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Lessa de Matosinhos
João Paulo da Silva Reis / 1990
*
Onde estais?
António Nobre
Prefácio
O trabalho começa, como não podia deixar de ser, por uma breve notícia da freguesia,
e por um enquadramento histórico dos “nossos” frades observantes, no contexto
internacional.
O percurso, esse, começa no Convento de S. Clemente das Penhas, actual Boa-Nova. Foi daí,
que mais tarde, e por razões de segurança se mudaram para a quinta da Granja, que passou a
chamar-se Quinta da Conceição, em virtude de o Futuro Convento, que aí se ia instalar, ter o
nome da imagem de Senhora da Conceição. A par deste percurso, falarei da vida destes
“homens de Deus”, dos seus problemas e alegrias de uma imagem que lhes era muito familiar,
a imagem da Imaculada Conceição, que segundo consta esteve lá até à extinção das ordens
religiosas, no nosso país.
Depois, foi o abandono total do Convento e da imagem, que viria, no entanto, anos
mais tarde, a ser encontrada na casa de um lavrador de Matosinhos, E como já era de prever,
a imagem foi motivo de disputa entre as duas freguesias. O relato disse “confronto”, chegou
até via oral, mas não haja dúvidas que é um relato interessante de se seguir. Por acção ou não,
da Senhora, o importante é que foram os leceiros que levaram a melhor. Por conseguinte, a
imagem descansou finalmente, na Igreja Matriz de Leça da Palmeira, à cerca da qual, será feito
um último comentário
Orago: S. Miguel
Em frente de Matosinhos, transporto o rio Leça, encontra-se para noroeste, Leça da
Palmeira, povoação costeira, e denominada outrora S. Miguel de Palmeira, Lessa de
Matosinhos (para se distinguir de Leça do Balio) e S. Miguel de Moroça.
Nas Inquirições de D. Afonso III, em 1258, indica-se o lugar de S. Miguel de Moroça
(atual Amorosa) e no Rol Censuário de 1527, feito por Henrique da Motta à ordem de D. João
III, aparece-nos já S. Miguel de Palmeira, como freguesia pertencente ao julgado da Maia.
Neste antigo julgado, foi vigararia da apresentação da Universidade de Coimbra, em vigário
letrado, passando depois a Reitoria.
Em 1542 passou esta povoação, com Matosinhos e Guifões, ao padroado da
Universidade de Coimbra, que passa a zelar por elas e a receber rendas anuais.
S. Miguel de Palmeira, “foy subdito do Mosteiro da Vacariça, que se fundou na Diocesi
de Coimbra por Baixo donde hoje (1706) está o Convento do Buçaco de Carmelitas
Descalços”.
No Arquivo Paroquial existe o Livro das Visitações (ou dos Capítulos), abrangendo os
anos de 1647 a 1839. Na página 91 (anos de 1744) pode ler-se que Leça da Palmeira, para o
governo da igreja, se subdividia em dois bairros - o ribeirinho, que tinha o nome Lessa, e o
rural, que ficava na parte mais alta, constituído por Moroça de Cima e Moroça de Baixo. Estes
dois lugares pertenceram, sob o aspecto administrativo, umas vezes ao julgado de Bouças,
outras vezes ao julgado da Maia. O nome de Bouças, que foi comum ao julgado e, durante
algum tempo, ao concelho, veio-lhes do vetusto mosteiro com o mesmo nome, cuja existência
histórica é seguramente anterior ao séc. XIII. Ele foi durante séculos o principal foco religioso
e intelectual da área.
Em 20 de Abril de 1853, por Alvará da rainha D. Maria II, era criada a Vila de
Matosinhos, constituída pela freguesia de Leça da Palmeira, determinando-se que, para a nova
vila se transferisse a sede do concelho, que até então pertencia à Vila de Bouças (Senhora da
Hora), desde 1836. Englobava o então concelho de Bouças doze freguesias: Matosinhos, Leça
da Palmeira, Ramalde, Nevolgide, Aldoar, Lavra, Perafita, Santa Cruz do Bispo, Guifões, Leça
do Balio, Custóias e S. Mamede de Infesta.
Por decreto de 6 de Maio de 1909, era definitivamente criado o actual concelho de
Matosinhos, deixando de se manter a designação de Bouças. A partir daí, Matosinhos foi
sempre sede do julgado e, depois, do concelho.
A lei nº10/84 de 28 de Junho de 1984, conferiu a Matosinhos - Leça a categoria de
cidade.
OS FRANCISCANOS
NO NORTE DE PORTUGAL
De acordo com os dados conhecidos, urge distinguir duas fases de implantação dos
franciscanos em Portugal;
I. Que em termos gerais, abrange o séc. XIII e a primeira metade do sé. XIV, e
corresponde à chegada e instalação dos Frades Menores, também conhecidos como
primeira ordem, e as Clarissas, ou segunda ordem.
II. Caracterizada pela entrada e fixação dos Observantes, no norte do Reino, nos finais do
séc. XIV.
Claustrais - que viviam em centros urbanos e seguiam uma regra mais mitigada, com
um estilo de Vida influenciado pela tradição monástica;
Em razão das várias agitações porque passou, nomeadamente a crise de 1220 - 1223, período
em que surgem os textos legislativos - Primeira e Segunda Regras, e dos acontecimentos
ocorridos nos generalatos de Frei Elias, os Observantes fixam-se em Portugal. A divisão
acentuou-se mais ainda, com a eclosão do Cisma do Ocidente (1378 - 1417) e com a situação
política internacional inerente à Guerras dos Cem Anos.
Foi justamente neste cenário politico-religioso, que os observantes se fixaram no norte
de Portugal. Entre outros países europeus, as províncias religiosas de Castela, do reino de
Nápoles e de França, pertenciam aos “cismáticos” da Ordem. Ao contrário de Frei Ângelo que
havia sido o cismático. Frei Fernando de Astorga - Ministro da Província Franciscana de S.
Tiago de Compostela, permaneceu fiel ao pontífice
Apesar de por vezes o mar subir até à ermida, alagando toda a casa e destruindo o
trabalho de anos inteiros, os frades gostavam do local por ser “deserto, sem regalo” e “disposto
só para fazer penitência”. O dia-a-dia destes homens limitava-se quase exclusivamente à
oração - “tratavam só do espírito”. Não obstante, e para além de se ocuparem com o
“grandíssimo fervor na meditação do céu”, não deixavam de parte o serviço da casa. Escreviam
livros, por duas obrigações: a primeira para não cairem no ócio, e a segunda para terem por
onde louvarem a Deus.
Com idêntica austeridade, cumpriam também o voto de pobreza, conforme nos conta
Fr Manoel da Esperança: “Treze cubertas de burel, e de picote com quatro mantas da terra,
que estendidas sobre tábuas compunham os seus leitos no verão, e no inverno. Os doentes não
tinham outro regalo, nem havia um lençol na sua enfermaria.
O cofre onde guardavam Jesus sacramentado era de madeira, dourado por fora; o
túribulo de latão (porque a prata só se via nas copas dos cálices). Os paramentos, com a
excepção de dois ou três (de seda muito velha), eram de lã ou de linho.
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Por mera junção de factos, tudo leva a crer que a decisão de D. Afonso V mandar fazer
a imagem da Senhora da Conceição em 1481, a Diogo Pires (o Velho), foi influenciada pelos
frades de S. Clemente. E isto porque, quando os frades decidiram mudar o convento para a
quinta da Granja e pôr-lhe o nome de Santa Maria da Conceição, D. Afonso quando chegou de
Zamora em 1476, foi imediatamente ver o estado da quinta. Logo, é possível que os monges
lhe tenham pedido uma imagem da Padroeira da casa.
“Grande glória e muito maior da que foi em S. Clemente (Boa-Nova) está hoje possuindo esta
casa, com a presença da puríssima Senhora, cuja Conceição Imaculada alegra, suavemente,
todas as almas devotas. É uma fermosíssima e majestosa imagem talhada em pedra viva
(calcário coimbrão), de oito palmos em alto, com o Menino Jesus (que lhe deu o ceptro de
Imperatriz do Mundo), no braço direito, onde a costumam ter outras imagens antigas e
milagrosas. Notavelmente altera, a sua vista, as almas, porque, abrasando-as em devoção e
amor, ficam juntamente frias de pavor e reverência.”
MUDANÇA DO CONVENTO PARA A QUINTA DA GRANJA
“Oitenta e três anos sustentamos esta praça de S. Clemente das Penhas, mas muito à
nossa custa, e correndo o de 1475 concordaram os muitos zelosos Padres F. João da Povoa (2)
vigário Provincial, e Fr Pedro Pão e água, vigário da mesma casa que ouvesse mudança.
Determinando também, que fosse para a quinta da Granja, situada na margem do Leça, um
pouco acima do lugar do mesmo nome, por ser o sítio fresco, retirado, e devoto; e que o nosso
convento se chama-se Conceição em louvor da Senhora Mãe de Deus”.
Porém, foi necessário ultrapassar algumas dificuldades para que o desejo se
concretizasse. A primeira delas relacionava-se com o lugar em si, que pertencia ao Mosteiro
de Leça do Balio. Este por sua vez, só o largava em troca de outra fazenda. O que aconteceu
graças aos grandes devotos Fernão Coutinho, e sua esposa D. Maria da Cunha, ao concederem
o seu terreno em Moroça de Cima.
A segunda, surgia do facto de ser reguengo do rei D. Afonso V, e para se alienar era
necessária a sua licença. Por fim, um Diogo de Proença, que trazia o prazo, queria que lhe
pagassem o seu útil senhorio. O que realmente se verificou em virtude da generosidade do
casal Garcia Dias e Maria Anes.
Uma vez que só faltava o “sim” do rei e do F. Paio Correia, vigário do Mosteiro, Fr Pedro
Pão e água, foi ter com ambos a Zamora, onde decorriam as guerras contra Castela. Deu-lhes
conta do motivo da sua viagem, e ambos o despediram com boas esperanças para quando
regressassem ao reino. Regressado em Junho de 1476, D. Afonso V, pelo amor que lhes tinha,
foi pessoalmente ver o estado da quinte, e contente com ela, concedeu a licença do reguengo.
Fernão Coutinho entregou o seu terreno, o Mosteiro deu a quinta, e Garcia Dias pagou o valor
do prazo. Posto isto, a 10 de Julho de 1476 fizeram-se as escrituras como o rei havia ordenado.
A Licença do Pontífice, foi-lhes concedida por Sisto IV, à instãncia da Infanta D. Brites,
mulher do Infante D. Fernando, Duque de Beja.
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(2) Foi justamente, esse ilustre Frei João da Povoa que chegando de França, teve uma
conversa com o vigário do mosteiro (Frei Pão e água), no sentido de transferirem a dita casa
para mais hospitalares paragens, porque “a destruía o mar e caía cada dia”.
- O P. Fr João da Povoa nasceu num lugar do bispado de Coimbra, que se chamava
Povoa, e que lhe deu o apelido. Foi confessor de D. João II, sete vezes Provincial e
nove meses foi (a pé) a Concílios Gerais, em diversas partes da Europa.
CONVENTO DA CONCEIÇÃO
O convento em si, “ficou solitário, perfeito, devoto e está bastante retirado do comércio,
com o qual as casas religiosas saíram sempre a perder”. Dele fazem parte grandes hortas,
devesas e pomares, que o Rei demarcou quando visitou o sítio.
“Na sua disposição se tem ajudado muito da natureza, a arte porque produzindo uma
(a natureza) grandes árvores e frescas, a outra (a arte) as ordenou em caminhos e em ruas
aprazíveis, pelas quais, passeando o espírito, se pode aliviar os rigores ordinários (da
clausura). E quando se quer tornar ao ócio da santa contemplação, a cada passo acha ermidas
devotas, onde estão muito certas as consolações da alma. A elas também pertence a mansidão
dos passarinhos domésticos, que nos vêm comer à mão, representando de algum modo nestes
bosques a grande felicidade do Paraíso da terra, onde os animais ferozes, mansamente
guardavam obediência aos nossos primeiros Pais.
Tudo aqui é santo e devoto, porque até as paredes, onde parecem mais toscas, estão
gotejando alentos de santidade. (…) E se ainda se virão os arquinhos de tijolo, de que constava
o claustro, muito humildes, e baixos, sem varandas por cima, que os fizessem soberbos, por
eles se conhecera qual era o seu espírito. Depois disto achou-se conveniente mudar o coro da
capela-mor, que o teve muitos anos, para o alto da porta, onde os frades ficassem mais
recolhidos, e assim entrou a necessidade de levantar uma varanda para lhe dar serventia.
Interessava-nos porém, ficar mais desabafada, e alegre a capela, em que assiste a puríssima
Senhora: mas nem ela, nem toda a casa junta é bastante para tão grande Princesa”
A chegada ao convento
“Entretanto navegava o batel e, chegando à borda da nossa cerca(o rio Leça era navegável até
à Ponte de Guifões), fez entrega do tesouro que levava, em cujo recebimento houve tanta
diligência que, tendo saído do Porto a horas de terça (nove da manhã) às duas da tarde estava
já sentado no altar. Foi esta colocação em dia assinalado, quarta-feira, véspera da Ascenção do
Senhor, sete de Maio de 1483. Está hoje em grande veneração escondida com cortinas de
volante e de seda; nem se mostra se não é na presença de romeiros ou em dias particulares do
ano”.
A Construção
Na impossibilidade de dar o que desejaria, D. Afonso do que havia ajuntado para pagar
aos seus soldados, tirou uma quantia e ofereceu aos frades de S. Clemente, juntamente com
três Mestres que estavam a trabalhar no Convento da Batalha.
Com esta “esmola”, e com as que alguns devotos deram, Fr João da Povoa e o Padre
Frei Luís de Beja, então vigário da casa de S. Clemente, resolveram começar a Obra.
“Pelo que, segunda-feira, 18 de Maio de 1478, disse missa o vigário numa casa da
quinta, e depois lançou a primeira pedra no cunhal da porta da Igreja para a banda do rio.
Quando chegou o felicissimo dia da Conceição Imaculada, 8 do mês de Dezembro,
estavam já as paredes meias feitas e, nesse estado, se cantaram as primeiras vésperas e missa,
na qual pregou o vigário Frei Luís. Foi a festa maior e mais alegre que nós podíamos ter, porque
para além do vigário da Província - Fr João da Povoa, também se achou presente o vigário
geral da Família - Fr Guilherme Berti.”
Confrontados com a falta de dinheiro, viram-se obrigados a parar as obras. Contudo,
D. Margarida de Vilhena, mulher de João Rodrigues de Sá, deixou-lhes as suas jóias no valor
de duzentos mil réis. Como agradecimento, o seu corpo foi sepultado dentro da capela mór, no
princípio de Outubro de 1479. No ano seguinte, F. António de Barcelos, era eleito o primeiro
Guardião. Em 1481 aparece-nos já o seu sucessor - Fr Alvaro de Cordovas, frade leigo, e natural
de Castela.
E foi precisamente este homem de “notória virtude, amado e respeitado pelos
Príncipes, prudente e muito trabalhador”, que consegui persuadir ricos e pobres, entre eles os
reis D. João II e D. Manuel, a contribuírem com importantes quantias para a continuação da
Obra.
Ainda em 1481, mais precisamente a 4 de Outubro, o mesmo F. Alvaro, trouxe de S.
Clemente os frades, que lá estavam, à excepção de um, que só foi pela Páscoa.
“- De sete canadas e três quartilhos (15 litros) de leite para o arroz-doce do dia do
nosso Padre (S. Francisco), - 155 réis.”
A quantidade de pão é que, aos nossos olhos, se nos mostra exígua. Entre 20 a
30 pães diários para aquela comunidade…, não chega.
E o que bebiam?
Água; que em todo o tempo ali existiu, e boa. Em geral, os frades procuram
sempre sítios onde haja abundância de água, para se estabelecerem. Aqui não devem ter
fugido à regra. Em 1744, inclusivamente, mandaram fazer uma mina, que lhes ficou por
110.400 réis.
Também bebiam vinho de “Cima do Douro” para onde iam fazer as vindimas - não
se sabe se em propriedades comunitárias, se alheias. Há referências de que foram fazê-las
a: Entre-ambos-os-Rios (Ponte da Barca), Espadanedo (Macedo de Cavaleiros - Bragança?),
e Cerdoura.
Tudo leva a crer que de facto gastavam vinho bom (de “Cima do Douro”),
directamente do lavrador e em quantidade suficiente. A par dos salmos, cânticos e mais
orações, que estes observantes religiosos saberiam de cor e salteado, também não
esqueceriam que “Meia vida é a candeia; e o vinho, a outra meia “. E os mais entrados, em
sua prudência, nunca deixariam cair no esquecimento que “O vinho é o leite dos velhos”; isto
é, o vinho está para os velhos, como o leite para o sustento das crianças.
O fim…
Como tudo na vida, o convento conheceu o seu fim, em 1834 por força da
extinção das ordens religiosas, em Portugal. A partir daí, ali ficou, só e abandonado, sem
que ninguém “zelasse” por ele. A 20 de Dezembro de 1837, toda a propriedade foi vendida
em leilão público, a Manuel José de Freitas Guimarães, da cidade do Porto. Talvez porque
em Leça não houvesse ninguém interessado nele!...
MATRIZ DE LEÇA DA PALMEIRA
Com a extinção das ordens religiosas em Portugal, no ano de 1834, por iniciativa
de Joaquim António de Aguiar (o “Mata-Frades”) os monges, embora muito contrariados,
tiveram de abandonar o Mosteiro da Conceição e, “a imagem foi escondida por um lavrador
de Matosinhos, dentro da tenebrosa alcova da sua casa agrícola”. Como lá foi parar, é
pergunta que até hoje ainda não encontrou resposta. Como ela regressou de novo a Leça, é
outra questão que só pela tradição oral se consegue achar resposta.
Assim sendo, e socorrendo-se desta única alternativa, o historiador leceiro - Jorge
Bento (historiador apaixonado pela sua terra), dá-nos a resposta à pergunta, por intermédio
do seu livro “História da Imagem da Senhora da Conceição de Leça da Palmeira”, e que eu
passo a citar: “os leceiros, quando souberam que tinham sido esbulhados da sua relíquia,
indignados, movimentaram-se no sentido de a reaverem, mas os matosinheiros não
consentiram; a imagem, diziam, agora pertence a Matosinhos. E avisou-se, mais uma vez, a
velha rivalidade entre as duas freguesias da vila. Os lecenses, não se conformando,
queixaram-se às autoridades - não me souberam dizer mais - que deliberaram colocar a
Senhora num barco, a meio do Rio Leça, e deixá-lo à deriva: para onde se inclinasse, aí
ficaria a imagem. E assim se fez.
No dia aprazado, matosinheiros numa margem, leceiros na outra, calcula-se
vagamente o que teria sido - muito pior, mesmo muito, que no rio das lavadeiras em segunda-
feira seguinte à procissão dos Passos!
A dado momento, os de Matosinhos notaram que o batel se desviava ligeiramente
para a margem direita e, numa algazarra infernal, vá de, com varapaus, fazer correr as tão
sossegadas águas do Leça, para que o barquito virase a bombordo. Mas… eventualmente
pelo facto de as sonolentas águas se sentirem dispersas (ou talvez porque a Senhora
desejasse retornar à sua paróquia), estas fizeram o bote arribar a Leça, no meio do manifesto
descontentamento do povo matosinhense e no expressivo júbilo lecense.
Isto aconteceu (segundo o Boletim da Biblioteca Pública do Município de
Matosinhos, vol.10, fls.60) antes de 1852.
Assim mo narraram, há já muitos anos; assim mo confirmaram ainda há pouco
tempo”.
Como consequência de todos estes condicionalismos, a imagem acabou por ficar
na Igreja Matriz de Leça da Palmeira. Nessa altura, encontrava-se no centro do retábulo-mor,
hoje, porém, podemos observa-la em todo o seu esplendor, à entrada da capela-mor, à direita
de quem entra na Igreja.
A imagem da Senhora da Conceição, foi encomendada em
1841, por D. Afonso V, a Diogo Pires (o velho) de Coimbra,
e oferecida ao Mosteiro do Convento de Santa Maria da
Conceição de Leça da Palmeira, dos Frades Menores de
S. Francisco da observância, onde entrou solenemente a
7 de Maio de 1487, custou 20.000 reais a fazer, e 3.000 e
tantos a pintar.
Depois do Convento abandonado pelos monges
em 1834 (por força da extinção das ordens religiosas em
Portugal), veio para esta Igreja Matriz antes de 1852.
ESCLARECENDO NOMES...
“Terra de Bouças“
“Leça da Palmeira“
A mais antiga grafia toponímica desta vila, é Leça (do latim Laecia ) e não Lessa.
Segundo a opinião do abade Mondego, o nome Leça da Palmeira vem de Leça
dos Palmeiros, peregrinos que vinham da Terra Santa hospedar-se no Baliado e que
desembarcava na foz do rio Leça.
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(3) Costa, Américo - Diccionário Chorográphico Continental e Insular.
POSFÁCIO
mesmo o seu fim se trata de um “happy-end”. Na verdade, dos dois conventos que
superficialmente referi, já nada resta, a não ser alguns “fragmentos”, que em abono da
verdade se diga, um deles (o pórtico) foi inclusivamente vendido. Contudo, talvez por força
do acaso, ou de outra “força” qualquer, regressou mais tarde ao seu devido lugar.
Hoje, são o cenário para muitas pessoas que aí desejam ser fotografadas. No
entanto, muita dessa gente desconhece que por detrás de si, se encontram séculos de
Da ordem franciscana que outrora existiu nesta freguesia, resta agora a que se
situa na (pequena) Capela do Sagrado Coração de Jesus. Que a título de curiosidade, não
sabe que em 1992 faz 600 anos que aqui chegou. Os frades que dela fazem parte distribuem
o seu tempo dando aulas e pregando de terra em terra consoante o número de solicitações.
A Capela em si, funciona quase como que uma pequena paróquia, em razão de ter sob a sua
oportunidade que me deu (e a satisfação) de ficar a conhecer melhor a minha terra e o papel
1983
Website: www.leca-palmeira.com
O PRESENTE TRABALHO FOI ELABORADO, PARA A DISCIPLINA DE
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