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CIRO GOMES, À DIREITA, SABOTA A FRENTE DE ESQUERDA

Desde as eleições de 2018, as esquerdas brasileiras se batem em torno de uma aspirada


unidade que não sai. Houve um ensaio nas últimas eleições municipais, que pode
indicar algo para 2022, mas o comportamento político de determinadas figuras que se
auto intitulam “progressistas” causa espécie às brasileiras e brasileiros que aspiram por
um país menos beligerante, mais solidário e gentil. Se entre os programas partidários do
PT, PSOL, PCdoB, PDT e PSB há inúmeras convergências, entre alguns quadros destes
partidos permanece a divergência, tendo Ciro Gomes (PDT/CE) como o protagonista de
toda a celeuma.
As mágoas de Ciro com o PT remontam às eleições presidenciais de 2018. Lula era o
favorito da disputa. Foi injustamente preso e perdeu seus direitos políticos, o que
pavimentou o caminho para a vitória da extrema-direita. A Ciro foi oferecido o posto de
vice de Lula, assumindo a cabeça de chapa em caso do ex-presidente ser impedido de
concorrer. Como é sabido, Ciro negou a oferta. Julgou que o PT estava morto, que o
lulismo havia se encerrado e caberia a si próprio inaugurar um outro momento político
no Brasil. Sua convicção se tornou mais firme quando as pesquisas indicaram que ele
seria o único candidato capaz de vencer Bolsonaro num eventual segundo turno
eleitoral. Mordido pela mosca azul, Gomes achou que poderia ir ao segundo turno sem
passar pelo primeiro. Confundiu estratégia com tática e contribuiu para condenar o
Brasil a quatro anos de Bolsonaro.
Ao mencionar a frente de esquerda, convém lembrar que, nas eleições presidenciais de
2018, inúmeros candidatos do PSB e PDT, por ocasião do segundo turno, não apoiaram
o PT e mantiveram-se neutros diante da ameaça de termos como presidente do país um
sujeito racista, autoritário, apoiador da ditadura e da tortura. O próprio Ciro Gomes
abandonou o Brasil e os brasileiros à própria sorte, ausentou-se da disputa no segundo
turno e foi a Paris. O lamentável foi ter voltado para tumultuar o processo civilizatório e
progressista brasileiro. Em suas falas agressivas e grosseiras, Ciro exibe sua costumeira
arrogância e prepotência ao se colocar como aquele que será capaz de resolver os
problemas da nação. Em permanente estado jactante, se diz de esquerda enquanto
despreza o único partido de esquerda com capilaridade nacional e o seu principal
representante, considerado o melhor presidente da história da República. Atualmente,
colabora sem escrúpulos com a odienta e asquerosa onda antipetista e anticomunista que
afoga os incautos, caminhando, em seu discurso, ao lado da mídia conservadora e da
direita neoliberal. “Tudo a mesma sopa”, diria Mino Carta.
A essa altura, fica claro que o papel de Ciro Gomes é desestabilizar a esquerda enquanto
cozinha, em fogo baixo, uma frente político-eleitoral que não se concretiza. Ao mesmo
tempo, a velha raposa alinha-se com a direita conservadora para isolar o PT e
inviabilizar uma candidatura progressista. Isso se comprovou nos mais recentes ataques
de Ciro contra o PT, Flávio Dino (PCdoB/MA) e Guilherme Boulos (PSOL/SP) 1.
Depois de levar uma invertida2 do governador do Maranhão via twitter, Ciro agiu como
um garoto que não mediu as consequências do que falou e voltou atrás como de
1
https://www.brasil247.com/poder/em-balanco-da-eleicao-ciro-ataca-pt-diz-que-dino-perdeu-a-nocao-
da-realidade-e-chama-boulos-de-radical
2
https://revistaforum.com.br/politica/dino-diz-que-nao-vai-responder-ataque-de-ciro-para-que-o-
campo-nacional-popular-caminhe-unido/
costume, rasgando suspeitos elogios3 àquele que atualmente se apresenta como uma
alternativa à esquerda para as eleições presidenciais de 2022. No mesmo dia em que
atacou o campo progressista, Ciro Gomes foi citado pelo atual presidente da Câmara dos
Deputados, Rodrigo Maia (DEM/RJ), como potencial candidato à Presidência da
República, em 2022, numa possível aliança de centro (sem a esquerda). Maia também
citou, junto com Ciro, os nomes de João Dória (PSDB/SP) e do apresentador sem
nenhuma experiência na gestão pública, Luciano Huck, dois grandes quadros que
representam o que há de mais degradado na elite cheirosa de São Paulo. Em permanente
contradição, Ciro se alinha com a direita neoliberal 4 que é pró privatizações, a favor da
retirada dos direitos sociais e da menor participação do Estado na vida da população.
Tal movimento se dá com o intuito de construir (sic) o seu projeto político (ou será um
projeto pessoal?) chamado “nacional-desenvolvimentista”. Eu conto ou vocês contam?
Ciro Gomes é o algoz de si próprio na luta contra si mesmo. É óbvio que está sendo
utilizado (também se permitindo usar) pela mídia e as elites conservadoras para isolar o
PT e desestabilizar o campo progressista. Será descartado no momento oportuno, como
é próprio desse grupo e da grande mídia, manipuladora e mentirosa. Por conta de seu
destempero e incapacidade de dialogar sem distribuir ofensas, Ciro figura junto com
Enéas Carneiro como os melhores presidentes que o Brasil jamais terá. Quanto ao
campo progressista, convém ressaltar que, ao vestir a camiseta “Lula Livre” durante o
segundo turno das eleições municipais, Flávio Dino se colocou como candidato de Lula
para 2022. Por isso sofreu o invejoso ataque do tacanho Ciro Gomes. Nesse movimento
do atual governador do Maranhão reside uma hipotética saída política e eleitoral que
deve beber da recente experiência argentina, formando um chapa: Dino Presidente, Lula
(ou qualquer quadro do PT) como vice. O Brasil e a Democracia em festa, e o Ciro
chorando em Paris.

Carla Teixeira- Doutoranda em História pela UFMG.

3
https://twitter.com/cirogomes/status/1333527551600435201
4
https://www.brasil247.com/poder/questionado-sobre-maia-doria-e-huck-ciro-diz-que-alianca-da-
centro-esquerda-com-centro-direita-e-necessaria-video

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