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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS


CURSO DE SOCIOLOGIA
COMPONENTE CURRICULAR - TEORIA POLÍTICA
PROFESSOR: RANIERE FERREIRA TORRES
ALUNO (A): BETSSANDRA ALMEIDA MESSIAS
ALUNO (A): ARTHUR RAFAEL GOMES BATISTA DOS SANTOS

WEFFORT, Francisco C. Os Clássicos da Política: Burke, Kant, Hegel,


Tocqueville, Stuart Mill, Marx. Série Fundamentos, 2º volume, São Paulo, SP, 2001.
p. 47-69.

❖ Immanuel Kant (1724 - 1804):


Viveu num período absolutista, sendo um intelectual ativo. Foi um espectador das
grandes revoluções na Europa, dentre elas, a Revolução Francesa, apesar de não ser um
revolucionário. Kant foi um importante pensador da modernidade.

● A filosofia da moral e a dignidade do indivíduo:


A partir do momento em que o conhecimento racional se faz presente, Kant vai
abordar vários objetos e sobre sua própria lei. Para Kant, há dois tipos de objetos: a natureza
(que é o objeto da física) e a liberdade (objeto da filosofia moral e da ética). No entanto, o
conhecimento acerca das leis da própria razão constitui a lógica racional do próprio
indivíduo. Com isso surge a metafísica da moral (origem das leis), que é dividida em duas
partes (uma a respeito da justiça e outra a respeito da virtude) criando, assim, as leis da
liberdade. A dignidade do indivíduo, como ser pensante, faz com que o homem não obedeça
às leis a menos que ele mesmo tenha criado, assim como o seu direito à liberdade baseada nas
imposições morais da república e da paz.

● O imperativo categórico
As ações dos indivíduos na sociedade não são pautadas em escolhas individuais e
subjetivas, elas se interligam com o meio moral que o indivíduo está inserido, sendo exterior
ao próprio indivíduo, que são as leis que são cumpridas e afirmadas através do conhecimento
racional.
● A liberdade externa e autonomia
É rudimentar vermos o pensamento acerca da liberdade, ligando a autonomia que os
indivíduos possuem em agir livremente, no sentido da ausência de relações externas que
orientem seu pensamento e comportamento, chegando a ser algo negativo. O que diferencia o
pensamento de Kant, sendo algo inseparável, a liberdade acompanhada sempre com o meio
moral que o homem está inserido, para Kant a liberdade é a capacidade de indivíduos agir
perante as leis, porque as leis quando criadas pelo o homem racionalmente, direcionam
situações de causa e efeitos, tornadas assim cidadãos, de deveres e direitos.

● A doutrina do direito
Quando pensamos em direito interligamos, ainda que inconscientemente, com
deveres; essa ligação não é equivocada, para que haja a existência do direito deve coexistir os
deveres de um indivíduo em dada sociedade. É o que Kant vai nos mostrar. Ele vai nos
mostrar que o direito seriam leis que possam tornar-se externas, que possam ser externamente
promulgadas. Nesse caso toda lei precisa impor deveres, porém o cumprimento destes pode
ou não ser coativamente exigido. Existem dois tipos de leis: as leis morais, que diz respeito às
leis naturais (princípios internos, religião, família, costumes, cultura, etc). O fundamento
dessas leis é a autonomia da vontade (representa a unanimidade/maioria da sociedade) e a
referência desse fundamento moral é constitutiva do direito. Ele também vai falar sobre a lei
positiva (interna) e o direito positivo, indo contra essas ideias visto que, para Kant, a relação
jurídica diz respeito à relação externa com o outro; as leis não são da parte da vontade do
legislador, e sim do povo.

● Direito privado e direito público


Aqui teremos a diferença entre a lei natural (que não exige promulgação pública)
constituindo o direito privado, e a lei positiva (que são promulgadas e constituem o direito
público), esta que expressaria a vontade do legislador (que deve mostrar a vontade do povo).
Ambos os direitos privado e público possuem o mesmo fundamento: a autonomia da vontade.

● O direito privado: a fundamentação do “meu” e do “teu”


De início, precisamos entender a diferença entre posse física e posse inteligível, a
última citada correspondendo à posse jurídica, ou seja, se um objeto cuja a posse é do
indivíduo “A” for utilizado pelo indivíduo “B”, mesmo que “A” não esteja usando, é
considerado como uma ofensa. A propriedade legal abstrai todas as condições da propriedade
empírica e do tempo. É importante ressaltar que, originalmente, todos têm direito de posse
coletiva de todos os bens e que, a base legal, da propriedade individual é um ato de consenso
coletivo. No entanto, tendo em mente que tudo no estado de natureza é provisório, para que
essa posse seja definitiva, deve haver intervenção de uma autoridade superior que irá garantir
essa propriedade.

● A constituição da sociedade civil e o direito público


Como dito anteriormente, o direito público é o direito positivo, que provém do
legislador para a regulação dos negócios privados (justiça comutativa) e da relação entre a
autoridade pública e a população (justiça distributiva). Aqueles indivíduos que agem de
acordo com as leis formam a sociedade civil (status civilis), esta sociedade também se
denomina como Estado (civitas), portanto os termos “Estado” e “sociedade civil” se referem
ao mesmo objeto vistos de pontos diferentes. A transição de “Estado de Natureza” para a
sociedade civil ocorre por meio da racionalização, não obedecendo motivos de utilidade mas
sim de realização da ideia de liberdade, seja em sentido positivo ou negativo desta. O ato que
oficializa essa “transição” é o contrato originário, este explica a sociedade tal como ela é e
como ela deve ser. Essa ideia não remete à origem da sociedade, mas ao padrão racional que
ela deve seguir.

● A negação do direito de resistência ou de revolução


Kant vai afirmar que a base da legitimidade é o consenso, mas este seria entendido
como suposto teórico necessário. Sem fazer distinção entre consenso explícito e tácito, ao
contrário de Locke, Kant vai afirmar que, se existe estado, há consenso. Dessa forma, os
cidadãos não poderiam se opor aos seus governantes em hipótese alguma, existindo o dever
de obediência às leis vigentes, mesmo que sejam injustas.

● O estado liberal
O estado liberal segundo Kant, visa a garantia de direitos para os indivíduos, desde
que não seja responsável pela influência individual de cada indivíduo, e sim que o estado seja
a defesa de participação dos mesmo , não sendo algo isolado e inato dos indivíduos, tendo
uma concepção de relação entre ambos, onde o grande papel do estado e sua principal função
é meramente estabelecer um sistema que garanta o livre exercício dessas vontades
individuais de acordo com as leis universais. Porque para Kant a lei visa o exercício máximo
dos direitos da liberdade individual, impondo restrições à liberdade de uma pessoa a partir do
momento em que ataca o exercício da liberdade do outro, garantindo assim que todos
exerçam a liberdade(política) de forma igual.

● A cidadania
A cidadania segundo Kant expressa em um conjunto de direitos, que os indivíduos
possuem em participação em decisões políticas, quanto ser ativo no mesmo processo.
Existindo a sua liberdade individual de atuação nos poderes de uma sociedade, compondo
assim todo o contexto de uma sociedade, possuindo deveres e direitos em um estado liiberal
de direito e assim também em uma república. A cidadania expressa em tudo que compõe a
nossa vida, quanto o nosso conhecimento sobre a constituição, onde estão nossos direitos e
deveres. Ao nascer estamos fazendo cidadania, é a garantia do nosso direito à vida.

● A república
A república seria o estado ideal para kant, sendo o que o governante que tivesse no
poder, tinha que terá a obrigação de abordar uma constituição pautada em uma política
legítima, onde a garantia de participação do povo é essencial,não atendendo a interesses
individuais ou de grupos majoritário, mas sim todo o conjunto de pessoas que compusesse a
sociedade. Na república a lei é autônoma e está vinculada a o direito do povo, o princípio na
república é a liberdade, onde a soberania do povo e a soberania dos indivíduos se combinam
dentro dos limites legais de seus interesses e valores específicos. Do ponto de vista social,
essa será a melhor forma de governo.

● A filosofia da história como progresso da humanidade


Neste ponto, Kant vai trazer a ideia de que a humanidade progride e que essa
progressão humana se dá a partir de um aperfeiçoamento moral, admitindo, em seguida, que,
para que a nosso progresso moral ocorra, é preciso que busquemos na história um evento
(deve ser produzido pelos homens agindo livremente) que comprove este acontecimento. Tal
evento seria como um signo que comprovaria a predisposição moral dos homens ao
progresso, este evento seria a simpatia (sendo universal e desinteressada) pela causa da
liberdade nos grandes confrontos revolucionários e dá o exemplo da Revolução Francesa,
pois ela teria despertado no coração dos espectadores uma simpatia que beirava o entusiasmo,
escolhendo o lado da justiça e da república. O progresso, nessa visão, seria como atingir a
maioridade do Estado, passando da tutela para essa nova fase, dessa forma trazendo a ideia de
que a história universal como sendo a história natural do progresso da razão. Com isso, Kant
traria nove teses encadeadas para explicar esse ponto. A primeira consistia em dizer que as
capacidades naturais de um indivíduo estariam destinadas a se desenvolverem de maneira
completa até que sua finalidade natural fosse atingida, sendo, desta forma, um processo
inevitável. A segunda tese garante que o desenvolvimento racional está na raça humana como
um todo, e não de forma individual. Por fim, a terceira tese mostra o progresso como
resultado da racionalização do mundo (das relações sociais e políticas).

● A dialética kantiana da história


Aqui vamos focar no pensamento de Kant sobre o progresso, colocando a política
(como atividade de elaboração e aperfeiçoamento constitucional) como sendo o processo que
iria manter a relação entre os homens e os estados de maneira racional. No entanto, esse
processo seria “lento, enganoso e contraditório”, visto que a humanidade avançaria por meio
de opiniões e interesses (individuais ou gerais) contrários, e essas opiniões devem se chocar
entre si de maneira livre, Kant defende. O povo que se revolta contra um tirano, sob a
liderança de políticos ilustrados, pode derrubar este soberano injusto, mas isso não alteraria
seu nível cultural; em contrapartida, novos preconceitos irão substituir os antigos para
unificar as grandes massas ignorantes. Todavia, se faz necessário o direito do povo à
liberdade de opinião e de imprensa, visto que o soberano não é divino e também comete
erros, sendo o progresso condicionado ao alargamento do debate público. Outro ponto do
progresso é a existência do conflito entre interesses individuais, assim como dos interesses
nacionais, ou seja, o progresso seria resultado da interação humana, ainda que de forma não
intencional. Para Kant, sem esse antagonismo natural, não seria possível haver progresso, já
que este só se torna possível devido a “incompatibilidade, a vaidade competitiva, o desejo
insaciável de posse e dominação” dos seres humanos. De forma que contradiz o que ele
defende no ponto “A negação do direito de resistência e de revolução”, Kant vai dizer que o
progresso em direção à paz internacional obtém, dentro de si, uma necessidade de guerra
(que, para ele, conduz o homem àquilo que a razão poderia ter os ensinado desde o início). O
texto vai trazer uma comparação de Kant com Hobbes, Rousseau e Locke na questão do
“antagonismo natural” e o campo do jusnaturalismo: os três pensadores comparados à Kant
vêem esse antagonismo como negativo, já que se choca com a sociabilidade, não agregando
nada de bom, ao contrário de Kant, que vê esse antagonismo como positivo, visto que a
competição e a guerra não se relacionariam com a justiça e com a paz de maneira
incompatível, mas que iria conciliar no progresso (de novo indo contra o que ele defendia no
ponto “A negação do direito de resistência e revolução”).

● A confederação dos Estados livres e a paz


Por fim o texto vai trazer uma reflexão acerca dos Estados livres e a paz, citando o
ensaio “Paz Perpétua” de Kant para dizer que, assim como os indivíduos são encarregados de
constituir uma sociedade civil, é dever dos Estados concordarem entre si o fim de conflitos de
maneira racional e estabelecer uma comunidade jurídica internacional. No entanto, existem
diferenças entre dois contratos (nacional e internacional): uma diferença segue um ideal dado
pela ideia de Hobbes, que diz que o estado de paz entre os homens não é natural, o estado
natural é o estado de guerra; a segunda diferença possui uma relação com a anterior, dizendo
que mesmo que definindo a paz como um princípio moral a priori, a maneira de cessar esses
conflitos deve se dar por meio de um acordo real, e não ideal, entre os Estados. Com isso
surge a materialização da ideia da “confederação dos Estados livres” com a formação de
Liga das Nações, que não iria ter um soberano sobre os estados, podendo ser desfeito e
devendo ser refeito de tempos em tempos. A ideia da paz seria pensar em fatores para o fim
das guerras; por um lado, a existência da paz depende que os países tenham em sua sociedade
uma organização jurídica. Nesse caso, se a república de cada país é criada devido ao pacto
originário, o pacto que organiza a Liga das Nações dá a entender a república como regime
político nos países contratantes, e o motivo disso é simples: a guerra não interessa ao povo e,
quando pode se manifestar sobre tal, se opõe a ela. Com a instauração da Liga das Nações,
Kant, em Paz Perpétua, afirma que o estado de paz deve se consolidar.

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