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Um mundo de intenso intercambio (e exploração global), de internacionalização

cultural (e imperialismo cultural) e de enorme integração política (muitas vezes na


forma de colonialismo). Teorias evolucionistas viam essa conjuntura do mundo como
confirmação de suas teorias, do europeu como o mais evoluído.
Essa visão do homem é atacada e enfraquecida em diversas frentes. Freud com
sua teoria dos sonhos e do subconsciente, entendendo o homem a partir dos desejos e de
sua sexualidade; Einstein com a teoria da relatividade geral, não mais vendo o mundo
físico como estático e “duro”, mas como uma incerteza e dependente do sujeito que a
enxerga; Picasso com sua arte abstrata. É o tempo do modernismo. O tempo da
realidade ambivalente da verdade. Anarquistas contra o Estado, feminista contra a
concepção da família. 1ª Guerra Mundial deixando Europa devastada e a chegada da
Revolução Russa. É nesse contexto que surge a antropologia como uma ciência social
moderna.
Essa nova Antropologia parece estar mais alinhada com o pensamento liberal e
tolerante do século XVIII do que com o pensamento autoritário e evolucionista do
século XIX, ainda que o pensamento sistemático, os tipos ideais para enxergar o mundo
desse tempo somasse para o pensamento antropológico do século XX.
Franz Boas (1858-1942), Bronislaw Malinowski (1884-1942), A.R. Radcliffe-
Brown (1881 -1955) e Marcel Mauss (1872-1950). Pensadores que em conjunto
refizeram as tradições antropológicas de sua época.
Radcliffe-Brown e Malinowski romperam com o pensamento anterior de forma
radical. Boas foi respeitado e utilizado como ponto de referência para os sucessores da
disciplina. Mauss continua com a obra de seu tio, porem enfatiza o estudo dos povos
não-europeus.

Boas e o particularismo histórico – Sua pesquisa consistia no estudo dos índios


norte-americanos e os inuítes. De acordo com Boas, o desenvolvimento da antropologia
dependia do acumulo de uma base empírica, então o papel do antropólogo naquele
momento era o de coletar e sistematizar as informações das culturas em particular, para
só depois haver generalização.
Nos EUA a antropologia se torna antropologia cultural, mantendo o sentido de
cultura como um conceito que abrange qualquer construção humana – inclusive a
sociedade, que foi o substituto na antropologia social da Inglaterra – desde fenômenos
matérias (pintura, um campo), condições sociais (casamento, Estado) e significados
simbólicos (línguas, rituais). Para o pensador, a disciplina poderia ser dividida em 4
campos: linguística, antropologia física, arqueologia e antropologia cultural.
Estadias curtas, com diversas pessoas no mesmo projeto. Era explicado pelo fato
de que o “campo” era próximo, já que ele se encontrava nos EUA, caso diferente se
fosse na Inglaterra.
Crítico do evolucionismo, propôs o particularismo histórico. Cada cultura tinha
o próprio conjunto de valores e história, e era contra qualquer tentativa de interferir na
pluralidade desses valores nas diversas culturas. Sobre a dança kwakiutl, ele escreve que
ela não poderia ser reduzida a uma simples função, mas era preciso verificar qual o
significado que ela tem para a pessoa que dança.

Malinowski e os nativos das Ilhas Trobriand – Visão holística da sociedade, e


sua análise deveria ser sincrônica (não histórica).
A partir do Argonautas, ele faz uma análise profunda da instituição e sistema de
comercio kula, onde objetos de valores simbólicos rondam pela área entre as ilhas da
Melanésia e como ela tem relação com o comercio, lideranças políticas, economia
doméstica, parentesco e posição social. Para ele os trobriandeses não eram exóticos ou
extremamente diferentes dos ocidentais, mas apenas diferentes.
O pensador inaugura um novo método de trabalho de campo especifico, que ele
chama de observação participante. A ideia era de que o pesquisador deveria viver com
as pessoas estudadas e também aprender a participar o máximo possível de suas vidas e
atividades. Era importante permanecer bastante tempo no campo para entender
totalmente o modo de vida local e aprender o idioma nativo como um instrumento.
Todo fato, mesmo que insignificante, deveria ser registrado. O pesquisador deve
participar do fluxo da vida cotidiana, sem adentrar em questões especificas que
pudessem desviar do curso normal dos eventos diários, e não se concentrar em questões
especificas da cena.
“De agora em diante, contexto e inter-relações seriam qualidades essenciais de
qualquer explicação antropológica.”
Funcionalismo – Todas as práticas e instituições sociais tinham uma função
dentro desse grupo, e ajustavam no todo operante, ajudando a mantê-lo, e o objetivo
ultimo do sistema eram os indivíduos, e não a manutenção da sociedade. As instituições
existiam para as pessoas, e não o contrário, e suas necessidades – também biológicas –
constituem o motor da estabilidade e da mudança (individualismo metodológico).
Esse método estava colocado diametralmente oposto ao estrutural-
funcionalismo. Para Malinowski, o indivíduo era o fundamento da sociedade. Para os
segundos, o indivíduo era um resultado da sociedade e não era o objeto para ser
estudado – o que interessava eram os elementos da estrutura social.

A “ciência natural da sociedade” de Radcliffe-Brown – Iniciado na medicina,


a troca pela antropologia por incentivos de seus professores. Com um trabalho
inicialmente difusionista, ele logo muda sua visão teórica a partir da leitura de
Durkheim, fazendo uma analise sociologia desse pensador a materiais etnográficos.
Sua vida acadêmica, diferente de seus antecessores, foi marcada por uma
mudança de local diversa, possibilitando a criação de uma vasta rede internacional
antropológica. Após a partida de Malinowski pro EUA, ele assume a liderança na
antropologia britânica. Então é possível enxergar dois momentos distintos na teoria
britânica entre as duas grandes guerras: um período era dominado por uma etnografia
detalhada (Malinowski) e outra voltada para uma análise estrutural durkheimiana
(Radcliffe-Brown).
Radcliff-Brown, como Durkheim, enxergava o individuo como um resultado da
sociedade em que participava. Ele procurava leis e princípios estruturais abstratos e
mecanismos de integração que regiam tal sociedade. Essa sociedade se mantém coesa
por forças da estrutura de regras jurídicas, estatutos sociais e normas morais que
regulam o comportamento. Essas estruturas existem independentes dos atores que a
reproduzem. Então o objetivo do antropólogo é enxergar por debaixo da realidade
tocada pelos indivíduos quais as regras que regem as estruturas.
Essas estruturas sociais podem ser esmiuçadas ainda mais em instituições
discretas ou subsistemas, como a de distribuição e transmissão de terra, solução de
conflitos, socialização, divisão do trabalho na família. Todos eles contribuem para a
manutenção da estrutura social como um todo. Logo essa é a causa e a função da
existência desses sistemas.
Para compreender a organização social, ele parte para a analise do parentesco. O
parentesco para o pesquisador era um sistema “jurídico” com normas e regras próprias
de interação social, direitos e deveres, o próprio motor (ou coração para seguir as
analogias funcionalistas) da entidade autossustentável e integrada, ainda que abstrata,
que era a estrutura social. A partir dessa analise que então começaram aos estudos de
outras instituições como a política, economia, religião. Essas instituições funcionavam
como uma estrutura que criava grupos nessas sociedades.
A questão central do entendimento não partia de como os nativos pensavam e
enxergavam sobre as significações do que participavam, mas como sua sociedade era
integrada e as forças que a mantinham coesa como um todo.
Critico dos evolucionistas e da sua teoria da história dos povos. Pra ele a forma
em que se encontravam no presente eram funcionais no próprio tempo, e não apenas
sobreviventes de épocas passadas.

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