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APOSTILA DE LOGGER

AGO/2011 – por Daniel W. Xavier

1. LOGGER + SOBRE A FUNÇÃO

A palavra LOGGER é um termo que surgiu no mercado brasileiro e refere-se ao


professional que, no SET de filmagem, “olha” pelo material visual captado pela(s)
câmera(s). Acena uma nova função que surge com o início do Cinema Digital que
baseia-se na aquisição de imagens que são transcritas em dados, sendo o
encarregado pelo conteúdo armazenado (os arquivos, “clips” e pastas) e também
pelas mídias, como suporte físico (cartões, hard disks, memórias de estado sólido
etc.). Está inserido na equipe de câmera e responde ao diretor de fotografia (chefe
de departamento) e ao primeiro assistente de câmera.

A equipe de câmera profissional completa é formada: pelo “fotógrafo”, pelo


operador de câmera, pelo 1ºAC / foquista, pelo 2ºAC, logger e pelo video assist.
São usados outros títulos para a mesma função como gerente de imagem digital e
data loader.

A estratégia de produção para uma filmagem usando equipamentos de câmera de


cinema digital baseia-se em estudar um fluxo de trabalho (workflow) que garanta
a melhor combinação custo x benefício, ou seja, que permita a melhor qualidade
da imagem dentro ou inferior ao estipulado no orçamento feito; e um Logger
experiente é peça fundamental na operacionalização desse plano.

Atualmente o Cinema Digital é uma realidade no mercado de trabalho e muitas


pessoas acabam ingressando no “cinema” através da função. É importante porém
que antes se conheça o departamento de câmera (seus equipamentos, hierarquias,
fundamentos e métodos) e que complete-se algumas “horas de vôo” antes de ser
responsável pelo resultado do trabalho de todos em um SET de filmagem. Para
isso existe um caminho trilhado a muito por tantos profissionais no ingresso no
departamento de câmera: o vídeo assist, responsável pela estrutura
(equipamentos e procedimentos) de monitoramento no SET, lidando
cotidianamente com os anseios visuais dos diretores e as técnicas de calibragem e
aferição dos instrumentos para isso, no caso: os monitores. Outros caminhos
possíveis de aprendizado sobre equipamentos e equipe de câmera são: assistência
de vídeo ou assistência em equipamentos específicos de câmera como:
steadycams, caixa estanques ou controles à distância de movimentos como
cabeças “remote”. O LOGGER será algumas vezes exercido também pelo 2º AC,
exercendo todas as obrigações de ambas as funções, isso requer um
posicionamento e decisão da produção junto com o 1ºAC e se necessário o Diretor
de Fotografia, pois empreende uma variante maior de tempo x execução.

Especula-se que em breve o LOGGER será uma função híbrida entre o loader e o
engenheiro de vídeo da televisão, um profissional que entenda os pormenores das
questões técnicas da imagem digitalmente transcrita e seus suportes de
armazenamento. Conhecer o sistema a ser empregado em parceria com a
produção (e de acordo com as decisões do diretor de fotografia no que diz respeito
a “qualidade” da imagem) e sugerir atalhos e soluções será uma receita
imprescindível para o sucesso de um trabalho de logagem. No próximo capítulo
será sugerido um passo a passo dos procedimentos da função.
2. PROCEDIMENTOS | AFINAL QUAL É O TRABALHO?

O Logger substitui o loader tradicionalmente conhecido no processo


cinematográfico tradicional baseado em rolos de película fotossensível. As
responsabilidades no entanto são em parte bem similares, vamos a elas:

Pré-produção

- antes da filmagem o Logger é indicado para um trabalho sendo normalmente


contatado pela produção ou outro membro da equipe de câmera. Começa
então o trabalho ao assessorar com as melhores sugestões sobre
equipamentos, acessórios e necessidades a serem produzidas para o dia de
filmagem no que diz respeito a capacidade de armazenamento das mídias*,
necessidade de fontes de energia elétrica especiais (AC ou DC): geradores,
transformadores, baterias, etc;

- em algumas ocasiões será preciso responder algumas dúvidas para o


fechamento do fluxo de trabalho: conhecer os prós e contras do formato de
captura escolhido, do método escolhido para determinada filmagem (trabalhar
com LUTs, testar um chroma key, etc) e em alguns trabalhos propor testes são
alguns exemplos de tarefas que podem surgir.

*em anexo uma tabela de formato /tamanho (GB).

- Pedir à produção dois HDs, compatíveis com padrões profissionais de


logagem: como portas específicas e formatação de acordo com o sistema de
computador de SET e o da edição. Caso contrário pedir formatação em FAT32
ou ExFAT.

- Muitos profissionais são solicitados ou solicitam à produção uma checagem


dos equipamentos antes do dia de filmagem, esse serviço é cobrado e é
importante na maioria das ocasiões. Essa é uma decisão conjunta a ser tomado
com o 1ºAC / foquista.

Filmagem

- Ao chegar à locação, antecipar-se e recorrer ao “Platô” ou seu assistente sobre


a permanência no local, a necessidade de energia elétrica (que deve ter sido
previamente combinada), o número de deslocamentos e outras informações
importantes para a melhor estratégia. Os melhores locais para o trabalho são
seguros de eventuais acidentes como copos d’água ou esbarrões, silenciosos
para garantir a atenção necessária e que deem fácil acesso ao SET, facilitando a
comunicação e o trânsito de idas e vindas de mídias. Um bom carro de câmera
com bancada e pontos de AC é uma excelente escolha. Na maioria das ocasiões
será necessário pedir à “maquinaria” um praticável e à “elétrica” uma prolonga
independente, de preferência fora do gerador. É uma dica identificar com fita
as duas pontas da(s) prolonga(s), em seu destino com a voltagem (110V ou
220V, gerador ou “casa”) e em sua origem com o sua função e aviso: “Por favor
avise ao LOGGER, antes de desligar” pois até um No-Break tem tempo de
bateria (mais à frente uma lista com as ferramentas necessárias ao trabalho).

- No carro de câmera deve-se separar seu “kit” e organizá-lo no local escolhido


abrindo caminho para a câmera e acessórios; nos cases específicos: separar as
mídias e nomeá-las (ex.: mag 1, 2, 3 ou a, b, c etc) otimizando o controle sobre
o trânsito de arquivos. Isso serve para individualização de cada mídia
ajudando e evitando futuros erros. Atribuir nome também às mídias de
armazenamento. Combinar com o 2ºAC um plano de uso das mídias e
segurança, por exemplo colocar fita identificando cada “rolo” sequencialmente
e com claquete de identificação desse número de “rolo” no início de cada,
combinar quem formata etc.

- Quando há mais de uma câmera ajudar o 2ºAC a identifica-las com fita e


nomeação de arquivos pelo menu. Câmera A, B, C...

- Junto ao video assist ver a receita do aferimento e as especificações de


calibragem do monitor que o “fotógrafo” vai usar, se há ferramentas como
waveform e vectoscope e se tudo está próximo do monitor da “logagem”.

- Nas mídias de armazenamento (master e backup) começar a estruturação da


árvore de arquivos, uma sugestão de uma estrutura simples e funcional* é:

Realizador>_título do projeto>_master ou backup data do projeto sendo


ano>mês>dia>_identificação de câmera>_número de rolo

ex.:

*Essa é uma maneira de fácil entendimento, arquivamento e combinação com


outros suportes como o sistema de organização e nomeação de arquivos de
alguns gravadores de som como Cantar®, por exemplo. Cada LOGGER tem o
seu método de trabalho e pode otimizá-lo, ordenando por câmera, dia de
filmagem, identificando cenas, usando cor, separando cartaz de cinza etc. O
importante é que o mesmo torne mais fácil o trabalho de busca do material
durante a edição/montagem.

- Combinar com 2ºAC, o plano de preenchimento do boletim de câmera para


continuidade e uso de cartaz de cinza para o colorista. Decidir métodos
objetivos como trocas de acordo com cenas, planos, locações ou simplesmente
quando estiverem cheias.

- Caso decida-se que o LOGGER será responsável por todo o trabalho de


manipulação das mídias, esse é um passo a passo que evita erros e acidentes de
percurso:

MÍDIA/ROLO NOVO

o A mídia virgem quando inserida na câmera é portanto, formatada e


checa-se a câmera a nomeou com o nome correto; ex: a001, g003 ou
n146.
o Coloca-se uma fita identificando aquele rolo unitariamente, alguns
profissionais colocam ainda o padrão no qual a mídia foi formatada
pois mesmo que se mude há a origem.
o É feita uma claquete de identificação de rolo, filma-se.
o Avisa-se ao 2ºAC o número de rolo e identificação do “magazine
digital” para correto preenchimento do boletim de câmera

TROCA DE MÍDIA/ROLO

o Ejeta-se a mídia, quando for necessário que seja através do menu de


câmera.
o Imediatamente prende-se a fita de identificação em torno do cartão e o
mantém em local livre de acidentes. A mídia/rolo passa a ter valor
como “material filmado exposto”.
o Coloca-se uma nova mídia e repete-se a operação de mídia/rolo novo.
o Pede-se ao 2ºAC as duas primeiras páginas do boletim de câmera.

TRANSFERÊNCIA DE MÍDIA/ROLO

o O conteúdo necessário do cartão (varia entre tipos de câmera) é


transferido para seu local correto na estrutura da árvore de arquivos
feita anteriormente: primeiro para a mídia de armazenamento master e
depois para o backup.
o Faz-se um check-sum que consiste em abrir a opção “obter
informações” quando em ambiente Mac (ou similar em PC) das três
mídias: a de câmera (o original), o armazenamento master e back-up e
checar se o tamanho: número de itens e o volume coincidem ou se há
erros, ex.: uma discrepância muito grande entre os números
apresentados
o Faz-se um check visual em play do material, aconselho a ver o original
(quando há RAW e proxies) e no software específico de visualização.
Assiste-se ao máximo possível do material capturado, eliminando a
possibilidade de erros de filmagem (foco, sujeira na lente, objetos
estranhos em quadro e outras coisas que precisem ser avisadas o
quanto antes) ou de transcrição de dados (“bugs”) e comparando o
boletim de câmera com o conteúdo de fato ali contido.
o Faz-se um relatório ou “log report” de cada mídia/rolo com
informações pertinentes à pós-produção e uso de outras pessoas
durante o processo. Deve incluir: produtora, nome do filme, data,
câmera e formato de gravação, tamanho total (memória
ocupada por material filmado), quantidade de clips, contatos
do Logger.

Um excelente software para isso é o ClipFinder® desenvolvido pela ©


Hans-Georg Daun que tem uma função de exportar um PDF com
informações de thumbnails, tamanho e metadata de um lote específico
de arquivos.

Exemplo do .pdf exportado pelo programa:

o Quando todos os procedimentos de transferência e integridade dos


arquivos são checados, sugere-se então duas alternativas: a) apagar os
arquivos de formatação da mídia de câmera obrigando nova
formatação quando for inserido novamente na câmera ou b) coloca-se
uma fita de cor específica para identificar “pode ser formatado”.
o Quando necessário (e combinado anteriormente) serão criadas novas
cópias dos arquivos (mantendo o formato original intocado, tanto no
master como no backup):
 Exportar para outros formatos de vídeo,
 Aplicar “looks” a determinado lote de arquivos,
 Exportar determinado número de frames para a pós ou para o
diretor de fotografia.
AVISO: o LOGGER não é finalizador ou colorista, ou mesmo assistente de pós, essas
funções requerem conhecimento, ambientes, equipamentos e prazos exclusivos para
isso. Uma coisa é aplicar um look outra completamente diferente é conceber uma
proposta visual (luminância e crominância) durante o set, tendo outras
responsabilidades mais sérias deixadas em segundo plano. Isso também vale para
aplicação de efeitos ou testes de chroma-key, a palavra final não deve e não pode ser
dada pelo LOGGER quanto a eficiência de determinado recorte ou característica de
uma ferramenta de uso da pós.

o Ao terminar cada mídia/rolo repete-se todos os passos anteriormente


descritos para cada nova mídia/rolo que chega.
o Avisa-se ao 1ºAC / foquista informações relevantes sobre
problemas quanto a integridade do material.

Final do dia de filmagem

- Quando a filmagem é finalizada pelo diretor, imediatamente a produção


começa a cobrança com tempo de finalização para agilizar a desprodução do
dia. É importante que o LOGGER tenha antevisto algumas soluções para
agilizar o processo sem atrapalhar seu próprio trabalho uma vez que ele tem
(quase) todas as etapas anteriormente descritas assim que a(s) última(s)
mídia(s) deixa(m) a(s) câmera(s). Isso refere-se a:
o Aos eletricistas pedirem uma eventual mudança da fonte de energia
desconcentrando o trabalho do LOGGER em um dos momentos mais
delicados e tensos do trabalho: o fim do dia.
o Aos outros assistentes de câmera que precisam desproduzir e checar
todo o equipamento de câmera e o LOGGER e suas ferramentas e
equipamentos não podem estar no caminho.
o A todos os outros interessados que vão querer antecipar respostas
positivas sobre a integridade do material, respostas essas que só podem
ser dadas em seu tempo.

- Ao finalizar o trabalho é hora de entregar as duas cópias de armazenamento, as


mídias master e backup e todos os boletins pertinentes (câmera e Log Report,
estejam escritos à caneta ou arquivos) para a produção. É importante que
ambas as mídias estejam identificadas com fita e que, por segurança, sejam
transportados em locais diferentes. O LOGGER deve manter uma das folhas do
boletim de câmera e uma cópia do LOG REPORT para eventuais dúvidas da
pós-produção.

- É hora de separar e guardar todo o equipamento usado para o dia seguinte ou


para ser devolvido à locadora. Sugere-se que os cabos sejam organizados em
ziplocks e se algo não estiver funcionando anotar como N!.

- Saiba que o não feedback da produção ou da pós na maioria das vezes é um


ótimo sinal.
3. EQUIPAMENTOS | FERRAMENTAS E ACESSÓRIOS

Os equipamentos para uso de um LOGGER profissional que devem ser


providos pela produção incluem:

- Laptop, sendo comumente usados sistemas Mac® da ©Apple com portas


FW400 ou, de preferência, FW800 com todos os programas necessários para
trabalhar com o fluxo de trabalho combinado para projeto.
- Cabos e adaptadores diversos (Expresscard/34 – FW800, eSATA etc.);
- Leitores de cartão;
- No-Break com capacidade e resistência para uso profissional;
- adaptadores de AC;
- Mídias de transferência seguras, ex.: SSD, RAID etc.
- Mídias de transferência portáteis que usam cabos para transferência de dados
e energia;

As ferramentes e acessórios que um LOGGER profissional deveria ter ou pedir


para uso pessoal incluem:

- Multímetro;
- Régua de AC com regulador de voltagem e fusível reserva;
- Fitas gaffer e paper tape coloridas;
- Tesoura;
- Canetas Sharpie permanentes em pelo menos duas diferentes cores;
- Cartaz de cinza;
- Claquete de rolo;
- DVDs virgens ou Pendrive;
- Caderno de anotações e caneta BIC;
- “Stickers”.

4. LINKS INTERESSANTES

http://www.arridigital.com/sites/default/files/DigitalFactBook_20th_0.pdf

http://www.theblackandblue.com/2010/07/14/digital-media-management-best-
practices/

http://en.wikipedia.org/wiki/Digital_cinematography

https://www.editorsguild.com/FromTheGuild.cfm?FromTheGuildid=189

http://www.google.com.br/url?
sa=t&source=web&cd=4&ved=0CDsQFjAD&url=http%3A%2F
%2Fwww.fletch.com%2Fimages
%2F2011_Digital_Camera_Comparison_Chart.pdf&ei=CyZQTtm2AtOhtwfH6
eirBw&usg=AFQjCNGaXe2QaVYz0d4u5Vwnk1z0Jk7REw

http://www.theblackandblue.com/guide/arri-alexa/

http://www.theblackandblue.com/guide/red-epic/

http://www.theblackandblue.com/guide/red-one/

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