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“ O existencialismo ateu, que eu represento, é mais coerente.

Declara que se Deus não existe, há pelo


menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido
algum conceito, e que este ser é o homem ou, como disse Heidegger, a realidade humana”...

J.P.Sartre: L´existencialisme est un humanisme.Nagel,Paris,1968. P.17

A designação de “Filosofia da Existência”, ou “Existencialismo” é usada para caracterizar um


movimento do pensamento filosófico. Tal movimento surgiu entre as duas guerras, mais precisamente
na Alemanha, por volta dos anos trinta.
O fim principal desta corrente filosófica é compreender a vida humana em si mesma, na sua
imanência, excluindo todo um conjunto de representações e juízos que transcendem a própria vida.
Deste modo, o Existencialismo surge contra todas as especulações metafísicas que o precederam;
fundamentalmente contra toda a sistemática forma de pensar; contra as atitudes teoréticas. Esta nova
atitude nega a existência de um reino do Espírito, um reino habitado por essências. Com efeito, se
analisarmos o conceito filosófico de “existência” verificamos que este radica na distinção clássica
entre essencia e existentia. A essencia de alguma coisa significa aquilo que essa coisa é em si, aquilo
que constitui as determinações essenciais de conteúdo da coisa (So-sein), corresponde ao seu íntimo ao
seu “quid”, que permanece intacto depois de abstraídas todas as determinações acidentais. A existentia
diz--nos que alguma coisa existe, é; que um determinado ser está efectivamente aí; significa o ser no
sentido de “estar aí” (Da-sein). Ou como dizemos actualmente, a realidade de um ser.
No entanto, o Existencialismo transformou este conceito. Limitou-o na sua extensão, aplicando-o
apenas ao homem, passando este conceito a designar somente a existência humana. O homem
doravante será entendido como o ser aí, o ser “lançado” na existência. A “existência” está assim na
base desta filosofia. É a expressão da vivência particular do homem, distinguindo-o de todas as
restantes vivências.
O Existencialismo é assim uma filosofia que se exerce como análise da existência, entendendo-se
por existência, o modo de ser do homem no mundo. A noção de “possibilidade” apresenta-se como
indispensável para perceber a existência, esta é, diria mesmo, apenas um conjunto de possibilidades.
Os precedentes históricos do existencialismo foram a Fenomenologia de Husserl e a filosofia de
KierKegaard. Do primeiro utilizou a Ontologia apofântica, ou seja, a concepção de um ser (mundo)
que se pode revelar ao homem. Do segundo utilizou precisamente uma ideia fundamental, a de
“possibilidade”. Esta ideia remete-nos para a existência entendida essencialmente pelo seu carácter
ameaçador. Com efeito a relação do homem com o mundo é problemática, exclui-se totalmente desta
relação, quaisquer garantias de sucesso.
O Existencialismo está associado directamente a um clima cultural, que podemos classificar por
crise do optimismo romântico. Crise porque os princípios de Infinito, Razão, Absoluto, Espírito, Ideia,
Humanidade e outros, que eram o suporte axiológico do homem ocidental até meados do séc. XX,
entram em decadência. Pelo contrário o Existencialismo considera o homem enquanto ser Finito,
limitado nas suas capacidades, lançado no mundo, abandonado ao determinismo desse mesmo mundo.
O homem está em luta constante, possui um mar de possibilidades, vive confrontado com terríveis
situações-limite. O Existencialismo esteve desde sempre associado a diversas manifestações literárias,
nomeadamente àquelas que procuravam traduzir a problemática do ser humano no mundo, o problema
do sentido da existência. Assim a obra literária de Sartre, de Simone de Beauvoir, de Albert Camus,
constituem exemplos destacados e fiéis desta nova visão do homem e do mundo.

O prof. António Dinis

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