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Aula 2

Conceitos iniciais da Teoria Geral do Processo.

 Juiz, partes e processo. As decisões judiciais.

 Processo como um conjunto encadeado de atos.

 Atuação das partes: o dever de lealdade.

 Objetivo do processo: a verdade.

Processo e Constituição: devido processo legal, contraditório e ampla defesa.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de
taxas:

a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra


ilegalidade ou abuso de poder;

b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e


esclarecimento de situações de interesse pessoal;

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a


direito;

XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa
julgada;

XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;

LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade


competente;

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal;

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral


são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes;

LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos.

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Constituição e Processo: integração (integração e formação da unidade
política do Estado); organização (Constituição organiza os poderes do Estado)
e direção jurídica (o ordenamento jurídico deve ser moralmente correto,
legitimo e auferido historicamente. CF como ordem jurídica fundamental do
Estado e ordem fundamental da sociedade.

Todos os ramos do Direito, mormente o processual, vinculam-se à Constituição


de sorte que a carta politica que fixa os princípios, contornos e as bases sobre
as quais deve erguer-se o edifício normativo brasileiro.

Princípios Processuais.

O que é Principio? E a regra?

Segundo Humberto Ávila, em Teoria dos Principios.

As regras são normas imediatamente descritivas, primariamente retrospectivas


e com pretensão de decidibilidade e abrangência, para cuja aplicação se exige
a avaliação da correspondência, sempre centrada da finalidade que lhes dá
suporte ou nos princípios que lhes são axiologicamente sobrejacentes, entre a
construção conceitual da descrição normativa e a construção conceitual dos
fatos.

Os princípios são normas imediatamente finalísticas, primariamente


prospectivas e com pretensão de complementaridade e de parcialidade, para
cuja aplicação se demanda uma avaliação da correlação entre o estado de
coisas a ser promovido e os efeitos decorrentes da conduta havida como
necessária a sua promoção.

Regras: conduta.

Princípios: orientação; interpretação. São imediatamente finalísticas, já que


estabelecem um fim a ser atingido.

Para Alexy, os princípios são normas que ordenam que algo seja realizado na
maior medida do possível, dentro das possibilidades jurídicas e reais
existentes. Mandamentos e otimização.

Para Dworkin, os princípios conferem coerência e justificação ao sistema


jurídico e permitem ao Juiz, diante dos hard cases (ou casos difíceis) realizar a
interpretação de maneira mais conforme a Constituição. As regras são
aplicáveis tendo em vista a ideia do “tudo ou nada” (ou a regra é válida e pode
ser aceita ou não é valida e não será aceita). Princípios não participam dessa
forma de aplicação, já que demandam interpretação e são vetores de
orientação para a aplicação da regra.

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Para Luis Virgílio Afonso da Silva, princípios seriam as normas fundamentais
do sistema, enquanto que as regras seriam definidas como concretização
desses princípios.

(i). Princípio do Devido Processo Legal.

Origem no due process of law. Magna Carta de João Sem Terra no ano de
1215.

Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo


legal. Artigo 5, inciso LIV, CF.

Devido processo legal em sentido genérico: compreende as tutelas de bens da


vida, como vida-liberdade-propriedade. Tudo o que disser respeito ‘a tutela da
vida, da liberdade ou da propriedade está sob a proteção do devido processo
legal.

Devido processo legal em sentido material: o devido processo legal não


abrange somente a proteção de direitos em sentido processual, mas também
no viés do direito material. Proteção da legalidade no direito público (direito
administrativo) e no direito privado (autonomia da vontade).

Devido processo legal em sentido processual: a manifestação processual do


devido processo legal se dá na igualdade das partes no processo; na garantia
do jus actionis (direito de ação); no respeito ao direito de defesa e no
contraditório.

(ii). a Isonomia.

Todos são iguais perante a lei, sem qualquer distinção. Benefícios processuais
a quem é diferente (direito do trabalho, direito do consumidor) para retomar o
equilíbrio da relação que já nasce desequilibrada.

(iii). Principio da Inafastabilidade do Controle Jurisdicional.

Principio do direito de ação. Não pode o legislador nem ninguém mais impedir
que o jurisdicionado vá a juízo deduzir pretensão. Isso quer dizer que todos

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tem acesso à justiça para postular tutela jurisdicional preventiva ou reparatória
relativamente a um direito (individuais e coletivos).

Direito à tutela jurisdicional e direito à tutela jurisdicional adequada.

Direito de ação (tutela jurisdicional preventiva ou reparatória) versus Direito de


Petição (qualquer situação).

Tutela jurisdicional coletiva. Direitos Difusos, Coletivos e Individuais


Homogeneos.

(iv). Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa.

Contraditório: embate com paridade de armas

Ampla defesa: dar à parte todos os meios de manifestação e de defesa.

Artigos 9 e 10 do CPC.

Art. 9o Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente
ouvida.

Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica:

I - à tutela provisória de urgência;

II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III;

III - à decisão prevista no art. 701.

Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a
respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate
de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.

(v). Princípio da Proibição da Prova Ilícita.

São inadmissíveis no processo as provas obtidas por meios ilícitos.

Teoria doutrinária intermediária (p. 268, Princípios, Nelson Nery).

Teoria dos Frutos da arvores envenenada: as provas decorrentes das provas


obtidas por meios ilícitos também serão ilícitas. Contaminação de uma prova
pela outra.

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(vi). Princípio da Publicidade dos Atos Processuais.

Publicidade como garantia de legalidade e fiscalização dos atos do Juiz.

(vii). Principio do Duplo Grau de Jurisdição.

Direito de recorrer da decisão.

Análise pelos Tribunais superiores.

(viii). Principio da Motivação das decisões judiciais.

Fundamentação das decisões administrativas e judiciais. Conhecimento dos


motivos da concessão, ou não concessão, da tutela.

Caso de nulidade do texto constitucional. Sanção pela inobservância do


principio.

(ix). Principio da Celeridade e da Duração Razoável do Processo.

Emenda Constitucional 45. A todos no processo administrativo e judicial são


assegurados a razoável duração do processo e meios que garantam a
celeridade de sua tramitação.

Litigância de má-fé: incidentes manifestamente infundados e procrastinação.

Justiça que tarda é falha.

No recente julgamento do REsp 1383776/AM, ocorrido em 6/9/2018, a 2ª Turma do Superior


Tribunal de Justiça, em acórdão relatado pelo ministro Og Fernandes, decidiu que a demora
excessiva para se proferir uma decisão determinando-se a citação do devedor, em processo
de execução, viola a garantia constitucional da duração razoável do processo, não devendo
ser tolerada por nosso sistema processual.

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Veja-se:

"RESPONSABILIDADE CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RAZOÁVEL DURAÇÃO DO


PROCESSO. LESÃO. DESPACHO DE CITAÇÃO. DEMORA DE DOIS ANOS E SEIS
MESES. INSUFICIÊNCIA DOS RECURSOS HUMANOS E MATERIAIS DO PODER
JUDICIÁRIO. NÃO ISENÇÃO DA RESPONSABILIDADE ESTATAL. CONDENAÇÕES DO
ESTADO BRASILEIRO NA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. AÇÃO
DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
CARACTERIZADA. 1. Trata-se de ação de execução de alimentos, que por sua natureza já
exige maior celeridade, esta inclusive assegurada no art. 1º, c/c o art. 13 da Lei n.
5.478/1965. Logo, mostra-se excessiva e desarrazoada a demora de dois anos e seis
meses para se proferir um mero despacho citatório. O ato, que é dever do magistrado pela
obediência ao princípio do impulso oficial, não se reveste de grande complexidade, muito
pelo contrário, é ato quase que mecânico, o que enfraquece os argumentos utilizados para
amenizar a sua postergação. 2. O Código de Processo Civil de 1973, no art. 133, I
(aplicável ao caso concreto, com norma que foi reproduzida no art. 143, I, do CPC/2015), e
a Lei Complementar n. 35/1979 (Lei Orgânica da Magistratura Nacional), no art. 49, I,
prescrevem que o magistrado responderá por perdas e danos quando, no exercício de suas
funções, proceder com dolo ou fraude. A demora na entrega da prestação jurisdicional,
assim, caracteriza uma falha que pode gerar responsabilização do Estado, mas não
diretamente do magistrado atuante na causa. 3. A administração pública está obrigada a
garantir a tutela  jurisdicional em tempo razoável, ainda quando a dilação se deva a
carências estruturais do Poder Judiciário, pois não é possível restringir o alcance e o
conteúdo deste direito, dado o lugar que a reta e eficaz prestação da tutela jurisdicional
ocupa em uma sociedade democrática. A insuficiência dos meios disponíveis ou o imenso
volume de trabalho que pesa sobre determinados órgãos judiciais isenta os juízes de
responsabilização pessoal pelos atrasos, mas não priva os cidadãos de reagir diante de tal
demora, nem permite considerá-la inexistente. 4. A responsabilidade do Estado pela lesão à
razoável duração do processo não é matéria unicamente constitucional, decorrendo, no
caso concreto, não apenas dos arts. 5º, LXXVIII, e 37, § 6º, da Constituição Federal, mas
também do art. 186 do Código Civil, bem como dos arts. 125, II, 133, II e parágrafo único,
189, II, 262 do Código de Processo Civil de 1973 (vigente e aplicável à época dos fatos),
dos arts. 35, II e III, 49, II, e parágrafo único, da Lei Orgânica da Magistratura Nacional, e,
por fim, dos arts. 1º e 13 da Lei n. 5.478/1965. 5. Não é mais aceitável hodiernamente pela
comunidade internacional, portanto, que se negue ao jurisdicionado a tramitação do
processo em tempo razoável, e também se omita o Poder Judiciário em conceder
indenizações pela lesão a esse direito previsto na Constituição e nas leis brasileiras. As
seguidas condenações do Brasil perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos por
esse motivo impõem que se tome uma atitude também no âmbito interno, daí a importância
de este Superior Tribunal de Justiça posicionar-se sobre o tema. 6. Recurso especial ao
qual se dá provimento para restabelecer a sentença".

O Superior Tribunal de Justiça, inclusive, já havia fixado tese, em sede de julgamento de


recurso especial sob o rito do artigo 543-C do CPC/73, abordando a necessidade de o
processo administrativo fiscal federal, com pedido de restituição, ter trâmite com duração
razoável; conforme se nota do acórdão relatado pelo ministro Luiz Fux, no RESP
1138206/RS, julgado pela 1ª Seção, em 9/8/2010:

"TRIBUTÁRIO. CONSTITUCIONAL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE


CONTROVÉRSIA. ART. 543-C, DO CPC. DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO.
PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL FEDERAL. PEDIDO ADMINISTRATIVO DE
RESTITUIÇÃO. PRAZO PARA DECISÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. APLICAÇÃO DA
LEI 9.784/99. IMPOSSIBILIDADE. NORMA GERAL. LEI DO PROCESSO
ADMINISTRATIVO FISCAL. DECRETO 70.235/72. ART. 24 DA LEI 11.457/07. NORMA DE
NATUREZA PROCESSUAL. APLICAÇÃO IMEDIATA. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC
NÃO CONFIGURADA. 1. A duração razoável dos processos foi erigida como cláusula
pétrea e direito fundamental pela Emenda Constitucional 45, de 2004, que acresceu ao art.
5º, o inciso LXXVIII, in verbis: "a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados
a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação."

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2. A conclusão de processo administrativo em prazo razoável é corolário dos princípios da
eficiência, da moralidade e da razoabilidade. (Precedentes: MS 13.584/DF, Rel. Ministro
JORGE MUSSI, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/05/2009, DJe 26/06/2009; REsp
1091042/SC, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/08/2009,
DJe 21/08/2009; MS 13.545/DF, Rel. Ministra MARIA  THEREZA DE ASSIS MOURA,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 29/10/2008, DJe 07/11/2008; REsp 690.819/RS, Rel.
Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 22/02/2005, DJ 19/12/2005). 3.
O processo administrativo tributário encontra-se regulado pelo Decreto 70.235/72 - Lei do
Processo Administrativo Fiscal -, o que afasta a aplicação da Lei 9.784/99, ainda que
ausente, na lei específica, mandamento legal relativo à fixação de prazo razoável para a
análise e decisão das petições, defesas e recursos administrativos do contribuinte. 4. Ad
argumentandum tantum, dadas as peculiaridades da seara fiscal, quiçá fosse possível a
aplicação analógica em matéria tributária, caberia incidir à espécie o próprio Decreto
70.235/72, cujo art. 7º, § 2º, mais se aproxima do thema judicandum, in verbis: "Art. 7º O
procedimento fiscal tem início com: (Vide Decreto nº 3.724, de 2001). I - o primeiro ato de
ofício, escrito, praticado por servidor competente, cientificado o sujeito passivo da obrigação
tributária ou seu preposto; II - a apreensão de mercadorias, documentos ou livros; III - o
começo de despacho aduaneiro de mercadoria importada. § 1° O início do procedimento
exclui a espontaneidade do sujeito passivo em relação aos atos anteriores e,
independentemente de intimação a dos demais envolvidos nas infrações verificadas. § 2°
Para os efeitos do disposto no § 1º, os atos referidos nos incisos I e II valerão pelo prazo de
sessenta dias, prorrogável, sucessivamente, por igual período, com qualquer outro ato
escrito que indique o prosseguimento dos trabalhos." 5. A Lei n.° 11.457/07, com o escopo
de suprir a lacuna legislativa existente, em seu art. 24, preceituou a obrigatoriedade de ser
proferida decisão administrativa no prazo máximo de 360 (trezentos e sessenta) dias a
contar do protocolo dos pedidos, litteris: "Art. 24. É obrigatório que seja proferida decisão
administrativa no prazo máximo de 360 (trezentos e sessenta) dias a contar do protocolo de
petições, defesas ou recursos administrativos do contribuinte." 6. Deveras, ostentando o
referido dispositivo legal natureza processual fiscal, há de ser aplicado imediatamente aos
pedidos, defesas ou recursos administrativos pendentes. 7. Destarte, tanto para os
requerimentos efetuados anteriormente à vigência da Lei 11.457/07, quanto aos pedidos
protocolados após o advento do referido diploma legislativo, o prazo aplicável é de 360 dias
a partir do protocolo dos pedidos (art. 24 da Lei 11.457/07). 8. O art. 535 do CPC resta
incólume se o Tribunal de origem, embora sucintamente, pronuncia-se de forma clara e
suficiente sobre a questão posta nos autos. Ademais, o magistrado não está obrigado a
rebater, um a um, os argumentos trazidos pela parte, desde que os fundamentos utilizados
tenham sido suficientes para embasar a decisão. 9. Recurso especial parcialmente provido,
para determinar a obediência ao prazo de 360 dias para conclusão do procedimento sub
judice. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ 08/2008".

(xi). Princípio do Juiz Natural.

A garantia do juiz natural consiste (i) na ausência de tribunal de exceção; (ii)


em todos terem o direito de submissão a julgamento por juiz competente, pré-
constituído na forma da lei; (iii) e na imparcialidade do Juiz.

(xii). Princípio da Imparcialidade do Juiz.

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O juiz natural tem que ser independente e parcial. A independência significa
que o Juiz está livre de interferências dos outros poderes e está submetido
exclusivamente à lei. A imparcialidade impõe a decisão objetiva e
fundamentada do Juiz, que deverá buscar a verdade através das provas.

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