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EXCELENTÍSSIMA SENHORA MINISTRA ROSA WEBER, RELATORA

JUNTO AO EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Ref.: ADPFs 850, 851 e 854

ALESSANDRO VIEIRA, brasileiro, casado, Senador da


República, RG 811924, SSP/SE, CPF 719.437.905-82, com endereço profissional no
Senado Federal, Anexo II, Ala Afonso Arinos, Gabinete 08, Brasília/DF,
ALESSANDRO LUCCIOLA MOLON, brasileiro, Deputado Federal pelo PSB/RJ,
Líder da Oposição na Câmara dos Deputados, CPF 014.165.767-70, RG 07575414-3,
com endereço profissional no gabinete 304 do Anexo IV da Câmara dos Deputados,
LASIER COSTA MARTINS, brasileiro, divorciado, Senador da República, RG
6003195291 SSP-RS, CPF 011.245.520-49, com endereço profissional no Senado
Federal, Anexo II, Ala Alexandre Costa, Gabinete 03 - subsolo, Brasília/DF,
RANDOLPH FREDERICH RODRIGUES ALVES, brasileiro, divorciado, Senador
da República, portador da cédula de identidade nº 050360, inscrito no CPF sob o nº
431.879.432-68, com endereço profissional na Praça dos Três Poderes, Palácio do
Congresso Nacional, Senado Federal, Anexo I, 9º andar, LEILA GOMES DE
BARROS RÊGO, brasileira, casada, Senadora da República, RG 1163023 - SSP/DF,
CPF 856.324.066-87, com endereço profissional no Senado Federal, Anexo II, Ala
Teotônio Vilela, Gabinete 11 - Brasília/DF, JORGE KAJURU REIS DA COSTA
NASSER, brasileiro, divorciado, radialista, RG 39421421-3 SSP/SP, CPF
218.405.711-8, com endereço profissional no Senado Federal, Anexo II, Ala Teotônio
Vilela, Gabinete 16, TALÍRIA PETRONE SOARES, brasileira, Deputada Federal e
Líder do PSOL na Câmara dos Deputados, portadora da carteira de Identidade nº
12.608.655-2, inscrita no CPF com o número 111.382.957-52, e-mail
dep.taliriapetrone@camara.leg.br, com endereço funcional no Gabinete 617 – Anexo
IV – Câmara dos Deputados, Brasília – DF, CEP 70160-900; FERNANDA
MELCHIONNA E SILVA, brasileira, Deputada Federal e Vice-Líder do PSOL na
Câmara dos Deputados, portadora do RG nº 6074311736 expedido pela SSP/RS e CPF
nº 002.134.610-05, com endereço profissional na Câmara dos Deputados, Anexo IV,
Gabinete 621, Esplanada dos Ministérios, Brasília – DF, CEP 70160-900, contatável
por meio do telefone 61 32153621 e pelo e-mail
dep.fernandamelchionna@camara.leg.br; IVAN VALENTE, brasileiro, Deputado
Federal e Vice-Líder do PSOL na Câmara dos Deputados, portador da identidade
parlamentar nº 56359 e inscrito no CPF/MF sob o nº 376.555.828-15; com endereço na
Câmara dos Deputados, gabinete 716, anexo IV, CEP 70160-900 e contatável pelo e-
mail dep.ivanvalente@camara.leg.br; VIVIANE DA COSTA REIS, brasileira,
solteira, Deputada Federal e Vice-Líder do PSOL na Câmara dos Deputados, portadora
do RG n° 5.128.505 SSP/PA e inscrita no CPF n° 011.418.712-62, com endereço no
gabinete 471 - Anexo III - Câmara dos Deputados, Brasília – DF – CEP 70160-900,
dep.vivireis@camara.leg.br, ÁUREA CAROLINA DE FREITAS E SILVA,
brasileira, Deputada Federal e Vice-líder do PSOL na Câmara dos Deputados,
portadora da Carteira de Identidade nº 12132364/SSPMG e inscrita no CPF nº
014.128.956-26, título de eleitor no 139029990213- Zona 037 e Seção 0355, e-mail
dep.aureacarolina@camara.leg.-br; com endereço funcional no Gabinete 619 - Anexo
IV - Câmara dos Deputados, CEP 70160- 900; DAVID MICHAEL DOS SANTOS
MIRANDA, brasileiro, Deputado Federal, portador do RG nº 23.107.009-1, expedido
pelo DETRAN/RJ, inscrito no CPF sob o nº 123.940.737-80, atualmente no exercício
de Deputado Federal pelo PSOL/RJ, com endereço na Esplanada dos Ministérios, Praça
dos Três Poderes, Câmara dos Deputados, Gabinete 267, Anexo III, endereço eletrônico
dep.davidmiranda@camara.leg.br; LUIZA ERUNDINA DE SOUSA, brasileira,
Deputada Federal, portadora do RG nº 6.020.647-0 expedido pela SSP/SP e CPF nº
004.805.844-00, com endereço profissional na Câmara dos Deputados, Anexo IV,
Gabinete 620, Esplanada dos Ministérios, Brasília – DF, CEP 70160-900, contatável
por meio do telefone 61 32155620 e pelo e-mail dep.luizaerundina@camara.leg.br;
GLAUBER DE MEDEIROS BRAGA, brasileiro, Deputado Federal, brasileiro,
portador da carteira de Identidade nº 13.354.941-0/Detran RJ e inscrito no do CPF nº
097.407.567-19, título de eleitor nº 108161890370, 26ª Zona eleitoral, Nova
Friburgo/RJ, e-mail dep.-glauberbraga@camara.leg.br, com endereço funcional no
Gabinete 362 - Anexo IV - Câmara dos Deputados, Brasília – DF, CEP 70160-900;
SÂMIA DE SOUZA BOMFIM, brasileira, Deputada Federal, titular da cédula de
identidade RG nº 30577301-X, e do CPF n° 10827786, domiciliada em Brasília-DF,
com endereço no gabinete 623 - Anexo IV – da Câmara dos Deputados e contatável
pelo e-mail dep.samiabomfim@camara.leg.br; JOSÉ ANTONIO MACHADO
REGUFFE, Senador da República, CPF 782.297.661-34, RG 1964318 DF, com
endereço profissional no Gabinete 17, anexo 2 do Senado Federal, Ala Teotônio Vilela,
JOENIA BATISTA DE CARVALHO (Joênia Wapichana), Deputada Federal,
inscrita no CPF/MF sob o nº 323.269.982-00, com endereço profissional no Gabinete
231 - Anexo IV - Câmara dos Deputados, Brasília – DF, CEP 70160-900,
dep.joeniawapichana@camara.leg.br, LUIS EDUARDO GRANGEIRO GIRÃO,
brasileiro, casado, Senador da República, PASSAPORTE: FV940278 SRDPF, CPF:
319.668.103-34, com endereço profissional na Praça dos Três Poderes, Palácio do
Congresso Nacional, Senado Federal, Anexo 2, Ala Teotônio Vilela, Gabinete 21,
ORIOVISTO GUIMARÃES, brasileiro, divorciado, Senador da República, RG
495.887 0, SSP/PR, CPF 316.626.259-87, com endereço profissional no Senado
Federal, Anexo II, Ala Teotônio Vilela, Gabinete 25, ADRIANA MIGUEL
VENTURA, Casada, Presidente da Frente contra a Corrupção, CPF nº 125.198.518-
13, com endereço no município de Brasília no Palácio do Congresso Nacional, Praça
dos Três Poderes, Câmara dos Deputados, anexo IV, gabinete 802 - CEP 70160-900,
ESPERIDIÃO AMIN HELOU FILHO, brasileiro, casado, Senador da República,
RG 99.466 SSP/SC, CPF 112.687.869-34, com endereço profissional no Senado
Federal – Anexo II - Ala Senador Nilo Coelho, Gabinete 02 - Subsolo - CEP 70-165-
900 - Brasília – DF, vêm, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, por meio
do advogado ao final subscrito, na condição de terceiros interessados, com fulcro no
art. 5°, XXXIV, "a" da Constituição Federal, exercer o respectivo direito de petição,
através da comunicação de descumprimento da decisão monocrática que deferiu a
medida cautelar, referendada por este Eg. Supremo Tribunal Federal, bem como da
prestação de informações que reputam relevantes para o deslinde do presente feito.

1. Causaram espécie os termos da manifestação endereçada a Vossa Excelência


por meio da Presidência de ambas as Casas do Congresso Nacional, patrocinadas pelas
respectivas Advocacias, em que são consignadas diversas informações inverídicas e
imprecisas com o objetivo de induzir esta. E. Corte ao erro e descumprir os termos da
medida cautelar concedida nestes autos e referendada em Plenário.

2. Convém repisar o unívoco e cristalino dispositivo de referida cautelar, com


nossos grifos:

" a) quanto ao orçamento dos exercícios de 2020 e de 2021, que seja dada
ampla publicidade, em plataforma centralizada de acesso público, aos
documentos encaminhados aos órgãos e entidades federais que
embasaram as demandas e/ou resultaram na distribuição de recursos
das emendas de relator-geral (RP-9), no prazo de 30 (trinta) dias
corridos;
b) quanto à execução das despesas indicadas pelo classificador RP 9
(despesas decorrentes de emendas do relator do projeto de lei orçamentária
anual), que sejam adotadas as providências necessárias para que todas as
demandas de parlamentares voltadas à distribuição de emendas de relator-
geral, independentemente da modalidade de aplicação, sejam registradas
em plataforma eletrônica centralizada mantida pelo órgão central do
Sistema de Planejamento e Orçamento Federal previsto nos arts. 3º e 4º
da Lei 10.180/2001, à qual assegurado amplo acesso público, com medidas
de fomento à transparência ativa, assim como sejam garantidas a
comparabilidade e a rastreabilidade dos dados referentes às
solicitações/pedidos de distribuição de emendas e sua respectiva execução,
em conformidade com os princípios da publicidade e transparência
previstos nos arts. 37, caput , e 163-A da Constituição Federal, com o art.
3º da Lei 12.527/2011 e art. 48 da Lei Complementar 101/2000, também
no prazo de trinta dias corridos; e
c) quanto ao orçamento do exercício de 2021 , que seja suspensa integral
e imediatamente a execução dos recursos orçamentários oriundos do
identificador de resultado primário nº 9 (RP 9) , até final julgamento
de mérito desta arguição de descumprimento.

3. Apesar da inequivocidade dos termos da decisão cautelar, a manifestação do


Congresso Nacional protocolada no dia 25 de novembro do corrente ano, com o
pretenso objetivo de "prestar novos esclarecimentos fáticos", fez constar as seguintes
consignações:

"[...] as Mesas do Senado e da Câmara estão adotando todas as


medidas fática e juridicamente possíveis para o cumprimento
das alíneas "a" e "b", no âmbito de sua competência [...].
"As medidas a serem adotadas no Ato Conjunto do Congresso
Nacional, independentemente das medidas que venham a ser
postas em execução por órgãos do Poder Executivo, atendem,
em grande medida e no que é possível, ao quanto determinado
nas alíneas "a" e "b" da medida cautelar, porque permitem a
identificação de cada etapa da execução orçamentária do
indicador RP 9 quanto aos exercícios de 2020 e 2021 a partir da
indicação e alocação de recursos feitas pelo Relator-Geral do
orçamento anual, bem como a identificação das indicações que
embasaram a decisão do Relator-Geral a partir desse momento"
"[...} mas não há como se esgotarem todos os aspectos
necessários à execução da despesa pelos gestores públicos,
justamente porque os créditos orçamentários, em especial no
âmbito das despesas discricionárias, devem conferir margem de
discricionariedade ao gestor [...]"
"Entretanto, é preciso esclarecer que não há como cumprir o
disposto na alínea "a" da decisão cautelar quanto às solicitações
que foram endereçadas ao Relator-Geral, pelos mais diversos
meios (inclusive informais), seja diretamente pelos postulantes
(ministros de Estado, governadores, prefeitos, associações e
cidadãos), seja por parlamentares, previamente à vigência do
Ato Conjunto."
"Não havia e não há determinação legal de que as solicitações
dirigidas ao Relator-Geral observem um procedimento
específico. Portanto, a decisão cautelar é inexequível
retroativamente, por impossibilidade fática e jurídica. A
impossibilidade jurídica resulta dos princípios estruturantes do
Estado Democrático de Direito, da legalidade, da
irretroatividade da lei e da anterioridade da lei. A
impossibilidade fática resulta da inexistência de documentos
que registrem essas solicitações, em decorrência da maneira
que se estabelecem as atividades de representação política e as
negociações político-partidárias."
"[...] não havia um sistema para registro e armazenamento
centralizado das solicitações realizadas, o que inviabiliza (no
presente) a recuperação e o adequado tratamento documental
para o fim determinado na decisão judicial."
"[...] a determinação de suspensão se mostra satisfativa e mais
drástica do que a própria tutela jurisdicional definitiva e de
mérito vindicada na ADPF [...]"

4. Com a devida vênia, os fundamentos carreados na manifestação em tela devem


ser considerados com muita cautela por Vossa Excelência, por não corresponderem à
realidade. A esse respeito, confira-se o teor da Nota Técnica 152/2021, anexa, de lavra
do Consultor de Orçamento do Senado Federal, Fernando Moutinho Ramalho
Bittencourt, cujos principais argumentos são a seguir reforçados:

a) Os pedidos das ações são muito mais amplos que o simples


cumprimento de medidas de transparência;
b) Normativos de transparência são requisitos necessários, mas
de modo algum suficientes, para ser atendida a decisão do
Supremo Tribunal Federal;

c) É inequívoco que a exigência é divulgar quem pediu, quem


intercedeu junto ao órgão executor ou até mesmo ao relator-
geral, para que um dado recurso fosse carreado a um dado
beneficiário. Não pede o Judiciário para divulgar as emendas,
seus autores formais (que, formalmente, são um só, o relator-
geral), a sua escrituração nos sistemas financeiros: tudo isso já
existe em relação a todo o orçamento;

d) O cumprimento da decisão (item “b”) é, no máximo, parcial e


fragmentário: faltaria, para tanto, exigir que todas as emendas,
em todo o seu valor executável, tivessem o registro eletrônico da
indicação feita pelo relator-geral e da solicitação respectiva que
lhe deu origem;

e) Supostas medidas de transparência são, na prática,


redundantes, pois meramente repetem informações que já estão
disponíveis plenamente, de forma aberta, nos sistemas de
execução orçamentária (SIOP, SIAFI, Siga Brasil), do TSE
(filiação partidária de governadores e prefeitos) e de convênios
(Plataforma Mais Brasil);

f) A decisão é bastante clara: publiquem-se os “documentos


encaminhados aos órgãos e entidades federais que embasaram as
demandas e/ou resultaram na distribuição de recursos”, e “todas
as demandas de parlamentares voltadas à distribuição de
emendas”, independentemente de terem ou não sido formalmente
intermediadas pelo relator-geral;

h) A exigência judicial é que seja dada transparência “em relação


aos exercícios de 2020 e 2021”, e o Ato Conjunto declara
textualmente que somente pretende abrir algum tipo de
informação para o que for executado depois de sua vigência
(portanto, abrangendo menos de um mês e uma semana do total
de vinte e quatro meses exigido na sentença). Desde logo,
portanto, o normativo assume o descumprimento formal e
ostensivo da decisão.

i) Não há “impossibilidade fática”, porque o que manda a liminar


não é estabelecer retroativamente um procedimento para registro
de demandas, mas sim divulgar os elementos e documentos que
já existem. É isso o que se faz em todas as organizações quando
se reúnem e divulgam documentos relativos a fatos pretéritos,
atividade corriqueira da gestão documental. Em termos
materiais, esse argumento é comprovadamente falso:
investigações de imprensa, utilizando-se das prerrogativas da Lei
de Acesso à Informação, reuniram copiosa documentação oficial
relativa a demandas em busca de emendas de relator-geral;

j) "Risco grave, iminente e irreparável" de prejuízo a serviços e


obras empenhados ou em andamento, desperdício decorrente de
paralisação de serviços e risco de judicialização. Salta aos olhos
a precariedade do argumento. Não se questiona que existe a
possibilidade dos recursos que não tenham sido liquidados ou
pagos não serem executados neste exercício, e portanto não
serem gastos pela União. O que é questionável é o corolário que
disso se faz: não executar o saldo de emendas de relator não
significa por si mesmo nenhum prejuízo irreparável ao interesse
público;

l) Nada, absolutamente nada em defesa de nenhum gasto


concreto é apresentado por quem argumenta que a suspensão da
execução do RP9 gerará "caos administrativo", "judicialização
em massa de relações jurídicas" e "enriquecimento sem causa da
Administração Pública;
m) Os bens jurídicos tutelados pela suspensão são extremamente
valiosos, e abandonar as medidas que os garantem não pode ser
motivado senão por razões concretas, objetivamente
demonstradas, em que os bens afetados pela medida sejam
comprovadamente mais graves.

5. Ademais, cabe noticiar que, em votação realizada ontem (29/11/2021), em


Sessão Conjunta, o Congresso Nacional aprovou o Projeto de Resolução do Congresso
Nacional nº 4, de 2021 ─ ainda a ser publicado no Diário Oficial da União ─, que
apresenta o texto abaixo transcrito1:

O Congresso Nacional resolve:


Art. 1º A Resolução nº 1, de 2006-CN, passa a vigorar com as
seguintes alterações:
“Art. 53 …………………………………………………………….
IV - autorizar o relator-geral a apresentar emendas que tenham por
objetivo a inclusão de programação ou o acréscimo de valores em
programações constantes do projeto, devendo nesse caso especificar
seu limite financeiro total, assim como o rol de políticas públicas
passível de ser objeto de emendas.
Parágrafo único. O limite financeiro de que trata o inciso IV não
poderá ser superior ao valor total das emendas de que tratam os §§ 11
e 12 do art. 166 da Constituição Federal e não se aplica às emendas
elaboradas nos termos dos incisos I e II do art. 144.” (NR)
“Art. 69-A. O relator-geral poderá realizar indicações para execução
das programações a que se refere o inciso IV do art. 53, oriundas de
solicitações recebidas de parlamentares, de agentes públicos ou da
sociedade civil.
§ 1º As indicações e as solicitações que as fundamentaram, referidas
no caput, serão publicadas individualmente e disponibilizadas em
relatório em sítio eletrônico pela CMO e encaminhadas ao Poder
Executivo.

1 Texto do parecer que foi apresentado pelo relator e aprovado pelas Casas disponível em:
<https://legis.senado.leg.br/sdleg-
getter/documento?dm=9045087&ts=1638287073374&disposition=inline>. Acesso em 30.11.2021.
§ 2º As indicações somente poderão ser feitas quando compatíveis
com o plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias, e
estiverem de acordo com a legislação aplicável à política pública a
ser atendida.” (NR)
Art. 2º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
Parágrafo único. As alterações da Resolução nº 1, de 2006-CN,
referentes ao art. 69-A de que trata o art. 1º, somente serão aplicáveis
às indicações do relator geral realizadas após a data de publicação
desta Resolução, aplicando-se às indicações e solicitações anteriores
a essa data o que consta no Ato Conjunto das Mesas do Senado e da
Câmara dos Deputados nº 1, de 2021.

6. Como se vê, a redação aprovada manteve, em essência, o teor do texto inicial


do PRN nº 4, de 2021, analisado pelo referido Consultor de Orçamento do Senado
Federal, com a inserção das seguintes e únicas novidades: (i) inserção de um limite para
as emendas de relator-geral, correspondente ao valor total das emendas individuais e
de bancada de iniciativa de bancada de parlamentares de Estado ou do Distrito Federal,
o qual não se aplica às emendas elaboradas nos termos dos incisos I e II do art. 144 da
Resolução nº 1, de 2006-CN; (ii) menção expressa de que as emendas de relator-geral
podem ser oriundas de solicitações recebidas não só de parlamentares, como também
de agentes públicos e da sociedade civil; (iii) exigência de que as indicações e as
solicitações que fundamentarem as emendas de relator-geral sejam publicadas
individualmente e disponibilizadas em relatório em sítio eletrônico pela Comissão
Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO); (iv) indicação expressa
de que os procedimentos a que se refere a aludida Resolução apenas serão aplicáveis às
emendas de relator-geral realizadas após publicação da norma, sendo que, quanto às
solicitações anteriores a essa data, aplicar-se-á o disposto no Ato Conjunto das Mesas
do Senado e da Câmara dos Deputados nº 1, de 2021.

7. Sobre o item (ii), é pertinente alertar que se abre um novo caminho para que se
ocultem as solicitações de parlamentares no uso do RP 9, registrando no sistema apenas
as solicitações de organizações e outros agentes públicos que possam ou não vir a ser
os destinatários finais das emendas.
8. Por fim, quanto aos itens (iii) e (iv) mencionados, o Projeto de Resolução do
Congresso Nacional nº 4, de 2021, na forma aprovada, é explícito em evidenciar o não
atendimento da decisão proferida por este Eg. Supremo Tribunal Federal, quanto à
necessidade de se dar ampla publicidade às emendas de relator-geral referentes ao
orçamento dos exercícios de 2020 e 2021.

9. Isso porque o próprio Projeto aprovado prevê expressamente que, quanto a essas
emendas, aplicar-se-ão as disposições constantes do Ato Conjunto das Mesas do
Senado e da Câmara dos Deputados nº 1, de 20212. Esse, por sua vez, não determina
que seja dada a ampla publicidade requerida pelo Supremo Tribunal Federal na decisão
que deferiu medida cautelar, já que não há previsão de publicação dos “documentos
encaminhados aos órgãos e entidades federais que embasaram as demandas e/ou
resultaram na distribuição de recursos das emendas de relator-geral (RP-9)”.

10. Ademais, além dos argumentos muito bem levantados pelo Consultor, a
Constituição Federal é clara ao estabelecer que:

Art. 163. Lei complementar disporá sobre:


I - finanças públicas;

11. A Resolução nº 1, de 2006, alterada pelo Projeto de Resolução do Congresso


Nacional nº 4, de 2021, “dispõe sobre a Comissão Mista Permanente a que se refere o
§ 1º do art. 166 da Constituição, bem como a tramitação das matérias a que se refere o
mesmo artigo”. É hialino, portanto, que a Resolução limitava-se originalmente a
regulamentar a Comissão Mista prevista constitucionalmente, bem como o processo
legislativo nesta comissão:

Art. 166. Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às


diretrizes orçamentárias, ao orçamento anual e aos créditos
adicionais serão apreciados pelas duas Casas do Congresso
Nacional, na forma do regimento comum.

2 Disponível em:
https://www25.senado.leg.br/documents/59501/119895056/Ato+Conjunto+das+Mesas+1+de+2021/28
e48918-667e-4d76-a9aa-43ab53f376a7
§ 1º Caberá a uma Comissão mista permanente de Senadores e
Deputados:
I - examinar e emitir parecer sobre os projetos referidos neste
artigo e sobre as contas apresentadas anualmente pelo
Presidente da República;
II - examinar e emitir parecer sobre os planos e programas
nacionais, regionais e setoriais previstos nesta Constituição e
exercer o acompanhamento e a fiscalização orçamentária, sem
prejuízo da atuação das demais comissões do Congresso
Nacional e de suas Casas, criadas de acordo com o art. 58.

12. Com a redação a ser dada pelo PRN, a Resolução passará a trazer disposições
que passam longe de dispor sobre a citada Comissão ou o processo legislativo, inovando
na ordem jurídica ao tratar de finanças públicas, matéria reservada a leis
complementares. Ou seja, há notável inconstitucionalidade formal no ponto, na medida
em que se utiliza espécie legislativa diversa daquela exigida pela Constituição para a
alteração normativa.

13. Com efeito, dizer que o estabelecimento de limites para as emendas de relator-
geral é uma matéria afeta à organização do funcionamento da CMO é absolutamente
incompatível com a realidade do processo legislativo orçamentário, sobretudo quando
se faz uma espécie de referência cruzada a limites estabelecidos no próprio texto
constitucional. Ou seja, não suficiente em querer reduzir leis complementares a uma
resolução, o Congresso Nacional, com a aprovação do PRN 4/2021, parece querer
reduzir o próprio texto constitucional à estatura de uma resolução. Não é possível
compactuar com isso, Excelência.

14. Ademais, cabe reiterar, conforme já expresso na decisão monocrática


referendada pelo Plenário desta Colenda Suprema Corte, que a utilização de emendas
de relator-geral, na forma já empregada e agora conforme o Projeto de Resolução do
Congresso Nacional aprovado, é inconstitucional, pela ausência de instrumentos de
accountability suficientes, bem como pela inexistência de parâmetros de equidade ou
padrões de eficiência na eleição dos órgãos e entidades beneficiários dos recursos
alocados, restando constatada a inexistência de critérios objetivos, definidos conforme
os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (CF,
art. 37, caput).

Esses, Excelência, os fundamentos respeitosamente trazidos ao vosso


conhecimento, requerendo-se o reconhecimento do descumprimento da decisão
monocrática que deferiu a medida cautelar, referendada por este Eg. STF; a reiteração
dos pedidos constantes da exordial; e a suspensão da redação dada pelo PRN 4/2021 à
Resolução do Congresso Nacional nº 1, de 2006, e do Ato Conjunto das Mesas do
Senado e da Câmara dos Deputados nº 1, de 2021.

Nesses termos,
pede deferimento.

Brasília, 30 de novembro de 2021.

CAIO CHAVES MORAU


OAB/SP 357.111
(assinado eletronicamente)

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