“Será que só existe poesia na beleza? Na luz? No grandioso?”. São estas interrogações que dão início ao documentário realizado pela RTP no âmbito de explorar e interpretar a poesia reunida em O Livro de Cesário Verde. Devo começar por destacar o que, na minha opinião, é o momento mais bem elaborado em todo o documentário. A introdução. Desde a música calma mas misteriosa, passando pelo texto proferido pelo narrador de forma provocativa e apelativa, até ao ator que representa toda a figura de Cesário Verde em apenas sessenta segundos, é impossível não sentir que está tudo em aberto após este início. O espectador é completamente deixado, como o nome sugere, na expectativa. Após ver aquele primeiro minuto, a curiosidade apoderou-se de mim fazendo-me assistir à restante meia hora do documentário. Com participações de nomes conhecidos como Helder Macedo, Maria Filomena e Miguel Tamen, entre outros, existe um vasto conjunto de opiniões sobre a poesia de Cesário. Isto leva a que o espectador fique com as informações e pontos de vista necessários para construir a sua própria visão de Cesário assim como da sua arte. Tenho pena de que a sua arte não tenha sido apreciada com o devido valor pelos seus contemporâneos mas de facto tenho de concordar com o que Maria Filomena afirmou no final do documentário: “Esta poesia veio cedo demais ao mundo”. Um aspeto que achei interessante foi a conjugação dos momentos contendo a opinião de um dos participantes, com as cenas em que o ator, já presente na introdução, aparece representando Cesário Verde a deambular pela cidade de Lisboa. Isto enquanto o narrador dá-nos informações sobre o poeta ou enquanto diz alguns versos dos poemas mais famosos de Cesário. Como em todos os bons documentários, a narração foi o elemento mais importante. O narrador determina o rumo do projeto, dando informações bibliográficas sobre o poeta e dissecando a sua arte. Isto, juntamente com o suporte informativo proporcionado pelos participantes e com o suporte visual oferecido pelo ator e pelos vídeos, faz com que o espectador possa desfrutar de todo o documentário, chegando ao fim do mesmo com vontade de saber mais sobre a poesia de Cesário. Para além disto o espectador pode ter formulado uma opinião totalmente diferente à opinião que tinha antes de assistir ao documentário, pode manter a sua opinião ou pode até mesmo construir o seu primeiro ponto de vista em relação à arte do poeta. Assim termino este texto dizendo que, após a visualização do documentário, percebo que a carreira de Cesário Verde foi injusta para com ele mas sei que: “O poema também é possível na noite, no sujo, no feio, nas pequenas coisas, no trivial.”.