidar
da mesma maneira. Existem duas reações ao perigo real (Realgefahr). Uma reação afetiva,
uma irrupção de ansiedade1 (Angst,ausbruch). A outra é uma ação protetora."
Inibições, Sintomas e Ansiedade (1926) [ESB 20, 190]
"Podemos descobrir ainda mais sobre isso se, não contentes em rastrear a ansieda
de 1 (Angst) no perigo, prosseguirmos indagando qual é a essência e o significado de
uma situação de perigo. Claramente, ela consiste na estimativa do paciente quanto à
sua própria força em comparação com a magnitude do perigo e no seu reconhecimento
de desamparo em face a este perigo - desamparo físico se o perigo for real e desamparo
psíquico se for instintual."
Inibições, Sintomas e Ansiedade ( 1926) [ESB 20, 1 9 1]
Angst 71
1
O termo Angst é utilizado aqui no sentido de medo.
2
Tanto Furcht como Angst significam medo. Ver observações a respeito das diferenças entre
ambos nos comentários.
3
Realangst não é ansiedade realística, trata-se de medo ante algo real.
4
Aqui se trata de medo neurótico, expressão que está sendo contraposta a medo ante algo
real.
'
\
1 1 "Com bastante freqüência, quando um neurótico é levado, por um estado de
ansiedade (Angstzustand) a esperar a ocorrência de algum acontecimento terrível, ele
de fato está simplesmente sob a influência de uma lembrança reprimida (que está
procurando ingressar na consciência, mas não pode tornar-se consciente} de que algo,
que era naquela ocasião terrificante, realmente aconteceu."
"Construções em Análise" ( 1 937) [ESB 23, 303]
----------- Comentários
O termo Ang:5t é um dos mais polêmicos entre os tradutores de Freud. Embora não
seja o objetivo deste livro engajar-se nos debates travados entre tradutores, a dificuldade
de tradução e a imp.-º.rtância teórjca do termo Angst justificam um exame mais detido
sobre o tema.
Conforme já mencionado, em alemão Ang:5t significa "medo", abarcando desde os
sentidos de "temor" e "receio" até os sentidos intensos de "pânico" e "pavor", podendo
referir-se ·a objetos específicos ou inespecíficos. Não há bons equivalentes em alemão
para "ansiedade" ou "angústia", e ocasionalmente os três termos ("angústia", "ansieda
de" e "medo") podem se corresponder. Do ponto de vista lingüístico, não haveria por
que traduzir Ang:5t preponderantemente por "ansiedade" ou "angústia"; poder-se-ia
traduzir geralmente por "medo".
Todavia há um entremeio onde língua coloquial, tradições de tradução e teoria
psicanalítica se entrecruzam, exigindo algumas considerações.
qualquer dos usos em alemão de Angst" ("O Termo Angst e sua Tradução Inglesa" [ESB
3, 1 13]). Conforme Strachey, coloquialmente Angst pode ser traduzido para o inglês
por Jear, Jright e alarm.
Também Freud respeitou as equivalências do jargão técnico-psiquiátrico e empre
gou no francês angoisse e anxieté.
O Lexicum Medicum Polyglotum, ( 1 906) traduz o termo Angst de diversas maneiras:
a Angstneurose do alemão aparece no inglês como anxiety neurosis e no francês como
névrose d 'ángoisse. O termo Angstiiquivalent é traduzido por phobic equivalent e équivalent
· phobic. Afreiflottierende Angst (medo livremente flutuante) é equiparada a generalized
anxiety e angoisse generalisée. No mesmo Lexicum, a palavra Angst é traduzida para o
inglês como anxiety, fear, terror e phobia; e para o francês, como angoisse, peur, phobie
e anxieté.
Fora do campo médico, nos próprios dicionários de língua alemã do século XIX,
onde o equivalente latim sempre figurava ao lado do termo germânico, a palavra Angst
é traduzida por lingüistas alemães por angustus ou anxius (DW, 359). Os três termos
(Angst, "ansiedade" e "angústia") têm uma raiz indo-européia comum, angh (apertar,
comprimir), mas tal fato não implica que os sentidos e as conotações originais se
tenham mantido. De qualquer maneira, pode-se dizer que os dicionários médicos que
faziam equivaler entre os idiomas o termo "medo" (Angst) e as palavras "ansiedade" ou
"angústia" até seguiam a tradição de equivalências já existentes no âmbito dos dicio
nários da língua corrente.
Atualmente, o termo Angst tem se consolidado nas traduções psicanalíticas para o
português como "angústia" e "ansiedade", eventualmente como "medo", "temor" e
"receio". As traduções francesas e espanholas tendem a privilegiar "angústia"; as inglesas,
"ansiedade".
acometem. Após ter desenvolvido a segunda tópica, Freud passa a situar o Eu como
local do medo e apresenta outra concepção da relação entre "recalque" e Angst. Inverte
a seqüência anterior "rec'alque produz Angst " e afirma que será a Angst que o Eu sente
perante o perigo que levará o sujeito ao recalque. Basicamente, medos tais como o
temor à castração ou o medo de perda do amor materno é que levarão o sujeito a
recalcar suas tendências libidinais. Na 32ª Conferência, ao comparar suas duas teorias
sobre Angst, Freud se indaga a respeito da segunda teoria: "( ... ) como imaginamos agora
o processo de uma repressão sob a influência da Angst? O ego percebe que a
satisfação de uma exigência instintual deve, portanto, ser de algum modo suprimida,
paralisada, inativada. Sabemos que o ego consegue realizar tal tarefa, se é forte e se
atraiu o impulso instintual em questão para sua organização. Mas o que sucede no caso
da repressão é o impulso instintual ainda pertencer ao id, e que o ego se sente fraco.
Então o ego se serve de uma técnica no fundo idêntica ao pensar normal. O pensar é
um ato experimental executado com pequenas quantidades de energia, do mesmo
modo como um general muda pequenas figuras num mapa antes de colocar em
movimento seus grandes corpos de tropas. Assim, o ego antecipa a satisfação do
impulso instintual suspeito e permite efetuar-se a reprodução dos sentimentos
desprazerosos no início da situação de perigo temida. Com isto, o automatismo ,_
do princípio de prazer-desprazer é posto em ação e agora executa a repressão do
impulso instintual perigoso." (Novas Conferências Introdutórias sobre Psicanálise; Con
ferência 32: "Ansiedade e Vida Instintual") ( 1 932) [ESB 22, 1 2-3] .
Os comentários a seguir procurarão indicar que mesmo alterando sua concepção
sobre os mecanismos de geração de Angst e apesar de empregar o termo ora como
designação técnica de um quadro psiquiátrico, ora corno descrição fenomenológica
de sentimentos, ora numa acepção psicanalítica, a maneira como Freud utiliza a
palavra ao longo da obra tende a reunir as mesmas características-conotativas que
Angst possui no alemão coloquial. Pode-se dizer que Angst envolve simultaneamente:
o sentido de algo antecipalório (neste sentido, semelhante a "ansiedade"); algo que
produz sofrimento (neste sentido, semelhante a "angústia " ); um fenômeno de
caráter intenso, altamente reativo (neste sentido, significando "medo"); algo que se
vincula ao perigo e muitas vezes aproxima-se da fobia e do pavor (neste sentido,
assemelhando-se a "pânico").
entre nossas capacidades e o grau da ameaça. Aqui também se trata do termo Angst no
sentido corrente de "medo" (não se trata de "angústia" e "ansiedade").
mulher disposta a conectar qualquer sinal externo a essa disposição interna, para então
sentir medo ante perigos imaginários de morte.
No artigo "Hemmung, Symptom und Angst", de 1 926, Freud descreve repetida
mente os processos de prontidão reativa (Bereitschaj) para a ação detonada pelo medo
causado pela volta do recalcado, a qual reatualiza no sujeito o medo da ameaça de
aniquilação. Apesar de al�erar as explicações causais dos mecanismos envolvidos na
Angst, essa reatividade e pr:ontidão (Bereitschaj) para a descarga são uma constante n o
emprego freudiano do termo.
No exemplo 11, apesar da tradução por "estado de angústia", conotativamente se
trata de novo de um "estado de medo". Freud diz que o neurótico "espera a ocorrência
de algo tenebroso", referindo-se à pressão pelo retorno do recalcado. A disposição
constante de encontrar algo "tenebroso" é muito intensa e conotativamente próxima
da idéia de "pavor ou fobia crônicos".
Também no exemplo 1, de Breuer ( 1 893), a palavra Angst é empregada no sentido
de "medo", mas já na época era situada como um medo prolongado que se aproxima
da preocupação e da aflição, um afeto crônico.
No exemplo 9, Freud aborda a questão da Angst automática, do sinal de Angst, do
trauma e da situação de desamparo (Hiiflosigkeit). A ênfase de Freud quando trata da
Angstneurose é novamente na antecipação, na espera . .O sinal de Angst permite ao Eu
reconhecer e antecipar os sinais da chegada de s'ituações semelhantes às antigas
condições vigentes quando do trauma de nascimento. Estas haviam levado o sujeito a
uma situação de desamparo (Hiiflosigkeit) e causavam An�t. Assim, o Eu, se antecipan
do, procura evitar a repetição desse estado de desamparo. Tal concepção aproxima o
conceito de Angst da idéia de "ansiedade fortemente carregada de medo", um estado
de disposição à irrupção do medo.
Alguns tradutores empregam em português "angústia" para o tipo de sentimentos
citados nestes exemplos, devido ao fato de Freud se referir a " medos prolongados" e
ligados a uma expectativa. Efetivamente Freud não cessa de enfatizar a ligação de Angst
com a espera. Talvez as composições com a palavra "ansiedade ", tais como "neurose
ansiosa" (An�tneurose) e "espera ansiosa" (Erwartun�angst), estejam mais próximas do
sentido dos termos alemães do que as composições com "angústia", pois em português
há maior proximidade entre os termos "ansiedade" e "medo". Entretanto, seja qual for
a opção de tradução, deve ser ressaltado que se trata, no caso da Angstneurose, de um
estado de disposiçao a irrupções de medo.
Tomando esta última frase, se seguíssemos o critério de traduzir o medo específico (Realangst) por "medo" e o medo
inespecífico (neurotische Angst) por "ansiec:!:tde/angústia", teríamos o seguinte problema de lógica: a frase significaria
que, quando o objeto que causa a "ansiedade/angústia" é conhecido pelo Eu, o sentimento de "angústia/ansiedade"
se tran.:;formaria em "medo•. Ora, isw é ilógico, pois não é o fato de conhecer a ameaça que transforma a
"ansiedade/angústia" em medo: pode-se continuar simultaneamente com medo e ansioso e angustiado diante de
um perigo definido e conhecido (por exemplo, um réu que teme ser condenado à pena de morte). O caráter
ansiógeno é muiw mais librado à incerteza quanto ao desenlace e ao momento de contato com a ameaça do que ao
conhecimento de que perigo se trata. Ao contrário, "ansiedade" e "angústia• perante algo desconhecido podem estar
mais próximas do "medo• do que quando é conhecido o objeto (por exemplo, a sensação de que há uma ameaça
desconhecida rondando o sujeito pode causar um medo próximo do pavor, como se nota nos efeitos dramáticos
obtidos em filmes de suspense e terror). A utilização dos termos "angústia/ansiedade" na frase poderia fazer sentido
lógico se entendêssemos que a Realangst significa "angústia real" ou "ansiedade real", pois aí teríamos que a
"angústia/ansiedade neurótica" se iguala à "ansiedade/angústia real" quando o objeto se torna conhecido.
Entretanto, também esta opção não faz sentido, pois Realangst é claramente usado como significando "medo". No
parágrafo seguinte, pode-se constatar o emprego de Realangst no sentido de "medo": "No perigo real desenvolvemos
duas reações, a afetiva, a irrupção de medo (Angstau.sbruch), e a ação de proteção." Ora. a "angústia• residejustamente
em não poder reagir através da descarga e das ações de proteção (fuga ou ataque), e o mesmo vale para a "ansiedade",
a qual implica justamente ter de aguardar a chegada do perigo. O que Freud vincula a Realgefahr e Realangst é a
seqüência, de cunho biológico, da "irrupção de medo e a seguida reação de fuga ou acaque". Seria forçar o texto
imaginar que, na rápida ação descrita por Freud aqui, a seqüência pudesse ser:. "angústia e fuga-ou-ataque", ou
Angst 79
À guisa de conclusão
Como se nota, o emprego de Angst implica urna enorme dificuldade para o tradutor.
Já há em português urna tradição de jargão, e soaria bastante estranho falar em medo
de espera, neurose de medo etc. Afêm disso, há situ�ções em que é difícil diferenciar
medo, angústia e ansiedade, e a ênfase de Freud na espera e na inespecificidade da
An!f5tneurose muitas vezes sugere um sentimento próximo da ansiedade.
1. Seja qual for o ter.m._\> CI!!� �� empregue na tradução) é importante que h leitor)tenha
em mente que em Arigst, mesmo quando se trata de um medo vago e antecipatório,
ocorre um estado de prontidão reativa, visceral, intensa, algo vinculado à sensação de
perigo e muitas vezes próximo da fobi� e_ do, pavor. Isto vale tanto para a primeira como
para a segunda teoria freudiana de Angst; . ·
"ansiedade e fuga-ou-ataque".
A posteriori, Ação diferida: Nachtriiglichkeit
Composição do termo
1 nachtraglich: A posteriori, ulterior, posterior, mais tarde, depois, após. Agiu intem·
pestivamente, porém mais tarde, ponderando a respeito, se arrependeu. Posteriormente o efeito
do choque sefez sentir.
2 nachtragen: Guardar rancor. T;ata- se de uma pessoa rancorosa (no gerúndio: nachtra
gend). [Na página 206 do Deutsches Worterbuch (DW), dos in'nãos Grimm, encon tni-se,
Nachtraglichkeit 81
Etimologia
nach-: No antigo alto-alemão nah, significava inicialmente "perto de", depois passa
a significar "em direção a algo" e afinal adquire os sentidos de "atrás de algo",
"seguindo algo", "segundo", "conforme", "após" e "atrás". Os sentidos geográfico ("em
direção", "para"), temporal ("após") e de conjunção ("segundo", "conforme") derivam
todos da idéia de "seguir de perto".
-tragen: No gótico tinha a forma ga-dragan, originalmente "puxar", no antigo
alto-alem�o tragan e no médio alto-alemão tragen, "carregar" (no inglês atual resultou
em draw). Ligam-se a este tronco palavras alemãs como Tracht, "vestimenta", e Getreide,
"grãos ou cereais". A "vestimenta" é algo que se "porta-usa-carrega" e o "cereal" é
"portado-carregado" pela planta. Mais tarde o termo liga-se a situações e palavras
referentes a "transporte". No século xv encontram-se muitos termos compostos com
tragen, designando instrumentos de transporte; este termo também aparece na lingua
gem burocrática administrativa e comercial (Auftragen/encomendar, Betragen/ montar
a_certa quantia etc.). O uso de tragen associado a outros prefixos e sufixos se estende a
dezenas de palavras, abarcando vários conceitos abstratos e concretos, tão polissêmi
cos como o próprio termo nachtragen.
Significados adiciona·is de
a posteriori não presentes em nachtrãglich e Nachtrãglichkeit
Conotações adicionais de
a posteriori não presentes em nachtrãglich e Nachtrãglichkeit
alemão português
nachtragen (verbo) acrescentar a posteriori (verbo)
nachtraglich (adjetivo) a posteriori, ulterior(mente) (adj/adv)
Nachtraglichkeit (substantivo) ação diferida, efeito retardado (subst)
efeito a posteriori
significados
1 (adjetivo) a posteriori 1 a posteriori
2 (verbo) guardar rancor 2-
3 (verbo) levar atrás de alguém 3-
4 (verbo) acrescentar a posteriori 4-
5 (substantivo) qualidade de ter 5 qualidade de ter
efeito retardado, efeito a posteriori efeito retardado, efeito a posteriori (subst)
conotações:
A volta para acrescentar A
B dupla leitura: volta ao evento/ B-
evento permaneceu com o sujeito
C trabalho elaborativo C-
D- D foco sobre a distância temporal
"A propósito disso ocorreu a Dora o adendo (Nachtrag) de que, depois da palavra
'quiser', havia um ponto de interrogação."
Fragmentos da Análise de um Caso de Histeria ( 190 1-5) [ESB 7, 96]
[A respeito de um sonho.] "(. . . ) agora, porém, com o acréscimo das 'ninfas' que se
viam ao fundo 'do bosque denso',já não podia haver dúvidas. Era a geografia simbólica
do sexo!"
Frar;mentos da Análise de um Caso de Histeria ( 190 1-5) [ESB 7, 97]
[Nota 2]: "( ... ) no sentido de que os primeiros fragmentos do sonho a ser esquecidos,
e que só depois (nachtriiglich) são recordados, são sempre os mais importantes para a
Nachtrãglichkeit 85
5 "O que até então fora interdito por sua existência real foi doravante proibido
pelos próprios filhos, de acordo com o procedimento psicológico que nos é tão familiar
nas psicanálises, sob o nome de 'obediência adiada' (nachtrãglichen Gehorsarns). A nula
ram o próprio ato proibindo a morte do totem, o substituto do pai; e renunciaram aos
seus frutos abrindo mão da reivindicação às mulheres que agora tinham sido libertadas.
Criaram assim o·sentimento de culpa filial, os dois tabus fundamentais do totemismo,
que, por essa própria razão, corresponderam inevitavelmente aos dois desejos repri
midos do complexo de Édipo."
Totem e Tabu ( 1912-3) [ESB 13, 171-2]
7 "Não devemos esquecer a situação real que está por trás da descrição abreviada
dada no texto: o paciente sob análise, com mais de vinte e cinco anos de idade, estava
colocando as impressões e impulsos de seus quatro anos em palavras que não poderia
jamais encontrar naquela época. É simplesmente mais um caso de ação preterida*
(Nachtraglichkeit)."
História de uma Neurose Infantil ( 19 14-8) [ESB 17, 63, nota l]
* caso de efeito a posteriori.
8 "A observação que finalmente rompea sua crença é a visão dos órgãos genitais
femininos. Mais cedo ou mais tarde a criança, que tanto orgulho tem da posse de um
pênis, tem uma visão da região genital de uma menina e não pode deixar de
convencer-se da ausência de um pênis numa criatura assim semelhante a ela própria.
Com isso, a perda de seu próprio pênis fica imaginável e a ameaça de castração ganha
seu efeito adiado* (nachtraglich)."
"A Dissolução do Complexo de Édipo" ( 1 924) [ESB 19, 220]
* e a ameaça de castração passa a excercer um efeito a posteriori.
Nachtrãglichkeit e resistência
E: Carga ou investidura
I: Cathexis
F: Investissement
j
-------- - 0 Termo em Alemão ---------
Composição do termo
be-: Prefixo que torna transitivos os verbos intransitivos. Em alguns casos indica
uma aproximação, um contato, ou o ato de tomar (pegar).
setz-: Corresponde ao radical do verbo setzen, que na forma transitiva significa
literalmente "colocar sentado", "assentar" ou "pôr/colocar" em geral.
-ung;. Sufixo de substantivação que corresponde freqüentemente a "-ção" em português.
Significados do verbo
besetzen e do substantivo Besetzung
1 ) Ocupar um' lugar (banco, cadeira, toalete etc.). O toalete está ocupado.
2) Inv,;tdir, tomar, ocupar militarmente (também utilizado como substantivo).. Opais
foi ocupado.
3) Preencher um cargo (também utilizado como substantivo). O novo governo
preencheu/ocupo.u todos os cargos com gente sua.
4) Ocupar um papel no teatro (também utilizado como substantivo). Falta distri
buir/ocupar dois papéis na peça.
90 Catexia, Investimento
Conotações do verbo
besetzen e do substantivo Besetzung
A) O prefixo be-, em conjunção com o verbo setzen (assentar, colocar, pôr), remete
à ação de colocar num espaço um objeto que vem de outro lugar. A maneira de colocar
é semelhante a: "assentar" o objeto em determinado lugar, ocupando-o.
B) Tanto no sentido 1 como no 2, aquilo que é ocupado geralmente é algo que
ainda tinha espaço a ser preenchido. Uma vez tomado e ocupado, é como se as forças
que ocuparam tivessem se apossado ou tomado o local ou o objeto e o bloqueassem
(uma mesa ocupada num restaurante, uma aldeia ocupada pelo exército inimigo).
Imageticamente, ao ocupar, há um apossar-se do espaço e um espalhamento preen
chendo/bloqueando a área.
C) Em geral o termo besetzen é empregado referindo-se a ocupar espaços ou funções
com pessoas. Nos sentidos 3 e 4 é como se se tratasse de funções vazias a serem
populadas; podemos imaginar cargos ou papéis teatrais livres e vazios que serão
preenchidos.
D) Há implícita certa mobilidade no termo besetzen, pois aquilo que é besetzt
(colocado/ocupado) pode ser retirado (entzogen ). Aquilo que é besetzt não se incorpora
em definitivo ao local ou ao objeto sobre o qual tinha sido "assentado". Em alemão há
quatro verbos básicos para "colocar" ou "pôr". Cada um especifica em que posição o
objeto foi "colocado": legen (colocar deitado), setzen (colocar sentado, assentar), stellen
(colocar de pé, erigir, montar etc.) e hãngen (pendurar). Cada um destes verbos pode
receber prefixos que lhes darão sentidos mais precisos. Todas essas formas de ''coloca
ção" têm em comum o fato de serem bastante dinâmicas e reve-rsíveis. Há uma
plasticidade imagética (pode-se visualizar a posição) e uma mobilidade inerente a tais
verbos ( existe um sujeito que coloca e pode retirar novamente).
Etimologia
be-: Do indo-europeu *bhi, derivado de *ambhi (em torno de); assume no gótico a
forma bi·, no antigo alto-alemão bi-, no médio alto-alemão be·. Inicialmente, como
prefixo verbal, designava a direção espacial de um processo (por exemplo, befallen,
atacar ou acometer); mais tarde indicava também a intervenção temporalmente limita
da sobre um objeto ou pessoa. No alemão atual funciona como prefixo que transforma
advérbios, substantivos, adjetivos e verbos intransitivos em verbos transitivos.
Besetzung 91
Como se pode notar, nos exemplos abaixo setzen está sempre se referindo �
estabelecer - assentar - fixar - colocar - pôr etc.:
beisetzen: colocar um caixão ao lado do outro na sepultura (assentar junto a);
Besatzung-. tripulação (aqueles que forarr.. colocados); Besitz: posse, propriedade (aquilo
que foi assentado); durchsetzen: impor (colocar do início ao fim); setz.en: colocar,
estabelecer, instalar; Setzkasten: caixa tipográfica (caixa de colocar - assentar); überset
zen: traduzir, levar de uma margem-do rio a outra (assentar - colocar de-um lado para
o outro); Vorgesetzte: chefe, superior (aquele que está sentado adiante); Zusatz: adendo,
acréscimo (assentamento complementar).
O verbo besetzen será contrastado somente com "investir", pois "catexizar" não é
vocábulo corrente em português. Os substantivos Besetzung e "investimento" não serão
tratados à parte, pois grosso modo têm as mesmas características conotativas que os
respectivos verbos.
Significados adicionais de
"investir" e "investimento " não presentes em besetzen
Conotações adicionais de
"investir" não presentes em besetzen
conotações:
A assentar algo sobre/
em objeto/lugar/alguém A
B espaço recebe conteúdo, é tomado B -
C popular, vivificar A -
D plasticidade, mobilidade concreta D (investir é reversível, mas em geral
menos imagético)
E - E enfia/penetra
objetivo dessa primeira atividade psíquica era produzir uma 'identidade perceptiva' -
uma repetição da percepção vinculada à satisfação da necessidade."
A Interpretação dos Sonhos, cap. XII/C ( 1 900) [ESl� 5, 5 16]
por tentativa) acompanhada por um deslocar de pequenas quantidades de catexia, com pouco di.ipêndio
(descarga) destas.
2 representações, ou representações mentais.
3 e adquiriu outras qualidades perceptíveis à consciência através da ligação com os resíduos
verbais.
7 "( ... ) quando a catexia do ego (Jchbesetzung) com a libido excede certa quantidade."
"Sobre o Narcisismo: Uma Introdução" (1914) [ESB 14, 1 0 1 ]
De forma geral besetzen (investir, ocupar, carregar de, tomar) designa o ato de
"ocupar algo com energia psíquica" (um neurônio, uma representação, uma zona
corpórea, um objeto).
Inicialmente é empregado numa acepção mais concreta, neurológica, designando
a •ocupação" física dos neurônios pela energia psíquica (isto é, carregá-los de energia
e preenchê-los).
Mais adiante, ao longo da obra, o termo c'onhece um uso mais extenso e, apesar do
emprego inicial sempre ser retomado, é utilizado cada vez mais num sentido figurado,
referindo-se a aspectos funcionais e sistêmicos.
Não seria possível na presente abordagem, cujo foco é lingüístico, discorrer
detalhadamente sobre o percurso teórico da Besetzung na obra freudiana e suas
Beseczung 97
Mobilidade e plasticidade
quando surge uma "necessidade", a energia emanada dessa fonte pulsional mobilizará
todo o circuito, percorrendo a rede associativa e catexizando ( carregando de energia,
ativando) as representações associadas, criando assim a evocação alucinatória do objeto
e da satisfação associada à presença desse objeto. Essa "ocupação" (Besetzung), seja de
neurônios, seja de representações, ativará um conjunto de representações. A "ocupa
ção" (Besetzung), no contexto alucinatório, gerará um acúmulo de tensão que não
poderá ser descarregada através da satisfação real.
Já no caso dos desejos que encontram satisfação real, a tensão será descarregada até
que novamente os desejos (indestrutíveis) voltem a produzir uma catexia (exemplo 3).
No exemplo 6, a plasticidade e a mobilidade da Besetzung são ilustradas pela imagem
utilizada por Freud. Compara a catexia que é realizada com energia libidinal do ego a
"emanações" ora estendidas em direção ao objeto extern o, ora recolhidas como
"pseudópos de animaizinhos protoplasmáticos (amebas)".
No exemplo 5, a mobilidade e a plasticidade da Besetzung são visualizáveis na
descrição do pensar como uma experimentação imaginária. Trata-se de uma espécie
de simulação mental através da ação de deslocar por tentativas pequenas quantidades
de energia catexizada e vin culada a certas representações, ativando percepções que
estão em determinada relação entre si.
Superinvestimento
o ego nos processos psicóticos, ou ainda, corno no exemplo 13, pode referir-se a urna
camada adicional de significação colocada sobre as representações no processo do
pensamento.
No exemplo 13, Freud trata do importante processo de conexão ( Verknüpfung) das
representações ainda em estado mais primitivo (representações apenas dos objetos)
com as correspondentes·-representações verbais. Essa conexão permite à psique elevar
se acima do processo primário e atingir um nível mais complexo de organização. O
processo de associação/conexão ( Verknüpfung) ocorre através da Überbesetzung, ou seja,
pela superposição de urna camada verbal sobre a camada imagética, estendendo assim
a rede de representações associadas e interligando a dimensão das representações da
coisa à dimensão das representações das palavras.
Contra-investimento
E: Compulsión
F: Censure, compulsion, obsession, contrainte
I: Compulsion
Composição do termo
Termo simples.
1) Coação irresistível provocada por algo que força para certa ação, ato de compelir,
de forçar, de obrigar (também utilizado como verbo). A pressão legal o levou a pagar os
impostos atrasados.
2) Necessidade. Não há necessidade de agir tão rapidamente.
3) Obrigação. Ele age por obrigação.
4) Constrangimento, inibiçã� . El,e cowcou de lado o constrangimento e agiu desinibidamente.
Conotações de Zwang
A) O verbo zwingen ("obrigar", "forçar") expressa uma "coação forte", evoca a idéia
de "encurralar" de forma tal que o sujeito só possa agir numa direção. O verbo zwãngen,
do mesmo tronco etimológico, significa "comprimir", "fazer passar à força". Tal qual
o suco de uma fruta que, de tão espremido, é obrigado a escoar pelas incisões feitas
102 Compulsão, Obsessão. Pressão
na casca, o verbo zwingen remete à idéia de que, de tão comprimido, o sujeito só pode
escapar da pressão agindo na direção para a qual foi forçado.
B) A palavra Zwang evoca a noção de certa alterid.ade ( ou externalidade) da "fonte
que pressiona". Essa alteridade não significa que a "fonte de pressão" tenha de
localizar-se fora do sujeito, mas que, mesmo localizando-se dentro dele, seja percebida
como provinda de "uma parte" ou de um "objeto interno". Portanto, no caso de um
Zwang interno, reproduz-se essa "alteridade-externalidade" dentro do sujeito (algo
existe em mim e me força a agir em certa direção); é como se transformássemos uma
-parte de nós em "entidade autônoma" e em seguida imaginássemos que essa entidade
nos força a algo. Para designar o ato de "auto-impingir-se algo", diz-se sich einen Zwang
antun (praticar sobre si uma coação). Permanece aí uma "divisão da autonomia do e no
sujeito". Algo dentro dele o obriga a agir em certa direção.
C) Diferentemente de Drang (pressão), que evoca algo que "brota do núcleo do
sujeito" e leva o indivíduo a agir maciçamente, nem mesmo desejando contrapor-se ao
Drang (afinal, o Drang é de certa forma o resultado d.a transformação da "pressão" em
"vontade", ver página 108), o Zwang implica certo estranhamento do "eu com o eu" e
é resultado de uma força à qual o sujeito desejaria resistir.
Etimologia
Significados adicionais de
"compulsão " e "obsessão " não presentes em Zwang
compulsão:
5) Ímpeto interno irrefreável de repetir. Umfumante compulsivo. Uma compulsão afalar.
obsessão:
6) Idéias de cunho persecutório, mania, estado patológico em que a mente está
tomada por uma idéia fixa. Esta preocupação constante com assaltos está se transformando
numa obsessão.
Conotações adicionais de
"compulsão " e "obsessão " não presentes em Zwang
1 "Outros porém rebelam-se contra o fato de sua inversão e a sentem como uma
compulsão 1 (Zwang) patológica.
"(Nota 1 : Essa rebeldia contra a2 inversão pode ser o que condic'.ona a possibilidade
de se receber a influência de um tratamento por sugestão ou pela psicanálise.)" [Nota
cio próprio Freud.]
Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (rn05) [ESB 7, 129]
Compulsão tem aqui um sentido próximo de imposição.
I
2
Contra a imposição (Zwang) da inversão.
6 "A compulsão (Zwang) é, por outro lado, uma tentativa para alguma compensação
pela dúvida e para uma correção das intoleráveis condições de inibição das quais a
dúvida apresenta testemunho. Se o paciente, auxiliado pelo deslocamento, enfim
consegue decidir acerca de uma de suas intenções inibidas, a intenção deve ser
efetivada. É verdade que esta não é a sua intenção original, mas a energia represada
nessa última não pode deixar escapar a oportunidade de encontrar um escoamento
para a sua descarga, no ato substituto. Portanto essa energia se faz sentir ora em ordens,
ora em proibições, na medida em que o impulso de afeto ou o impulso hostil exerce o
controle da senda que conduz à descarga."
"Notas sobre um Caso de Neurose Obsessiva" ( 1909) [ESB 10, 224]
1
7 "Em última instância, pode-se supo r que toda compulsão (Zwang) interna que se
faz sentir no desénvolvimento dos seres humanos foi originalmente - isto é, na história
2
da humanidade - apenas compulsão (Zwang) externa."
"Reflexões para os Tempos de Guerra e Morte" ( 19 15) (ESB 14, 3 19]
Não obstánte soe estranho em português, o sentido de Zwang aqui é de imposições ou
I
coações.
2 Em vez d,� compulsão externa, iiu}Jerer Zwan é, usado no sentido de coação exercida de fora.
g
(
106 Compulsão, Obsessão, Pressão
Com freqüência trata-se de um Zwang que o sújeito percebe como sendo uma
força quase externa que induz a determinada ação de maneira desagradável. N o
exemplo 5, é ressaltada essa "externalidade" com relação ao ego - Freud chega a
falar de uma luta secundária do paciente contra as idéias obsessivas que penetraram
seu con sciente.
No exemplo 8, a presença do superego aponta "outra instância" dentro do sujeito
que o "força" para certa direção. Diferente da conotação da palavra "compulsão", que
descreve algo que "emana" irresistivelmente do sujeito, o Zwang lhe é "imposto" e evoca
a presença de um "outro" que o força.
Nos exemplos 7 e 8, Freud dá a entender que todo Zwang tem uma "origem externa "
e é posteriormente internalizado, processo que (com exceção dos neuróticos) contribui
para um desenvolvimento cultural. Quando aborda fenômenos culturais em Totem e
Tabu ( 19 12-3) ou em O Futuro de uma Ilusão ( 1927), Freud enfoca as "proibições" e
"inibições" do Zwang, utilizando o termo no sentido de "coação-constrangimento"
(exemplo 8). Apesar de não deixar de vinculá-lo à neurose, o termo é empregado no
sentido mais genérico; também neste contexto, assume o caráter de uma "imposição
externa e obrigatória".
No exemplo 6, Freud descreve a compulsão como um processo de compensação
da "dúvida". Enquanto a dúvida não encontra resolução, há um acúmulo de energia
· represada, a qyal exerce uma pressão "insuportável" para escoar. A resolução da
t
108 Compulsão, Obsessão, Pressão
De modo geral, trata-se de três termos diversos. O Trieb é algo que aguilhoa e cuja
satisfação pode ser prazerosa, é um grande princípio da vida, da espécie, e um impulso
perene para a ação. O Zwang é resultado de um conflito pulsional que se instala e
submete o sujeito a um cerceamento, impondo-lhe uma direção. O Trieb impuls�ona e
o Zwang força e faz sofrer. Quanto a Drang, conforme mencionado, descreve algo
intermediário entre a vontade e a necessidade. Por exemplo, o Drang de urinar não
diferencia a necessidade ou a vontade, designa apenas o resultado da pressão que,
internalizada, se transforma em vontade-impulso para a ação.
Lingüisticamente, o Trieb designa uma força que coloca algo em movimento, o
Drang designa um impulso avassalador e o Zwang algo que é imposto ou forçado.
Evidentemente tais vertentes de sentido, apesar de diferenciadas, em certos contex
tos podem estar próximas. Nem sempre Freud as emprega diferenciadamente. Em Além
do Princípio de Prazer ( 1 920) a expressão "compulsão à repetição" (Wiederholungszwang)
e a palavra Zwang isoladamente são utilizadas por Freud ocasionalmente quase como
sinônimos de Drang (pressão) e Trieb (pulsão). Nesse texto , o autor parece desejar
destacar o caráter avassalador e irresistível da determinação biológica à qual sucumbe
o sujeito, condenado a realizar a "pulsão" para além de sua vontade. Nesse contexto,
o uso de Zwang se ressalta por ser uma imposição do Trieb ào sujeito (ver exemplo 6
do verbete "Pressão" (Drang), p. 328).
(As versões em espanhol, francês e inglês, a seguir, não incluem os termos das
BewuJJte, BewuJJte:,; das UnbewuJJte, UnbewuJJtes, das VorbewuJJte, VorbewuJJtes, os quais, em
geral, não são diferenciados na maioria das traduções. As diferenciações feitas na versão
acima, em português, correm por conta do autor.)
Espanhol:
Conciencia Bewujltsein
Conciente bewujlt
Conciencia moral Gewissen
Condición de conciente Bewujltheit
lnconciente unbewujlt
Preconciente vorbewujlt
Francês:
Conscience Bewujltsein
Conscience, conscience moral Gewissen
Consciencialité BewuJJtheit
Conscient bewuJJt
Inconscient unbéwuJJt
Préconscient vorbewuJJt
1 /0 A Consciência
Inglês:
Being conscious Bewujltheit
Conscience ou awareness Bewujltsein
Conscience Gewissen
Conscious bewujlt
Preconscious Vorbewujlt
Unconscious unbewujlt
Composição de Bewu.Btsein
be-: Prefixo que geral-!Ilente torna transitivos os verbos intransitivos. Neste caso
provavelmente indicava a qireção da ação do antigo verbo ao qual servia de prefixo.
wujlt-: Corresponde ao radical do particípio perfeito de um antigo verbo já extinto,
bewissen ( orientar-se, encontrar-se, saber de) [D. VII, 79].
-sein: Corresponde ao verbo sein, "ser" ou "estar".
Significados de Bewufitsein
Conotações de BewuBtsein
Etimologia
be-: Do indo-europeu *bhi, derivado de *ambhi (em torno de); assume n o gótico a
forma bi-, no antigo alto-alemão bi-, no médio alto-alemão be-. Inicialmente designava,
como prefixo verbal, a direção espacial de um processo (por exemplo, befallen, atacar
ou acometer), .mais tarde passou a indicar também a intervenção temporalmente
1 12 A Consciência
limitada sobre um objeto ou pessoa. No alemão atual funciona como prefixo que
transforma advérbios, substantivos, adjetivos e verbos intransitivos em verbos transitivos.
-wissen: Derivado do indo-europeu, raiz * 'l}eid- (ver, localizar pela visão e "saber" no
sentido de ter visto), no grego idein (ver, reconhecer), idénai (saber), idéa (fenômeno,
aparição, Gestalt), no latim videre (ver), no gótico assume a forma witan, no antigo
alto-alemão wizzan, no médio alto-alemão wizzen. No grupo germânico wissen equivale
a "ter visto". Deste núcleo evoluíram palavras como weise (sábio), Witz (humor, chiste,
piada), Weise (modo, forma de aparição) . Como se pode notar, há uma ligação original
entre "saber", "ver" e "chiste ". Entretanto, esta ligação não era evidente para o falante
do alemão no século XIX.
Também BewujJtsein (consciência no sentido de estar ciente) e Gewissen (consciência
no sentido da entidade moral que julga) ligam-se ao verbo wissen.
A partir do século XVI, bewujJt aparece como forma adjetivada derivada de bewissen
( orientar-se, saber de algo, encontrar-se). Através da tradµção da Bíblia por Lutero, a
forma bewusst (estar orientado por uma clara consciência/saber) se impôs.
-sein: É um verbo cuja conjugação foi composta a partir de três fontes diversas:
1) da raiz indo-européia * J!es- (permanecer, morar, pernoitar) derivou-se o pretérito
imperfeito e o particípio perfeito (war, gewesen); desta raiz também originam-se termos
alemães como Wesen (essência ou ser vivo, entidade vivente).
2) da raiz indo-européia *es- (ser/estar) derivou-se o presente do indicativo (ist, sind,
seid); também no latim o presente esse, as palavras latinas ligadas a "essência" e no grego
einai (ser).
3) da raiz indo-européia *bheu- (crescer, tomar-se) derivou-se a conjugação da primeira
e da segunda pessoa no indicativo (bin, bist); também no latim o pretérito perfeito (fui).
A substantivação do infinitivo do verbo sein, "das Sein ': só se impôs JlO novo alto-ale
mão; até então se utilizava a palavra Wei-en (essência ou ser vivo, entidade vivente).
BewujJtsein: A palavra BewujJtsein tem um longo percurso desde a filosofia grega.
Foi traduzida do grego para o latim e do latim para o alemão. Freqüente na filosofia
alemã, foi utilizada também por Kant. No século xvm passa a ser mais usada como
contraposição a "impotência", "inconsciência" (em alemão a palavra para desmaio ou
estado de coma é Ohnmacht, literalmente "sem poder" ou "sem potência"; seu sinônimo
é bewujJtlos, literalmente "sem consciência").
Sentidos adicionais de
"consciência" não presentes em Bewu.Btsein
Conotações adicionais de
"consciência" não presentes em BewuBtsein
significados:
1 a consciência, estado vígil, 1 a consciência, estado
estar acordado vígil, estar acordado
2 entidade psíquica capaz de 2 entidade psíquica capaz de estar
estar consciente ( de ter consciência) consciente (de ter consciência)
3 o estado de consciência, estar 3 o estado de consciência, estar
cognitivamente capaz cognitivamente capaz
4- 4 instância julgadora
conotações:
A dupla leitura possível ( como verbo A-
+ adjetivo, ou como substantivo)
II
Em alemão, tal qual em português, podem-se substantivar adjetivos e verbos. Em português, geralmente a
substantivação é precedida de artigo (O Belo, O Inconsciente, O Falar etc.). Quando precedida do artigo, a
substantivação alemã, como em português, também pode designar uma qualidade genérica e ideal (O Belo) e
eventualmente uma função/instância (O Falar) ou um ser (O Estrangeiro).
Substantivações sem artigo são raras em português (por exemplo, no plural, referindo-se a pessoas: "feios e brutos
também amam"; no singular, referindo-se a características de materiais: "doce e azedo, quando presentes em boa
proporção, fazem um prato saboroso"; "quente e frio resultam em algo morno").
Em alemão a substantivação sem artigo é freqüente. Tal qual em português, também em alemão, quando a
substantivação não é precedida de artigo e utilizada no plural, designa um conjunto de elementos com determinada
característica comum (feios e brutos); empregada no singular, designa materiais (conteúdos) com determinada
qualidade (quente e frio, azedo e doce etc.). As substantivações no singular freqüentemente empregadas no texto
freudiano, "Inconsciente" ( Unhewu)Jtes), "Consciente" (B=JJtes) e "Pré-consciente" (VorbewujJtes), não se referem a
instâncias ou ao estado em que a pessoa se encontre, mas a materiais ou conteúdos.
BewuP.,tsein 115
1 "A resistência deveria ser contornada pelo trabalho da interpretação e por dar a
conhecer os resultados ao paciente. ( ... ) Contenta-se em estudar tudo o que se ache
presente, de momento, na superfície da mente do paciente, e emprega a arte da
interpretação principalmente para identificar as resistências que lá aparecem, e torná
las conscientes (bewujltzumachen) ao paciente."
"Recordar, Repetir e Elaborar" ( 19 14) [ESB 12, 1 93]
4 "A psicologia barrara seu próprio acesso à região do id, insistindó num postulado
que é bastante plausível, mas insustentável: a saber, que todos os atos mentais são
conscientes para nós 1 (uns bewuj]t sind), que ser consciente2 (BewuJJt-sein) é o critério do
que é normal, 3 e que, se há processos em nosso cérebro que não são conscientes, não
merecem ser chamados de atos mentais e não são de qualquer interesse para a
psicologia.
A Questão da Análise Leiga (1926) [ESB 20, 224]
I Em alemão Akte die uns bewu)Jt sind significa "atos do quais estamos cientes".
Apesar p_e
haver contigüidade de sentido entre "ter consciência de" e "estar ciente de", não são termos
idênticos.
2
Aqui se trata de um jogo de palavras: o hífen ressalta a composição do termo (estar +
cien�e).
Em vez de: "( ... ) é o critério do que é p.ormal", leia-se: "( . . . ) é o atributo do que é
3
mental".
5 "É possível, então, que coisas tão importantes como nossa ética, nossa consciência
(Gewissen), nossos ideais não desempenham absolutamente qualquer papel nessas
perturbações profundas?"
A Questão da Análise Leiga (1926) [ESB 20, 235]
6 "Uma reflexão sobre essa relação dinâmica permite-nos, agora, distinguir duas
espécies de inconsciente* ( Unbewujltes - subst s/artigo) - uma que é facilmente transforma
da, em circunstâncias de ocorrência freqüente, em algo consciente (BewuJJtes - subst
s/artigo); e uma outra, na qual essa transformação é difícil e apenas se realiza quando
sujeita a considerável dispêndio de esforços, ou, possivelmente, jamais se efetue,
absolutamente. Com a finalidade de evitar a ambigüidade no sentido de estarmo-nos
referindo a um ou a outro inconsciente (das UnbewuJJte - subst e/artigo), de estannos
usando a palavra no sentido descritivo ou no sentido dinâmico, utilizamo-nos de um
expediente permissível e simples. O inconsciente (Unbewu)Jte - subst e/artigo) que está
apenas latente e portanto facilmente se torna consciente (bewuj]t - adjetivo), denominamo-lo
"pré-consciente", (vorbewuJJt - adjetivo), e reservamos o termo "inconsciente" ( "unbewuJJt"
- adjetivo) para o outro. Temos agora três termos, "consciente" (bewuJJt - adjetivo),
"pré-consciente" ( vorbewuJJt - adjetivo) e "inconsciente" ( unbewuj]t - adjetivo), com os quais
podemos ser bem-sucedidos em nossa descrição dos fenômenos mentais. Repetindo:
o pré-consciente (das VorbewuJJte - subst e/artigo) também é inconsciente (unbewuj]t -
adjetivo) no sentido puramente descritivo, mas não lhe atribuímos esse nome, exceto
quando falamos sem a preocupação de conferir-lhe precisão, ou quando temos de fazer
a defesa da existência, na vida mental, de processos inconscientes (unbewu}Jter - adjetivo)
em geral."
Novas Conferências Introdutórias sobre Psicanálise; Conferência 3 1:
"A Dissecção da Personalidade Psíquica" (1932) [ESB 22, 91]
Bewu!!,tsein 117
* Não se trata de duas espécies de inconsciente, mas de duas espécies de conteúdos que
podem estar em estado inconsciente. Ver observações a respeito do exemplo 6 no item
"Comentários".
E: Defensa
F: Défense
1: Defence
Composição do termo
ab-: A preposição ab delimita um ponto de partida, tanto para datas quanto para
localização espacial. O prefixo ab- liga-se com freqüência a verbos de movimento,
demarcando que algo se "destaca", "desprende" ou "ricocheteia".
Wehr: O substantivo Wehr significa "barragem", "açude", "dique". O verbo wehren
significa "impedir", "barrar", "evitar", "bloquear".
Significados do verbo
abwehren e do substantivo Abwehr
Conotações do substantivo
Abwehr e do verbo abwehren
Etimologia
ab-: Derivado da raiz indo-européia *apo- (embora, a partir de). No gótico assume a
forma af, no antigo alto-alemão aba-, no grego apó- e no latim ab-. Permaneceu com o
sentido de preposição e advérbio que já possuía no gótico, sendo freqüentemente
substituído, no alemão moderno, pela preposição von ("de"). Continua servindo de
prefixo para verbos (em geral de movimento), muitas vezes demarcando o ponto de onde
o movimento parte.
Wehr: Da raiz indo-germânica *uer- ( cercar com gradeamento ou fortificação, cobrir,
t"\
fechar, guardar). No gótico o verbo assume a forma warjan, no antigo alto-alemão
werian- e no médio alto-alemão wern. Outros grupos semânticos interligados ao verbo
wehren são wahren (guardar), Wehr (originalmente cerca de trançado para aprisionar
peixes, mais tarde fortificação contra água) e Werk ( obra, fábrica, usina). No latim operire
(*op-uerire) significava "cobrir, fechar, tampar". No século XVI encontram-se termos
militares como abwehren (repelir com sucesso), e no século XVIII aparecem as formas
Abwehr (defesa) e verwehren (proibir, recusar).
Abwehr 123
Significados adicionais de
"defesa" e "defender" não presentes em Abwehr
Conotações adicionais de
"defesa" não presentes em Abwehr
significados
1 fazer retroceder, repelir 1 repelir
2 rejeitar 2-
124 Defesa
3 afastar 3-
4 impedir 4-
5 - 5 resistir
conotações
A movimento de rechaçar A
B inimigos são afastados, mas se B-
permanece em prontidão defensiva
C - C eventualmente atividades de grande
amplitude para proteção
1 "Propus então a idéia de que a eclosão da histeria pode ser quase invariavelmente
atribuída a um conflito psíquico que emerge quando uma representação incompatível
detona uma defesa (Abwehr) por parte do ego e solicita um recalcamento. Na época, eu
não soube dizer quais seriam as circunstâncias em que um esforço defensivo (Abwehr)
desse tipo teria o efeito patológico de realmente jogar no inconsciente uma lembrança
que fosse aflitiva para o ego e de criar um sintoma histérico em seu lugar. Hoje porém
posso reparar essa omissão: a defesa (Abwehr) cumpre seu propósito de arremessar* a
representação incompatível (unvertrãglich) para fora da consciência quando há cenas
sexuais infantis presentes no sujeito (até então normal) sob a forma de lembranças
inconscientes, e quando a representação a ser recalcada pode vinrular-:Se em termos
lógicos e associativos com uma experiência infantil desse tipo."
"A Etiologia da Histeria" (1896) [ESB 3, 1 95]
* O verbo utilizado é drãngen, "empurrar", "forçar", cuja raiz é a mesma de verdrãngen,
"recalcar".
3 "Os sintomas que fazem parte dessa neurose se enquadram, em geral, em dois
grupos, cada um tendo urna tendência oposta. São ou proibições, precauções e expiação
- isto é, negativos quanto à natureza1 - ou são, ao contrário, satisfações substitutivas
que amiúde aparecem em disfarce simbólico. O grupo defensivo (abwehrende), n egativo
dos sintomas é o mais antigo dos dois; mas à medida que a doença se prolonga, as
satisfações, que zombam2 de todas as medidas defensivas (Abwehr), levam vantagem. A
formação de sintomas assinala um triunfo se consegue combinar a proibição com a
satisfação, de modo que o que era originalmente uma ordem defensiva ( abwehrende) ou
proibição adquire também a significância de uma satisfação; e a fim d:! alcançar essa
finalidade muitas vezes faz uso das trilhas associativas ID:ais engenhosas."
Inibições, Sintomas e A,nsiedade (1926) [ESB 20, 135-6]
Isto é, de natureza (no sentido de "essência") negati�a.
1
2 As satisfações, zombando
de todas as defesas, se to�nam preponderantes.
5 "Substituí-a* depois pela palavra 'repressão', mas a relação entre as d1.1as conti
nuou incerta. Constituirá uma vantagem indubitável, penso eu, reverter ao antigo
conceito de 'defesa' (Abwehr), contanto que o empreguemos explicitamente como uma
designação geral para todas as técnicas das quais o ego faz uso em conflitos que possam
conduzir a uma n eurose, ao passo que conservamos a palavra 'repressão' para o método
especial de defesa (Abwehrmethode) com o qual a linha de abordagem adotada por nossas
investigações nos tornou mais bem familiarizados no primeiro exemplo."
Inibições, Sintomas e Ansiedade ( 1 926) [ESB 20, 188]
* Refere-se à expressão "processo defensivo" - Abwehrvorgang.
6 "( ... ) por isto reconhecemos um aspecto essencial n o recalque histérico: o ato de
'mantê-la afastada (Abhaltung) da consciência. ( ... ) O processo através do qual a neurose
126 Defesa
obsessiva afasta (beseitigt) uma reivindicação pulsional ( ... ), o 'desfazer', sobre cuja
tendência defensiva (abwehrende) não pode haver dúvida."
Inibições, Sintomas e Ansiedade ( 1 926) [ESB 20, 188-9]
Com exceção dos exemplos 1 e 7, todos os outros são extraídos do texto Inibições,
Sintomas e Ansiedade ( 1 926), onde Freud trata detalhadamente deste conceito.
Ocasionalmente é utilizado o tenno Verteidigung (defesa) em vez de Abwehr (exem
plo 2), mas Abwehr é empregado com mais freqüência.
A palavra Abwehr é usada desde os primeiros trabalhos de Freud: aparece, por
exemplo, no "Projeto para uma Psicologia Científica" ( 1895) e nos Estudos sobre a
Histeria ( 1 895). Nesse período é comum encontrar o termo compondo designações
que mais tarde viriam a cair em desuso, como Abwehrneurosen (neuroses de defesa),
Abwehrhysterie (histeria de defesa), primãre Abwehr (defesa primária) etc.
Dur;mte algum tempo, Abwehr foi utilizado como equivalente a "recalque", mas, ao
longo da obra, o conceito de Abwehr sofreu muitas elaborações, sendo utilizado mais
tarde primordialmente como designação genérica para "mecanismos de defesa" (Ab
wehrmechanismen ), englobando uma ampla gama de processos, tais como recalque,
projeção, negação etc. (exemplo 5).
Abwehr e sintoma
A palavra "descarga" é uina tradução correta para Abfuhr, mas há aspectos conota
tivos do termo alemão que não se mantêm em português.
O verbo abführen significa genericamente "conduzir daqui" (para além), "levar
embora"; o substantivo Abfuhr designa um' movimento de "retirada", "escoamento".
Ambos evocam imagens ligadas aos desdobramentos do ato de retirada: a utilização
de um suporte que carrega o objeto, conduzindo-o, através de uma via, para fora. Algo
diverso de uma "descarga" ou "disparo" abrupto.
Trata-se de um dos termos mais presentes em toda a obra freudiana.
Composição do termo
ab-: A preposição ab delimita um ponto de partida, tanto para datas quanto para
localização espacial. O prefixo ab- liga-se com freqüência a verbos de movimento,
demarcando um ponto de corte a partir do qual algo se "destaca", "separa" ou
"desprende".
fuhr: Remete ao verbo führen (conduzir veículos ou pessoas, liderar). Também
poderia remeter ao pretérito imperfeito do verbofahren ( dirigir veículo, dirigir-se com
veírulo, viajar, ir etc., transportar algo ou alguém em veículo). Ambos os verbos têm a
mesma origem etimológica.
Significados do verbo
abführen e do substantivo Abfuhr
Conotações de Abfuhr
Etimologia
ab-: Derivado da raiz indo-européia *apo- (embora, a partir de). No gótico assume
a forma af, no antigo alto-alemão aba- , no grego apó- e no latim ab-. Permaneceu com
o sentido de preposição e advérbio quejá possuía no gótico, sendo no alemão m, >demo
freqüentemente substituído pela preposição von ("de"). Continua servindo de prefixo
para verbos (em geral de movimento), muitas vezes demarcando o ponto de onde o
movimento parte.
Fuhre: Derivado da mesma raiz indo-européia do verbo fahren (ir, dirigir veículo) e
do substantivo Fahrt (viagem, percurso). O verboführen (dirigir, conduzir, liderar) no
antigo alto-alemão tinha a forma fuoren, no médio alto-alemão vüeren, e significava
"colocar em movimento", "fazer ir", e depois "trazer" e "dirigir", "concl�1zir". No novo
alto-alemão, o substantivo Fuhr passa a combinar-se com inúmeros prefixos, assumindo
um amplo leque de significados. Já cedo Fuhr tinha o sentido de "percurso-viagem
durante a qual algo é transportado", bem como de "carga de veículo".
Abfuhr 131
Significados adicionais de
"descarga" e "descarregar" não presentes em Abfuhr
Conotações adicionais de
"descarga" e "descarregar" não presentes em Ahfuhr
embora daqui
5- 5 retirar carga de um veículo
6- 6 disparo, rajada
conotações
A demarca saída a partir de um pomo A-
B saída menos abrupta (escoamento, B (no sentido 6 refere-se a algo mais
evacu� ção) abrupto)
C via d� escoamento desobstruída C (no sentido 6 pressupõe bom con
dutor, material reativo)
D um suporte carrega o objeto D (não rio sentido 6)
E- E geralmente algo abrupto e autônomo
1 "Há portanto dois resultados possíveis para cada processo excitatório inconscien
te. Ou bem ele fica por sua própria conta, caso em 9.ue acaba irrompendo em algum
ponto e, nessa ocasião isolada, encontra descarga 1 (AbfluJJ) para sua excitação na
motilidade, ou cai sob a influência do pré-consciente e sua excitação, em vez de ser
2
descarregada (abgeführt), fica Iigada (gebunden) pelo pré-consciente."
A Interpretação dos Sonhos, cap. VIII/D ( 1900) [ESB 5, 526]
I
Aqui Freud utiliza o termo Abfluj) (escoar de líquidos) em vez de Abfuhr (retirada). O
sentido do trecho é: "( ... ) nessa ocasião isolada, encontra via de escoamento para sua excitação
através da motilidade."
2
O sentido deste trecho é: em vez de ser descarregada, é "fixada/atada" pelo pré-consciente.
4 "Esta disposição à inibição, que devo considerar como despesa real,* análoga à
mobilização no campo militar, será neste mesmo momento reconhecida como supér
flua ou tardia, e portanto descarregada (abgeführt) em statu nascendi pelo riso."
O Chiste e sua Relação com o Inconsciente ( 1 905) [ESB 8, 175]
* considerar como um esforço verdadeiro.
5 "O que quer que coloque um processo psíquico em conexão com outros opera
contra a descarga (Abfuhr) da catexia excessiva e a põe a serviço de outro uso; o que
quer que isole um ato psíquico encoraja a descarga (Abfuhr)."
O Chiste e sua Relação com o Inconsciente ( 1905) [ESB 8, 255]
6 "Nova função foi então atribuída à desca�,g'a (Abfuhr) motora, que, sob o
predomínio do princípio do prazer, servira como meio de aliviar o aparelho mental
de adições de estímulos, e que realizara esta tarefa ao enviar inervações para o interior
do corpo ( conduzindo a movimentos expressivos, mímica facial e manifestações de
afeto). A descarga (Abfuhr) motora foi agora empregada na alteração apropriada da
realidade; foi transformada em ação."
"Formulações sobre os Dois Prinópios do Funcionamento Mental" (1911) [ESB 12, 280]
8 "Quando um processo passa de uma idéia* para outra, a primeira idéia* conserva
uma parte de sua catexia · e apenas uma pequena parcela é submetida a deslocamento.
Os deslocamentos e as condensações, tais como ocorrem no processo primário, são
excluídos ou bastante restringidos.
134 Descarga
Via e veículo
Circulação
Embora a Abfuhr seja um processo de escoamento, que se dirige em geral para fora,
implica uma livre circulação que passa por diversas vias internas. Freqüentemente Freud
contrapõe Abjuhr a termos que designam uma "fixação"/"aprisionamento" que impedem
tal livre circulação. No exemplo 8, a expressão "tonicamente vinculada" é contraposta a
"livremente móvel"; no exemplo 3, Freud menciona idéias que foram "retidas" e aspiram
a uma descarga; no exemplo 5, estar associativamente em "conexão" com as outras
representações impede a descarga; no exemplo 1, ao invés de ser descarregada, a excitação
1
1
Abfuhr 13.'J
Mecanismo processual
E: Deseo
F: Désir ou souhait
I: Wish
Composição do termo
Termo simples.
Significados do verbo
wünschen e do substantivo Wunsch
1 ) Pedido, voto formulado, sonho, algo almejado, o que se quer, ideal (também
utilizado como verbo). Pediu ao gênio da lâmpada que realizasse três desejos. Tenho já há
tempos o desejo de guiar uma vez este carro (sonho, algo que almejo).
2) Num nível mais prosaico e imediato, o querer, a vontade de fazer ou ter algo, o
desejo por algo, ou o desejo de possuir ou usufruir (também utilizado como verbo).
Tenho o desejo de dormir depois do almoço.
Wunsch 137
Conotações do substantivo
Wúnsch e do verbo wünschen
Etimologia
Wunschdenken: pensamento irrealista ditado mais pelo desejo do que pela realidade;
wunschlos: satisfeito (sem desejo); wiinschenswert: desejável (literalmente, que vale ser
desejado).
No primeiro e terceiro exemplo, o desejo se refere a objetos mais idealizados e
distantes.
138 Desejo
Significados adicionais de
"desejar" e "desejo " não presentes em Wunsch
3) Desejo ou apetite sexual (também utilizado como verbo). Ele não está mais com
desejo pela esposa. Com a idade diminui o desejo.
Conotações adicionais de
"desejo " em português não presentes em Wunsch
significados
1 voto formulado, pedido. sonho 1 voto formulado, pedido, sonho
2 o querer mais imediato 2 o querer mais imediato
(men9s usado)
3 - 3 desejo sexual
conotações
A ameniza o querer A ameniza o querer
B objeto distante, ideal sonhado B objeto distante, ideal sonhado
C- C "fissura", cobiça
D- D vontade
alemã Wunsch. Há outras palavras alemãs que expressam melhor estes aspectos, até
mesmo Lust e Begíerde quando devidamente contextualizadas.
2 "O objetivo e o sentido dos sonhos (dos normais, pelo menos) podem ser
estabelecidos com certeza. Eles são realizações de desejos ( Wunscherjüllungen) - isto é,
processos primários que acompanham as experiências* de satisfação (Befriedigungser
Zebnissen); e só não são reconhecidos como tal, porque a liberação de prazer (Lust) (a
reprodução de traços das descargas de prazer (Lust)) neles é escassa, pois, em geral,
eles seguem seu curso sem afeto (sem liberação motora). É muito fácil porém demons
trar que esta é sua verdadeira natureza. É justamente por essa razão que me sin to
inclinado a deduzir que a catexia de desejo ( 1iVunsch) primária também foi de caráter
alucinatório. "
"Projeto para uma Psicologia Científica" ( 1895) [ESB 1 , 356]
* Em vez de "experiências", "vivências".
··�
140 Des(!jo
2
isto é, restabelecer a situação da satisfação original. Uma moção (Regung) dessa espécie
é o que chamamos de desejo (Wunsch); o reaparecimento da percepção é a realização
do desejo (Wunscherfüllung), e o caminho mais curto para essa realização (Wunscherfül
lung) é a via que conduz diretamente da excitação produzida pelo desejo (Wunsch) para
uma completa catexia da percepção. Nada nos impede de presumir que tenha havido
um estado primitivo do aparelho psíquico - em que esse caminho era realmente
percorrido, isw é, em que o desejo (Wunsch) terminava em alucinação. Logo, o objetivo
dessa primeira atividade psíquica era produzir uma 'identidade perceptiva' - uma
repetição da percepção vinculada à satisfação da necessidade."
A Interpretação dos Sonhos, cap. VII/C (1900) [ESB 5, 516]
1 No original: ( ... ) dessa vivência de satisfação é o "aparecimento" de uma percepção
específica ( ... ).
2 Regung é termo de difícil tradução (alguns tradutores têm optado por "moção de desejo"),
significa algo como "movimento inicial interno", tem a conotação de "iniciativa", "gesto inicial",
"esboço". Neste sentido é um esboço/gesto/moção. É empregado freqüentemente em compo
sição composta com Wunsch; ver exemplo 1 1, abaixo.
142 Desqo
1
Triebreprdsentanz significa "representante", "aquele que está no lugar de".
2
Wunschregung é termo de difícil tradução (algumas vezes tem sido traduzido como "moção
de desejo"), significa algo como "movimento inicial interno de desejo", tem a conotação de
"iniciativa de desejo", "gesto inicial de desejo", "esboço de desejo".
desejo"; alguns tradutores têm optado por "moção de desejo". O termo Regung significa algo
como "movimento inicial interno", tem a conotação de "iniciativa", "gesto inicial", "esboço".
Neste sentido é um "esboço/gesto/moção de desejo".
2
No original é ulilizado o verbo vertreten, "representar" no sentido de "estar no lugar de",
"substituir".
Em vez de: "Temos agora de considerar ( ... )", a frase toda no original é: "Trata-se dos
3
to"), mais utilizado para a intensidade e concretude corpórea das pulsões. O termo Erfüllung é
mais bem traduzido por "realização " e se refere a desejos e ao campo do onírico e imaginado.
144 Desljo
Wunsch e o objeto
Freud utiliza amiúde a palavra Triebregung ("moção pulsional") como uma "inicia
tiva/moção pulsional" que reivindica à psique a satisfação pulsional. A palavra alemã
· Regung designaum leve movimento, um esboço de gesto de origem interna, mas já
146 Desçjo
Desejos disfarçados
E: Placer
F: Désir, souhait, plaisir
1: Pleasure
Composição do termo
Termo simples.
Significados de Lust
1 ) Quando seguido por um verbo, significa "vontade de fazer algo", "leve necessi
dade", "tendência". Tenho vontade de comer, falar etc.
2) Quando seguido da preposição auf, significa "vontade de algo ou por algo", "a
fim de" (em geral algum objeto comestível). Estou afim de chocolate.
148 Dest;jo, Prazer
Conotações de Lust
[No dicionário Deutsches Wor terbuch, dos irmãos Grimm ( 1854-), o comentário que
introduz o verbete Lust situa-o entre a pulsão (Trieb) e o anseio psíquico ( o qual já é da
ordem do "desejo"): "( ... ) os sentidos serão diferenciados não só pela força, mas também
quanto à sua essência; os casos abordados abaixo estão mais ligados a uma pulsão/ins
tinto ( Trieb) associada à natureza animal, os casos seguintes se referem mais a um anseio
psíquico e espiritual; entretanto, ocasionalmente ocorre uma compreensível transição
de um conceito para outro" (tradução livre, p. 1 3 15). A citação termina aqui, as
conotações abaixo não foram retiradas do referido dicionário e abordam outros
aspectos.]
A) O termo contém a noção de ânimo e vivacidade. Se alguém diz que tem Lust de
sair à noite, ou de ir ao teatro, fica implícito que está animado ( com predisposição a
divertir-se, com "pique", com vontade).
B) Lust liga-se à idéia de prazer no sentido de divertir-se. O conceitos de "diversão"
e "animação" são expressos em alemão por palavras do campo semântico de Lust: diz-se
lustig para algo "engraçado", "divertido", "animado", "alegre". Trata-se de um prazer
leve (talvez próximo do termo francês gaité). No caso do substantivo não se trata de
prazer ou diversão que flua na cadência plena, é algo que permanece brotando e
realimentando a "disposição a".
C) Refere-se ao processo psíquico no seu nascedouro. Enfatiza a vontade que brota:
mir kommt die Lust, "em mim aflora a vontade/desejo" (ou numa linguagem mais
popular, e não necessariamente sexual, "estou com tesão de fazer determinada coisa").
D) Há certa espontaneidade (quase frivolidade ou volubilidade) associada ao termo.
Usa-se para expressar o brotar súbito de humor e suas mudanças abruptas (mir kommt
und vergeht die Lust, "fiquei com vontade/perdi a vontade", "me animei/desanimei",
"mudei subitamente de vontade/idéia").
E) Utilizado sobretudo no plural (Lüste), ou ligado a certos substantivos (sentido 5,
de sensações corpóreas agradáveis), Lust evoca fortemente o prazer (no sentido de
sensação prazerosa) que se extrai ou obtém de certa atividade. A Lust liga-se mais aos
verbos que aos objetos. Pode ou não incluir objetos.
Lust 149
Etimologia
Significados adicionais de
"desejo " e "prazer" não presentes em Lust
desejo
6) Algo que se almeja, com que se sonha. Desejo um dia ser rico.
7) Pedido, voto formulado. Estes foram os três desejos que o gênio da lâmpada prometeu
realizar.
prazer
8) Sensação de satisfação, del,eite e alegria queflui. Sinto muito prazer em viajar o mundo.
Ele tem prazer na Ú!itura.
9) Honra, satisfação. É um prazer conhecê-lo. Temos finalmente o prazer de apresentar o
novo produto de nossa empresa ao grande público.
10) Gozo, deleite sexual. E/,es se entregaram aos prazeres do sexo.
[Exemplos adaptados do NDA (desejo), 555; (prazer), 1378.)
Conotações adicionais de
"desejo " e ''prazer" não presentes em Lust
desejo
H) "Desejo" em português pode designar, ao contrário do termo alemão Lust, algo
mais imaginário e menos corpóreo. Por exemplo, uma frase como "Desejo fazer doutorado
em Cambridge" implica que o falante tem vontade e provavelmente pensa em fazer planos
para viabilizar seu projeto, não se refere a sensações corpóreas associadas.
I) O termo "desejo" evoca com freqüência a visualização daquilo que se deseja.
J) O foco do termo "desejo" é sobre uma "meta", seja ela um objeto concreto ou
uma atividade pretendida.
prazer
K) "Prazer" refere-se mais à fruição (gozo, deleite) obtida, e aponta para o desdobra
mento interno das sensações derivadas da recepção do estímulo, ao passo queLust ressalta
o brotar contínuo das sensações rente ao corpo e o conseqüente aumento de disposição.
conotações
A ânimo, "pique" A -
B prazer, diversão, alegria B (prazer) diversão, alegria
C ênfase no surgir, brotar da vontade C -
D espontaneidade, volubilidade D -
E sensação extraída de atividade E (prazer) sensação extraída de atividade
F mescla vontade, prazer e desejo F -
G sensação irredutível e indescritível G (prazer) �énsação irredutível e indescritível
H- H (desejo) certa volição, quase um projeto
1 - I (desejo) visualização do desejado
J - J (desejo}'f oco na meta
K foco na disposição K (prazer) foco no deleite e na fruição
2 "Falta à linguagem vulgar [no caso da pulsão sexual] uma designação equivalente
à palavra 'fome'; a ciência vale-se para isso de 'libido'." [Nota 2, acrescentada em 1910:
Lamentavelmente a única palavra adequada na língua alemã, "Lust", é ambígua* e
designa tanto a sensação de necessidade quanto a de satisfação.]
Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade ( 1 905) [ESB 7, 1 27]
* Freud não afirma que se trate de palavra ambígua, mas de vários sentidos.
Retraduzindo o trecho todo: Falta à linguagem popular uma designação correspondente à
palavra "fome"; a ciência utiliza para tal o termo "libido".
[Nota 2, acrescentada em 1 9 10: A única palavra alemã adequada é ''Lust", mas
infelizmente é um termo com vários significados e nomeia tanto a sensação de
necessidade como a de satisfação.]
tensão sexual ("Ich habe Lust" = "eu gostaria", "sinto ímpeto (Drang) de") quanto o
sentimento de satisfação.]
Trê.s Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1905) [ESB 7, 200]
* Em vez de "leve em conta", "contemple", ou "façajus a".
3 "Isso é tudo que pode ser dito à guisa de urna caracterização geral dos instintos
sexuais. São numerosos, erri.anarn de grande variedade de fontes orgânicas, atuam em
princípio independentemente um do outro e só alcançam uma síntese mais ou menos
completa numa etapa posterior. A finalidade pela qual cada um deles luta é a
consecução do 'prazer do órgão' (Organlust); somente quando a síntese é alcançada é
.
que eles entram a serviço da função reprodutora, tornando-se então identificáveis, de
modo geral, como instintos sexuais."
"Os Instintos e suas Vicissitudes" ( 1 9 15) [ESB 14, 146]
"Aqui não posso discutir se todo prazer do órgão ( Organlust) deva ser chamado de
sexual, ou se, além do sexual, há um outro que não merece ser chamado assim. É muito
pouco meu conhecimento a respeito do prazer do órgão (Organlust) e de suas causas;
e, em vista do caráter regressivo da análise em geral, não ficarei surpreso se, bem no
final, eu atingir-' aquilo que, por ora, são fatores indefiníveis."
154 Desdo, Prazer
6 "Todo desprazer ( Unlust) deve assim coincidir com uma elevação e todo prazer
(Lust) com um rebaixamento da tensão mental devida ao estímulo; o princípio de
Nirvana ( e o princípio do prazer (Lust), que lhe é supostamente idêntico) estaria
inteiramente a serviço dos instintos de morte, cujo objetivo é conduzir a inquietação
da vida para a estabilidade do estado inorgânico, e teria a função de fornecer
advertências contra as exigências dos instintos de vida - a libido - que tentam
perturbar o curso pretendido da vida. Tal visão, porém, não pode ser correta. Parece
que na série de sensações de tensão temos um sentido imediato do aumento e
diminuição das quantidades de estímulo, e não se pode duvidar de que há tensões
prazerosas e relaxamentos desprazerosos da tensão. O estado de excitação sexual
constitui o exemplo mais notável de um aumento prazeroso desse tipo, mas certamente
não é o único.
"Prazer (Lust) e desprazer ( Unlust), portanto, não podem ser referidos a um aumento
ou diminuição de uma quantidade (que descrevemos como tensão devida ao estímulo),
embora obviamente muito tenham a ver com esse fator. Parece que eles dependem, não
desse fator quantitativo, mas de alguma característica dele que só podemos descrever como
qualitativa. Se pudéssemos dizer o que é essa característica qualitativa, estaríamos muito
mais avançados em psicologia. Talvez seja o ritmo, a seqüência temporal àe muqanças,
elevações e quedas na quantidade de estímulo. Não sabemos."
"O Problema Econômico do Masoquismo" ( 1 924)
[ESB 19, 199-200]
7 "Em meus Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, na seção sobre as fontes da
sexualidade infantil, apresentei a proposição de que, 'no caso de um grande número
de proc«:;ssos internos, a excitação sexual surge como um efeito concomitante, tão logo
a intensidade desses processos passe além de certos limites quantitativos'. De fato, 'bem
. pode acontecer que nada de . considerável importância ocorra no organismo sem
contribuir com algum componente para a excitação do instinto sexual'. De acordo com
isso, a excitação do sofrimento e desprazer ( Unlusterregung) estaria fadada a ter também
o mesmo resultado. A ocorrência de tal excitação libiàinal simpática,* quando há
tensão devida ao sofrimento e ao desprazer ( Unlustspannung), seria um mecanismo
fisiológico infantil que deixa de operar mais tarde. Ela atingiria um grau variável de
desenvolvimento em constituições sexuais diferentes, mas, em todo caso, forneceria a
fundação psicológica sobre a qual a estrutura psíquica do masoquismo erógeno seria
posteriormente erigida."
"O Problema Econômico do Masoquismo" ( 1924) [ESB 19, 203-4]
* No sentido de excitação libidin�l "concomitante" ao sofrimento e desprazer.
Lust 155
O emprego do. conceito de "prazer" (Lust) nos textos iniciais, como, por exemplo, no
"Projeto para uma Psicologia Científica" ( 1895), é de caráter bastante técnico e pareado
com a Unlust (desprazer). Refere-se mais a um mecanismo quantitativo neuronal-energé
tico de eliminaç�o do desconforto e da dor através da descarga do que a algo ligado ao
que se entende cóloquialmente por "prazer". Também as "sensações de prazer e desprazer"
- (Lust- e Unlustempfindungen) são utilizadas neste sentido mais "técnico" de designação de
1 '
·,
.... :.
Auto-erotismo
Sensações difusas
vontade de praticar qualquer atividade, mesclando vontade, prazer e desejo, seja qual
for a origem e o órgão de referência.
Com a expressão "prazer de órgão" (Organlust) Freud tenta descrever esse circuito
quase fechado que brota e circula rente ao órgão. Esse prazer parcial, derivado da
atividade de pulsões parciais, ou de estimulos localizados, constitui a origem e a
essência do prazer sexual ao nível daquilo que é irredutível e não se restringe ao aspecto
puramente genital.
Mesmo após a maturação, o corpo erogenizado ainda será convocado para o prazer
· genital pela pré-ativação de determinadas zonas de prazer parcial, que em cada
indivíduo adquiriram alguma primazia na infância. Todavia, somente no decorrer do
desenvolvimento é que o prazer será dirigido a uma síntese que visa a reprodução por
via sexual (exemplos 3 e 4).
Plasticidade e mobilidade
A natureza do prazer-desprazer
Em geral, Freud parte da idéia de que o prazer se caracterizaria por ser uma
sensação de alívio pela descarga da tensão e o desprazer por ser um acúmulo de tensão
devido a um excesso de estimulação. Trata-se de uma relação essencialmente quantita
tiva e de cunho fisiológico.
Do ponto de vista lingüístico, não há na palavra Lust nada que se relacione com a
sensação de alívio pela cessação do desprazer ou devido à descarga de pressão; pelo
contrário, o termo Lust se refere a sensações irredutivelrnente prazerosas e a unia
animada disposição para certas ações. Há mesmo certo descompasso entre aquilo que
o termo designa como prazeroso e a concepção de Lust como "descarga" que traz alívio
para um desconforto ( Unlust, desprazer).
Lust 159
Freud também utiliza o termo Lust combinado com outros substantivos. Em cada
combinação modula-se diferentemente o sentido e as conotações de Lust. Todos os
termos dos exemplos abaixo enfatizam alguns dos já mencionados aspectos conotati
vos.
Referindo-se a sensações corpóreas prazerosas, wcalizadas, mas indefinidas:
Lustempfindung-. Sensações de prazer _
Organlust: Prazer de órgão
Lustgewinn: Ganho de prazer/de sensação prazerosa
Lustquellen: Fontes de sensações prazerosas
Referindo-se a prazeres específicos e derivados de atividades, disposição de praticar certa ação:
Riechlust: Prazer ou disposição de cheirar
Schaulust: Prazer ou disposição de olhar (prazer escópico)
Schmerzlust: Prazer ou disposição de sentir dor
Referindo-se à dimensão mais simbólica do prazer:
Verneinunglust: Prazer ou disposição de negar, de dizer "não"
Intellektuelle Lust: Prazer intelectual
Referindo-se à predisposição ou tendência de seguir a trilha das sensações ag:radáveis:
Lust-ich: Eu-prazer ( evoca lingüisticamente a imagem de um Eu dirigido aos
prazeres libidinal-hedonistas)
Lustprãmie: Prêmio de prazer
Lustprinzip: Princípio de prazer/de vontade
E: Desplazamiento
F: Déplacement
I: Displacement
ver-: Prefixo que em geral designa as conseqüências de "ir muito adiante" (seja
prolongar-se temporalmente, seja progredir geograficamente). Além disso, indica
fenômenos bastante contíguos: "transformação", "fechamento", "extinção", "gasto",
"perda", "lapsos" etc. Também pode indicar a "intensificação de uma ação" (a ação se
mantém "indo adiante" e eventualmente em excesso), bem como apontar para uma
ação de "ir ou ser levado embora", "ir ou ser levado a outro lugar".
schieb-: Radical referente ao verbo schieben, "empurrar" fazendo deslizar ou rodar.
-ung: Sufixo de substantivação que corresponde aproximadamente a "-ção" em
português.
Significados do verbo
verschieben e do substantivo Verschiebung
1) Adiar, postergar (também utilizado como substantivo). Ele posterga a viagem para
outra data.
2) Empurrar fazendo com que deslize, movimento de algo que é corrediço-regulá
vel. Em geral pequen o movimento que altera a configuração pelo empurrar-deslizar,
·· ou que provoca �roca de posições entre elementos. Usa-se para mecanismos, trilhos em
162 Deslocamento
Conotações do verbo
verschieben e do substantivo Verschiebung
Etimologi,a
ver-: Vários prefixos se fundiram no moderno ver-. Da raiz indo-européia *per, cujo
significado era equivalente a "conduzir para fora passando por sobre", derivam-se três
formas ainda arcaicas pertencentes ao tronco indo-europeu: * perfil, *pr- e *pro. No
gótico fair- (para fora), Jaúr- (adiante, já passado) e Jra- (embora, para adiante). Também
se encontra essa separação no grego (peri; par- e pro-) e no latim (per-, por- e p,ro-). Outros
prefixos ainda pertencem a este tronco, por exemplo, o latimprae- e sua forma germanizada
atual prã- ou ainda o grego pára (ao longo, muito para adiante). No alemão atual,
encontram-se prefixos, advérbios e preposições derivados desta raiz ind�uropéia co
mum:.für (por, para, no lugar de), vor (adiante, diante de, desde) efort (algo que se foi, foi
embora, ver o "Fort-Da" de Freud, ESB, vol. XVIII, pp. 26-8) efern (longe, longínquo). Além
disso, este prefixo ""pre- evoluiu e deu origem a dezenas de palavras, tais como Frau
(mulher),fremd (estranho, estrangeiro),.first- (forma arcaica de "destacado"), Frist (prazo),
fahren (ir, conduzir, guiar), Gefahr (perigo) etc. Devido aos limites de espaço, não cabe aqui
Verschiebung 163
Significados adicionais de
"deslocar" e "deslocamento " não presentes em verschiebung e verschieben
3) Afastar algo, tirar algo do lugar, em geral deslocar para local próximo (também
utilizado como substantivo). A baleia desloca grandes massas de água ao mover-se. Deslocou
a cama que estorvava a passagem.
164 Deslocamento
Conotações adii:ionais de
"deslocamento " e "deslocar" não presentes em Verschiebung e verschieben
4 "As análises nos mostram, contudo, que existe uma outra espécie, e que ela se
revela numa mudança da expressão verbal dos pensamentos em causa. Em ambos os
casos há um deslocamento (Verschiebung) ao longo de uma cadeia de associações; mas
um processo do deslocamento (Verschiebung) pode ser, num caso, a substituição de um
'
,1�·-o
166 Deslocamento
elemento por outro, enquanto o resultado em outro caso pode ser o de um elemento
isolado ter sua forma verbal substituída por outra."
A Interpreta,ção dos Sonhos, cap. VI/D (1900) [ESB 5, 323]
7 "A catexia [do Pcs.] que entrou em fuga se apega a uma idéia substitutiva que,
por um lado, se relaciona por associação à idéia rejeitada e, por outro, escapa à
repressão em vista de sua distância daquela idéia. Essa idéia substitutiva - um
substituto por deslocamento ( Verschiebungsersatz) - permite que o desenvolvimento, até
então desinibido, da ansiedade seja racionalizado. Ela passa a desempenhar o papel de
uma anticatexia para o sistema Cs. (Pcs.), protegendo-o contra uma emergên cia da
idéia reprimida n o Cs. Por outro lado, é, ou age como se fosse, o ponto de partida
para a liberação do afeto revestido de ansiedade, que agora se tornou inteiramente
desinibida."
"O Inconsciente" (1915) [ESB 14, 209]
pode tomar o lugar da satisfação de outro - e demais fatos da mesma natureza, que
devem incentivar-nos a nos aventurarmos por certas hipóteses."
O Ego e o ld ( 1 923) [ESB 19, 59-60]
I
Aqui deslocável é utilizado no sentido de algo que pode ter seu fluxo desviado (fazer deslizar
para outra direção).
2
A expressão "instinto' componente" deve ser lida como "pulsão parcial" ou "instinto
parcial".
E: Apoderamiento, dominio
F: Emprise
I: Mastering ou mastery
Composição do termo
be-: Como prefixo verbal, indica uma ação que promove a concretização da
qualidade do substantivo (Macht/Poder) e o transforma em verbo. Em alguns casos
indica uma aproximação, um contam ou o ato de tomar (pegar).
mãcht-: Corresponde ao mesmo radical do substantivo Macht, "poder", "domínio".
O verbo reflexivo sich bemãchtigen significa "apoderar-se" .
-ig-. Sufixo de adjetivação (como, por exemplo, o sufixo "-oso(a)" em português);
quando ligado à terminação -en (-igen) tem a função de verbalização.
-ung-. · Sufixo de substantivação que corresponde aproximadamente a "-ção" em
português.
Conotações
be-: Do indo-europeu *bhi, derivado de *ambhi _(em torno de); assume no gótico a
forma bi-, no antigo alto-alemão bi- , no médio alto-alemão be-. Inicialmente designava,
como prefixo verbal, a direção espacial de um processo (por exemplo, befallen, atacar
ou acometer); mais tarde, passou a indicar também a intervenção temporalmente limitada
sobre um objeto ou pessoa. No alemão atual, funciona como prefixo que transforma
advérbios, substantivos, adjetivos e verbos intransitivos em verbos transitivos.
mãchtig (poderoso): Derivado da raiz indo-européia *mag-h- (verbo "poder"). Origi
naram-se daí sentidos como "viabilizar", "tornar possível" (ermõglichen, mõglich). O
substantivo Macht significando "poder" se encontra no gdtico na forma mahts. No
antigo alto-alemão, maht. Do antigo germânico originou-se o adjetivo mehtic (poderoso;
no alemão atual mãchtig).
Significados adicionais de
"dominar" em português não presentes em bemachtigen
2) Subjugar, manter sob sua vontade. Os assírios dominaram por muito tempo os povos
daquela região.
3) Manter controle sobre atos ou vontade de outrem ou sobre os próprios. Sua esposa
o dominava completamente. Os monges tibetanos conseguem dominar totalmente as emoções.
4) Refrear. Eles não puderam dominar o ódio.
5) Saber fazer, saber manusear. Ela domina o idioma perfeitamente.
6) Governar, reinar, dominar politicamente. O rei dominou aquele povo por duas gerações.
7) Preponderar. A colina dominava a cidade.
[Os exemplos de 2 a 7 foram adaptados do NDA, 607.]
Conotações adicionais de
"dominar" não presentes em bemãchtigen
2 "Nos meninos, a preferência pela mãojá indica a importante contribuição que a pulsão
de dominação (Bemiichtigungstrúb)' está destinada a fazer para a atividade sexual masculina."
Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade ( 1 905) [ESB 7, 176]
5 "No caso do tabu, o contato proibido 1 obviamente não deve ser entendido num
sentido exclusivamente sexual, mas sim no sentido mais geral de atacar, de obter o
controle (Bemãchtigung), <le afirmar�se." 2
Totem e Tabu ( 1 9 12-3) [ESB 1 3 1 95]
1
o toque físico proibido.
2 de fazer valer a própria pessoa, de auto-afirmar-se.
6 "Não é plausível imaginar que esse sadismo seja realmente um instinto de morte que,
sob a influência da libido narcísica, foi expulso do ego e conseqüentemente só surgiu em
relação ao objeto? Ele entra em ação a serviço da função sexual. Durante a fase oral da
organização da libido, o ato de obtenção de domínio erótico (Liebesbemiichtigung) sobre o
· objeto coincide com a destruição desse objeto; posteriormente o instinto sádico se isola,
174 Dominação
7 "A libido tem a função de tomar inócuo o instinto destruidor e a realiza. desviando este
instinto, em grande parte para fora - e em breve com o aUXI1io de um sistema orgânico
especial, o aparelho muscular -, no sentido de objetos do mundo externo. O instinto é então
chamado de instinto destrutivo, instinto de donúnio (Bemãchtigung,trieb) ou vontade de poder."
"O Problema Econômico do Masoquismo n ( 1924) [ESB 19, 204]
E: Dominar
F: Surmonter, maitriser
L Master
O verbo bewdltigen possui diversos significados, entre os quais "dar conta", "resol
ver" e "superar". Conotativamente sugere que algo maior tem de ser enfrentado e
controlado pelo sujeito.
No texto freudiano, o termo é geralmente empregado em conexão com a atividade
do indivíduo de lidar com os estímulos pulsionais.
Composição do termo
Significados do verbo
bewãltigen e do substantivo Bewãltigung
1 ) Dar conta, resolver, superar, enfrentar (também utilizado como substantivo). Não
conseguiu dar conta de comer tudo que estava no prato. Pôde enfrentar/superar as dificuldades.
A rede ferroviária deu conta da demanda.
2) Realizar, executar, terminar, levar a cabo (também utilizado como substantivo).
Executou/levou a cabo todo o trabalho.
3) Digerir, elaborar, absorver, superar emocionalmente (também utilizado como
substantivo). Conseguiu superar seu próprio passado.
[Exemplos adaptados do WDW, 266, e do SBH, 73.]
Etimologia
be-: Do indo-europeu, derivado de *ambhi (em torno de); assume no gótico a forma
bi-, no antigo alto-alemão bi-, no médio alto-alemão be-. Como prefixo verbal, inicial
mente designava a direção espacial de um processo (por exemplo, befallen, atacar ou
acometer); mais tarde, passou a indicar também a intervenção temporalmente limitada
sobre um objeto ou pessoa. No alemão atual, funciona como prefixo que transforma
advérbios, substantivos, adjetivos e verbos intransitivos ein verbos transitivos.
-walten: Derivado do verbo indo-europeu 'Tj,O,l-dh- (ser forte, dominar). O latim valere
(ser forte) e o gótico waldan são precursores do atual walten. No século xv, bewaltigen
expressa "mostrar-se capaz de colocar seus assuntos sob seu domínio", e überwãltigen,'
"subjugar/dominar". Palavras como "administrar" (verwalten, manter em ordem, sob
o seu domínio) e "vioi'ência" (Gewalt) também derivam-se da raiz walt-.
Significados adicionais de
"dominar" e "domínio " não presentes em bewãltigen
Conotações adicionais de
"dominar" não presentes em bewãltigen
E "Dominar" tem um uso mais amplo que bewãltigen e remete ao emprego de autoridade
e força que permite regular, dosar ou manter sob controle a intensidade de certo fenômeno.
Algo diverso de apenas recuperar o controle sobre o estado geral da situaçio.
conotações
A esforço para lidar com a situação A
B sobreviver-superar B -
C enfrentar algo avassalador C
D adquirir controle sobre o estado D -
geral
E- E autoridade e força, controle-regulação
1 "Um egoísmo forte constitui uma proteção c�ritra o adoecer, mas, num último
recurso, devemos começar a amar a fim de não adoecermos, e estamos destinados a
cair doentes se, em conseqüência da frustração;* formos incapazes de amar. ( ...)
Reconhecemos nosso aparelho mental como sendo, acima de tudo, um dispositivo
destinado a dominar (Bewãltigung) as excitações que de outra forma seriam sentidas
como aflitivas ou teriam efeitos patogênicos. Sua elaboração na mente auxilia de forma
marcante . um escoamento das excitações que são incapazes de descarga direta para
fora, ou para as quais tal descarga é, no momento, indesejável. No primeiro caso,
contudo, é indiferente que esse processo interno de elaboração seja efetuado em objetos
reais ou imaginários. A diferença não surge senão depois - caso a transferência da
libido para objetos irreais (introversão) tenha ocasionado seu represamento."
"Sobre o Narcisismo: Uma Introdução" ( 19 14) [F.SB 14, 102)
* O texto originaf não se refere à incapacidade de amar devido à frustração, mas devido a
um impedimento. A tradução correta é: se, em conseqüência de sermos "impedidos''., pão
pudermos amar.
daí uma disposição hereditária. Não podemos aplicar este mecan ismo aos estímulos
instintuais que se 01iginam de dentro do organismo."
"Os Instintos e suas Vicissitudes" (1915) [ESB 14, 140]
3 "Não há mais possibilidade de impedir que o aparelho mental seja inundado com
grandes quantidades de estímulos: em vez disto, outro problema surge, o problema de
dominar (bewaltigen) as quantidades de estímulo que irromperam, e de vinculá-las*
. (binden), no sentido psíquico, a fim de que delas se possa então desvencilhar."
Além do Princípio do Prazer (1920) [ESB 18, 45]
* Não se trata de "vinculá-las" (verknüpfen), mas de "atá-las", "ligá-las" ou "fixá-las" (binden).
5 "( ... ) uma das formas através da qual o amor se manifesta - o amor sexual - nos
proporcionou a mais intensa experiência de uma transbordante (überwiiltigenden)*
sensação de prazer, fornecendo-n os um modelo para nossa busca da felicidade."
O Mal-Estar na Civilização (1930) [ESB 21, 100]
* Em alemão überwiiltigend significa "avassalador".
6 "( ... ) penso que a resposta à questão de como explicar os resultados variáveis 1 de
nossa terapia analítica, bem poderia ser a de que também n ós, esforçando-nos por
substituir repressões, que são inseguras, 2 por controles (Bewiiltigungen) egossintônicos
dignos de confiança, nem sempre alcançamos nosso objetivo em toda a sua extensão
- isto é, não o alcan çamos de modo bastante completo."
"Análise Terminável e Interminável" (1937) [ESB 23, 261]
1
resultados instáveis.
2
Em alemão undicht significa "mal vedado".
Bewãltigen 181
Enquanto beherrschen e bãndigen geralmente são utilizados por Freud para designar a
tentativa do ego de dominar a pulsão (Trieb), o termo bewãltigen refere-se ao domínio dos
estímulos pulsionais (Triebreize). É empregado para descrever a tentativa da psique de dar
conta do turbilhão de "estímulos pulsionais" (Triebreize) que inunda, desorganiza e ameaça
arrastar o sujeito numa maré de excitações (estas imagens "hídricas" são freqüentemente
empregadas por Freud em conexão com a circulação e acúmulo de estímulos [Reize]).
E: Domenamiento
F: Domptage
1: Mastering ou controlling
Composição do termo
Significados do verbo
bãndigen e do substantivo Bãndigung
1 ) Acalmar ( também utilizado como substantivo). Não sei como acalmar esta criança
tão irrequieta.
2) Reprimir, refrear momentaneamente (também utilizado como substantivo).
Refrear a raiva é por vezes impossível.
3) Domar, amansar, dominar; geralmente usado para animais ou, em linguagem
figurada, para designar um controle precário, mas mais definitivo (também utilizado
como substantivo). Tentava amansar o cavalo selvagem. "Refrear as inclinações " (Kant).
"Uma pessoa que na sua expressão mostrava o domínio sobre a vontade (Lust), o subjugar das
pulsões cegas (Triebe), almejando uma finalidade mais elevada" (Arnim).
[Exemplos adaptados do WDW, 229, e do DW, 1 101.]
184 Domínio, Amansamenro, Domação
Etimologia
Significados adicionais de
"dominar" e "domínio " não presentes em bãndigen e Bãndigung
Conotações adicionais de
"dominar" e "domínio " não presentes em bãndigen e Bãndigung
B) "Dominar" abarca também um "domínio mais total". Um domínio tão total que
permite uma "regulação", "dosagem" (permite que se mantenha sob controle a inten
sidade de certo fenômeno); portanto, é algo mais amplo do que "conter-reter-prender"
(bãndigen). "Dominar" pode ser usado com a idéia de "vigilância", de "controle
consciente" e "observante", algo mais distante que bãndigen, um controle mais precário,
só conseguido e mantido a custo.
conotações
A conseguir conter algo selvagem A-
B- B regular, dosar e vigiar
A palavra "dominar" não deturpa o sentido do termo alemão, mas é bem mais
ampla que este é não direciona o entendimento para a idéia de um "domínio precário"
que apenas "segura-contém-mantém encurralado".
Freqüentemente bãndigen é traduzido por "amansar" e "domar", ambos são a!ternati-
. vas razoáveis, mas há al mas diferenças conotativas. "Amansar" em geral implica fazer
gu
ficar "manso", a coisa amansada perde o ímpeto selvagem, fica inofensiva, dócil, enquanto
bandigen enfoca a precariedade de um estado em que se "consegue apenas conter/refrear
algo selvagem". "Domar" evoca a idéia de "encurralar pela força" (pensar na imagem do
doma:dor de chicote), e neste sentido talvez se aproxime mais de bãndigen.
2 "Uma criança que se comporta de forma indócil (unbãndig)* está fazendo uma
confissão e tentando provocar um castigo ( ...)."
História de uma Neurose Infantil (1914-8) [ESB 1 7, 43]
* Aqui, ao invés de bãndigen, é empregado o advérbio unbãndig precedido do prefixo de negação un-.
3 "O instinto (Trieb) reprimido nunca deixa de esforçar-se em busca da satisfação
. completa, que consistiria na repetição de uma experiência primária de satisfação. Forma
ções reativas e substitutivas, bem como sublimações, não bastarão para remover a tensão
persistente do instinto reprimido, sendo que a diferença de quantidade entre o prazer da
satisfação que é exigida e a que é realmente conseguida, é que fornece o fator impulsio
1
nador que não permite qualquer parada em nenhuma das posições alcançadas, mas nas
2
palavras do poeta 'pressiona sempre para a frente, indomado (ungebiindigt)'."
Além do Princípio do Prazer ( 1 920) [ESB 1 8, 60]
I Em vez de "mas", leia-se "mas sim".
2 Aqui,
ao invés de bãndigen, é empregado o verbo no particípio passado, precedido do
prefixo de negação un- (ungebiindigt).
Bandigung 187
6 "A etiologia de todo distúrbio neurótico é, afinal de contas, uma etiologia mista.
Trata-se de uma questão de os instintos serem excessivamente fortes - o que equivale
a dizer recalcitrantes ao amansamento* (Biindigung) por parte do ego - dos efeitos de
traumas precoces (isto é, prematuros) que o ego imaturo foi incapaz de dominar."
"Análise Terminável e Interminável" ( 1937) [ESB 23, 251]
* Embora soe pouco usual, "amansamento" está conotativamente próximo de Bãndigung,
mas possivelmente, neste caso, "domar" seja uma ·opção mais adequada.
8 "Quando seus instintos não eram tão fortes, ela teve sucesso em amansá-los*
(Bãndigung), mas quando são reforçados, não se pode mais fazê-lo."
"Análise Terminável e Interminável" ( 1 937) [ESB 23, 369]
* Embora soe pouco usual, "amansamento" está conotativamente próximo de Biindigung,
mas possivelmente, neste caso, "domar" seja uma opção mais adequada.
E: Elaboración
F: É/,aboration
I: Revision, elaboration
Composição do termo
Significados do verbo
bearbeiten e do substantivo Bearbeitung
A) Bearbeiten evoca a idéia de que certa quantidade de trabalho está sendo aplicada,
sem especificar de que tipo de atividade se trata: não se sabe se se trata de "elaborar",
"dar acabamento", "modificar" etc. Se alguém nos diz que "trabalhou (bearbeitet) um
texto", apenas sabemos que ele trabalhou sobre o texto, nada se sabe sobre a natureza
e resultado do processo.
Etimologia
be-: do indo-europeu *bhi, derivado de *ambhi (em tomo de); assume no gótico a
forma bi-, no antigo alto-alemão bi-, no médio alto-alemão be-. Como prefixo verbal,
inicialmente design�va a direção espacial de um processo (por exemplo, befaUen, atacar
ou acometer); mais tarde, passou a indicar também a intervenção temporalmente
limitada sobre um objeto ou pessoa. No alemão atual, funciona como prefixo · que
transforma advérbios, substantivos, adjetivos e verbos intransitivos em verbos transitivos.
-arbeiten: Supostamente o verbo é derivado da palavra indo-euto,péia ·*orbho-s
(criança órfã). O substantivo assume no gótico a forma arbaips, no antigo alto-alimão
ar[a)beit e no médio alto-alemão ar[e)bei e deriva supostamente de um antigo verbo
germânico, cujo sentido era "ser criança órfã obrigada a pesada atividade física" (a
palavra "herdeiro", Erbe, pertence a este tronco). Até o início do novo alto-alemão o
verbo arbeiten significava "esforço físico duro e cansativo", "flagelo". A partir de Lutero
o termo foi adquirindo um caráter mais positivo e ético, perdendo· o aspecto pejorativo
de "atividade degradante e humilhante". No gótico, o verbo tinha a forma arbaijan, no
antigo alto-alemão ar[a]beiten (torturar-se, sofrer, estar eni atividade cansativa) e no
médio alto-alemão ar[e]beiten. No novo alto-alemão, designa "atividade dirigida e útil"
e "atividade profissional" .
Bearbeitung será contrastado com a palavra "elaboração", pois esta tem sido a opção
mais freqüente nas atuais traduções.
Significados adicionais de
"elaborar" não presentes em bearbeiten
2) Aperfeiçoar. Elabore ainda mais o texto (trabalhe mais nele, desenvolva-o, aperfeiçoe-o).
Trata-se de algo já muito elaborado (trata-se de algo já bastante trabalhado, desenvolvido,
aperfeiçoado ou sofisticado).
3) Sofisticar, refinar trabalho do espírito que conduz a uma idéia ou conceito. Uma
teoria muito elaborada.
4) Criar_ Elaborei uma campanha publicitária.
5) Um processo interno, psíquico, de "digestão" ou "assimilação" (pert�nce à
linguagem psicanalítica)_ A viúva não pôde elaborar o luto.
[Os exemplos de 2 a 4 foram adaptados do NDA, 622.]
Conotações adicionais de
"elaborar" não presentes em bearbeiten
significados
1 trabalhar sobre algo 1-
2 - 2 desenvolver aperfeiçoando
3 - 3 sofisticar
4 - 4 criar
5 - 5 assimilar
conotações
A foco sobre a ação de aplicar A-
o trabalho
B - B foco.na qualidade do
trabalho (sofisticação)
6 "Sabemos que essa ansiedade pode ser transformada por uma elaboração
(Bearbeitung) psíquica ulterior, isto é, por conversão, formação de reação ou construção
de proteções (fobias)."
"Sobre o Narcisismo: Uma Introdução" ( 1 9 14) [ESB 14, 102-3]
Bearbeitung 195
Composição do termo
Significados do verbo
durcharbeiten e do substantivo Durcharbeitung
los. Eles foram arduamente atravessando a mata cerrada (se trabalhando através do matagal
sich durchs Gestrüpp durcharbeiten) [WDW, 367]. "A cerca viva cheia de espinhos me impedia
de passar, mas eu fui me trabalhando através dela" (Rabener 4,56) [DW, 1583].
[Comentário geral no DW, 1582-3: "trabalhar sobre algo com esforço físico ou
mental"; outros exemplos enumerados pelos autores: "trabalhar até ficar com as mãos
em carne viva" ou "trabalhar (surrar até o fim) crianças malcriadas para que se
comportem"; e ainda "esforço de penetrar, abrir caminho".]
Etimologia
Durcharbeiten será contrastado com "elaboração", pois este termo tem sido uma
freqüente opção de tradução e pertence ao português corrente. A outra alternativa
habitualmente adotada, a palavra "perlaboração", é um termo exclusivo do jargão
psicanalítico, introduzido a partir do francês.
Significados adicionais de
"elaborar" e "elaboração " não presentes em durcharbeiten
Conotações adicionais de
"elaborar" e "elaboração " não presentes em durcharbeiten
A tradução leva neste caso a uma perda dos sentidos 1 , 2 e 3, bem como das
conotações A e B, que destacam o "iniciar e prosseguir com esforço através da tarefa
até o seu final". Ao traduzir-se durcharbeiten por "elaborar" contamina-se o termo com
os sentidos 4, 5 e 7, mais mentais-racionais e ligados à idéia de "absorção-assimilação".
Além disso, a conotação do termo em português evoca algo como um trabalho
repetidamente aplicado que vai sofisticando o objeto, enquanto durcharbeiten implica
a progressão dentro da tarefa.
1 "Em torno deste núcleo encontramos o que é muitas vezes urna quantidade
incrivelmente grande de outro material mnêmico que tem de ser elaborado* (durchar·
heiten) na análise e que está, como dissemos, arranjado numa ordem tríplice."
A Psicoterapia da Histeria (1895) [ESB 2, 280]
* tem de ser tTabr;,/J,,aJo/enfr,m.tado.
4i
202 Elaboração
2 "( ... ) O conteúdo de cada camada caracteriza-se por um grau igual de resistência,
e esse grau aumenta na proporção em que as camadas se acham mais perto do núcleo.
Assim há zonas dentro das quais existe um grau idêntico de modificação da consciência,
e os diferentes temas estendem-se através dessas zonas."
A Psicoterapia da Histeria ( 1895) (ESB 2, 280-1]
"( ... ) Apenas uma única lembrança de cada vez consegue entrar na consciência do
ego. O paciente que esteja ocupado em elaborar1 (Durcharbeitung) tal lembrança nada
vê daquilo que está empurrando2 e se esquece do que já conseguiu entrar.�
A Psicoterapia da Histeria (1895) [ESB 2, 282]
• ocupado em enfrentar/tentar vencer.
2
pressionando no sentido de querendo aflorar.
3 no sentido de já ter conseguido chegar/aflorar ao consciente.
4 "Deve-se dar ao paciente tempo para conhecer melhor esta resistência com a qual
acabou de se familiarizar, para elaborá-la* (durchzuarbeiten), para superá-la, pela continua
ção, em desafio a ela, do trabalho analítico segundo a regra fundamental da análise."
Recordar, Repetir e Elaborar ( 1914) [ESB 1 2, 202]
* pará enfrentá-la (vencê-la).
Freud emprega diferentes verbos compostos com arbeiten (trabalhar) para descrever
atividades psíquicas'diversas, entre outros, aufarbeiten, bearbeiten, durcharbeiten, mitarbei
ten, umarbeiten e verarbeiten.
O verbo aufarbeiten geralmente refere-se à atividade consciente do paciente de
"colocar em dia" (.ou dar conta de) o material que vai aparecendo e se acumulando ao
longo do trabalho analítico, isto é, o material a ser revisto, comentado, elaborado etc.
Umarbeiten é utilizado no sentido de "remodelar-reformar". É empregado coloquial
·mente em alemão para designar a idéia de dar novo formato a algo; usa-se, por exemplo,
204 Elaboração
para o trabalho de alfaiates sobre roupas velhas que são reformadas. No texto freudiano
algumas vezes aparece no sentido de trabalho de distorção realizado para dar outra
aparência ao conteúdo desagradável de sonhos. O verbo mitarbeiten (trabalhar junto,
colaborar) é mais utilizado nos escritos técnicos e se refere à colaboração ativa do
paciente.
Estes três verbos n ão são muito freqüentes. Maior presença e peso teórico possuem
os verbos bearbeiten (aplicar trabalho sobre determinado material) e verarbeiten (trans
formar e absorver), os quais são tratados como verbetes separados neste livro (respec
·tivamente nas páginas 190 e 205 ).
Frente à variedade de composições com arbeiten, a tradução indiferenciada de todo
tipo de atividade psíquica por "elaboração" acarreta uma perda de sentido que nem
sempre o contexto permite recuperar.
Durcharbeiten e "elaborar" são dois termos diversos. O verbo "elaborar", em
· português, acaba por introduzir uma dimensão de sentido ausente na palavra durchar
beiten: refere-se a uma "qualidade de trabalho que melhora-refina o material" (elabore
melhor suas idéias), bem como a "possibilidade de assimilação" (elaborar o luto etc.).
O resultado da atividade de durcharbeiten pode vir a permitir uma "elaboração"
posterior devido aos efeitos resultantes. Uma vez vencidas as. resistências, pode-se abrir
caminho para um "elaborar" no sentido da palavra bearbeiten (atividade sobre um
material), ou também podem ocorrer desdobramentos inconscientes que levem a um
"elaborar" no sentido de "assimilar" (verarbeiten) e "transformar" (umarbeiten). Entre
tanto, cada uma dessas atividades refere-se a um campo e materiais diversos.
E: Elaboración, procesamiento
F: Élaboration
I: Elaboration
Composição do termo
ver-: Prefixo que em geral designa as conseqüências de "ir muito adiante" (seja
prolongar-se temporalmente, seja progredir geograficamente). Além disso, indica
fenômenos bastante contíguos: "transformação", "fechamento", "extinção", "gasto",
"perda", "lapsos" etc. Também pode indicar a "intensificação de uma ação" (a ação se
mantém "indo adiante" e eventualmente em excesso), bem como apontar para uma
ação de "ir ou ser levado embora", "ir ou ser levado a outro lugar".
-arbeiten: Corresponde ao verbo "trabalhar".
Conotações do verbo
verarbeiten e do substantivo Verarbeitung
Etimofugia
ver-: Vários prefixos se fundiram no moderno ver-. Da raiz indo-européia *per, cujo
significado era equivalente a "conduzir para fora passando por sobre", derivam-se três
formas ainda arcaicas pertencentes ao tronco indo-europeu: *perfil, *pr- e *pro-. No
gótico faír- (para fora),/aúr- (adiante,já passado) eJra- (embora, para adiante). Também
se encontra essa separação no grego (peri-, par- e pro-) e no latim (per; por- e pro-). Outros
prefixos ainda pertencem a este tronco, por exemplo, o latim prae- e sua forma
germanizada atual prã- ou ainda o g rego pára (ao longo, muito para adiante). No alemão
atual, encontram-se prefixos, advérbios e preposições derivados desta raiz indo-euro
péia comum:für (por, para, no lugar de), vor ( adiante, diante de, desde) efort ( algo que
se foi, foi embora, ver o "Fort-Da" de Freud, ESB, vai. XVIII, p. 26-8) e fern (longe,
longínquo). Além disso, este prefixo *pre- evoluiu e deu origem a dezenas de palavras,
tais como Frau (mulher), .fremd (estranho, estrangeiro), first- (forma arcaica de "desta
cado"), Frist (prazo ),fahren (ir, conduzir, guiar), Gefahr (perigo) etc. Devido aos limites
de espaço, não cabe aqui esclarecer mais detalhadamente; contudo, todos os casos
mencionados têm origem no conceito de "ir adiante" e freqüentemente de perder
contato com a origem.
Dificilmente se podem ligar os atuais sentidos do prefixo ver- com sua forma trinária
no gótico. Muitas vezes corresponde à forma gótica fra- (para longe, desaparecido,
embora), quando utilizado com verbos que designam: 1) "transformar-assimilar"
Verarbeitung 207
Significados adicionais de
"elaborar" e "elaboração " não presentes em verarbeiten e Verarbeitung
Conotações adicionais de
"elaborar" não presentes em verarbeiten e Verarbeitung
1 "A propósito, um mecanismo psíquico sadio tem outros métodos de lidar 1 com
o afeto de um trauma psíquico, mesmo que lhe sejam negadas a reação motora e a
reação por palavras - a saber, elaborando-o ( Verarbeitung) associativamente e produ
zindo idéias constrastantes.'2 Mesmo que a pessoa insultada não retribua o golpe, nem
retruque com uma grosseria; ela pode ainda assim reduzir o afeto ligado ao insulto pela
evocação de idéias contrastantes, tais como a de seu valor pessoal, da indignidade de
seu inimigo, e assim por diante. Quer um homem.sadio lide com o insulto àe um modo
ou de outro, ele sempre consegue chegar ao resultado de que o afeto originalmente
intenso em sua memória acabe perdendo a intensidade, e finalmente, tendo perdido
seu afeto, a lembrança caia vítima do esquecimento e do processo de desgaste."
"Sobre o Mecanismo Psíquico dos Fenômenos
Histéricos: Uma Conferência" (1893) [ESB 3, 45]
1 outros métodos de "liquidar"/"dar resolução".
2 associativamente pela "liquidação"/"resolução" através de idéias contrastantes.
7 "Estas considerações tomam possível encarar o medo da morte, tal qual o medo
da consciência,* como um desenvolvimento ( Verarbeitung) do medo de castração."
O Ego e o Id ( 1 923) [ESB 1 9, 75-6]
* Refere-se à consciência moral, ao sentimento de culpa.
8 "Constitui ainda um fato inegável que na abstinência sexual, na interferência
imprópria no curso da excitação sexual, ou se esta for desviada de ser elaborada
(Verarbeitung) psíquicamente, a ansiedade surge diretamente da libido; em outras
palavras, que o ego fica reduzido a um estado de desamparo em face de uma tensão
excessiva devida à necessidade,* corno ocorreu na situação do nascimento, e que a
ansiedade é então gerada."
Inibições, Sintomas e Ansiedade ( 1926) [ESB 20, 165]
* Refere-se às necessidades imediatas, como alimento, calor etc.
9 "Quanto mais a geração de ansiedade pode limitar-se a um mero sinal, tanto mais
o ego gasta em ações defensivas que importam1 em vincular2 (Bindung) psíquicamente
o impulso reprimido e tanto mais o processo se aproxima de uma superelaboração
norrnal3 (normalen Verarbeitung), embora, por certo, sem alcançá-la."
Verarbeitung 211
"Em alguns casos, o impulso instintual reprimido pode conservar sua catexia
libidinal e pode persistir inalterado no id, embora sujeito a constante pressão do ego.
Em outros casos, parece suceder que ele é totalmente destruído, enquanto sua libido é
desviada, permanentemente, por outras vias. Expressei meu ponto de vista de que é
isto que ocorre quando o complexo de Édipo é manejado normalmente - um caso como
é de se desejar, portanto não sendo simplesmente reprimido mas destruído no id."
Novas Conferências Introdutórias sobre Psicanálise;
Conferência 32: "Ansiedade e Vida Instintual" (1933) [ESB 22, 1 16]
("trabalhar do início ao fim sem interrupção") os quais são tratados como verbetes
separados neste livro (respectivamente nas páginas 190 e 198).
Frente à variedade de composições com arbeiten, a tradução indiferenciada de todo
tipo de atividade psíquica por "elaboração" resulta numa perda de sentido que nem
sempre o contexto permite recuperar.
Composição do termo
Significados do verbo
anlehnen e do substantivo Anlehnung
Conotações do verbo
anlehnen e do substantivo Anlehnung
Etimologi,a
an-: Derivado da raiz indo-européia *an-. (a algo, em direção a algo, ao longo de).
No grego aparece sob a forma aná, no gótico ana, no antigo alto-alemão an[a] e n o
médio alto-alemão an[e]. Ao ligar-se a verbos, geralmente indica a localização espacial
de determinada ação; quando usado em sentido figurado, indica uma relação.
-l,ehnen: Da raiz indo-européia *Kl.ei- (curvar-se, tender, compor), deu origem a diferen
tes verbos que se fundiram, no novo alto-alemão, em l.ehnen (estar apoiado em ou colocar
algo contra um corpo). Encontra-se esta raiz também· em termos aparentados em outros
idiomas, como no inglês, to l,ean, ou no grego, klinein (que mais tarde, reintroduzido no
alemão, resulta em múltiplas palavras: Klima (clima), deklinieren (declinar) etc.).
· Significados adicionais de
"apoio " e "apoiar" não presentes em anlehnen e Anlehnung
4) Descarregar peso sobre algo ( também utilizado como substantivo). Apoiou-se sobre
as muletas e caminhou.
5) Ajudar (também utilizado como substantivo). Apoiarfinanceiramente.
6) Dar incentivo, solidar_iedade (também utilizado como substantivo). Nesta hora
difícil tenho recebido apoio de tódos.
Conotações adicionais de
"apoiar" e "apoio " não presentes em anlehnen e Anlehnlung
tando o peso horizontalmente) é bastante sutil para não causar problemas de entendi
mento, mas há diferenças conotativas. Conotativamente, o termo alemão evoca o
aproveitamento de um suporte ou encosto preexistente. O termo psicanalítico compos
to Anlehnungstypus der Objektwahl significa "tipo de escolha objetal apoiado em" e
refere-se ora ao sentido 1 , ora ao sentido 2. O sentido 2 é pouco usual em português,
mas no contexto da frase geralmente torna-se compreensível.
Os sentidos 5 e 6 são estranhos ao contexto analítico e dificilmente causam
mal-entendidos.
4 "Logo qu� surgem, estão ligados 1 (lehnen an) aos instintos de autopreservação,
dos quais só gradativamente se separam; também na sua escolha2 objetal, seguem os
caminhos indicados pelos instintos do ego."
"Os Instintos e suas Vicissitudes" ( 1 9 15) [ESB 14, 1 45-6]
1 Aqui não se trata de "ligados" (,gebunden, "atados", "fixados"), mas de angelehnt, no sentido
de "apoiados sobre", ou "recostados sobre"; portanto, de algo mais solto e provisório do que
uma Bindung (ligação).
2 Aqui o texto não fala em
"escolha": "também na procura pelo objeto".
Retraduzindo todo o trecho: Em sua primeira ap�ição se apóiam inicialmente sobre as pulsões
de autopreservação, das quais elas somente se desligam aos pouco; e também na procura de
objeto, seguem os caminheis indicados pelas pulsões do Eu.
5 "Aceitando 1 (ln Anl,ehnung an) uma palavra empregada por Nietzsche e acolhendo
uma sugestão de George Groddeck [ 1923], de ora em diante chamá-lo-emos de 'id'.
Esse pronome impessoal parece especialmente bem talhado para expressar a principal
característica dessa região da mente - o fato de ser alheia2 ao ego."
Novas Conferências Introdutórias sobre Psicanálise;
Conferência 3 1 : "A Dissecção da Personalidade Psíquica" ( 1932-3) [ESB 22, 92]
I
apoiando-me sobre (no sentido de " tomando como modelo") o emprego que Nietzsche
dava a esta palavra ( ... ).
2
Fremd significa "alheio" no sentido de ser estranho, estrangeiro, esquisito; trata-se de um
termo que reúne simultaneamente as noções de "alteridade" e "estranhamento".
Apoiar-se em modelo
E: Excitación, estímulo
F: Excitation, attrait, stimulus
1: Stimulus ou excitation
Composição do termo
Termo simples.
1) Estímulo externo, aquilo que produz uma sensação, aquilo que desencadeia algo,
ato de excitar ( também utilizado como verbo). A excitação das células com uma corrente
elétrica foi na época um experimento revolucionário.
2) Sensação causada pelo estímulo, sensação de excitação não-sexual (também
utilizado como verbo). Sinto que uma ardência (irritação/coceira) na garganta me provor;a
esta tosse.
3) Efeito agradável, encanto, charme (também utilizado como verbo). Este conto
tem um charme/encanto indescritível. O charme/encantofeminino é irresistível. V':fa o encanto
desta região.
4) Comichão, atração, tentação (também utilizado como verbo). Sinto atração por
esta mulher. Ver estasfotos me tenta a viajar.
5) Verbo irritar, excitar (não tem o sentido de provocar excitação sexual). Ele está
muito irritado, mas fica calado.
· .P •
'
!.J,·-;.
Etimologia
Conotações adicionais de
"estímulo " e "excitação " não presentes em Reiz e reizen
aplicado ao tecido vivo (substância nervosa) a partir de fora é descarregado por ação
para fora. Essa ação é conveniente na medida em que, afastando a substância estimulada
(gereizte) da influência do estímulo (Reizes), remove-a de sçu raio de atuação* (Reizwir
kung)."
"Os Instintos e suas Vicissitudes" (1915) (ESB 14, 138]
* remove-a de seu campo'�e estimulação.
'
quais fin almente atinge esse objetivo e, sendo o movimento conveniente,2 torna-se ·a
partir daí uma disposição hereditária. Não p<;>demos aplicar e ste mecanismo aos
estímulos instintuais (Triebreize) que se originall\, de dentro do o rganismo."
"Os Instintos e suas Vicissitudes" ( 19 15) [ESB 1 4, 140]
única tarefa: afastar-se deles.
1
\
e, sendo o mais adequado, transforma-se numa disposição hereditária.
2
,·
,' , l
\
226 Estímulo, Excitação
7 "( ... ) um 'instinto' nos aparecerá como sendo um conceito situado na fronteira
entre o mental e o somático, como o representante psíquico dos estímulos (Reize)
que se originam dentro do organismo e alcançam a mente, como uma medida da
exigência feita à mente no sentido de trabalhar em conseqüência de sua ligação com
o corpo."*
"Os Instintos e suas Vicissitudes" ( 1 915) [ESB 14, 1 42]
* como uma quantidade de trabalho exigido, o qual ê imposto ao psíquico devido à sua
conexão com o corpóreo. Ou, numa tradução mais livre: um quantum de reivindicação de
trabalho ao psíquico em decorrência de sua ligação com o corpóreo, uma espécie de tributo
que o psíquico deve à sua corporeidade.
8 "Por fonte de um instinto entendemos o processo somático que ocorre num órgão
ou parte do corpo, e cujo estimulo* (Reiz) é representado na vida mental por um
instinto."
"Os Instintos e suas Vicissitudes" ( 1 915) [ESB 14, 143]
* Pode ser entendido no sentido de um processo somático que produz um estímulo que se
faz representar na vida psíquica pela pulsão.
13 "Todo desprazer deve assim coincidir com uma elevação e todo prazer corri um
rebaixamento da tensão mental* devida ao estímulo (Reizspannung); o princípio de
Nirvana (e o princípio de prazer, que lhe é supostamente idêntico) estaria inteiramente a
serviço dos instintos de morte, cujo objetivo é conduzir a inquietação davida para a estabilidade
do estado inorgânico, e teria a função de fornecer advertências contra as exigências dos
instintos de vida - a libido - que tentam perturbar o curso pretendido da vida."
"O Problema Econômico do Masoquismo" ( 1924) [ESB 19, 200]
* todo prazer com um rebaixamento da tensão na psique produzida devido ao estímulo.
14 "Prazer e desprazer, portanto, não podem ser referidos a um aumento ou
dimínuição de uma quantidade (que descrevemos como tensão devida ao estímulo
(Reizspannung), embora obviamente muito tenham a ver com esse fator. Parece que eles
dependem, não desse fator quantitativo, mas de alguma característica dele que só
podemos descrever como qualitativa. Se pudéssemos dizer o que é essa característica
qualitativa estaríamos muito mais avançados em psicologia. Talvez seja o ritmo, a
seqüência temporal de mudanças, elevações e quedas na quantidade de estímulo
(Reiz.quantitãt). Não sabemos."
"O Problema Econômico do Masoquismo" (1924) [ESB 19, 200]
contra excitação") ( exemplo 12). A idéia de proteção (Schutz) é coerente com a conotação
de Reiz como sendo um estímulo-excitação que facilmente se torna excessivo e produz
tal desconforto que deixa o sujeito hilflos (indefeso, ou desamparado).
Com o desenvolvimento de suas formulações sobre a "compulsão à repetição"
(Além do Princípio de Prazer, 1 920) e sobre o "masoquismo" ("O Problema Econômico
do Masoquismo", 1924), Freud passa a transcender a relação direta "acúmulo de
estímulos/desprazer" e propõe que se considerem outros fatores de regulação do prazer,
além dos aspectos quantitativos dependentes da descarga: o ritmo, a seqüência, as
. elevações e quedas de quantidades etc. ( exemplo 14). Entretanto, a relação do desprazer
com um excesso de estimulação nunca é propriamente abandonada.
E: Ominoso
F: Inquiétante, étrangeté
I: Uncanny ou feeling ofstrangeness
Observação
Estranho, Lúgubre
232
Após deter-se na palavra, Freud comenta que essa ambigüidade faz com que o termo
heimlich finalmente coincida com seu próprio antônimo, unheimlich (o qual possui o
sentido e: inquietante, sinistro, estranho).
Conotações de unheimlich
Composição do termo
A) A sensação de estar diante do das Unheimliche deixa o sujeito indefeso, pois é "o
estranho" naquilo que possui de mais indefinível, iniprevisível.
B) É algo insidioso, sorrateiro, não se sabe quando se será atingido.
C) Não se sabe de onde provém o das Unheimliche, pois éjustamente algo indefinível
e sorrateiro.
D) O das Unheimliche se arma em torno do sujeito e é grandioso.
E) O das Unheimliche; ao se armar em torno do sujeito, está ou em breve estará
próximo e poderá atingi-lo.
F) Seremos em algum momento subitamente atingidos pelo das Unheimliche.
G) Há um conteúdo fantasmagórico que torna o das Unheimliche inapreensível e
inefável e o dota de certa "irrealidade" ou de um "realismo fantástico".
Etimologia
A palavra heim deriva da raiz indo-européia *kei- (estar deitado), que indicava local
onde se instala, acampamento etc. No gótico assume a forma haims (aldeia); no antigo
alto-alemão e no médio alto-alemão aparece sob a forma heim, significando casa,
· moradia, pátria. O substantivo parece ter caído em desuso entre .os séculos XVi e xvm,
·.r . ,
"{
234 Estranho, lúgubre
Heim: lar, casa; heimfallen: cair na antiga posse; heimgehen: pode significar morrer
(gehen = ir/heim = lar); Heimat: pátria; heimzahlen: pagar de volta no sentido de vingar-se;
einheimisch: caseiro, doméstico, não-selvagem.
Nos exemplos acima, o sentido de heim remete a "lar", "posse", "local familiar" e
"local de origem".
O termo das Unheimliche será contrastado com "o estranho", pois esta tradução tem
sido mais freqüente do que "o sinistro". Quanto a "inquietante", trata-se de tradução
apenas ocasional.
2) Externo, estrangeiro. Aquele estranho circulando pelas ruas deixava todos muito
curiosos. Era estranho na cidade.
significados
1 sinistro, inquietante 1 sinistro, inquietante
2 - 2 estrangeiro
conotações
A nos deixa indefesos A
B não se sabe quando chega B -
C proveniência indeterminada C proveniência indeterminada
D se arma em torno de nós D-
E proximidade E -
F insidioso/súbito F -
G fantasmagórico C-
H- H alteridade
2 "Se tomamos outro tipo de coisas, é fácil verificar que também é apenas esse fator
de repetição involuntária que cerca o que, de outra forma, seria bastante inocente, de
uma atmosfera estranha (unheimlich), e que nos impõe a idéia de algo fatídico e
inescapável, quando, em caso contrário, teríamos apenas falado em sorte."
"O 'Estranho"' ( 19 1 9) [ESB 1 7, 296]
Retraduzindo todo o trecho: Se tomannos outra série de experiências, reconheceremos sem
, dificuldade que a repetição involuntária é responsável pela transformação daquilo que é
'·,
!. . •
inofensivo em algo sinistro e que nos impõe a idéia de algo fatídico e -inescapável, onde
normalmente falaríamos apenas de uma "coincidência".
9 "A nossa conclusão podia, então, afirmar-se assim: uma experiência estranha I
( Unheimliche) ocorre quando os complexos infantis que haviam sido reprimidos revivem
2
· uma vez mais por meio de alguma impressão, ou quando as crenças primitivas que
foram superadas parecem outra vez confirmar-se."
"O 'Estranho'" ( 19 1 9) [ESB 17, 310]
1
O sentido do trecho inicial é: "A nossa conclusão podia, então, afirmar-se assim: o caráter
sinistro da vivência ocorre quando os complexos infantis que (. . , )".]
2
"convicções " em vez de "crenças"; refere-se a "antigas teorias arcaicas"
1 O "A categoria que provém dos complexos reprimidos é mais resistente e perma
1
nece tão poderosa na ficção como na experiência real, submetendo-se a urna exceção.
O estranho ( Unheimliche) que pertence à primeira categoria - a que �rocede de formas
2
de pensamentos que foram superadas - conserva o seu caráter (unheimlich) não
apenas na experiência, mas também na ficção, na medida em que o cenário seja de
realidade material; quando se lhe dá, porém, um cenário artificia! e arbitrário d:1 ficção,
pode perder aquele caráter."
"O 'Estranho'" (19 19) [ESB 17, 3 12]
1
"exceção" discutida por Freud em outro trecho do artigo.
2 Refere-se a fantasias originárias e idéias arcaicas.
3 o seu caráter "estranho", sinistro", "fantasmagórico".
"
No artigo "O 'Estranho "' , Freud se ocupa detalhadamente do termo das Unheimliche,
trazendo exemplo� de dicionários, da fraseologia e conotações coloquiais. Apesar
de o foco do artigo ser a investigação da sensação psíquica de inquietude perante
"ó sinistro", Freud também investiga os recursos estilístico-literários habitualmente
�,
,. .
238 Estranho, Lúgubre
Facilitação: Bahnung
E: Facilitación
F: Frayage
1: Facilitation
Composição do termo
Significados do verbo
bahnen e dos substantivos Bahn e Bahnung
Etimo[ogia
Significados adicionais de
''facilitar" e ''facilitação" não presentes em bahnen e Bahnung
Conotações adicionais de
''facilitar" e ''facilitação " não presentes em bahnen e Bahnung
D) Em português, o termo não evoca nada relacionado com "ligação física entre
dois elementos", bem como não destaca o aspecto dinâmico de "fluir/ deslizar". Remete
a um processo de remoção de obstáculos que "facilita" o acesso. Contudo, seu uso é
mais figurado ou metafórico, referindo-se a obstáculos e acessos abstratos. Não tem a
concretude de Bahnung.
E) "Facilitação" pressupõe geralmente a intervenção de uma força ex-machina, de
uma entidade que intervém a favor de algo ou de alguém. Também pode se referir ao
próprio sujeiw que facilite ( ele mesmo deixando de resistir).
significados
� aplainar, aplainamento 1-
2 verbo: tornar transitável 2-
3- 3 remover obstáculos,
remoção de obstáculos
conotações
A irrompe abrindo caminhos A
B via pela qual algo flui B
e interligação privilegiada C-
entre dois pomos
D- D dar acesso e remover obstáculos; uso abstrato
E- E intervir a favor (de algo ou de alguém) ou
deixar de resistir
3 "Para atingir seus objetivos - neste caso, possibilitar uma representação tolhida
pela censura- ele simplesmente percorre as vias quejá encontra estabelecidas (gebahnt)
no inconsciente; e dá preferência às transformações do material recalcado que também
se podem tornar conscientes sob a forma de chistes ou alusões, e de que se ach:.un tão
repletas nas fantasias dos pacientes neuróticos."
A Interpretação dos Sonhos, cap. VI/D (1900) [ESB 5, 328-9]
4 "O excesso porém provém de fontes de afeto que antes permaneceram incons
cientes e suprimidas. Essas fontes conseguem estabelecer um elo associativo com a
causa liberadora real,* e a desejada facilitação (Bahnung) da liberação (Entbindung) de
seu próprio afe to é aberta pela outra fonte de afeto1que é inobjetável e legítima."
A Interpretação dos Sonhos, cap. VI/H ( 1 900) [ESB 5, 443]
conseguem estabelecer um elo associativo com o, "fator desencadeador" real.
Retraduzindo o trecho: O excesso provém de fontes de afeto que permaneceram incomcientes
e suprimidas. Estas conseguem, a partir de um fator desencadeador real, estabelecer um:,
conexão associativa com outra fonte de afetos, esta inobjetável e autorizada (admissível), a qual
abre assim uma via para a liberação do afetos anteriormente retidos e reprimidos.
6 "Pode-se supor que, ao passar de determinado elemento para outro, a excitação tem
de vencer uma r�sistência e que é a diminuição da resistência assim alcançada qde dei..-xa
um traço permanente da excitação, isto é, uma facilitação (Bahnung). No sistema Cs., então,
uma resistência dessa espécie à passagem de determinado elemento não mais ex;stirá "
Além do Princípio do Prazer (1920) lESB 18, 42]
244 Facf/itação
mentos e condensação que se servem de vias facilitadas (gebahnte Wege) para percorrer
a rede de associações e catexizar representações aceitáveis para a censura (exemplo 3).
Também no texto Além do Princípio do Prazer (1920), o termo reaparece explicita
mente quando Freud aborda a questão funcional da memória e da diferenciação
consciente/inconsciente e o sistema perceptivo (exemplo 6).
Vias de descarga
Composição do termo
Significado de KompromiB
Conotações de Kompromillbildung
A) Quando há um acordo desse tipo, fica implícito que ambos os lados recuam
e fazem concessões, para superar um impasse (Kompromij]losung/solução de com
promisso), ambos os lados cedem, mas ainda conseguem obter alguns direitos e
vantagens. Há algo da ordem de um "conformar-se" com uma solução possível.
Kompromil!,bildung 247
Etimologi,a
Significados adicionais de
"compromisso " não presentes em KompromiB
Conotações adicionais de
"compromisso " não presentes em Kompromill
sign ificados
1 solução intermediária 1 (raro em português e geralmente st�eito
a arbitragem) [NDA, 442]
2- 2 obrigação
3- 3 horário marcado
"
!. •
conotações
A ambos recuam e se conformam A-
B- B foco na obrigatoriedade mútua
1 "Ferenczi (191 1), ao discutir algumas outras observações sobre o direcionamento dos
sonhos, comenta: 'Os sonhos elaboram por todos os ângulos os pensamentos que
ocupam no momento a vida anímica; abandonam uma imagem onírica quando* ela
ameaça o sucesso de uma realização de desejo e experimentam uma nova solução, até
finalmente lograrem criar uma realização de desejo que satisfaça às duas instâncias
anúnicas como uma solução de compromisso (lwmpromissuel[)' ." [Este parágrafo foi acrescen
tado em 1914.]
A Interpretação dos Sonhos, cap. VII/C ( 1 900) [ESB 5, 521]
* quando "há uma ameaça de fracassar" a realização do desejo.
2 "Quando eles se impõem à nossa atenção* em determinado ponto, descobrimos,
pela análise do sintoma produzido, que esses pensamentos normais foram submetidos
a um tratamento anormal: foram transformados no sintoma por meio da condensação
e da formação de compromisso (Kompromijlbildung), através de associações superficiais
e do descaso pelas contradições, e também, possivelmente, pela via da regressão.
"Em vista da completa identidade entre os aspectos característicos do trabalho do
sonho e os da atividade psíquica que desemboca nos sintomas psiconeuróticos, sentimo
nos autorizados a transpor para os sonhos as conclusões a que fomos levados pela histeria."
A Interpretação dos Sonhos, cap. VII/E ( 1900) [ESB5, 542]
* à nossa "percepção".
3a) "Fórmula 7 - Os sintomas histéricos surgem corno uma conciliação (KompromijJ) entre
dois impulsos afetivos e instintuais opostos, um dos quais tenta expressar um instinto
componente1 ou um constituinte da constituição sexual, enquanto o outro tenta suprimi-lo."
"Fantasias Histéricas e sua Relação com a Bissexualidade" ( 1 908) [ESB 9, 167]
b) "Essa nova descoberta não altera nossa sétima fórmula. Continua sendo verdade
que um sintoma histérico deve necessariamente representar uma conciliação2 (Kompro-
Kompromili,bildung 249
3
mijl) entre um impulso libidinal e um impulso repressor, mas pode também representar
a união de duas fantasias libidinais de caráter sexual oposto."
"Fantasias Histéricas e sua Relação com a Bissexualidade" ( 1 908) [ESB 9, 168]
1
um dos quais tenta expressar uma "pulsão parcial ou um elemento componente da
constituição sexual " , enquanto o outro tenta reprimi-lo.
2 necessariamente "corresponder a um compromisso (um acordo)" entre ( ... ).
3 ..correspon er" a' umao· - ( ... ).
d
5 "Em tal caso, o ego defende-se contra o impulso instintual mediante o mecanismo
da repressão. O material reprimido luta contra esse destino. Cria para si próprio, ao longo
de caminhos sobre os quais o ego não tem poder, uma representação substitutiva, que se
impõe ao ego mediante uma conciliação* (Kompromisses) - o sintoma. O ego descobre a
sua unidade ameaçada e prejudicada por esse intruso, e continua a lutar contra o sintoma,
tal como desviou o impulso instintual original. Tudo isto produz o quadro de neurose."
"Neurose e Psicose" ( 1 923) [ESB 19, 190]
* "mediante" um compromisso ("no sentido de solução de acordo").
6 "Os senhores também sabem que o conflito entre essas duas instâncias pode, sob
determinadas condições, produzir outras estruturas psíquicas que, assim como os
sonhos, são o resultado de conciliações (Kompromissen); e os senhores não haverão de
esperar que eu lhes repita aqui tudo o que estava contido em minha introdução à teoria
das neuroses, a fim de lhes demonstrar o que sabemos acerca dos fatores* determinan
tes na formação de tais conciliações (Kompromi.flbildung). Os senhores perceberam que
o sonho é um produto patológico, o primeiro membro da classe que inclui os sintomas
histéricos, as obsessões e os delírios, sendo_, contudo, dif�renciado dos outros por sua
transitoriedade e por sua ocorr€!ncia sob rnndições gue fazem parte da vida normal."
250 Formação de compromisso
pulsão reprimida, e tampouco passa totalmente pelo crivo do recalque. Portanto, não
dando conta de satisfazer realmente a nenhum dos lados, a "formação de compromisso"
não evita que prossiga o conflito entre a pulsão que aflora e o recalque. Desse conflito
podem nascer pato1ogias psíquicas (exemplos 4 e 6).
Em todos os exemplos elencados (1 a 6) pode-se notar na palavra KornpromijJ a
conotação de um ,acordo em que há perdas para ambos os lados, algo que se aceita mas
que não é muito satisfatório, um estado precário de "acordo".
'
,.- .
·J •
Frustração: Versagung
E: Frustración, denegación
F: Frustration, refus, refusement (das Versagen)
I: Frustration
Composição do termo
ver-: Prefixo que em geral designa as conseqüências de "ir muito adiante" (seja
prolongar-se temporalmente, seja progredir geograficamente). Indica fenômenos bas
tante contíguos: "transformação", "fechamento", "extinção", "gasto", "perda", "lapsos"
etc. Também pode indicar a "intensificação de uma ação" (a ação se mantém "indo
adiante" e eventualmente em excesso), bem como apontar para uma ação de "ir ou ser
levado embora", "ir ou ser levado a outro lugar".
sag-": Corresponde ao radical do verbo sagen, "dizer".
-ung: Sufixo de substantivação que freqüentemen_te · corresponde a "-ção'' em
português.
Versagung 253
Conotações do verbo
versagen e dos su.bstantivos Versagung e Versagen
Etimologia
Significados adicionais de
"frustrar" e ''frustração " não presentes em versagen e Versagung
Conotações adicionais de
"frustrar" e ''frustração " não presentes em versagen e Versagung
D) "Frustrar uma ação" enfatiza impedir que tenha êxito, apagá-la, anulá-la.
Expressões como "frustrar alguém", "frustrar a ação inimiga" etc. enfatizam menos a
retirada do objeto ou o "vedar" o acesso (sentidos 2 e 3 em alemão), do que o
impedimento da realização da ação (sentido 5). O uso em português é no sentido de
solapar as condições para a ação e retirar seu empuxo, algo como provocar um
"murchar". Em alemão, versagen, nos sentidos 2 e 3, não tem esta conotação.
3 "Um egoísmo forte constitui uma proteção contra o adoecer, mas, num último
recurso, devemos começar a amar a fim de não adoecermos, e estamos destinados a cair
doentes se, em conseqüência da frustração* (Vmagung), formos incapazes de amar. ( ... )
Reconhecemos nosso aparelho mental como sendo, acima de tudo, um dispositivo
destinado a dominar as excitações que de outra forma seriam sentidas como aflitivas ou
teriam efeitos patogênicos. Sua elaboração na mente auxilia de forma marcante um
escoamento das excitações que são incapazes de descarga direta para fora, ou para as quais
tal descarga é, no momento, indesejável. No primeiro caso, contudo, é indiferente que ésse
processo interno de elaboração seja efetuado em objetos reais ou imaginários. A diferença
não surge senão depois - caso a transferência da libido para objetos irreais (introversão)
tenha ocasionado seu represamento. ( ... ) Nos parafrênicos, a megalomania permite uma
semelhante elaboração interna da libido que voltou ao ego; talvez apenas quando a
megalomania falhe (versagt), o represamento da libido no ego se tome patogênico e inicie
o processo de recuperação que nos dá a impressão de ser uma doença."
"Sobre o Narcisismo: Uma Introdução" ( 1 9 14) [ESB 14, 102]
Frustração
* O texto original não se refere à incapacidade de amar devido à frustração, mas devido a
um impedimento. A tradução correta é: se, em conseqüência de sermos impedidos, não
pudermos amar.
5 "O tratamento analítico deve ser efetuado, na medida do possível, sob privação
(Entbehrung) - num estado de abstinência (Abstinenz). ( ... ) Lembrar-se-ão os senhores
de que foi uma frustração* (Versagung) que tornou o paciente doente, e que seus
sintomas servem-lhe de satisfações substitutivas. ( ... ) Cruel como possa parecer, deve
mos cuidar para que o sofrimento do paciente, em grau de um modo ou de outro
efetivo, não acabe prematuramente."
"Linhas de Progresso na Terapia Psicanalítica" (19 1 8-9) [ESB 1 7, 205)
* Não se refere aqui ao sentimento, mas a "proibição" ou "impedimento".
7 "Qual a satisfação a que ele renunciou (versagt)? E por que teve de renunciar
(versagen) a ela? ( ...) Não faremos qualquer progresso enquanto não tivermos passado
em revista a situação psíquica do menino corno um todo, quando ela veio à luz no curso
do tratamento analítico. Ele se encontrava, à época, na atitude edipiana ciumenta e
hostil em relação ao pai, a quem não obstante - salvo até onde a mãe dele era causa
de desavença - amava ternamente."
Inibições, Sintomas e Ansiedade ( 1926) [ESB 20, 123-4]
8 "A primeira destas duas alternativas pode ser levada a cabo por duas maneiras: na
realidade ou na transferência, em qualquer dos casos expondo o paciente a certa
quantidade de sofrimento real, mediante a frustração (Ver.sagung) e o represamento da
libido. Ora é verdade que já fazemos uso de urna técnica desse tipo em nosso procedimento
analítico comum, pois qual, de outra maneira, seria o significado da regra segundo a qual
a análise deve ser levada a cabo 'num estado de frustração' ( Versagung)?"
"Análise Terminável e Interminável" (1937) [ESB 23, 264)
Versagung 259
Freud utiliza o verbp versagen nas suas três acepções coloquiais: "fracassar" ou
"falhar" (última frase do exemplo 3); "privar-se ", "abdicar", "renunciar a" (exemplo 7);
e "bloquear", "impedir", "proibir o acesso" (exemplo 6).
O substantivo das Versagen é geralmente utilizado para designar o fracasso ou falha
na satisfação de certa pulsão por causas próprias, sem interferência externa.
Die Versagung normalmente refere-se à interdição ou ao impedimento da saüsfação.
Ocorre através de uma interferência externa que retira o objeto ou veda o acesso a ele
- por exemplo, devido a estratégias analíticas (exemplo 5).
Bloqueio à satisfação
Em todos estes usos se nota que o emprego do termo pouco se refere ao sentimento
gue em português se designa por "frustração". Apesar do represamento de libido e do
decorrente sofrimento provocados pela Versagung (impedimento ou bloqueio), a tradu
ção por "frustração" introduz uma tonalidade de amargura e de tristeza existencial não
presente no termo alemão.
Além dessa distorção de "tonalidade", a tradução que iguala Vmagung (fracasso,
bloqueio) ao sentimento de "frustração" introduz distorções de sentidos. Bastante ilustra
tivo para esse tipo de confusão é o seguinte trecho do exemplo 3, retirado do texto "Sobre
o Narcisismo: Uma Introdução" (1912), traduzido por: "( ... ) estamos destinados a cair
doentes se, em conseqüência da frustração, formos incapazes de amar".
Na frase original Freud não afirma que é por estarmos "frustrados". que nos
tornamos incapazes de amar, mas que devido a um impedimento (bloqueio imposto,
ser impedido) não pudemos amar: "( ... ) estamos destinados a cair doentes se, em
conseqüência de um impedimento ( ou bloqueio imposto, proibição), não pudermos
amar" (wenn man injolge von Versagung nicht lieben kann).
Caso se deseje utilizar a palavra "frustrar" no sentido de "impedir", deve-se traduzir
a frase por "( ... ) estamos destinados a cair doentes se, em conseqüência de ter sido
frustrada nossa tentativa de amar, somos impedidos de amar".
ld ou "o isso": das Es
E: Ello
F: Ça
1: Id
Quando introduz a chamada segunda tópica, Freud emprega o pronome es de
forma substantivada, das Es. Articula-o com duas outras instâncias, o Eu (das Ich) e o
Supereu (das Über-ich), também designadas por um pronome pessoal (ich, eu).
Quanto ao pronome es, é o pronome pessoal do gênero neutro; em alemão há
pronomes de três gêneros: masculino, feminino e neutro, respectivamente er (ele), sie
(ela) e es (neutro, semelhante ao it do inglês). O es é um pronome de múltiplos usos e
funções. Pode ser empregado em frases corriqueiras, referentes a objetos e pessoas de
gênero neutro, bem como em contextos que remetem a algo indefinido e inominávei
(fenômenos metereológicos, estados que acometem o sujeito etc.).
Seu emprego no contexto psicanalítico se presta bastante bem a evocar a imagem
de algo contido no sujeito mas que lhe é simultaneme1:1te estranho.
A substantivação das Es é uma criação filosófico-r,sicanalítica estranha ao emprego
coloquial. Seu significado, entretanto, remete ao pYonome pessoal es, de uso corrente
em alemão. Na sessão abaixo será tratado o uso de es como pronome pessoal.
Composição do termo
Termo simples.
Significados do termo es
4) Pronome pessoal utilizado com verbos que designam eventos de causas indeter
minadas, crescimentos e ruídos. Floresce (Es blüht). Crepita (Es knistert).
5) Pronome pessoal utilizado com verbos que designam acontecimentos em si, onde
os participantes ficam em segundo plano, deixando a frase mais anônima (em alemão,
empregado freqüentemente na voz passiva). Falava-se, cantava-se e bebia-se (Es wurde
gesprochen, es wurde gesungen, es wurde getrunken).
6) Pronome pessoal utilizado com verbos que designam ações que independem do
sujeito. Eu não respiro, isso respira por mim (Jch atme nicht, es atmet in mir).
7) Pronome pessoal utilizado para verbos que designam sensações corpóreas e
psíquicas por influência externa. Algo difícil de reproduzir em português; poder-se-ia
tentar traduzir por Mefazfrio (Esfriert mich) [utilizado em vez de "sinto frio"] .
8) Como elemento que ocupa um lugar no início de frases. Era uma vez uma princesa
. (Es war einmal eine Prinzessin). Vieram meus dois filhos (Es kamen meine zwei Kinder).
[Exemplos adaptados do D 4, 555-8.]
Conotações do termo es
A) O pronome es designa com freqüência algo que se manifesta como que à revelia
do indivíduo, tendo a função de personalizar o que é indeterminado, impessoal e
indefinível, mas que pode ser apontado e circunscrito por um pró-nome. É co.-no se em
alemão não pudesse m existir frases sem sujeito nomeável (mesmo quando em portu
guês corresponderiam a frases de sujeito oculto, inexistente ou indeterminado). Alguns
comentáiios a respeito, constantes na gramática alemã Duden-Grammatik [D 4, 555-8],
são bastante elucidativos: "( ... ) Enquanto alguns pesquisadores não reconhecem ao es
um valor como conteúdo e o consideram uma palavra de uso puramente formal ou
um sttjeito fictício, outros vêem no es a expressão verbal da ação de forças impessoais,
irracionais ou míticas. Entretanto, mesmo aqueles que são céticos com relação a
interpretações mitológicas deveriam admitir que nas frases a seguir o es designa causa
indefinidà de um acontecimento".
Em seguida os autores enumeram exemplos de uso do es dos quais apenas alguns
são reproduzidos aqui de forma resumida, bem como os respectivos comentários.
Seguindo a numeração do original, os comentários começam pelo número 2.
2. Para verbos de ruído: farfalha, es raschelt; range, es knistert. Segue o comentário
dos autores: "Na medida em que tais impressões auditivas apontam facilmente para o
reino do secreto, até mesmo do sinistro (des Unheimlichen), favorece-se tal interpretação
do es".
3. Verbos de sensações corporais ou psíquicas (seelischer Empfindungen): me faz fiio,
es friert mich; isso me exige por você [no sentido de "sinto saudades"] es verlangt mich
nach dir. Segue o comentário dos autores: "A maioria destas expressões parecem hoje
e m dia antiquadas. Elas em parte soam bíblica ou poeticamente. Privilegiamos atual-
das Es 263
mente formas pessoais, tais como: eu tenho fome, ich habe Hunger, formas estas
antigamente inexistentes na língua. Pode-se pressupor que o avanço das expressões
pessoais em detrimento das impessoais, nas quais o es apontava para uma influência
externa (Jremd) ífremd, em alemão, significa externo, estrangeiro, estranho], esteja
ligado à atitude mais autoconsciente do homem perante a natureza".
4. Forma de emprego impessoal de um verbo. O comentário dos autores: "Assim
um verbo pode a qualquer momento ser empregado de forma impessoal, quando se
desejar expressar que se trata de um acontecimento que de alguma maneira escapa à
vontade humana. ( ... ) O es pode ser considerado significativo, pois indica que aqui uma
força inexplicável e independente de nossa vontade entra em ação. Justamente os
escritores exploraram este tipo de possibilidade: 'Também não era eu que gritava,
gritava em mim, era um êxtase sagrado das dores' (Ich schrie nicht selbst, es schrie, es war
eine heilige Ekstase der Schmerzen) (Thomas Mann). Portanto é possível aind::t hoje a
qualquer momento inserir o es de forma que desempenhe uma função que em muito
extrapola o mero papel de sujeito gramatical fictício".
5. Para expressar ocorrências em si. Ocorrências nas quais a pessoa que as
ocasionou deve ficar em segundo plano, não expressas por construções verbais com es:
Comeu-se e bebeu-se, dançou-se e cantou-se (es wurde gegessen und getrunken, getanzt und
-'
gesungen ). 1
B) Tal qual o pronome "o" em português, também em alemão o pronome es tem
o papel de "resumo", de "compactar" o conteúdo que já foi mencionado numa frase
anterior (sentido 2).
Este conjunto de conotações será retomado mais adiante, no item que trata do
emprego do termo no contexto psicanalítico.
Etimologia
Das raízes indo-européias *e- e *i-, das quais derivaram tanto o numeral "um" (ein)
quanto pronomes pessoais na terceira pessoa. No gótico is, ita, no latim is e id e no
antigo e no médio-alto alemão er e e� Mais tarde, formas declináveis se estabilizam no
antigo alto-alemão em imu, imo, iru, in[an], ira, iro, correspondendo no alemão atual a
ihm, ihr e ihn. No século xvm, ainda era comum a forma de tratamento er (ele) para
pessoas de nível social inferior. Os pronomes possessivos e a maioria das formas
declinadas de es ainda são idênticos às do pronome masculino er; entretanto, atualmente
seu uso é bastante diferenciado do pronome da terceira pessoa masculina.
,'
. '-ii·.�
Não há.
O termo será contrastado com o pronome "isso", pois tanto a substantivação "o
isso" quanto o termo latino id são próprios do jargão psicanalítico, não sendo empre
gados no português coloquial.
Nada a acrescentar.
conotações
A personaliza a existência e A -
circunscreve o que é indefinido
B compacta conteúdos maiores B -
Freud começa a utilizar o termo das F,s a partir de 1923, adotando-o de Groddeck, o
qual, por sua vez, o teria adotado de Nietzsche (exemplo 2). A substantivação do pronome
es, das F.s, de que Groddeck e Freud se utilizam, não é comum na lingua?em corrente.
Pode-se dizer que para o leitor alemão o efeiw desta substantivação i�comum é que
se transferem para o substantivo algumas das conotações do próprio pronome es já
mencionadas acima (ver conotações A e B). O das Es é um termo carregado de
"alteridade", que manifesta a sua existência como algo estranho ao próprio sujeito .
. Além disso, essa substantivação incomum evoca algo indefinido e prenhe de conteúdos
desconhecidos. Retomando algumas características lingüísticas do pronome es:
- O pronome es é usado para nomear pronominalmente fenômenos de natureza
indeterminada ou impessoal que se presentificam.
- Pode ser usado como sujeito gramatical daquilo que acomete o indivíduo
(principalmente no alemão mais antigo).
- O es refere-se com freqüência a objetos que possúem alguma indefinição.
- É usado como um "referência compactada" que nomeia de forma genérica
conteúdos de frases anteriores.
por outro lado o poder das pulsões e do id sobre o ego não é total. Até certo ponto o
Es pode e deve ser "regulado". O Es contém pulsões contraditórias e não possui um
desejo único (exemplo 6). A tarefa do ego (Eu) não é nem eliminar o Es, o que seria
impossível, pois o ego (Eu) é parte dele, nem realizar todas as exigências do Es de
imediato (pois, além de contraditórias, não levam em conta a realidade). O ego (Eu)
procura regular a relação entre o princípio de prazer e o princípio de realidade,
colocando "rédeas" (biindigen) ao Es. No texto O Ego e o ld ( 1923) e na 3P Conferência
( 1932-3) Freud descreve o Es como um cavalo bravio, o que aliás guarda proximidade
com as conotações lingüísticas acima discutidas. Servindo-se da imagem do ego como
um "cavaleiro que cavalga o Es ", Freud diz que entretanto se trata de um cavaleiro que
o faz com "forças emprestadas" do id. Não podendo ou não querendo desvencilhar-se
do cavalo, só lhe resta "conduzi-lo até onde o animal quer ir"; assim também o "ego
costuma transformar em ação a vontade do Es, como se fosse a sua própria". Esta luta
do ego (Eu) por colocar em ação o desejo do Es, levando em conta a realidade, é
expressa ao longo da obra de Freud por certos verbos que refletem o esforço de
domínio do ego sobre as forças pulsionais contidas no Es: beherrschen (domínio total),
bewaltigen (dar conta de, lidar com) e bãndigen (refrear, domar, colocar rédeas).
� Pulsão (Trieb)
,,. ,.
'
Idéia, Associação livre, Associação: Einfall
E: Ocurrencia
F: Idée incidente
I: Association
A palavra Einfall é traduzida com freqüência por "livre associação", por "associa
ção" e por "idéia". As traduções por "associação livre" e por "associação", conforme o
contexto, podem estar adequadas, entretanto, conotativamente, os termos Einfall e
"associação" são diversos.
Einfall é palavra corriqueira em alemão e significa "idéia que ocorre"; por via de
regra, evoca a imagem de algo que vem de fora e de forma súbita. "Associação"
(Assoziation), termo que ocasionalmente Freud utiliza de forma semelhante a Einfall,
em alemão tem uma tonalidade técnica, não pertence à linguagem corrente. No
sentido psicanalítico, remete à interligação entre representações ( Vorstellungen).
Freud e m geral emprega o termo Einfall no contexto d o fluxo de idéias que vão
ocorrendo e sendo verbalizadas pelo paciente em sessão.
Composição do termo
Significados do verbo
einfallen e do substantivo Einfall
[Há ainda outros usos específicos em áreas como mineração, caça, música etc.;
exemplos adaptados do WBW, 385, e do SBH, 1 38-9.]
A) Ein- indica algo que "entra", "penetra". A palavra Fall, significa "queda". Einfall
evoca em certas frases a imagem de um despencar para dentro.
B) O termo Einfall remete a algo súbito e inesperado, tal qual uma idéia que "ocorre".
C) Freqüentemente a frase com einfallen em alemão se constrói com o pronome es
no papel de sujeito e o indivíduo como objeto indireto. Es tem uso semelhante ao it do
inglês, personifica fenômenos indefinidos ou impessoais. É como se a idéia viesse de
alhures ( ocorreu-me/veio-me uma idéia súbita) e o sujeito fosse um receptáculo
relativamente passivo [ver verbete "Id ou 'o isso"' (das Es), pp. 261-63].
Etimologia
ein-: Derivado da forma indo-européia *en (dentro). No grego en, no latim in, no
gótico in, no médio e no alto-alemão in. Mais tarde a forma ein substitui in em diversas
composições de substantivos e verbos designando sempre uma direção (para dentro,
adentro). Liga-se a numerosos verbos que indicam inclusão.
fall: Substantivação do verbo fallen, do antigo alto-alemão fal/,an e do médio alto-ale
mão vallen (cair), referindo-se a desmoronamento, queda, despencar. A substantivação Fall
significa "caso", "acontecimento", "ocorrência" e deriva da idéia da "queda de um dado"
e o conseqüente "caso de sorte ou azar". A partir do século xvr, começa a aparecer o uso
de Eirifall como referente a idéias súbitas, geralmente utilizado pelos místicos.
permitir-se que acuda à mente tal idéia); was fallt lhnen ein?: como ousa? ( o que lhe
acode à mente? o que lhe ocorre?).
O termo será contrastado com "associação", que, além de ser freqüente n os meios
psicanalíticos, é objeto de crítica no polêmico livro Freud e a Alma Humana ( 1 982), de
Bruno Bettelheim. A tradução de Einfall por "idéia" também é comum e por vezes pode
causar dificuldades quando se trata de diferenciá-la da "idéia" no sentido de "repre
sentação" (Vorstellung).
Significados adicionais de
"associar" e "associação " não presentes em Einfall
Conotações adicionais de
"associação " não presentes em Einfall
6- 6 interligar
7- 7 somar forças, aliar-se
conotações
A penetração e queda A
B súbito B
C idéia vem de alhures e acomete C-
o sujeito
D- D sujeito ativo
E - E liga coisas já disponíveis
- -�- -
- --Exemplos de Uso em Freud - - -
- -
1 "Se interferirmos com o paciente em sua reprodução das idéias (Einfãlle) que nele
estão jorrando,* poderemos 'enterrar' coisas que depois terão de ser liberadas com
grande dificuldade."
"A Psicoterapia da Histeria" (1895) [ESB 2, 283]
* Em vez de "que nele estão jorrando", que "estão fluindo em sua direção", ou ainda, "que
estão acorrendo em sua direção".
2 "Quanto às idéias (Einfalle) postas de lado sob toda sorte de pretextos ( como as
enumeradas na fórmula acima), Freud as encara como derivados das formações
psíquicas recalcadas (pensamentos e moções), como deturpações delas provocadas pela
resistência à sua produção."
"O Método Psicanalítico de Freud" (1903-4) [ESB 7, 235]
3 "Pois a nossa experiência demonstrou - e o fato pode ser confirmado com tanta
1
freqüência quanto o desejarmos - que, se as associações (freie Assoziationen) de um
2
paciente faltam, a interrupção pode invariavelmente ser removida pela garantia de que
ele está sendo dominado, momentaneamente, por uma associação3 (EinfalZes) relacio
n ada com o próprio médico ou com algo a este vinculado. Assim que esta explicação
é fornecida, a interrupção é removida ou a situação se altera, de uma em que as
associações faltam para outra em que elas estão sendo retidas."4
"A Dinâmica da Transferência" ( 19 12) [ESB 12, 135]
1 Em vez de "associações", "associações livres;'.
��
214 Idéia, Associação livre
2 Em vez de "faltam", "falham
".
3 Einfall tem aqui o sentido de "idéia que lhe havia ocorrido".
4 Em vez de "retidas", "omiüdas", ou ainda "escondidas".
5 "No correr desse processo, observamos que o paciente pode continuar a desfiar sua
meada de associações* (Einfallsreihe), até ser levado de encontro a um pensamento, cuja
relação com o reprimido fique tão óbvia, que o force a repetir sua tentativa de repressão."
"A Repressão" ( 1915) [ESB 14, 173]
* no sentido de "seqüência de idéias que lhe vão ocorrendo".
6 "Estes atos não incluem parapraxias* e sonhos em pessoas sadias, mas também
tudo aquilo que é descrito como um sintoma psíquico ou uma obsessão nas doentes;
nossa experiência diária mais pessoal nos tem familiarizado com idéias (Einfallen) que
assomam à nossa mente vindas não sabemos de onde, e com conclusões intelectuais
que alcançamos não sabemos como."
"O Inconsciente" ( 1 9 15) [ESB 14, 192]
* "atos falhos", ou "lapsos" .
Einfall 275
Conforme descrito, Einfall pode evocar a imagem de uma idéia que "despenca" na
mente do sujeito, algo que lhe ocorre ou sobrevém (no exemplo J, as idéias "fluem"
para dentro do p�ciente). Trata-se de um processo em que o paciente "deixa" que lhe
venham os Einfãlle. No exemplo 4, apesar de Freud dizer que "exige" que o paciente
produza derivados (descendentes, rebentos) do material recalcado, tal "produção"
consiste em que o paciente "abdique" das intenções preconcebidas e da censura.
Essa concepção implica uma escuta analítica centrada naquilo que provém do
inconsciente, como o lapso (exemplo 6), e, por conseguinte, uma postura que não
convoca o ego a trabalhar e buscar sentidos, mas, ao contrário, pede que o ego deixe
que lhe �enham do inconsciente os Einfãlle.
Lingüisticamente, a palavra indica algo que nos vem quase como se fosse "externo"
a nós. Psicanalíticamente, isto corresponde ao fato de os Einfãlle serem idéias ( Vorstel
lungen, representações) recalcadas, que somente após terem sido distorcidas ao ponto
de não poderem mais ser reconhecidas, irão aflorar ao consciente ( exemplos 2 e 4). Os
Einfãlle nos parecem de origem desconhecida, não sabemos de onde vêm ( exemplo 6).
A idéia de que o material recalcado retorna ao sujeito como se fosse algo estranho
e externo a ele (mas simultaneamente conhecido e familiar) é freqüentemente retomada
por Freud; ver, por exemplo, os verbetes "Alienação" (Entfremdung), p. 53 e "Estranho"
(das Unheimliche), pp. 23 1-239.
E: Incompatible
F: Inconciliable
1: Incompatible
Composição do termo
un-: Prefixo de negação cujo efeito é semelhante a "in" e "des" em português (por
exemplo, nas palavras "intolerável", "desagradável" etc.).
ver-: Prefixo que em geral designa as conseqüências de "ir muito adiante" (seja
prolongar-se temporalmente, seja progredir geograficamente). Indica fenômenos bas
tante contíguos: "transformação", "fechamento", "extinção", "gasto", "perda", "lapsos"
etc. Também pode indicar a "intensificação de uma ação" (a ação se mantém "indo
adiante" e eventualmente em excesso), bem como apontar para uma ação de "ir ou ser
levado e mbora", "ir ou ser levado a outro lugar".
trãg-: Corresponde ao radical trag-, do verbo tragen (portar, carregar, usar, levar,
trazer e te.)
-lich: Sufixo de adjetivação que corresponde com freqüên cia a "-vel" em portu-
guês.
Significados de unvertrãglich
Conotações de unvertrãglich
Etimologia
ver-: Vários prefixos se fundiram no moderno ver-. Da raiz indo-européia *per, cujo
significado era algo equivalente a "conduzir para fora passando por sobre", derivam-se
três formas ainda arcaicas pertencentes ao tronco indo-europeu: *perfil, *pr- e *pro-. No
góticofaír- (para fora).Jaúr- (adiante,já passado) efra- (embora, para adiante). Também
se encontra essa separação no grego (peri-, par- e pro-) e no latim (per-, por- e pro). Outros
prefixos ainda pertencem a este tronco, por exemplo, o latim prae- e sua forma
germanizada atual pra- ou ainda o grego pára ( ao longo, muito para adiante). No alemão
atual encontram-se prefixos, advérbios e preposições derivados desta raiz indo-euro
péia comum: für (por, para, no lugar de), vor ( adiante, diante de, desde) e Jort ( algo que
se foi, foi embora; ver o "Fort-Da" de Freud, ESB, vol. XVIII, p. 26-8) e Jern (longe,
longínquo). Além disso, este prefixo *pre- evoluiu e deu origem a dezenas de palavras,
tais como Frau (mulher). fremd (estranho, estrangeiro), first- (forma arcaica de "desta
cado"), Frist (prazo),Jahren (ir, conduzir, guiar), Gefahr (perigo) etc. Devido aos limites
de espaço, não cabe aqui esclarecer mais detalhadamente; contudo, todos os casos
mencionados têm origem no conceito de "ir adiante" e freqüentemente de perder
contato com a origem.
Dificilmente se podem ligar os atuais sentidos do prefixo ver- com sua forma trinária
no gótico. Muitas vezes corresponde à forma gótica fra- (para longe, desaparecido,
embora), quando utilizado com verbos que designam: 1 ) "transformar-assimilar"
unvertraglich 279
Significados adicionais de
"incompatível" não presentes em unvertrãglich
Conotações adicionais de
"incompatível" não presentes em unvertrãglich
significados
Unvercrãglich 281
1 inassimilável, indigesto 1-
(faz mal à saúde)
2 inconciliável 2 inconciliável
3 intratável 3-
conotações
A recusa-impossibilidade A-
B impossibilidade de coabitação B-
ou coexistência
e (aspecto lógico-formal C enfatiza o aspecto lógico-formal de
não· é enfatizado) "não correspondência" entre conteúdos
D- D refere-se à impossibilidade de uma "ação" ou
"efeito conjunto"
1 "Propus então a idéia de que a eclosão da histeria pode ser quase invariavelmente
atribuída a um conflito psíquico que emerge quando uma representação incompatível
(unvertriigliche) detona uma defesa por parte do ego e solicita um recalcamento. Na
época eu não soube dizer quais seriam as circunstâncias em que um esforço defensivo
desse tipo teria o efeito patológico de realmente jogar no inco_n sciente uma lembrança
que fosse aflitiva (peinliche) para o ego e de criar um sintoma histérico em seu lugar."
"A Etiologia da Histeria" ( 1 896 ) [ESB 3, 195]
2 "Hoje porém posso reparar essa omissão: a defesa cumpre seu propósito de
arremessar a representação incompatível (unvertrãgliche) para fora da consciência
quando há cenas Sexuais infantis presentes no sujeito {até então normal*) sob a forma
de lembranças inconscientes, e quando a representação a ser recalcada pode vincular-se
em termos lógicos e associativos com uma experiência infantil desse tipo.
"Visto que os esforços defensivos do ego dependem do desenvolvimento moral e
intelectual completo do sujeito, o fato de a histeria ser muito mais rara nas classes inferiores
do que o justificaria sua etiologia espeófica de:xa de ser imeiramente incompreensível."
�A Etíulngi,, dJ Histeri::i" ( 1 896 ) fESB i, 1 95 ]
282 /ncompadvel
4 "Estes instintos nem sempre são compatíveis* entre si (vertragen sich nicht); seus
interesses amiúde entram em conflito. A oposição entre as idéias é apenas uma
expressão das lutas entre os vários instintos. Do ponto de vista de nossa tentativa de
explicação uma parte extrememente importante é desempenhada pela inegável oposi
ção entre os instintos que favorecem a sexualidade, a consecução da satisfação sexual,
e os demais instintos que têm por objetivo a autopreservação do indivíduo - os instintos
do ego. Como disse o poeta, todos os instintos orgânicos que atuam em nossa mente
podem ser classificados como 'fome' ou 'amor'."
"Perturbação Psicogênica da Visão" ( 1 910) [ESB 1 1 , 199-200]
* nem sempre "se dão bem" ou: nem sempre "se entendem".
5 "Os neuróticos afastam-se da realidade por achá-la insuportável (unertrãglich) �
seja no todo ou em parte. O tipo mais extremo deste afastamento da realidade é
apresentado por certos casos de psicose alucinatória que procuram negar (verleugnet)
o evento específico que ocasionou o desencadeamento de sua insanidade ( Griesinger).
Mas, na verdade, todo neurótico faz o mesmo com algum fragmento da realidade."
"Formulações sobre os Dois Princípios do Funcionamento Mental" ( 1 9 1 1) [ESB 12, 277]
6 "Se estes esforços [libidinais], que são incompatíveis (unvertrãglich) com a indivi
dualidade atual do paciente, adquirem intensidade suficiente, tem de resultar um
conflito entre eles e a outra parte da personalidade, que manteve sua relação com a
realidade. O conflito é solucionado pela formação de sintomas e seguido pelo desen
cadeamento da doença manifesta."
"Tipos de Desencadeamento da Neurose" ( 1 9 12) [ESB 12, 293]
7 "O ideal de ego impõe severas condições à satisfação da libido por meio de
objetos, pois ele faz com que alguns deles sejam rejeitados por seu censor como sendo
incompatíveis (unvertrãglich ). "
"Sobre o Narcisismo: Uma Introdução" ( 1914) [ESB 14, 1 18]
Intensidade de repulsa
E: Interpretación
F: Interprétation
1: Interpretation
Composição do termo
Significados do verbo
deuten e do substantivo Deutung
Etimologia
Significados adicionais de
"interpretar" e "interpretação " não presentes em deuten
Conotações adicionais de
"interpretação " não presentes em deuten
D) "Interpretar" pode ter o sentido de "traduzir" algo que não está sendo entendido
(tal qual na profissão de intérprete). Aquele que interpreta, por exemplo, um papel n o
teatro, transpõe u m sentidoj á existente para outra linguagem. Não se trata a í de descobrir
um sentido adicional antes oculto, mas de passar para uma linguagem inteligível.
E) Em geral, o termo "interpretação" é utilizado ou numa acepção mais técnica e
objetiva, tal como no sentido 4 ("decodificar dados"), ou numa acepção mais pessoa l
e subjetiva, como no sentido 6 , u m esforço individual e súbjetivo d e "entender". Em
ambos os casos a ênfase conotativa não é sobre um sentido adicional a ser descoberto,
mas em tomar compreensível um material ainda em estado bruto.
conotações
A atividade de um iniciado ou sábio A (raramente)
B já há um sentido explícito anterior B (raramente)
C apontar para outro sentido C (raramente)
D (raramente) D colocar em linguagem inteligível
E (raramente) E atividade ou mais técnica e objetiva ou
mais subjetiva e pessoal
1 "O título que escolhi para minha obra deixa claro quais das abordagens tradicio
nais do problema dos sonhos estou inclinado a seguir. O objetivo que estabeleci perante
mim mesmo é demonstrar que os sonhos são passíveis de ser interpretados (Deutung);
e quaisquer contribuições que eu possa fazer para a solução dos problemas tratados
no último capítulo só surgirão como subprodutos no decorrer da execução de minha
Deutung 289
tarefa propriamente dita. Meu pressuposto de que os sonhos podem ser interpretados
(deutbar) coloca-me, de imediato, em oposição à teoria dominante sobre os sonhos e,
de fato, a todas as teorias dos sonhos, com a única exceção da de Scherner; pois
'interpretar' (deuten) um sonho implica atribuir 1 (angeben) a ele um 'sentido' - isto é,
substituí-lo por algo que se ajuste à cadeia de nossos atos mentais como um elo dotado
de validade e importância iguais ao restante."
A Interpretação dos Sonhos, cap. II ( 1900) [ESB 4, 1 19]
1 "indicar" a ele um "sentido" .
Retraduz.indo o final da última frase: ( ... ) isto é, substituí-lo por algo que possa se inserir
como elo equivalente e compatível com a articulação de nossas ações psíquicas.
290 /nterprecação
6 "Se nas descrições da técnica analítica se fala tão pouco sobre 'construções', isso
se deve ao fato de que em troca se fala nas 'interpretações' (Deutungen) e seus efeitos.
Mas acho que 'construção' é de longe a descrição mais apropriada. 'Interpretação'
(Deutung) aplica-se a algo que se faz a al�um elemento isolado do material, tal qual urna
associação (Einfall) ou uma parapraxia. Trata-se de uma 'construção', porém, quando
se põe perante o sujeito da aná1ise 2 um fragmento de sua história primitiva, 3 que ele
esqueceu, aproximadamente da seguinte maneira: 'Até os onze anos de idade, você se
considerava o único e ilimitado possuidor de sua mãe; apareceu então outro bebê e lhe
trotLXe uma séria desilusão ( ... )'."
"Construções em Análise" (1937) [ESB 23, 295]
1
No original a enumeração prossegue: (... ) tal qual uma associação (Einfall "é idéia súbita
que ocorre"), uma parapraxia ("no sentido de lapso") "ou outros equivalentes".
2 perante o "ana,1sa
t·
do " .
3 um fragmento de sua "pré-história esquecida, no sentido de "história anterior".
O sentido latente
Muitas vezes Freud se refere à interpretação tanto como uma "técnica", Deutungs-
technik (segundo parágrafo do exemplo 2) quanto como uma "arte", Deutungskunst
(primeiro parágrafo do exemplo 2 e exemplo 3). A palavra Kunst significa "arte",
"habilidade" e "técnica". A Deutungskunst tem o sentido de uma "habilidade" ou "arte"
no manuseio e aplicação de uma técnica, trata-se de algo vinculado às capacidades
pessoais de quem a pratica, bem diverso de uma técnica no sentido puramente
tecnológico do termo. De maneira geral, a forma como Freud emprega os termos
Deutungskunst e Deutungstechnik é diversa tanto de uma "arte divinatória" quanto de
uma "tecnologia" desvinculada de quem a aplica.
Interpretação e tradução
Interpretação e construção
Ambos os termos não têm uso diferenciado em Freud, o qual emprega alternada
mente a palavra germânica Deutung e a latina Interpretieren. É mais freqüente o uso do
termo germânico, o qual, como foi mencionado, remete a outras conotações do que a
palavra "interpretação" e é mais compreensível e corrente para os leitores alemães.
E: Ligazón
F: Liaison
1: Binding
Composição do termo
Significados do verbo
binden e do substantivo Bindung
A) Usado no sentido 1, Bindung remete à palavra "laços" (há laços que os unem).
Mesmo em seu sentido mais figurado e afetivo, o termo mantém a imagem de uma
ligação física (barbante, fio etc.), sempre indica aquilo que "liga-aproxima-une". Não
se trata de "relação" no sentido de "conexão lógica", mas "aquilo que enlaça". Não se
pode utilizar Bindung para dizer "que há uma ligação entre dois fatos", mas pode-se
dizer que "há uma ligação entre dois amigos".
B) Usado no sentido 2, o termo também evoca a imagem de "fixação", "aprisiona
mento", "imobilização". Por exemplo, Marx utiliza o termo Kapitalbindung (fixação de
capital) para investimentos em determinados bens que "imobilizam", "amarram",
"fixam" o capital em máquinas, estoques, lojas etc., e o seu antônimo, Kapitalentbindung
(liberação de capital), em processos que "liberam", "libertam", �desatam" o capital
(quando o produto é vendido e transformado em capital monetário que pode circular
livremente). Freud também emprega os termos Bindung (fixação, imobilização) e
Entbindung (liberação, desamarrar) referindo-se à fixação e à libertação nos processos
de circulação nas diversas dimensões psíquicas.
Etimologia
Sentidos adicionais de
"ligação " e "ligar" não presentes em Bindung e Binden
Conotações adicionais de
"ligação " "ligar" não presentes em Bindung e Binden
significados
1 relação-vínculo afetivo (não uma 1 relação-vínculo afetivo (não uma
conexão lógica) conexão lógica)
2 fixação, aprisionamento 2-
3 - 3 conexão lógica, correlação
4 - 4 interligação física ou funcional
5 - 5 ativar, interligar
' 296 Ligação
conotações
A imagem de laços, fios que atam A imagem de laços, fios que atam
B fixação, imobilização B-
C - C correspondência lógica, articulação,
correlação
D - D ponte, interligação que permite contato mútuo
2 "O excesso porém provém de fontes de afeto que antes permaneceram inconscientes
e suprimidas (unterdrückt). Essas fontes conseguem estabelecer um elo (Verbindung)
associativo com a causa liberadora real,* e a desejada facilitação (Bahnung) da liberação
(Entbindung) de seu próprio afeto é aberta pela outra fonte de afeto que é inobjetável e
legitima."
A Interpretação do Sonhos, cap. VI/H (1900) [ESB 5, 443]
1
*conseguem estabelecer um elo associativo com o "fator desencadeador" real.
Retraduzindo o trecho: O excesso provém de fontes de afeto que permaneceram inconscientes
e reprimidas e suprimidas (unterdrückt). Estas conseguem, a partir de uma fator desencadeador
real, estabelecer uma conexão (Verbindung) associativa com outra fonte de afetos, inobjetável e
autorizada (admissível), a qual abre assim uma via (Bahnung, facilitação) para a liberação
(Entbindung, desatar, desligar) do afetos anteriormente retidos e reprimidos.
3 "Temos motivos suficientes para supor que existe uma repressão primeva., uma
primeira fase de repressão, que consiste em negar entrada no consciente ao repre
sentante psíquico (ideacional) do instinto. Com isso, estabelece-se uma fixação (Fixie
rung); a partir de então, o representante em questão continua inalterado, e o i11stimo
permanece ligado (gebunden) a ele."
"A Repressão" ( 19 1 5) [ESB 1 4, 1 7 1 ]
4 "Isto é alcançado pelo fato de que todo o ambiente 1 associado da1 idéia
substitutiva é catexizado com intensidade e 1ecial, exibindo, assim, um elevado grau
de sensibilidade à excitação. A excitação de qualquer ponto dessa estrutura externa,
dada a sua ligação3 (Verknüpfung) com a idéia substitutiva, deve, inevitavelmente, dar
lugar a um ligeiro desenvolvimento da ansiedade; isso passa a ser utilizado como sinal
para inibir, por meio de uma nova fuga da catexia [ do Pcs.], o progresso posterior do
4
6 "Visto que todos os impulsos instintuais têm os sistemas inconscientes como seu
ponto de impacto,* quase não constitui novidade dizer que eles obedecem ao processo
psíquico primário. É fácil ainda identificar o processo psíquico primário com a 'catexia
livremente móvel' de Breuer, e o processo secundário, com alterações cm sua 'catexia
vinculada (gebundene) ou tônica'. Se assim é, seria tarefa dos estratos mais elevados do
aparelho mental sujeitar2 (binden) a excitação instintual que atinge o processo primário.
Um fracasso em efetuar essa sujeição2 (Bindung) provocaria um distúrbio análogo a
uma neurose traumática, e somente após haver sido efetuada [refere-se a Bindung] é
que seria possível à dominância do princípio de prazer ( e de sua modificação, o
princípio de realidade) avançar sem obstáculos. Até então, a outra tarefa do aparelho
mental, a tarefa de dominar ou sujeitar1 (binden) as excitações, teria precedência, não,
na verdade, em oposição ao princípio de prazer, mas independentemente dele e, até
certo ponto, desprezando-o."
Além do Princípio do Prazer (1920) [ESB 18, 51-2]
I
Leia-se: Como todos os impulsos instintuais atacam (agridem, afetam) os sistemas
inconscientes, quase não. . .
2 Em vez de sujeitar, leia-se atar, fixar.
7 "Tentaremos nossa sorte então com a suposição de que as relações amorosas ( ou,
para empregar expressão mais neutra, os laços emocionais (Gefühlsbindungen)) consti
tuem também a essência da mente grupal."
Psicologia de Grupo e a Análise do Ego ( 192 1 ) [ESB 18, 1 17]
1
9 "Na realidade, o crescimento de laços emocionais (Gefühlsbindungen) desse tipo,
com seus começos despropositados, 1 fornece uma via muito freqüentada1 para a
escolha sexual de objeto. Pfister, em sua Frommigkeit des Grafen von Zinzendor ( 191 0),
forneceu um exemplo extremamente claro e certamente não isolado de quão facilmente
até um intenso vínculo (Bindung) religioso pode converter-se em ardente excitação
sexual. Por outro lado, também é muito comum aos impulsos sexuais2 de pequena
duração em si mesmos transformarem-se em laço (Bindung) permanente e puramente
afetuoso; e a consolidação de um apaixonado casamento de amor repousa em grande
parte nesse processo."
Psicologia de Grupo e a Análise do Ego ( 1 92 1 ) [ESB 18, 175]
1
o "surgimento" de tais laços emocionais, inicialmente "sem propósito" definido, fornece
uma via "freqüente" para a escolha sexual do objeto.
2 impulsos sexuais ''diretos" e de pequena duração.
1 O "Se essa energia deslocável é libido dessexualizada, ela também pode ser descrita
corno energia sublimada, pois ainda reteria a finalidade principal de Eros - a de unir e
ligar* (zu vereinigrn und zu binden, festzuhalten) - na medida em que auxilia no sentido de
estabelecer a unidade, ou tendência à unidade, que é particularmente característica do ego . "
O Ego e o Id ( 1 923) [ESB 1 9 , 6 1 ]
* E m alemão Freud utiliza três verbos: "unir" (zu vereinigen), "ligar (atar)" (zu binden) e
"segurar (manter preso)" (Jestzuhalten).
No "Projeto para uma Psicologia Científica" (1895), o termo Bindung tem função
de destaque: é utilizado em sentido restrito designando a ligação (fixação) da energia
nos neurônios ( exemplo 1 ). Contrapõe-se ao processo primário, onde predomina o
estado de livre deslocamento e descarga. O ego inibe (hemmt, freia) esse fluxo de energia
circulante e liga-o (ata-o) aos neurônios, reduzindo a circulação a níveis mais "fracos".
Essa concepção mecânica tem implicações funcionais bastante complexas que não cabe
abordar aqui.
Em textos posteriores, até 1 920, o termo não é mais empregado com muita
freqüência.
A partir de "Além do Princípio do Prazer" ( 1 920), a Bindung (ligação) e a Entbindung
(liberação) voltam a ter destaque, na obra freudiana, como mecanismos fundamentais
na regulação psíquica.
De forma geral, o termo Bindung é empregado em sentido ampÍo, abarcando as
atividades ligadas a Eros, cuja finalidade é "unir, ligar, reter ( ... ) no sentido de formar
uma unidade" (exemplo 10).
Geralmente o contexto situa o leitor a respeito de que termo se trata, mas com freqüência
os termos Verbindung, Verknüpfung e Bindung não são diferenciados na tradução. São
traduzidos indistintamente por palavras como "ligação", "laço", "relação", "elo" ou ''vínculo".
No exemplo 4, trata-se de "articulações" ou "conexões lógico-temáticas" ( Verbindung
e Verknüpfung). Freud descreve como se estabelece uma relação de correspondência
entre as representações; todavia, na tradução é utilizada ora a palavra "ligação" para
Verknüpfung, ora a palavra "elo" para Verbindung. Todas estas alternativas de tradução
são admissíveis, desde que o leitor as entenda como "interligação, correlação", não as
confundindo nem com Bindung, cujo sentido é "fixação-estar atado", nem com Bahnung
(facilitação), cujo sentido é "via de ligação, interligação".
No exemplo 1, Freud afirma que o ego consiste em uma rede de neurônios bem
"facilitados" (gebahnt) entre si. (O sentido de gebahnt é o de neurônios bem interligados
fisicamente através de vias neuronais.) A seguir define o ego como uma massa de
neurônios em "estado ligado" - aqui o sentido não é nem de estarem ativados, nem de
estarem interligados, mas de estarem num estado em que a energia está a eles ata<la, fixada.
Também neste caso é necessário que o leitor tenha presente que "facilitado" significa
interligado física ou funcionalmente, e que gebunden tem o sentido de '.ttado, fixado.
� Facilitação (Bahnung)
Negação ( 1 ), Recusa da realidade, Renegação:
Verleugnung
E: Desmentida
F: Déni
I: Denial, disavowal
Composição do termo
ver-: Prefixo que em geral designa as conseqüências de "ir muito adiante" (seja
prolongar-se temporalmente, seja progredir geograficamente). Além disso, indica
fenômenos bastante contíguos: "transformação", "fechamento", "extinção", "gasto",
"perda", "lapsos" etc. Também pode indicar a "intensificação de uma ação" (a ação se
mantém "indo adiante" e eventualmente em excesso), bem como apontar para uma
ação de "ir ou ser levado embora", "ir ou ser levado a outro lugar".
-leugnen: Corresponde ao verbo leugnen, que significa "negar", "desmentir", !'con
testar a veracidade".
Sentidos do verbo
verleugnen e do substantivo Verleugnung
·,
,..
304 Negação, Recusa da realidade
Etimologia
ver-: Vários prefixos se fundiram no moderno ver-. Da raiz indo-européia *per, cujo
significado era equivalente a "conduzir para fora passando por sobre", derivam-se três
formas ainda arcaicas pertencentes ao tronco indo-europeu: *perfil, *pr- e *pro-. No
góticoJaír- (para fora),Jaúr- (adiante,já passado) eJra- (embora, para adiante). Também
se encontra essa separação no grego (peri-, par- e pro-) e no latim (per; por- e pro-). Outros
prefixos ainda pertencem a este tronco, por exemplo, o latim prae- e sua forma
germanizada atual prii- ou ainda o grego pára (ao longo, muito para adiante). No alemão
atual, encontram-se prefixos, advérbios e preposições derivados desta raiz indo-euro
péia comum:far (por, para, no lugar de), vor (adiante, diante de, desde) ejort (algo que
se foi, foi embora, ver o "Fort-Da" de Freud, ESB, vol. XVIII, p. 26-8) e fern (lorige,
longínquo). Além disso, este prefixo *pre- evoluiu e deu origem a dezenas de palavras,
tais como Frau (mulher), Jremd (estranho, estrangeiro), jirst- (forma arcaica de "desta
cado"), Frist (prazo),Jahren (ir, conduzir, guiar), Gejahr (perigo) etc. Devido aos limites
Verleugnung 305
de espaço, não cabe aqui esclarecer mais detalhadamente; contudo, todos os casos
mencionados têm origem no conceito de "ir adiante" e freqüentemente de perder
contato com a origem.
Dificilmente se podem ligar os atuais sentidos do prefixo ver- com sua forma trinária
no gótico. Muitas vezes corresponde à forma gótica fra- (para longe, desaparecido,
embora), quando utilizado com verbos que designam: 1) "transformar-assimilar"
(verarbeiten); 2) "utilizar-gastar" (verbrauchen); 3) "estragar-apodrecer" (verderben); e 4)
"desaparecer" (verschwinden).
Nestes quatro casos podem ser incluídos verbos que expressam "fechamento" (verschlie
j3en), tais como "obstruir" (verbauen). Também verbos que expressam "desperdício de
tempo", tais corno "perder a hora" (verschlafen), "perder um compromisso" (versãumen), e
verbos de "lapso ou para enganar o outro", tais como "perder-se" (sich verlaufen) e "seduzir"
(verführen). No texto freudiano, os verbos que designam lapsos geralmente possuem o
prefixo ver-. Também se liga a adjetivos, produzindo verbos que descrevem "causar um
efeito", "embelezar" (verschõnern); quando se liga a substantivos (versklaven, verfilmen etc.)
designa "transformação". Também serve de prefixo a verbos que designam o ato de
"dota,r", "prover", ou "providenciar" (versehen), "dourar" (vergolden), "embalar-encaixotar"
(vmchachteln). Além disso, ver- entrou no lugar de outros prefixos, tais como er- e zer-.
-leugnen: Da raiz indo-européia *leugh- (mentir). No gótico luigan, no antigo
alto-alemão liogan, no médio alto-alemão liegen e no novo alto-alemão lügen (mentir).
Do mesmo tronco deriva-se o verbo [eugnen, no gótic!o laugnjan, no antigo alto-alemão
louganen e no médio alto-alemão lõugenen. O verbo é derivado de um substantivo
germânico extinto, *laugna- (mentira, acobertamento). Verleugnen, no antigo alto-ale
mãofarlougnen e no médio alto-alemão verlougen[en], significava "não aderir a alguém
ou a uma causa" (não reconhecer adesão-filiação), aproximando-se na época do atual
sentido de "renegar".
Significados adicionais de
"negar" e "renegar" não presentes em verleugnen
4) (Negar) Não conceder, proibir. Negar o apoio militar aos aliados. Negaram aos pobres
o acesso ao programa de ajuda.
5) (Negar) R�cusar-se a certa ação. Negou-se (recusou-se) a nos ajudar.
306 Negação, Recusa da realidade
Conotações adicionais de
"negar" e "renegar" não presentes em verleugnen
3 "O sobrevivente nega (verleugnet) assim que tenha algum dia alimentado quais
quer sentimentos hostis contra o morto querido ( ... )."
Totem e Tabu ( 1 9 12-3) [ESB 13, 82-3]
4 "O estudo das neuroses infanús expõe a completa inadequação dessas tentativas
superficiais e arbitrárias de reinterpretação. Mostra o papel predominante que é
desempenhado n a formação das neuroses por aquelas forças libidinais 1 tão impulsiva
mente rejeitadas ( verleugneten}, e revela a ausência de quaisquer aspirações no sentido
de objetivos culturais remotos, dos quais a criança nada sabe ainda e que não podem,
portanto, ter qualquer significado para ela."
História de uma Neurose Infantil (1914-8) [ESB 17, 22]
1
. no texto original consta: "forças pulsionais Iibídinais."
2 em vez de "tão impulsivamente", leia-se: "freqüentemente".
6 "A amência é a reação a uma perda que a realidade afirma, mas que o ego tem
de negar (verleugnet), por achá-la insuportável (unertriiglich). ( ... ) A amência apresenta
o interessante espetáculo de um rompimento entre o ego e um dos seus órgãos* - talvez
o que tivesse sido o seu servidor mais fiel e estivesse mais intimamente vinculado a ele."
"Suplemento Metapsicológico à Teoria dos Sonhos" (1915-17) [ESB 14, 265-6]
* Refere-se ao aparelho perceptivo.
8 "Ela [referindo-se a uma paciente neurótica cuja irmã morreu] se afastou do valor
da mudança* que ocorrera na realidade, reprimindo ( verleugnem) a exigência instintual
que havia surgido - isto é, seu amor pelo cunhado. A reação psicótica teria sido uma
rejeição (verleugnen) do fato da morte da irmã."
"A Perda da Realidade na Neurose e na Psicose" (1924) [ESB 19, 230]
* O- sentido da frase é que ela desvaloriza ou subestima os efeitos da mudança ,de fato
ocorrida (a morte da irmã e a súbita disponibilidade do cunhado amado) e reprime a exigência
pulsional ( ... ).
9 "( ... ) a neurose não repudia (verleugnet) a realidade, apenas a ignora; a psicose a
repudia (verleugnet) e tenta substituí-la."
"A Perda da Realidade na Neurose e na Psicose" (1924) [ESB 19, 231]
11 "( ... ) ela [a religião] abrange 1 um sistema de ilusões plenas de desejo 2juntamente
com o repúdio ( Verleugnung) da realidade ( ... )."
O Futuro de uma Ilusão (1927) [ESB 21, 58]
1
ela contém.
2 O sentido é de: "ilusões calcadas no desejo".
Verleugnung 30!:t
13 "Na situação que estamos considerando, pelo contrário, vemos que a percepção
continuou1 e que uma ação muito enérgica foi empreendida para manter a rejeição
(Verleugnung). Não é verdade que depois que a criança fez sua observação2 da mulher
tenha conservado inalterada sua crença de que as mulheres possuem um falo."
"Fetichismo" ( 1927) [ESB 21, 1 8 1 ]
1 que a percepção "continuou presente" e que ( ... ).
2 que a criança, após ter observado a "figura da mulher", tenha ( ... ).
17 "Os delírios dos pacientes parecem-me ser os equivalentes das construções que
erguemos no d�curso do tratamento analítico - tentativas de explicação e de cura,
. ,. .
i�
embora seja verdade que estas, sob as condições de uma psicose, não podem fazer mais
do que substituir o fragmento de realidade que está sendo rejeitado (verleugnet) no
presente por outro fragmento que já foi rejeitado (verleugnet) no passado remoto."
"Construções em Análise" ( 1937) [ESB 13, 303]
Ambigüidade
Negação de evidências
O termo é empregado por Freud com relação à negação de algo que é evidente e
se impõe frente ao sujeito. Nos exemplos 11 e 9, é a própria realidade que é negada,
no exemplo 13, trata-se de negar a percepção. No exemplo 4, são as inquestionáveis e
evidentes forças libidinais já presentes nas crianças que os opositores da psicanálise
tentam negar/desmentir. No exemplo 5, também se trata de negar algo que aparece
como evidência perante os vivos: a morte. Em todos esses exemplos a tentativa é de
negar algo cuja presença se impõe à percepção.
Negação de representações
O esforço exigido
E: Negación
F: Négation, dénégation
1: Negation
Composição do termo
ver-: Prefixo que em geral designa as conseqüências de "ir muito adiante" (seja
prolongar-se temporalmente, seja progredir geograficamente). Além disso, in dica
fenômenos bastante contíguos: "transformação", "fechamento", "extinção", "gasto",
"perda"; "lapsos" etc. Também pode indicar a "intensificação de uma ação" ( a ação se
mantém "indo adiante" e eventualmente em excesso), bem como apontar para uma
ação de "ir ou ser levado embora", "ir ou ser levado a outro lugar".
-nein: Corresponde ao advérbio de negação nein.
[Observação: Em alemão há duas formas de negação que correspondem ao "não"
do português, nein e nicht: 1) nein é um "não" utilizado no início de frases ("Não (nein),
ela não (nicht) virá hoje."), também pode ser usado como exclamação isolada, ou ain da
como substantivo ("Recebi um n ítido 'não'."); 2) nicht, é empregado n a negação de
verbos, advérbios, pronomes e adjetivos. Há uma semelhança entre nein e nicht em
alemão e a diferenciação feita no inglês en tre no e not.]
_-en: Sufixo verbal do infinitivo.
Vemeinung 315
Significados do verbo
verneinen e do substantivo Verneinung
Etimologi,a
ver-: Vários prefixos se fundiram no moderno ver-- Da raiz indo-européia *per, cujo
significado era equivalente a "conduzir para fora passando por sobre", derivam-se três
formas ainda arcaicas pertencentes ao tronco indo-europeu: *per[i], *pr- e *pro-. No gótico
faír- (para fora), faúr- (adiante, já passado) e Jra- (embora, para adiante). Também se
encontra essa separação no grego (peri; par- e pro-) e no latim (per-, por- e pro-). Outros
prefixos ainda pertencem a este tronco, por exemplo, o latimprae- e sua forma germanizada
atual prã- ou ainda o grego pára (ao longo, muito para adiante). No alemão atual,
encontram-se prefixos, advérbios e preposições derivados desta raiz indo-européia co
mum: for (por, para, no lugar de), vor (adiante, diante de, desde) efort (algo que se foi, foi
embora, ver o "Fort-Da" de Freud, ESB, vol. XVIII, p. 26-8) efern (longe, longínquo). Além
disso, este prefixo *pre- evoluiu e deu origem a dezenas de palavras, tais como Frau
(mulher),fremd (estranho, estrangeiro),.fint- (forma arcaica de "destacado"), Frist (prazo),
316 Negação, Denegação
fahren (ir, conduzir, guiar), Gefahr (perigo) etc. Devido aos limites de espaço, não cabe aqui
esclarecer mais detalhadamente; contudo, todos os casos mencionados têm uma origem
no conceito de "ir adiante" e freqüentemente de perder contato com a origem.
Dificilmente se podem ligar os atuais sentidos do prefixo ver- com sua forma trinária
no gótico. Muitas vezes corresponde à forma gótica fra- (para longe, desaparecido,
embora), quando utilizado com verbos que designam: 1) "transformar-assimilar"
(verarbeiten); 2) "utilizar-gastar" (verbrauchen); 3) "estragar-apodrecer" (verderben); e 4)
"desaparecer" (verschwinden).
Nestes quatro casos podem ser incluídos verbos que expressam "fechamento"
(verschlie)Jen), tais como "obstruir" (verbauen). Também verbos que expressam "desper
dício de tempo", tais como "perder a hora" (verschlafen), "perder um compromisso"
(versaumen), e verbos de "lapso ou para enganar o outro", tais como "perder-se" (sich
verlaufen) e "seduzir" (verführen). No texto freudiano, os verbos que designam lapsos
geralmente possuem o prefixo ver-. Também se liga a adjetivos, produzindo verbos que
descrevem "causar um efeito", "embelezar" (verschiinern); quando se liga a substantivos
(versklaven, verfilmen etc.) designa transformação. Também servem de prefixo a verbos que
designam o ato de "dotar", "prover", ou "providenciar" (versehen), "dourar" (vergolden),
"embalar-encaixotar" (verschachteln). Além disso, ver- entrou no lugar de outros prefixos,
tais como er- e z.er-.
-nein: Derivado da partícula de negação do antigo alto-alemão ni (não) e do artigo
indefinido neutro ein (um). O advérbio de negação assume no antigo e no médio
alto-alemão a forma nein e significava originalmente "não um". A partícula ni também
está contida em palavras como nicht (negação de verbos, advérbios, adjetivos e
pronomes), nie (nunca), niemand (ninguém) etc.
Significados adicionais de
"negar" e "negação " não presentes em verneinen e Verneinung
2) Renegar, agir contra sua natureza, trair sua natureza (também utilizado como
substantivo). Ele nega suas convicções.
3) Não permitir, recusar-se a certa ação. Nega-se a nos ajudar. Negamos-lhe o acesso.
Conotações adicionais de
"negar" e "negação " não presentes em verneinen e Verneinung
significados
1 dizer "não", rejeitar (negação 1 (em português esta idéia
pelo uso do "não") se expressa melhor pelo substantivo "negativa")
2 (raramente) 2 renegar
3 (raramente) 3 não conceder
conotações
A foco sobre o advérbio "não" A (pode conter uma negação de
cunho lógico-gramatical, mas sem o foco
sobre o advérbio "não")
B (uso mafa restrito) B genérico para discordâncias
\
318 Negação, Denegação
1 "Assim o conteúdo de uma imagem ou idéia reprimida pode abrir caminho até a
consciência, com a condição de que seja negado* (verneinen)."
"A Negativa" ( 1925) [ESB 1 9, 295]
* de que seja "negável", ou: de que seja "passível de negação".
3 "No decurso do trabalho analítico ( ...). Temos êxito em vencer também a negativa
( Verneinung) e ocasionar uma plena aceitação intelectual do reprimido, porém o
processo* repressivo em si próprio não é, com isso, ainda removido."
"A Negativa" ( 1925) [ESB 19, 296]
* "processo" no sentido de "ocorrência".
6 "O estudo dojulgamento nos permite, talvez pela primeira vez, uma compreensão
interna (insight) da origem de uma função intelectual a partir da ação recíproca dos
1
8 "É verdade que não aceitamos o 'não' (Nein) de uma pessoa em análise por seu
valor nominal; tampouco porém permitimos que seu 'sim' (la) seja aceito. Não há
justificação para que nos acusem de que invariavelmente deformamos suas observações
transformando-as e m confirmação.
"( ... ) Um simples 'sim' do paciente de modo algum não é ambíguo. Na verdade,
pode significar que ele reconhece a correção da construção que lhe foi apresentada, mas
também pode não ter sentido ou mesmo merecer ser descrito como 'hipócrita', de uma
vez que pode convir à sua resistência fazer uso de um assentimento em tais circunstân- ,_ .
cias, a fim de prolongar o ocultamento de uma verdade que ainda não foi descoberta."
"Construções em Análise" ( 1 937) [ESB 23, 296-7]
Retraduzindo todo o trecho: É verdade que não aceitamos plenamente o "não" de uma pessoa
em análise; tampouco, porém, deixamos que o seu "sim" seja válido. Não éjusto que nos acusem
de em todos os casos sempre reinterpretar as declarações do paciente transformando-as em
confirmações de nossas hipóteses.
( ... ) Um "sim" direto do analisando tem múltiplos significados. Pode efetivamente indicar
que a construção escutada é reconhecida [admitida] como correta, mas também pode não ter
significado algum, ou mesmo ser algo que poderíamos designar como "dissimulação", pois pode
ser conveniente à sua resistência continuar, através de tal concordância, a ocultar a verdade não
revelada.
O uso que Freud faz da Bejahung e da Verneinung tira partido desta característica
lingüística dos cermos, enfatiza o papel do "sim" e do "não" como significantes, não se
restringindo a tomá·los como indício de efetivo assentimento ou discordância. O
paciente dirá "sim" ou "não", cabendo ao analista situar o significado de tais assertivas
para além do seu sentido imediato.
No exemplo 8, retirado do artigo "Construções em Análise" ( 1 937), não aparecem
os verbos bejahen e verneinen, mas os respectivos advérbios ja (sim) e nein (não). Freud
trata da acusação muitas vezes imputada à psicanálise de que os analistas interpretam
arbitrariamente as falas do paciente, sempre de modo a confirmar as teorias já
preconcebidas. Tais falas produzem um "sim" ou um "não", os quais, segundo Freud,
não devem ser tomados ao pé da letra. Aquilo que é confirmado pelo "sim" ou
contestado pelo "não" deverá se considerado sob a égide da resistência e do recalque
( o "sim" pode significar um "não" e vice-versa).
No artigo "A Negativa" ( 1925), cujo título em alemão é "Die Verneinung", Freud
trata mais detalhadamente do significado psicanalítico da Verneinung e da Bejahung.
O]a e o Nein circulam nas esferas da função intelectual de atribuição dejuízos. A esta
esfera cabe tomar duas decisões de diferente ordem: 1) atribuir ou não determinadas
características a um objeto, e 2) decidir se o objeto está presente na realidade ou não.
Basicamente é função do ego-realidade atribuir juízos.
A Bejahung e a Verneinung ocorrem como atos da "capacidade de julgamento/ava
liação" (Urteilsfunktion) a qual entra em contato com certo conteúdo. Esste conteúdo é
expresso sob a fomia de uma frase, ele é bejaht (confirmado, aceito, retrucado com "sim")
ou verneint (negado, rejeitado, retrucado com "não"). Entretanto, essa atividade intelectual
do ego-realidade deriva-se de origens psicológicas arcaicas ligadas ao ego-prazer.
É característico do ego-prazer projetar para fora os conteúdos desagradáveis e
introjetar os agradáveis. Ao expulsar ou incorporar conteúdos, acentua-se a diferencia
ção do "dentro" e do "fora". Inicialmente aquilo que é expulso é mau, é idêntico ao
que é externo e é percebido como estranho. O bom é retido, ou introjetado, e é
percebido como familiar.
Com a diferenciação do subjetivo (alucinado, imaginado e pensado) e <lo real
(aquilo que é objetivo, externo), engendra-se a constituição do ego-realidade. A este
caberá colocar o pensar a serviço do desejo, no sentido de reencontrar no mundo
exterior os antigos objetos de satisfação introjetados. Submete os objetos externos ao
teste de realidade, separando o que é real do que é alucinado. Atribui juízos sobre a
realidade, negando ou afirmando determinadas características, bem como a presença
ou a ausência d.o s objetos.
322 /1/egaçã� Denegação
Verneinung e recalque
o analisando reage com a frase: 'Não pensei isto', ou: 'Nisto não tinha Qamais)
pensado'." (exemplo 7).
E: Presión, esjuerzo
F: Poussée
I: Pressure
Composição do termo
Termo simples.
Significados do verbo
drãngen e do substantivo Drang
1) Pressão corporal interna que obriga (urge) a uma ação de descarga. Necessidade
de urinar, defecar etc. (Harndrang, Stuhldrang etc.)
2) Corrente poderosa, fluxo (também utilizado corno verbo urgir). Agiu assim, pois
estava sob pressão do tempo (im Drang der Zeit). Sob pressão dos negócios acaba-se por ignorar
as necessidades pessoais (im Drang der Geschiifte). "Escrevi na época sob a pressão/ânsia de
atividade (... ) " (de Klinger para Goethe). O tempo urge, temos que agir.
3) Intenso desejo, ânsia, forte aspiração ou vontade (também utilizado como verbo).
Impulso ou ímpeto por liberdade, por vingança etc. (Im Drang nach Freiheit. Im Drang nach
Rache.) "É trabalho vão esclarecer a pessoas coisas as quais elas não têm desejo/ímpeto · de
entender" (Scheeling, Weltseele, 293).
4) Empurrar, acotovel