Você está na página 1de 143

1

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

2
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
Núcleo de Educação a Distância

PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira.

O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para
a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho.
O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por
fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem.

GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO.


Diagramação: Ayrton Nícolas Bardales Neves
Revisora: Priscila Alves de Brito

3
Prezado(a) Pós-Graduando(a),

Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional!


Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança
em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se
decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as
suas expectativas.
A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma
nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra-
dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a
ascensão social e econômica da população de um país.
Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida-
de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos.
Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

pessoais e profissionais.
Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são
outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi-
ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver
um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atua-
ção no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo
importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe-
rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de
ensino.
E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a)
nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial.
Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos
conhecimentos.

Um abraço,

Grupo Prominas - Educação e Tecnologia

4
5
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas!..

É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha


é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo-
sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é
você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve-
rança, disciplina e organização.
Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como
as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua
preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo
foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de
qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho.

Estude bastante e um grande abraço!


INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

Professora: Claudia Serpa Costa


Ribeiro Fleischhauer

6
O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao
longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc-
nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela
conhecimento.
Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes
importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in-
formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao
seu sucesso profisisional.

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

7
Esta unidade analisará a parte geral do Direito Penal. Espe-
cificamente, foram enfocadas: a) teoria do crime b) teoria da pena c)
prescrição. O módulo trabalha com temas de fundamental estruturação
do Direito Penal, dos limites de atuação do poder punitivo estatal em
virtude da existência do princípio da dignidade da pessoa humana en-
quanto suporte da Constituição de 1988 e consequente análise da Teo-
ria Garantista. Busca também a adoção de um Sistema Penal que tem
por objetivo integrar as Ciências Criminais às demais Ciências Sociais
por meio de um estudo interdisciplinar, utilizando-se dos movimentos e
modelos de política criminal. Ao final, trabalha com o objetivo de pro-
porcionar a compreensão do sistema penal como controle social e sua
adequação aos preceitos constitucionais de um Estado Democrático de
Direito sob pena de ilegitimidade da própria atuação estatal.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

Direito Penal. Parte Geral. Prescrição. Princípio. Penas

8
Apresentação do Módulo _______________________________________ 11

CAPÍTULO 01
ESTUDOS INICIAIS SOBRE O DIREITO PENAL BRASILEIRO

Classificação das Normas Penais _______________________________ 13


Princípios Limitadores do Poder Punitivo Estatal ________________ 15
Conflito Aparente De Normas __________________________________ 22
Conceito Analítico De Crime ____________________________________ 25
Iter Criminis ___________________________________________________ 34
Lei Penal no Espaço ___________________________________________ 40
Lei Penal no Tempo ___________________________________________ 44
Teoria do Crime ________________________________________________ 48
Teoria Do Erro _________________________________________________ 49
Ilicitude _______________________________________________________ 53

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


Culpabilidade _________________________________________________ 61
Recapitulando _________________________________________________ 69

CAPÍTULO 02
PARTE GERAL DO CÓDIGO PENAL

Concurso de Crimes ___________________________________________ 74


Concurso do Agentes __________________________________________ 77

Aplicação da Pena _____________________________________________ 84

Recapitulando _________________________________________________ 101

9
CAPÍTULO 03
CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

Conceito ______________________________________________________ 115


Forma de Contagem do Prazo Prescricional ____________________ 116
Interrupção, Impedimento e Suspensão do Prazo Prescricional __ 118
As circunstâncias Genéricas, as Circunstâncias agravantes e
Atenuantes ____________________________________________________ 121
Causas de Redução do Prazo Prescricional – Artigo 115 do Código
Penal __________________________________________________________ 121

Medida de Segurança e Prescrição _____________________________ 121

Perdão Judicial e Prescrição ____________________________________ 122


Prescrição Antecipada, Prescrição pela Pena Hipotética,
Prescrição Virtual, Prescrição pela Penal Ideal ___________________ 123
Prescrição da Pretensão Punitiva pela Pena em Abstrato ________ 123
Prescrição das Penas Restritivas de Direito e da Pena de Multa __ 124

Prescrição da Pretensão Punitiva Retroativa ___________________ 125


INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

Prescrição da Pretensão Executória ____________________________ 126


Prescrição da Pretensão Punitiva Superveniente ou Intercorrente 129

Prescrição no Concurso de Crimes _____________________________ 130


Sentença Condenatória Anulada _______________________________ 131

Recapitulando _________________________________________________ 132

Fechando Unidade ____________________________________________ 137

Referências ___________________________________________________ 141

10
O Direito Penal é formado por um conjunto de normas jurídicas
que tem por objeto a determinação de infrações de natureza penal e suas
sanções correspondentes. Sua finalidade é a proteção de bens importante
à sobrevivência da sociedade, através de cominação, aplicação e execu-
ção da pena. Aqui, podemos observar que não pode ser criado qualquer
tipo penal sem que se aponte com precisão o bem jurídico que se deseja
proteger.
Cabe ser realizada a divisão entre Direito Penal Objetivo e Direito
Penal Subjetivo. O Direito Penal Objetivo vem a ser o conjunto de normas
que define os crimes e as contravenções, bem como outras questões de
natureza penal. Já o Direito Penal Subjetivo é o direito que o Estado tem de
punir aquele que praticou a infração penal. É o ius puniendi. Direito penal
objetivo e o direito penal subjetivo são duas faces de uma mesma moeda,
ou seja, o primeiro editando as normas e o segundo com o dever poder
de o Estado exercer o seu direito de punir conferido pelas normas por ele
editadas.
As fontes do Direito Penal podem se subdividir em fontes de pro-
dução e fontes de conhecimento.
A única fonte de produção (ou material ou substancial) do Direito
Penal é a União, de acordo com o art. 22, I da CF. Trata-se de competência
privativa da União legislar sobre matéria Penal. No entanto, como o próprio
art. 22 parágrafo único da CF estabelece, é possível que lei complementar

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


venha a autorizar os Estados-membros a legislar sobre questões específi-
cas de interesse local.
As fontes de conhecimento (formais ou cognitivas) são a lei, a
Constituição, os costumes e os princípios gerais do direito. Essas últimas
são consideradas fontes mediatas. A Constituição, por incluir dentre seus
direitos e garantias fundamentais, vários princípios limitadores do Poder
Punitivo Estatal. Os costumes, apesar de não serem capazes de criar leis,
em obediência ao princípio da legalidade - art. 5º XXXIX da CR e art. 1º do
CP, podem auxiliar na interpretação de elementos ou circunstâncias do tipo
penal ou ainda de forma a integrar a norma em virtude de certas lacunas,
de forma a beneficiar o réu. É importante salientar que havia uma grande
discussão doutrinária se Medida Provisória, por ter força de lei, podia dis-
por de matéria penal. Tal divergência ficou sanada com o advento da EC
32/2001, que modificou a redação do art. 62 da CR, §1º.
O Direito Penal vem sendo muitas vezes utilizado de forma sim-
bólica. Repare que sempre que existe uma conduta reprovável socialmen-
te e de grande repercussão, há uma pressão social incrível para que seja
criado um novo crime, ou se crime já existia, que seja majorada a pena. Foi
o que aconteceu com o crime do art. 273 §1º. A que foi transformado em
11
crime hediondo após o episódio da comercialização de pílulas anticoncep-
cionais de farinha. Na verdade, nenhum criminoso antes de delinquir vai ao
Código Penal verificar qual seria a sua pena. Deveria ser observada uma
proporcionalidade para acabar com o poder ilimitado que o Estado tem de
criar crime por todo e qualquer motivo.
Nesse módulo você irá estudar os princípios limitadores do Poder
Punitivo estatal, a estrutura do crime e os seus principais requisitos para o
reconhecimento do mesmo. Além disso, você irá identificar as possibilida-
des de exclusão do crime. No segundo capítulo você irá estudar o sistema
trifásico de aplicação da pena e todos os mecanismos para tanto. No tercei-
ro e último capítulo será estudada a prescrição e a decadência que serão
as formas mais efetivas de extinção da punibilidade.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

12
ESTUDOS INICIAIS SOBRE O
DIREITO PENAL BRASILEIRO

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
CLASSIFICAÇÕES DAS NORMAS PENAIS
As fontes do direito penal subdividem-se em materiais e for-
mais. As primeiras são aquelas relacionadas à produção da norma. As
segundas dividem-se em diretas ou indiretas. Será fonte formal direta
(ou imediata) aquela proveniente de lei. São fontes indiretas (ou media-
tas) os costumes e os princípios gerais do direito.
Segundo Binding, quando o agente pratica a conduta não in-
fringe a lei, mas a norma, pois sua conduta amolda-se ao tipo penal.
A conduta vai de encontro à norma. Diferencia-se que a lei possui um
caráter descrito, enquanto a norma conteria o conteúdo proibitivo.
Damásio de Jesus, não aceita essa diferenciação entre lei e
norma. Para ele, o que ocorre é que a lei é a fonte da norma, sendo
certo que esta é o conteúdo daquela.
Visto isso, devemos analisar a classificação das normas pe-
nais1.
1 GRECO, Rogério. Código Penal Comentado. 6.ed. Niterói: Impetus, 2012. MARQUES,
Alexandre Paranhos Pinheiro. Direito Penal: parte geral: princípios limitadores do direito penal,
norma penal, lei penal do tempo e no espaço, teoria do crime (fato típico, ilícito e culpável), puni-
bilidade e concurso de pessoas/ Alexandre Paranhos Pinheiro Marques; coordenação de Marcus

13
Normas Penais Incriminadoras

Definem a infração penal, proibindo ou impondo condutas sob


a ameaça de sanção. Sempre que a gente fala em norma penal é nela
que nós pensamos. Por isso são consideradas normas penais em sen-
tido estrito.
Preceitos da norma penal incriminadora:
- preceito primário – é aquele que descreve de forma
pormenorizada a conduta que se procura proibir ou impor
- preceito secundário ou sancionador – cabe a tarefa de
cominar a pena em abstrato.
Ex: art. 121: Matar alguém – preceito primário
Pena: reclusão de 6 a 20 anos – preceito secundário.

Normas Penais Não Incriminadoras

Possuem as seguintes finalidades:


-Tornar lícitas determinadas condutas
(permissivas justificantes – art. 23, 24 e 25)
-Afastar a culpabilidade do agente
(permissivas exculpantes – art. 26 caput)
-Esclarecer determinados conceitos
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

(explicativas – art. 150 §4º)


-Fornecer princípios gerais para a aplicação da lei penal
(complementares – art. 59).

Normas Penais em Branco

Em princípio, o Direito Penal deve definir de modo autônomo


os pressupostos de suas normas, evitando a remissão a outras regras
do ordenamento jurídico.
Contudo, há uma necessidade de complementação para que
se possa compreender o âmbito de aplicação de seu preceito primário.
Ou seja, para entender exatamente o que se quer, há necessidade de
outro diploma legal para complementar, lei, decreto, portaria, resolução.
Sem esse complemento, não é possível sua aplicação.
Um exemplo que podemos citar é o que é considerado droga
para efeitos do que dispõe o artigo 33 da lei n º 11.343. O artigo fala em
determinação legal ou regulamentar, todavia, a lei nº 11.343 não define
o que vem a ser substância droga.
Vinícius Manso Lopes Gomes. – 2. Ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 20019.

14
Assim, sempre que precisarmos buscar uma outra lei para de-
finir algo que se encontre descrito no tipo penal, estaremos diante de
uma norma penal em branco. Para definirmos droga, há necessidade
de uma Portaria expedida pela ANVISA para complementar o preceito
primário da norma penal.
Deste modo, vê-se que a norma penal é dita como em branco
porque o seu preceito primário precisa de complementação.
As normas penais em branco podem ser:
Homogêneas ou em sentido amplo – ou seja, o complemen-
to advém da mesma fonte de produção da norma a ser complementada.
Essas ainda podem se subdividir em homogêneas homovitelina ou de
complementação homóloga (quando o complemento está no mesmo di-
ploma legal da norma a ser complementada. Ex: no crime de peculato, o
conceito de funcionário público também se encontra previsto no Código
Penal) e homogênea heterovitelina ou de complementação heteróloga
(quando o complemento está em diploma legal diverso da norma a ser
complementada. ex.: artigo 237 do Código Penal fala de impedimento
para o casamento. As causas de impedimento que causam nulidade
absoluta para o casamento estão previstas no Código Civil. A fonte de
produção do Código Civil é a mesma fonte de produção do Código Pe-
nal, ou seja, o Congresso Nacional).
Heterogêneas ou em sentido estrito – o complemento é edi-
tado por fonte de produção diferente. Ou seja, o exemplo da substância

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


entorpecente, que edita a norma é a ANVISA, através uma Portaria. A
ANVISA é um órgão do Ministério da Saúde e a Lei 11.343 foi editada
pelo Congresso Nacional.
Inversa ou ao avesso – nessa espécie de norma, o preceito
primário é completo mas o secundário precisa ser complementado, mas
que remetem a outro preceito secundário. É o que ocorre no caso da Lei
2889/56, nos crimes dos art.1º a 3º.

PRINCÍPIOS LIMITADORES DO PODER PUNITIVO ESTATAL


Princípio da Legalidade

O princípio da legalidade, também conhecido como “princípio


da reserva legal” é traduzido pelo brocardo jurídico nullum crimen nulla
poena sine lege, sendo uma indispensável garantia do indivíduo em
face do poder punitivo do Estado.
Embora esteja no nosso Código Penal (art. 1º), e previsto na
Constituição como uma garantia fundamental (art. 5º, XXXIX), o princí-
pio da legalidade ainda encontra alguns corolários. Isso porque ele não

15
se limita apenas a exigir a existência de lei penal prévia, mas também
há outros aspectos dentro desse princípio que também precisam ser
obedecidos. Assim, é possível que os seguintes requisitos sejam obe-
decidos.

► Lex scripta

Representado pelo brocardo nullum crimen nulla poena sine


lege scripta, significa estabelecer que necessariamente, a norma pe-
nal deve ser estabelecida por escrito. Proíbe-se a criação de crimes e
penas baseada em costumes ou analogia, salvo se for uma utilização
favorável ao réu. Ex: no art. 181, I, o legislador apresenta a escusa ab-
solutória e faz menção apenas ao cônjuge, sem menção ao companhei-
ro. Apesar de haver a lacuna, é possível que seja ampliada a expressão,
de forma a estender o benefício ao companheiro.

► Lex praevia

Representado pelo brocardo nullum crimen nulla poena sine


lege praevia este requisito proíbe a retroatividade da lei para alcançar
fatos anteriores à sua vigência, salvo em benefício do réu (art. 5º, XL da
CRFB/88). Essa é a visão clássica do princípio da legalidade.
Vale lembrar, porém, que o art. 3º do CP, excepcionalmente,
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

traz as normas excepcionais (criadas em virtude de situações excep-


cionais, de forma que a sua vigência vem a ser limitada pela própria
situação que a criou) e as normas temporárias (cujo próprio texto traz
expresso seu início e seu término de vigência) que afastam a retroati-
vidade da lei penal mais benéfica e, ao contrário, permitem a ultrativi-
dade, ainda que prejudicial como ocorre, por exemplo, com os delitos
eleitorais.
Assim, independentemente da gravidade da norma, em se tra-
tando de lei excepcional e de lei temporária, estas serão aplicáveis aos
fatos praticados durante a sua vigência, uma vez que a elementar do
delito é a circunstância excepcional ou temporária que motivou a sua
criação.

► Lex certa

Requisito destinado ao legislador e que estabelece a proibição


da utilização de conceitos vagos e indeterminados, ou seja, que não
podem ser juridicamente definidos.
Sobre este requisito há de se tomar cuidado em relação à utili-
16
zação, pelo legislador, de elementos normativos do tipo penal, os quais
permitem ao intérprete da lei, no exercício da atividade jurisdicional,
valorar de forma extrajurídica conceitos previstos no tipo penal. Segun-
do Gabriel Habib (HABIB, 2018)2, na Lei 13.260/2016, o legislador teria
ofendido o referido princípio uma vez que no art. 5º, ao permitir a incri-
minação pela prática de atos preparatórios de terrorismo, teria se utili-
zado de conceitos vagos, o que geraria uma incerteza na interpretação
e aplicação da norma penal.

► Lex stricta.

Configura-se como aspecto proibitivo do uso da analogia,


como instrumento de auto integração legislativa, em prejuízo do réu e
se apresenta como requisito destinado ao juiz. Vale lembrar que assim
como o uso dos costumes de forma favorável ao réu é permitido, o uso
da analogia in bonam partem também está autorizada.

Princípio da Intervenção Mínima

O referido princípio traria uma regra de elaboração, aplicação


e interpretação do Direito Penal, segundo o qual este deve interferir
minimamente nas relações sociais. Pode-se dizer que se trata de um
princípio implícito cujo fundamento encontra-se no próprio Estado de Di-

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


reito, pois objetiva a menor ingerência do Estado nas relações sociais.
A intervenção mínima tem como destinatários principais o le-
gislador e o intérprete do Direito. Àquele, recomenda moderação no
momento de eleger as condutas dignas de proteção penal, abstendo-se
de incriminar qualquer comportamento. Somente deverão ser castiga-
dos aqueles que não puderem ser contidos por outros ramos do Direito.
Como enfatiza Claus Roxin, “é evidente que nada favorece tanto a cri-
minalidade como a penalização de qualquer bagatela”3.
A criação ou a aplicação de uma norma penal somente se le-
gitima se houver a estrita necessidade para tal, caso contrário, estaria
sujeito a haver sua banalização.
Sua observância deve ocorrer tanto no aspecto da produção
legislativa (uma vez que não é a criminalização de condutas que inibe
sua prática e sim uma efetiva ressocialização do preso e sua reinserção
na sociedade), bem como no aspecto da aplicação e da interpretação
da lei penal. Ou seja: não basta uma simples adequação entre a condu-
2 HABIB, Gabriel. Leis Penais Especiais volume único/ coordenador Leonardo de Medei-
ros Garcia – 10. Ed. Ver, atual e ampl. – Salvador: Jus Podium, 2018, p.630/631.
3 Masson, Cleber Direito Penal: parte geral (arts. 1º a 120) – vol. 1 / Cleber Masson. – 13.
ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2019.

17
ta praticada e a norma proibida; é necessário que o Direito Penal seja a
última alternativa para a solução do problema, assim como o bem jurídi-
co em questão deve estar dentre aqueles por ele tutelados e que tenha
ocorrido uma efetiva lesão ou ameaça de lesão a este bem.
Os requisitos citados, como veremos, configuram, respectiva-
mente, os princípios da subsidiariedade, fragmentariedade e lesividade.

Princípios da Subsidiariedade e da Fragmentariedade

De acordo com o princípio da subsidiariedade, a atuação do


Direito Penal é cabível unicamente quando os outros ramos do Direito
e os demais meios estatais de controle social tiverem se revelado impo-
tentes para o controle da ordem pública.
Muitos autores os entendem como características decorrentes
do princípio da intervenção mínima. No entanto, aqui estudaremos o
princípio da subsidiariedade e o da fragmentariedade como princípios
autônomos. Sabendo-se, porém que são corolários ao princípio da in-
tervenção mínima.
O princípio da subsidiariedade trabalha com o caráter subsi-
diário do Direito Penal, ou seja, o Direito Penal é o ramo das ciências
jurídicas que somente deve atuar quando todos os demais ramos não
forem capazes de dar a resposta adequada, ou seja, somente deve
atuar somente como ultima ratio. Significa dizer que enquanto houver
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

possibilidades de que as questões sejam dirimidas no âmbito do Direito


Civil, Administrativo ou Trabalhista, por exemplo, o Direito Penal não
deve se ocupar delas.
Com relação ao princípio da fragmentariedade, pode-se ressal-
tar que entre todos os bens jurídicos existentes, o Direito Penal elegeu
apenas alguns para que sobre eles recaia a sua tutela, por entender que
nem todos os bens jurídicos necessitam de sua proteção. Vale lembrar
que o Direito Penal trabalha com restrição de direitos fundamentais (ou
seja, privação da liberdade) e sabe-se que normas restritivas de direitos
devem ser sempre aplicadas restritivamente.

Princípio da Lesividade

A tipicidade penal necessita, para sua existência, da tipicidade


formal e também da tipicidade material, ou seja: além de se exigir a sub-
sunção (ou seja, a perfeita adequação do fato à norma, que se carac-
teriza pela tipicidade formal), deve-se analisar se a conduta praticada
foi de fato lesiva ao bem jurídico protegido, ou ao menos, ofereceu real
perigo de lesão.
18
Considerando-se o fato de que somente haverá tipicidade pe-
nal quando da conjugação da tipicidade formal e da tipicidade material,
sendo esta última a efetiva ofensa ao bem jurídico tutelado, observamos
que o princípio da lesividade é estreitamente ligado ao princípio da in-
tervenção mínima.
A lesividade seria a conduta que, sendo capaz de extrapolar
a esfera interna do agente, não configure uma autolesão (a qual não
pode ser incriminada) e nem seja capaz de incriminar o agente apenas
por aquilo que ele é. Além disso, também não poderá ser tão pequena
que não configure uma real lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico
tutelado.
Pode-se citar as lições de Nilo Batista, que esclarece ter o prin-
cípio da lesividade quatro funções precípuas: proibir a incriminação de
uma atitude interna; proibir a incriminação de uma conduta que não
exceda o âmbito do próprio autor; proibir a incriminação de estados ou
condições existenciais e proibir a incriminação de condutas que não
afetem o bem jurídico tutelado. (BATISTA, Nilo. Introdução Crítica ao
Direito Penal. 9ª ed. Rio de Janeiro: Revan, 2004. p.92-94).

Princípio da Culpabilidade

A culpabilidade aqui mencionada não é a culpabilidade como


elemento do crime. No passado, era ligada apenas à reprovabilidade,

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


ou seja, teria um conceito moral. Modernamente, entendemos que a
culpabilidade deve ser conceituada como juízo de atribuição de respon-
sabilidade jurídica.

Princípio da Proporcionalidade

Intrinsecamente ligado ao princípio da individualização da


pena, trata-se de um princípio constitucional implícito que objetiva uma
pena proporcional à gravidade da infração, de modo que a pena seja
capaz de atingir sua finalidade retributiva e preventiva.
Trata-se, portanto, de verdadeira medida de razoabilidade,
pois preconiza a ideia de que se deve ter uma punição condizente com
o fato praticado, capaz de atender à finalidade retributiva e preventiva
da pena.
O princípio da proporcionalidade funciona como forte barreira
impositiva de limites ao legislador. Por corolário, a lei penal que não pro-
tege um bem jurídico é ineficaz, por se tratar de intervenção excessiva
na vida dos indivíduos em geral.
Em outras palavras, o princípio da proporcionalidade possui
19
três destinatários: o legislador (proporcionalidade abstrata), o juiz da
ação penal (proporcionalidade concreta), e os órgãos da execução pe-
nal (proporcionalidade executória).
Se de um lado o princípio da proporcionalidade impõe a proibi-
ção do excesso, de outro lado este postulado também impede a prote-
ção insuficiente de bens jurídicos, pois não tolera a punição abaixo da
medida correta. Nas palavras de Paulo Queiroz:
Convém notar, todavia, que o princípio da proporcionalidade
compreende, além da proibição de excesso, a proibição de insuficiência
da intervenção jurídico-penal. Significa dizer que, se, por um lado, deve
ser combatida a sanção desproporcional porque excessiva, por outro
lado, cumpre também evitar a resposta penal que fique muito aquém do
seu efetivo merecimento, dado o seu grau de ofensividade e significa-
ção político-criminal, afinal a desproporção tanto pode dar-se para mais
quanto para menos. Exemplo disso – de insuficiência da resposta penal
– são os crimes de abuso de autoridade previstos na Lei n. 4.898/1965,
que comina, para as graves infrações que define, pena de detenção de
dez dias a seis meses (art. 6.º, § 3.º, b)4.
Princípio da Proibição da Dupla Punição e Princípio da
Humanidade.

O princípio da humanidade e o da proibição da dupla punição


caminham sempre de mãos dadas, de modo que podemos afirmar, in-
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

clusive, que o segundo decorre do primeiro. São princípios que pos-


suem especial importância, principalmente no momento da aplicação e
execução da pena.
Na nossa Constituição o princípio da humanidade também se
encontra consagrado. O artigo 5º, XLVII da CRFB/88 traz expressa ve-
dação às penas de morte, de caráter perpétuo, de trabalhos forçados,
de banimento ou cruéis.
O princípio da proibição da dupla punição, por sua vez, não
se encontra expressamente positivado, mas vem a ser um corolário ao
princípio da humanidade.
Princípio da Humanidade.
O princípio em questão é intimamente ligado à dignidade da
pessoa humana, sendo certo que, modernamente, a dignidade da pes-
4 QUEIROZ, Paulo. Direito penal. Parte geral. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 45.
Na dicção do STF: “Os direitos fundamentais não podem ser considerados apenas proibições de
intervenção (Eingrif sverbote), expressando também um postulado de proteção (Schutzgebote).
Pode-se dizer que os direitos fundamentais expressam não apenas uma proibição do excesso
(Übermassverbote), como também podem ser traduzidos como proibições de proteção insuficiente
ou imperativos de tutela (Untermassverbote)” (HC 102.087/MG, rel. Min. Celso de Mello, rel. p/
acórdão Min. Gilmar Mendes, 2.ª Turma, j. 28.02.2012).

20
soa humana não é vista somente como um princípio, mas sim como
fundamento do próprio Estado Democrático de Direito (art. 1º, III da
CRFB/88).
O princípio da humanidade não permite que o Estado aplique
penas cruéis, desumanas ou degradantes, ou seja: impede a comina-
ção abstrata dessas penas. Na nossa Constituição o princípio da huma-
nidade se encontra no artigo 5º, XLVII da CRFB/88, que traz expressa
vedação às penas de morte, de caráter perpétuo, de trabalhos forçados,
de banimento ou cruéis. No entanto não se esgota aí, pois o referido
princípio também possui importância no momento da aplicação da pena
Nesse ponto, portanto, cabe-nos fazer uma análise das finali-
dades da pena. Sabe-se que a pena, em sua moderna concepção, pos-
sui tríplice finalidade: prevenir, retribuir e ressocializar. Fica claro que
uma das finalidades da pena é a retribuição do mal causado (a prática
da infração penal) com outro mal (a imposição de uma pena), tal caráter
retributivo não pode ter por objetivo infligir sofrimento ao condenado e
nem desconhecê-lo enquanto pessoa humana.
E qual a ligação então ao princípio da humanidade? O princípio
da humanidade, portanto, garante a integridade física e moral do ser-
-humano, especialmente no momento da execução da pena.
Nesse sentido, podemos perceber que tal princípio não se
restringe apenas a proibir que o nosso ordenamento consagre penas
cruéis. Sua função é também a de impedir que aqueles já inseridos no

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


sistema prisional padeçam condições desumanas e indignas dentro dos
estabelecimentos.

Princípio da Proibição da Dupla Punição

Facilmente confundido com o princípio processual do ne bis in


idem, o princípio da proibição da dupla punição possui função e alcance
próprios. Em verdade são princípios intimamente ligados, mas, o prin-
cípio do ne bis in idem “opera antes da punição” (ZAFFARONI, Eugenio
Raul, BATISTA, Nilo, ALAGIA, Alejandro, SLOKAR, Alejandro. Direito
Penal Brasileiro. Rio de Janeiro: Revan, 2003, p. 234.), impedindo que
uma pessoa venha a responder duas vezes pelo mesmo fato, enquanto
que o segundo (proibição da dupla punição) atua impedindo que uma
outra penalidade seja imposta ao condenado (ainda que esta não tenha
cunho penal), apenas porque este veio a ser condenado em um proces-
so penal.
Assim, é possível perceber dois pontos relevantes: o princípio
da humanidade não só proíbe a criação de penas cruéis, mas também a
impede que o sistema prisional seja cruel quando da aplicação das pe-
21
nas legalmente previstas, de forma que a desumanidade proveniente do
sistema, no momento da execução da pena não importe em sofrimento
que configure uma dupla punição.

O princípio da subsidiariedade trabalha com o caráter subsi-


diário do Direito Penal, ou seja, o Direito Penal é o ramo das ciências
jurídicas que somente deve atuar quando todos os demais ramos não
forem capazes de dar a resposta adequada, ou seja, somente deve
atuar somente como ultima ratio. Com relação ao princípio da fragmen-
tariedade, pode-se ressaltar que entre todos os bens jurídicos existen-
tes, o Direito Penal elegeu apenas alguns para que sobre eles recaia a
sua tutela, por entender que nem todos os bens jurídicos necessitam de
sua proteção

CONFLITO APARENTE DE NORMAS


Ocorre quando para um único fato, aparentemente, há mais de
uma norma que sobre ele poderá incidir. O conflito é meramente apa-
rente, porque na verdade, não há conflito.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

O ponto de estudo do conflito aparente de leis penais é variá-


vel. Enquanto alguns autores preferem analisá-lo com o concurso de
crimes, outros o situam perante a teoria da lei penal, passando, inclusi-
ve, pelo poder de punir do Estado, em face da proibição do bis in idem.
Vamos optar pela abordagem dos princípios que visam solucio-
nar o referido conflito.
Princípio da especialidade: O referido princípio pode ser estu-
dado através de duas óticas. A primeira diz respeito à norma especial
que afasta a aplicação de norma geral. Explica-se: em alguns tipos pe-
nais, há elementos que se tornam especiais com relação a outros. O
exemplo mais fácil que podemos analisar é o do homicídio (art. 121)
com o do infanticídio (art. 123). O homicídio fala em matar alguém. No
infanticídio também há a morte de alguém, porém, nesse caso, a norma
se torna mais específica por conta da presença desse elemento espe-
cializante: a mãe mata o próprio filho, durante o parto ou logo após, sob
a influência de estado puerperal. Veja como a norma se especializou:
para ser caracterizado tal crime, precisa que a mãe mate o próprio filho
que acabou de nascer e exige-se ainda que ela esteja sob o estado
puerperal. A segunda ótica diz respeito ao que estabelece o art. 12 do
22
Código Penal, ou seja, se houver uma lei especial relativa ao tema, esta
será aplicada. Ao contrário, aplica-se a regra geral.
Princípio da subsidiariedade: segundo Nelson Hungria, a nor-
ma aqui fica como uma espécie de “soldado de reserva” da outra norma.
A subsidiariedade pode ser expressa, como é o caso do art. 132 do CP
(“se o fato não constitui crime mais grave”), ou pode ser tácita (como no
caso do Código de Trânsito), art. 311 – ou seja, se a pessoa, ao praticar
a conduta prevista em tal art. matar alguém, praticará o crime de homicí-
dio culposo na direção de veículo automotor – o crime de dano afastará
o crime de perigo. A norma subsidiária é aquela que descreve um grau
menor de violação ao bem jurídico. Segundo Rogério Greco, isso não
deixa de ser uma especialidade.
Princípio da consunção: um fato definido como crime atua
como fase de preparação ou de execução, ou como exaurimento de
outro crime mais grave, ficando por ele absorvido. A diferença para a
subsidiariedade é que nele enfocam-se as normas e na consunção en-
focam-se os fatos. Existem algumas hipóteses em que se aplica o prin-
cípio da consunção:
- crime progressivo: o agente, desde o início deseja a produção
de um resultado mais grave e mediante diversos atos realiza sucessivas
e crescentes violações ao bem jurídico: o agente, porém, só vai respon-
der pelo resultado final e mais grave obtido. Ex: para matar alguém, há
necessidade que antes a pessoa fique lesionada. Porém, o agente só

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


vai responder pelo resultado final. Requisitos para o crime progressivo:

 O agente que cometer apenas o crime mais grave


 Vários atos são praticados para que se alcance o
resultado final
 Crescentes violações ao bem jurídico.
- progressão criminosa: pode ser:
 em sentido estrito – o agente, desejando um resultado, após
atingi-lo, pratica novo crime, produzindo um resultado mais grave. Há
pluralidade de fatos e de dolos. Ex: o agente queria lesionar o indivíduo,
porém muda de idéia e resolve mata-lo. Requisitos:
 Pluralidade de elementos subjetivos
 Pluralidade de fatos
 Crescentes violações ao bem jurídico
 Antefactum impunível: fato menos grave praticado pelo
agente antes de um fato mais grave. O fato menos grave é meio neces-
sário para se atingir o fato mais grave. Ex: subtrair uma folha de cheque
em branco para preenche-lo posteriormente. O estelionato absorve o
crime anterior. Ver Súmula 17 do STJ.
23
 Postfactum impunível: é um fato menos grave praticado con-
tra um mesmo bem jurídico da mesma vítima após praticar o fato mais
grave. Esse fato posterior é considerado mero exaurimento do crime.
Ex. alguém furta uma bicicleta e depois a destrói. Somente será punido
pelo crime de furto.
 Crime complexo: é aquele que resulta da união de dois ou
mais crimes autônomos. Pelo princípio da consunção, o agente só res-
ponde pelo crime complexo. Ex: latrocínio – crime de roubo e homicí-
dio; extorsão mediante sequestro: crime de extorsão com o crime de
sequestro.

Princípio da Alternatividade: Tal princípio será aplicado quando


houver crimes considerados de ação múltipla ou tipos alternativos, ou
de conteúdo variado. O tipo penal possui diversos núcleos, sendo o
agente punido somente uma vez, mesmo que tenha praticado vários
núcleos. Ex: art. 33 da lei 11.343/2006.
O tipo misto cumulativo ou princípio da cumulatividade:
Seria a possibilidade de um tipo penal prever várias condutas,
mas sem qualquer fungibilidade entre elas, de forma que seria possível
um concurso de crimes dentro de um mesmo tipo penal.
Essa questão voltou à tona com a redação conferida ao art. 213
do Código Penal, que foi alterado pela Lei 12.015/2009. Pela referida
lei, foi revogado o art. 214 também do Código Penal, que estabelecia o
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

crime de atentado violento ao pudor, caracterizado pela prática de atos


libidinosos diversos da conjunção carnal mediante violência ou ameaça.
No entanto, não houve uma abolitio criminis do art. 214, mas a
aplicação do princípio da continuidade normativo típica que se caracteri-
za pela revogação de uma norma, sem a extinção da conduta típica, de
forma que ela passa a pertencer a um novo tipo penal.
Com isso, o crime de estupro passou a ser caracterizado pela
prática de conjunção carnal e atos libidinosos diversos da conjunção
carnal mediante violência ou ameaça.
Essa nova redação levantou a seguinte discussão: se, em um
mesmo contexto fático, houver a prática de conjunção carnal e atos libi-
dinosos diversos, haverá um concurso de crimes, sendo esse tipo penal
um tipo misto cumulativo ou haverá crime único, pelo fato de o art. 213
do CP se caracterizar um tipo misto alternativo?
O entendimento que tem predominado é no sentido de que es-
tamos diante de um tipo misto alternativo, ou seja, a prática de várias
condutas, dentro de um mesmo contexto fático, caracteriza-se por crime
único. Nesse sentido, temos o seguinte julgado:

24
HC 274848 / SP - HABEAS CORPUS 2013/0250408-6 – PUBLICAÇÃO EM
04/02/2015 PROCESSUAL E PENAL. HABEAS CORPUS. (1) IMPETRA-
ÇÃO SUBSTITUTIVA DE RECURSO ORDINÁRIO. IMPROPRIEDADE DA
VIA ELEITA. (2) CRIMES DE ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO PU-
DOR. DUAS VÍTIMAS. CRIME ÚNICO EM RELAÇÃO ÀS CONDUTAS PRA-
TICADAS CONTRA CADA UMA DAS VÍTIMAS. LEI Nº 12.015/09. (3) CON-
TINUIDADE DELITIVA RELATIVA ÀS CONDUTAS PRATICADAS CONTRA
AS DUAS VÍTIMAS. UNIDADE DE DESÍGNIOS. AUSÊNCIA.CONSTRANGI-
MENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. (4) NÃO CONHECIMENTO. ORDEM
DE OFÍCIO.

Com o advento da Lei n.º 12.015/09, as práticas de conjunção


carnal e de ato libidinoso passaram a ser tipificadas no mesmo dispo-
sitivo legal, deixando de configurar crimes diversos, de estupro e de
atentado violento ao pudor, para constituir crime único, desde que pra-
ticados no mesmo contexto. Tal compreensão, por ser mais benéfica,
deve retroagir para alcançar os fatos anteriores

CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME


Crime será caracterizado como fato típico ilícito e culpável, de
forma que somente será possível analisar o elemento seguinte, após
preenchidos todos os elementos do requisito anterior

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


Dessa forma, deve-se respeitar a análise da seguinte tabela

FATO TÍPICO ILÍCITO CULPÁVEL


CONDUTA
Não podem estar pre-
-dolosa ou culposa sentes as causas do IMPUTABILIDADE
artigo 23
-comissiva ou omissiva
POTENCIAL CONS-
NEXO CAUSAL
CIÊNCIA DA ILICITUDE
EXIGIBILIDADE DE
RESULTADO
CONDUTA DIVERSA
TIPICIDADE

25
Para que possamos concluir pela existência de uma infração
penal, há necessidade de que o agente tenha cometido um fato típico,
ilícito e culpável. Cada um desses requisitos pressupõe o anterior.

Do tipo doloso
Conceito de dolo: dolo é a vontade livre e consciente dirigida a
realizar a conduta prevista no tipo penal incriminador. Desse conceito,
podemos concluir que o dolo é formado por dois elementos: um elemen-
to intelectual e um elemento volitivo. A consciência, momento intelectual
do dolo, significa que o agente deve saber exatamente aquilo que faz,
para que lhe possa atribuir um resultado lesivo a título de dolo. Ex.:
alguém, durante uma caçada, pretendendo matar uma onça, confunde
um homem com um animal e atira, matando o homem. Não havia dolo
de matar o homem, e sim de matar o animal. Nesse caso, o dolo ficará
afastado porque não havia consciência, incorrendo o agente em erro de
tipo.
A vontade é outro elemento sem o qual desnatura o crime do-
loso. Como já falamos anteriormente, aquele que sofre uma coação físi-
ca, age com ausência de dolo. Não há vontade e, portanto, deverá ser
afastado o dolo da conduta do agente.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

No nosso código Penal, o dolo está com previsão no art. 18,


de onde podemos concluir que: a regra é o crime ser doloso. Somente
poderá haver punição por crime culposo se houver previsão expressa
na lei, pois estaremos diante de uma norma de exceção. É necessário
que se leia todo o capítulo referente àquele crime para que possamos
constatar se haverá punição a título de culpa ou não. Caso não exista,
não há punição para aquela conduta (exemplo: dano culposo).
Teorias do dolo
Teoria da vontade: o dolo seria tão somente a vontade livre e
consciente de querer praticar a infração penal.
Teoria do assentimento: atua com dolo aquele que antevendo
como possível o resultado lesivo com a sua conduta, não se importa
com a sua ocorrência, assumindo o risco da produção do resultado.
Teoria da representação: quando o agente tem a previsão do
resultado como possível e ainda assim deseja dar continuidade à sua
conduta. Essa teoria não distingue o dolo eventual da culpa consciente.
O nosso Código Penal adota a teoria da vontade, quando men-
ciona quanto ao dolo direto e adota a teoria do assentimento, quando se

26
refere ao dolo eventual.
Espécies de dolo.
Distingue-se o dolo em direto e indireto. O dolo será direto
quando o agente quer efetivamente cometer a conduta descrita no tipo
penal. O agente pratica a conduta dirigida finalisticamente à produção
do resultado por ele pretendido inicialmente. No dolo direto, o agente
quer praticar a conduta descrita no tipo. É o dolo por excelência.
O dolo direto divide-se em dolo direto de primeiro grau e dolo
direto de segundo grau. Será de primeiro grau quando for referente ao
fim proposto e aos meios escolhidos. Será de segundo grau quando se
referir aos seus efeitos colaterais, necessários para que se possa che-
gar ao dolo direto de primeiro grau. Ex.: um terrorista pretende matar
um Chefe de Estado que estará viajando em um avião. Coloca dentro
desse avião uma bomba, o avião explode e todos morrem. Quando ao
Chefe de Estado, haverá dolo direto de primeiro grau. Quanto aos pas-
sageiros do avião, haverá dolo direto de segundo grau, pois para matar
o Chefe de Estado, a morte dos passageiros seria necessária para que
se pudesse alcançar o dolo direto de primeiro grau. A finalidade primeira
não era de se alcançar a morte dos demais passageiros, mas de qual-
quer forma ela foi querida pelo agente, como consequência necessária
do meio escolhido. Também é conhecido por dolo de consequências
necessárias.
O dolo poderá também ser indireto. O dolo indireto se divide

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


em alternativo e eventual. O dolo será considerado alternativo quando
o aspecto volitivo o agente se encontra direcionado de maneira alterna-
tiva, seja em relação ao resultado, seja em relação à pessoa contra a
qual o crime é cometido. Ex.: Astrogildo deseja ferir ou matar Teobaldo.
Ex.2: Astrogildo deseja matar Teobaldo ou Pafúncia.
O dolo será considerado eventual quando o agente, embora
não querendo diretamente praticar a infração penal, não deixa de agir
e com isso, assume o risco de produzir o resultado que por ele já havia
sido previsto e aceito. O agente representa em sua mente o resultado
e, embora não querendo sua produção, não se importa com a sua ocor-
rência
OBS: DOLO GERAL: o autor acredita ter alcançado o resultado
pretendido, quando na verdade o resultado somente se produz por uma
ação posterior, com a qual buscava encobrir o feito. Ex.: o agente, su-
pondo que a vítima já estivesse morta, de forma a ocultar o crime, atira
o corpo no mar, momento que a vítima vem a falecer por afogamento.
Do tipo culposo – art. 18 II do Código Penal
Conceito e elementos do delito culposo: Tem-se o crime culpo-
so quando o agente pratica a infração penal inobservado um dever de
27
cuidado. A definição trazida pelo Código Penal não se mostra suficiente
para que se possa aferir com precisão se a conduta do agente pode ser
considerada culposa ou não.
Para a caracterização do crime culposo, há necessidade de
que se faça uma conjugação dos seguintes elementos:
Conduta humana voluntária, omissiva ou comissiva: inicialmen-
te, a conduta do agente é direcionada a uma finalidade lícita. Entretanto,
por não observar um dever de cuidado, dá causa a um resultado não
querido pelo agente. Os meios escolhidos e empregados pelo agente
foram inadequados ou mal utilizados.
Inobservância de um dever objetivo de cuidado: é um dever
que todos nós temos que observar, pois são regras de comportamento
para que possamos conviver harmoniosamente em sociedade. Cada
membro da sociedade parte do princípio de que o dever de cuidado
objetivo será observado pelo seu semelhante. Essa infringência decorre
de hipóteses de imprudência, negligência ou imperícia.
Imprudência: conduta positiva praticada pelo agente que, por
não observar o seu dever de cuidado, causasse o resultado lesivo que
era previsível. A imprudência é, portanto, fazer alguma coisa.
Negligência: é deixar de fazer aquilo que a diligência normal
impunha.
Imperícia: ocorre uma inaptidão momentânea ou não do agen-
te para o exercício de uma arte ou profissão.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

Há necessidade da ocorrência de um resultado naturalístico


em virtude da conduta do autor. Então se o agente deixa um pesado
vaso de plantas no parapeito de uma janela alta, o simples fato de o
vaso estar ali, não há crime culposo. Porém, se o vaso cair machucando
alguém, o agente responderá por lesão corporal culposa.
Deve existir um nexo de causalidade entre a conduta do agen-
te praticada e o resultado dela advindo, para que esse possa ser impu-
tado ao agente.
O fato deve ser previsível ao agente. Explico: se o fato escapar
totalmente à previsibilidade do agente, o resultado não lhe poderá ser
atribuído. É a possibilidade de conhecimento do perigo que sua conduta
gera para os bens jurídicos alheios. A previsibilidade condiciona o dever
de cuidado. Em se tratando de crime culposo, a previsibilidade deverá
ser objetiva, ou seja, o agente, no caso concreto, deverá ser substituído
por uma pessoa de prudência normal (o chamado homem médio). Se
para essa pessoa o resultado persistir, é porque poderá ser considerado
imprevisível, e, portanto, não se poderia exigir do agente nada além do
que a capacidade normal dos homens. Se o homem médio, no lugar
do agente, atuasse de forma diferente, e assim o resultado não viesse
28
a acontecer, é porque havia previsibilidade. A doutrina fala também em
previsibilidade subjetiva, em que se leva em consideração as condições
pessoais do agente, que se afere no caso concreto. A previsibilidade
subjetiva será estudada quando da exigibilidade conduta diversa.
Tipicidade, ou seja, há necessidade de previsão em lei do tipo
culposo. A regra no Código é de que os crimes venham a ser dolosos.
Sendo a culpa regra, o código deverá expressamente fazer uma ressal-
va.
O crime culposo como crime de tipo aberto
Os crimes culposos são considerados tipos abertos uma vez
que há necessidade de uma valoração do intérprete para se amoldar
a conduta do agente. Não há uma descrição completa e perfeita da fi-
gura típica nos crimes culposos, devendo o julgador, no caso concreto,
analisar todos os elementos que compõem o crime culposo e amoldar
a conduta do agente.
Culpa consciente e culpa inconsciente- na culpa inconsciente,
o agente não prevê o resultado, embora esse possa ser previsível. Já
na culpa consciente, o agente prevê o resultado, mesmo assim prosse-
gue com os seus atos, pois acredita sinceramente que o mesmo não vá
ocorrer.
Diferença entre culpa consciente e dolo eventual - na culpa
consciente, embora o agente preveja o resultado, acredita sinceramen-
te que ele não irá ocorrer. Já no dolo eventual, é diferente. O agente

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


prevê que o resultado pode ocorrer e assume o risco de produzi-lo, ou
seja, não se importa que ele ocorra.
O grande problema que vem acontecendo ultimamente é uma
aplicação errada do dolo eventual e da culpa consciente, pois utilizam-
-se para a distinção a assunção no risco para a produção do resultado.
Ora, se o agente prevê que o resultado é possível e prossegue, ele
sempre assumirá o risco de produzi-lo e assim, nunca será possível
fazer a distinção adequada entre os institutos. Para que a distinção seja
feita de forma adequada, deve-se levar em consideração o elemento
anímico: acreditou sinceramente na não ocorrência do resultado? É cul-
pa consciente. Não se importou com a sua ocorrência? Dolo eventual
Culpa imprópria
São hipóteses previstas na parte final do art. 20§1º. São as
descriminantes putativas, em que o agente, em virtude de erro evitável
pelas circunstâncias dá causa dolosamente a um resultado, mas res-
ponde como se tivesse praticado um delito culposo.
Vou exemplificar para facilitar: Teobaldo, sentado ao lado de um
banheiro em um bar, vê Cristóvão se levantando em sua direção com
uma cara de irritação. Supondo que Cristóvão iria matá-lo, arremessa
29
em no peito de Cristóvão uma faca, que acaba por matá-lo. Temos aqui
um caso de discriminante putativa, na qual a situação só existia na men-
te do agente. Estamos diante de uma legítima defesa putativa. Sendo
esse erro evitável, o agente deverá responder pelo crime cometido a
título de culpa. Embora o agente tenha agido com dolo, por questões de
política criminal, responderá por um crime culposo.
Nessa hipótese é que a doutrina vislumbra a possibilidade de
tentativa em delitos culposos, pois como foi dito, a conduta é dolosa,
porém, será punida com as penas correspondentes ao crime culposo.
A tentativa nos crimes culposos
Como anteriormente foi estudado, não é possível haver ten-
tativa em crimes culposos, uma vez que o iter criminis é um instituto
somente aplicado para crimes dolosos.
Somente na hipótese da culpa imprópria (por extensão, assi-
milação, equiparação) é que a doutrina vislumbra a possibilidade de
tentativa em delitos culposos, pois como foi dito, a conduta é dolosa,
porém, será punida com as penas correspondentes ao crime culposo.
Os crimes preterdolosos – art. 19.
O crime preterdoloso é uma das espécies de crime qualificado
pelo resultado. Nesse caso, haverá conduta dolosa do autor no antece-
dente e culpa na conduta consequente. Ex.: lesão corporal seguida de
morte. Já no crime qualificado pelo resultado, haverá conduta dolosa no
antecedente e na consequente: ex.: lesão corporal qualificada pela per-
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

da de um membro. A conduta do agente foi direcionada para a prática


daquele tipo gravíssimo de lesão.
O art. 19 do Código Penal visa afastar a responsabilidade pe-
nal objetiva, evitando que o agente venha a ser responsabilizado por
infrações que sequer ingressaram na sua órbita de previsibilidade. Para
o agente ser responsabilizado por um crime preterdoloso, há necessi-
dade de que pelo menos o resultado possa ser previsível ao homem
médio. Uma pessoa é derrubada por um agente na areia que deseja
lesioná-la, essa pessoa bate com a cabeça em uma pedra e morre. Não
é previsível que tenha um pedregulho em uma areia que venha causar a
morte da pessoa. Nesse caso, o agente deverá responder apenas pelo
crime de lesão corporal. Já se houver um tombo desses no meio da rua,
e o agente bater com a cabeça em uma pedra e morrer, haverá o crime
de lesão corporal seguida de morte, pois é perfeitamente previsível que
haja uma pedra na rua.
Relação de causalidade
O nexo causal ou relação de causalidade é o elo necessário
que une a conduta do agente ao resultado produzido. Não havendo
esse nexo, o resultado não poderá ser atribuído ao agente.
30
Dos crimes em que ocorre o nexo causal.
É importante salientar que a relação de causalidade deverá ser
analisada apenas nos crimes que apresentam um resultado naturalístico,
ou seja, aqueles em que há uma modificação no mundo exterior, ou seja,
estamos falando de crimes materiais e dos crimes omissivos impróprios
(ou comissivos por omissão). É importante salientar, porém, que todos
os crimes produzem um resultado jurídico, que é a lesão ou perigo de
lesão ao bem jurídico tutelado pela lei, mas nem todos produzem um
resultado naturalístico, que é a modificação no mundo exterior.
Teoria da equivalência dos antecedentes causais ou da condi-
tio sine qua non.
Teoria de Von Buri e adotada pelo nosso Código Penal, con-
sidera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria
ocorrido da maneira que ocorreu. Partindo do resultado naturalístico,
devemos fazer uma regressão e verificar tudo aquilo que tenha exerci-
do influência na sua produção. Ex.: em um crime de homicídio, desta-
quemos uma série de fatos antecedentes:1. produção do revólver pela
indústria; 2) aquisição da arma pelo comerciante; 3) compra do revólver
pelo agente; 4) o agente almoça; 5) emboscada; 6) disparo na vítima; 7)
morte da vítima. Dentro desse raciocínio, se excluirmos os nº 1 a 3, 5 e
6, o resultado morte não teria ocorrido. Então, tais pontos são conside-
rados causas. Mas se excluirmos o 4, nada altera e, portanto, o 4 não
poderá ser considerado causa.

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


Crítica: para buscarmos a causa do resultado, acabamos che-
gando a uma regressão infinita, o que nos leva a entender como causa
até mesmo o pai e a mãe do agente o terem gerado.
Processo Hipotético de Eliminação de Thyrén
Segundo tal estudioso, tal processo consiste em:

a) pensar no fato que entendemos como influenciador do resultado


b) suprimir esse fato da cadeia
c) se houver a supressão e o resultado se modificar, o fato suprimido mental-
mente deverá ser considerado causa.

Segundo Heleno Fragoso, causa é todo antecedente que não


pode ser suprimido em mente sem afetar o resultado.
Ao conceituar causa mencionei: “considera-se causa toda
a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido da ma-
neira que ocorreu”. Como assim da maneira que ocorreu? Tomemos
por exemplo a hipótese de uma pessoa estar gritando por socorro e
você, quando passa, escuta e vai lá ver. Ao chegar próximo, percebe
que é seu maior inimigo pendurado em um galho de árvore, que está

31
quase quebrando e você, ao invés de ajuda-lo, balança o galho de leve
e ele cai. Se você não passasse ali o galho mais cedo ou mais tarde se
quebraria, certo? Mas a partir do momento que você sacudiu o galho e
precipitou a queda de seu inimigo, você interferiu na cadeia causal e,
portanto, deverá responder pelo resultado, mesmo que ele ocorresse
sem a sua colaboração.
Causa: conceito e espécies: absolutamente independente, re-
lativamente independente.
O art. 13§ 1º do Código Penal traz as causas supervenientes
relativamente independentes. Mas não podemos esquecer que há tam-
bém causas preexistentes e concomitantes, absoluta e relativamente
independentes
CAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES - são aque-
las segundo as quais o resultado teria ocorrido independentemente da
conduta do agente.

- Preexistentes: aquela que ocorreu anteriormente à conduta do agente. Ex.:


A, querendo matar B, atira em seu peito e B morre, mas não do tiro e sim
da ingestão de veneno que havia feito anteriormente. A não responderá por
homicídio e sim por tentativa de homicídio. Ou seja, responderá apenas por
seu dolo. A ingestão do veneno foi anterior à conduta do agente, por isso é
considerada uma causa preexistente.

- Concomitante: é aquele que acontece no mesmo instante da conduta do


INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

agente. ex.: A e B querem matar C. Ao mesmo tempo, ambos atiram contra C.


Apenas o tiro proferido por A acerta C mortalmente e o de B passa de raspão.
B poderá responder pelo resultado morte? Não, pois quem causou o resul-
tado foi A. Logo, B responderá apenas pelo seu dolo: tentativa de homicídio.

- Superveniente: é aquela causa ocorrida após a conduta do agente e que


não tem nenhuma relação com a conduta. Ex: A atira em B, que fica muito
ferido. Logo após, o prédio que B SE encontrava ferido desaba e ele morre.
A responderá apenas pela tentativa de homicídio.

Em todos os casos, não houve modificação do resultado se for


feito um processo hipotético de eliminação. Então, conclui-se que, em
se tratando de causas absolutamente independentes, o resultado não
poderá ser imputado ao agente, devendo este responder apenas pelo
seu dolo.

CAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES – são aquelas


que somente poderão produzir o resultado se conjugadas com a con-
duta do agente. A ausência de uma delas acarreta uma modificação no
resultado. Também podem ser:

32
a) Preexistentes: já existia antes do comportamento do agente e conjugada
com tal conduta, produziu o resultado. Ex: hemofílico. A quer matar B e des-
fere um golpe de faca, sabendo que B era hemofílico. Mesmo que tenha sido
em um local que não fosse causar a morte, ele morreu porque era hemofílico
e em virtude da facada. Responderá, portanto, por homicídio.

b) Concomitantes: é aquela causa que em uma relação de simultaneidade


com a conduta do agente e com ela conjugada, é considerada produtora do
resultado. Quando a conduta do agente e a causa concomitante são conjun-
tamente causadoras do resultado, o agente deverá responder pelo resultado.

As causas preexistentes e concomitantes relativamente inde-


pendentes, quando conjugadas com a conduta do agente, fazem com
que esse sempre responda pelo resultado.

a) Supervenientes: aqui está regulado no Código Penal, em seu art. 13 §1º.


Somente poderá ser excluído o resultado ao agente quando a causa, por
si só, vier a causar o resultado. Senão vejamos: A dá um tiro em B que é
levado para o hospital. Quando já está no hospital, o hospital pega fogo e B
falece. Vamos então raciocinar: se A não tivesse atirado em B, B não estaria

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


no hospital e, portanto, não teria morrido. Porém, se retirarmos o incêndio,
a vítima não teria morrido da maneira como ocorreu. Logo, o agente deverá
responder pelo crime de tentativa de homicídio.

O art. 13, §1º traz a expressão “por si só”. Significa dizer que
somente serão imputados ao agente os resultados que se encontrarem
em uma linha de desdobramento físico causal da ação. Ou seja, que
pela conduta do agente seriam previsíveis ocorrer. Não sendo previ-
síveis, ou seja, não estando na linha de desdobramento físico causal,
o agente somente responderá pelos atos praticados por seu dolo. É
importante verificarmos também a significância da lesão para que não
cheguemos a situações absurdas.
O nexo causal na omissão - na leitura do art. 13 do Código
Penal, podemos verificar que a omissão também poderá ser considera-
da causa do resultado, bastando que o emitente tenha o dever jurídico
de impedir ou de tentar impedir o resultado. Trata aqui de o agente não
fazer aquilo que a lei que determinava fazer.
Teoria da imputação objetiva
Não é a teoria adotada pelo nosso Código Penal. Tem por fun-

33
damento o incremento do risco e a finalidade de proteção da norma. A
causação de um resultado típico só se observará se o agente criou um
risco juridicamente reprovável.
Nessa teoria, devemos abstrair o dolo e a culpa, analisando
o tipo penal objetivamente. Por isso que a teoria se chama imputação
objetiva. A conduta do agente deverá ter criado ou aumentado um risco
juridicamente proibido. Ex: uma pedra vai cair na cabeça de A. Ao per-
ceber o que pode acontecer, B empurra A, que se machuca nas pernas
para que a pedra não caia na cabeça de A. B teria cometido o crime de
lesão corporal. Porém, devemos verificar que B reduziu um risco que
iria acontecer e, portanto, não poderá ter o resultado a ele imputado.
Alguns princípios surgem nessa teoria:

- Princípio da proibição do regresso: o agente não pode responder por um


resultado produzido por terceiro ou pela própria vítima. Ex.: uma pessoa dei-
xa uma arma em cima de uma mesa, o agente pega a arma e mata alguém.
Não poderá ser responsabilizado pelo resultado morte, uma vez que a ação
de terceiro é que causou o resultado.
- Princípio da confiança: quando eu vivo em sociedade, confio que as pes-
soas tenham atitudes dentro de seus papéis a serem desempenhados. Ex.:
um médico está operando um paciente. Ele espera que as pessoas dentro de
sua equipe desempenhem os seus papéis corretamente.

Pode acontecer também de que a pessoa que criou ou incre-


mentou o risco não tenha causado o resultado e, portanto, a ela não
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

poderá ser imputada a conduta. Ex.: uma pessoa vai roubar a vítima,
essa se assusta, sai correndo para o meio da rua e morre atropelada.
Ao agente deverá ser imputado apenas o crime de roubo.

ITER CRIMINIS
Trata-se do caminho que a infração penal irá percorrer desde
a cogitação do agente até seu exaurimento (esgotamento da figura tí-
pica). É um instituto importante para verificar se a infração comporta
ou não tentativa. Assim, pode-se dizer que essa análise será cabível
apenas em crimes dolosos.
A doutrina enumera as seguintes fases do iter criminis:
Cogitação, Atos Preparatórios, Atos Executórios, Consumação
e Exaurimento.
TENTATIVA.
Instituto previsto no art. 14, II do Código Penal e sua punição
encontra-se descrita no art. 14, parágrafo único. O pressuposto para se
falar em tentativa é haja o início da execução do crime, mas a não con-

34
sumação, decorrente de circunstâncias alheias à vontade do agente.
A tentativa é considerada perfeita quando o agente faz tudo
que está ao seu alcance para consumar o crime e ainda assim, ele
não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Será
considerada imperfeita quando o agente inicia a execução do crime,
mas sequer chega ao fim, e o crime não se consuma por circunstâncias
alheias à vontade do agente.
A punição pela tentativa leva em consideração a proximidade
que o agente ficou da consumação do delito. Se o agente ficou perto
da consumação, a pena será diminuída da fração mínima. Se o agente
ficou distante da consumação, ou seja, se foi caso de tentativa imperfei-
ta, a pena ficará diminuída no seu patamar máximo.
Algumas infrações não são passíveis de punição pela tentati-
va. São as seguintes: Crimes Culposos, Crimes Habituais, Crimes Pre-
terdolosos, Crimes Omissivos Próprios e Crimes Unissubsistentes
Vale lembrar que não se pune a tentativa de contravenção pe-
nal – art. 4º DL 3688/41.
A tentativa constitui-se em causa obrigatória de diminuição da
pena. Incide na terceira fase de aplicação da pena privativa de liberda-
de, e sempre a reduz. A liberdade do magistrado repousa unicamente
no quantum da diminuição, balizando-se entre os limites legais, de 1
(um) a 2/3 (dois terços). Deve reduzi-la, podendo somente escolher o
montante da diminuição5.

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


DESISTÊNCIA VOLUTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ –
ART. 15 DO CP.
Vale lembrar que esses dois institutos têm por objetivo bene-
ficiar o agente, de forma que ele não responda pela tentativa, uma vez
que, por conta própria, evitou a produção do resultado.
De forma a diferenciar a tentativa da desistência voluntária,
pode-se trabalhar com a Fórmula de Frank, na qual o agente, ao se
deparar com a situação deve-se questionar: “se eu posso prosseguir,
mas não quero”, tenho o instituto da desistência voluntária. Mas, se por
acaso, ele ao se questionar diz para si “quero prosseguir, mas não pos-
so”, temos o instituto da tentativa.
Assim, ao reconhecer a desistência voluntária, não será possí-
vel responsabilizar o agente pela tentativa, mas sim pelos atos lesivos
ao bem jurídico que ele tiver causado.
Já no arrependimento eficaz, o agente, por conta própria, evita
a consumação do delito. Vale lembrar que, para fazer jus ao benefício, a
5 Masson, Cleber Direito Penal: parte geral (arts. 1º a 120) – vol. 1 / Cleber Masson. – 13.
ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2019.

35
consumação deve ser por ele evitada. Assim, se o agente fizer tudo que
está ao seu alcance para evitar a consumação do delito, mas o crime
ainda assim se consumar, temos que ele será responsabilizado pelo
crime consumado.
Arrependimento Posterior – art. 16 do CP.
Nesse caso, o crime alcançou a sua consumação, mas o agen-
te, se reparar o dano ou restituir a coisa antes do recebimento da de-
núncia ou da queixa, receberá uma diminuição da pena. Vale lembrar
que não se aplica o referido instituto aos crimes cometidos com violên-
cia ou ameaça à pessoa.
Requisitos para a aplicação:
a) ocorrência de crimes sem violência ou grave ameaça à pessoa. Entretan-
to, a violência há de ser dolosa, pois é admissível a aplicação da causa de
redução de pena, caso o delito, produzindo efeitos patrimoniais, tenha sido
praticado com violência culposa. Assim é a hipótese de haver lesões culpo-
sas, passíveis de reparação completa. Ensina Dante Busana: “O arrependi-
mento posterior (art. 16, CP) alcança também os crimes não patrimoniais em
que a devolução da coisa ou o ressarcimento do dano seja possível, ainda
que culposos e contra a pessoa. Neste último caso, a violência que atinge o
sujeito passivo não é querida pelo agente, o que impede afirmar tenha sido
o delito cometido, isto é, praticado, realizado, perpetrado, com violência, pois
esta aparece no resultado e não na conduta” (cf. Waléria Garcelan Loma
Garcia, Arrependimento posterior, p. 105).
No caso de violência presumida, já que os casos retratados em lei demons-
tram ser a violência fruto da inibição da vontade da vítima, não há possibilida-
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

de de aplicação da redução de pena prevista pelo arrependimento posterior.


Aliás, acrescente-se que o universo dos crimes onde se fala em violência
presumida é composto por delitos dolosos, cuja violência contra a pessoa,
ainda que na forma ficta, termina ocorrendo como decorrência natural da
vontade do agente – diferentemente da violência culposa, que é involuntária
–, bem como são eles crimes não patrimoniais e sem efeitos patrimoniais
(vide o campo dos delitos contra a liberdade sexual), logo incabível qualquer
reparação do dano.
Ressaltemos, ainda, que a violência presumida é uma forma de violência
própria, isto é, presume-se que a vítima, não podendo consentir validamente,
foi fisicamente forçada.
A denominada violência imprópria – forma de redução da capacidade de re-
sistência da vítima por meios indiretos, como ministrando droga para sedar
quem se pretende roubar – também não autoriza a aplicação do benefício do
arrependimento posterior. Na essência, adjetivar a violência como imprópria,
em nosso entendimento, não é correto. Quando alguém reduz a capacidade
de resistência da vítima por meios físicos indiretos encaixa-se justamente
na hipótese prevista no art. 217-A, § 1.º, parte final, do CP (“por qualquer
outra causa, não pode oferecer resistência”). É violência contra a pessoa
do mesmo modo que a física exercida de maneira direta. Tanto é verdade o
que se sustenta que a utilização da denominada violência imprópria provoca

36
o surgimento do roubo e não do furto, em caso de subtração por tal meio.
Logo, é crime violento;

b) reparação do dano ou restituição da coisa. Deve ser feita de modo inte-


gral. Sendo parcial, não se pode aplicar o benefício ao agente. Entretanto, é
preciso ressaltar que a verificação da completude do reparo ou da restituição
deve ficar a cargo da vítima, salvo em casos excepcionais. Exemplificando:
se o agente furta o veículo do ofendido, devolvendo-o sem as calotas, é pos-
sível que a vítima se dê por satisfeita, podendo-se considerar concretizado
o arrependimento posterior. Entretanto, se o agente devolvesse somente os
pneus do veículo, ainda que a vítima concordasse, seria uma forma de burlar
o texto legal, não o aceitando o juiz.
Adotando posicionamento diverso, Paulo José da Costa Jr. diz que é possível
que a reparação do dano não seja integral, correspondendo, então, a uma
menor diminuição da pena do que ocorreria se fosse completa (Comentários
ao Código Penal, 7. ed., p. 61). Assim também é o magistério de Waléria Gar-
celan Loma Garcia, sustentando que a reparação não precisa ser completa
para haver a incidência do art. 16, pois, se assim fosse, também não poderia
incidir a atenuante do art. 65, tendo em vista que os fundamentos são os
mesmos (Arrependimento posterior, p. 89). Não nos parece que deva haver
esse padrão de comparação entre a causa de diminuição de pena do art.
16 e a atenuante do art. 65, até porque esta última menciona não somente
a reparação do dano, mas também a possibilidade do agente “evitar-lhe ou
minorar-lhe as consequências”, o que permitiria, então, falar em reparação
parcial do dano;

c) necessidade de existência de efeito patrimonial. A causa de diminuição de

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


pena prevista no art. 16 do Código Penal exige, para sua aplicação, que o
crime seja patrimonial ou possua efeitos patrimoniais. Afinal, somente desse
modo seria sustentável falar em reparação do dano ou restituição da coisa.
Em uma hipótese de homicídio, por exemplo, não teria o menor cabimento
aplicar o arrependimento posterior, uma vez que não há nada que possa
ser restituído ou reparado. No furto, ao contrário, caso o agente devolva a
coisa subtraída ou pague à vítima indenização correspondente ao seu valor,
torna-se viável a diminuição da pena. Não descartamos, por certo, outras
hipóteses que não sejam crimes patrimoniais, como ocorreria com o peculato
doloso. Em caso de restituição da coisa ou reparação total do dano, parece-
nos viável a aplicação da redução da pena.
Em sentido contrário, ensina Waléria Garcelan Loma Garcia: “Acatando a
orientação de que o dispositivo aplica-se a qualquer espécie de crime, au-
sente a violência e a grave ameaça contra a pessoa, não podem ser afas-
tados aqueles delitos que ensejam unicamente um dano não patrimonial e
um dano moral. Assim, o crime de sedução, os crimes contra a honra, contra
a inviolabilidade de correspondência, contra a inviolabilidade dos segredos,
contra a propriedade imaterial, contra o sentimento religioso e contra o res-
peito aos mortos etc. Certo que em alguns desses crimes coexistem danos
patrimoniais, não patrimoniais e morais. Trata-se de um benefício legal, e ao

37
intérprete não compete restringir o sentido ou alcance do dispositivo em pre-
juízo do agente, resultando, assim, somente enfrentar e dirimir as questões
da aferição do dano e a forma de sua reparação” (Arrependimento posterior,
p. 85). Permitimo-nos discordar dessa posição, destacando que, em alguns
dos exemplos citados, torna-se até mesmo impossível não somente mensu-
rar o dano (violação de sepultura ou perturbação de cerimônia religiosa, entre
outros), mas sobretudo identificar a vítima, isto é, a pessoa destinatária da
indenização.

Crime impossível – art. 17 do CP.


Quando o legislador fala do crime impossível já prevê que o
agente já ingressou na fase dos chamados atos de execução. Isso a
gente consegue extrair da redação do artigo que diz “não se pune a ten-
tativa” e só se pode falar em tentativa quando o agente já der início aos
atos de execução. Por isso que o crime impossível também é conhecido
como tentativa inidônea, quase-crime ou tentativa inadequada.
No caso da tentativa inidônea (crime impossível), o bem jurídi-
co não sofreu risco algum, seja porque o meio é totalmente ineficaz, seja
porque o objeto é inteiramente impróprio. Daí por que não há punição6.
Teorias sobre o crime impossível:

Teoria subjetiva: A teoria de Von Buri dispõe que não importa


se há a ineficácia do meio ou impropriedade do objeto. Para que esteja
configurada a tentativa, basta que o agente tenha agido com vontade
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

de praticar a infração penal. Para essa teoria, o agente é punido pela


intenção.
Teoria objetiva: biparte-se em teoria objetiva pura e teoria ob-
jetiva temperada. A primeira, segundo Nelson Hungria, dispõe que não
se pode distinguir entre inidoneidade absoluta ou relativa: em ambos
os casos, não haveria bem jurídico em perigo e, portanto, não existe
fato a ser punido. No entanto, nosso legislador adotou a teoria objetiva
temperada, que dispõe que se houver meios e objetos relativamente
eficazes, ou seja, se houver alguma possibilidade de o agente alcançar
o resultado pretendido, o agente será punido.

Absoluta ineficácia do meio e absoluta impropriedade do


objeto.

ABSOLUTA INEFICÁCIA DO MEIO: O que poderia ser consi-


derado meio? Meio é tudo aquilo utilizado pelo agente, capaz de ajudá-
-lo a produzir o resultado por ele pretendido. Ex.: uma faca, um revól-
6 Nucci, Guilherme de Souza Manual de direito penal / Guilherme de Souza Nucci. – 16.
ed. – Rio de Janeiro: Forensse, 2020.

38
ver, um taco de golfe, veneno. E o que vem a ser meio absolutamente
ineficaz? É aquele de que o agente se vale a fim de cometer a infração
penal, mas no caso concreto não possui aptidões para produzir o re-
sultado pretendido. Exemplos: revólver sem munição, quando o agente
se confunde e ao invés de colocar veneno colocar açúcar, falsificação
grosseira.

QUANDO A INEFICÁCIA DO MEIO FOR RELATIVA, TERE-


MOS O CRIME TENTADO. Ex.: o agente se utiliza de munição envelhe-
cida no revólver.
ABSOLUTA IMPROPRIEDADE DO OBJETO: Objeto é tudo
aquilo contra o qual se dirige a conduta do agente. É a pessoa ou coisa
sobre a qual recai a conduta do agente. Ex.: alguém atirar contra uma
pessoa que já está morta; quando a mãe, supondo estar grávida, ingere
substância abortiva, mas no fundo não existe gravidez.

O OBJETO SERÁ RELATIVAMENTE IMPRÓPRIO QUANDO

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


ESTE FICA EM UMA SITUAÇÃO DE PERIGO. NESSE CASO, HAVE-
RÁ O CRIME TAMBÉM TENTADO.

Sobre o tema, vejamos entendimento jurisprudencial:

APELAÇÃO. PENAL. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO


PÚBLICO. PLEITO DE ABSOLVIÇÃO. FALSIFICAÇÃO GROSSEI-
RA CARACTERIZADA. APRESENTAÇÃO DO DOCUMENTO AO
AGENTE PENITENCIÁRIO. CRIME IMPOSSÍVEL CONFIGURADO.
APELAÇÃO A QUE SE DÁ PROVIMENTO. 1. Configurada a falsifica-
ção grosseira, deve o apelante ser absolvido, em razão de restar con-
figurado crime impossível. 2. Apelo a que se dá provimento (TJ-AC
00150799520128010001 AC 0015079-95.2012.8.01.0001, Relator:
Francisco Djalma, Data de Julgamento: 02/07/2015, Câmara Criminal,
Data de Publicação: 07/07/2015).

39
Crime impossível e Súmula 145 do STF.
Nesse caso, ficou pacificado o entendimento de que se a po-
lícia preparar o flagrante de modo a tornar impossível a consumação
do delito, haverá o crime impossível. Flagrante preparado é quando o
agente é estimulado pela vítima ou pela autoridade policial a cometer a
infração penal. Contudo, se a infração penal restar consumada, o agen-
te responderá pelo crime consumado, mesmo que tenham sido toma-
das todas as providências para evita-la. Se o resultado foi alcançado,
significa que os meios ou objetos não eram absolutamente ineficazes
ou impróprios.
Flagrante esperado é diferente: este ocorre quando, a polícia,
sabendo que haverá infração penal, aguarda o agente para que possa
efetuar a prisão em flagrante – nesse caso, é possível se falar em tenta-
tiva. No flagrante esperado não há estímulo do policial nem de terceiro.

Diferença entre crime impossível e crime putativo.

Em ambos os casos, a conduta do agente é dirigida à prática


de uma infração penal. No entanto, no crime impossível, há previsão da
infração penal que o agente pretende praticar e por absoluta improprie-
dade do objeto, é impossível consumar-se o crime. No crime putativo
o agente almeja praticar uma infração que não encontra moldura na
nossa legislação. O fato por ele praticado é atípico – o agente crê haver
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

efetuado uma ação delituosa que existe somente em sua fantasia.

LEI PENAL NO ESPAÇO


Agora que você já é capaz de identificar o tempo do crime, ou
seja, qual lei será aplicada ao caso concreto, deverá então verificar a
limitação do campo de validade da lei penal. A regra é que seja aplicada
a territorialidade, prevista no art. 5º do Código Penal. O Brasil adota a
teoria da territorialidade temperada, ou seja, a lei nacional se aplica aos
fatos praticados no Brasil, mas excepcionalmente permite a aplicação
da lei estrangeira quando for estabelecido de forma diversa em algum
tratado ou convenção internacional.
O art. 5º §1º traz o conceito do que é considerado extensão do
território nacional. Assim temos que também será considerado território
nacional embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou
a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem. Assim,
se alguém, em uma aeronave oficial vier a cometer um crime, ainda
que esteja em território chinês, responderá segundo a lei brasileira. O

40
mesmo artigo também determina a aplicação da lei brasileira caso o
crime aconteça no interior de embarcações ou aeronaves brasileiras,
mercantes ou de propriedade privada se estiverem em alto mar ou em
espaço aéreo correspondente ao alto mar. Logo, se no interior de uma
aeronave de propriedade de uma empresa brasileira houver um crime,
se essa aeronave estiver sobrevoando o alto mar, haverá aplicação da
lei brasileira.
O art. 5º §2º também trata da territorialidade. Assim, se uma
embarcação estrangeira estiver em mar territorial brasileiro ou uma ae-
ronave estrangeira estiver sobrevoando o espaço aéreo correspondente
ao território nacional, haverá a aplicação da lei brasileira. Vale lembrar
que tanto a embarcação quanto a aeronave devem ser de propriedade
privada.
O estudo da Lei Penal no Espaço diz respeito à necessidade
de se saber se o Brasil poderá aplicar ou não a sua lei. Trata-se de um
estudo que envolve o Direito Penal Internacional, ou seja, hipótese de
a conduta criminosa violar sistema jurídico de mais de um país. Não se
pode confundir com critérios de fixação de competência previstos no art.
70 do CPP e seguintes uma vez que ali há a definição do juízo compe-
tente para processar e julgar crimes cometidos no Brasil.
As teorias aplicadas para o estudo do lugar do crime recebem
os mesmos nomes das teorias para estudo do tempo do crime. Porém,
em se tratando de lugar do crime, o Código Penal, no seu art. 6º, adota

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


a teoria da ubiquidade que define lugar do crime como sendo tanto o lo-
cal da conduta quanto o local do resultado. Isso é importante nos casos
de crimes com atos executórios cometidos no estrangeiro com o resul-
tado no Brasil e vice e versa, pois determina a competência da justiça
brasileira para qualquer hipótese, impedindo que o crime fique impune.
A extraterritorialidade preocupa-se com a aplicação da lei bra-
sileira aos crimes cometidos fora do território nacional. Trata-se do dis-
posto no art. 7º do CP. A extraterritorialidade pode ser condicionada ou
incondicionada. Será incondicionada como o próprio nome diz, quando
não houver qualquer condição a ser preenchida. São as hipóteses pre-
vistas no art. 7º I.
Já a extraterritorialidade condicionada requer que sejam preen-
chidas as seguintes condições, de forma cumulativa:
entrar o agente no território nacional; 
ser o fato punível também no país em que foi praticado;        
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasi-
leira autoriza a extradição
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí
cumprido a pena; 
41
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro
motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. 
No caso de crime cometido por estrangeiro contra brasileiro
fora do Brasil a lei brasileira também será aplicada se além reunidas as
condições previstas no parágrafo segundo do art. 7º também preencher
as seguintes condições:

a) não foi pedida ou foi negada a extradição; 


b) houve requisição do Ministro da Justiça. 

A doutrina nomeia os seguintes princípios em se tratando de


extraterritorialidade:
- Princípio da defesa, real ou proteção: prevalece a lei referente
à nacionalidade do bem jurídico lesado – art. 7º I a, b, c, d
- Princípio da universalidade, justiça universal ou cosmopolita
– art. 7º II – todo país pode punir qualquer crime, seja qual for a nacio-
nalidade de quem o cometeu
- Princípio da personalidade ativa: aplica-se a lei brasileira ao
autor do crime, qualquer que seja o local da infração, se ele for brasilei-
ro – art. 7º II b
- Princípio da representação: é o previsto no art. 7º, II, c
Denoto que como hipóteses de extraterritorialidade incondi-
cionada podemos citas as seguintes7:
a) crimes cometidos contra a vida ou a liberdade do Presidente
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

da República (arts. 121 e 122 e 146 a 154 do Código Penal e arts. 28 e


29 da Lei de Segurança Nacional – Lei 7.170/83). É o princípio da defe-
sa ou da proteção (art. 7.º, I, a, CP);
b) crimes contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Dis-
trito Federal, de Estado, de Município, de empresa pública, sociedade
de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público
(são os arts. 155 a 180 e 289 a 311-A do Código Penal). Trata-se, tam-
bém, do princípio da defesa ou da proteção (art. 7.º, I,b, CP);
c) crimes contra a administração pública, por quem está a seu
serviço (são os arts. 312 a 326, em combinação com o art. 327, do Có-
digo Penal). É, ainda, o princípio da defesa ou da proteção (art. 7.º, I,
c, CP);
d) crime de genocídio (extermínio, no todo ou em parte, de
grupo nacional, étnico, racial ou religioso, matando ou causando lesão
grave à integridade física ou mental de seus membros; submetendo
o grupo, deliberadamente, a condições de existência capazes de pro-
porcionar-lhe a destruição física, integral ou parcial; adotando medidas
7 Nucci, Guilherme de Souza Manual de direito penal / Guilherme de Souza Nucci. – 16.
ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2020.

42
destinadas a impedir nascimentos no seio do grupo, bem como efe-
tuando a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo,
conforme art. 1.º da Lei 2.889/56), quando o agente for brasileiro ou
domiciliado no Brasil. Tratase do princípio da justiça universal (art. 7.º,
I, d, CP);
e) crime de tortura, conforme previsão da Lei 9.455/97, que
estabeleceu a possibilidade de se aplicar a lei brasileira ao torturador,
onde quer que o delito seja cometido, desde que a vítima seja brasileira
ou esteja o autor da infração penal sob jurisdição brasileira (art. 2.º).
Como se trata de lei especial, que não fixou condições para se dar o
interesse do Brasil na punição do torturador, trata-se de extraterritoriali-
dade incondicionada. É aplicação do princípio da justiça universal.
Outrossim, como hipóteses de extraterritorialidade condicio-
nada temos:
a) crimes que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou
a reprimir (são os delitos previstos em tratados ou convenções que o
Brasil subscreveu, obrigando-se a 5.4 punir, como o tráfico ilícito de
drogas, a pirataria, a destruição ou danificação de cabos submarinos, o
tráfico de mulheres, entre outros). É o princípio da justiça universal (art.
7.º, II, a, CP);
b) crimes praticados por brasileiros. A justificativa para a exis-
tência desse princípio é a proibição de extradição de brasileiros, ve-
dada pela Constituição Federal (art. 5.º, LI). Assim, caso um brasileiro

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


cometa um crime no exterior e se refugie no Brasil, outra alternativa não
resta – para não haver impunidade – senão a punição por um tribunal
pátrio. A competência para o julgamento é da Justiça Estadual da
Capital do Estado onde por último houver residido o acusado. Se nunca
tiver residido no Brasil, será competente o juízo estadual da Capital da
República (art. 88 do Código de Processo Penal). Cuida-se do princípio
da nacionalidade ou da personalidade (art. 7.º, II, b, CP);
c) crimes praticados em aeronaves ou embarcações brasi-
leiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território es-
trangeiro e aí não sejam julgados. Exemplo: se uma aeronave privada
brasileira estiver sobrevoando território estrangeiro e um crime for co-
metido a bordo, por um estrangeiro contra outro, o interesse brasileiro é
entregar o autor do delito às autoridades locais. Porém, pode acontecer
de, conforme as leis do país alienígena, não haver previsão para tal
hipótese. Assim sendo, o foro competente é o da bandeira da aeronave,
ou seja, o Brasil. Frise-se: somente se aplica a lei penal brasileira caso o
governo estrangeiro não tenha interesse em punir o criminoso. Trata-se
do princípio da bandeira ou da representação (art. 7.º, II, c, CP);
d) crimes cometidos por estrangeiro contra brasileiro fora do
43
Brasil, desde que não tenha sido pedida ou tenha sido negada a extra-
dição e quando houver requisição do Ministro da Justiça. É a aplicação
do princípio da defesa ou da proteção (art. 7.º, § 3.º, CP).

A LEI PENAL NO TEMPO

Tempo do crime
No Direito Penal, ao contrário do que se estuda nos demais ra-
mos do Direito, nem sempre se aplica aquilo que chamamos de tempus
regit actum (ou seja, a norma aplicada será aquela vigente na data da
prática do fato). Isso porque, pela regra da retroatividade mais benéfica,
se na data do julgamento, houver uma lei mais benéfica do que a vigen-
te na data do fato, a lei em vigor retroagirá para beneficiar o réu. Caso
contrário, se na data do fato houver uma lei mais benéfica do que a lei
vigente na data do julgamento, ela produzirá efeitos ultra-ativos e será
aplicada a lei vigente na data do fato, mesmo se ela já estiver revogada.
Existem três teorias acerca do tempo do crime: teoria da ativi-
dade, teoria do resultado e teoria mista ou da ubiquidade:

a) Teoria da atividade – para essa teoria, o tempo do crime é o momento da


ação ou da omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Essa é a
teoria adotada pelo Código Penal. É a regra do tempus regit actum
b) Teoria do resultado – aqui, o tempo do crime seria aquele no qual seria
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

aplicável a lei vigente no do momento do resultado


c) Teoria da ubiquidade – para essa teoria, o tempo do crime seria o da ação
ou omissão, bem como o momento do resultado.

No entanto, convém analisar, no âmbito da Classificação Dou-


trinária de Crimes, o que ocorre com os crimes permanentes e os crimes
continuados. Crime permanente é aquele cuja consumação se alonga
no tempo, ou seja, o momento consumativo não se esgota em único ato,
ou seja, o bem jurídico tutelado é violado de forma duradoura, renovan-
do-se a consumação do delito a cada momento. Já o crime continuado
é uma espécie de concurso de crimes, prevista no art. 71 do Código Pe-
nal, no qual o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica
dois ou mais crimes, mas desde que demonstrado o nexo de continuida-
de e outros requisitos de ordem objetiva (mesmas condições de tempo,
lugar, maneira de execução), deverá ser feita a exasperação ao invés
de ser aplicado o cúmulo material.
Para se explicar como seria feita a aplicação da lei penal em
crimes permanentes e crimes continuados em caso de sucessão de
leis penais no tempo, o STF editou a confusa Súmula 711 que dispõe

44
o seguinte: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao
crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continui-
dade ou da permanência”.
Em se tratando de crime permanente, deve-se observar o se-
guinte: a lei que deverá ser aplicada será aquela que estiver vigente no
momento em que cessar a permanência. Assim, no caso de um seques-
tro, se no momento da privação da liberdade da vítima, estiver em vigor
uma lei mais branda, mas quando da libertação da vítima, houver um a
lei mais, grave, aplica-se a lei mais grave, uma vez que a execução do
crime persistiu até a entrada em vigor da lei mais grave.
No caso do crime continuado, a explicação mais detalhada
ocorrerá no momento do estudo do concurso de crimes, mas já é possí-
vel adiantar que temos nada mais nada menos do que a estrita aplica-
ção do que dispõe o próprio artigo 71 do Código Penal.
Extra atividade da lei penal: ultratividade e retroatividade.
Chama-se extra atividade da lei penal a sua capacidade de se
movimentar no tempo. Ela pode regular fatos ocorridos durante a sua vi-
gência se já tiver sido revogada bem como poderá retroagir a situações
anteriores à sua vigência, desde de que favoráveis ao réu.
A ultratividade permite que a lei, mesmo depois de revogada,
continue regulando fatos ocorridos na sua vigência. Um ótimo exemplo
diz respeito à lei 11.343/2006, com relação ao tráfico de drogas. Na lei
revogada, lei 6368/76, o tráfico era punido com uma pena de 3 a 15

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


anos. Na atual lei, o tráfico é punido com uma pena de 5 a 15 anos, sen-
do portanto, crime mais grave. Assim, se o fato foi praticado na vigência
da Lei 6368/76, mesmo após revogada, poderá ser aplicada uma vez
que mais benéfica do que a atual lei.
Na retroatividade temos exatamente o contrário. Uma lei penal
posterior, estabelece um crime menos grave e que, por ser mais benéfi-
ca, alcança fatos passados, ainda que já tenha uma sentença transitada
em julgado. Como exemplo, é possível mencionar a Lei 13.654/18 que
revogou o inciso I do § 2º do art. 157 do Código Penal. O dispositivo re-
vogado trazia uma causa especial de aumento de pena caso houvesse
violência ou ameaça exercidas com emprego de arma. Apesar de a dou-
trina divergir com relação ao alcance daquilo que poderia ser considera-
do arma, prevalecia o entendimento mais amplo, ou seja, armas de fogo
e qualquer objeto que fosse utilizado com capacidade de intimidar, ferir.
O legislador, no mesmo diploma alterador, inseriu o § 2º-A ao
art. 157, que, no inciso I, traz uma causa de aumento de pena se a vio-
lência ou a ameaça é exercida com emprego de arma de fogo. O legisla-
dor optou excluir da abrangência da majorante a chamada arma impró-
pria ou seja, objetos que, apesar de poderem utilizados para intimidar,
45
não foram concebidos com esta finalidade. Assim, não mais incide a
majorante da pena do roubo o emprego de facas, cacos de vidro, etc.
Esses objetos caractetrizam a grave ameaça, elementar do roubo, mas
não tem mais a natureza de majorante. A utilização de tais objetos ago-
ra será levada em consideração pelo magistrado na aplicação da pena
base, quando da análise das circunstâncias judiciais do art. 59 do CP.
Assim, estamos diante de lei mais benéfica que deve retroagir
para retirar a majorante relativa aos roubos cometidos com objetos que
sejam armas impróprias.
A expressão em latim novatio legis significa lei nova. Pode ser
para prejudicar o réu, e por isso possui o nome de novatio legis in pejus,
ou pode ser para beneficiar, que receberá o nome de novatio legis in
mellius.
Exemplo: Lei nº 12.234/2010.

Novatio legis in pejus


ANTES DEPOIS
O prazo prescricional para crimes O prazo prescricional para crimes
com pena inferior a 1 ano era de 2 com pena inferior a 1 ano passou a
anos. Obs.: A lei anterior é ultrativa ser de 3 anos. Obs.: A lei posterior/
para os fatos praticados na sua vi- revogadora é irretroativa, pois é
gência. maléfica ao acusado. Nesse caso, o
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

Estado terá mais tempo para punir o


acusado, prejudicando assim a situa-
ção do réu. Desse modo, sendo pre-
judicial ao réu, não deverá retroagir.

Exemplo: Causa de aumento em face de estelionato prati-


cado em desfavor de pessoa idosa.

46
Novatio legis in pejus
ANTES DEPOIS
O estelionato contra idoso configu- O estelionato contra idoso configu-
rava o art. 171 do CP (pena de 1 a 5 ra o art. 171, §4º do CP, aplicando
anos). a pena em dobro. Obs.: o §4º não
pode retroagir para alcançar os fatos
pretéritos. E se o estelionato for pra-
ticado em continuidade delitiva, e no
fim da sequência desses esteliona-
tos já estava em vigor o §4º, do art.
171 do CP? Aplicação da Súmula
711, STF.

Súmula nº 711 do STF, “a lei penal mais grave aplica-se ao


crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior
a cessação da continuidade ou da permanência”.
A expressão Abolitio Criminis significa que uma a conduta dei-
xa de ser considerada criminosa. O Código Penal traz a hipótese de
abolitio criminis, que tem natureza de causa de extinção da punibilidade
em seu art. 2º. Além disso, desaparecem todos os efeitos penais da
sentença condenatória (o nome do agente deve ser retirado do rol dos

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


culpados, não pode se considerar para fins de reincidência, nem mes-
mo maus antecedentes), permanecendo apenas os efeitos civis.
Exemplo: o art. 240 do Código Penal previa o crime de adulté-
rio. Esse artigo foi formalmente revogado (observando assim o primeiro
requisito exigido – revogação formal). Por outro lado, tivemos ainda a
supressão material do fato criminoso (observando o requisito da supres-
são material). Dessa forma, temos que o adultério deixou de ter relevân-
cia penal, seja perante o art. 240, seja perante qualquer outro tipo penal.

ANTES DEPOIS
Antes do advento da Lei 11.106, o Após o advento da Lei 11.106, o
adultério era crime, nos moldes do adultério passou a não ser mais
art. 240 do CP. crime, houve a abolição da figura
criminosa.

Combinação de leis
Seria possível o juiz, ao perceber que uma lei tem uma parte
mais benéfica e outra prejudicial ao acusado, realizar a combinação de
47
leis, de forma que a norma vise uma aplicação mais benéfica ao réu? O
STF entende que não é possível haver combinação de leis. Essa viola-
ria o princípio da separação dos poderes, uma vez que o judiciário não
pode agir como legislador positivo. O STJ, com relação à lei de drogas
também sumulou o tema com relação à Lei de Drogas e consequente-
mente afastou a possibilidade de combinação de leis.
De acordo com o que dispõe a Súmula 501 do STJ, é cabível
a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da
incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu
do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a
combinação de leis. Essa súmula foi editada porque a Lei 11.343/2006
trouxe uma causa de diminuição de pena que não existia na revogada
Lei 6368/76 para o tráfico no caso de criminoso ser primário, de bons
antecedentes, que não se dedicar a atividades criminosas e nem inte-
grar organização criminosa.
Muitos então sustentaram que se o fato tivesse sido praticado
na vigência da Lei 6368, mas se o acusado preenchesse o disposto
no art. 33§4º, seria possível aplicar a causa de diminuição de pena da
nova lei ao crime previsto na Lei 6368. O STJ então se manifestou no
sentido da impossibilidade de combinação de leis, de forma que deveria
ser verificada qual a norma mais benéfica, sem fracionamento dos seus
dispositivos.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

TEORIA DO CRIME
A pretensão de se desenvolver uma teoria geral do crime pres-
supõe uma definição de seu objeto, ou seja, uma definição do crime, a
partir da qual será possível analisar todos os elementos que a compõem.
As definições de crime são as mais variadas possíveis, dependendo do
prisma sob o qual é analisado. Assim, pode-se falar em um conceito
formal de crime que seria simplesmente a violação da lei penal, ou um
conceito material que poderia ser a lesão ou o perigo de lesão aos bens
jurídicos penalmente protegidos. Porém, a partir desses conceitos, não
é possível estabelecer uma teoria geral, pois essas conceituações não
estabelecem os componentes/elementos essenciais ao crime, o que so-
mente é feito pelo conceito analítico ou operacional de crime.
Segundo o conceito analítico ou operacional, o crime pode ser
definido como uma conduta típica, ilícita e culpável, sendo certo que a
conduta é o pressuposto para existência do crime, mas para que seja
assim considerada, precisa ser dotada de tipicidade, ilicitude e culpabi-
lidade, sendo que na ausência de qualquer um desses elementos, não
haverá crime.

48
Conforme destaca Claus Roxin: Na moderna dogmática de Di-
reito penal existe um substancial acordo de que toda conduta punível
pressupõe uma ação típica, antijurídica e culpável (...). Portanto, toda
conduta punível apresenta quatro elementos comuns (ação, tipicidade,
antijuridicidade e culpabilidade)8.
Essa concepção do crime que enxerga a conduta como o subs-
tantivo que para ser considerado crime precisa ser adjetivada de típica,
ilícita e culpável é conhecida como teoria tripartida do crime. Porém,
apesar deste “acordo” da doutrina internacional, existem posicionamen-
tos divergentes que adotam o conceito bipartido (conduta típica e ilí-
cita) ou quadripartido (conduta típica, ilícita, culpável e punível) para o
crime, que apesar de serem minoritários, também são importantes.

TEORIA DO ERRO
Erro é a falsa representação da realidade ou o falso ou equi-
vocado conhecimento de um objeto. Entende-se por erro de tipo aquele
que recai sobre as elementares, circunstâncias ou qualquer dado que
se agregue a uma determinada figura típica.
Quando o agente tem essa falsa representação da realidade,
falta-lhe consciência de que pratica uma infração penal e, dessa forma,
resta afastado o dolo, que é a vontade livre e consciente de praticar a
conduta incriminada. Ex.um caçador atira em um arbusto achando que
tinha um animal escondido lá atrás, quando na verdade era um homem.

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


O dolo do agente não era matar alguém – o agente erra sobre uma
elementar do art. 121 do CP. Ex. 2: o agente, visando pegar seu carro,
chega no estacionamento do Shopping, entra em um carro igual ao seu.
Liga, o carro funciona e vai embora. Na verdade, o carro não era do
agente, e sim um igual ao seu, só que de outra pessoa. O agente erra
sobre a elementar do crime de furto: coisa alheia móvel. Nesse caso,
ele toma coisa alheia como própria. Outros exemplos de erro de tipo: o
agente relaciona-se sexualmente com uma menor de 14 anos, achando
que era maior; contrai casamento com pessoa casada sem saber do
matrimônio anterior; deixa de agir por desconhecer de sua qualidade de
garantidor...
Consequências do erro de tipo: o erro de tipo é dito como in-
vencível (escusável, justificável, inevitável) quando o agente naquelas
circunstâncias, não tinha como evitá-lo. Qualquer pessoa, que se en-
contrasse naquelas circunstâncias incorreria no mesmo erro. Nesse
caso, o dolo e a culpa são afastados. O fato, portanto, é atípico. A au-
8 ROXIN, Claus. Derecho penal. Parte General. Fundamentos. La estructura del delito. 2.
ed. Trad. Diego-Manuel Luzón Peña, Miguel Díaz y García Conlledo e Javier de Vicente Remesal.
Madrid: Civitas, 2008. t. I. p. 193.

49
sência de algum dos elementos objetivos ou subjetivos do tipo penal
acaba por afastar a tipicidade.
Sendo o erro de tipo vencível (inescusável, injustificável, evi-
tável), quando qualquer pessoa, naquela situação conseguiria evitar o
resultado se tivesse atuado com a diligência exigida. O agente, nesse
caso, responderá pelo crime culposo, se houver previsão em lei.
Erro de tipo essencial.
O erro do agente recai sobre as elementares, circunstâncias ou
qualquer outro dado que se agregue à figura típica. É o erro estudado
acima.
Erro de tipo acidental.
Não tem o condão de afastar o dolo do agente. O agente age
com consciência de que seu comportamento é ilícito. Poderá ocorrer
nos seguintes casos:
Erro sobre o objeto.
O agente tem consciência e vontade de praticar uma conduta
ilícita, mas erra sobre ao valor do bem, por exemplo. Ex: o agente acha
que vai furtar um brinco de outro, mas na verdade seria de bijuteria.
Nesse caso, em nada influencia na definição jurídica do fato.
Erro sobre a pessoa.
Nesse caso, há previsão no art. 20 §3º do CP. Nesse caso, são
levadas em consideração as qualidades de quem o agente gostaria de
atingir. Ex: quero matar mamãe. Supondo que era ela ali presente, dou
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

um tiro e na verdade, mato uma mulher. Nesse caso, vou responder por
homicídio, com a agravante de ser contra um ascendente meu. O erro,
nesse caso, refere-se à identificação da vítima. Aqui, confundo aquela
pessoa que eu queria atingir com outra.
Erro na execução (aberratio ictus).
Encontra-se no artigo 73 do Código Penal. Aqui, o agente erra
o alvo: ao invés de atingir a pessoa que pretendia, erra a mira e acerta
outra. Nada impede que ambas sejam atingidas (caso em que se apli-
cará a regra do concurso formal). O art. determina que seja aplicada a
regra do art. 20, §3º do CP. O instituto do erro na execução somente
existe em caso de crimes dolosos. E se o agente estiver agindo em le-
gítima defesa? Não responderá pelo resultado, apenas responderá na
esfera da responsabilidade civil.
Vejamos entendimento jurisprudencial sobre o assunto:
PENAL E PROCESSUAL PENAL. TRIBUNAL DO JÚRI. APE-
LAÇÃO DA DEFESA. DOSIMETRIA DA PENA. PENAS-BASE. CIR-
CUNSTÂNCIAS JUDICIAIS. REFUNDAMENTAÇÃO E EXCLUSÃO
DE CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAS. TENTATIVA. FRAÇÃO. ITER CRI-
MINIS. ABERRATIO ICTUS. CONCURSO FORMAL. REDIMENSIO-
50
NAMENTO DA REPRIMENDA. APELO PROVIDO PARCIALMENTE.
DECISÃO UNÂNIME. 1. Observou-se que o Magistrado singular não
seguiu a melhor técnica na aplicação da pena, porquanto, não realizou
a dosimetria em relação a cada um dos delitos de maneira individualiza-
da para, só então, ingressar no quantum devido pelo concurso formal,
referente à aberratio ictus com unidade complexa (...) 4. Por fim, face
ao reconhecimento do instituto do aberratio ictus em sentido amplo
ou erro na execução do crime, aplicou-se a regra do concurso formal,
como reza o art. 73, segunda parte, do Código Penal e majorando-se
em 1/6 (um sexo) a reprimenda mais grave, qual seja, 09 (nove) anos e
04 (quatro) meses de reclusão, finda a sanção definitiva do réu em 10
anos, 10 meses e 20 dias de reclusão; 5. Por unanimidade de votos,
deu-se provimento parcial ao apelo (TJ-PE - APR: 4982038 PE, Relator:
Mauro Alencar De Barros, Data de Julgamento: 19/06/2019, 2ª Câmara
Criminal, Data de Publicação: 15/07/2019).
Aberratio criminis ou delicti.
Vê-se o artigo 74 do Código Penal. Significa desvio no crime.
Nesse caso, fora da hipótese do art. 73, por acidente ou erro na execu-
ção, ocorre resultado diverso do pretendido. Aqui, o erro incide de coisa
para pessoa e de pessoa para coisa. Ex.: o agente pretende acertar uma
pedra em uma vitrine, erra e acerta uma pessoa, machucando-a: nesse
caso, responderá por lesão corporal culposa. Mas cuidado, porque se
o agente queria atingir uma pessoa, mas acerta uma coisa, responderá

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


por aquilo que queria cometer (no caso, tentativa de homicídio).
Sobre o tema, vejamos entendimento jurisprudencial sobre o
assunto:
Recurso em sentido estrito – Pronúncia – Homicídios tentados
qualificados – Aberratio ictus – Despronúncia – Impossibilidade – Ma-
terialidade comprovada - Presença de indícios suficientes de autoria
– Decisão de pronúncia que não exige certeza, mas juízo fundado de
suspeita – Duas versões que não permitem, de súbito, a exclusão do
animus necandi - Valoração final e aprofundada do conjunto de provas
que compete ao E. Tribunal do Júri - Qualificadora (delito cometido para
assegurar a impunidade de outro crime), em tese, caracterizada e de-
monstrada – Necessidade de desclassificação do delito de homicídio
tentado para a rubrica de lesão corporal grave, no que tange à vítima
lesionada por erro de execução, porquanto a vítima visada também foi
atingida – Recurso parcialmente provido.  (TJSP;  Recurso em Sentido
Estrito 0174170-19.1998.8.26.0002; Relator (a): Juvenal Duarte; Órgão
Julgador: 5ª Câmara de Direito Criminal; Foro Central Criminal Barra
Funda - 3ª Vara Tribunal do Juri; Data do Julgamento: 28/07/2016; Data
de Registro: 29/07/2016).
51
Erro provocado por terceiro – art. 20 §2º.
Diz-se que o erro é provocado quando o sujeito é induzido em
erro por um terceiro. O provocador responderá por dolo ou culpa, de-
pendendo do elemento subjetivo do induzimento. O provocado, se for
induzido por erro invencível, não responde nem por dolo nem por culpa.
Já se o erro for vencível, o provocado responderá pelo crime culposo,
se houver previsão legal.
Descriminantes putativas – art. 20 §1º.
Descriminar significa transformar o fato em um indiferente pe-
nal, que são os casos do art. 23 do CP. Quando falamos em putativi-
dade, estamos nos referindo às situações que só existem na mente do
agente. Queremos dizer, no caso, que o agente atuou supondo estar
amparado por uma das causas de exclusão da ilicitude. Exemplos: um
policial que efetua a prisão de um homônimo do acusado age em es-
trito cumprimento do dever legal putativo. Ex. 2: alguém dá uns tapas
em uma criança achando que é seu filho quando na verdade é outra
criança parecida. Ex3.: o agente, por ver fumaça no cinema acha que
está pegando fogo e sai correndo, machucando outras pessoas, age em
estado de necessidade putativo. Ex.4: o agente, por ter sido ameaçado
de morte por um desafeto, ao encontra-lo, achando que o mesmo ao
colocar a mão no bolso iria sacar uma arma, saca antes e o mata, age
em legítima defesa putativa.
Novamente, devemos analisar se foi escusável ou inescusável.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

Sendo escusável, isenta o agente de pena. Sendo inescusável, será


responsabilizado pelo crime culposo (caso em que reside a culpa im-
própria – o agente atua com dolo na sua conduta mas será punido, por
questões de política criminal, por crime culposo).
Para que se fale em erro de tipo putativo, o agente supõe uma
situação de fato que se existisse tornaria a ação legítima.
Poderemos falar de erro de proibição quando o erro do agente
recair sobre os limites ou sobre a existência de uma causa de justifica-
ção. Ex.: o pai que mata o estuprador da sua filha por achar que pode
agir em legítima defesa da honra dela. Não há legítima defesa da honra,
logo, o agente erra sobre a existência de uma causa de justificação. –
nesse caso, aplica-se a regra do art. 21 do Código Penal. Quando o
agente passa a agir com excesso – nesse caso, atua acreditando que
poderia ir até o fim (logo erra sobre os limites da causa de justificação)
Teoria extremada e limitada da culpabilidade.
Para a teoria extremada da culpabilidade, todo e qualquer erro
que recaia sobre uma causa de justificação é considerado erro de proibi-
ção, não importando se o erro recaiu sobre uma situação de fato ou sobre
a existência ou mesmo sobre os limites de uma causa de justificação.
52
Para a teoria limitada da culpabilidade, adotada pelo código
penal, se o erro do agente recair sobre uma situação fática, estaremos
diante de erro de tipo, chamado erro de tipo permissivo. Se recair sobre
os limites ou sobre a existência de uma causa de justificação, será erro
de proibição. (item 17 da exposição de motivos do Código Penal).

ILICITUDE
Conceito: é a relação de antagonismo, de contrariedade entre
a conduta do agente e o ordenamento jurídico. Se a conduta do agente
colidir com o ordenamento jurídico penal, podemos dizer que ela será
penalmente ilícita.
Causas de exclusão da ilicitude
O código penal, no seu art. 23 prevê expressamente quatro
causas de exclusão da ilicitude da conduta praticada pelo agente, fa-
zendo com o que o fato por ele praticado seja considerado lícito. São as
seguintes causas:

- estado de necessidade
- legítima defesa
- estrito cumprimento do dever legal
- exercício regular do direito

O Código Penal se preocupou apenas em conceituar o estado

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


de necessidade e a legítima defesa, deixando a cargo da doutrina a
conceituação dos demais casos.
Além dessas causas, há aquelas consideradas supralegais de
exclusão da ilicitude. Causas essas que merecem destaque, embora
não presentes expressamente na lei, a qual podemos citar o consenti-
mento do ofendido.
Estado de Necessidade: conceito e elementos
O conceito de Estado de Necessidade encontra-se descrito no
art. 24 do Código Penal. No Estado de Necessidade, tem-se a ideia de
que há bens em conflito – seria como se os bens ficassem cada um
em um prato da balança. Deve-se então verificar a prevalência de um
sobre o outro, havendo necessidade de ser feita uma ponderação dos
bens. Logo se conclui que estaremos falando de estado de necessidade
quando houver a colisão de bens juridicamente protegidos.
Para que se caracterize o estado de necessidade, devem estar
presentes todos os elementos objetivos previstos no art. 24 do CP, bem
como o elemento de natureza subjetiva, que se configura no fato de o
agente saber ou acreditar que atua em estado de necessidade.
a) Prática de fato para salvar de perigo atual: Aqui a doutrina trava uma dis-

53
cussão. Somente devemos falar de perigo atual ou englobaria também o
perigo iminente? Embora haja entendimento diverso, há também o perigo
iminente, pois a atualidade engloba a iminência do perigo. Somente esta-
rá afastado o Estado de Necessidade se falarmos de perigo passado, bem
como de perigo futuro, ou seja onde não haja uma possibilidade quase ime-
diata de dano.
b) Perigo não provocado pelo agente. Quando o artigo 24 fala de vontade,
refere-se somente ao dolo, ou engloba também a culpa? Também há contro-
vérsias quanto a essa questão. Uma primeira corrente sustenta que exclui o
estado de necessidade se o perigo for provocado pelo agente por dolo e por
culpa. No entanto, é melhor entender que somente estará excluído o estado
de necessidade se o agente tiver causado o perigo a título de dolo.
c) Evitabilidade do dano: isso significa que aquele que age em estado de ne-
cessidade, não poderá ter opção a escolher, pois sempre deverá seguir o ca-
minho menos gravoso. Isso porque estamos trabalhando com bens jurídicos
protegidos em confronto. Logo, a alternativa menos danosa é a que deverá
ser escolhida. Caso contrário, o agente responderá pelo excesso.
d) Inexistência do dever legal de enfrentar o perigo: aquele que tem por lei
a obrigação de enfrentar o perigo, não pode optar pela saída mais cômo-
da. Ex.: um bombeiro. Mas isso deve ser interpretado logicamente com bom
senso (ou seja, para que se possa alegar estado de necessidade para essas
pessoas, deve-se comprovar que nem mesmo enfrentando o perigo o bem
poderia ser salvo).

Espécies de Estado de Necessidade


INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

a) Estado de necessidade real e putativo: diz o estado de necessidade real


quando o agente atua conforme disposto no art. 24 do Código Penal, em
virtude de uma situação real. Será putativo quando a situação de perigo es-
tiver somente na mente do agente. O problema deverá ser resolvido com a
aplicação do art. 20§1º do CP.

b) Estado de necessidade próprio e de terceiro

c) Estado de necessidade justificante e exculpante: Inicialmente, há neces-


sidade de que façamos uma diferenciação entre as teorias unitária e a teoria
diferenciadora. Segundo a teoria unitária, teoria adotada pelo Código Penal,
todo o estado de necessidade é justificante, ou seja, tem a finalidade de
eliminar a ilicitude do fato típico praticado pelo agente. Para essa teoria, não
importa se o bem protegido é de valor igual ou superior ao que está ofendido.
Já para a teoria justificadora, o estado de necessidade poderá ser justificante
(que afasta a ilicitude) ou exculpante (que afasta a culpabilidade). E na teoria
diferenciadora, há duas correntes: uma primeira sustenta que haverá estado
de necessidade exculpante quando houver bens afetados de valor inferior ao
que se defende. A segunda corrente sustenta que os bens afetados preci-
sam ser de valor igual ou inferior ao que se defende, sendo essa corrente a
majoritária. O Código Penal Brasileiro adotou o estado de necessidade justi-

54
ficante. Já o Código Penal Militar adotou a teoria diferenciadora, admitindo o
estado de necessidade exculpante.

PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE – Art. 24 “não era razoável


exigir-se”. Embora o Código Penal tenha adotado a teoria unitária, o
princípio da razoabilidade permite afirmar que se o bem sacrificado for
de valor superior ao preservado, não é possível reconhecer o estado de
necessidade. No entanto, o art. 24§2º adota uma causa de diminuição
de pena para esses casos.
Para fixar, observe o quadro abaixo sobre conceitos de estado
de necessidade. Figura 9

ESTADO DE NECESSIDADE — REQUISITOS


■ Perigo ■ Não provocação voluntária do perigo
■ Atual ■ Inexigibilidade de sacrifício do bem
salvo
■ Inevitável
■ Inexistência do dever legal de enfren-
■ Que põe em risco direito pró- tar o perigo
prio ou alheio ■ Conhecimento da situação justificante

ESPÉCIES DE ESTADO DE NECESSIDADE


A conduta do sujeito que age em neces-

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


DEFENSIVO sidade se volta contra quem produziu ou
colaborou para a produção do perigo
A conduta do sujeito que age em neces-
sidade se volta contra terceiro inocente,
AGRESSIVO
isto é, pessoa diversa daquela que pro-
vocou ou contribuiu para o perigo
JUSTIFICANTE Afasta a ilicitude da conduta
Exclui a culpabilidade do agente (não foi
EXCULPANTE
adotado pelo Código Penal)
PRÓPRIO Salva-se direito próprio
TERCEIRO Salva-se bem alheio
REAL É aquele definido no art. 24 do CP
Trata-se do estado de necessidade ima-
PUTATIVO
ginário

55
Legítima defesa: conceito e finalidade - A legítima defesa sur-
giu de forma a amparar o agente que se vê em uma situação em que o
Estado não pode de imediato amparar. Devem, portanto, estar presen-
tes os requisitos objetivos e subjetivos da legítima defesa. O conceito de
legítima defesa está presente no art. 25 do Código Penal
Requisitos e elementos:
Injusta agressão: agressão significa ameaça humana de lesão
de um interesse juridicamente protegido. Agressão aqui precisa ser ato
do homem. Logo, não há legítima defesa contra ataque de animais. A
agressão deverá ser também injusta, ou seja, ela não pode, de qualquer
modo ser amparada por nosso ordenamento jurídico.

PROVOCAÇÃO NÃO PODE SER CONFUNDIDA COM


AGRESSÃO INJUSTA. Não há que se falar em legítima defesa quando
houver apenas uma provocação (ou seja, implicâncias que deverão ser
analisadas de acordo com o caso concreto). Deve-se utilizar de critérios
de necessidade dos meios e proporcionalidade da repulsa. No entanto,
aquele que provoca alguém sem o intuito de agredi-lo pode agir na de-
fesa de sua pessoa caso o provocado parta para o ataque.
Atualidade e iminência da agressão: diz –se que a agressão
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

atual é aquela que está acontecendo e agressão iminente é aquela que


embora não esteja acontecendo imediatamente, irá acontecer quase
que imediatamente. Sendo a agressão remota, futura, não há que se
falar em legítima defesa.
Defesa de direito próprio ou de terceiro. Há possibilidade de o
agente defender direito próprio e também de terceiro. No entanto, duas
coisas deverão ser levadas em consideração. A primeira é no sentido de
que se deve levar em consideração o elemento subjetivo do agente, ou
seja, o agente deverá ter animus de agir em legítima defesa. Caso con-
trário, a mesma não poderá ser levada em consideração. Em segundo
lugar, como foi dito no estado de necessidade, o direito a ser defendido
deverá ser indisponível, pois em sendo disponível, terceiro somente po-
derá intervir para defende-lo com a autorização de seu titular.
Meios necessários: são todos aqueles meios eficazes e sufi-
cientes à repulsa da agressão que está sendo praticada ou que está
prestes a acontecer. Para que se possa falar em meio necessário, é pre-
ciso que haja uma proporcionalidade entre o bem que se quer proteger
e a repulsa contra o agressor. O princípio da razoabilidade e o princípio
da proporcionalidade devem ser observados. A reação deverá ser pro-
56
porcional ao ataque. É importante ressaltar ainda que, se o agente tiver
à sua disposição vários meios aptos a ocasionar a repulsa à agressão,
deverá sempre optar pelo menos gravoso.
Moderação no uso dos meios necessários: além de usar os
meios necessários, o agente deverá, ao agir, fazer com moderação,
sob pena de ser punido pelo excesso. A lei quer impedir que o agente,
inicialmente agindo em uma situação amparada pelo direito, ultrapasse
aquilo necessário para cessar a agressão. Para que possamos carac-
terizar a moderação, devemos analisar que é preciso considerar como
marco aquilo que realmente fez com que cessasse a agressão
Bens amparados pela legítima defesa: Inicialmente, majorita-
riamente sustenta-se que todos os bens jurídicos que têm proteção pela
lei pode ter aplicação do instituto da legítima defesa.
Espécies de legítima defesa
Real e Putativa: diz-se real quando a situação de agressão
está efetivamente ocorrendo. Será putativa quando a situação de agres-
são for imaginária, existir somente na mente do agente. Para a teoria
limitada da culpabilidade, o erro sobre uma das causas de justificação
se incidente sobre uma situação de fato, será considerado erro de tipo
permissivo. A legítima defesa putativa é um dos casos clássicos de des-
criminantes putativas, prevista no art. 20§1ºdo Código Penal.
Própria e de terceiro: diz-se que a legítima defesa será própria
quando o agente atua de forma a defender a si mesmo. Será de terceiro

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


quando o agente intervir na defesa de terceira pessoa.
O excesso na legítima defesa
Quando falamos em excesso, significa dizer que inicialmen-
te o agente age amparado por uma causa de justificação. No entanto,
ultrapassa o limite permitido pela lei. Se após fazer cessar a agressão
que estava sendo praticada contra a sua pessoa, o agente não inter-
rompe seus atos e continua com a repulsa, a partir desse momento já
estará incorrendo em excesso. Os resultados surgidos pelo excesso,
por serem ilícitos, serão atribuídos ao agente, que por eles terá que ser
responsabilizado.
Excesso doloso: pode ocorrer em dois casos:
Quando o agente, mesmo depois de fazer cessar a agres-
são, continua o ataque porque quer causar mais lesões ou mesmo a
morte do agressor.
Quando o agente, mesmo depois de fazer cessar a agressão
contra a sua pessoa, acredita que pode prosseguir até o fim (caso em
que estaremos amparados pelo erro de proibição indireto – art. 20 §1º)
Excesso culposo: pode ocorrer em dois casos:
 Quando o agente, ao avaliar mal a situação envolvida, acre-
57
dita estar amparado por uma causa de justificação e em virtude disso,
dá continuidade à conduta. (Ex.: o agente acha que vai ser agredido e
dá um tiro no outro, que acaba falecendo)
 Quando o agente, por erro de cálculo na gravidade do peri-
go, acaba se excedendo.
É a culpa imprópria, caso em que haverá a aplicação do
art. 20§1º. São as descriminantes putativas
Excesso exculpante: ocorre em virtude de medo, surpresa. Ele
pressupõe uma agressão real, atual ou iminente. Antes da reforma de
1984, tinha previsão expressa no Código Penal. Como não mais está
presente, a doutrina e a jurisprudência tratam como causa supralegal de
exclusão da culpabilidade.

LEGÍTIMA DEFESA SUCESSIVA: inicialmente existe uma re-


pulsa a uma agressão injusta. No entanto, aquele que está em legítima
defesa atua com excesso e então aquele que está sendo vítima de uma
agressão que passou a ser injusta poderá agir em legítima defesa.
Legítima defesa real x legítima defesa real – não é admitida
uma vez que a legítima defesa pressupõe uma agressão injusta
 Legítima defesa putativa x legítima defesa real: é perfeita-
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

mente possível. Quando o agente acredita que está atuando em legí-


tima defesa e assim faz uma agressão, essa é injusta e, portanto, é
perfeitamente possível ser repelida.
 Legítima defesa real x Estado de necessidade real: Também
não é possível. Isso porque, aquele que age em estado de necessidade,
pratica uma conduta amparada pelo ordenamento jurídico. Em nenhum
dos dois casos, a conduta é ilícita.
Ofendículos
São aparelhos predispostos para a defesa do patrimônio, da
vida, da integridade física, como é o caso de arame farpado, cacos de
vidro nos muros, cães de guarda. A discussão existe para se saber a
natureza jurídica dos ofendículos. Uma primeira corrente sustenta que
seria caso de legítima defesa preordenada (os instrumentos estariam
pré colocados e somente agiriam quando os bens estivessem sendo
agredidos). A outra corrente sustenta que seria caso de exercício re-
gular de um direito. Importa saber que os ofendículos são aceitos por
nosso ordenamento jurídico.
Sobre a legítima defesa, podemos observar os entendimentos
jurisprudenciais:
58
APELAÇÃO CRIMINAL. RÉU SOLTO. DISPARO DE ARMA
DE FOGO CIRCUNSTANCIADO (ART. 15 C/C ARTS. 6º, INC. I, E 20,
TODOS DA LEI N. 10.826/2003). SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. IRRE-
SIGNAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO ALMEJANDO A RECONSI-
DERAÇÃO DO DECISUM. PRETENSÃO NÃO ACOLHIDA. LEGÍTIMA
DEFESA CARACTERIZADA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVI-
DO. (TJSC, Apelação Criminal n. 0003532-73.2016.8.24.0067, de São
Miguel do Oeste, rel. Des. Júlio César M. Ferreira de Melo, Terceira
Câmara Criminal, j. 10-12-2019).
APELAÇÃO CRIMINAL - DELITO DE LESÃO CORPORAL
GRAVE (CP, ART. 129, § 1º, I E II) - SENTENÇA CONDENATÓRIA.
INSURGÊNCIA DEFENSIVA. PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO PELO RE-
CONHECIMENTO DA TESE DE LEGÍTIMA DEFESA - IMPRESCIN-
DIBILIDADE DE INJUSTA AGRESSÃO E UTILIZAÇÃO DE MEIOS
MODERADOS PARA CESSÁ-LA - LAUDO PERICIAL QUE ATESTA
SEIS LESÕES SOFRIDAS PELA VÍTIMA EM DECORRÊNCIA DO
USO, PELO ACUSADO, DE UMA FACA - GRAVIDADE DAS LESÕES
E INCAPACIDADE TEMPORÁRIA - UTILIZAÇÃO IMODERADA DOS
MEIOS - TESE INADMISSÍVEL. “Exige a legítima defesa que o uso
dos meios necessários seja o suficiente para repelir a agressão.
Pode variar de simples admoestação enérgica até o uso de violên-
cia. Entende-se que, na verdade, o agente deve utilizar, entre os
meios de que dispõe para sua defesa, no momento da agressão,

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


aquele que menor lesão pode causar. Além disso, é necessário que
seja moderado na reação, que não use o meio de forma a cometer
excesso na defesa; só assim estará caracterizada a descriminante”
(Júlio Fabbrini Mirabete e Renato N. Mirabete). PLEITO DE RECO-
NHECIMENTO DO PRIVILÉGIO (CP, ART. 129, § 4º) - INVIABILIDA-
DE - REQUISITOS NÃO PREENCHIDOS - EXISTÊNCIA DE DÚVIDAS
QUANTO À INJUSTA PROVOCAÇÃO - TESTEMUNHA QUE AFIRMAM
A OCORRÊNCIA DE PROVOCAÇÕES MÚTUAS E ANIMOSIDADE
RECÍPROCA ENTRE O ACUSADO E O OFENDIDO. Inviável a aplica-
ção da causa de diminuição de pena prevista no art.. 129, § 1º, do CP,
quando não resta esclarecido quem iniciou as provocações que culmi-
naram em vias de fato. ERRO MATERIAL - CRIME PUNIDO COM RE-
CLUSÃO - MENÇÃO, NA SENTENÇA, DA MODALIDADE DETENÇÃO
- CORREÇÃO DE OFÍCIO. RECURSO CONHECIDO E DESPROVI-
DO. V (TJSC, Apelação Criminal n. 0000558-62.2016.8.24.0035,
de Ituporanga, rel. Des. Getúlio Corrêa, Terceira Câmara Criminal, j.
23-07-2019).

Sobre o tema envolvendo a legítima defesa de animais, Nuc-


59
ci traz em sua doutrina que a proteção conferida pelo ordenamento ju-
rídico aos animais advém de duas fontes: a) lei ambiental, tutelando
animais da fauna brasileira, em particular os ameaçados de extinção; b)
lei de contravenções penais, protegendo qualquer animal contra maus-
-tratos9.
Há quem sustente que a lei ambiental, hoje, tutela todos os
animais, mesmo os domésticos. De qualquer maneira, havendo maltra-
to evidente contra animal, o bem jurídico torna-se visível e específico,
autorizando a legítima defesa. Note-se que o titular do bem é a socie-
dade, pois o animal encontra-se sob o manto protetor da comunidade.
Ele mesmo não é sujeito de direitos. Dito isso, seja pela honestidade pú-
blica ou ética social, como bem jurídico protegido, no cenário da gratuita
agressão a animais, que padecem crueldade, seja pelo meio ambiente,
visando ao não extermínio de exemplares da fauna, cabe legítima de-
fesa.
Estrito cumprimento do dever legal
Conceito e requisitos: como anteriormente já havíamos men-
cionado, o Código Penal não conceitua essa causa de exclusão da ilici-
tude. No entanto, se pegarmos o nome dado à essa excludente, pode-
remos daí extrair os seus elementos.
Primeiramente, há necessidade de que exista um dever legal,
que em geral é dirigido àqueles que fazem parte da Administração Pú-
blica, como por exemplo oficiais de justiça, policiais. Em segundo lugar,
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

para que se fale no cumprimento desse dever, esse deverá se dar nos
exatos termos impostos pela lei. Ultrapassando os limites, já haverá o
excesso e, portanto, haverá a ilicitude.
Como estudamos anteriormente, Zaffaroni sustenta que quan-
do estamos diante de um estrito cumprimento do dever legal, na verda-
de, a tipicidade que deverá ser afastada (pois devemos analisar o orde-
namento jurídico como um todo, em razão daquilo que chamamos de
tipicidade conglobante). Isso porque, não é possível haver uma norma
jurídica que proíba e outra que fomente. Em virtude desse posiciona-
mento é que estaria havendo um esvaziamento das causas de exclusão
da ilicitude.
No entanto, devemos lembrar que isso é apenas um estudo e
no Brasil, o estrito cumprimento do dever legal é analisado como uma
causa de exclusão da ilicitude, devendo assim ser considerado.
Exercício regular de um direito
Conceito e requisitos: também não tem definição no Código
Penal, mas é importante perceber que a própria expressão conceitua. O
9 Nucci, Guilherme de Souza Manual de direito penal / Guilherme de Souza Nucci. – 16.
ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2020.

60
direito poderá ser extraído também dos costumes. É a atuação do agen-
te dentro dos limites conferidos pelo ordenamento jurídico. Exemplos
que podem ser considerados: práticas desportivas violentas (desde que
haja uma atuação dentro do regulamento), castigo que os pais impõem
aos seus filhos menores (desde que seja obedecida uma razoabilida-
de). Configurado o excesso, no entanto, a causa de exclusão da ilicitude
desaparece.
Consentimento do ofendido
Poderá ter dois enfoques: o primeiro, de afastar a tipicidade. O
segundo, de afastar a ilicitude, dependendo do tipo penal que se possa
analisar. Estará afastada a tipicidade se por exemplo, num crime de
invasão de domicílio (art. 150), o morador consentir o ingresso no local;
no estupro, se a mulher consentir a relação sexual. Afastará a ilicitude
se um tatuador fizer uma tatuagem em uma pessoa. O não consenti-
mento no crime de lesão corporal não está descrito no tipo penal.
Essa causa é considerada supralegal porque não tem previsão
expressa em nosso ordenamento jurídico.
Requisitos: para que se possa levar em consideração, alguns
requisitos deverão ser observados:
- o ofendido deverá ter capacidade para consentir – ou seja,
deverá ser maior de 18 anos, que é quando se dá a capacidade plena.
- o bem sobre o qual recaia a conduta do agente deverá ser
disponível: por isso que a eutanásia é punida no nosso ordenamento

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


jurídico. Quanto à integridade física, sendo a lesão causada de natureza
leve, como é o caso da tatuagem, considera-se que o bem será dispo-
nível. Sendo a lesão grave ou gravíssima, haverá a indisponibilidade do
bem.
- o consentimento deverá ser dado anteriormente ou simulta-
neamente à conduta do agente

CULPABILIDADE
Conceito, natureza e fundamento jurídico – Culpabilidade é juí-
zo de reprovação pessoal que recai sobre o autor do fato. Culpabilidade
é reprovabilidade. Inicialmente, pela teoria causalista o dolo e a culpa
integravam a culpabilidade. Entretanto, com o advento da teoria finalista
do delito, o dolo e a culpa foram deslocados para o fato típico e na cul-
pabilidade permaneceram somente os elementos normativos (daí o mo-
tivo da teoria finalista ser conhecida também por teoria normativa pura).
Elementos da culpabilidade: A culpabilidade passou a se cons-
tituir então pela:
Imputabilidade – é a possibilidade de se atribuir a alguém a

61
responsabilidade por algum fato. A imputabilidade é a regra. A inimputa-
bilidade é a exceção.
Potencial consciência da ilicitude – ou seja, se nas condições
que o agente se encontrava, deveria ser possível compreender que o
fato que o agente praticava era ilícito.
Exigibilidade de conduta diversa – é um conceito muito amplo.
É a possibilidade que o agente teria de, no momento da ação ou omis-
são, agir de acordo com o direito. Essa possibilidade varia de pessoa
para pessoa e deverá ser feito o juízo de aferição de acordo com a aná-
lise do caso concreto.
Exemplo: Mãe solitária, que sai para trabalhar e deixa as crian-
ças em casa sozinha. Leva a chave para que as crianças não venham a
sair e nem permitam a entrada de estranhos. Casa na vizinhança pega
fogo e as crianças ficaram impossibilitadas de sair, vindo a óbito.
In casu, reconheceu-se a inexigibilidade de conduta diversa
por parte da genitora, a qual no contexto apresentada, não tinha outra
alternativa. Potencial Consciência da Ilicitude.
A aplicação da pena ao autor de uma infração penal somente é
justa e legítima quando ele, no momento da conduta, era dotado ao me-
nos da possibilidade de compreender o caráter ilícito do fato praticado.
Exige-se, pois, tivesse o autor o conhecimento, ou, no mínimo, a poten-
cialidade de entender o aspecto criminoso do seu comportamento, isto
é, os aspectos relativos ao tipo penal e à ilicitude. Em síntese: o agente
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

precisa ter consciência/conhecimento da ilicitude do fato que está pra-


ticando (consciência fática). É elemento, integrante da culpabilidade.
Sobre o conceito de culpabilidade, vejamos esquemas didáti-
cos trazidos na doutrina de André Estefam para fixar o assunto10:

EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE CULPABILIDADE


Sistema
Sistema Sistema Neo- Sistema Fina-
Funciona-
Clássico clássico lista
lista
- Normativa (ou
- Normativa - Funciona-
Teorias - Psicológica psicológico-nor-
pura lista
mativo)

10 Estefam, André ; Gonçalves, Victor Eduardo Rios Direito penal esquematizado® – parte
geral / André Estefam; Victor Eduardo Rios Gonçalves. – Coleção esquematizado ® / coordenador
Pedro Lenza - 9. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020

62
- Reaprovabi- - Expansão
- Vínculo psi- - Reaprovabilida- lidade do ato da culpabi-
Concei- cológico que de do ato (inte- (composta lidade para
to une o autor grada por dolo e de elementos a noção de
ao fato culpa) puramente responsabili-
normativos) dade
- Culpabili-
dade (impu-
- Imputabili- tabilidade
dade + potencial
- Imputabilidade consciência
- Potencial da ilicitude +
Elemen- - Dolo ou - Dolo ou culpa consciência da exigibilidade
tos culpa ilicitude de conduta
- Exigibilidade de
diversa)
conduta diversa - Exigibilidade
de conduta - Satisfação
diversa de necessi-
dades pre-
ventivas

CULPA
Modalidades (quebra
Culpa consciente x

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


do dever de cuidado Observações
culpa inconsciente
objetivo)
- Havendo concorrên-
- Culpa consciente:
cia de culpas, todos os
com previsão (o agente
que contribuíram com o
prevê o resultado, mas
resultado responderão
- Imprudência, negli- tenta evitá-lo)
por este, na medida de
gência ou imperícia - Culpa inconsciente: sua culpabilidade
sem previsão (o sujeito
- Não há compensação
sequer prevê o resul-
de culpas em Direito
tado)
Penal

AS EXCLUDENTES LEGAIS DA CULPABILIDADE

Inimputabilidade: para que se possa aferir se o agente era, no


momento da ação ou omissão inimputável, o Código Penal utilizou um
critério biopsicológico para definir a inimputabilidade: considera-se inim-

63
putável aquele que , em razão de sua condição mental era, no momento
da prática do fato, totalmente incapaz de entender o caráter ilícito do
fato e determinar-se de acordo com aquele entendimento.
A menoridade – art. 27 do Código Penal: é a inimputabilidade
por imaturidade natural. Ou seja, há uma presunção legal de que os me-
nores de 18 anos não gozam de plena capacidade de entendimento que
lhes permita imputar a prática de um fato típico e ilícito. Ao inimputável
pela menoridade será aplicada uma medida sócio educativa. A prova da
menoridade penal é feita através de certidão de nascimento ou outro
registro que a substitua (como por exemplo, a carteira de identidade).
OBS: Súmula 74 do STJ
Doença mental: previsto tal critério no art. 26 caput do Código
Penal. O desenvolvimento mental incompleto abrange a demência, psi-
cose maníaco depressiva, esquizofrenia, etc. Em se tratando de desen-
volvimento mental incompleto temos os silvícolas ainda não adaptados
à vida em sociedade. Já o desenvolvimento mental retardado abrange
as pessoas oligofrênicas (idiotas, imbecis, débeis mentais).
A semi imputabilidade: ocorre quando o agente, no momento
da ação ou da omissão, encontra-se parcialmente privado de sua capa-
cidade de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acor-
do com esse entendimento. Nesse caso, o agente comete fato típico,
ilícito e culpável. Entretanto, a ele se aplica uma causa de diminuição
de pena.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

Embriaguez
Inicialmente, devemos fazer a divisão entre embriaguez vo-
luntária e involuntária: somente haverá a exclusão da culpabilidade se
houver embriaguez completa involuntária proveniente de caso fortuito
ou força maior: ex: o agente se embriagou porque caiu em um barril
cheio de cachaça; o agente se embriagou porque estava amarrado e foi
obrigado a ingerir bebida alcoólica. Não sendo completa a embriaguez
involuntária, incidirá uma causa de diminuição de pena, de acordo com
o art. 28§2º, II do Código Penal.
Será voluntária a embriaguez quando o agente ingere bebida
alcoólica ou substância de efeitos análogos porque quer. Nesse caso,
mesmo sendo completa, permite a punição, nos termos do art. 28, II
do Código Penal. Isso em virtude da teoria da actio libera in causa.
Significa que há possibilidade de punir o agente, quando ele se coloca
propositalmente com a intenção de produzir o evento lesivo, ou sem
essa intenção previu a possibilidade da ocorrência do resultado. Nesse
caso, haverá para o agente punição a título de dolo se vier a cometer
a infração penal. A embriaguez poderá ser culposa – ocorre quando o
agente ingere quantidade de álcool suficiente que o deixa embriagado
64
por ter inobservado um dever de cuidado. Vindo o agente a causar um
resultado lesivo, será responsabilizado a título de culpa.
OBS: Embriaguez preordenada: art. 61, II do CP – circunstân-
cia agravante – quando o agente se embriaga com o fim de cometer
uma infração penal.
A emoção e a paixão - O art. 28, I prevê que a emoção e a pai-
xão não excluem a culpabilidade
Emoção é uma intensa perturbação afetiva, de breve duração.
Já a paixão é mais duradoura, caracteriza-se por uma afetividade per-
manente. O Código Penal com isso quis punir os crimes passionais (ou
seja, aqueles motivados por violenta paixão ou emoção).
No entanto, conjugados com outros elementos, podem apare-
cer como uma circunstância atenuante da pena (art. 65, III, c) ou como
causa de diminuição de pena (como é o caso do homicídio privilegiado).
Coação moral irresistível e obediência hierárquica – art. 22 do
CP.
Inicialmente, devemos lembrar que a coação prevista no art. 22
é a moral pois a física, como vimos anteriormente, afasta a própria con-
duta do agente, pois não há vontade. Exemplo de coação moral: aquele
que é obrigado a praticar um injusto porque alguém disse que iria matar
sua mãe caso não fizesse. O coagido atua como um mero instrumento
do coator, sendo o coator chamado de autor mediato (pois vale-se de
interposta pessoa para cometer uma infração penal).

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


Quanto à obediência hierárquica, alguns requisitos devem ser
preenchidos:
 ordem proferida por superior hierárquico: hierarquia é pro-
veniente de uma relação de direito público. Não há relação hierárquica
entre particulares.
ordem não pode ser manifestamente ilegal
 o cumpridor da ordem precisa se ater aos limites da ordem
– o agente não poderá extrapolar os limites dessa ordem
Erro de proibição: conceito e formas – o erro de proibição ocorre
quando o agente, por ignorância ou por representação falsa da realida-
de, supõe ser lícito o seu comportamento, quando na verdade o mesmo
é ilícito. O erro de proibição pode ser: direto; indireto ou mandamental.
- direto: o erro do agente recai sobre o conteúdo proibitivo de
uma norma penal. O melhor exemplo que podemos extrair daqui é do
Turista que chega da Holanda no Brasil e acredita que fumar maconha
é permitido no Brasil, tal como acontece em seu país;
- indireto - iremos estudar quando verificarmos o art. 20§1º, no
estudo do erro de tipo;
- mandamental: é aquele que incide sobre o mandamento dos
65
crimes omissivos, sejam eles próprios ou impróprios. Ex.: banhista que
deixa de prestar socorro a uma criança que está se afogando em um rio,
porque acredita que por não ter nenhum vínculo com ela, não estaria
obrigado a isso.
Erro de proibição escusável (invencível) e erro de proibição
inescusável (vencível): sendo o erro invencível ou escusável, isenta o
agente de pena (é, portanto, uma causa de exclusão da culpabilidade).
Sendo o erro vencível, incidirá uma causa de diminuição de pena.
Diferença entre erro de tipo e erro de proibição:
Erro de tipo: recai sobre as circunstâncias que constituem ele-
mentares do tipo penal. É estudado no tipo penal, pois tem o condão
de afastar o dolo. Ex.: aquele que subtrai coisa alheia achando que é
própria.
Erro de proibição: estudado em culpabilidade, pois está na po-
tencial consciência da ilicitude do fato. O agente, por erro, supõe ser líci-
ta a sua conduta. O agente acha que uma conduta proibida é permitida.
Ex.: aquele que acha que pode subtrair coisa alhe
Inexigibilidade de conduta diversa como causa supralegal de
exclusão da culpabilidade.
Causas supralegais são aquelas que não estão expressamen-
te previstas em nosso ordenamento jurídico. No entanto, há aplicação
das mesmas em virtude de princípios do nosso ordenamento jurídico.
A inexigibilidade de conduta diversa vem sendo aceita em nossos tribu-
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

nais porque não existe qualquer proibição de sua aplicação. Exemplo:


no caso de haver uma rebelião de presos, aquele que foi ameaçado de
morte, com medo de morrer, mata aquele que o coagiu. Não haveria
aqui a alegação de legítima defesa porque a ameaça seria futura.

SÍNTESE
são causas que dirimem a reprova-
ção social no tocante àquele que
pratica um fato típico e antijurídico,
impedindo, pois, a consideração de
Excludentes de culpabilidade que houve crime, merecendo o autor
punição. Não há juízo de censura
em relação ao agente que atua pro-
tegido por excludente de culpabili-
dade.

66
é a impossibilidade do agente do
fato típico e antijurídico de com-
preensão do caráter ilícito do fato ou
Inimputabilidade
de se comportar de acordo com esse
entendimento, uma vez que não há
sanidade mental ou maturidade.
é o conjunto de alterações psíquicas
qualitativas, que retiram do indivíduo
Doença mental ou desenvolvimen-
a inteligência ou a vontade, impos-
to mental incompleto ou retardado
sibilitando-o de atuar conforme as
regras do Direito.
é considerada doença mental, nos
Embriaguez decorrente de vício
termos supraexpostos.
cuida-se de imaturidade do agente,
presumida pela lei, aplicável aos
menores de 18 anos, retirando-lhe a
Menoridade
capacidade de compreensão do ilí-
cito ou de comportamento de acordo
com esse entendimento.
cuida-se da hipótese do agente que
atua sem consciência potencial da
Erro de proibição escusável: ilicitude, razão pela qual não deve
sofrer juízo de censura, caso prati-
que um fato típico e antijurídico.
trata-se de excludente de ilicitude

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


imaginária, que retira do agente a
Descriminantes putativas capacidade de atuar conforme o di-
reito, tendo em vista a ausência de
consciência potencial de ilicitude.
cuida-se de situação de inexigibilida-
de de conduta diversa, tendo em vis-
ta que o agente atua sem condições
Coação moral irresistível
de resistir à coação e, em face disso,
de cumprir as regras impostas pelo
Direito, não merecendo censura.
cuida-se de situação de inexigibili-
dade de conduta diversa, tendo em
vista que o agente atua sem condi-
Obediência hierárquica ções de resistir à ordem dada e, em
face disso, de cumprir as regras im-
postas pelo Direito, não merecendo
censura.

67
é a intoxicação do organismo em
função do álcool, sem que o agente
perceba a hipótese de se embriagar
ou quando não tenha como reagir
Embriaguez completa decorrente à ingestão da droga, retirando-lhe a
de caso fortuito ou força maior capacidade de entendimento do ca-
ráter ilícito do fato ou da determina-
ção de acordo com tal compreensão.
Não haverá juízo de reprovação so-
cial, afastando-se a culpabilidade.
significa que o agente, dentro da ra-
zoabilidade, não pôde agir de modo
Inexigibilidade de conduta diversa diverso, seguindo as regras impos-
tas pelo Direito, motivo pelo qual não
pode sofrer juízo de censura.
é uma situação particular de ine-
xigibilidade de conduta diversa,
quando o agente opta salvar bem
Estado de necessidade exculpan-
de menor valor, deixando perecer
te
outro, de maior valor, porque não lhe
era razoável exigir que tivesse outra
atitude.
decorrente de medo, perturbação
de ânimo ou surpresa no ataque, o
agente termina exagerando na rea-
Excesso exculpante
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

ção porque outra conduta não lhe


era razoavelmente exigível no caso
concreto
decorre do fortuito, que não merece
juízo de censura. Portanto, o agente
termina exagerando minimamente
Excesso acidental
na reação, na proteção de bem ju-
rídico, no exercício de um direito ou
no cumprimento de um dever.

68
QUESTÕES DE CONCURSOS

Questão 1
Ano: 2019 Banca:VUNESP Órgão: TJ-AC Prova: Juiz de Direito
Substituto
Assinale a alternativa correta quanto à aplicação da lei penal.
a) Para efeito de análise sobre o local do crime, a legislação brasileira
adota a teoria da ubiquidade.
b) É incabível a aplicação retroativa da Lei n° 11.343/2006, ainda que
o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais
favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n° 6.368/76, per-
mitida, no entanto, a combinação das mencionadas leis para beneficiar
o agente.
c) O Código Penal Brasileiro não adotou o princípio da representação
na eficácia espacial da lei penal.
d) A lei penal mais grave não se aplica ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade
ou da permanência.

QUESTÃO 2
Ano: 2019 Banca: CESPE Órgão: TJ-PR Prova: Juiz Substituto
Nas disposições penais da Lei Geral da Copa, foi estabelecido que

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


os tipos penais previstos nessa legislação tivessem vigência até o
dia 31 de dezembro de 2014.
Considerando-se essas informações, é correto afirmar que a refe-
rida legislação é um exemplo de lei penal
A) excepcional.
B) temporária.
C) corretiva.
D) intermediária.

QUESTÃO 3
Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão: DPE-RO Prova: Defensor Públi-
co Substituto
Doutrinadores nacionais admitem que a reforma de 1984 da Parte
Geral do Código Penal, especialmente no que concerne ao “con-
ceito de crime”, aderiu ao “finalismo”. Quem é considerado o cria-
dor de tal sistema jurídico-penal?
A) Hans Welzel.
B) Claus Roxim.
C) Von Liszt.
69
D) Günther Jakobs.
E) Cesare Beccaria.

QUESTÃO 4
Ano: 2017 Banca: FCC Órgão: DPE-SC Prova: Defensor Público
Substituto
Sobre o iter criminis, é correto afirmar:
A) A aferição do início do ato de execução do crime independe do
elemento subjetivo do tipo.
B) O Código Penal brasileiro adota a teoria subjetiva pura na aferi-
ção do início do ato de execução.
C) A Lei Antiterrorismo (Lei n° 13.260/2016) prevê a punição de atos
preparatórios de terrorismo quando realizado com o propósito ine-
quívoco de consumar o delito.
D) A punição da tentativa de crime culposo depende de expressa
previsão legal.
E) Em verdadeira regressão garantista, o Superior Tribunal de Jus-
tiça firmou entendimento de que a posse mansa e pacífica é neces-
sária à consumação do roubo.

QUESTÃO 5
Ano: 2019 Banca: CESPE Órgão: MPE-PI Prova: Promotor de Jus-
tiça Substituto
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

Assinale a opção que indica a teoria sobre a relação de causali-


dade penal, que define causa como uma condição sem a qual o
resultado não teria ocorrido, sendo um antecedente invariável e
incondicionado de algum fenômeno, sem distinção entre causa e
condição.
teoria da equivalência das condições
teoria da causalidade adequada
teoria da prognose objetiva posterior
teoria da causa próxima ou última de Ortmann

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE

No dia 05 de abril de 2019, por volta das 18h, na Av. República Argenti-
na, n. 000, Bairro Centro, na cidade de Blumenau, Bonavides, locatário
do apartamento de Pedro, deixou o imóvel e levou consigo algumas to-
madas de luz, dois lustres e duas grades de ferro, bens de que detinha
a posse e detenção em razão de contrato de locação. Pedro dirigiu-se
ao imóvel tão logo tomou ciência de que Bonavides havia o abandona-
do sem efetuar o pagamento do último aluguel, bem como constatou
70
a apropriação dos objetos acima descritos, que guarneciam parte do
imóvel conforme descriminado no contrato de locação.
Dos fatos narrados, Bonavides, restou denunciado pelo delito de apro-
priação indébita, previsto no art.168, do Código Penal, tendo a sentença
rejeitado a denúncia sob o fundamento de que sua conduta configurava
mero ilícito civil, não havendo falar em responsabilização penal.
Foi correta a decisão do magistrado? Justifique

TREINO INÉDITO

É correto afirmar que


o Direito Penal deve proteger todos os bens jurídicos na vida em socie-
dade
é possível punir uma conduta moralmente reprovável ainda que não
haja previsão legal
é possível punir o crime de furto praticado contra o companheiro uma
vez que a analogia não será cabível no direito penal
o princípio da intervenção mínima deve ser aplicado para proteger ape-
nas os bens jurídicos mais importantes na vida em sociedade

NA MÍDIA

Jovem estrábica atira em rival, mas mata cliente por engano em bar de

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


Goiânia, diz delegado

Irmão da suspeita também foi preso por envolvimento no crime. Ele con-
fessou homicídio e disse que mulher não tem ligação com assassinato.

A Polícia Civil prendeu a jovem Leonice Moreira de Sousa, de 23 anos,


suspeita de matar por engano José Paixão dos Santos, de 59 anos,
durante uma briga de bar no Jardim Europa, em Goiânia. Segundo o
delegado responsável pelo caso, tudo aconteceu porque a mulher tem
um problema de visão. O irmão da investigada também foi preso por
envolvimento com o crime.

“Ela tem estrabismo e baixa visão. Então ela tentou matar uma mu-
lher no bar por questões de ciúme, mas acertou um cliente que não
tinha qualquer ligação com a história devido a esse problema”, explicou
Dannilo Proto.

O homicídio aconteceu no dia 11 de março deste ano. Leonice e o ir-


mão, Maico Douglas, de 26, estavam em um bar quando a jovem come-
71
çou a discutir com uma outra mulher por ciúmes de um ex-namorado.
Leonice foi agredida e deixou o estabelecimento.

“Ela e o irmão foram buscar duas armas e voltaram atirando contra a


mulher. Ela não foi ferida, mas pelo problema de visão da Leonice, ela
acabou atingindo um homem que estava há uns 20 metros do verdadei-
ro alvo dela”, explicou o delegado.

Leonice nega o crime. Ela informou à polícia que não atirou contra a
vítima e que o autor dos disparos foi o irmão. Ela foi presa no dia 28 de
março. Já o irmão foi preso no último dia 12. Ele confessou o crime e
disse que a jovem não tem qualquer participação no assassinato.

Porém, para a polícia, Leonice foi quem atirou contra José Paixão por
acidente. “Pela dinâmica, pelas testemunhas que estavam no local e
pela posição que nos relataram que a vítima e a suspeita estava, tudo
leva a crer que foi ela mesma quem atirou contra a vítima”, concluiu
proto.

Os dois irmãos vão responder por homicídio qualificado. A pena para


esse crime pode variar de 12 a 30 anos.

Fonte: Globo.com
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

Data: 19 maio 2017.


Leia a notícia na íntegra: https://g1.globo.com/goias/noticia/jovem-es-
trabica-atira-em-rival-mas-mata-cliente-por-engano-em-bar-de-goiania-
-diz-delegado.ghtml

Saiba mais

Filme sobre o assunto: O bicho de sete cabeças (2001)

Acesse o link: http://portal.anvisa.gov.br/rss/-/asset_publisher/Zk4q6U-


QCj9Pn/content/id/5181678

Observação: Sobre a temática, é importante que o aluno note a rele-


vância do assunto dentro do seu campo de atuação.

72
NA PRÁTICA

Virou caso de polícia a suposta mediunidade do agricultor I.A.C., 32.


Denunciado anonimamente à Polícia Militar pelo telefone 190, ele foi
detido por uma guarnição da corporação policial que foi ao endereço, no
bairro Senador Hélio Campos, indicado para checar a denúncia de que
no local estariam sendo feitas cirurgias espirituais e que tal prática se
dava por meio de incisão, causado lesão corporal nas vítimas. Segundo
relatório dos policiais, no local havia cerca de 50 pessoas que espera-
vam para fazer tratamento com o médium. O acusado foi encontrado
vestido de branco, tal como um médico, realizando consulta em uma
suposta paciente dentro de um quarto improvisado como “consultório”.
Como ela não chegou a entrar no quarto, o policial condutor da ocor-
rência disse que não poderia informar que tipo de procedimento o mé-
dium estava realizando na mulher. No local foi apreendido material para
procedimentos cirúrgicos como: lâminas de bisturi, seringas, ataduras,
esparadrapos, luvas cirúrgicas, álcool, algodão, um litro de vinho e tam-
bém um tubo de gel massageador. O agricultor foi conduzido ao Plan-
tão Central 1 da Polícia Civil, onde o delegado plantonista Cid Guima-
rães formalizou um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) contra
o médium, por crime previsto no artigo 284 do Código Penal (exercer
o curandeirismo), que prevê pena de detenção de seis a dois anos.
Ao prestar declaração ao delegado sobre sua prática, o agricultor infor-

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


mou que, quando tinha 12 anos e morava em uma aldeia indígena na
região do Município de Alto Alegre, passou a receber espíritos de médi-
cos falecidos e, a partir de então, começou a realizar curas espirituais,
sendo que seus primeiros pacientes foram os próprios índios da sua
aldeia.Com o passar dos tempos, dezenas de pessoas passaram a ir
à aldeia a sua procura em busca de cura espiritual para suas enfermi-
dades, inclusive vindas de outros estados, o que fez com sua mediuni-
dade ganhasse repercussão.Com relação ao material de uso cirúrgico
apreendido pela polícia, I.A.C. informou que são levados pelos próprios
“pacientes”. Ele confirmou o uso do bisturi em seus atendimentos, mas
alegou que não havia corte. “É feito apenas um pequeno risco no local
onde a pessoa possui o problema”, disse. Acrescentou que, durante o
atendimento, ele entra em transe espiritual e depois não lembra o que
foi feito. Também afirmou que em nenhum momento cobra pelo trata-
mento. A casa onde médium realizava atendimentos pertence a um ami-
go que, segundo ele confirmou, cede um quarto para que ele exerça sua
mediunidade quando vem a Boa Vista. Ainda na terça-feira, depois de
assinar o TCO, o agricultor foi liberado para responder ao procedimento
em liberdade.
73
PARTE GERAL DO CÓDIGO
PENAL
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

CONCURSO DE CRIMES
Conceito: dá-se quando uma só pessoa praticar uma pluralida-
de de delitos (mas nada impede que mais de uma pessoa, em concurso
de pessoas, pratique mais de um delito – concurso de crimes).

Espécies:
- concurso material (art. 69)
- concurso formal (art.70)
- crime continuado (art. 71)

Concurso material ou real de crimes – art. 69 do Código Penal.


O agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes. Repare que o próprio conceito do art. 69 do Código Penal enu-
mera os requisitos e as consequências do concurso material:

- mais de uma ação ou omissão


- prática de dois ou mais crimes

74
E enumera como consequência a aplicação cumulativa das pe-
nas privativas de liberdade.
Não se pode confundir com a unificação das penas. Nesse
caso, as infrações penais teriam sido cometidas em épocas diferentes,
investigadas por meio de processos diferentes, conforme dispõe o art.
66 III, a da Lei de Execução Penal. Unificação é a soma das penas para
que, no momento da execução não se possa ultrapassar o limite de
trinta anos previsto no art. 75 do Código Penal. Para se caracterizar o
concurso material, os crimes deverão ser cometidos dentro de um mes-
mo contexto ou quando houver casos de conexão (CPP – art. 76). No
entanto, essa é uma posição minoritária, em que a corrente majoritária
(que eu não concordo) diz que não há necessidade de conexão entre
as infrações.
E como inserir a regra do concurso material no cálculo da pena?
O juiz deverá encontrar primeiro a pena para cada uma das infrações
isoladamente. Posteriormente haverá a soma das mesmas.
Pela redação do art. 69 podemos concluir que há duas hipóte-
ses diferentes de concurso material, pois o dispositivo menciona “dois
ou mais crimes idênticos ou não” .
Diz-se o concurso material homogêneo quando o agente co-
mete dois ou mais crimes idênticos, podendo ser na sua forma simples
ou qualificada. Será considerado concurso material heterogêneo quan-
do o agente praticar dois ou mais crimes diversos.

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


Concurso formal – art. 70 do CP

A regra do art. 70 foi criada de forma que trouxesse um maior


benefício ao agente. Novamente, o próprio art. 70 apresenta os requisi-
tos e consequências do concurso formal. Os requisitos são

- uma só ação ou omissão


- prática de dois ou mais crimes

Concurso formal homogêneo e concurso formal heterogêneo

Chama-se concurso formal homogêneo quando as infrações


penais cometidas mediante uma só ação ou omissão possuírem a mes-
ma tipificação. Será considerado heterogêneo quando houver mais de
uma infração penal praticada com diversas tipificações (ex.: mata uma
pessoa e fere outra).

Cuidado com a regra do ART. 70 parágrafo único - Por se


75
tratar de uma regra criada para beneficiar o agente, o art. 70 parágrafo
único cria uma regra específica, dizendo que a pena não poderá exce-
der a cabível pela regra do art. 69 do CP. Ou seja, o julgador, antes de
aplicar a pena, deverá aferir se realmente se houver o aumento de pena
previsto, estará beneficiando o acusado ou não: analisa-se, portanto se
esse aumento não ultrapassa a regra do concurso material. Se ultrapas-
sar, as penas deverão ser somadas.

Concurso formal próprio (ou perfeito) e concurso formal impró-


prio (ou imperfeito)

O concurso formal é considerado próprio quando há uma con-


duta culposa na origem e os resultados produzidos são considerados
culposos ou, quando há uma conduta dolosa na origem, mas, em virtu-
de de erro o resultado é imputado culposamente ao agente.

Chama-se concurso formal impróprio quando o agente, me-


diante apenas uma só ação ou omissão, atua de forma a produzir re-
sultados distintos (desígnios autônomos). Essa espécie de concurso
encontra-se na parte final do art. 70 do CP.

Como consequência, pode-se vislumbrar as seguintes, que


irão variar de acordo com a espécie de concurso formal:
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

a) Aplicação da pena mais grave, aumentada de um sexto até a metade, no


caso de concurso formal próprio ou perfeito
b) Sendo as penas iguais, aplicação de só uma, aumentada de um sexto até
a metade, no caso de concurso formal próprio ou perfeito
c) Aplicação cumulativa das penas, se houver desígnios autônomos (ou seja,
vontade de produzir mais de um resultado), no caso de concurso formal im-
próprio ou imperfeito.

Quando da aplicação da pena, a sua variação dependerá do


número de infrações cometidas, ou seja, quanto maior o número de
infrações, maior o percentual de aumento de pena. Frise-se que deverá
haver o cálculo da pena para cada crime isoladamente, uma vez que,
em consonância com a regra do art. 119 do Código Penal, em caso de
concurso de crimes, a prescrição incide para cada crime isoladamente.

Crime continuado – art. 71


Trata-se de uma ficção jurídica (teoria adotada pelo nosso le-
gislador), criada por razões de políticas criminais e surgiu de forma a
beneficiar o agente.
76
Os requisitos estão previstos no art. 71 do Código Penal:

a) mais de uma ação ou omissão


b) dois ou mais crimes da mesma espécie (segundo jurisprudência atual,
crimes da mesma espécie seriam aqueles que se encontram em um mesmo
tipo penal)
c) mesmas condições de tempo, lugar, maneira de execução

Consequências encontram-se também enumeradas no


Código Penal, no art. 71.
Três são as teorias existentes para que se possa reconhecer
a continuação delitiva:

a) Teoria objetiva: adotada pelo Código Penal, prevista no item 59 da Exposi-


ção de Motivos. Sendo essa teoria, para que se reconheça o crime continu-
ado, basta a existência de requisitos objetivos enumerados no art. 71 do CP.
b) Teoria subjetiva – há necessidade de se reconhecer uma relação de con-
texto na conduta criminosa do agente.
c) Teoria objetivo-subjetiva – exige que seja necessário o reconhecimento
das condições objetivas e subjetivas.

Embora a Exposição de Motivos nos apresente a teoria ob-


jetiva, a mais coerente com o nosso sistema penal é a teoria objetivo
subjetiva.

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


CONCURSO DE AGENTES: CONCEITO E REQUISITOS.
Inicialmente, é importante que seja feita uma distinção quanto
ao que são considerados delitos unissubjetivos e delitos plurissubjetivos.
Delitos unissubjetivos (ou de concurso eventual) são aqueles que podem
ser praticados por um agente ou mais de um agente. Exemplos que po-
demos citar são os crimes de furto (art. 155 do CP), homicídio (art. 121 do
CP). São considerados delitos plurissubjetivos (ou de concurso necessário)
aqueles que exigem pelo menos duas pessoas para que se possam confi-
gurar (como é o caso do crime de adultério, do crime de bigamia).
O art. 29 do CP traz aquilo que chamamos de concurso de pes-
soas, ou seja, “quem, de qualquer modo concorre para o crime, incide nas
penas a este cominadas na medida de sua culpabilidade”. Tal art. existe
para os delitos que se chamam unissubjetivos, quando cometidos por mais
de uma pessoa, em obediência ao princípio da legalidade, funcione como
uma norma de extensão. Já no caso dos crimes de concurso necessário,
não há a necessidade de norma de extensão, uma vez que para que a
elementar do tipo já é a existência de mais de uma pessoa.

77
Podemos falar em concurso de pessoas quando duas ou mais
pessoas concorrem para a prática de uma infração penal.

Existem alguns requisitos que deverão ser obedecidos quando


estamos diante de um concurso de pessoas.

deve-se estar diante de crimes unissubjetivos


(ou de concurso eventual)
pluralidade de agentes e de condutas
relevância causal da conduta – ex.: A, desejando matar B, não
encontra sua arma e vai à casa de C pegar emprestado. C empresta
a arma. Antes de ir ao encontro de B, A resolve utilizar uma faca que
encontra em seu caminho e deixa de lado a arma que havia pedido
emprestado a C. A vai ao encontro de B e o mata. A conduta de C foi
relevante para causar a morte de B? Uma vez que o agente já estava
decidido a cometer o crime e não tendo utilizado a arma emprestada
por C, a conduta deste passou a ser irrelevante. Mesmo querendo con-
tribuir, a ausência de relevância faz com que ele não seja responsabili-
zado penalmente
liame subjetivo entre os agentes – vínculo psicológico que une
os agentes. Não havendo liame subjetivo, cada um será responsabiliza-
do isoladamente por sua conduta. É a adesão de vontades, que jamais
poderá ocorrer após a consumação da infração, pois então estaria ca-
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

racterizado delito de favorecimento.


identidade de infração penal – os agentes devem querer prati-
car a mesma infração penal
O Código Penal adota a teoria monista quanto ao concurso
de agentes, no art. 29. Todos aqueles que concorrem para o crime,
incidem nas penas deste cominadas na medida de sua culpabilidade.
Embora o crime seja praticado por diversas pessoas, permanece indivi-
sível. Embora o Código no art. 29 tenha adotado a teria monista, seus
parágrafos se aproximaram bastante da teoria dualista, sendo que, por
esse motivo, muitos dizem que o Código Penal adotou a teoria monis-
ta temperada. O nosso Código Penal traz também algumas exceções
dualistas à teoria monista do concurso de pessoas (como é o caso dos
arts. 124 e 126)
O Código Penal não trouxe conceitos de autor e partícipe. Em
virtude disso, várias teorias surgiram de forma que trouxessem a de-
finição. Foram criados conceitos restritivos e extensivos, tendo poste-
riormente surgido uma posição intermediária, que é a teoria do domínio
final do fato.

78
Conceito restritivo: teoria objetiva - autor seria somente aquele
que pratica a conduta descrita no núcleo do tipo penal. Quem não pra-
ticasse tal conduta seria considerado partícipe. Essa teoria encontrou
diversas dificuldades no que diz respeito à autoria mediata, pois não
seria razoável que aquele que se vale de uma interposta pessoa para
cometer o crime, por não praticar o verbo núcleo do tipo, responder
apenas como partícipe do crime.
Conceito extensivo: teoria subjetiva - tal conceito, ao contrário
do anterior, não distingue o autores de partícipes. Todos que de algu-
ma forma colaboram para a prática do fato são considerados autores.
Para saber se uma pessoa é considerada partícipe, busca-se o elemen-
to subjetivo do agente: a vontade de ser autor (ou seja, o agente quer
o fato como próprio) e a vontade de ser partícipe ( o agente quer o fato
como alheio).
Teoria do domínio do fato: considerada uma teoria objetivo sub-
jetiva. Aquele que realiza a conduta descrita no tipo penal tem o poder
de decidir se irá até o fim com o plano criminoso, ou, por ter o domínio
do fato, deixar de lado a empreitada criminosa. É aquele que poderá
definir o “se” e o “como” acontecerá a infração penal. Aqui, é importante
ressaltar que a divisão do trabalho deverá ser fundamental.

Coautoria
Quando pensamos em coautoria, nos vem em mente a questão

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


da divisão de tarefas, divisão do trabalho. São coautores todos aqueles
que têm o domínio funcional do fato, ou seja, aqueles que têm uma
participação importante e necessária ao cometimento de uma infração.
Cada agente terá o domínio no que diz respeito à função que lhe fora
confiada no grupo.

Autoria mediata – hipóteses


Antes de falarmos da autoria mediata, devemos primeiro refle-
tir quanto ao conceito de autoria direta: autor direto é aquele que dolo-
samente e pessoalmente executa a infração penal
Chama-se autor mediato ou indireto aquele que se vale de in-
terposta pessoa para praticar a infração penal. Essa pessoa funciona
como um instrumento para a prática do crime. Para se falar em auto-
ria mediata ou indireta, há necessidade de que o autor mediata tenha
controle sobre a situação (ou seja, tenha o domínio do fato). No Código
Penal há previsão de quatro casos de autoria mediata, a saber:

Erro determinado por terceiro – art. 20 §2º do CP – enfermeira que aplica in-
jeção em um paciente achando que era remédio porque o médico prescreveu

79
e na verdade era veneno
Coação moral irresistível (art. 22 primeira parte) – alguém ameaça matar sua
mãe se você não subtrair valores de uma agência bancária
Obediência hierárquica (art. 22 segunda parte) – um detetive prende alguém
por ordem do delegado
Instrumento impunível em virtude de condição ou qualidade pessoal (art. 62,
III, segunda parte) – quando o agente se vale de menores ou de inimputáveis.

Autoria incerta, ignorada (ou desconhecida) e colateral

Recordando os elementos caracterizadores do concurso de


pessoas, temos que há necessidade de se comprovar a existência de
um liame subjetivo, um vínculo psicológico entre os agentes. Não ha-
vendo esse vínculo, não podemos falar em concurso de pessoas.

 Autoria colateral é aquela em que dois agentes atuam em


condutas convergentes, mas não possuem um vínculo subjetivo. Ex: A
e B pretendem matar C, mas um não sabe da intenção do outro e vice
versa. A e B se escondem atrás de uma moita e quando C passa ambos
atiram, sem que um soubesse da existência do outro. Nesse caso, por
não estar presente o liame subjetivo, não há que se falar em concurso
de pessoas. Não sendo possível apurar o autor dos disparo fatal, ambos
responderão por tentativa. Mas perceba a diferença: se houvesse con-
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

curso de pessoas, ambos responderiam pelo crime consumado, mesmo


se não soubesse quem foi o autor do disparo fatal.

 Autoria incerta: surge da autoria colateral: na autoria incer-


ta, sabe-se quem são os possíveis autores, mas não se sabe ao certo
quem foi o produtor do resultado.

 Autoria desconhecida ou ignorada: ocorre quando não se


conhece a autoria, ou seja, quando não se tem idéia de quem tenha
praticado a infração penal.
Os partícipes são aqueles que exercem papéis secundários
numa conduta criminosa, mas influenciam em sua prática. São espécies
de atores coadjuvantes. Para que exista a participação, há necessidade
de uma conduta principal (que é a autoria). Logo podemos concluir que
a participação é sempre uma conduta acessória, e, portanto, depende
sempre de uma conduta principal. Ver art. 31 do CP. Se o autor do crime
não tiver ao mínimo iniciado a execução, não há que se falar em parti-
cipação.

80
Espécies de participação: pode ser moral ou material. A par-
ticipação é dita como moral nos casos de induzimento (determinação)
– quando o agente faz brotar na cabeça da pessoa a idéia criminosa e
instigação (quando há o incentivo para a prática da infração penal, o
agente reforça a idéia que já existia anteriormente). Mas a instigação
deverá ser decisiva no sentido de determinar a execução da infração
penal. A conduta dolosa do partícipe deve ser à prática de uma deter-
minada infração penal. Isso é importante porque, se o agente incitar à
prática de um crime à pessoas indeterminadas, não estará agindo como
partícipe e sim será autor do crime do art. 286 do CP.

Diz-se material a participação quando o agente fornece ins-


trumentos para que o autor venha a praticar o crime: ex: aquele que
empresta uma escada, o que empresta uma arma.

A participação por omissão

Majoritariamente, entende-se que a participação moral não é


suscetível de se realizar por omissão. Não é possível imaginar uma
pessoa, sem nada fazer colocar uma idéia na cabeça de alguém, ou
simplesmente reforçar uma idéia existente.

No caso de participação material é possível imaginar a coni-

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


vência (participação por omissão), pois a omissão do partícipe contribui
para a ocorrência da infração penal. Para que haja essa modalidade
de participação, no entanto, o partícipe NÃO poderá estar no lugar de
um agente garantidor, pois se assim estiver, será considerado autor da
infração penal. Quem tiver o dever de impedir o resultado é considerado
agente garantidor.

A punibilidade no concurso de pessoas

O art. 29 do CP menciona que, quem de qualquer modo con-


correr para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de
sua culpabilidade. Culpabilidade significa juízo de censura, reprovabi-
lidade. Isso quer dizer que quando estamos diante da prática de uma
infração penal em concurso de pessoas, a conduta de uma delas é mais
censurável do que a outra, razão pela qual deverá ser punida mais se-
veramente. É importante ressaltar que todos os que concorreram para
a prática da infração respondem pelo mesmo tipo penal, no entanto, a
culpabilidade de cada um deverá ser diferenciada.

81
Se A e B resolverem furtar uma pessoa, sendo A pelo espírito
de aventura e B por estar passando fome, é claro que a conduta de A
deverá ser punida de forma mais grave do que a de B, embora ambos
respondam pelo crime de furto.

Cooperação dolosamente distinta – desvios entre os par-


ticipantes

O art 29 § 2º do CP traz aquilo que chamamos de mitigação da


teoria monista ou unitária do concurso de pessoas. Ou seja, aquele que
concorreu para infração penal somente responderá por aquilo que efe-
tivamente queria cometer (ou seja, somente responderá pelo seu dolo)
e não responderá por eventual desvio de conduta do autor executor.
Então, se A e B ao se ajustarem na prática de um furto em uma resi-
dência, A fica do lado de fora tomando conta e B ingressa na residência
e ao chegar lá estupra uma mulher, A não poderá responder pelo crime
de estupro. O desvio subjetivo da conduta levada a efeito pelo executor
não fará com que A responda pelo delito por ele não pretendido inicial-
mente.

O ART. 29 §2º PERMITE ESSE RACIOCÍNIO PARA OS CA-


SOS DE COAUTORIA E PARTICIPAÇÃO.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

Concurso de agentes em crimes culposos

Existe controvérsia acerca da possibilidade de concurso de


pessoas nos crimes culposos, pois no crime culposo o agente inobser-
va um dever de cuidado objetivo, praticando o crime por imprudência,
negligência ou imperícia.

a) coautoria em delitos culposos – modernamente, a tendência é aceitar essa


possibilidade, pois basta que duas pessoas deixem de observar um dever de
cuidado objetivo que caberia a ambas. Ex.: em uma obra, dois trabalhadores
jogam um saco de cimento do alto e acertam uma pessoa, que vem a falecer.

b) participação em crimes culposos – a tendência quase unânime é em re-


chaçar essa possibilidade. Existem hipóteses bem discutidas que são a parti-
cipação culposa em crime culposo e a participação dolosa em crime culposo.
No primeiro exemplo, Damásio cita a possibilidade de A emprestar uma arma
para B, dizendo estar descarregada e faz com que B acione o gatilho e mate
C. Na verdade, Damásio claramente se equivocou ao dizer que A responde
por homicídio doloso e B por homicídio culposo, pois estamos diante da situ-
ação de erro determinado por terceiro do art. 20 §2º do CP.

82
Em se tratando da participação culposa em crime culposo, há
o tradicional exemplo de que o carona induz o motorista a ultrapassar
o limite permitido de velocidade, e o motorista vem a atropelar alguém.
Para Rogério Greco, nesse caso, é possível se falar em participação
culposa em crime culposo. César Roberto Bittencourt e Nilo Batista no
entanto, rechaçam veementemente a possibilidade de participação em
crime culposo, sendo ela culposa ou dolosa.

O concurso de agentes nos crimes omissivos

Inicialmente, devemos recordar o que vem a ser omissão pró-


pria de omissão imprópria. Nos casos de crimes omissivos próprios,
o Código Penal pune simplesmente a inação do agente (ex.: art. 135
do CP), não se exigindo um resultado naturalístico. O tipo penal nesse
caso descreve uma conduta negativa. Nos crimes omissivos impró-
prios, em razão do art. 13§2º do CP, exige-se a produção do resultado
naturalístico em virtude da inação dos agentes garantidores (aqueles
que tinham o dever de agir, elencados nas alíneas do art. 13§2º).

Depois de fazermos um breve resumo dos crimes omissivos


próprios e impróprios, indagamos: seria possível falar em concurso de
pessoas em crimes omissivos? Devemos, assim como nos crimes cul-
posos, analisar duas situações:

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


a) coautoria em crimes omissivos – para Nilo Batista não é possível, uma vez
que cada agente possui o seu dever de agir. Se duas pessoas deixam de agir
quando estão obrigadas, segundo esse doutrinador, estamos diante de au-
toria para cada um, individualmente. Em sentido contrário temos Cezar Ro-
berto Bittencourt e Rogério Greco – há consciência e vontade de realizar um
empreendimento comum (ou melhor, de não realizar esse empreendimento).
O raciocínio é o mesmo para os crimes comissivos, ou seja, a existência ou
não de um liame subjetivo.

b) participação em crimes omissivos – na verdade, devemos encarar como


uma dissuasão, ou seja, o partícipe dirige sua conduta de forma a fazer com
que o autor não pratique a conduta a que estava obrigado. Peguemos um
exemplo de que um paraplégico induz um surfista a não salvar uma pessoa
que viesse a se afogar. O paraplégico não pode ser autor de um crime de
omissão de socorro porque não tinha condições de entrar no mar sem se co-
locar em risco pessoal. E age de forma a permitir que o surfista atue. Nesse
caso podemos vislumbrar um caso de participação em um crime de omissão
de socorro. E Cezar Roberto entende que isso também é possível no caso de
omissão imprópria. Mas é importante que a gente lembre que Juarez Tavares
rechaça essa possibilidade.

83
As circunstâncias incomunicáveis

O art. 30 do CP diz que não se comunicam as circunstâncias e


condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. Da-
qui, concluímos que a regra é a incomunicabilidade das circunstâncias
e condições de caráter pessoal. Ex.: A e B matam o pai de A. Haverá
uma agravante para A, que é cometer crime contra ascendente, que não
incidirá sobre B, pois trata-se de uma circunstância de caráter pessoal.

No entanto, se for elementar do crime, a circunstância irá se


comunicar. Ex: caso do peculato – art. 312 do CP, em que o particular
conhecia a condição de funcionário público do outro agente, e ambos
subtraem um computador de uma repartição pública. IMPORTANTE: A
REGRA DO ART. 30 SERÁ APLICADA SE O AGENTE TEM CONHECI-
MENTO DA ELEMENTAR (no caso em questão, da condição de funcio-
nário público do agente)

APLICAÇÃO DA PENA
Trata-se de um tema de enorme relevância e bastante explora-
do pois pode aparecer nas peças processuais bem como em questões.
As peças que exigem domínio da técnica da aplicação da pena são me-
moriais (uma vez que deve-se saber, em caso de não absolvição do réu,
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

aquilo que pode ou não ser levado em consideração pelo magistrado


em sua sentença) , apelação e contrarrazões de apelação.

O critério adotado pelo Código Penal é chamado de trifásico


porque é composto de três etapas, que são as seguintes:
1º) Consideram-se, inicialmente, as circunstâncias judiciais do
art. 59 para encontrar a pena-base, entre a quantidade mínima e má-
xima de pena imposta em abstrato no tipo penal básico ou qualificado
– pena-base.
2º) Aplicam-se, então, as circunstâncias atenuantes e agravan-
tes, previstas nos arts. 61, 62, 65 e 66 – Nessa fase, temos aquilo que
chamamos de pena intermediária ou pena provisória.
3º) Por último, aplicam-se as causas de diminuição e aumento
de pena, previstas na parte especial e na parte geral do Código Penal,
chegando-se à pena definitiva.

O maior desafio na aplicação da pena é que não seja feito um


bis in idem, pois muitas vezes, o que aparece como elementar, pode

84
aparecer como circunstância judicial, agravante e causa de aumento,
por exemplo. Assim, deve-se lembrar do seguinte:

Ao realizar a capitulação delitiva, tenha cuidado em observar


as elementares (tudo aquilo que se for suprimido do tipo penal, torna-se
um crime diferente, ou deixa de existir como crime) e as qualificadoras
(tudo que se agregue ao tipo penal simples e que venha a criar uma
penalidade autônoma).

Vale ressaltar que ao levar em consideração a elementar ou a


qualificadora, não mais poderá aparecer nas fases da dosimetria, pois
caso contrário, acontecerá um bis in idem.

Apesar de a primeira fase tratar das circunstâncias judiciais do


art. 59 do Código Penal, pode-se dizer que as oito circunstâncias enu-
meradas pelo legislador são residuais. Ou seja, somente serão levadas
em consideração para movimentar a pena-base caso não apareçam
como elementares, qualificadoras, causas de aumento e/ou diminuição,
agravantes nem atenuantes.

Após analisar as circunstâncias judiciais, o juiz deverá levar em


consideração as circunstâncias atenuantes (65 e 66 do CP) e agravan-
tes (61 e 62). Essas somente poderão ser valoradas se não aparecerem

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


como elementares, qualificadoras, causas de aumento e/ou diminuição.

Por fim, analisa-se as causas de aumento e diminuição de


pena. Essas causas possuem um quantum especificado e a sua valo-
ração levará em consideração as condições do caso concreto e não a
sua gravidade em abstrato. Vale lembrar que o Código Penal autoriza
que no concurso de causas de aumento ou diminuição apenas da parte
especial, o juiz pode limitar-se a um só aumento ou a uma só dimi-
nuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou diminua.
Essa faculdade não é permitida quando houver concurso de causas de
aumento e diminuição da parte geral

Premissas para a dosimetria da pena:

- A utilização do critério trifásico é obrigatória


- A dosimetria deve levar em consideração tantos quantos fo-
rem os réus e tantos quantos forem os crimes cometidos em obediência
ao princípio da individualização das penas;
- Deve-se analisar cada uma das circunstâncias judiciais e de
85
preferência na ordem do art. 59, CP, fundamentando-as, ainda que não
tenha motivos para se afastarem do mínimo legal;
- A pena-base não pode ser fixada abaixo do mínimo legal nem
acima do máximo;
- A presença de atenuantes não pode diminuir a pena abaixo
do mínimo legal;
- A presença de agravantes não pode elevar a pena acima do
máximo legal;
- As causas de diminuição e aumento de pena incidem sobre a
pena que foi encontrada pela segunda fase da dosimetria, e não sobre
a pena-base, fixada na primeira fase;
- A presença de causa de diminuição de pena pode trazer a
pena abaixo do mínimo legal assim como a presença de causa de au-
mento de pena pode elevar a pena acima do máximo legal.

CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS (ART. 59, CP) – o que deverá


ser observado na fixação da pena-base

1. CULPABILIDADE
2. ANTECEDENTES
3. CONDUTA SOCIAL
4. PERSONALIDADE
5. MOTIVOS DO CRIME
6. CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

7. CONSEQUÊNCIAS DO CRIME
8. COMPORTAMENTO DA VÍTIMA

As circunstâncias judiciais recebem essa denominação por se-


rem de apreciação exclusiva e reservada do julgador, o qual usará de
seu poder discricionário na avaliação de cada uma. O Juiz motivada-
mente e concretamente irá determinar se terão carga positiva ou nega-
tiva, ao contrário das demais circunstâncias que têm sua valoração pre-
viamente determinada pelo legislador. A quantidade de pena que deverá
ser aplicada ficará também a critério do magistrado, que deverá tomar
cuidado quando na observância do princípio da proporcionalidade.

“Não pode o magistrado sentenciante majorar a pena-base


fundamentando-se, tão somente, em referências vagas, sem a indica-
ção de qualquer circunstância concreta que justifique o aumento, além
das próprias elementares comuns ao tipo” (STJ, HC60524/PR).
A gravidade do delito a ser levada em consideração é relativa
ao caso concreto e não relativa à gravidade abstrata do delito, uma vez
que essa já foi assim considerada pelo legislador no momento que criou
86
a figura típica.
ANÁLISE DAS CIRCUNSTÂNCIAS LEGAIS
Na segunda fase, haverá a análise das atenuantes e agravan-
tes. O art. 68, CP fala primeiro das atenuantes e depois das agravantes.
O CP trata de agravantes e atenuantes, havendo uma preponderância
entre algumas, mas não há fixação de quanto de exasperação, fican-
do a critério do magistrado. A doutrina e a jurisprudência caminham no
sentido de que o magistrado deve valorar em 1/6, entendendo a juris-
prudência que o juiz deve observar o mínimo e o máximo do preceito
secundário (Súmula 231, STJ).

As preponderantes - De acordo com o art. 67, no concurso de


agravantes e atenuantes, a pena deve se aproximar do limite indicado
pelas circunstâncias preponderantes. Art. 67 - No concurso de agravan-
tes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas cir-
cunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam
dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da
reincidência.

As circunstâncias preponderantes são aquelas que resultam:

• dos motivos do crime,


• da personalidade do agente e
• da reincidência.

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


Entre as circunstâncias preponderantes, a própria jurisprudên-
cia fixou critérios de prevalência.

• atenuante que mais prepondera: menoridade (menor de 21 anos) ou a se-


nilidade (maior de 70 anos);
• segunda que mais prepondera: reincidência;
• após: agravantes e atenuantes subjetivas;
• por último: agravantes e atenuantes objetivas;

As atenuantes, em regra, atenuam a pena. Há algumas exce-


ções em que as atenuantes não atenuam, e uma delas é o caso em que
não incide a atenuante quando a circunstância já constitui ou privilegia o
crime, como é o caso do homicídio privilegiado em que a pessoa come-
te o crime por motivo de relevante valor moral ou social. Nesse caso, o
privilégio abrange a atenuante, hipótese em que a atenuante não deve
ser aplicada. Nesse sentido, é a posição da jurisprudência dos Tribu-
nais Superiores. Nos termos da Súmula 232 do STJ, a incidência de
uma circunstância atenuante não pode ficar abaixo do mínimo legal. A

87
atenuante incide em todos os crimes: doloso, culposo ou preterdoloso.

São circunstâncias atenuantes:

• ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (se-


tenta) anos, na data da sentença condenatória de 1o grau;
• desconhecimento da lei;
• ter o agente cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral;
• ter o agente procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo
após o crime, evitar- lhe ou minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do
julgamento, reparado o dano;
• ter o agente cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cum-
primento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta
emoção, provocada por ato injusto da vítima;
• ter o agente confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria
do crime;
• ter o agente cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se
não o provocou.

Circunstância atenuante inominada: Segundo o art. 66, a pena


poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, ante-
rior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei.
A doutrina traz o exemplo da coculpabilidade, em que a sociedade teria
contribuído pela prática de um crime, razão pela qual deveria incidir
essa circunstância inominada. Ex.: o indivíduo nunca estudou, não teve
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

acesso à saúde, moradia, era dependente químico desde a infância,


etc. Estado esteve ausente durante este tempo, mas quando o sujeito
comete crime, atua para aplicar-lhe reprimenda. Perceba que a socie-
dade tem parcela de culpa pela situação na qual chegou o sujeito. “É im-
possível catalogar num texto legal todos os fatos que poderão ocorrer,
futuramente, na sociedade. Sua configuração dependerá de tratar-se de
circunstância relevante.” BITENCOURT. (Cezar Roberto, Código Penal
Comentado, Saraiva, 5ª Ed., 196)

Análise das circunstâncias legais (agravantes)

Há um rol taxativo, eis que o direito penal não admite analogia


in malam partem. As agravantes, via de regra, só vão incidir em crimes
dolosos (e não nos culposos), mas há a exceção da reincidência. Ou
seja, o indivíduo que fica cometendo crimes culposos reincidentemente
deverá sofrer essa agravante. Além disso, apesar do rol dizer que inci-
de apenas sobre crimes, entende a doutrina e jurisprudência que pode
incidir também sobre as contravenções penais.

88
Segundo o art. 61 do CP, as circunstâncias que sempre agra-
vam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime são conside-
radas agravantes:

• reincidência
• cometido o crime por motivo fútil ou torpe
• cometido o crime para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a
impunidade ou vantagem de outro crime
• cometido o crime à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou
outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido • co-
metido o crime com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro
meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum
• cometido o crime contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge
• cometido o crime com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a
mulher na forma da lei específica
• cometido o crime com abuso de poder ou violação de dever inerente a car-
go, ofício, ministério ou profissão
• cometido o crime contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou
mulher grávida
• cometido o crime quando o ofendido estava sob a imediata proteção da
autoridade • cometido o crime em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação
ou qualquer calamidade pública, ou de desgraça particular do ofendido
• cometido o crime em estado de embriaguez preordenada

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


Análise das causas de diminuição e de aumento de pena:

Causas de aumento: também são chamadas de majorantes


e causas de diminuição: também são chamadas de minorantes; Pata-
mares fixos ou em intervalos de valores determinador pelo legislador:
Quando estivermos diante de causas de diminuição ou de aumento de
pena previstas em patamares fixos, deverá o julgador aplicá-la sobre a
pena resultado da segunda fase da dosimetria.
Por sua vez, se estivermos diante de causas de diminuição ou
de aumento de pena previstas entre patamar mínimo e máximo abstra-
tamente cominado, deverá escolher a fração de forma fundamentada e
a partir
da análise individualizada do caso concreto.
Concurso de crimes não se configura causa de aumento de
pena. Caso esteja presente, sua incidência ocorrerá em momento pos-
terior, uma vez que no concurso de crimes, as penas incidem sobre
cada crime isoladamente. Podem ser causas de aumento e de diminui-
ção previstas na parte geral ou parte especial:

89
As causas de aumento e diminuição presentes na parte geral
se aplicam a todos os crimes, inclusive aos tipificados em leis penais
extravagantes, enquanto que as previstas na parte especial se aplicam
tão somente aos delitos que integram, ou seja, ao tipo penal que se
referem.
Não se confundem com qualificadoras. As qualificadoras
alteram a própria pena em abstrato prevista ao delito, dando-lhe maior
importância, maior gravidade e relevo. A pena em abstrato do crime
qualificado é sempre maior do que a prevista ao delito simples, sendo
que o julgador deixa de aplicar a cominada ao caput para incidir a forma
qualificada.

As causas de aumento são aplicáveis tão somente na terceira


fase da dosimetria da pena em valor ou intervalo determinado pelo le-
gislador.
No caso de haver de várias qualificadoras: o que fazer? “... A
valoração negativa das circunstâncias judiciais deve ser justificada por
elementos idôneos, de nada servindo argumentos genéricos e despro-
vidos de conteúdo. Se o réu é condenado por homicídio duplamente
qualificado, uma das qualificadoras pode ser considerada agravante
genérica, enquanto a outra componha o tipo qualificado, consoante re-
mansosa jurisprudência. 4 Apelação acusatória desprovida e provimento
parcial da defensiva”. (Acórdão n. 557393, 20100910063329APR, Rela-
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

tor GEORGE LOPES LEITE, 1ª Turma Criminal, julgado em 07/11/2011,


DJ 25/01/2012 p. 141)

A posição jurisprudencial dominante é no sentido de que em


havendo duas ou mais qualificadoras previstas em uma situação con-
creta, apenas uma servirá para tipificar o delito – promovendo a altera-
ção da pena em abstrato – enquanto as demais deverão ser apreciadas
e valoradas como circunstâncias agravantes – segunda fase (se como
tal previstas) ou nas circunstâncias judicias – primeira fase (se não hou-
ver previsão como agravante. Nesta última hipótese, deverão incidir na
circunstância judicial que melhor guardar correspondência (STJ, HC
70594/DF)

Na terceira fase da dosimetria a pena pode ser estabelecida


aquém do mínimo legal ou além do máximo legal.

Individualização da pena: causa especial de aumento ou di-


minuição. “Ao contrário das atenuantes ou agravantes genéricas, que
diminuem ou elevam a pena-base, nos limites da escala – as causas es-
90
peciais de diminuição podem reduzi-la aquém do mínimo, assim como
as causas de aumento podem alçá-la acima do máximo cominado ao
crime...” STF HC 85673. Havendo mais de uma causa de aumento e/ou
diminuição, como aplicá-las?

Análise artigo 68, parágrafo único, CP: “no concurso de causas


de aumento ou de diminuição previstas na parte especial (parte espe-
cial Código Penal ou leis extravagantes), pode o juiz limitar-se a um só
aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que
mais aumente ou diminua”

O juiz, ao prolatar a sentença condenatória, deverá fixar o re-


gime no qual o condenado iniciará o cumprimento da pena privativa de
liberdade. A isso se dá o nome de fixação do regime inicial. Os critérios
para essa fixação estão previstos no art. 33 do Código Penal. Ao fixar
o regime inicial do cumprimento da pena privativa de liberdade, deve
observar quatro fatores:

1) o tipo de pena aplicada: se reclusão ou detenção;


2) o quantum da pena definitiva;
3) se o condenado é reincidente ou não;
4) as circunstâncias judiciais (art. 59, do CP).

Por fim, é importante salientar que antes da alteração legis-

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


lativa advinda com a Lei nº 13.964/2019, o antigo artigo 75 do Código
Penal trazia a seguinte redação “Art. 75. O tempo de cumprimento das
penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos.
§ 1º - Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade
cuja soma seja superior a 30 (trinta) anos, devem elas ser unificadas
para atender ao limite máximo deste artigo”, todavia, após a mudança
da lei denominada Pacote Anticrime, a legislação atual prevê que
“Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade
não pode ser superior a 40 (quarenta) anos. § 1º Quando o agente for
condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a
40 (quarenta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite
máximo deste artigo”.
Outrossim, outra importante alteração trazida pela lei supra-
mencionada para ser tratada neste tópico seria que, antes da Lei nº
13.964/19, não existia algum artigo que mencionasse algo sobre os
efeitos da condenação, no entanto, a Lei nº 13.964/2019 trouxe o novo
artigo 91-A do Código Penal que diz:

91
“Art. 91-A. Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei comine
pena máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão, poderá ser decretada
a perda, como produto ou proveito do crime, dos bens correspondentes à
diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja com-
patível com o seu rendimento lícito.
§ 1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, entende-se por
patrimônio do condenado todos os bens:
I - de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o
benefício direto ou indireto, na data da infração penal ou recebidos poste-
riormente; e
II - transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação irri-
sória, a partir do início da atividade criminal.
§ 2º O condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou
a procedência lícita do patrimônio.
§ 3º A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo
Ministério Público, por ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação
da diferença apurada.
§ 4º Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da diferença
apurada e especificar os bens cuja perda for decretada.
§ 5º Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações
criminosas e milícias deverão ser declarados perdidos em favor da União ou
do Estado, dependendo da Justiça onde tramita a ação penal, ainda que não
ponham em perigo a segurança das pessoas, a moral ou a ordem pública,
nem ofereçam sério risco de ser utilizados para o cometimento de novos
crimes”.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

Vejamos a aplicação da pena na prática, para isso, segue mo-


delo de sentença retirado de prova de concurso público para magistra-
tura transcrita na doutrina de Marcelo Yukio Misaka11.
183.º CONCURSO DE INGRESSO NA MAGISTRATURA-TJ/
SP. 2.ª PROVA ESCRITA – PRÁTICA DE SENTENÇA PENAL.
Com base nas informações a seguir, proferir sentença obser-
vando as disposições dos artigos 381 e seguintes, do Código de Pro-
cesso Penal, no que forem aplicáveis, inclusive fornecendo a correta
tipificação dos fatos.
Considerar, na prolação da sentença, que o acusado M.P. foi
agraciado com a liberdade provisória, sem fiança, e respondeu ao pro-
cesso em liberdade, e que o corréu F.Q. permaneceu preso durante a
instrução, em razão de lhe ter sido indeferido idêntico benefício pelo
Magistrado, por ser reincidente em crime de roubo.
F.Q., com qualificação nos autos, foi processado porque, se-
gundo a denúncia, no dia 22 de março de 2011, por volta das 23h00, na
rua das Samambaias, n.º 57, Vila Diamantina, em São Paulo, SP, em
11 Misaka, Marcelo Yukio Sentença criminal / Marcelo Yukio Misaka ; coordenação Cleber
Masson. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014.

92
concurso com o adolescente R.O.S. e mediante grave ameaça exercida
com o emprego de arma de fogo, subtraiu de F.A., proprietário do “Bar
da Estrada”, a quantia de R$ 500,00, em dinheiro, e de L.J. e T.J., fre-
quentadores do estabelecimento, um relógio de pulso e um aparelho de
telefonia celular, respectivamente.
M.P., com qualificação nos autos, também foi processado por-
que, segundo a denúncia, levou F.Q. e o adolescente R.O.S. em seu
veículo, até as imediações do local dos fatos, onde permaneceu vigian-
do e também para lhes propiciar fuga, concorrendo, assim, para os cri-
mes.
A denúncia foi oferecida com base em inquérito policial iniciado
por auto de prisão em flagrante. A autoridade policial que presidiu o auto
de flagrante determinou a apreensão dos bens subtraídos e da arma de
fogo, que estava municiada, constatando-se, mediante perícia, que era
apta para a realização de disparos.
A denúncia foi recebida no dia 25 de abril de 2011 e F.Q. e M.P.,
citados pessoalmente para responderem à acusação, apresentaram as
respectivas defesas preliminares.
Afastada a possibilidade de absolvição sumária, o Magistrado
designou audiência de instrução e julgamento para o dia 5 de julho de
2011, às 14h00, na qual foram tomadas as declarações das vítimas F.A.,
L.J. e T.J., inquiridos os policiais militares G.M. e R.C. e o adolescente
R.O.S, arrolados pela acusação, as testemunhas L.B. e I.B., arroladas

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


pela Defesa de M.P., e interrogados os acusados.
As vítimas F.A., L.J. e T.J. reconheceram no corréu F.Q. um dos
autores das subtrações e relataram que ele estava acompanhado do
adolescente R.O.S., que os ameaçou com uma arma de fogo, enquanto
F. subtraía seus pertences, acrescentando que desconheciam qual o
meio utilizado por eles para irem ao local dos fatos. Esclareceram que
F. e o adolescente foram presos pouco depois, por policiais militares, e
que recuperaram o dinheiro e os demais bens subtraídos.
Os policiais militares G.M. e R.C. confirmaram a detenção do
corréu F.Q. e a apreensão do adolescente R.O.S. no momento em que
ambos caminhavam na direção de um veículo parado na via pública,
perto do “Bar da Estrada”, ao lado do qual se encontrava o denunciado
M.P. Informaram que o dinheiro e os objetos subtraídos estavam no bol-
so da calça de F.Q. e a arma de fogo na cintura do adolescente, e que
ambos foram apontados pelas vítimas como os autores das subtrações.
Esclareceram que M.P. também foi conduzido à repartição
policial porque entenderam inconvincente a justificativa por ele apre-
sentada para o fato de se encontrar parado naquele local, em horário
adiantado da noite.
93
O adolescente R.O.S. admitiu que cometeu os roubos junta-
mente com F.Q., acrescentando que ameaçou as vítimas com um re-
vólver, apreendido em sua posse, enquanto o seu parceiro subtraía os
pertences delas, e que não conhecia M.P. As testemunhas L.B. e I.B.
afirmaram que conheciam o acusado M.P. e podiam afiançar que se
tratava de pessoa idônea e de bons antecedentes.
Disseram, ainda, que M.P. trabalhava como vendedor ambu-
lante na área central da cidade e, ao retornar para casa, quase sempre
passava pela rua onde foi preso, acrescentando que a mãe dele lhes
contou que o veículo utilizado pelo filho apresentou defeito mecânico na
data dos fatos, o que o obrigou a parar naquele local.
F.Q. confessou a subtração dos pertences das vítimas, em con-
curso com o adolescente R.O.S., mediante o emprego de arma de fogo,
portada por este, mas inocentou M.P., afirmando que não o conhecia e
que foi a pé, juntamente com o menor, ao “Bar da Estrada”. M.P. negou
envolvimento nos roubos e, inclusive, que conhecesse o adolescente
R.O.S. e F.Q., alegando que estava parado naquele local devido a um
problema mecânico do seu veículo, ocasião em que foi abordado por
policiais militares e conduzido à Delegacia, juntamente com o corréu e
o menor, onde acabou sendo autuado em flagrante sob a acusação de
roubo.
Encerrada a instrução, foram apresentadas alegações finais
orais pelo Promotor de Justiça e pelos Defensores.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

O Promotor de Justiça pediu a condenação de ambos os acu-


sados, pela prática de três delitos de roubo majorados consumados e
corrupção de menores, aplicando-se as penas em concurso material.
Pediu, ainda, a exasperação das penas de F.Q. pela reincidência, pois
comprovada por certidão juntada nos autos condenação dele por roubo
majorado, transitada em julgado menos de cinco anos antes dos fatos,
salientando que a agravante deveria preponderar sobre a atenuante da
confissão.
O Defensor de F.Q. pediu a desclassificação dos roubos para
a modalidade tentada, sob a alegação de que o acusado foi detido, jun-
tamente com o adolescente, nas proximidades do local dos fatos, sem
que ambos pudessem exercer posse tranquila e desvigiada dos bens
subtraídos, que foram recuperados e devolvidos às vítimas. Pediu, ain-
da, quanto aos roubos, o reconhecimento do concurso formal de crimes
e não o concurso material pleiteado pelo Promotor de Justiça. Relati-
vamente à corrupção de menores, postulou a absolvição, por se tratar,
no caso, de infração material, para cuja caracterização exigia-se prova,
inexistente nos autos, de que o adolescente R.O.S. foi efetivamente cor-
rompido ao praticar com ele os roubos. Requereu, finalmente, que na
94
fixação das penas a agravante da reincidência fosse compensada com
a atenuante da confissão, afirmando ser esta também preponderante.
O Defensor de M.P. pediu a absolvição, com relação a todos
os crimes, sustentando que não foi reconhecido pelas vítimas e acabou
sendo inocentado por F.Q. e pelo adolescente R.O.S. Alegou, também,
que a versão apresentada no interrogatório, de que o seu veículo apre-
sentara defeito mecânico, restou confirmada pelas testemunhas arrola-
das por seu Defensor.

RESOLUÇÃO

Vistos
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO ofe-
receu denúncia contra F.Q. e M.P., dando-os como incursos, por três
vezes, no art. 157, § 2.º, I e II, do CP e uma vez no art. 244-B, caput, da
Lei 8.069/90, pois, em tese, no dia 22 de março de 2011, por volta das
23h, na Rua das Samambaias, n.º 57, Vila Diamatina, na Cidade e Co-
marca de São Paulo, em concurso com o adolescente R.O.S, mediante
grave ameaça e emprego de arma de fogo, subtraíram R$ 500,00, um
relógio de pulso e um aparelho de telefonia celular das vítimas F.A., L.J.
e T.J. , respectivamente. E, assim agindo, corromperam o mencionado
adolescente, com ele praticando infração penal, tudo conforme denún-
cia de fls.

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


A denúncia foi recebida em 25/4/2011, os réus foram citados
e ofertaram defesa preliminar, designando-se audiência de instrução,
oportunidade em que foram inquiridas oito pessoas, prosseguindo-se
com os interrogatórios.
Em sede de memoriais, o Ministério Público postulou a conde-
nação dos réus nos termos da denúncia, reconhecendo-se o concurso
material de crimes (fls.).
Já a defesa do réu F. requereu o reconhecimento da tentativa
em todos os roubos, bem como o concurso formal entre aqueles delitos.
Ainda, pugnou pela absolvição em relação ao crime de corrupção de
menores e a compensação da agravante relativa à reincidência com a
atenuante da confissão.
De seu turno, a defesa do réu M.P. pugnou pela sua absolvição
ante a insuficiência de provas para a sua condenação.
É o relatório. DECIDO.
A pretensão punitiva é parcialmente procedente.
A materialidade dos crimes de roubo está demonstrada com o
auto de apreensão dos bens subtraídos, com o laudo atestando a po-
tencialidade da arma de fogo e com a prova vocal.
95
No tocante à autoria, ela é certa em relação ao réu F.
Em juízo, houve confissão, e ela foi corroborada pelas decla-
rações das três vítimas. Elas o reconheceram como sendo um dos au-
tores dos roubos. Ademais, disseram que ele estava acompanhado do
adolescente R.O.S., que os ameaçou com uma arma de fogo enquanto
F. subtraía seus pertences.
Em que pese a combatividade do seu defensor, há que se re-
conhecer que houve consumação dos roubos. O réu foi detido pouco
depois dos assaltos, mas ele e seu comparsa já estavam com a pos-
se mansa e pacífica dos bens subtraídos. Veja-se que os milicianos
afirmaram que eles foram detidos quando caminhavam na direção de
um veículo parado na via pública. Caminhavam porque estavam com a
posse mansa e pacífica.
De outro lado, razão assiste ao defensor quando postula o re-
conhecimento do concurso formal de crimes.
De fato, os três roubos, a vítimas distintas, foram praticados no
mesmo contexto fático, devendo ser considerada apenas uma conduta
com diversidade de resultados (art. 70 do CP).
Processual penal. Habeas corpus. Roubo circunstanciado (art.
157, § 2.º, I, II e V, do CPB). Pena concretizada: 7 anos de reclusão.
Violência e ameaça dirigidas a mais de uma pessoa. Patrimônios distin-
tos lesados. Configuração de concurso formal e não crime único. Irrele-
vância da existência de vínculo familiar entre as vítimas. Jurisprudência
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

pacífica. Parecer ministerial pela denegação da ordem. Ordem dene-


gada. 1. Esta Corte tem o pacífico entendimento de que há concurso
formal, e não apenas um crime, quando, em um único evento, o roubo é
perpetrado em violação a patrimônios de diferentes vítimas. 2. O fato de
as vítimas pertencerem a uma mesma família não faz comuns os bens
lesados. 3. Na hipótese, num mesmo arroubo delitivo, a subtração aco-
meteu bens de diferentes pessoas, circunstância que, por si só, autoriza
a identificação de mais de um fato delituoso, os quais devem ser con-
siderados em concurso formal. 4. Ordem denegada, em conformidade
com o parecer ministerial (STJ, HC 99.957/SP, Rel. Ministro Napoleão
Nunes Maia Filho, 5.ª Turma, julgado em 27/11/2008, DJe 19/12/2008).
Também há que se reconhecer a prática do crime previsto no
art. 244-B da Lei 8.069/1990, haja vista que o réu Francisco corrompeu
o menor R.O.S., com ele praticando infração penal.
Vale destacar que esse delito é de natureza formal, não sendo
necessária a comprovação de que o adolescente foi efetivamente cor-
rompido. Com a prática de infração penal em comparsaria com adoles-
cente, já se caracteriza o crime em apreço.
Habeas corpus. Penal. Arts. 1.º da Lei 2.252/1954 e 244-B do
96
ECA. Corrupção de menores. Natureza formal do delito. Menor anterior-
mente corrompido. Irrelevância. 1. É pacífico o entendimento de que o
delito previsto no art. 1.º da Lei 2.252/1954 e atualmente tipificado no
art. 244-B do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990)
é de natureza formal. Assim, a simples participação do menor no ato
delitivo é suficiente para a sua consumação, sendo irrelevante seu grau
prévio de corrupção, já que cada nova prática criminosa na qual é inse-
rido contribui para aumentar sua degradação. 2. Ordem denegada (STJ,
HC 164.359/DF, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, 6.ª Turma, julgado
em 10/04/2012, DJe 25/04/2012).
Esse entendimento é coerente com a doutrina de proteção in-
tegral da criança e do adolescente, inaugurada no Texto Constitucional
(art. 227 da CF) e permeada em todos os artigos da Lei 8.069/1990.
Não se olvide que: “na interpretação desta Lei levar-se-ão em
conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum,
os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da
criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento” (art. 6.º
da Lei 8.069/1990).
Também houve concurso formal de crimes entre os roubos e a
corrupção de menores, pois ambos tiveram origem na mesma conduta.
Ao praticar os roubos em companhia do adolescente, lesionou-se o bem
jurídico tutelado pelo art. 157 do CP e também aquele do art. 244-B da
Lei 8.069/1990. Então, com uma conduta atingiram-se dois resultados,

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


sendo hipótese de concurso formal nos termos do art. 70 do CP.
O desiderato do réu, ao se associar com adolescente na práti-
ca do roubo, era obter a vantagem patrimonial. Daí porque se trata de
conduta única, com dois resultados.
Recurso especial. Penal. Roubo circunstanciado e corrupção
de menores. Concurso formal ocorrência na hipótese. 1. Deve ser reco-
nhecido, na hipótese dos autos, a existência do concurso formal entre
os crimes de roubo circunstanciado e corrupção de menores, tendo em
vista que o recorrido, com uma única conduta, praticou os dois deli-
tos. 2. Recurso improvido (STJ, REsp 1.094.915/DF, Rel. Ministro Jorge
Mussi, Quinta Turma, julgado em 23/04/2009, DJe 01/06/2009).
De rigor a incidência da causa de aumento referente ao em-
prego de arma, pois as provas amealhadas demonstraram que o delito
de roubo foi praticado com emprego de arma de fogo, que inclusive foi
objeto de perícia atestando sua potencialidade lesiva.
Da mesma forma, como os roubos foram praticados pelo réu
em concurso com o adolescente, incide a majorante do concurso de
pessoas.
Não há qualquer sobreposição de punições com o delito de
97
corrupção de menores, pois os bens jurídicos são distintos. Exaspera-
-se a pena do roubo, já que quando praticado em concurso há maior
facilidade e reprovabilidade; ao passo que a sanção pelo crime de cor-
rupção de menores ocorre porque um adolescente foi corrompido com
a prática delitiva.
De outro lado, força é convir que inexistem provas suficientes à
condenação do réu M.P. Não foi reconhecido por nenhuma das vítimas
e a prova vocal demonstrou que ele estava parado naquele local porque
seu veículo apresentou defeitos mecânicos.
Os crimes foram praticados contra três vítimas, pois subjuga-
das pelo réu, tiveram seus patrimônios lesionados no mesmo contexto
fático (fls. ...). Então, há concurso formal entre os diversos roubos.
Não vislumbro causas excludentes de ilicitude ou culpabilida-
de, razão pela qual a sua responsabilidade penal se impõem.
Passo à dosimetria da pena.

a) CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS:

As circunstâncias judiciais são favoráveis, razão pela qual fixo


a pena-base no mínimo legal.

b) AGRAVANTES, ATENUANTES, CAUSAS DE AUMENTO E DIMINUIÇÃO:

O réu F. confessou a prática do crime, incidindo a atenuante do


INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

art. 65, III, d, do CP. Mas é reincidente específico; nos termos do art. 67
do CP, esta deve preponderar, razão pela qual agravo a sua pena em
1/7, já considerada a atenuante da confissão.
Assim, fixo a sua pena provisória em 04 (quatro) anos, 06
(seis) meses e 25 (vinte e cinco) dias de reclusão para o crime de rou-
bo, e de 01 (um) ano, 01 (um) mês e 21 (vinte e um) dias de reclusão
e pagamento de 11 (onze) dias-multa para o crime do art. 244-B da Lei
8.069/1990.
Ainda, incide o aumento relativo ao uso de arma de fogo e tam-
bém a causa de aumento do concurso de agentes, de sorte que, nos
termos do art. 157, § 2.º, I e II, do CP, majoro a pena em 3/8, culminando
em 06 (seis) anos, 03 (três) meses e 11 (onze) dias de reclusão e paga-
mento de 15 (quinze) dias-multa (MASSON, Cleber. Direito Penal: parte
especial. 3. ed. São Paulo: Método, 2011. v. 2, p. 392).
Por serem três crimes patrimoniais idênticos, a pena daqueles
delitos será a mesma. De outro lado, houve concurso formal daquelas
infrações penais com o crime de corrupção de menores (art. 244-B da
Lei 8.069/1990). Como esta é menos grave, é sobre aquela sanção que

98
deve recair o aumento do concurso formal (art. 70 do CP).
Levando-se em consideração que foram quatro crimes (3 rou-
bos e 1 corrupção de menores), exaspero a pena do roubo em 1/3, tor-
nando definitiva a pena do réu em 8 (oito) anos, 4 (quatro) meses e 14
(catorze) dias de reclusão e pagamento de 20 (vinte) dias-multa.
Fixo o valor do dia-multa no mínimo legal, pois não há provas
de suficiência econômica do réu para arcar com multa em valor superior.

a) MEDIDAS ALTERNATIVAS:

Impossível a suspensão condicional da pena ou a concessão


de penas alternativas, ante a quantidade da pena e por ser delito prati-
cado com grave ameaça contra pessoa.

b) DIREITO DE RECORRER EM LIBERDADE:

O réu F.Q. respondeu ao processo preso, permanecendo os


motivos justificadores de sua prisão, assim deverá permanecer. Pois
praticou o delito mediante o uso de arma de fogo e em concurso de
pessoas, inclusive corrompendo adolescente.

“Ressalvada mudança no quadro fático, não tem direito ao


apelo em liberdade o agente preso cautelarmente antes da sentença
condenatória. A simples referência à situação prisional evidencia a ma-

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


nutenção da prisão ad cautelam, sendo despicienda a renovação da an-
terior fundamentação. Recurso desprovido” (STJ, RHC 6767, Rel. Felix
Fischer, DJU 09.02.1998).

a) REGIME INICIAL:

Em razão da quantidade da pena, e por ser reincidente específico, fixo o


regime fechado.

A superveniência da Lei 12.736/2012 não tem o condão de alterar o regime


prisional, mesmo computando o tempo em que o réu está preso provisoria-
mente. Pois esse tempo não é o suficiente a autorizar progressão de regime.

Do exposto, julgo PARCIALMENTE PROCEDENTE a pretensão punitiva es-


tatal para absolver o réu M.P. dos crimes a ele imputado, nos termos do art.
386, IV, do CPP e condenar o réu F.Q., como incurso no artigo 157, § 2.º, I
e II, por três vezes, do CP, c/c art. 244-B da Lei 8.069/90, todos na forma do
art. 70 do CP, a uma pena privativa de liberdade de 8 (oito) anos, 4 (quatro)

99
meses e 14 (catorze) dias de reclusão em regime fechado e pagamento de
20 (vinte) diasmulta, no valor de 1/30 do salário mínimo nacional vigente à
época do fato.

Condeno, ainda, o réu ao pagamento das despesas do processo.

DISPOSIÇÕES GERAIS:

Após o trânsito em julgado, determino:


a) lançamento do nome do condenado no rol dos culpados;
b) comunicação à Justiça Eleitoral para suspensão dos direitos políticos (art.
15, III, da CF);
c) expedição de guia de recolhimento definitiva.

P.R.I.

São Paulo, data.


MARCELO YUKIO MISAKA Juiz de Direito
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

100
QUESTÕES DE CONCURSOS

QUESTÃO 1
Ano: 2019 Banca: CESPE Órgão: TJ-PR Prova: Juiz Substituto
A respeito de autoria e participação no âmbito penal, é correto afir-
mar que
A) a autoria colateral é aquela em que há pluralidade de agentes e liame
subjetivo entre eles para a realização da conduta.
B) o crime de falso testemunho é classificado como crime próprio e nele
são admitidas tanto a coautoria quanto a autoria mediata.
C) a participação, que pode ser moral ou material, é admitida até a con-
sumação do crime.
D) a teoria da acessoriedade limitada entende que basta o fato principal
ser típico para que o partícipe seja punido.

QUESTÃO 2
Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão: Câmara de Altinópolis - SP Pro-
va: Procurador Jurídico
Acerca da aplicação da pena, assinale a alternativa que representa
entendimento do Superior Tribunal de Justiça.
A) Fixada a pena-base no mínimo legal, é permitido o estabelecimento
de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


imposta com base apenas na gravidade abstrata do delito.
B) No crime de roubo circunstanciado, basta a mera indicação do nú-
mero de majorantes para que se aplique o aumento de pena na terceira
fase da dosimetria.
C) Como condição especial ao regime aberto, admite-se a fixação de
pena substitutiva.
D) É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos reinci-
dentes condenados a pena igual ou inferior a 4 anos se favoráveis as
circunstâncias judiciais.
E) A incidência de circunstância atenuante pode conduzir à redução da
pena abaixo do mínimo legal.

QUESTÃO 3
Ano: 2019 Banca: CESPE Órgão: TJ-BA Prova: Juiz de Direito
Substituto
À luz da jurisprudência do STJ a respeito das circunstâncias judi-
ciais e legais que devem ser consideradas quando da aplicação da
pena, assinale a opção correta.
A) A confissão qualificada, na qual o réu alega em seu favor causa des-
101
criminante ou exculpante, não afasta a incidência da atenuante de con-
fissão espontânea.
B) A confissão espontânea em delegacia de polícia pode servir como
circunstância atenuante, desde que o réu não se retrate sobre essa
declaração em juízo.
C) Uma condenação transitada em julgado de fato posterior ao narrado
na denúncia, embora não sirva para fins de reincidência, pode servir
para valorar negativamente a personalidade e a conduta social do agen-
te.
D) A reincidência penal pode ser utilizada simultaneamente como cir-
cunstância agravante e como circunstância judicial.
E) A múltipla reincidência não afasta a necessidade de integral com-
pensação entre a atenuante da confissão espontânea e a agravante
da reincidência, haja vista a igual preponderância entre as referidas cir-
cunstâncias legais.

QUESTÃO 4
Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: TJ-MT Prova: Juiz Substituto
Entende-se por “concurso material benéfico” a
A) limitação de tempo de cumprimento de pena em 30 anos.
B) aplicação da regra do concurso material para beneficiar o coautor ou
partícipe.
C) regra estabelecida em lei pela qual a pena aplicada pelo concurso
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

formal não poderá superar a pena aplicada pelo concurso material.


D) extensão ao coautor da condição pessoal que se afigurar elementar
do crime.
E) diminuição de pena para determinados crimes materiais.

QUESTÃO 5
Ano: 2018 Banca: IBFC Órgão: TRF - 2ª REGIÃO Prova: Juiz Fede-
ral Substituto
Assinale a afirmação certa:
A) Para o Supremo Tribunal Federal, é possível a suspensão condicio-
nal do processo em crime continuado, sendo irrelevante o somatório da
pena mínima da infração mais grave com o aumento de um sexto a dois
terços, considerando-se a pena de cada crime para a suspensão.
B) Para o Superior Tribunal de Justiça, não cabe a suspensão condi-
cional do processo para as infrações penais cometidas em concurso
material ou em concurso formal, quando a pena mínima cominada ultra-
passar um ano em razão do somatório ou da fração incidente.
C) No denominado erro na execução, quando por acidente sobrevêm
resultado diverso do que era pretendido pelo agente, este responde por
102
culpa, se o fato é previsto como crime culposo. Mas se ocorre também
o resultado pretendido, este, por ser doloso, absorve o primeiro.
D) Quando o sujeito ativo, por acidente ou erro no uso dos meios de
execução, atinge pessoa diversa da que pretendia ofender, responde
como se tivesse praticado o crime contra esta, em virtude do erro sobre
a pessoa. Mas, se atingir também a pessoa que pretendia ofender, res-
ponderá pelos dois crimes em concurso material.
E) No concurso material de crimes; no concurso ideal próprio; no con-
curso formal imperfeito; e no crime continuado, a dogmática jurídico-pe-
nal adotou, indistintamente, a regra do cúmulo de penas, haja vista que,
em todos eles, prevalece o entendimento de que constituem delitos por
acumulação.

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE

Descreva as fases da dosimetria da pena, com a exposição das súmu-


las existentes aplicáveis ao tema.

TREINO INÉDITO

Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, prática dois


ou mais crimes idênticos temos
Concurso material homogêneo

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


Concurso material heterogêneo
Concurso material benéfico
Concurso material próprio

NA MÍDIA

Imagens de câmera de segurança mostram assassinato de rapaz em


frente a casa de shows em Presidente Prudente
Vítima de 24 anos morreu na hora após ser atingida por tiro na nuca, na
Vila Santa Helena. Suspeito do crime já foi identificado pela Polícia Civil,
que segue investigando o caso.

Imagens de uma câmera de segurança obtidas pelo G1 na tarde des-


te sábado (2) mostram o momento em que o rapaz de 24 anos é as-
sassinado  em frente a uma casa de shows, na Vila Santa Helena,
em Presidente Prudente. (veja o vídeo mais abaixo)
O crime aconteceu durante a madrugada.
O vídeo mostra um homem armado, o qual aponta a arma para uma
mulher, que reagiu, e “abaixou o revólver”, fazendo com que o jovem
103
guardasse a arma na cintura.
Em seguida, um outro homem, também armado, chegou ao lado da
vítima e deu um tiro na nuca.
Após o disparo, o autor, de 19 anos, foge e algumas pessoas que esta-
vam próximas do local começam a se dispersar.
A delegada Adriana Maria Pelegrini informou que não se sabe se a mu-
lher estava com a vítima ou com os autores, mas uma das hipóteses é
que pode ter ocorrido uma desavença por causa de ciúmes.
O autor do tiro já foi identificado e as Polícias Civil e Militar realizam bus-
cas para localizá-lo, ainda conforme informações da delegada ao G1.
Na manhã deste sábado (2) dois homens foram presos em Pirapozinho,
por suspeita de terem ajudado o autor do disparo a fugir do local. A du-
pla foi autuada em flagrante como partícipe no crime.
O caso foi registrado como homicídio doloso (quando há motivo fútil e o
crime é marcado pela crueldade) na Delegacia Participativa da Polícia
Civil. As investigações prosseguem sob responsabilidade da Delegacia
de Investigações Gerais (DIG).

Fonte: Globo.com
Data: 02 fev 2019.
Leia a notícia na íntegra: https://g1.globo.com/sp/presidente-pruden-
te-regiao/noticia/2019/02/02/imagens-de-camera-de-seguranca-mos-
tram-assassinato-de-rapaz-em-frente-a-casa-de-shows-em-presidente-
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

-prudente.ghtml

NA PRÁTICA

ÍNTEGRA DA SENTENÇA 12

VISTOS
1.  ALEXANDRE ALVES NARDONI e  ANNA CAROLINA TROTTA
PEIXOTO JATOBÁ ,  qualificados nos autos, foram denunciados pelo
Ministério Público porque no dia 29 de março de 2.008, por volta de
23:49 horas, na rua Santa Leocádia, nº 138, apartamento 62, vila Isolina
Mazei, nesta Capital, agindo em concurso e com identidade de propó-
sitos, teriam praticado crime de homicídio triplamente qualificado pelo
meio cruel (asfixia mecânica e sofrimento intenso), utilização de recur-
so que impossibilitou a defesa da ofendida (surpresa na esganadura e
lançamento inconsciente pela janela) e com o objetivo de ocultar crime
anteriormente cometido (esganadura e ferimentos praticados anterior-
12 https://oglobo.globo.com/brasil/caso-isabella-confira-na-integra-sentenca-que-condenou-casal-
-nardoni-3033479

104
mente contra a mesma vítima) contra a menina ISABELLA OLIVEIRA
NARDONI.
Aponta a denúncia também que os acusados, após a prática do crime
de homicídio referido acima, teriam incorrido também no delito de frau-
de processual, ao alterarem o local do crime com o objetivo de inovarem
artificiosamente o estado do lugar e dos objetos ali existentes, com a
finalidade de induzir a erro o juiz e os peritos e, com isso, produzir efeito
em processo penal que viria a ser iniciado.
2. Após o regular processamento do feito em Juízo, os réus acabaram
sendo pronunciados, nos termos da denúncia, remetendo-se a causa
assim a julgamento ao Tribunal do Júri, cuja decisão foi mantida em
grau de recurso.
3. Por esta razão, os réus foram então submetidos a julgamento perante
este Egrégio 2º Tribunal do Júri da Capital do Fórum Regional de San-
tana, após cinco dias de trabalhos, acabando este Conselho Popular,
de acordo com o termo de votação anexo, reconhecendo que os acu-
sados praticaram, em concurso, um crime de homicídio contra a vítima
Isabella Oliveira Nardoni, pessoa menor de 14 anos, triplamente qualifi-
cado pelo meio cruel, pela utilização de recurso que dificultou a defesa
da vítima e para garantir a ocultação de delito anterior, ficando assim
afastada a tese única sustentada pela Defesa dos réus em Plenário de
negativa de autoria..
Além disso, reconheceu ainda o Conselho de Sentença que os réus

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


também praticaram, naquela mesma ocasião, o crime conexo de fraude
processual qualificado.
É a síntese do necessário.

FUNDAMENTAÇÃO.

4. Em razão dessa decisão, passo a decidir sobre a pena a ser imposta


a cada um dos acusados em relação a este crime de homicídio pelo
qual foram considerados culpados pelo Conselho de Sentença.
Uma vez que as condições judiciais do art.  59 do Código Penal não
se mostram favoráveis em relação a ambos os acusados, suas penas-
base devem ser fixadas um pouco acima do mínimo legal.
Isto porque a culpabilidade, a personalidade dos agentes, as circuns-
tâncias e as conseqüências que cercaram a prática do crime, no pre-
sente caso concreto, excederam a previsibilidade do tipo legal, exigindo
assim a exasperação de suas reprimendas nesta primeira fase de fixa-
ção da pena, como forma de reprovação social à altura que o crime e os
autores do fato merecem.
Com efeito, as circunstâncias específicas que envolveram a prática do
105
crime ora em exame demonstram a presença de uma frieza emocional e
uma insensibilidade acentuada por parte dos réus, os quais após terem
passado um dia relativamente tranqüilo ao lado da vítima, passeando
com ela pela cidade e visitando parentes, teriam, ao final do dia, inves-
tido de forma covarde contra a mesma, como se não possuíssem qual-
quer vínculo afetivo ou emocional com ela, o que choca o sentimento e
a sensibilidade do homem médio, ainda mais porque o conjunto proba-
tório trazido aos autos deixou bem caracterizado que esse desequilíbrio
emocional demonstrado pelos réus constituiu a mola propulsora para a
prática do homicídio.
De igual forma relevante as conseqüências do crime na presente hipó-
tese, notadamente em relação aos familiares da vítima.
Porquanto não se desconheça que em qualquer caso de homicídio con-
sumado há sofrimento em relação aos familiares do ofendido, no caso
específico destes autos, a angústia acima do normal suportada pela
mãe da criança Isabella, Srª. Ana Carolina Cunha de Oliveira, decor-
rente da morte da filha, ficou devidamente comprovada nestes autos,
seja através do teor de todos os depoimentos prestados por ela nestes
autos, seja através do laudo médico-psiquiátrico que foi apresentado
por profissional habilitado durante o presente julgamento, após realizar
consulta com a mesma, o que impediu inclusive sua permanência nas
dependências deste Fórum, por ainda se encontrar, dois anos após os
fatos, em situação aguda de estresse (F43.0 - CID 10), face ao mons-
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

truoso assédio a que a mesma foi obrigada a ser submetida como de-
corrência das condutas ilícitas praticadas pelos réus, o que é de co-
nhecimento de todos, exigindo um maior rigor p or parte do Estado-Juiz
quanto à reprovabilidade destas condutas.
A análise da culpabilidade, das personalidades dos réus e das circuns-
tâncias e conseqüências do crime, como foi aqui realizado, além de
possuir fundamento legal expresso no mencionado art. 59 do Código
Penal, visa também atender ao princípio da individualização da pena,
o qual constitui vetor de atuação dentro da legislação penal brasileira,
na lição sempre lúcida do professor e magistrado Guilherme de Souza
Nucci:
“ Quanto mais se cercear a atividade individualizadora do juiz na
aplicação da pena, afastando a possibilidade de que analise a per-
sonalidade, a conduta social, os antecedentes, os motivos, enfim,
os critérios que são subjetivos, em cada caso concreto, mais cres-
ce a chance de padronização da pena, o que contraria, por natu-
reza, o princípio constitucional da individualização da pena, aliás,
cláusula pétrea” (“Individualização da Pena”, Ed. RT, 2ª edição, 2007,
pág. 195).
106
Assim sendo, frente a todas essas considerações, majoro a pena-base
para cada um dos réus em relação ao crime de homicídio praticado por
eles, qualificado pelo fato de ter sido cometido para garantir a ocultação de
delito anterior (inciso V, do parágrafo segundo do art. 121 do Código Penal)
no montante de 1/3 (um terço), o que resulta em 16 (dezesseis) anos de
reclusão, para cada um deles.
Como se trata de homicídio triplamente qualificado, as outras duas qualifi-
cadoras de utilização de meio cruel e de recurso que dificultou a defesa da
vítima (incisos III e IV, do parágrafo segundo do art. 121 do Código Penal),
são aqui utilizadas como circunstâncias agravantes de pena, uma vez que
possuem previsão específica no art. 61, inciso II, alíneas “c” e “d” do Códi-
go Penal.
Assim, levando-se em consideração a presença destas outras duas quali-
ficadoras, aqui admitidas como circunstâncias agravantes de pena, majoro
as reprimendas fixadas durante a primeira fase em mais ¼ (um quarto), o
que resulta em 20 (vinte) anos de reclusão para cada um dos réus.
Justifica-se a aplicação do aumento no montante aqui estabelecido de ¼
(um quarto), um pouco acima do patamar mínimo, posto que tanto a quali-
ficadora do meio cruel foi caracterizada na hipótese através de duas ações
autônomas (asfixia e sofrimento intenso), como também em relação à qua-
lificadora da utilização de recurso que impossibilitou a defesa da vítima
(surpresa na esganadura e lançamento inconsciente na defenestração).
Pelo fato do co-réu Alexandre ostentar a qualidade jurídica de genitor da

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


vítima Isabella, majoro a pena aplicada anteriormente a ele em mais 1/6
(um sexto), tal como autorizado pelo art.  61, parágrafo segundo, alínea
“e” do Código Penal, o que resulta em 23 (vinte e três) anos e 04 (quatro)
meses de reclusão.
Como não existem circunstâncias atenuantes de pena a serem considera-
das, torno definitivas as reprimendas fixadas acima para cada um dos réus
nesta fase.
Por fim, nesta terceira e última fase de aplicação de pena, verifica-se a
presença da qualificadora prevista na parte final do parágrafo quarto, do
art. 121 do Código Penal, pelo fato do crime de homicídio doloso ter sido
praticado contra pessoa menor de 14 anos, daí porque majoro novamente
as reprimendas estabelecidas acima em mais 1/3 (um terço), o que resulta
em 31 (trinta e um) anos, 01 (um) mês e 10 (dez) dias de reclusão para o
co-réu Alexandre e 26 (vinte e seis) anos e 08 (oito) meses de reclusão
para a co-ré Anna Jatobá.
Como não existem outras causas de aumento ou diminuição de pena a
serem consideradas nesta fase, torno definitivas as reprimendas fixadas
acima.

107
Quanto ao crime de fraude processual para o qual os réus também te-
riam concorrido, verifica-se que a reprimenda nesta primeira fase da fi-
xação deve ser estabelecida um pouco acima do mínimo legal, já que as
condições judiciais do art. 59 do Código Penal não lhe são favoráveis,
como já discriminado acima, motivo pelo qual majoro em 1/3 (um terço)
a pena-base prevista para este delito, o que resulta em 04 (quatro) me-
ses de detenção e 12 (doze) dias-multa, sendo que o valor unitário de
cada dia-multa deverá corresponder a 1/5 (um quinto) do valor do salá-
rio mínimo, uma vez que os réus demonstraram, durante o transcurso
da presente ação penal, possuírem um padrão de vida compatível com
o patamar aqui fixado.
Inexistem circunstâncias agravantes ou atenuantes de pena a serem
consideradas.
Presente, contudo, a causa de aumento de pena prevista no parágrafo
único do art. 347 do Código Penal, pelo fato da fraude processual ter
sido praticada pelos réus com o intuito de produzir efeito em processo
penal ainda não iniciado, as penas estabelecidas acima devem ser apli-
cadas em dobro, o que resulta numa pena final para cada um deles em
relação a este delito de 08 (oito) meses de detenção e 24 (vinte e qua-
tro) dias-multa, mantido o valor unitário de cada dia-multa estabelecido
acima.
5. Tendo em vista que a quantidade total das penas de reclusão ora
aplicadas aos réus pela prática do crime de homicídio triplamente quali-
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

ficado ser superior a 04 anos, verifica-se que os mesmos não fazem jus
ao benefício da substituição destas penas privativas de liberdade por
restritivas de direitos, a teor do disposto no art. 44, inciso I do Código
Penal.
Tal benefício também não se aplica em relação às penas impostas aos
réus pela prática do delito de fraude processual qualificada, uma vez
que as além das condições judiciais do art. 59 do Código Penal não são
favoráveis aos réus, há previsão específica no art. 69, parágrafo primei-
ro deste mesmo diploma legal obstando tal benefício de substituição na
hipótese.
6. Ausentes também as condições de ordem objetivas e subjetivas pre-
vistas no art. 77 do Código Penal, já que além das penas de reclusão
aplicadas aos réus em relação ao crime de homicídio terem sido fixa-
das em quantidades superiores a 02 anos, as condições judiciais do
art. 59 não são favoráveis a nenhum deles, como já especificado acima,
o que demonstra que não faz jus também ao benefício da suspensão
condicional do cumprimento de nenhuma destas penas privativas de
liberdade que ora lhe foram aplicadas em relação a qualquer dos crimes.
7. Tendo em vista o disposto no art. 33, parágrafo segundo, alínea “a”
108
do Código Penal e também por ter o crime de homicídio qualificado a
natureza de crimes hediondos, a teor do disposto no artigo 2o, da Lei
nº 8.072/90, com a nova redação que lhe foi dada pela Lei n. 11.464/07,
os acusados deverão iniciar o cumprimento de suas penas privativas de
liberdade em regime prisional FECHADO .
Quanto ao delito de fraude processual qualificada, pelo fato das con-
dições judiciais do art. 59 do Código Penal não serem favoráveis a
qualquer dos réus, deverão os mesmos iniciar o cumprimento de suas
penas privativas de liberdade em relação a este delito em regime
prisional SEMI-ABERTO , em consonância com o disposto no art. 33,
parágrafo segundo, alínea “c” e seu parágrafo terceiro, daquele mesmo
Diploma Legal.
8. Face à gravidade do crime de homicídio triplamente qualificado pra-
ticado pelos réus e à quantidade das penas privativas de liberdade
que ora lhes foram aplicadas, ficam mantidas suas prisões preventi-
vas para garantia da ordem pública, posto que subsistem os motivos
determinantes de suas custódias cautelares, tal como previsto nos
arts. 311 e 312 do Código de Processo Penal, devendo aguardar deti-
dos o trânsito em julgado da presente decisão.
Como este Juízo já havia consignado anteriormente, quando da prola-
ção da sentença de pronúncia - respeitados outros entendimentos em
sentido diverso - a manutenção da prisão processual dos acusados,
na visão deste julgador, mostra-se realmente necessária para garantia

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


da ordem pública, objetivando acautelar a credibilidade da Justiça em
razão da gravidade do crime, da culpabilidade, da intensidade do dolo
com que o crime de homicídio foi praticado por eles e a repercussão que
o delito causou no meio social, uma vez que a prisão preventiva não
tem como único e exclusivo objetivo prevenir a prática de novos crimes
por parte dos agentes, como exaustivamente tem sido ressaltado pela
doutrina pátria, já que evitar a reiteração criminosa constitui apenas um
dos aspectos desta espécie de custódia cautelar.
Tanto é assim que o próprio Colendo Supremo Tribunal Federal já admi-
tiu este fundamento como suficiente para a manutenção de decreto de
prisão preventiva:
“HABEAS CORPUS. QUESTÃO DE ORDEM. PEDIDO DE MEDIDA
LIMINAR. ALEGADA NULIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA DO PA-
CIENTE. DECRETO DE PRISÃO CAUTELAR QUE SE APÓIA NA
GRAVIDADE ABSTRATA DO DELITO SUPOSTAMENTE PRATICA-
DO, NA NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DA “CREDIBILIDADE
DE UM DOS PODERES DA REPÚBLICA”, NO CLAMOR POPULAR
E NO PODER ECONÔMICO DO ACUSADO. ALEGAÇÃO DE EXCES-
SO DE PRAZO NA CONCLUSÃO DO PROCESSO.”
109
“O plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC
80.717 , fixou a tese de que o sério agravo à credibilidade das ins-
tituições públicas pode servir de fundamento idôneo para fins de
decretação de prisão cautelar, considerando, sobretudo, a reper-
cussão do caso concreto na ordem pública .” (STF, HC 85298-SP,
1ª Turma, rel. Min. Carlos Aires Brito, julg. 29.03.2005, sem grifos no
original).
Portanto, diante da hediondez do crime atribuído aos acusados, pelo
fato de envolver membros de uma mesma família de boa condição so-
cial, tal situação teria gerado revolta à população não apenas desta
Capital, mas de todo o país, que envolveu diversas manifestações co-
letivas, como fartamente divulgado pela mídia, além de ter exigido tam-
bém um enorme esquema de segurança e contenção por parte da Po-
lícia Militar do Estado de São Paulo na frente das dependências deste
Fórum Regional de Santana durante estes cinco dias de realização do
presente julgamento, tamanho o número de populares e profissionais
de imprensa que para ca acorreram, daí porque a manutenção de suas
custódias cautelares se mostra necessária para a preservação da cre-
dibilidade e da respeitabilidade do Poder Judiciário, as quais ficariam
extremamente abaladas caso, agora, quando já existe decisão formal
con denando os acusados pela prática deste crime, conceder-lhes o
benefício de liberdade provisória, uma vez que permaneceram encarce-
rados durante toda a fase de instrução.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

Esta posição já foi acolhida inclusive pelo Egrégio Tribunal de Justiça do


Estado de São Paulo, como demonstra a ementa de acórdão a seguir
transcrita:
“LIBERDADE PROVISÓRIA - Benefício pretendido - Primariedade
do recorrente - Irrelevância - Gravidade do delito - Preservação do
interesse da ordem pública - Constrangimento ilegal inocorren-
te.”  (In JTJ/Lex 201/275, RSE nº 229.630-3, 2ª Câm. Crim., rel. Des.
Silva Pinto, julg. em 09.06.97).
O Nobre Desembargador Caio Eduardo Canguçu de Almeida, naquele
mesmo voto condutor do v. acórdão proferido no mencionado recurso
de “habeas corpus”, resume bem a presença dos requisitos autorizado-
res da prisão preventiva no presente caso concreto:
“Mas, se um e outro, isto é, se clamor público e necessidade da preser-
vação da respeitabilidade de atuação jurisdicional se aliarem à certeza
quanto à existência do fato criminoso e a veementes indícios de au-
toria, claro que todos esses pressupostos somados haverão de servir
de bom, seguro e irrecusável fundamento para a excepcionalização da
regra constitucional que presumindo a inocência do agente não conde-
nado, não tolera a prisão antecipada do acusado.”
110
E, mais à frente, arremata:
“Há crimes, na verdade, de elevada gravidade, que, por si só, justi-
ficam a prisão, mesmo sem que se vislumbre risco ou perspectiva
de reiteração criminosa. E, por aqui, todos haverão de concordar
que o delito de que se trata, por sua gravidade e característica cho-
cante, teve incomum repercussão, causou intensa indignação e
gerou na população incontrolável e ansiosa expectativa de uma
justa contraprestação jurisdicional.  A prevenção ao crime exige
que a comunidade respeite a lei e a Justiça, delitos havendo, tal
como o imputado aos pacientes, cuja gravidade concreta gera aba-
lo tão profundo naquele sentimento, que para o restabelecimento
da confiança no império da lei e da Justiça exige uma imediata rea-
ção . A falta dela mina ess a confiança e serve de estímulo à prática
de novas infrações, não sendo razoável, por isso, que acusados
por crimes brutais permaneçam livre, sujeitos a uma conseqüên-
cia remota e incerta, como se nada tivessem feito.” (sem grifos no
original).
Nessa mesma linha de raciocínio também se apresentou o voto do não
menos brilhante Desembargador revisor, Dr. Luís Soares de Mello que,
de forma firme e consciente da função social das decisões do Poder
Judiciário, assim deixou consignado:
“Aquele que está sendo acusado, e com indícios veementes, volte-
-se a dizer, de tirar de uma criança, com todo um futuro pela frente,

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


aquilo que é o maior bem que o ser humano possui - a vida - não
pode e não deve ser tratado igualmente a tantos outros cidadãos
de bem e que seguem sua linha de conduta social aceitável e tran-
qüila.
E o Judiciário não pode ficar alheio ou ausente a esta preocupa-
ção, dês que a ele, em última instância, é que cabe a palavra e a
solução.
Ora.
Aquele que está sendo acusado, em tese , mas por gigantescos
indícios, de ser homicida de sua própria filha - como no caso de
Alexandre - e enteada - aqui no que diz à Anna Carolina - merece
tratamento severo, não fora o próprio exemplo ao mais da socie-
dade.
Que é também função social do Judiciário.
É a própria credibilidade da Justiça que se põe à mostra, as-
sim .” (sem grifos no original).
Por fim, como este Juízo já havia deixado consignado anteriormente,
ainda que se reconheça que os réus possuem endereço fixo no distrito
da culpa, posto que, como noticiado, o apartamento onde os fatos ocor-
111
reram foi adquirido pelo pai de Alexandre para ali estabelecessem seu
domicílio, com ânimo definitivo, além do fato de Alexandre, como pro-
vedor da família, possuir profissão definida e emprego fixo, como ainda
pelo fato de nenhum deles ostentarem outros antecedentes criminais
e terem se apresentado espontaneamente à Autoridade Policial para
cumprimento da ordem de prisão temporária que havia sido decretada
inicialmente, isto somente não basta para assegurar-lhes o direito à ob-
tenção de sua liberdade durante o restante do transcorrer da presente
ação penal, conforme entendimento já pacificado perante a jurisprudên-
cia pátria, face aos demais aspectos mencionados acima que exigem
a manutenção de suas custódias ca utelares, o que, de forma alguma,
atenta contra o princípio constitucional da presunção de inocência:
“RHC - PROCESSUAL PENAL - PRISÃO PROVISÓRIA - A prima-
riedade, bons antecedentes, residência fixa e ocupação lícita não
impedem, por si só, a prisão provisória” (STJ, 6ª Turma, v.u., ROHC
nº 8566-SP, rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, julg. em 30.06.1999).
“HABEAS CORPUS . HOMICÍDIO QUALIFICADO. PRISÃO PREVEN-
TIVA. ASSEGURAR A INSTRUÇÃO CRIMINAL. AMEAÇA A TESTE-
MUNHAS. MOTIVAÇÃO IDÔNEA. ORDEM DENEGADA.
1. A existência de indícios de autoria e a prova de materialidade,
bem como a demonstração concreta de sua necessidade, lastrea-
da na ameaça de testemunhas, são suficientes para justificar a de-
cretação da prisão cautelar para garantir a regular instrução crimi-
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

nal, principalmente quando se trata de processo de competência


do Tribunal do Júri.
2. Nos processos de competência do Tribunal Popular, a instrução
criminal exaure-se definitivamente com o julgamento do plenário
(arts. 465 a 478 do CPP).
3. Eventuais condições favoráveis ao paciente - tais como a pri-
mariedade, bons antecedentes, família constituída, emprego e re-
sidência fixa - não impedem a segregação cautelar, se o decreto
prisional está devidamente fundamentado nas hipóteses que au-
torizam a prisão preventiva. Nesse sentido : RHC 16.236/SP , Rel.
Min. FELIX FISCHER, DJ de 17/12/04; RHC 16.357/PR, Rel. Min. GIL-
SON DIPP, DJ de 9/2/05; e RHC 16.718/MT , de minha relatoria, DJ
de 1º/2/05).
4. Ordem denegada. (STJ, 5ª Turma, v.u., HC nº 99071/SP, rel. Min.
Arnaldo Esteves Lima, julg. em 28.08.2008).
Ademais, a falta de lisura no comportamento adotado pelos réus duran-
te o transcorrer da presente ação penal, demonstrando que fariam tudo
para tentar, de forma deliberada, frustrar a futura aplicação da lei penal,
posto que após terem fornecido material sanguíneo para perícia no iní-
112
cio da apuração policial e inclusive confessado este fato em razões de
recurso em sentido estrito, apegaram-se a um mero formalismo, consis-
tente na falta de assinatura do respectivo termo de coleta, para passa-
rem a negar, de forma veemente, inclusive em Plenário durante este jul-
gamento, terem fornecido aquelas amostras de sangue, o que acabou
sendo afastado posteriormente, após nova coleta de material genético
dos mesmos para comparação com o restante daquele material que
ainda estava preservado no Instituto de Criminalística.
Por todas essas razões, ficam mantidas as prisões preventivas dos réus
que haviam sido decretadas anteriormente por este Juízo, negando-
-lhes assim o direito de recorrerem em liberdade da presente decisão
condenatória.
DECISÃO.
9. Isto posto, por força de deliberação proferida pelo Conselho de Sen-
tença que JULGOU PROCEDENTE a acusação formulada na pronúncia
contra os réus ALEXANDRE ALVES NARDONI e  ANNA CAROLINA
TROTTA PEIXOTO JATOBÁ , ambos qualificados nos autos,  conde-
no-os às seguintes penas:
a) co-réu ALEXANDRE ALVES NARDONI:
- pena de 31 (trinta e um) anos, 01 (um) mês e 10 (dez) dias de reclusão,
pela prática do crime de homicídio contra pessoa menor de 14 anos, tri-
plamente qualificado, agravado ainda pelo fato do delito ter sido pratica-
do por ele contra descendente, tal como previsto no art. 121, parágrafo

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


segundo, incisos III, IV e V c.c. o parágrafo quarto, parte final, art. 13,
parágrafo segundo, alínea “a” (com relação à asfixia) e arts. 61, inciso II,
alínea “e”, segunda figura e 29, todos do Código Penal, a ser cumprida
inicialmente em regime prisional FECHADO, sem direito a “sursis”;
- pena de 08 (oito) meses de detenção, pela prática do crime de frau-
de processual qualificada, tal como previsto no art. 347, parágrafo úni-
co do Código Penal, a ser cumprida inicialmente em regime prisional
SEMI-ABERTO, sem direito a “sursis” e 24 (vinte e quatro) dias-multa,
em seu valor unitário mínimo.
B) co-ré ANNA CAROLINA TROTTA PEIXOTO JATOBÁ :
- pena de 26 (vinte e seis) anos e 08 (oito) meses de reclusão, pela prá-
tica do crime de homicídio contra pessoa menor de 14 anos, triplamente
qualificado, tal como previsto no art.  121, parágrafo segundo, incisos
III, IV e V c.c. o parágrafo quarto, parte final e art. 29, todos do Código
Penal, a ser cumprida inicialmente em regime prisional FECHADO, sem
direito a “sursis”;
- pena de 08 (oito) meses de detenção, pela prática do crime de frau-
de processual qualificada, tal como previsto no art. 347, parágrafo úni-
co do Código Penal, a ser cumprida inicialmente em regime prisional
113
SEMI-ABERTO, sem direito a “sursis” e 24 (vinte e quatro) dias-multa,
em seu valor unitário mínimo.
10. Após o trânsito em julgado, feitas as devidas anotações e comunica-
ções, lancem-se os nomes dos réus no livro Rol dos Culpados, devendo
ser recomendados, desde logo, nas prisões em que se encontram reco-
lhidos, posto que lhes foi negado o direito de recorrerem em liberdade
da presente decisão. 11. Esta sentença é lida em público, às portas
abertas, na presença dos réus, dos Srs. Jurados e das partes, saindo
os presentes intimados.
Plenário II do 2º Tribunal do Júri da Capital, às 00:20 horas, do dia 27
de março de 2.010.
Registre-se e cumpra-se.
MAURÍCIO FOSSEN
Juiz de Direito

Saiba mais
Filme sobre o assunto: Justiça (2004)
Acesse o link: https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/brasil/sistema-
-carcerario-brasileiro.htm
Observação: Sobre a temática, é importante que o aluno note a rele-
vância do assunto dentro do seu campo de atuação.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

114
CAUSAS DE EXTINÇÃO DA
PUNIBILIDADE

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
CONCEITO
Trata-se de tema muito recorrente nos Exames de Ordem e um
tema bastante nebuloso para o candidato. Por força disso, vamos dar
uma ênfase maior a esse estudo, de forma que possamos compreender
melhor o referido instituto.
Um primeiro cuidado que se deve ter é jamais tentar associar
a prescrição no direito penal à prescrição no direito civil ou fazer essa
associação a qualquer outro ramo do direito.
No direito penal, a prescrição é uma excelente tese defensiva
uma vez que se caracteriza, juntamente com a decadência e a peremp-
ção como uma causa de extinção da punibilidade, enumerada no rol
não taxativo do art. 107 do Código Penal.
Com a prática do delito, o direito de punir abstrato do Estado
se torna direito de punir em concreto, formando-se, assim, a relação
jurídico-punitiva, e assim surge a lide penal. Pode-se então dizer que a
lide penal se constitui pelo conflito de interesses entre o direito de punir
do Estado e o direito de liberdade do agente.
O Estado, por ser o titular da pretensão punitiva, pelo fato de
115
exercer o monopólio do exercício da jurisdição, adquire o direito de in-
vocar do Judiciário a aplicação da normal penal ao fato cometido pelo
autor da infração penal.
No entanto, esse direito não é eterno. E é aí que surge a pres-
crição. Para que se possa lembrar do que vem a ser prescrição, basta
conjugar dois elementos – inércia do Estado com decurso do prazo.
Sendo assim, o Estado perde o direito de punir o agente em razão de
não ter exercido a pretensão punitiva ou a pretensão executória dentro
do prazo definido pela lei.
Como mencionado, a prescrição aparece no rol do art. 107
como causa de extinção da punibilidade, juntamente com a decadên-
cia e com a perempção. Assim, cabe estabelecer o conceito de ambos
institutos.
Decadência vem a ser também a perda do prazo em decorrên-
cia de uma inércia. No entanto, a inércia, nesse caso, é imputada ao
particular que teria um ônus a ser exercido e assim não o fez. Pode-se
exemplificar que ocorre a decadência quando a queixa-crime não for
oferecida dentro do prazo de seis meses contados de quando se teve
conhecimento de quem é o autor do fato. Decorrido o prazo sem ofere-
cimento da queixa-crime nos crimes de ação penal privada, opera-se a
decadência. A mesma regra é aplicável quanto ao direito de representa-
ção nos crimes de ação penal pública condicionada.
IMPRESCRITIBILIDADE
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

Existem delitos imprescritíveis. A Constituição Federal de 1988


prevê dois casos de imprescritibilidade:
1) Crimes de racismo (art. 5º, inciso XLII), definidos na Lei nº
7716, de 5 de janeiro de 1989;
2) Ação de Grupos Armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático (art. 5º inciso XLIV), delitos es-
ses definidos na Lei 7.170/83.
Cabe lembrar que imprescritibilidade é norma restritiva de di-
reitos. Sendo assim, por ser cláusula pétrea, não é possível ampliar o
rol dos delitos imprescritíveis.

FORMA DE CONTAGEM DO PRAZO PRESCRICIONAL


Deve-se inicialmente definir se a prescrição tem natureza de
norma de direito processual ou norma de natureza de direito material.
Tal definição é relevante pelo fato de que a forma de contagem do prazo
se altera, de acordo com a natureza da norma. A melhor posição a ser
adotada é no sentido de que a prescrição tenha conteúdo de Direito
Penal (material), uma vez que ela, extinguindo a punibilidade, atinge

116
diretamente o próprio Direito de Punir do Estado.
Aplica-se, então, a regra de contagem prevista no art. 10 do
Código Penal de forma que o dia do começo se inclui no cômputo do
prazo; contam-se os anos pelo calendário comum (calendário gregoria-
no). Isto significa que o Direito Penal não possui um calendário próprio.
O ano, em matéria penal, tem exatamente os mesmos dias que
existem no calendário comum, sejam 365 ou 366.
De forma a facilitar a contagem, deve-se agir da seguinte ma-
neira: pega-se o dia do começo do prazo, vai-se ao mesmo dia, do
mesmo mês, acrescentando-se tantos anos quantos forem os definidos
pelo art. 109 do CP, e volta-se um dia. Ex: Um prazo de três anos,
cuja contagem tenha começado em 25/12/2013, terá seu último dia em
24/12/2016.

REGRAS ESPECIAIS DE CONTAGEM DO TERMO INICIAL


DO PRAZO PRESCRICIONAL – ARTIGO 111 DO CÓDIGO PENAL.

As formas de contagem abaixo relacionadas aplicam-se a to-


das as espécies de prescrição da pretensão punitiva estatal.
Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença
final, começa a correr: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - do dia em que o crime se consumou;  (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) – diferentemente da teoria adotada

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


pelo CP para o tempo do crime, aqui, adota-se a teoria do resultado.
Dessa forma, é importante que se saiba quando os crimes atingem sua
consumação para que se possa definir o termo inicial de contagem do
prazo prescricional.
Nos crimes omissivos próprios, o termo inicial ocorre na data
que o sujeito deixa de realizar a conduta penalmente exigida; nos cri-
mes omissivos impróprios, começa da data da produção do resultado;
nos crimes de mera conduta, a prescrição começa a correr da data da
prática do comportamento; nos crimes formais, a prescrição coincide
com a realização do ato típico imediatamente anterior à produção do re-
sultado visado pelo sujeito; nos crimes preterdolosos (crimes qualifica-
dos pelo resultado), o termo inicial é o do dia em que ocorre o resultado;
no crime culposo, também é o do dia do resultado.
II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade
criminosa;  (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a
permanência; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984). Exemplo:
em um sequestro, o prazo prescricional inicia sua contagem somente
quando o indivíduo conseguir alcançar sua liberdade
117
IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de
assentamento do registro civil, da data em que o fato se tornou
conhecido.  (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984). Nesse
caso, não há necessidade de conhecimento formal. Basta que o caso
seja notório, ou no caso de documento falso, que o uso seja costumeiro
V – nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e ado-
lescentes, previstos nesse Código ou em legislação especial, da data
em que a vítima completar 18 (dezoito ) anos, salvo se a esse tempo
já houver sido proposta a ação penal (acrescentado pela Lei 12.650 de
17/05/2012)

INTERRUPÇÃO, IMPEDIMENTO E SUSPENSÃO DO PRAZO PRES-


CRICIONAL
INTERRUPÇÃO DO IMPEDIMENTO DO SUSPENSÃO DO
PRAZO PRESCRI- PRAZO PRESCRI- PRAZO PRESCRI-
CIONAL CIONAL CIONAL
O prazo corre e deixa O prazo corre e deixa
de correr. Quando de correr. Quando
retorna, prazo come- O prazo não corre retorna, volta a fluir
ça do zero de onde parou
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

CAUSAS IMPEDITIVAS E SUSPENSIVAS DO CURSO DO


PRAZO PRESCRICIONAL
O art. 116 do CP apresenta as causas impeditivas do curso do
prazo prescricional, que são as seguintes:
Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não
corre: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que
dependa o reconhecimento da existência do crime; (Redação dada pela
Lei nº 7.209, de 11.7.1984) – são as chamadas questões prejudiciais,
previstas nos artigos 92 a 94 do CPP. Nos crimes contra a honra, a
oposição da exceção da verdade, segundo a doutrina, não constitui
causa suspensiva da prescrição, uma vez que não se trata de prejudicial
civil, mas sim de prejudicial penal.
II - enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro.(Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença

118
condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o
condenado está preso por outro motivo. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
Nas causas suspensivas ou impeditivas, o tempo decorrido an-
tes da causa é computado no prazo. A enumeração legal é taxativa,
salvo o caso de normas posteriores criarem novas hipóteses de suspen-
são. Logo, não constituem causas suspensivas da prescrição o inciden-
te de insanidade mental do acusado, por exemplo.
As seguintes causas são hipóteses de suspensão do prazo
prescricional que não se encontram no rol do art. 116 do CP.

a) imunidade parlamentar processual pena l(artigo 53, § 2º da CF);


b) Suspensão condicional do processo (artigo 89 da Lei 9099/95);
c) Suspensão do processo pela revelia (artigo 366 do CPP) – nesse caso,
existe uma controvérsia acerca do estabelecimento de um prazo para a sus-
pensão do processo. No entanto, a melhor doutrina entende, com razão, que
o limite da suspensão do curso do prazo prescricional corresponde aos pra-
zos do artigo 109 do CP, considerando-se o máximo da pena privativa de
liberdade abstratamente imposta ao crime.

Não impede o decurso do prazo prescricional, entretanto, estar


o sujeito cumprindo pena, no Brasil, em razão de outro processo. Tal
causa só suspende a prescrição depois que houver o trânsito em julga-
do da sentença condenatória, conforme apresenta o art. 116 parágrafo
único do CP

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


Causas interruptivas da prescrição
As causas interruptivas do prazo prescricional encontram-se
enumeradas no art. 117 do CP. Conforme mencionado, quando se opera
uma causa interruptiva, todo o prazo transcorrido anteriormente é des-
cartado, recomeçando do zero a contagem do prazo. Damos o nome de
períodos prescricionais os seguintes:

1) Entre a data da consumação do crime e a do recebimento da denúncia;


2) Entre a data do recebimento da denúncia ou queixa e a da publicação da
sentença
3) Entre a publicação da sentença condenatória e o acórdão que modifique
substancialmente a sentença condenatória
4) a partir da publicação da sentença condenatória ou acórdão condenatório
até o início da execução da pena (ou da continuação da execução da pena)
5) quando da reincidência

Nos crimes dolosos contra a vida, são os seguintes períodos prescricionais:


1) Entre a data do fato e a do recebimento da denúncia;
2) entre a data do recebimento e a da publicação da pronúncia;

119
3) entre a data da pronúncia e a sua confirmação;
4) entre a pronúncia ou sua confirmação e a publicação da sentença conde-
natória;
5) Entre a publicação da sentença condenatória e o acórdão que modifique
substancialmente a sentença condenatória
6) a partir da publicação da sentença condenatória ou acórdão condenatório
até o início da execução da pena (ou da continuação da execução da pena)
7) quando da reincidência.

Três colocações aqui são de extrema relevância. A primeira diz


respeito ao acórdão condenatório. Não é qualquer acórdão condenató-
rio que será capaz de interromper o curso do prazo prescricional, mas
sim aquele que inove em termos de condenação. Ou seja, aquele acór-
dão que reforma uma sentença absolutória e venha a condenar o réu ou
aquele que modifique substancialmente a pena aplicada.
A segunda diz respeito aos parágrafos do art. 117. § 1º - Exce-
tuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a interrupção da pres-
crição produz efeitos relativamente a todos os autores do crime. Nos
crimes conexos, que sejam objeto do mesmo processo, estende-se aos
demais a interrupção relativa a qualquer deles.  (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 2º - Interrompida a prescrição, salvo a hipótese do inciso
V deste artigo, todo o prazo começa a correr, novamente, do dia da
interrupção.  (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

Por fim, quando o Código menciona a “publicação da senten-


ça”, está se referindo ao ato através do qual o juiz entrega a sentença
em cartório e que propiciará que o escrivão a registre em livro próprio.
É com a publicação da sentença, isto é, com a entrega da
sentença em cartório, que termina a função jurisdicional do magistrado,
não podendo ele alterar a sentença, salvo para corrigir eventuais erros
materiais ou para suprir eventual obscuridade, ambiguidade, contradição
ou omissão.
Por fim, é importante lembrar que, com a entrada em vigor da
lei denominada Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/19), houve o acrés-
cimo de novas causas impeditivas da prescrição “Artigo 116. (Código
Penal) (...) I – (...) II - enquanto o agente cumpre pena no exterior;
III - na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos
Tribunais Superiores, quando inadmissíveis; e IV - enquanto não
cumprido ou não rescindido o acordo de não persecução penal”.

120
AS CIRCUNSTÂNCIAS GENÉRICAS, AS CIRCUNSTÂNCIAS AGRA-
VANTES E ATENUANTES E AS CAUSAS DE AUMENTO OU DE DI-
MINUIÇÃO DE PENA
As circunstâncias genéricas do art. 59 do CP (culpabilidade,
antecedentes, conduta social, personalidade do agente, motivos, cir-
cunstâncias do crime, consequências do crime, comportamento da víti-
ma, as circunstâncias agravantes (art. 61 e 62 do CP) e atenuantes (art.
65 e 66 do CP), não são consideradas para o cálculo da prescrição,
uma vez que elas não possuem um valor pré-fixado em Lei.
Entretanto, as causas de aumento ou de diminuição da pena
devem ser consideradas no cálculo, exceto quando ser tratar de con-
curso de crimes, caso em que se deve considerar cada crime isolada-
mente.

CAUSAS DE REDUÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL – ART. 115


DO CP.
A regra é a mesma para todas as formas de prescrição. Os
prazos devem ser reduzidos de metade quando o autor do delito era,
ao tempo do fato, menor de 21 anos e maior de 18 anos. Aqui, verifi-
ca-se claramente a adoção da teoria da atividade, prevista no art. 4º
do CP, de forma que, nos crimes materiais, por exemplo, se o agente
era menor de 21 anos ao tempo da ação mas já era maior de 21 anos

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


no momento do resultado, a redução do prazo prescricional deverá ser
aplicada. Insta acentuar, ainda, que a prova da menoridade deve ser
feita através da certidão de nascimento ou outro documento hábil, de
acordo com a Súmula 74 do STJ.
Da mesma forma, se o agente, na data da sentença, era maior
de setenta anos, o prazo prescricional também é reduzido da metade.
No caso de haver coautoria ou participação e levando-se em
conta que a idade é circunstância de caráter pessoal, a redução do pra-
zo é incomunicável

MEDIDA DE SEGURANÇA E PRESCRIÇÃO.


Havia no passado divergência a respeito da possibilidade de
prescrição das medidas de segurança em relação aos inimputáveis, na
medida em que eles são absolvidos e as medidas são decretadas por
tempo indeterminado, até que verificada pericialmente a cessação da
periculosidade (art. 97, § 1º, do CP). Os tribunais superiores, entretanto,
pacificaram o entendimento no sentido de que, por serem também san-

121
ções penais, devem sujeitar-se a regime de prescrição, pois o contrário
violaria o princípio constitucional da prescritibilidade13.
De acordo com o artigo 96, parágrafo único, do Código Penal,
“extinta a punibilidade, não se impõe medida de segurança, nem sub-
siste a que tenha sido imposta”. Assim, aplicada medida de segurança
nos casos do semi-imputável (art. 26 parágrafo único), a prescrição da
pretensão punitiva ou a prescrição superveniente podem ser reconheci-
das, tomando-se como base a sentença concretamente aplicada e que
foi substituída.
Caso a medida de segurança seja concedida ao inimputável,
seria injusto não haver o reconhecimento da prescrição, pelo simples
fato de não haver aplicação de pena, pois não seria lógico que pudesse
haver o reconhecimento da prescrição, em caso de prática de crime e
que não pudesse ocorrer prescrição quando se reconhecesse que não
houve crime por ser o agente inimputável. E nesse sentido, tanto o STF
quanto o STJ já se manifestaram. Isso porque, medida de segurança é
espécie do gênero sanção penal
Por fim, a prescrição deverá ser calculada com base no máxi-
mo da pena abstratamente cominada para o crime.

PERDÃO JUDICIAL E PRESCRIÇÃO


De acordo com a Súmula 18 do STJ, “a sentença concessiva
do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não sub-
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

sistindo qualquer efeito condenatório.”


Concedido o perdão judicial e considerando-se que a posição
dominante é a de que a sentença tenha natureza meramente declarató-
ria da extinção da punibilidade, não deve o juiz aplicar pena para depois
perdoa-la. Ele deve suprimir a dosimetria da pena e passar direto à
concessão do perdão judicial.
Dessa forma, mesmo não havendo condenação, pelas mes-
mas razões apresentadas quanto à medida de segurança, seria ilógico
que não pudesse o magistrado reconhecer a prescrição, razão pela qual
ele deverá ter como base de cálculo, também nessa hipótese, o mínimo
de pena que concretamente poderia ser cominada, uma vez que, não
havendo pena a ser aplicada, é o valor mínimo o valor certo

13 Estefam, André ; Gonçalves, Victor Eduardo Rios Direito penal esquematizado® – parte
geral / André Estefam; Victor Eduardo Rios Gonçalves. – Coleção esquematizado ® / coordenador
Pedro Lenza - 9. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020.

122
PRESCRIÇÃO ANTECIPADA, PRESCRIÇÃO PELA PENA HIPOTÉ-
TICA, PRESCRIÇÃO VIRTUAL, PRESCRIÇÃO PELA PENA IDEAL.
Surgiu através de uma corrente no Tribunal de Alçada Criminal
de São Paulo que começou a vislumbrar a possibilidade de reconheci-
mento da prescrição, mesmo antes da sentença condenatória.
Muitas vezes, porém, em certos casos, antes da sentença, ou
até mesmo antes do recebimento da denúncia, transparece lúcida e
imutável a certeza de que o réu não será punido com a pena máxima
cominada ao crime, por ser primário, de bons antecedentes e ter a seu
favor todas as circunstâncias judiciais do artigo 59 do C.P.
Assim, sendo possível evidenciar antecipadamente, a apli-
cação da pena mínima ao final processo, ou ainda se já se constata,
previamente, que mesmo que a sentença aplicada seja superior ao
mínimo, não atingirá a máxima, não faz sentido iniciar uma ação penal
ou mesmo continuar com a relação jurídica para no final reconhecer-se
a prescrição retroativa.

PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA


– é aquela que ocorre antes de transitar em julgado a sentença
final e está regulada pelo artigo 109 do Código Penal. Possui algumas
subdivisões, que são:

- Prescrição pela pena em abstrato

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


- Prescrição pela pena em concreto – que se subdivide em :
- Prescrição retroativa;
- Prescrição superveniente ou intercorrente
Prescrição antecipada (pela pena ideal, prescrição virtual ou prescrição por
perspectiva).

- PELA PENA EM ABSTRATO

A regra de ouro dessa espécie de prescrição é trabalhar com o


máximo da pena máxima abstratamente cominada pelo legislador e ve-
rificar os prazos prescritos no artigo 109 do Código Penal. Deve-se ter
uma grande cautela na leitura do art. 109, principalmente nos últimos in-
cisos, os quais o legislador muda a sua forma de redação, que faz com
que o intérprete se confunda na verificação dos prazos. Assim, a melhor
forma de se ler a tabela de prazos é conforme se estabelece abaixo:

123
PENA MÁXIMA COMINADA PRESCREVE EM
Acima de 12 anos 20 anos
8 anos e 1 dia até 12 anos 16 anos
4 anos e 1 dia até 8 anos 12 anos
2 anos e 1 dia até 4 anos 8 anos
1 ano até 2 anos 4 anos
Menor que 1 ano 3 anos (alterado pela lei 12.234/2010)

O prazo prescricional, de acordo com orientação do STF, deve


ser considerado em face do FATO NARRADO NA DENÚNCIA e não em
relação à capitulação legal formulada pelo Ministério Público.

PRESCRIÇÃO DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO E DA PENA


DE MULTA.
De acordo com o artigo 109, parágrafo único, “aplica-se às pe-
nas restritivas de direito os mesmos prazos previstos para as privativas
de liberdade”.
Da mesma forma, define o art. 118 do C.P que as penas mais
leves prescrevem com as mais graves. As penas mais leves são a
MULTA E AS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS.
Portanto, vê-se que a prescrição nas penas restritivas de di-
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

reito ocorre no mesmo prazo das penas privativas de liberdade substi-


tuídas, ou seja, aplica-se o mesmo raciocínio das penas privativas de
liberdade, com a mesma tabela do artigo 109 do CP para o cálculo e a
pena de multa, cumulada com outra pena, prescreve no prazo desta,
pois, conforme o artigo 118 do CP, as penas mais leves prescrevem no
prazo das penas mais graves. Se isolada, prescreve em dois anos;
Por fim, vale lembrar que se o sujeito é menor de 21 anos na
data do fato ou maior de 70 anos na data da sentença, o prazo prescri-
cional é reduzido pela metade.
Por fim, é importante lembrar que a recente alteração vigente
na legislação penal advinda com a Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anti-
crime) trouxe no artigo 51 do Código Penal que “Transitada em julgado
a sentença condenatória, a multa será executada perante o juiz da
execução penal e será considerada dívida de valor, aplicáveis as nor-
mas relativas à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que con-
cerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição”, portanto, a
mudança trazida com a alteração legislativa alterou o entendimento da
súmula 521, do Superior Tribunal de Justiça, onde dizia que “a legitimi-
dade para a execução fiscal de multa pendente de pagamento imposta
124
em sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pú-
blica”.

PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA RETROATIVA.


Embora a Lei 12.234/2010 tenha feito menção que ela teria ter-
minado, ela subsiste. Trata-se de modalidade de prescrição cujo cálculo
leva em consideração a pena aplicada na sentença penal condenatória
recorrível, com trânsito em julgado para o Ministério Público ou para o
querelante, sendo que seu prazo é contado a partir da data do recebi-
mento da denúncia, até a data da publicação da sentença ou acórdão
condenatórios recorríveis.
Ou seja, para que se possa considerar a ocorrência de prescri-
ção retroativa, é necessário que haja trânsito em julgado para a acusa-
ção ou improvimento de seu recurso com relação ao quantum da pena
imposta
A prescrição retroativa resulta da combinação da disposição do
§§ 1º do artigo 110 do Código Penal e do artigo 109 do mesmo Diploma
Penal.
A prescrição retroativa é aplicável também aos casos em que a
condenação se dá na segunda instância (absolvição em primeiro grau e
condenação no Tribunal em face de recurso de ofício e voluntário; con-
denação em crime de competência originária do Tribunal);

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


O reconhecimento da prescrição retroativa atinge a pretensão
punitiva, rescindindo a sentença condenatória e seus efeitos principais
e acessórios
Por haver necessidade de uma pena em concreto aplicada,
não pode ser reconhecida em primeiro grau.
Houve, por parte da Defensoria Pública da União, um pedido
de reconhecimento de inconstitucionalidade parcial da Lei 12.234/2010,
quanto à alteração do parágrafo 1º do artigo 110 do Código Penal, e à
exclusão do parágrafo 2º do mesmo artigo. Isso porque a alteração feita
pela Lei 12.234/2010 no Código Penal aumentou de forma excessiva
o prazo para o recebimento da denúncia ofendendo os princípios da
razoabilidade, da proporcionalidade e da segurança jurídica, ferindo a
razoável duração do processo.
O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) manteve a va-
lidade da Lei 12.234/2010, decisão essa que se deu por maioria dos
votos, entendendo ser a lei compatível com a Constituição.
Na doutrina, Nucci salienta que tanto o juiz da condenação
quanto o da execução podem reconhecer a ocorrência da prescrição

125
retroativa. A Lei 12.234/2010 eliminou o § 2.º do art. 110 do CP, que
previa o cômputo da prescrição retroativa entre a data do fato e a do
recebimento da peça acusatória. Aliás, deixou bem clara essa opção
diante da nova redação dada ao caput do art. 110. Restringiu-se
o alcance da prescrição da pena concreta, mas não se elimi-
nou o benefício. Os crimes em geral, salvo racismo e ação de grupos
armados contra o Estado Democrático (previstos como imprescritíveis
pela CF), continuam prescritíveis. Por isso, não vislumbramos inconsti-
tucionalidade na reforma penal elaborada nesse artigo14.

PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA.


Essa forma de prescrição se dá após o trânsito em julgado da
sentença condenatória, para a acusação e para a defesa. Uma vez
identificada, o Estado perde o direito de executar a sanção imposta na
sentença condenatória.
PRAZOS E FORMA DE CONTAGEM
Seu pressuposto é o trânsito em julgado da sentença conde-
natória para ambas as partes e o termo inicial de contagem se dá de
acordo com o disposto no art. 112 do CP. Seu prazo deve ser regulado
com base na pena concretamente aplicada ao réu, de acordo com o
previsto no artigo 110, caput, do mesmo Código Penal.
Sendo assim, o termo inicial de contagem do prazo é :
a) Do dia em que transita em julgado a sentença condenatória
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

para a acusação (artigo 112, I, primeira parte);


b) Do dia em que é revogada a suspensão do processo (sursis)
ou o livramento condicional (artigo 112, I, segunda parte).

Na prescrição da pretensão executória, o pressuposto para


sua análise é não ter havido pretensão punitiva, bem como deve haver
o trânsito em julgado para ambas as partes. No entanto, o termo inicial
de contagem do prazo ocorre com a ocorrência do trânsito em julgado
para o MP
Durante o sursis e do livramento condicional, não corre prazo
prescricional da pretensão executória porque ambos os institutos são
formas de execução da pena privativa de liberdade, o que demonstra
que o Estado não está inerte.
14 Nucci, Guilherme de Souza Manual de direito penal / Guilherme de Souza Nucci. – 16.
ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2020

126
Vale lembrar ainda que não se pode confundir o dia em que
se revoga a suspensão da pena com o termo inicial no caso em que o
sursis é tornado sem efeito,. Neste último caso, portanto, se o juiz tornar
sem efeito o sursis, o prazo começará a contar da data do trânsito em
julgado para a acusação.
Os prazos fixados para as penas restritivas de direitos e para
a pena de multa obedecem às mesmas regras já estudadas. O prazo
prescricional da pena de multa não sofre alteração (artigo 114 do CP);
No caso de concessão de livramento condicional, a prescri-
ção é regulada pelo tempo que resta da pena (artigo 113 do CP);
c) Do dia em que se interrompe a execução (hipótese de fuga
do condenado), salvo quando o tempo da interrupção deva computar-se
na pena, ou seja, nas hipóteses dos artigos 41 e 42 do C.P. (superve-
niência de doença mental ou internação do condenado em hospital).
Na eventualidade de fuga do condenado, a prescrição executó-
ria é interrompida (artigo 117, segunda parte) e o prazo começa a correr
no dia da fuga (interrupção da execução), sendo que, nesse caso, o
prazo prescricional também é regulado pelo tempo que resta da pena
(artigo 113 do CP). Portanto, é importante que o artigo 113 (prescrição
no caso de evasão do condenado ou de revogação do livramento con-
dicional) seja examinado em conjunto com o artigo 112, I e II, ambos do
CP.
No curso da execução da pena, se o condenado for internado

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


em razão de superveniência de doença mental (artigo 41 do CP), a
execução não é interrompida, de acordo com o artigo 112, II, segunda
parte, e art. 42, parte final do Código Penal.
Por fim, vale ressaltar que, sobre o tema - livramento condi-
cional - com a recente alteração legislativa trazida pela lei denominada
de Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/19), houve aumento dos requisitos
para a obtenção deste, vejamos a antiga a nova redação:

127
Anterior Atual (Lei 13.964/19)
Art. 83. O juiz poderá conceder livra- Art. 83. III - comprovado: a) bom
mento condicional ao condenado a comportamento durante a execução
pena privativa de liberdade igual ou da pena; b) não cometimento de falta
superior a 2 (dois) anos, desde que: grave nos últimos 12 (doze) meses;
III - comprovado comportamento c) bom desempenho no trabalho que
satisfatório durante a execução da lhe foi atribuído; e d) aptidão para
pena, bom desempenho no trabalho prover a própria subsistência median-
que lhe foi atribuído e aptidão para te trabalho honesto.
prover à própria subsistência median-
te trabalho honesto;

A REINCIDÊNCIA

A reincidência afeta a prescrição em duas situações, sempre


em caso de PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA. Isso por-
que, para que alguém possa ser considerado reincidente, o pressuposto
é que tenha havido o trânsito em julgado de uma sentença condenató-
ria.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

SÚMULA 220 DO STJ: A reincidência não influi no prazo da


prescrição da pretensão punitiva
A reincidência acarreta no aumento do prazo da prescrição da
pretensão executória relativa ao segundo crime – reincidência de fato
antecedente – art. 110 caput do Código Penal
Art. 110 do Código Penal: A prescrição depois de transitar em
julgado a sentença condenatória regula-se pela pena aplicada e verifi-
ca-se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de
um terço, se o condenado é reincidente.
Deve-se fazer o seguinte cálculo para a verificação do lapso
prescricional:
Examina-se a pena concretamente aplicada, para em seguida
adequá-la a um dos incisos do artigo 109 do CP, acrescentando-se, so-
bre o período encontrado, o percentual de um terço.
A reincidência não aumenta o prazo da prescrição executória
de multa, sendo inaplicável o disposto no artigo 110, caput, parte final,
128
uma vez que ele se refere ao artigo 109, que, por sua vez, se refere
exclusivamente à pena privativa de liberdade.
A reincidência funcionará também como causa interruptiva do
curso do prazo prescricional, ou seja, é a chamada reincidência de fato
subsequente. Nesse caso, se no curso da execução da pena, o réu vier
a praticar um novo crime, haverá a interrupção do curso do prazo pres-
cricional relativo ao crime anterior.
Não é pacífico o momento em que a reincidência interrompe o
prazo prescricional.

1) O prazo prescricional da pretensão executória é interrompido pela prática


do novo crime e não pela sentença condenatória com trânsito em julgado que
o reconhece. Essa interrupção, porém, fica condicionada à efetiva condena-
ção do réu; se este vier a ser absolvido, evidente que não há reincidência.
Os efeitos da sentença condenatória, portanto, retroagem à data do fato
2) O lapso prescricional é. interrompido pela sentença condenatória irrecor-
rível que reconhece o novo crime e não pela sua prática, sendo essa uma
excelente tese defensiva.

Em doutrina, Nucci salienta que “inexiste dupla punição em vir-


tude do aumento de um terço na prescrição da pretensão executória da
pena em relação ao reincidente. Cuida-se de um critério de política cri-
minal, que respeita o princípio da razoabilidade, afinal, quem reincide na
prática delituosa sobre maior punição é justo que o prazo prescricional
lhe seja também computado de maneira diversa, ao menos para a exe-

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


cução da pena. Por outro lado, é inaplicável o aumento de um terço no
prazo da prescrição da pretensão executória da pena de multa, quando
esta é a única prevista ou a única aplicada, tendo em vista que o dispos-
to neste artigo é taxativo, tratando apenas da elevação dos prazos do
art. 109. Ora, quando a multa é a única pena cominada ou aplicada, seu
prazo de prescrição é específico e vem disposto no art. 114, I”15.

PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA SUPERVENIENTE OU IN-


TERCORRENTE
É a modalidade de prescrição cujo prazo é contado a partir da
publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis, e tem
como pressuposto o trânsito em julgado para a acusação ou o improvi-
mento do seu recurso. É reconhecida pelo nome de superveniente uma
vez que ocorre após a sentença ou acórdãos condenatórios recorríveis.
Uma vez transitada em julgado para a acusação ou improvido
o seu recurso, é a partir da publicação da sentença condenatória que
15 Nucci, Guilherme de Souza Manual de direito penal / Guilherme de Souza Nucci. – 16.
ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2020.

129
começa a correr o prazo regulado pela pena concretamente aplicada
(artigo 110, § 1º do CP).
A razão está no fato de que, ou porque somente o réu apelou,
ou, não tendo apelado, poderia fazê-lo, ou porque a decisão transitou
em julgado para a acusação, ou foi improvida a sua apelação, a conde-
nação, quanto à quantidade de pena não pode ser alterada em prejuízo
para a defesa.
A prescrição superveniente, assim como a prescrição da pre-
tensão punitiva retroativa, de acordo com o entendimento jurispruden-
cial dominante - não podem ser declaradas pelo juiz de primeiro grau
após a prolação de sua sentença, uma vez que ele já encerrou a sua
função jurisdicional.
FORMA DE CONTAGEM DO PRAZO
Uma vez transitada em julgado para a acusação, ou improvido
o seu recurso, verifica-se o quantum da pena imposta na sentença con-
denatória. Em seguida, adequa-se tal prazo num dos incisos do artigo
109 do C.P.
Encontrado o respectivo prazo prescricional, procura-se en-
caixá-lo entre os períodos prescricionais. Lembre-se que no caso de
se utilizar a pena aplicada na sentença, em se tratando de prescrição
retroativa, não será possível considerar a data entre a consumação do
delito e o recebimento da denúncia ou queixa.
Não há interrupção do prazo prescricional a interposição de
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

recurso especial ou extraordinário, embargos infringentes ou de nulida-


de, o que significa dizer que, entre a data da publicação da sentença
condenatória, com ou sem recurso do MP, até a decisão final (que ocor-
rerá com a solução definitiva do recurso extraordinário), pode ocorrer a
prescrição superveniente.

PRESCRIÇÃO NO CONCURSO DE CRIMES.


Tanto no concurso material, como no formal, a prescrição atin-
ge a pretensão punitiva em relação a cada infração, considerada isola-
damente, aplicando-se a regra prevista no artigo 119 do Código Penal.
A regra é ratificada no crime continuado, conforme-se pode-se verificar
a redação da Súmula 497 do STF, que estabelece o seguinte: QUANDO
SE TRATAR DE CRIME CONTINUADO, A PRESCRIÇÃO REGULA-SE
PELA PENA IMPOSTA NA SENTENÇA, NÃO SE COMPUTANDO O
ACRÉSCIMO DECORRENTE DA CONTINUAÇÃO.

130
SENTENÇA CONDENATÓRIA ANULADA.
Quando a sentença for anulada em razão de recurso exclusivo
da Defesa, isto é, sem recurso do MP, a nova sentença proferida em
razão da anulação da sentença anterior, não poderá impor pena mais
grave do que a anterior, em razão do princípio da proibição da reforma-
tio in pejus. Vale lembrar que tendo sido anulada a sentença, ela não
tem a capacidade de interromper o curso do prazo prescricional.

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

131
QUESTÕES DE CONCURSOS

QUESTÃO 1
Ano: 2014 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: Exame de Ordem Unifi-
cado - XV
Francisco foi condenado por homicídio simples, previsto no Art.
121 do Código
Penal, devendo cumprir pena de seis anos de reclusão. A sentença
penal condenatória transitou em julgado no dia 10 de agosto de
1984. Dias depois, Francisco foge para o interior do Estado, onde
residia, ficando isolado num sítio. Após a fuga, as autoridades
públicas nunca conseguiram capturá-lo. Francisco procura você
como advogado (a) em 10 de janeiro de 2014. Com relação ao caso
narrado, assinale a afirmativa correta:
a) Ainda não ocorreu prescrição do crime, tendo em vista que ainda não
foi ultrapassadoo prazo de trinta anos requerido pelo Código Penal.
b) houve prescrição da pretensão executória
c) não houve prescrição, pois o crime de homicídio simples é impres-
critível.
d) houve prescrição da pretensão punitiva pela pena em abstrato, pois
Francisco nunca foi capturado
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

QUESTÃO 2
Ano: 2017 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: Exame de Ordem Unifi-
cado - XXIII - Primeira Fase
Silva foi vítima de um crime de ameaça por meio de uma ligação
telefônica realizada em 02 de janeiro de 2016. Buscando identificar
o autor, já que nenhum membro de sua família tinha tal informação,
requereu, de imediato, junto à companhia telefônica, o número de
origem da ligação, vindo a descobrir, no dia 03 de julho de 2016,
que a linha utilizada era de propriedade do ex-namorado de sua
filha, Carlos, razão pela qual foi até a residência deste, onde houve
a confissão da prática do crime. Quando ia ao Ministério Público,
na companhia de Marta, sua esposa, para oferecer representação,
Silva sofreu um infarto e veio a falecer. Marta, no dia seguinte, afir-
mou oralmente, perante o Promotor de Justiça, que tinha interesse
em representar em face do autor do fato, assim como seu falecido
marido. Diante do apelo de sua filha, Marta retorna ao Ministério
Público no dia 06 de julho de 2016 e diz que não mais tem interesse
na representação. Ainda assim, considerando que a ação penal é
pública condicionada, o Promotor de Justiça ofereceu denúncia,
132
no dia 07 de julho de 2016, em face de Carlos, pela prática do crime
de ameaça.
Considerando a situação narrada, o (a) advogado (a) de Carlos, em
resposta à acusação, deverá alegar que:
a) ocorreu decadência, pois se passaram mais de 6 meses desde a data
dos fatos.
b) a representação não foi válida, pois não foi realizada pelo ofendido.
c) ocorreu retratação válida do direito de representação. 
d) a representação não foi válida, pois foi realizada oralmente. 

QUESTÃO 3
Ano: 2017 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: Exame de Ordem Unifi-
cado - XXIV - Primeira Fase
No dia 28 de agosto de 2011, após uma discussão no trabalho
quando todos comemoravam os 20 anos de João, este desfere
uma facada no braço de Paulo, que fica revoltado e liga para a
Polícia, sendo João preso em flagrante pela prática do injusto de
homicídio tentado, obtendo liberdade provisória logo em seguida.
O laudo de exame de delito constatou a existência de lesão leve. A
denúncia foi oferecida em 23 de agosto de 2013 e recebida pelo juiz
em 28 de agosto de 2013. Finda a primeira fase do procedimento
do Tribunal do Júri, ocasião em que a vítima compareceu, confir-
mou os fatos, inclusive dizendo acreditar que a intenção do agente

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


era efetivamente matá-la, e demonstrou todo seu inconformismo
com a conduta do réu, João foi pronunciado, sendo a decisão pu-
blicada em 23 de agosto de 2015, não havendo impugnação pelas
partes. Submetido a julgamento em sessão plenária em 18 de julho
de 2017, os jurados afastaram a intenção de matar, ocorrendo em
sentença, então, a desclassificação para o crime de lesão corporal
simples, que tem a pena máxima prevista de 01 ano, sendo certo
que o Código Penal prevê que a pena de 01 a 02 anos prescreve
em 04 anos. 
Na ocasião, você, como advogado (a) de João, considerando ape-
nas as informações narradas, deverá requerer que seja declarada
a extinção da punibilidade pela: 
a) decadência, por ausência de representação da vítima. 
b) prescrição da pretensão punitiva, porque já foi ultrapassado o prazo
prescricional entre a data do fato e a do recebimento da denúncia. 
c) prescrição da pretensão punitiva, porque já foi ultrapassado o prazo
prescricional entre a data do oferecimento da denúncia e a da publica-
ção da decisão de pronúncia. 
d) prescrição da pretensão punitiva, porque entre a data do recebimento
133
da denúncia e a do julgamento pelo júri decorreu o prazo prescricional. 

QUESTÃO 4
Ano: 2016 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: Exame de Ordem Unifi-
cado - XX - Primeira Fase (Reaplicação Salvador/BA)
No dia 29/04/2011, Júlia, jovem de apenas 20 anos de idade, prati-
cou um crime de lesão corporal leve (pena: de 03 meses a 01 ano)
em face de sua rival na disputa pelo amor de Thiago. A represen-
tação foi devidamente ofertada pela vítima dentro do prazo de 06
meses, contudo a denúncia somente foi oferecida em 25/04/2014.
Em 29/04/2014 foi recebida a denúncia em face de Júlia, pois não
houve composição civil, transação penal ou suspensão condicio-
nal do processo. Nesta hipótese:
a) poderá ser requerido pelo advogado de Júlia o reconhecimento da
prescrição pela pena ideal, pois entre a data dos fatos e o recebimento
da denúncia foram ultrapassados mais de 03 anos.
b) deverá, caso aplicada ao final do processo a pena mínima prevista
em lei, ser reconhecida a prescrição da pretensão punitiva retroativa,
pois entre a data dos fatos e o recebimento da denúncia foram ultrapas-
sados mais de 03 anos. 
c) não foram ultrapassados 03 anos entre a data dos fatos e do recebi-
mento da denúncia, pois o prazo prescricional tem natureza essencial-
mente processual e não material.  
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

d) deverá ser reconhecida, de imediato, a prescrição da pretensão puni-


tiva pela pena em abstrato.  

QUESTÃO 5
Ano: 2017 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2017 - OAB - Exa-
me de Ordem Unificado - XXII - Primeira Fase
No dia 15 de abril de 2011, João, nascido em 18 de maio de 1991, foi
preso em flagrante pela prática do crime de furto simples, sendo,
em seguida, concedida liberdade provisória. A denúncia somente
foi oferecida e recebida em 18 de abril de 2014, ocasião em que o
juiz designou o dia 18 de junho de 2014 para a realização da au-
diência especial de suspensão condicional do processo oferecida
pelo Ministério Público. A proposta foi aceita pelo acusado e pela
defesa técnica, iniciando-se o período de prova naquele mesmo
dia. Três meses depois, não tendo o acusado cumprido as condi-
ções estabelecidas, a suspensão foi revogada, o que ocorreu em
decisão datada de 03 de outubro de 2014.
Ao final da fase instrutória, a pretensão punitiva foi acolhida, sen-
do aplicada ao acusado a pena de 01 ano de reclusão em regime
134
aberto, substituída por restritiva de direitos. A sentença condena-
tória foi publicada em 19 de maio de 2016, tendo transitado em
julgado para a acusação.
Intimado da decisão respectiva, João procura você, na condição
de advogado (a), para saber sobre eventual prescrição, pois tomou
conhecimento de que a pena de 01 ano, em tese, prescreve em 04
anos, mas que, no caso concreto, por força da menoridade relativa,
deve o prazo ser reduzido de metade.
Diante desse quadro, você, como advogado (a), deverá esclarecer
que:  
a) ocorreu a prescrição da pretensão punitiva entre a data do fato e a do
recebimento da denúncia. 
b) ocorreu a prescrição da pretensão punitiva entre a data do recebi-
mento da denúncia e a da publicação da sentença condenatória.  
c) ocorreu a prescrição da pretensão executória entre a data do recebi-
mento da denúncia e a da publicação da sentença condenatória.
d) não há que se falar em prescrição, no caso apresentado.  

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE

Com relação a prescrição virtual, conceitue o instituto e explique a pos-


sibilidade de aplicação do mesmo nos processos brasileiros.

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


TREINO INÉDITO
É correto afirmar que

A reincidência deve ser levada em consideração para fins de prescrição


da pretensão punitiva
A reincidência somente poderá ser levada em consideração para fins de
prescrição da pretensão executória
Não há qualquer influência da reincidência nos prazos prescricionais
Considera-se reincidente aquele comete um crime após a sentença que
o tenha condenado no Brasil por contravenção anterior

NA MÍDIA
João de Deus: por que a lei pode dificultar processar casos ocorridos há
mais de seis meses
Código Penal brasileiro determinava que as vítimas de crimes sexuais
deveriam se manifestar no prazo máximo de seis meses. A regra deixou
de existir em setembro, mas ainda é válida para crimes que ocorreram
antes disso.

135
Fonte: Globo.com
Data: 18 dez 2018.
Leia a notícia na íntegra:
https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2018/12/18/joao-de-deus-por-
-que-a-lei-pode-dificultar-processar-casos-ocorridos-ha-mais-de-seis-
-meses.ghtml

Saiba mais

Filme sobre o assunto: Assassinato em Primeiro Grau (Murder in the


First) – 1995

Acesse o link: http://www.cnj.jus.br/sistema-carcerario-e-execucao-pe-


nal/calculadora-de-prescricao-da-pretensao-punitiva

Observação: Sobre a temática, é importante que o aluno note a rele-


vância do assunto dentro do seu campo de atuação.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

136
GABARITOS

CAPÍTULO 01

QUESTÕES DE CONCURSOS

01 02 03 04 05
A B A C A

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

Não foi correta a decisão do magistrado. O Direito Penal vem sendo


muitas vezes utilizado de forma simbólica. Repare que sempre que
existe uma conduta reprovável socialmente e de grande repercussão,
há uma pressão social incrível para que seja criado um novo crime, ou
se crime já existia, que seja majorada a pena. Na verdade, nenhum cri-
minoso antes de delinquir vai ao Código Penal verificar qual seria a sua
pena. Deveria ser observada uma proporcionalidade para acabar com
o poder ilimitado que o Estado tem de criar crime por todo e qualquer
motivo. O direito penal somente poderá ser utilizado quando nenhum
outro ramo do direito for suficiente para punir o indivíduo

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


TREINO INÉDITO
Gabarito: D

137
CAPÍTULO 02

QUESTÕES DE CONCURSOS

01 02 03 04 05
C D A C B

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

O critério adotado pelo Código Penal é chamado de trifásico porque é


composto de três etapas, que são as seguintes:
1º) Consideram-se, inicialmente, as circunstâncias judiciais do art. 59
para encontrar a pena-base, entre a quantidade mínima e máxima de
pena imposta em abstrato no tipo penal básico ou qualificado – pena-
-base.
2º) Aplicam-se, então, as circunstâncias atenuantes e agravantes, pre-
vistas nos arts. 61, 62, 65 e 66 – Nessa fase, temos aquilo que chama-
mos de pena intermediária ou pena provisória.
3º) Por último, aplicam-se as causas de diminuição e aumento de pena,
previstas na parte especial e na parte geral do Código Penal, chegan-
do-se à pena definitiva.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

O maior desafio na aplicação da pena é que não seja feito um bis in


idem, pois muitas vezes, o que aparece como elementar, pode aparecer
como circunstância judicial, agravante e causa de aumento, por exem-
plo. Assim, deve-se lembrar do seguinte:
Ao realizar a capitulação delitiva, tenha cuidado em observar as ele-
mentares (tudo aquilo que se for suprimido do tipo penal, torna-se um
crime diferente, ou deixa de existir como crime) e as qualificadoras (tudo
que se agregue ao tipo penal simples e que venha a criar uma penali-
dade autônoma).
Vale ressaltar que ao levar em consideração a elementar ou a qualifi-
cadora, não mais poderá aparecer nas fases da dosimetria, pois caso
contrário, acontecerá um bis in idem.
Apesar de a primeira fase tratar das circunstâncias judiciais do art. 59
do Código Penal, pode-se dizer que as oito circunstâncias enumera-
das pelo legislador são residuais. Ou seja, somente serão levadas em
consideração para movimentar a pena-base caso não apareçam como
elementares, qualificadoras, causas de aumento e/ou diminuição, agra-

138
vantes nem atenuantes.
Após analisar as circunstâncias judiciais, o juiz deverá levar em consi-
deração as circunstâncias atenuantes (65 e 66 do CP) e agravantes (61
e 62). Essas somente poderão ser valoradas se não aparecerem como
elementares, qualificadoras, causas de aumento e/ou diminuição.
Por fim, analisa-se as causas de aumento e diminuição de pena. Essas
causas possuem um quantum especificado e a sua valoração levará em
consideração as condições do caso concreto e não a sua gravidade em
abstrato. Vale lembrar que o Código Penal autoriza que no concurso de
causas de aumento ou diminuição apenas da parte especial, o juiz pode
limitar-se a um só aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo, to-
davia, a causa que mais aumente ou diminua. Essa faculdade não é
permitida quando houver concurso de causas de aumento e diminuição
da parte geral

TREINO INÉDITO
Gabarito: A

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

139
CAPÍTULO 03

QUESTÕES DE CONCURSOS

01 02 03 04 05
B C B D D

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

Surgiu através de uma corrente no Tribunal de Alçada Criminal de São


Paulo que começou a vislumbrar a possibilidade de reconhecimento da
prescrição, mesmo antes da sentença condenatória.
Muitas vezes, porém, em certos casos, antes da sentença, ou até mes-
mo antes do recebimento da denúncia, transparece lúcida e imutável a
certeza de que o réu não será punido com a pena máxima cominada ao
crime, por ser primário, de bons antecedentes e ter a seu favor todas as
circunstâncias judiciais do artigo 59 do C.P.
Assim, sendo possível evidenciar antecipadamente, a aplicação da
pena mínima ao final processo, ou ainda se já se constata, previamen-
te, que mesmo que a sentença aplicada seja superior ao mínimo, não
atingirá a máxima, não faz sentido iniciar uma ação penal ou mesmo
continuar com a relação jurídica para no final reconhecer-se a prescri-
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

ção retroativa.
A Súmula 438 do STJ rechaçou a possibilidade de reconhecimento da
prescrição pela pena ideal. É inadmissível a extinção da punibilidade
pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento em pena hipoté-
tica, independentemente da existência ou sorte do processo penal

TREINO INÉDITO
Gabarito: B

140
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. V.2. 11. ed.
São Paulo: Saraiva, 2011.

CAPEZ, Fernando Capez. Curso de Direito Penal. v.4. 5.ed. São Pau-
lo: Saraiva, 2010.

______ Curso de Direito Penal. Parte Especial, v.2.10. ed. São Paulo:
Saraiva.

CUNHA, Rogério Sanches. Direito Penal – parte especial. 2 ed. São


Paulo: Revista dos Tribunais.

FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal. 6 ed. Rio de Janeiro:


Guanabara koogan, 2001

HABIB, Gabriel. Leis Penais Especiais volume único/ coordenador Leo-


nardo de Medeiros Garcia – 10. Ed. Ver, atual e ampl. – Salvador: Jus
Podium, 2018, p.630/631.

Estefam, André ; Gonçalves, Victor Eduardo Rios Direito penal esque-


matizado® – parte geral / André Estefam; Victor Eduardo Rios Gonçal-
ves. – Coleção esquematizado ® / coordenador Pedro Lenza - 9. ed.

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS


– São Paulo : Saraiva Educação, 2020.

QUEIROZ, Paulo. Direito penal. Parte geral. 3. ed. São Paulo: Saraiva,
2006. p. 45. Na dicção do STF: “Os direitos fundamentais não podem
ser considerados apenas proibições de intervenção (Eingrif sverbote),
expressando também um postulado de proteção (Schutzgebote). Po-
de-se dizer que os direitos fundamentais expressam não apenas uma
proibição do excesso (Übermassverbote), como também podem ser
traduzidos como proibições de proteção insuficiente ou imperativos de
tutela (Untermassverbote)” (HC 102.087/MG, rel. Min. Celso de Mello,
rel. p/ acórdão Min. Gilmar Mendes, 2.ª Turma, j. 28.02.2012).

GRECO, Rogério.Código Penal Comentado. 6.ed. Niterói: Impetus,


2012.

MARQUES, Alexandre Paranhos Pinheiro. Direito Penal: parte geral:


princípios limitadores do direito penal, norma penal, lei penal do tempo
e no espaço, teoria do crime (fato típico, ilícito e culpável), punibilidade
e concurso de pessoas/ Alexandre Paranhos Pinheiro Marques; coorde-
141
nação de Marcus Vinícius Manso Lopes Gomes. – 2. Ed. – São Paulo:
Saraiva Educação, 20019.

Masson, Cleber Direito Penal: parte geral (arts. 1º a 120) – vol. 1 / Cle-
ber Masson. – 13. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO,
2019.

Misaka, Marcelo Yukio Sentença criminal / Marcelo Yukio Misaka ; coor-


denação Cleber Masson. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTO-
DO, 2014.

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 6.ed. São Pau-


lo: Revista dos Tribunais, 2009.

Nucci, Guilherme de Souza Manual de direito penal / Guilherme de Sou-


za Nucci. – 16. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2020.

ROXIN, Claus. Derecho penal. Parte General. Fundamentos. La estruc-


tura del delito. 2. ed. Trad. Diego-Manuel Luzón Peña, Miguel Díaz y
García Conlledo e Javier de Vicente Remesal. Madrid: Civitas, 2008. t.
I. p. 193.

PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. v.2.8.ed. São


INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.

142
143
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS

Você também pode gostar