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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – UNESP O objetivo desta apostila é apresentar ao aluno de Eletrônica 1, de forma rápida, noções
gerais sobre circuitos elétricos operando em corrente alternada. Primeiramente, trata-se do
FACULDADE DE ENGENHARIA DE ILHA SOLTEIRA – FEIS regime permanente senoidal segundo uma abordagem no domínio do tempo. Na seqüência, são
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA – DEE definidos os conceitos de valores médio e eficaz de grandezas instantâneas, e o cálculo da
potência média. Será assumido que o aluno ainda não tenha tido qualquer envolvimento com
eletricidade, de forma que a introdução de alguns conceitos fundamentais como carga, corrente,
tensão e bipolos elétricos, será incluída. Não se pretende aprofundar excessivamente no estudo
de técnicas como a representação fasorial ou a transformada de Laplace, as quais não são
obrigatoriamente necessárias em Eletrônica 1, e que deverão ser detalhadas nos cursos de
Circuitos Elétricos.
01 – Conceitos Fundamentais
As cargas elétricas são medidas em coulomb (C), e podem ser positivas ou negativas. A
carga elétrica mínima (ou carga elementar) corresponde à carga do elétron e = -1,602 x 10-19C.
Um deslocamento de cargas elétricas através de uma seção transversal, como representado na
Fig. 1.1, constitui uma corrente elétrica.
ELETRICIDADE BÁSICA
(ELETRÔNICA 1)
Versão 1.1
dq
i (t ) (1.1)
dt
Um dispositivo elétrico com dois terminais acessíveis e pelo qual se possa fazer circular
uma corrente elétrica, de modo que a corrente que entra num dos terminais seja, em qualquer
instante, igual à corrente que flui do outro lado, é um bipolo elétrico. Na Fig.1.5., tem-se o
diagrama de um bipolo.
Figura 1.2 – Corrente elétrica convencional, quando as cargas são constituídas por elétrons.
1.2 – Amperímetros
Os amperímetros são instrumentos usados para medir correntes elétricas e podem ser Figura 1.5 – Diagrama geral de um bipolo elétrico.
analógicos ou digitais. Na Fig. 1.3 ilustra-se um amperímetro inserido num circuito. O
instrumento deve estar em série com a corrente que quer medir, ou seja, ela deve atravessá-lo Existe uma tensão elétrica entre os terminais do bipolo, v(t), a qual é medida em volts
completamente. Seus terminais são marcados com sinais (+) e (-). O deslocamento de elétrons (V), e que será melhor discutida a seguir. Em geral, os bipolos são recíprocos (seus terminais são
segue do terminal negativo para o positivo, causando deflexão positiva de seu indicador. intercambiáveis), mas existe a necessidade de marcá-los com sinais (+) e (-). Na Fig.1.5, utiliza-
se a convenção de receptor (a ser justificada adiante). Aconselha-se ao aluno, memorizar a
convenção de sinais para corrente e tensão mostrada na figura.
medida em joules (J). A grandeza v(t) é chamada de tensão elétrica ou diferença de potencial
entre os terminais do bipolo. Em geral, v(t) é uma função do tempo.
A tensão elétrica é medida por meio do voltímetro, um instrumento indicador que possui
dois terminais demarcados por (+) e (-), como esquematizado na Fig. 1.6. O voltímetro é inserido
em paralelo com o bipolo no qual se quer medir a tensão. Na figura, o bipolo é uma lâmpada. Se
a indicação do voltímetro for positiva, num dado instante, é porque o terminal (+) está à um
(a) (b) potencial maior que a do terminal (-). Portanto, o terminal (+) do bipolo é aquele que deve ser
Figura 1.4 – Amperímetros. a) Analógico. b) Digital. ligado ao terminal (+) do voltímetro a fim de produzir uma deflexão positiva.
v(t ) R i (t ) (1.7 a)
p (t ) v(t ) i (t ). (1.6)
sendo esta potência medida em watt (W). Portanto, a potência instantânea fornecida (ou
recebida) por um bipolo, é igual ao produto da tensão entre seus terminais pela corrente que o
atravessa.
O símbolo de um resistor está desenhado na Fig. 1.8. Um resistor é um bipolo no qual a p(t ) R i 2 (t ) G v 2 (t ) (1.8)
relação entre v(t) e i(t) é linear, ou seja:
Em resumo, a energia recebida por um resistor é convertida de forma irreversível em constante, e a tensão entre seus terminais é nula. Portanto, em CC., em indutor se comporta como
calor, ou seja, é dissipada termicamente. Conforme revela (1.5), integrando-se (1.8), pode-se um simples trecho de fio condutor sem resistência elétrica (um curto-circuito).
calcular a energia dissipada no resistor no intervalo de tempo entre 0 e t: Aplicando-se (1.10) em (1.6), conclui-se que a potência instantânea recebida pelo indutor
é
t t
di (t ) 1 d [i (t )]2
W (t ) R i 2 (t )dt G v 2 (t )dt (1.9) p (t ) i (t ) L L (1.12)
0 0
dt 2 dt
(a) (b)
Figura 1.12 – Linhas de fluxo magnético. a) Num indutor. b) Num imã permanente.
t t
1 d [v(t )]2 1
W (t ) p (t )dt C dt C v 2 (t ) (1.19)
0 0
2 dt 2
1 q 2 (t )
W (t ) (1.21)
2 C
Os bipolos R, L e C são dispositivos passivos, pois não são capazes de gerar suas próprias
tensões ou correntes (excluindo-se os casos dos capacitores previamente carregados, ou os
indutores com correntes iniciais não nulas, que serão estudados no curso de Circuitos Elétricos).
Bipolos geradores são capazes de fornecer energia aos circuitos (excitam as redes elétricas),
causando o aparecimento de tensões e correntes.
(a) (b)
Figura 1.14 – Capacitor prático. a) Placas paralelas. b) Linhas de campo elétrico. a) Geradores de tensão
Num capacitor, a relação entre v(t) e i(t) é dada por: Um gerador de tensão é um bipolo que tem a capacidade de manter a tensão entre seus
terminais, sempre idêntica e igual a uma função do tipo:
dv(t )
i (t ) C (1.16) . arbitrária no tempo (Fig.1.15 a);
dt
. senoidal (Fig. 1.15 b);
. constante (Fig. 1.15 c).
ou então, por se dual
1
C
v(t ) i (t )dt (1.17)
+ + +
onde C é a capacitância, medida em farad (F). A relação (1.16) informa que só há circulação de
corrente no capacitor se a tensão entre seus terminais for variável no tempo. Caso contrário, o
capacitor se comporta como um circuito aberto, impedindo a passagem da corrente. A corrente
que circula através de um capacitor é constituída por movimento de dipolos elétricos (no caso de
- - -
serem preenchidos por materiais dielétricos), ou, por corrente de deslocamento (em particular, (a) (b) (c)
quando existe vácuo entre as placas), fenômenos que serão estudados no Curso de Figura 1.15 – Tipos de geradores de tensão. a) Tensão arbitrária. b) Tensão senoidal. c) Tensão constante.
Eletromagnetismo.
A potência recebida pelo capacitor é obtida a partir de (1.6) e (1.16): b) Geradores de corrente
Os bipolos são designados como ramos da rede. Uma malha é um subconjunto de bipolos
de rede, interligados de modo a constituir uma trajetória fechada, como aquela mostrada na Fig.
2.2. A LKT afirma que: “a soma algébrica das tensões medidas ordenadamente ao longo da
malha, em um instante qualquer, é nula”.
v 2 12 v 12
i2 6 A, i3 3 3 A
R2 2 R3 4
Portanto, Figura 2.5 – Circuito elétrico do Exemplo 2.3.
i1 i2 i3 9 A
Solução: Todas as correntes e tensões arbitradas na figura obedecem à convenção de bipolos
definidas nas Figs. 1.8 e 1.15 c). Como todos os elementos estão em série, segue que só existe
Exemplo 2.2: Supor que não se saiba, em princípio, qual o sentido da corrente i2, de forma que uma corrente global:
ele é arbitrado como mostrado na Fig. 2.4. Resolver novamente o circuito. i1 i2 i3 i
v1 v 2 v3 0
Figura 2.4 – Circuito elétrico do Exemplo 2.2. enquanto as tensões nos resistores obedecem a (1.7 a)
Solução: Não importa o sentido exato da corrente ou da tensão arbitrados num circuito. No final v 2 R2 i2 R2 i 2 i , v3 R3i3 R3i 4 i
da análise, se o sentido foi trocado, a própria formulação o revelará. O importante é manter a
convenção de tensão e corrente definidas para cada dipolo das seções 1.5 e 1.6. No caso do Assim, a soma das tensões na malha conduz a
resistor, é aquela identificada na Fig.1.8. Assim, se i2 inverter de sentido, v2 também o fará.
Procedendo desta forma, aplicam-se (atenção para o sinal de v2):
12 2i 4i 0 i 2 A
v1 v 2 v3 12 V
Portanto, v2= 4 A e v3= 8 A, concluindo-se o exemplo.
Devido a LKC, tem-se
i1 i2 i3 0 i1 i2 i3 Exemplo 2.4: Supor que não se saiba, em princípio, qual o sentido da tensão v3, de forma que ele
é arbitrado como mostrado na Fig. 2.6. Resolver novamente o circuito.
As correntes nos resistores são:
v 2 12 v 12
i2 6 A, i3 3 3 A
R2 2 R3 4
E por fim,
i1 i2 i3 (6) 3 9 A
Como se observa, a própria formulação revelou que a corrente i2 foi arbitrada no sentido
oposto, resultando num valor negativo. Figura 2.6 – Circuito elétrico do Exemplo 2.4.
Não parece de bom sensor cometer um “erro” no sentido de i2 como aconteceu neste
exemplo simples. Contudo, em redes mais complexas, as vezes, torna-se impossível saber a Solução: O importante é manter a convenção estabelecida na Fig. 1.8. Assim, se v3 se inverter, i3
princípio, os sentidos corretos das tensões e correntes. Nestes casos, o que foi discutido no também o fará. A solução repete os passos do exemplo anterior, tomando-se o cuidado com os
exemplo pode seu útil. sinais algébricos:
dq (t )
v R (t ) R i (t ) R
dt
e, de (1.20)
q(t )
vC (t )
Figura 2.7 - Circuito elétrico do Exemplo 2.4. C
Solução: Num circuito de corrente contínua operando em regime estacionário, todas as tensões e Aplicando-se a LKT à malha da Fig.2.8, tem-se
correntes não variam no tempo. Assim, de acordo com (1.10), não existe queda de tensão entre
os terminais do indutor, e ele se comporta como um curto-circuito. De acordo com (1.16), não dq q
E v R vC E R 0
existe corrente circulando pelo capacitor, o qual se comporta como um circuito aberto. Portanto, dt C
em regime, o circuito da Fig.2.7 torna-se idêntico ao da Fig.2.5. Consequentemente,
Esta equação pode ser reorganizada como
i1 i2 i3 2 A
CE dt RC dq q dt RC dq (CE q ) dt
v1 12 V, v 2 4 V e v3 8 V.
e daí, realiza-se a integração
Exemplo 2.6: Calcular i(t) e vC(t) após a chave SW, mostrada no circuito da Fig.2.8, alimentar o
q t
circuito RC série com a fonte E. Supor que o capacitor está descarregado em t 0. dq
RC
CE q 0
dt
q0
Figura 2.8 – Circuito RC série alimentado por uma fonte de tensão DC. cuja solução é conhecida do Cálculo:
Solução: No Exemplo 2.5, considerou-se que o circuito alimentado pela fonte CC. estava em q q (CE q)
regime estacionário, ou seja, que o mesmo havia sido ligado e que decorrera tempo suficiente RC ln u 0
t RC ln(CE q) 0
t RC ln t
CE
Solução: Será criada uma nova origem para o tempo neste novo exemplo. Assim, t=0
A partir daí, é possível extrair o valor da carga corresponderá ao instante em que a chave SW aterrar o par RC, o qual havia atingido o regime
elétrica: estacionário no exemplo anterior.
Considere-se que o capacitor esteja carregado com uma carga inicial q=q0 em t=0. No
q (t ) CE (1 e t / RC ) Exemplo 2.6, deduziu-se que q (t ) CE (1 e t / RC ) , de forma que em t= ocorre q=CE, naquele
caso. No presente caso (usando-se uma nova origem para o tempo), tem-se então q0=CE em t=0.
O comportamento da tensão no capacitor com o Aplicando-se a LKT,
tempo será então:
v R (t ) vC (t ) 0
q(t )
vC (t ) E (1 e t / RC )
C e, usando-se (1.1), (1.7 a) e (1.20), resulta que
Exemplo 2.7: Partindo-se do ponto em que o circuito atingiu o regime no Exemplo 2.6, resolver dq(t ) q t / RC E
o problema quando a chave SW da Fig. 2.8 muda de posição, aterrando o circuito RC série, i (t ) e e t / RC
dt RC R
como mostrado na Fig.2.9.
cujo gráfico está desenhado ao lado. A tensão
no resistor será
v R (t ) Ri (t ) E e t / RC vC (t )
Como se percebe, o capacitor, inicialmente carregado com carga q0=CE, inverte sua
corrente original em t=0-, e se descarrega sobre o resistor, dissipando sua energia. A rapidez
Figura 2.9 – Circuito RC série com capacitor previamente carregado. deste transitório depende dos valores de E, R e C.
Este constitui um exemplo de solução de circuitos elétricos em regime transitório. Nem
todo circuito pode ser resolvido de forma tão simples, por isto, em Circuitos Elétricos será
estudada a poderosa técnica da análise espectral, através da transformada de Laplace.
G EQ G1 G2 ... Gn (2.8)
Aplicando-se a LKT à malha da Fig.2.10 a), em conjunto com a lei de Ohm, vem 1 1 1 1
... (2.9)
R EQ R1 R2 Rn
v(t ) v1 (t ) v 2 (t ) ... v n (t )
(2.3)
( R1 R2 ... Rn ) i (t ) em temos de resistências.
v(t ) REQ i (t ) (2.4) Na Fig. 2.12 a), tem-se uma rede com n indutores ligados em série, e, na Fig.1.12 b), o
seu circuito equivalente.
Comparando-se (2.3) com (2.4), conclui-se que
R EQ R1 R2 ... Rn (2.5)
ou seja, que a resistência equivalente é obtida pela soma das resistências em série individuais.
di(t )
v(t ) LEQ (2.11)
dt
1
C EQ
v(t ) i (t ) dt (2.17)
i (t ) i1 (t ) i2 (t ) ... in (t ) ou seja, que o inverso da capacitância equivalente é igual a soma dos inversos das capacitâncias
1 1 1 (2.13) individuais ligadas em série.
( ... ) i (t ) dt
L1 L2 Ln
e) Associação paralelo de capacitores
Da Fig.2.13 b), obtém-se Na Fig.2.15 a) tem-se uma rede com n capacitores em paralelo, e, na Fig.1.15 b), o seu
1
LEQ
i (t ) i (t )dt (2.14) circuito equivalente.
1 1 1 1
... (2.15)
LEQ L1 L2 Ln
ou seja, que o inverso da indutância equivalente é igual a soma dos inversos das indutâncias (a) (b)
Figura 2.15 – Associação paralela de capacitores. a) Circuito original. b) Circuito equivalente.
individuais ligadas em paralelo.
Aplicando-se a LKC ao circuito da Fig.2.15 a), e usando a equação (1.16), vem
Portanto, dadas duas resistências muito diferentes entre si, o resultado da associação em paralelo
i (t ) i1 (t ) i2 (t ) ... in (t ) é aproximadamente igual a menor delas. No exemplo da Tabela 2.1, apresenta-se o resultado da
dv(t ) (2.19) associação R1//10 , para R1 igual a 10 , 100, ..., 100 k. Neste último caso, 100 k >> 10
(C1 C 2 ... C n ) , e 100 k//10=9,999, ou seja, aproximadamente 10.
dt
Tabela 2.1 - Caso onde R1>>R2.
Da Fig.2.15 b), obtém-se
R1 () Associação Resultado em
dv(t )
i (t ) C EQ (2.20) 10 10 //10 10.10
dt 5
10 10
100 100 //10 100.10
Comparando-se (2.19) com (2.20), conclui-se que 9,091
100 10
C EQ C1 C 2 ... C n (2.21) 1000 1000 //10 1000.10
9,901
1000 10
ou seja, que a capacitância equivalente é obtida pela soma das capacitâncias individuais em 10 k 10 k //10 10k .10
9,990
paralelo. 10k 10
100 k 100 k //10 100k .10
9,999
2.3 Algumas Regras Práticas 100k 10
Regras práticas, como o divisor de tensão e de corrente, podem simplificar Mesmo no caso onde R1= 100 , o resultado de R1//10 ainda é aproximadamente igual
substancialmente a solução de circuitos, e são abordados neste item. a 10 , dentro de uma tolerância de 10% de erro.
a) Associação em paralelo de dois resistores Exemplo 2.8: Dado o circuito mostrado na Fig. 2.16, pede-se para calcular a resistência vista
pela fonte de tensão e a potência fornecida pela mesma.
Quando os resultados obtidos na equação (2.9) é aplicada à associação paralela de apenas
dois resistores, tem-se como resistência equivalente:
1 1 1 R R2
1 (2.22)
REQ R1 R2 R1 R2
A associação em série dos resistores de 2 , resulta em Observe-se o caso trivial, no qual R1 = R2 em (2.27), que resulta v0(t)=v(t)/2, ou seja,
divide-se a tensão v(t) à metade, como esperado.
4 10
R EQ 1 d) Regra do divisor de corrente
3 3
Na Fig.2.18 ilustra-se o circuito divisor da corrente i(t). Deseja-se determinar o valor da
a qual constitui a resistência elétrica vista pela fonte de tensão. A corrente elétrica fornecida é
corrente i0(t).
obtida por:
5 5 3
i A
REQ 10 / 3 2
a partir da qual se calcula a potência fornecida pela fonte:
3 15
p vi 5. W. Figura 2.18 – Circuito divisor de corrente de i(t).
2 2
Pela lei de Ohm, aplicada ao resistor R2, obtém-se:
c) Regra do divisor de tensão
v(t )
A regra do divisor de tensão será amplamente utilizada no curso de Eletrônica 1. Na i0 (t ) (2.28)
R2
Fig.2.17, dois resistores em série, R1 e R2, são usados para dividir a tensão v(t). A tensão v0(t)
constitui uma porção menor de v(t), cujo valor deseja-se conhecer. Admite-se que nenhum bipolo e, ao resistor R1:
será conectado em paralelo com R2. v(t )
i1 (t ) (2.29)
R1
Da LKC, observa-se que:
i (t ) i1 (t ) i0 (t )
v(t ) v(t ) R1 R2 (2.30)
v(t )
R1 R2 R1 R2
Por outro lado, como a corrente i(t) flui por R1 em série com R2, vem R1
i0 (t ) i (t ) (2.32)
R1 R2
É interessante comparar (2.32) com (2.27) para observar as diferenças. Esta regra também será 10 99,01 0,99
muito usada em Eletrônica 1. 50 95,24 4,76
100 90,91 9,09
e) Aplicação: Gerador de tensão real – efeito do carregamento 500 66,67 33,33
1000 50,00 50,00
Nas seções anteriores definiu-se geradores de tensão ideais. Modelos de geradores reais
possuem uma resistência interna equivalente não nula, e assim, podem ser representados pela Portanto, para uma carga RL=1 k Rs deve ser no máximo igual a 100 a fim de que se
Fig.2.19, onde vs(t) é a tensão em vazio (ou força eletromotriz) e Rs é a resistência interna da perca menos de 10% de vs, caso contrário, em vez da tensão vs chegar integralmente à carga, uma
fonte. A tensão acessível nos terminais deste gerador prático é vi(t). boa parcela de si ficará retida sobre a resistência interna Rs. Normalmente, geradores de sinais
são fabricados com Rs=50 .
Geradores de corrente práticos devem levar em conta uma resistência interna shunt finita,
como esquematizado na Fig. 2.21, onde is(t) é a corrente de curto-circuito e Rs é a resistência
interna. Ao se conectar uma carga na saída do gerador de corrente, corre-se o risco da corrente
Figura 2.19 – Circuito equivalente de um gerador de tensão prático. is(t) não atingir integralmente esta carga, ficando uma parcela retida na resistência interna Rs.
Exemplo 2.9: Dados vs=100 mVp (lê-se 100 milivolts de pico) e RL=1 k, como mostrado na Figura 2.21 – Circuito equivalente de um gerador de corrente prático.
Fig.2.20, investigar o valor de vL(t) para os valores de Rs apresentados na Tabela 2.2.
É interessante adquirir geradores de corrente cujo valor de Rs seja o maior possível. Caso
contrário, pode haver uma perda de corrente substancial em Rs, antes de se atingir a carga.
Obviamente, se a fonte estiver curto-circuitada, não haverá tensão em Rs e, portanto, também não
haverá corrente nesta resistência. Com isto, a corrente de curto-circuito é o próprio valor de is(t).
Exemplo 2.10: Dados Is=1 A e RL=1 k, conforme representado na Fig.2.22, investigar o valor
de IL para os valores de Rs apresentados na Tabela 2.3.
Solução: Ao contrário do circuito da Fig.2.19, agora, existe uma carga RL ligada na saída do
gerador (vs, Rs). A tensão medida sobre a carga corresponde a vL(t). A tensão na carga pode ser
obtida aplicando-se o divisor de tensão (2.27):
Dado duas resistências em paralelo, como desenhado na Fig.2.23, a corrente sempre terá Estuda-se neste tópico, sinais de tensão que variam senoidalmente no tempo conforme
predileção por circular pela menor das duas resistências.
v(t ) Vm sen(t ) (3.1)
onde Vm é o valor de pico (ou amplitude, medida em volts), é a freqüência angular (rad/s) e é
a fase inicial (rad) da senóide. A frequência angular () se relaciona com a frequência linear (f,
medida em ciclos por segundo ou Hz) através de
2 f (3.2)
Este tipo de sinal pode ser encontrado, por exemplo, nos geradores de corrente alternada
Figura 2.23 – A corrente prefere circular pela menor resistência. de usinas de geração de energia onde, normalmente, se usa f=60 Hz.
Os sistemas de distribuição de energia, o rádio, a televisão, os sistemas de comunicação,
De fato, se R1 R2 , ou seja, R2 / R1 0 , e os sistemas de computação, etc., dependem fundamentalmente de tensões e correntes senoidais.
R1 Exemplo 3.1: Considere-se um sinal senoidal no qual f= 1 kHz, Vm=1 V e =0 rad. Desenhar o
R1 R1 1 1 gráfico de v(t).
i0 (t ) i s (t ) i (t ) i (t ) i s (t ) i s (t ) (2.33)
R1 R2 R1 R2 s R2 s 1 0
1 Solução: Na Tabela 3.1, consideram-se alguns valores de t para o cálculo de (3.1), ou seja,
R1 R1
v(t ) 1 sen2 10 3 t .
Ou seja, a corrente is(t) passa praticamente toda por R2. Se ocorresse o inverso, ou seja, R2<<R1, Tabela 3.1 – Alguns valores particulares para desenhar o gráfico de v(t).
a corrente teria predileção por circular através de R1. t, s v(t), V
Este resultado é amplamente explorado para proteção de pessoas contra choques 0 0
elétricos. Na Fig.2.24 a), mostra-se um motor elétrico no qual existe uma fuga (um vazamento) 10-3/4 sen(/2)=1
de corrente, dos enrolamentos para a carcaça (devido a algum tipo de defeito ou falha).
10-3/2 sen()=0
Normalmente, o motor está sobre um pedestal isolado do solo, de modo que se uma pessoa tocar
em sua carcaça, haverá circulação de corrente através da mesma. Tem-se o choque elétrico. 3x10-3/4 sen(3/2)=-1
Contudo, se a carcaça do motor for aterrada, cria-se um trajeto seguro para esta corrente de falta 1x 10-3 sen(2)=0
para o solo, no qual ela será dissipada (embora com prejuízo na conta de energia do proprietário
do motor). Mesmo se uma pessoa tocar a caraça do motor, a corrente dará preferência por Na Fig.3.1, apresenta-se um esboço do gráfico correspondente, mostrando-se apenas um
circular pelo fio condutor com resistência bem menor que o a do corpo da pessoa. de seus ciclos.
Vm
i (t ) ( ) sen(t ) (3.6)
RL
Portanto, a corrente resultante tem a mesma freqüência e fase inicial que v(t), porém, sua
amplitude é alterada para Vm/RL. Em geral, em Eletrônica 1, considera-se apenas casos onde
=00.
Em vez de usar a coordenada t, o gráfico da senóide também pode ser desenhado em
termos de t. Este é um procedimento interessante, uma vez que dispensa o conhecimento do
valor de (ou de f), como aconteceu no caso da Fig.3.1. Desta forma, apresenta-se na Fig.3.3, os
gráficos de vR(t) e i(t) dados por (3.4) e (3.6), respectivamente.
Figura 3.1 – Sinal senoidal típico.
1
T (3.3)
f
Todas as equações apresentadas nas seções 1 e 2 deste texto podem ser empregadas para
o caso onde as fontes de tensão são senoidais. Em particular, quando os circuitos são puramente
resistivos, como a maioria dos circuitos que serão estudados em Eletrônica 1, a aplicação destas
equações torna-se bastante simples. Os casos não resistivos serão estudados em Circuitos
Elétricos.
Considere-se o circuito resistivo operando em regime senoidal, mostrado na Fig.3.2.
(b)
Assume-se que a fonte de tensão v(t) seja ideal. Figura 3.3 – Sinais na carga. a) Tensão na carga. b) Corrente na carga.
No caso de circuito resistivo, diz-se que a tensão e corrente na carga estão em fase, ou
seja, atingem seus valores máximos simultaneamente. Isto não acontece em circuitos contendo
elementos L ou C, conforme será visto em Circuitos Elétricos.
Exemplo 3.2: Para o circuito da Fig.3.4, calcular a tensão v0(t) e a corrente i(t).
T 0
2e 4 V AVG VDC v(t )dt (3.7)
2.4 4
2 // 4 onde a integração do sinal é realizada entre 0 e T. Neste texto, as notações VAVG (do inglês
24 3 average) e VDC serão usadas indistintamente. VDC é preferida pelo livro de Sedra e Smith. Na
realidade, a integração (3.7) pode ser executada em qualquer intervalo de tempo com duração T.
resulta no circuito a seguir.
Assim, por exemplo, também são válidas as relações:
A tensão v1 é o resultado do divisor de tensão T / 2
de v(t) 1
V AVG VDC
T v(t )dt
T / 2
(3.8 a)
4/3 2
v1 v(t ) v(t )
4/3 2 5 1
T t0
ou V AVG V DC
T v(t )dt (3.8 b)
no qual, substituindo-se a expressão de v(t), t0
obtém-se
para um t0 qualquer.
v1 2 sent Além disso, quando o período T (medido em segundos) não é fornecido, é mais adequado
Também, da figura acima calcular VAVG, partindo-se de (3.7), como (notar que em t=0 tem-se t=0, e, quando t=T tem-se
t=T):
v(t ) 3 3
i (t ) 5 sent sent 1
T
1
2 4 / 3 10 2 V AVG V DC
T v(t ) d (t )
0
(3.9)
Alguns instrumentos, como amperímetros e voltímetros DC, são capazes de medir o valor
médio desse tipo de sinal. Figura 3.7 – Valor médio da meia-onda.
Dada uma função v(t) periódica no tempo, de período T, define-se seu valor médio como:
Solução: Aplicando-se (3.10 a), obtém-se
2
1 1 Vm
V DC
2 v(t ) d (t ) 2 V
0 0
m sent d (t )
2 0
senx dx
V V V
m [ cos x]0 m [ cos ( cos 0)] m [1 (1)]
2 2 2
e assim,
Vm
V DC Figura 3.9 – Harmônicas senoidais. a) Segunda harmônica.b) Terceira harmônica.
Vm
Este resultado será amplamente utilizado no estudo de retificadores a diodos em Eletrônica 1. Exercício 3.1: Calcular o valor médio do sinal v(t ) [1 sen(t )] .
Embora os sinais das Figs. 3.6 e 3.7 sejam do tipo DC, a definição de valor médio é geral, 2
e também se aplica a sinais alternados, que apresentam valores instantâneos positivos ou
negativos. Exercício 3.2: Calcular o valor médio do sinal mostrado na Fig.3.10, o qual é chamado de onda
completa.
Exemplo 3.4: Calcular o valor médio da tensão senoidal v(t ) Vm sent , mostrado na Fig.3.8.
são denominados de segunda harmônica, terceira harmônica, etc, respectivamente. A função com V RMS Vef
2 0
v 2 (t ) dt (3.11 b)
freqüência é denominada de componente de freqüência fundamental. Os gráficos de v2(t) e
v3(t) estão desenhados na Fig. 3.7, e apresentam dois e três ciclos por período 2da Exemplo 3.5: Se v(t ) Vm sent , calcular a sua tensão eficaz.
fundamental, respectivamente.
Solução: Aplicando-se (3.11 b)
1 2 2 1 2 2 V 2 2 1 cos 2 x
v (t ) dt Vm sen 2t dt m
2
V RMS dx
2 0 2 0 2 0 2
V 2 x sen2 x 2 Vm2 2 0 sen4 sen0 Vm2
m[ ]0 [ ]
2 2 4 2 2 2 4 4 2
Vm
V RMS
2
Figura 3.11 – Sinal de tensão arbitrário e de período T.
Assim, em vez de (3.1), também é comum se utilizar a notação:
Outra forma de se calcular PAVG, mais simples que (3.12), é
v(t ) 2 VRMS sen(t ) . Este resultado é amplamente utilizado em eletricidade.
1 2 1
Exercício 3.3: Mostrar que todas as expressões abaixo possuem VRMS Vm / 2 . PAVG
2 0
p(t ) dt
2 p(t ) dt
(3.13)
a) v(t ) Vm cos t
b) v(t ) Vm sen(t ) , qualquer. Exemplo 3.6: Se v(t ) Vm sent e i (t ) I m sent , calcular a potência média.
2
1 Vm I m 1 cos x
o mesmo resultado, ou seja, que V RMS Vm / 2 . PAVG
2 V
I sen 2t dt
m m
2
2
dx
Para um circuito como o da Fig.3.13, já foi visto que a potência média fornecida pela fonte Na Fig. 4.2 a), ilustra-se o esquema de um transformador de potencial, constituídos por
senoidal é: dois enrolamentos, sobre um mesmo núcleo de material ferromagnético [ver Fig.4.2 b)]. Assim,
V I V2 o lado de maior tensão corresponde ao enrolamento primário, enquanto o lado de menor tensão,
PAVG m m m
2 2R ao enrolamento secundário.
pois I m Vm / R . A partir de PR e PAVG, obtém-se uma interpretação física para o valor eficaz.
Igualando-se PR e PAVG, verifica-se que
Vef2 Vm2
R 2R
Vef Vm / 2
como havia sido previsto no Exemplo 3.5. A partir deste resultado, tem-se a seguinte
interpretação: se uma tensão v(t ) 2 Vef sent for aplicada a uma resistência R, produz-se a
(a) (b)
mesma dissipação de energia que uma fonte CC com valor Vef aplicada à mesma resistência R. Figura 4.2 – Transformadores de potencial. a) Esquema elétrico. b) Elementos constituintes.
Não se deve ligar um eletrodoméstico cuja tensão de operação é 127 Vef numa rede de V2 n 2
220 Vef, pois isto danificaria o aparelho. O inverso não existe perigo, porém, a eficiência do (3.14)
aparelho cairia sensivelmente. Necessita-se, portanto, de um dispositivo que consiga aumentar V1 n1
ou diminuir a diferença de potencial num circuito (mantendo-se a potência média constante). O
transformador de tensão alternada constitui esse elemento (e não existe um sistema equivalente, onde V1 e V2 são as tensões dos enrolamentos primário e secundário (eficazes ou de pico),
com simplicidade equivalente, para corrente contínua). respectivamente, enquanto n1 e n2 são os números de espiras destes enrolamentos. Assim, se
n2<n1, então, V2=(n2/n1)V1 < V1. Ou seja, a tensão do secundário é menor que a do primário
(trata-se de um transformador abaixador).
Além disso, o transformador isola a carga (a qual corresponde aos circuitos ligados no
secundário) da linha (ou rede CA). Isto quer dizer que o único acoplamento com a rede CA é
através do campo magnético, o qual põe em comunicação os enrolamentos do primário e
secundário. Isto reduz os perigos de um choque elétrico, porque não existe mais um contato
elétrico direto entre os dois lados da linha.
Conforme será estudado na disciplina Conversão de Energia, um transformador prático
possui enrolamentos com resistências que produzem alguma perda de potência. O núcleo
laminado de material ferromagnético também possui correntes parasitas, que produzem perdas
adicionais de potência. E, por fim, apresenta não-linearidade e histerese, que podem distorcer o
sinal no secundário do transformador. Contudo, estes problemas causam mais preocupação em
grandes transformadores, como os de sistema de transmissão e distribuição de energia. Em
eletrônica, normalmente, esta preocupação normalmente não é muito crítica.
05 – Bibliografia
[1] Luiz de Queiroz Orsini e Denise Consonni, Curso de circuitos elétricos, volumes 1 e 2,
segunda edição, editora: Edgard Blücher, 2002.
[2] Albert Paul Malvino, Eletrônica, volumes 1 e 2, quarta edição, editora: Makron Books,
1997.