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TRANSTORNOS DE ANSIEDADE E TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

Em relação aos Transtornos de Ansiedade (TA), os estados emocionais que


denominamos medo e ansiedade são vivências universais, sendo difícil ainda
estabelecer um limite exato entre o normal e o patológico. Na prática clínica,
entendemos a ansiedade como patológica quando este estado emocional passa a
ser disfuncional, ou seja, traz prejuízos sociofuncionais e/ou sofrimento importante
para o indivíduo.

Os ataque de pânico se caracterizam por um período discreto de medo ou


desconforto intenso no qual quatro ou mais dos seguintes desenvolveram-se
abruptamente e alcançaram um máximo dentro de dez minutos de seu início: 1.
palpitações ou ritmo cardíaco acelerado; 2. suor; 3. tremer ou sacudir-se; 4.
sensações de falta de ar ou de asfixia; 5. sensações de sufocamento; 6. dor ou
desconforto no peito; 7. náusea ou mal-estar abdominal; 8. sentir-se tonto,
desequilibrado, desmaiando; 9. desrealização (sentimentos de irrealidade) ou
despersonalização (sentir-se destacado de si mesmo); 10. medo de perder o
controle ou ficar louco; 11. medo de morrer; 12. parestesias (sensações de
dormência ou formigamento); 13. calafrios ou ondas de calor.

Já com relação à Agorafobia são os seguintes: A. Ansiedade de estar em


lugares ou situações nos quais a fuga possa ser difícil (ou embaraçosa) ou nos quais
um socorro pode não estar disponível na eventualidade de ter um ataque de pânico
inesperado ou situacionalmente predisposto ou de ocorrer sintomas como pânico.
Medos agorafóbicos tipicamente envolvem conjuntos característicos de situações
que incluem estar fora de casa sozinho; estar em uma multidão ou esperar em uma
fila; estar em uma ponte ou viajar em ônibus, trem ou automóvel.

Barlow (1988) sinaliza que o desenvolvimento dos transtornos de ansiedade


tem provavelmente uma predisposição biológica, ativada no momento em que o
ambiente fornece experiências de imprevisibilidade e falta de controle. Em todos
esses transtornos, observam-se crenças que giram em torno de um senso de
vulnerabilidade pessoal. Os esquemas são tipos de padrões cognitivos ou estruturas
mentais de conhecimento que organizam todas as experiências de um indivíduo
(Beck e Emery, 1979). Também determinam a forma como este perceberá e
interpretará cada situação.

A idéia básica do modelo cognitivo dos transtornos emocionais é o de que


não são os eventos em si que os provocam, mas sim as interpretações feitas pelas
pessoas desses eventos que são determinantes na produção das emoções
negativas experienciadas. Uma vez ativados ou priorizados, os esquemas darão
formato às idéias que caracterizam o transtorno e seus sintomas (Riskind, 1997).
Percebe-se que o indivíduo com Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)
possui uma percepção exagerada de perigo ou ameaça, combinada a uma
percepção diminuída de sua capacidade em lidar com eles (Costello e Borkovec,
1998). Sua avaliação antecipatória é de superestimação da probabilidade de algo
sair errado. Portanto, a chave para o entendimento e a intervenção terapêutica está
na identificação e no questionamento dessa forma de interpretar o mundo como
extremamente perigoso e a si mesmo como totalmente inábil.

A antecipação cognitiva do perigo, caracterizada pela preocupação (cadeia de


pensamentos e imagens carregados de emoções negativas e relativamente
incontroláveis), representa uma tentativa de solução mental dos problemas
(Borkovec et al., 1983, in Dugas e Ladoucer, 1997). Verifica-se uma predominância
de pensamentos, em vez de imagens, nessas preocupações, que se mantêm por
reforçamento negativo. É como se as preocupações impedissem que catástrofes
acontecessem ou, pelo menos, preparassem os pacientes para elas. Alguns
indivíduos relatam que elas os distraem para não terem pensamentos ainda piores.

TRATAMENTO

O tratamento do pânico e da agorafobia é a terapia cognitiva que consiste,


fundamentalmente, na aquisição de um repertório de manejo das crises. Esse
repertório inclui:

(1) (Técnica Cognitiva) reestruturação cognitiva: detectação e identificação de


pensamentos distorcidos ansiogênicos e contestação da veracidade dessas
interpretações;
(2) (Técnica Comportamental) treino em relaxamento ou em respiração
diafragmática, de modo a combater os efeitos autonômicos da ansiedade e da
hiperventilação (há questionamentos quanto ao uso desses procedimentos pela
idéia implícita de que as sensações associadas ao pânico são tão ―más‖ que
precisam ser controladas e eliminadas, ao passo que, na verdade, argumenta-se
que o necessário é que os pacientes percam o medo de tais sensações);

(3) (Técnica Comportamental) exposição gradual ou por inundação ao vivo às


situações que induzem ou elicitam ataques de pânico ou para os estímulos
interoceptivos a eles associados. A exposição interoceptiva é feita não para eliminar
o medo do medo, mas para, por meio da informação dela decorrente, ser possível
combater os pensamentos catastróficos. Essa abordagem de tratamento tornou-se
mais difundida depois da teoria de Clark sobre o pânico e da obra de Beck e seus
colaboradores sobre os transtornos de ansiedade (inclusive pânico). Há uma
considerável evidência da efetividade desses procedimentos para o tratamento do
transtorno de pânico (Sokol et al., 1989; Beck et al., 1992; Clark, 1991; Margraf et
al., 1993; Shear et al., 1994).

Além disso, existem outras técnicas cognitivas como: Desviar o foco da


ameaça – buscar outras hipóteses alternativas; Questionamento socrático – buscar
evidências que comprovem ou não o pensamento negativo; Automonitoração dos
pensamentos disfuncionais; Promover a regulação emocional; Teste de realidade
dos pressupostos básicos mantidos pela pessoa sobre si mesma, o mundo e o
futuro; Ressignificação; Psicoeducação para regulação e inteligência emocional;

E comportamentais: Promover mudança do comportamento;


Dessensibilização sistemática – exposição gradativa ao estímulo aversivo até que o
paciente não tenha mais respostas desconfortáveis; Treinamento de habilidades
sociais – Capacidade para emitir respostas eficazes e adequadas a situações
sociais específicas.

É preciso considerar que para aplicar qualquer técnica, precisamos enquanto


psicólogos traçar quais as principais demandas do cliente e para saber qual é o
objetivo da terapia e escolher qual técnica usar para chegar ao resultado esperado.

DISTORÇÕES COGNITIVAS
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma abordagem da Psicologia
que estuda a relação entre pensamentos, emoções e comportamentos. Dessa
forma, ela é capaz de estimular mudanças positivas e apresentar bons resultados na
saúde mental. Um dos principais conceitos dessa teoria é o de distorções cognitivas.

As distorções representam certos padrões no pensamento. Ou seja, as pessoas


pensam sobre a realidade de maneira distorcida, o que causa diversos níveis de
sofrimento. Muitas vezes, isso acontece sem que elas percebam. Por isso, o
tratamento com um psicólogo faz toda a diferença.

QUE EFEITOS AS DISTORÇÕES COGNITIVAS PODEM CAUSAR?

Tudo o que fazemos é processado pelo nosso cérebro. Em outras palavras,


nós geramos pensamentos sobre todas as coisas que vivemos. Além disso, o ser
humano tem a capacidade não só de pensar sobre sua realidade atual, mas também
de reviver na mente os acontecimentos do passado e refletir sobre o futuro.

Ainda que essas sejam capacidades incríveis, elas têm grande potencial de
trazer sofrimento. Afinal, nem tudo o que pensamos é positivo e motivador. Pelo
contrário, muitas pessoas têm uma visão negativa de si mesmas e de seus
contextos de vivência.

O problema não seria tão ruim se afetasse apenas os pensamentos.


Entretanto, sabemos que o que uma pessoa pensa está diretamente ligado às suas
emoções e comportamentos. Ou seja, alguém que tem uma distorção cognitiva e se
vê de modo negativo, vai apresentar sentimentos como ansiedade, tristeza e
frustração com mais frequência.

Além disso, a pessoa também passa a se comportar de maneira disfuncional


— por exemplo, se afastando dos amigos por considerar que não é querida por eles.
Em geral, as distorções cognitivas estão envolvidas em contextos diversos, desde
simples equívocos de interpretação até problemas mais sérios, como os transtornos
alimentares.
Identificar e tratar as falhas no pensamento é a maneira mais eficiente de
melhorar essas condições emocionais e comportamentais. Por isso, o trabalho com
as distorções é essencial na prática clínica do psicólogo.

AS PRINCIPAIS DISTORÇÕES COGNITIVAS:

1. Personalização

Nessa distorção, a pessoa tende a atribuir culpa a si mesma nas mais


diversas situações que vive. É comum que quem está nessa condição peça
desculpas constantemente, ainda que não tenha toda a responsabilidade ou que o
fato não seja diretamente com ela. É o caso, por exemplo, de alguém que considera
que um amigo não conquistou um emprego porque ele não ajudou o suficiente.

2. Filtro Mental

Nessa outra distorção cognitiva, há uma visão predominantemente negativa


sobre a vida. A pessoa foca nos acontecimentos ruins e ignora o que existe de
positivo. Por exemplo, alguém que não tenha conseguido a nota que queria em uma
prova pode achar que nunca foi bem nos estudos, ignorando todos os outros
resultados positivos que já obteve antes.

3. Generalização

Esse tipo trata de um estereótipo de pensamento que transforma um caso


específico em uma regra para a vida. Diante de um acontecimento difícil, a pessoa
com essa distorção generaliza a realidade e passa a acreditar que ela é uma
verdade absoluta. Por exemplo, a pessoa citada na distorção acima considera que
sempre se deu mal nas provas e que nunca terá bons resultados nos estudos.

4. Maximização e minimização

Nesses casos, acontece de alguém minimizar suas conquistas ou aspectos


positivos e maximizar os erros e as coisas negativas que acontecem. Assim, a
pessoa dá grande importância às suas falhas e as considera de sua total
responsabilidade, enquanto as realizações são desconsideradas e tratadas como
obra da sorte ou fruto da ajuda de outros.
5. Pensamento dicotômico ou polarizado

Todas as situações que vivemos têm várias maneiras de serem interpretadas


e vários caminhos a seguir. Mas isso não acontece quando essa distorção cognitiva
atua. Nesse caso, a pessoa enxerga a vida somente a partir de duas ideias
polarizadas — tudo ou nada, ―oito ou oitenta‖ — ou seja, é um padrão de
pensamento inflexível.

Em um exemplo profissional, seria alguém dizer que se não ganhar uma


promoção no trabalho é porque é um péssimo funcionário. Assim, as condições
alternativas não são consideradas, como se existissem apenas duas possibilidades
para concluir qualquer situação.

6. Raciocínio emocional

Quem sofre com essa distorção do pensamento transforma suas emoções em


fatos sobre a vida. Por exemplo, uma pessoa que tem uma baixa autoestima pode
considerar — apenas porque se sente assim — que ninguém gosta dela e que ela é
péssima em tudo o que faz. Da mesma forma, alguém que se sente nervoso ao falar
em público passa a acreditar que está se sentindo assim porque os outros não estão
gostando do que ele diz.

7. Leitura da mente

Nessa distorção o ponto está em achar que sabe o que os outros estão
pensando. Então, sem qualquer dado concreto ou evidência, a pessoa infere o que
alguém pensa ou sente a respeito dela. Em um exemplo prático, um profissional que
não conquista uma promoção pode considerar que isso aconteceu porque o chefe o
odeia — ignorando outras hipóteses prováveis para o acontecimento.

Outro exemplo clássico, que se repete no dia a dia de quem tem essa
distorção cognitiva, é deduzir que os outros devem falar ou pensar mal de suas
condutas. Esse pensamento disfuncional está diretamente ligado à crença central da
necessidade de aprovação.

8. Catastrofização

Esse é um dos tipos de distorções cognitivas que mais causam sofrimento


emocional, porque as pessoas com esse padrão estão frequentemente esperando o
pior de cada situação que vivem. O nível de ansiedade de quem apresenta esses
pensamentos é muito alto — a ponto de deixar de fazer várias coisas, como não
andar de avião porque ele vai cair, não dar uma opinião porque vai ser humilhado
etc.

Essas pessoas também costumam ficar muito nervosas quando não


conseguem falar com alguém que amam. A ansiedade da catastrofização as fazem
pensar que a pessoa não está respondendo porque sofreu um acidente ou algo
muito ruim aconteceu.

9. Conclusões precipitadas

Também denominadas como premonição, adivinhação ou predição de futuro,


essas distorções cognitivas causam ideias infundadas sobre os acontecimentos que
estão por vir. Elas estão presentes quando chegamos a determinadas conclusões
irracionais sobre nós mesmos ou em relação a como as outras pessoas vão agir.
Veja algumas situações comuns:

 ―Não vou passar na entrevista‖;

 ―Vou ficar nervoso na hora da apresentação‖;

 ―As pessoas não vão gostar de mim‖;

 ―Não vou me sentir à vontade naquele ambiente‖.

10. Afirmações do tipo “deveria” e “tenho que”

Nesse tipo de distorção cognitiva, a pessoa tem uma forte autocobrança e


não consegue aceitar as coisas simplesmente como são. Assim, permanece o
pensamento inflexível de como deveria ser o seu próprio comportamento e o dos
outros. Esse padrão mental também está relacionado a questões como baixa
autoestima, expectativas irreais e intolerância à frustração.

De forma semelhante, estão as demandas absolutistas — expressões rígidas


que impõem um tom de imposição a qualquer ação, como: ―eu tenho que dormir
agora‖; ―eu devo ir ao cinema com meus amigos‖; ―eu tenho que brincar com meus
filhos‖. Não se trata apenas da colocação das palavras, mas do sentimento que elas
suscitam, como se nada fosse prazeroso, e sim obrigatório.
11. Rotulação

Com o pensamento da rotulação, o foco não está na atitude isolada e sim no


papel assumido. Dessa forma, em vez de avaliarmos um erro — próprio ou dos
outros — como algo eventual e aceitável, partimos para a definição de rótulos
pejorativos, como:

 ―Ele é um inútil, incompetente‖;

 ―Ela é falsa e mentirosa‖;

 ―Eu sou um fracassado‖.

12. Atribuição de culpa

Se na personalização a pessoa tende a se culpar por tudo o que acontece ao


seu redor, na atribuição de culpa ocorre justamente o contrário. Nesse caso, a
tendência é procurar por culpados externos e considerar as próprias falhas como
responsabilidade dos outros. De modo claro, quem sustenta esse tipo de
pensamento se sente vítima das circunstâncias e, portanto, não se orienta para
mudança. Exemplos:

 ―Estou me sentindo mal por culpa dele‖;

 ―Meus pais causaram todos os meus problemas‖;

 ―As coisas dão errado para mim, porque tem muita gente torcendo contra‖.

13. Comparações injustas

Essa distorção cognitiva faz com que a pessoa faça comparações irreais
entre sua vida e as conquistas alheias — ―ele é mais bem-sucedido que eu‖, ―ela
conseguiu fazer aquela viagem, e eu não‖ — sem avaliar os caminhos que foram
trilhados para chegar a tal ponto. Isso causa um sentimento de inferioridade e
insatisfação com os próprios resultados.

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