Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PRIMEIRO ATO
[A plateia entra enquanto o palco, em formato de ringue ou de arena, está tomado pelas personagens dispostas, sendo
algumas em pé e algumas sentadas. Após o 3º sinal entra o áudio da voz do juiz]
JUIZ: Assassinato em primeiro grau. Homicídio premeditado é a acusação mais grave julgada em nossos tribunais
criminais, aqui nos Estados Unidos da América. Jurados, vocês ouviram um caso longo e complexo, e agora é seu dever
sentar-se para tentar analisar os fatos das duas versões. Um homem foi assassinado. A vida de outro está em risco, e
caso seja declarado culpado, enfrentará a pena de morte.
Se houver uma dúvida razoável na mente de qualquer um de vocês, quanto à culpa do acusado, deve-se declará-lo
inocente. Se, no entanto, não houver dúvida razoável, ele deve ser considerado culpado. Qualquer que seja sua decisão,
o veredicto deve ser unânime. Insisto ao júri que delibere com honestidade e consideração. Vocês se deparam com uma
grande responsabilidade. Obrigado a todos.
DOZE: Eu sei que tenho que ir embora daqui. Sou publicitária e estou cheia de trabalho.
DOZE: Olha... Eu não teria percebido se você não tivesse me dito. Não é mesmo?
TRÊS: Eu aposto que não está suando igual aquele garoto que está sendo acusado.
SETE: Pensei que pelo menos esse ventilador pudesse funcionar. Eu já quase caí morto naquele
tribunal, imagina aqui...
2
DOZE: Queria saber o que fazem com o dinheiro que eu pago de impostos.
TRÊS: Já o garoto eles prendem pra sempre em um caixão... Parece ok pra mim.
CINCO: Eu não sabia que eles faziam isso. (percebe que todos o olham sem entender) Isso, de trancarem
a porta...
CINCO: Eu só não sabia. Acho estranho. Parece que nós somos suspeitos de alguma coisa...
QUATRO: Acho que esse calor e umidade estão nos deixando sem paciência, hein?!
OITO: Foi uma semana bem difícil. Todos esses dias às voltas com esse caso...
DOZE: Na agência em que trabalho estamos no meio de uma campanha. Tive que abandonar
minha equipe e trazer trabalho pra cá... Se eu não terminar isso até amanhã eu sei qual vai ser o
meu destino... A publicidade é assim mesmo...
DOZE: Nada contra cumprir meu dever. Só falei que talvez não tenha um emprego quando voltar.
TRÊS: Pede pra ele te contratar. Ele é rico. Olhe esse terno!
CHEFE DE JÚRI: Eu tenho um tio que é alfaiate. Aliás, um amigo dele disse para ele que faria
qualquer coisa para estar nesse julgamento no meu lugar.
SETE: E por que não deixou ele vir no seu lugar? Eu faria qualquer coisa para não estar aqui...
3
CHEFE DO JÚRI: E ser presa, ou algo assim? Você sabe o tipo de multa que pode pagar por isso?
De qualquer maneira, esse amigo do meu tio esteve no júri uma vez, uns 10 anos atrás, em um
caso exatamente igual a esse. Acho que gostou da função...
CHEFE DO JÚRI: Caso de assassinato com chance de pena de morte. Por fim, deixaram o
acusado livre. O juri teve uma Dúvida Razoável. Só que aí, uns 8 anos depois descobriram que o
rapaz era realmente culpado. Um assassino foi solto.
QUATRO: Não.
QUATRO: Pela lei, um homem não pode ser julgado duas vezes pelo mesmo crime.
SETE: Mas isso não vai acontecer dessa vez! Não tem como...
TRÊS: Estamos aqui há seis dias. Podiam ter terminado em dois. Tanto Blá! Blá! Blá! Vocês já
ouviram tanta conversa sobre nada?
TRÊS: Todos têm direito a um julgamento justo. Esse é o sistema. Quanto a isso não dá pra
contrariar.
DEZ: Vocês sabem com quem estamos lidando... É só olhar pro sujeito...
DOIS: Que maneira terrível de morrer... Uma facada no peito... Ainda mais do próprio filho!
DEZ: O que parece? E ficar assim, com esse calor, é mesmo de matar....
SETE: É melhor que seja rápido. Eu tenho ingressos para "My Fair Lady", esta noite. Eu devo ser o
único nos Estados Unidos que ainda não viu. Pronto, meritíssima, que comece o espetáculo.
4
CHEFE DO JÚRI: Bem, então, vamos sentar? Você aí, que tal sentar-se?
DEZ: É difícil de entender, não é? Um jovem mata o pai bem assim, do nada. Essa gente que deixa
os filhos soltos por aí, só pode dar nisso.
QUATRO: Existem provas melhores do que alguma impressão que você possa ter, baseada em
algum preconceito.
TRÊS: Vamos começar logo com isso. Já sabemos onde vai dar.
CHEFE DO JÚRI: Ok. Agora, vocês podem fazer isso da maneira que quiserem. Quero dizer, não
vou impor nenhuma regra. Se quiserem discutir primeiro e depois votar, esse é um jeito. Ou
podemos votar agora e ver como estamos.
SETE: As mulheres não estão acostumadas a comandar mesmo! Deixa que eu decido, ok? Vamos
votar agora. Quem sabe talvez todos possamos ir para casa bem rápido.
DEZ: Algumas mulheres... Eu sei o que quero. Vamos logo ver onde isso vai dar.
CHEFE DO JÚRI: Certo. Todos aqueles que votam culpado levantem suas mãos. [JURADOS TRÊS,
SETE, DEZ E DOZE levantaram as mãos instantaneamente. O CHEFE DO JÚRI, QUATRO, CINCO e SEIS um segundo
depois. Então ONZE levanta a mão e um momento depois NOVE levanta a mão.] Oito, nove, dez e onze, são
onze votando culpado. OK. E Inocente? [OITO levanta a mão]
CHEFE DO JÚRI: OK. Onze contra um. Onze culpados, um inocente. Agora sabemos como
estamos.
DOZE: Em seis dias eu poderia aprender cálculo. Isto aqui tá bem fácil.
OITO: Como um homem culpado se parece? Ele não é culpado até dizermos que ele é culpado.
Vamos votar pela aparência dele?
TRÊS: No tribunal você ouviu as mesmas coisas que eu. O homem é um assassino perigoso. É só
ver.
OITO: Eu queria mesmo saber. Quais são as características faciais de um assassino? Talvez você
saiba algo que eu não sei.
QUATRO: O que tem no caso que faz você pensar que o garoto é inocente?
TRÊS: Já tem idade suficiente. Ele esfaqueou o próprio pai direto no peito. Um pequeno garoto
inocente de dezoito anos.
QUATRO: Concordo com você que o garoto é culpado, mas acho que devemos tentar evitar
argumentos efusivos.
TRÊS: Tudo bem, mas eles provaram de várias maneiras diferentes. Você quer que eu liste para
você?
OITO: Não é tão fácil para mim levantar a mão e sentenciar um garoto à morte sem ao menos falar
sobre isso.
CHEFE DO JÚRI: Ele continuaria sendo culpado, com um voto fácil ou difícil.
SETE: Eu acho que o cara é culpado. Você não conseguiria me fazer mudar de ideia nem se
falasse por cem anos.
OITO: Eu só quero conversar sobre. Olha, esse garoto foi maltratado a vida toda. Vive num bairro
pobre e a mãe dele morreu quando ele tinha nove anos. Esse não é um bom jeito de começar a
vida. É um garoto traumatizado e revoltado. Você sabe por que as crianças de bairros pobres são
assim? Porque julgamos elas todos os dias. Acho que devemos algumas palavras a elas. É só
isso.
QUATRO: Tudo bem, é difícil, claro. Pra mim também foi. Tudo o que tenho eu tive que lutar.
Trabalhei e estudei muito para chegar a uma faculdade. Isso foi há muito tempo, talvez eu tenha
me esquecido. Eu lutei, mas nunca matei.
DOZE: Eu venho sendo maltratada também. Espere até você, uma das únicas mulheres
trabalhando em uma agência de publicidade e o chefão que compra os anúncios chega. Acho que
não sabem a pressão disso.
ONZE: No meu país, na Europa, ser maltratado é muito comum. Podemos tentar achar um motivo
melhor que esse.
DEZ: Não me importo de dizer isso. Não devemos nada ao garoto. Ele teve um julgamento justo,
não foi? Você sabe quanto custa esse julgamento? Ele teve até sorte de conseguir um. Olha,
somos todos adultos aqui. Você não vai nos dizer que devemos acreditar nele, sabendo o que ele é
e de onde ele vem. Eu vivi entre eles a vida toda. Você não pode acreditar em uma palavra do que
eles dizem. Você sabe disso.
NOVE: Eu não sei. Que coisa terrível de acreditar! Desde quando a desonestidade é uma
característica de um grupo? Você não é a dona da verdade!
QUATRO: Eu não vejo necessidade de chegarmos a este ponto. Somos todos aqui capazes de
nos comportar com respeito. Poderíamos apenas nos atentar aos fatos do caso.
ONZE: Se vocês não se importarem, eu queria fechar a janela. Está ventando no meu pescoço.
ONZE: Obrigada.
DOZE: Tive uma ótima ideia. Que tal se cada um de nós falar, por um minuto apenas, nossos
motivos de acharmos que o rapaz é culpado pra mostrar como ele está errado?
QUATRO: Concordo.
DOIS: Eu? Confesso que não estava preparada... Eu só acho que ele é culpado. Penso que é
óbvio.
OITO: Ninguém tem que provar o contrário... a pessoa é INOCENTE até que se prove o contrário.
O ônus da prova está no processo. O réu não precisa abrir a boca. Isso está na Constituição. A
Quinta Emenda. Você já ouviu falar disso?
DOIS: Bem, claro, eu já ouvi falar disso. Eu sei o que é isso... Eu... o que eu quis dizer... Bom, de
qualquer forma... Eu acho que ele é culpado! Eu me atrapalhei por ela pedir pra eu falar primeiro...
Não seria melhor um dos rapazes conduzir isso tudo? Acho que eles sabem melhor como fazer...
OITO: A senhora só acha que ele é culpado? Sem motivos? Estamos falando de pena de morte
aqui.
TRÊS: Ok, vamos aos fatos. Número um: vamos falar do velho que mora no segundo andar, logo
abaixo da sala onde o assassinato ocorreu. À meia-noite e 10, na noite do assassinato, ele ouviu
8
gritos no apartamento do andar de cima. Disse que parecia uma briga. Então ouviu o garoto dizer
ao pai: 'Eu vou te matar'. Um segundo depois, ouviu um corpo cair e correu para a porta do
apartamento, olhou pra fora e viu o garoto descendo as escadas saindo do prédio, chamou a
polícia e encontraram o pai com um canivete no peito.
CHEFE DO JÚRI: E o médico legista determinou a hora da morte por volta da meia-noite.
QUATRO: O depoimento do garoto é fraco. Ele alegou que estava no cinema. Isso é um pouco
ridículo, não é? E nem conseguiu lembrar qual filme assistiu.
DEZ: E a mulher do outro lado da rua? Se o depoimento dela não o prova, nada prova.
DEZ: Só um minuto. Imagine uma mulher deitada na cama que não consegue dormir. Está calor.
De repente, ela acorda e olha pela janela, e do outro lado da rua vê o garoto enfiar o canivete no
pai.
OITO: Como ela pode ter certeza de que era o garoto quando viu através das janelas de um trem
que estava passando?
DEZ: Ela já conhecia o garoto. A janela dele está bem em frente à dela, do outro lado da rua. E ela
jurou que o viu matando.
DEZ: Pois então! E eles provaram no tribunal que você pode olhar através das janelas de um trem
que passa à noite e ver o que está acontecendo do outro lado. Eles provaram isso.
OITO: Você não estava nos dizendo há um ou dois minutos atrás que não se pode confiar nesse
tipo de gente?
DEZ: E daí?
9
OITO: Quero te perguntar uma coisa. Como você acreditou naquela mulher? Já que ela é uma
deles...
DOIS: Do jeito em que vamos, é melhor ter alguém com pulso firme pra conduzir isso aqui.
QUATRO: Eles nos levaram para o quarto da mulher e olhamos pelas janelas de um trem que
passava.
OITO: Sim.
OITO: Não vi tão bem quanto eles me disseram que eu veria, mas consegui ver o que aconteceu
do outro lado.
SEIS: Eu não sei. Eu comecei a me convencer com o depoimento das pessoas no tribunal. Eles
não disseram algo sobre uma discussão entre o pai e o filho por volta das sete horas da noite?
Quer dizer, posso estar errado.
QUATRO: Eles ouviram o pai batendo no garoto duas vezes e depois viram ele sair nervoso de
casa.
SEIS: Bom, isso não prova nada. É apenas parte da história. Eu não disse que provou alguma
coisa.
SEIS: Não.
10
SETE: Pessoal, a maior parte já foi dita. Podemos conversar o dia todo sobre isso, mas acho que
estamos perdendo nosso tempo.
SETE: É só ver o histórico do garoto. Roubou um carro, foi preso por assalto e se eu não me
engano, esfaqueou alguém no braço.
SETE: Ele foi preso por brigar com canivete. Aos quinze anos ele já estava no reformatório.
OITO: Desde os cinco anos de idade era sempre espancado pelo pai. Tinha que se defender com
os próprios punhos.
TRÊS: Você está certo. São crianças. Do jeito que são... Eles não escutam. Eu tenho um filho.
Quando ele tinha uns oito anos, ele fugiu de uma briga. Eu vi ele fugindo. Fiquei tão envergonhado
daquilo. Aí eu disse pra ele na hora: "Eu vou fazer de você um homem ou vou te quebrar os
dentes." Quando ele tinha quinze anos, ele me bateu na cara. Ele é bem grande, sabe? Não vejo
ele há três anos. Aquele moleque mimado! Eu odeio esses moleques difíceis! Você cuida deles tão
bem... Tudo bem. Vamos seguir em frente...
QUATRO: Esse não é o ponto. Esse garoto, digamos que ele é produto de um bairro violento e de
um lar desfeito. Nada podemos fazer quanto a isso. Não estamos aqui para discutir as razões pelas
quais esses lugares são um terreno fértil pra criminosos. Eles são, eu sei isso. Você também. As
crianças que saem desses lugares são uma ameaça à sociedade.
DEZ: Concordo. E eu não quero nada com essas pessoas, acredite em mim.
CINCO: Eu brincava em um quintal cheio de lixo. Talvez ainda seja possível sentir o cheiro em
mim.
TRES: Qual é? Ela não estava falando de você. Não seja tão sensível.
OITO: Ok. Eu tenho uma sensação estranha sobre esse julgamento. De alguma forma eu senti que
o advogado de defesa nunca conduziu um interrogatório completo de verdade.
QUATRO: Isso não muda minha opinião sobre a culpa do garoto, mas eu concordo com você que
o advogado de defesa foi bem ruim.
TRES: E-n-t-a-a-o-o?
TRES: E quanto às questões que foram respondidas? Vamos falar sobre aquele canivete. Aquele
que o bom garoto prontamente admitiu ter comprado.
OITO: Está bem, vamos falar sobre o canivete. Eu gostaria de vê-lo de novo, Primeira jurada,
podemos vê-lo?
TRÊS: Nós todos sabemos o que isso parece. Eu não vejo porque precisamos ver isso de novo. O
que você acha?
OITO: Eu acho.
DOZE: O garoto admite ter saído de casa às oito horas, depois de levar uns tapas do pai.
OITO: Ou socos.
12
QUATRO: Ou socos. Ele foi a uma loja do bairro e comprou o tal canivete. O lojista foi preso no dia
seguinte quando admitiu que vendeu pro garoto.
TRÊS: Acho que todos concordamos que é um canivete incomum. Muito difícil esquecer algo
assim.
QUATRO: O lojista identificou o canivete e disse que era o único do tipo que ele tinha em estoque.
Por que o garoto comprou?
QUATRO: Em seguida, o garoto alega que no caminho para casa o canivete deve ter caído por um
furo no bolso do casaco, e que nunca mais o viu. Essa é a versão dele. Mas vocês sabem o que
realmente aconteceu. O garoto levou o canivete pra casa e, algumas horas depois, esfaqueou o
pai. E até se lembrou de limpar as impressões digitais.
TRÊS: Pode apostar que sim. Ouçam esse homem. Ele sabe do que está falando.
QUATRO: Todos os envolvidos com o caso identificaram este canivete. Agora você está tentando
me dizer que alguém o pegou na rua, foi até a casa do garoto e esfaqueou o pai com ele somente
por diversão?
OITO: Não. Estou dizendo que é possível que o garoto tenha perdido o canivete e que outra
pessoa tenha esfaqueado o pai com um canivete parecido. É possível.
QUATRO: Olha esse canivete. Eu nunca vi um canivete como esse em toda a minha vida. Nem o
lojista que vendeu. Você está mesmo tentando nos convencer que foi uma incrível coincidência?
OITO: Eu não estou forçando ninguém a aceitar isso. Eu só estou dizendo que é possível.
(ação do canivete)
OITO: Consegui em uma loja de produtos usados na esquina da casa do garoto. Custou dois
dólares. Eu sei... corri um risco trazendo isso pra cá. Mas achei pertinente.
TRES: Você usou um truque muito inteligente aqui, mas não provou absolutamente nada. Talvez
tenha uns dez canivetes iguais a esses, e daí?
OITO: E talvez ele não tenha mentido. Talvez ele tenha mesmo perdido o canivete e talvez ele
tenha mesmo ido ao cinema. Talvez a razão pro cobrador não ter visto ele seja porque ele entrou
escondido no cinema, e talvez ele tenha ficado com vergonha de dizer isso. Quem aqui nunca
entrou escondido no cinema uma ou duas vezes quando moleque?
ONZE: Eu nunca.
QUATRO: Oh.
OITO: Talvez ele tenha ido ao cinema, talvez não. E ele pode ter mentido. Você acha que ele
mentiu?
QUATRO: Você não tem que perguntar pra mim. Você já sabe minha resposta. Ele mentiu.
TRÊS: É claro que não sabe... Nem saiu das fraldas e está compondo um júri... falta vivência pra
você, não é rapaz?
SETE: Espera aí. O que você é? Advogado do garoto? Escuta, ainda tem onze de nós que pensam
que ele é culpado. Você está sozinho. O que você acha que está fazendo? Se você quer ser
cabeça dura e suspender esse julgamento, ele vai ser julgado de novo, e vai ser considerado
culpado por ter nascido.
SETE: Então, o que você vai fazer sobre isso? Não dá pra ficar aqui a noite toda.
OITO: Concordo.
CHEFE DO JÚRI: Eu acho que temos que continuar com isso agora.
QUATRO: Mas você não apresentou nada que possibilitasse entendermos sua dúvida. O velho
estava no andar debaixo. Ele escutou tudo. Ele escutou o garoto gritando...
SETE: Nós sabemos que ele comprou um canivete aquela noite e nós não sabemos onde ele
realmente estava. No cinema?
QUATRO: Ele sempre foi um garoto violento, e como isso não prova nada?
OITO: Eu tenho uma proposta a fazer. Quero pedir uma votação. Quero que vocês onze votem
secretamente. Eu vou me abster. Se ainda tiver onze votos para culpado, não vou ficar mais
sozinho e votarei culpado também.
QUATRO: Eu estou.
CHEFE DO JÚRI: Eu ainda sei contar. Seis culpados. Culpado. Culpado. Culpado. Inocente.
Culpado.
SEGUNDO ATO
TRÊS: De que vida você está falando? A vida do morto ou a vida de um assassino?
TRÊS: Eu também.
ONZE: Uma votação secreta. Nós concordamos nesse ponto, não? Se a pessoa quer que o voto
permaneça em segredo...
TRÊS: O que você tá querendo dizer? Não há segredos aqui! Mas eu sei quem foi. [Vira-se para
CINCO.] Qual o problema com você? Você vem aqui e vota como culpado e depois... Esse
“pregador” de repente começa te emocionar com histórias sobre uma criança pobre, que
simplesmente não poderia se tornar um assassino. Então você muda seu voto. Isso é muito
doentio. Esse pirralho não poderia estar nesse júri!
QUATRO: Concordo com você que o homem é culpado, mas vamos ser justos.
TRÊS: Esperar? Ser justo? É exatamente disso que estou falando. Estamos tentando colocar um
homem culpado na cadeira que lhe pertence, e de repente começamos a dar atenção pra um conto
de fadas.
ONZE: Por favor, eu gostaria de dizer algo. Eu sempre pensei que todos tinham o direito de ter
opiniões impopulares neste país. Foi por isso que vim aqui. Eu queria ter o direito de discordar.
ONZE: Normalmente, eu discordaria. Neste caso, concordo com vocês, mas o argumento que
queria enfatizar é que, no meu país... eu até tenho vergonha de dizer...
DEZ: Oh, agora vamos ter que ouvir a história do seu país?
QUATRO: É sempre prudente ter em mente o que acontece em outros países, quando as pessoas
não têm permissão para discordar; mas nós temos, então vamos nos ater ao assunto.
SETE: Sim, vamos nos ater ao assunto. [Para CINCO] Quero te perguntar, o que fez você mudar seu
voto?
NOVE: Não tem nada para ele contar. Ele não mudou o voto. Fui eu.
NOVE: Este rapaz escolheu ficar sozinho contra nós. Esse é o direito dele. É preciso muita
coragem pra ficar sozinho. Mesmo que acredite em algo com muita força, ele deixou o veredicto
em nossas mãos. Ele apostou por algum apoio e eu dei a ele. Eu quero ouvir mais. A votação está
dez contra dois.
QUATRO: Eles ainda não chegaram a um fato real para apoiar um veredicto de inocente.
DOIS: Não tenho experiência nisso, mas na minha visão, isso é muito difícil.
QUATRO: Sim, é. Mas não podemos mandar o garoto para o corredor da morte se houver uma
única dúvida razoável.
QUATRO: É um dispositivo jurídico que é acionado para que os jurados tenham plena certeza do
que estão fazendo ao enviar uma pessoa para a morte. Caso alguém levante uma dúvida razoável,
é o bastante para que a pessoa se salve.
QUATRO: Mas temos dois homens pensam assim. Eu quero saber porque.
DOIS: Você ouve histórias sobre homens inocentes que foram para prisão ou condenados à morte,
às vezes. Então, anos depois a verdade acaba surgindo.
QUATRO: Por outro lado, alguns assassinos são soltos e matam novamente. (para os demais) E
então, pessoal, vamos voltar?
TRÊS: Olha, amigo, agora que nos acalmamos um pouco... porque, eu sei, eu fiquei um pouco
exaltado. Bem, você sabe como é, eu não quis ser desagradável. Nada pessoal.
CINCO: Tá bem.
SETE: Então, se o garoto não matou o pai, quem foi que matou?
OITO: Até onde eu sei, devemos decidir se o garoto em julgamento é ou não culpado. Não
estamos preocupados com os motivos de outra pessoa aqui.
SETE: Mas apenas supondo, quem mais poderia ter uma motivação?
NOVE: Lembre-se, é "culpado se não houver uma dúvida razoável". Isso é uma coisa importante
de se lembrar.
NOVE: Isso não é fácil. Até agora, é apenas um sentimento que tenho. Um sentimento. Talvez
você não entenda.
DEZ: Um sentimento! O que vamos fazer, passar a noite conversando sobre seus sentimentos? E
os fatos?
TRÊS: Falou tudo. Olha, o velho do andar debaixo ouviu o garoto gritar: 'Vou te matar". Um
segundo depois, ele ouviu o corpo do pai cair e quinze segundos depois viu o garoto sair correndo
de casa.
DOZE: Exato. E não vamos esquecer a mulher do outro lado da rua. Ela olhou a janela aberta e viu
o garoto esfaquear o pai. Ela viu isso!
SETE: Como vocês aguentam esse cara? Ah, é como se eu estivesse falando com uma porta.
QUATRO: A mulher viu o assassinato pela janela de um trem em movimento. O trem tinha cinco
vagões e ela viu isso através das janelas dos dois últimos. Ela lembra dos detalhes mais
insignificantes. Acho que isso diz muito.
TRÊS: Bem, enquanto você vai pensando... [para DOZE] Me empresta seu lápis? Vamos brincar de
jogo da velha. [desenha um X] Nós temos um bom passatempo.
OITO: Isso não é um jogo. [Se irrita e joga o papel fora. TRÊS vai atrás do papel]
OITO: Ok. Quanto tempo leva para um trem em velocidade máxima passar por um determinado
ponto?
OITO: Vamos lá. Um trem passa por um determinado ponto em dez segundos. Este determinado
ponto é a janela da sala na qual o assassinato ocorreu. Você quase pode alcançar os trilhos do
trem pela janela do quarto. Certo?
QUATRO: E daí?
OITO: Ok. Agora, alguém mais aqui já esteve bem perto dos trilhos do trem?
OITO: Eles fazem muito barulho, não é? Quando a janela é aberta e o trem anda, o barulho é
quase insuportável. Você não pode escutar seus próprios pensamentos.
DEZ: Tá. Você não pode escutar seus pensamentos. Vá direto ao ponto.
OITO: O homem velho que estava no andar debaixo ouviu o menino falar...
OITO: O homem velho ouviu o menino gritar ‘Eu vou te matar’, e um segundo depois ele escutou
um corpo cair. Um segundo. Esse é o testemunho, certo?
DOIS: Certo.
OITO: A mulher que mora do outro lado da rua, olhou através das janelas dos dois últimos vagões
e viu o corpo cair. Certo?
QUATRO: Certo.
DOZE: Então?
OITO: Um trem leva dez segundos pra ultrapassar um determinado ponto, ou dois segundos por
vagão. Ele estava passando pela janela do velho por pelo menos seis segundos, talvez mais até,
antes que o corpo caísse, de acordo com o depoimento da mulher. O velho teria que ouvir o garoto
dizer: "Vou te matar", enquanto o trem, fazendo barulho, passava pelo seu apartamento. Não é
possível que ele pudesse ter ouvido.
DOIS: Talvez o velho não tenha ouvido. Quero dizer, com o barulho do trem...
TRÊS: Sobre o que vocês estão falando? Você está chamando o velho de mentiroso?
TRÊS: Você é louco! Por que ele mentiria? O que ele ganharia com isso?
TRÊS: Você continua com seus discursos brilhantes. Por que você não envia uma história pra um
jornal? Eles até pagam por isso.
OITO: O que isso tem a ver com a vida de um homem? Por que você acha que o velho mentiu?
Você tem o direito de ser ouvido.
NOVE: Eu fiquei observando o velho por muito tempo, durante o julgamento. A costura da jaqueta
estava rasgada embaixo do braço. Vocês perceberam isso? Ele era um homem muito velho com
uma jaqueta rasgada e carregava duas bengalas. Acho que o conheço melhor do que qualquer um
aqui. É um homem quieto, assustado e insignificante, que não foi nada a vida inteira, que nunca
teve reconhecimento, ou seu nome nos jornais. Depois de setenta e cinco anos, ninguém o
conhece. Isso é uma coisa muito triste. Um homem como esse precisa ser reconhecido - ser
questionado, ouvido e citado apenas uma vez. E isso acaba sendo muito importante pra ele...
DOZE: E você está tentando nos dizer que ele mentiu só para se sentir importante?
NOVE: Não, ele realmente não mentiria. Mas talvez ele acredite que ouviu gritos e que reconheceu
o rosto do garoto.
TRÊS: Essa é a história mais fantástica que eu já ouvi. Como você pode inventar algo assim?
SETE: O que!?
OITO: Ele não disse que era um mentiroso; ele estava explicando...
OITO: Por favor, ele estava explicando as circunstâncias para que pudéssemos entender porque o
velho poderia ter mentido. É uma clara diferença.
CHEFE DO JÚRI: Por favor, temos nosso trabalho e dever aqui. Tudo bem. Mais alguma coisa?
DOZE: É do que?
OITO: Eu aceito uma. Obrigado. Acho que provamos que o velho não poderia ter ouvido o garoto
dizer: 'Vou te matar’.
TRÊS: Eu discordo.
OITO: Supondo que o velho tenha realmente ouvido o garoto dizer: 'Vou te matar’. Quantas vezes
cada um de vocês já usou essa frase? Provavelmente centenas. “Se você fizer isso mais uma vez,
22
Júnior, eu vou te matar." " Vai, cara, mata ele!". Falamos isso todos os dias. Isso não significa que
vamos realmente matar alguém.
TRÊS: A frase era ''Eu vou te matar". E o garoto gritou no alto de seus pulmões.
TRÊS: Agora não tente me convencer que ele disse isso sem intenção. Alguém que diz uma coisa
dessas, do jeito que ele disse, teve intenção.
OITO: Tá, deixe-me te perguntar uma coisa. Você realmente acha que o garoto gritaria algo assim
para que toda a vizinhança ouvisse? Acho que não. Ele é inteligente pra isso.
DEZ: Inteligente! Ele é um preguiçoso ignorante. Não deve nem ter ido para o colégio.
ONZE: E quais os motivos pra isso? E isso não quer dizer que seja mais ou menos inteligente...
QUATRO: Pode nos falar por que você mudou seu voto?
CINCO: O canivete…
DEZ: Ele... [para OITO] ele convenceu você a acreditar em um conto de fadas.
CINCO: O velho também. Talvez ele não tenha mentido, mas talvez sim. Talvez o velho não goste
do garoto.
SETE: No que você está se baseando? Histórias que esse cara inventou?! Ele deveria escrever
para alguma revista de ficção. Faria uma fortuna. Por que o advogado dele não mencionou todos
esses pontos?
SETE: Oh, meu irmão. Você senta aqui e tira histórias do nada. Agora devemos acreditar que o
velho não saiu da cama correndo para a porta e nem viu o garoto descer as escadas quinze
segundos após o assassinato.
SETE: E o velho jurou isso... Áh é, ele só jurou isso para que pudesse se sentir importante...
SETE: Correu... caminhou... Tanto faz! Qual é a diferença? Ele chegou lá.
CINCO: Não lembro do que ele disse. Mas não vejo como ele poderia correr.
QUATRO: Ele disse que foi. Ele foi do quarto para a porta da frente. É o suficiente.
OITO: No corredor?! Devemos enviar um homem para a morte porque era no corredor ou em
algum lugar que você não sabe?
DEZ: Eu pensei que você se lembrava de tudo. Você não se lembra disso?
SETE: Por que não recomeçamos todo o julgamento apenas para que você possa entender tudo
direito?
OITO: O quarto fica no corredor em algum lugar. Você sabe exatamente onde é? Por favor, a vida
de um homem está em risco.
TRÊS: Pra que isso? Por que é o único na sala que quer ver evidências o tempo todo?
NOVE: Eu também.
DOZE: Vamos ver de novo toda a bobagem sobre onde o corpo foi encontrado?
OITO: Não. Vamos descobrir como um homem que teve dois derrames nos últimos três anos, e
que anda com um par de bengalas, pode chegar à porta da frente em quinze segundos.
TRÊS: Como ele saberia quanto tempo levam quinze segundos? Você não pode julgar esse tipo de
coisa.
NOVE: Ele disse quinze. Ele falou com muita certeza sobre isso.
TRÊS: Ele é um homem velho. Vocês viram isso. Metade do tempo ele estava confuso. Como
alguém pode ter tanta certeza sobre alguma coisa? Bem, ah, vocês sabem.
DEZ: Eu já olhei para essa planta por duas horas. Foi o suficiente!
OITO: Ok. Este é o apartamento no qual o assassinato ocorreu. O apartamento do homem velho é
bem abaixo e é exatamente igual. Aqui está a linha do trem. O quarto. Outro quarto. Sala de estar.
Banheiro. Cozinha. E este é o corredor. Aqui é a porta de entrada do apartamento, e aqui estão as
escadas. Agora, o homem velho estava na cama neste cômodo. Ele diz que levantou, foi até o
corredor, e do corredor para a porta de entrada. Abriu a porta e olhou apenas uma vez para ver o
garoto descer as escadas correndo. Certo?
OITO: Quinze segundos depois que ele escutou o barulho do corpo cair.
ONZE: Correto.
OITO: A cama estava na janela. São 12 passos da cama para a porta do quarto. O comprimento do
corredor é de 43 passos e mais 15 centímetros. Ele levantou da cama, pegou a bengala, andou 12
25
passos, abriu a porta do quarto, caminhou 43 passos e abriu a porta da frente. Tudo em 15
segundos. Vocês acham que isso é possível?
ONZE: Ele só consegue andar devagar. Eles tiveram que ajudá-lo a se sentar na cadeira de
testemunha.
NOVE: Para um homem velho que usa bengala, isso é uma longa caminhada.
OITO: Eu quero testar uma coisa. Vamos ver quanto tempo ele levou. Eu estou andando doze
passos, que é a distância do quarto.
OITO: Me empresta uma cadeira, por favor. Ok. Essa é a porta do quarto. Quão longe você diria
que é daqui até a porta dessa sala?
OITO: Vinte passos é perto o suficiente. Ok, daqui para a porta e da porta pra cá são
aproximadamente 40 passos. É mais curto que a distância do corredor que o homem velho teve
que passar. Vocês não diriam isso?
OITO: Você se importa se eu testar isso? De acordo com você, isso vai levar apenas 15 segundos.
Quem tem um relógio com ponteiro de segundos?
DOIS: Eu tenho.
26
OITO: Quando você quiser que eu comece, bata com seu pé no chão. Esse vai ser o som do corpo
caindo.
QUATRO: Certo!
DEZ: Acelera. Ele andou duas vezes mais rápido que isso. (conclui)
ONZE: Acho que está mais rápido do que quando o velho entrou no tribunal.
DOIS: Certo.
DOIS: Cinco, vinte, trinta, trinta e cinco, trinta e nove segundos, exatamente.
ONZE: Ele pode ter andado um pouco mais lento que a velocidade com que o velho aleijado se
movia, mas vinte e quatro segundos de folga...
CHEFE DO JÚRI: Longe de mim chamar alguém de mentiroso, e até mesmo permitindo uma
grande diferença de velocidade entre o velho e você ... Enfim, ainda assim, sobra muito tempo.
OITO: Acho que o velho estava tentando chegar à porta, ouviu alguém correndo pelas escadas e
presumiu que era o garoto.
TRÊS: Presumiu? Eu já vi todos os tipos de desonestidade em minha vida, mas essa pequena
exibição merece um prêmio.
TRÊS: Diz pra ele! Você vem aqui cheio de amor por garotos de cortiço injustiçados e inventa
essas histórias malucas, e tem essas senhoras de coração mole ouvindo você. Eu não estou.
Estou ficando muito cansado de você. Qual é o problema com vocês? Esse garoto é culpado! Ele
tem que apodrecer! Estamos deixando ele escapar de nossas mãos.
TRÊS: Cale-se!
OITO: Você quer ver esse garoto morrer pelos seus motivos, não por causa dos fatos. Você é um
animal. Me dá nojo.
OITO: Você realmente não quer dizer que vai me matar, não é?
TERCEIRO ATO
ONZE: Nem eu. Temos uma responsabilidade. Isto é uma coisa notável da democracia. Nós
somos... como é mesmo a palavra? Ah, intimados! Somos intimados por correio a vir aqui e decidir
se um homem é culpado ou inocente. Um homem que sequer conhecemos. Não temos nada a
ganhar ou a perder com o veredicto. Este é um dos motivos pelos quais somos escolhidos. Não
devemos fazer disso uma coisa pessoal.
CHEFE DO JÚRI: Por mim tudo bem. Alguém não quer votar?
CHEFE DO JÚRI: Parece justo. Alguém se opõe? Muito bem. Vou chamando de acordo com o
número de cada jurado. Eu voto culpado. Número dois?
DOIS: Inocente.
TRÊS: Culpado.
QUATRO: Culpado.
CINCO: Inocente.
SEIS: Inocente.
29
SETE: Culpado
OITO: Inocente.
NOVE: Inocente.
DEZ: Culpado.
ONZE: Inocente.
DOZE: Culpado.
DEZ: Vou dizer uma coisa... o crime está sendo cometido aqui dentro desta sala.
TRÊS: Vou entrar agora mesmo no tribunal e declarar que o júri está suspenso. Já não vale a pena
continuar com isso.
QUATRO: Gostaria de saber porque vocês mudaram de ideia. Temos aqui seis pessoas que
pensam que estamos soltando um assassino nas ruas. A emoção não pode falar mais alto. Por
quê?!
SEIS: Parece que o velho não viu o rapaz correr lá pra baixo. Não acho provável que tenha ouvido
alguém gritar: "Vou te matar". Pessoas velhas sonham. E se o rapaz realmente gritou que ia matar,
então temos este homem [para TRÊS] para provar que isso não significa que de fato ele ia matar.
SETE: Por que não levamos isso ao juiz e deixamos o rapaz tentar a sorte com outras doze
pessoas?
CHEFE DO JÚRI: Seis a seis. Acho que nunca chegaremos a um acordo sobre coisa nenhuma...
TRÊS: Tem que ser unânime… e nunca vamos convencer esse sujeito.
OITO: No início eu estava sozinho. Agora outros cinco concordam comigo. Existem dúvidas
razoáveis.
30
TRÊS: Nunca me convencerão de que existem dúvidas razoáveis, porque não existe nenhuma
dúvida.
DOZE: Vou dizer uma coisa, talvez tenhamos que suspender este júri. Às vezes acontece.
SETE: Mas, neste momento, estamos empatados. Vamos levar para o juiz.
ONZE: Quer dizer que se votamos sim, suspendemos, ou não, não suspendemos?
CHEFE DO JÚRI: Vamos fazer uma votação de maioria simples. A maioria ganha.
QUATRO: Se sete ou mais de nós votarem sim, que vamos suspender o júri, levamos a questão
ao juiz e dizemos que não vamos prosseguir.
CHEFE DO JÚRI: Certo. E se sete ou mais votarem não, significa que vamos continuar discutindo
o assunto.
CHEFE DO JÚRI: Então estamos de acordo? Se sete ou mais votarem sim nós falamos com o juiz.
DOIS: Não.
31
TRÊS: Sim.
QUATRO: Sim.
CINCO: Não.
SEIS: Não.
SETE: Sim.
OITO: Não.
NOVE: Não.
DEZ: Sim.
ONZE: Não.
DOZE: Sim.
NOVE: Não conseguimos nem uma maioria simples para decidir se vamos ou não suspender o júri.
QUATRO: Eu votei, mas não concordei em votar dessa forma, e continuo não concordando. Então,
vou mudar o meu voto. Eu digo que não, não vamos suspender o júri. Acredito que o rapaz é
culpado, sem nenhuma dúvida razoável a respeito. Mas quero entender porque vocês mudaram de
ideia.
CHEFE DO JÚRI: Está decidido, não vamos suspender o júri. Vamos continuar.
32
DOIS: Ele... ele parece tão certo. E fez boas observações. Enquanto ele... só fica puto e insulta a
todos.
QUATRO: E a raiva e o insulto mudam a culpa do garoto? Ele matou. Você vai soltar um assassino
porque um dos jurados fica puto quando pensa que um assassino vai ser solto?
QUATRO: Eu não acho. O trilho é reto em frente à janela. Vamos analisar esse ponto. Então o
trem teria feito um barulho baixo. Os trens fazem mais barulho quando fazem curvas. Então o velho
poderia sim ter ouvido um grito. Além disso, é um cortiço e eles têm paredes finas.
QUATRO: E se o velho estivesse errado sobre o tempo pra chegar à porta, mas certo sobre quem
ele viu? Lembre-se de que não havia impressões digitais no canivete.
TRÊS: Agora, eu quero que você ouça esse homem. Ele sabe das coisas.
QUATRO: E ele deve ter levado alguns segundos pra pegar um lenço e limpar as impressões
digitais.
QUATRO: Estou dizendo que o velho no andar debaixo pode estar errado sobre quanto tempo
levou para chegar à porta, mas que ele estava certo sobre quem ele viu descendo as escadas.
Agora, o assassino pode ter levado cerca de trinta e nove segundos para limpar todas as
impressões digitais e descer as escadas até o local onde o velho o viu - o garoto, no caso.
TRÊS: Exatamente.
CHEFE DO JÚRI: Reconstruímos o velho saindo da cama e indo até a porta, e cronometramos
isso; agora vamos reconstruir o crime.
SETE: Eu acho que um assassino poderia usar trinta ou quarenta segundos facilmente nesse
ponto.
33
TRÊS: Por que você não faz o que é esfaqueado? Você é mais jovem do que eu. E não esqueça,
você leva um segundo para cair.
QUATRO: E ele foi encontrado de lado - o lado direito - então caia e role para seu lado direito. Se
alguém odeia outra pessoa o suficiente para matá-la, você não acha razoável supor que o
assassino olhe para a vítima por um segundo ou dois?
TRÊS: Ei, espera um pouco! Ele cai e acaba no lado direito, mas esfaquear alguém não é como
dar um tiro, mesmo quando é uma facada no coração. O pai teria tentado se soltar por alguns
segundos - deitado ali no chão, se contorcendo, talvez.
QUATRO: Isso é bem possível. Haveria oxigênio suficiente para mantê-lo por dois ou três
segundos, eu acho.
QUATRO: Além disso, tem outro ponto que podemos destacar. Qualquer pessoa que seja
suficientemente sã pra limpar as impressões digitais depois de assassinar alguém... também é
suficientemente sã pra olhar ao redor do apartamento ou da sala, neste caso, para ver se deixou
alguma pista. Seria por um segundo ou dois, mas ainda assim ela olharia em volta.
QUATRO: Nós estamos tentando esclarecer isso. Não há nada de bom em um assassinato. Bem,
vamos lá.
CHEFE DO JÚRI: Sobre a impressão digital... o garoto limpou a impressão digital do canivete.
Bom, mas e a maçaneta? Se eu visse um homem vindo pra minha casa, um homem que me odeia,
e se ele estivesse limpando a maçaneta com um lenço enquanto entra na minha casa, isso me
daria uma sensação estranha. Então a maçaneta deve ter sido limpa depois do assassinato, e isso
também levaria um tempo.
DOIS: Claro! Eu nunca tinha precisado fazer alguma coisa assim! Gostei!
34
QUATRO: Eu vou te matar. [Abaixa o canivete. Recolhe a lâmina. SETE pega o canivete na mão e joga no chão
um segundo depois da largada. Ele se contorce um pouco, então rola para seu lado direito. QUATRO olha pra ele por um
tempo, então enfia a mão no bolso e tira um lenço. Leva um tempinho para desdobrar o lenço; então ele se abaixa e
limpa o cabo do canivete. Ele olha em volta, como que para verificar se fez tudo certo. Então ele corre para a porta
esquerda que leva para fora da sala do júri e limpa a maçaneta. Então ele dá uma volta completa e limpa a maçaneta de
novo] Ele deve ter limpado as duas maçanetas. [Então ele corre pra direita, volta para a porta da sala do juri e
Para!
repete o processo na maçaneta. Então ele bate o pé e grita]
DOIS: Vinte... é, vinte, vinte e cinco, vinte e nove. Aproximadamente 29 segundos e meio, eu diria.
QUATRO: E independentemente de quem matou o velho, e eu acho que foi o garoto, ainda teve
que descer correndo para o corredor, descer as escadas - pelo menos um lance de escadas. O
velho do andar de baixo pode ter errado o tempo, mas acho bastante razoável supor que ele tenha
visto o garoto correndo escada abaixo.
DOZE: Agora as duas sequências de tempo foram verificadas - a que você fez e a que fizemos;
com a descida de escadas e tudo mais, e os tempos conferem.
SETE: Claro, ele é um homem velho que quer atenção... Ele provavelmente está certo, mas o
velho também tem sentimentos igual a todos nós, e uma vida está em risco.
OITO: Exceto pelo fato de que ele absolutamente jurou, sob juramento, que eram apenas quinze
segundos.
NOVE: Parece que todos concordamos que eram de vinte e cinco a quarenta segundos.
OITO: Fica claro que então o velho falou a verdade em uma coisa e mentiu em outra. Admito que
isso tende mesmo a confirmar a história do velho, mas devem admitir que por isso mesmo ele
mentiu na questão do tempo.
DOIS: Isso pode ser verdade, que o velho mentiu nisso, mas acho que mudarei meu voto mais
uma vez. Meu voto é culpado.
SEIS: Não sei bem o que penso. Queria entender um pouco mais. No começo, pensei em culpado,
depois mudei. Agora, estou meio que voltando ao culpado.
TRÊS: E você?
CHEFE DO JURI: Parece que temos nove culpados para três não culpados.
OITO: Mais uma questão sobre o velho no andar debaixo. Quantos de vocês vivem em
apartamento?
ONZE: Eu não sei o que você está pensando, mas sei o que eu estou pensando.
QUATRO: E o que é?
ONZE: Eu não vivo em um cortiço, mas é quase isso e só tem luz suficiente pra que você veja as
escadas, não mais, de tão pequenas que são as lâmpadas. E esse assassinato aconteceu em um
cortiço. Lembram como nós tropeçamos nos degraus?
OITO: Os oficiais de polícia estavam usando lâmpadas grandes e um deles até tinha uma lanterna.
Lembram?
ONZE: Um velho que julgou mal o tempo de 15 segundos, nisso nós concordamos... será que esse
velho olhou para o corredor escuro de um cortiço e realmente reconheceu uma figura correndo?
OITO: Ele estava cem por cento errado sobre o tempo; isso levou o dobro do tempo que ele
pensava.
ONZE: Então ele não poderia também estar cem por cento errado sobre quem ele viu?
TRES: Essa é a coisa mais idiota que eu já ouvi. Você está inventando isso do nada.
DOZE: Nós temos que suspender o júri. Vamos ser honestos sobre isso.
ONZE: Você realmente acha que não tem espaço para dúvidas razoáveis?
ONZE: Me perdoe, mas talvez você não entenda o termo “dúvida razoável”.
SETE: O que você quer dizer com isso? Quem você pensa que é para falar comigo desse jeito?
Como podem sequer ouvir essa mulher? Ela vem do nada e antes que possa se inteirar do nosso
país, quer dizer como devemos agir. A arrogância em pessoa!
OITO: É bom ouvirmos pessoas de outras realidades para aprendermos. Nós não somos tão
perfeitos.
ONZE: Por favor... Eu estou acostumada com isso... Está tudo bem. Obrigada!
DOIS: Bem, algo está me incomodando um pouco. Esse negócio todo sobre o ferimento da facada
e como isso foi feito - de cima pra baixo, sabem?
TRES: Não diga que nós voltamos à estaca zero. Repetiram várias vezes esse assunto no tribunal.
DOIS: Eu sei que fizeram isso. Mas eu não vou prolongar muito. O garoto tem 1,73 de altura. O pai
tem 1,88 de altura. É uma diferença de 15 centímetros. É muito estranho para uma facada no peito
de alguém que é 15 centímetros mais alto.
TRÊS: Eu vou te fazer uma demonstração. Alguém se levante. Tudo bem. Agora veja isso. Eu não
quero ter que fazer de novo. Tem 15 centímetros aqui?
DOIS: Cuidado!
TRÊS: Esse é o ângulo. Dá uma olhada nisto. De cima para baixo. É assim que eu esfaquearia um
homem mais alto no peito, e foi assim que aconteceu. Me digam se estou errado.
OITO: Já?
37
OITO: E onde você obteve todas as informações sobre como isso é feito?
TRÊS: Não.
OITO: Tudo bem. Eu quero perguntar uma coisa. O garoto era experiente com canivetes. Ele até
foi enviado para o reformatório por ter esfaqueado alguém. Não foi?
OITO: Você que sabe manusear um canivete, pode nos fazer uma demonstração? (CINCO faz)
Vendo isso, não parece uma maneira estranha de manusear um canivete nesse caso?
OITO: Este é um garoto que estudou em um reformatório por lutar com canivetes. Na noite do
assassinato, ele comprou um canivete. Seria necessário ser um garoto muito estúpido para matar
um homem, seu pai, com um instrumento que todos associariam ao garoto.
OITO: No entanto, se ele era burro, por que fez o tipo de ferida que um homem inexperiente faria
com um canivete?
OITO: Matar alguém deve ser uma grande emoção, um grande ódio. E naquele momento ele
segurava o canivete da melhor maneira possível, como uma pessoa treinada que luta com
canivetes, segurando por baixo. Um homem que não havia sido treinado seguraria por cima. Mas o
garoto foi muito inteligente. Todo mundo sabe que ele é experiente com canivetes, então ele foi
esperto o suficiente naquele momento pra fazer o ferimento que um amador faria. Então, é um
homem inteligente. Inteligente o suficiente para limpar as impressões digitais, talvez até inteligente
o suficiente para esperar até que um trem estivesse passando, a fim de cobrir o barulho. Agora, o
garoto é esperto ou é burro?
NOVE: Bem, a mulher do outro lado da rua viu o assassinato através do trem, então alguém
naquele trem também poderia ter visto o assassinato.
38
NOVE: Seria necessário um homem muito burro pra se arriscar, cometendo o assassinato
enquanto o trem passava.
OITO: Exatamente. Um homem burro, um homem muito estúpido, um homem varrido pela emoção.
Provavelmente ele não ouviu nada; ele provavelmente nem ouviu o trem chegando. E seja quem
for que matou o pai, fez o melhor que pode.
QUATRO: E?
OITO: O garoto é burro o suficiente pra fazer de tudo pra se associar com o canivete - um
assassinato com um canivete - e depois de um momento após o assassinato, ele se torna esperto.
Porque então ele se torna inteligente o suficiente pra fazer um tipo de ferida que nos levaria a
suspeitar de outra pessoa, e, no mesmo instante, ele é burro o suficiente para matar enquanto um
trem está passando e, um momento depois, ele é inteligente o suficiente para limpar as impressões
digitais. Para tornar esse garoto culpado, você deve dizer que ele é burro das oito horas até meia-
noite e, depois da meia-noite, ele é esperto por um segundo, depois burro por alguns segundos e
depois esperto novamente, e novamente se torna estúpido, tão estúpido que ele não pensa em um
bom álibi. Agora, esse garoto é esperto ou ele é burro? Pra dizer que ele é culpado, você precisa
tratar a inteligência dele como uma porta. Há dúvidas, dúvidas, dúvidas.
OITO: E o velho do andar debaixo. No tribunal, jurou que eram quinze segundos; ele insistiu em 15
segundos, mas todos concordamos que deve ter sido quase 40 segundos.
NOVE: O velho mente a metade do tempo e depois diz a verdade na outra metade do tempo?
OITO: Para que o garoto seja culpado, ele deve ser estúpido, depois esperto, depois estúpido e
depois esperto e assim por diante. E também pra que o garoto seja culpado, o velho deve ser
mentiroso em metade do tempo, e na outra metade ele deve dizer a verdade. Isso me faz duvidar
razoavelmente.
DOIS: Eu também.
CHEFE DO JÚRI: Ok, outra votação solicitada. Eu acho que a maneira mais rápida é levantando
as mãos. Alguém contra? Tudo bem. Todos aqueles que votam inocente levantem suas mãos.
[Jurados DOIS, CINCO, SEIS, SETE, OITO, NOVE, ONZE e DOZE levantam as mãos imediatamente. CHEFE DO JÚRI
também levanta a mão. Olha em volta, contando silenciosamente] Nove.
Os que votam culpado. [Os jurados
TRÊS, QUATRO e DEZ levantam as mãos] Três. A votação é de nove a três a favor da absolvição.
DEZ: Eu não entendo vocês. Como acreditam que esse garoto é inocente? Vocês sabem como
essas pessoas mentem, nem preciso falar. Eles nem sabem o que significa verdade. Eles não
39
precisam de nenhum grande motivo para matar alguém. Ficam bêbados e pronto, alguém está
deitado na sarjeta. Ninguém os culpa. É assim que eles são. Violentos! A vida humana não
significa tanto pra eles quanto pra nós. Ei, aonde vocês estão indo? Olha, essas pessoas estão
bebendo e brigando o tempo todo, e se alguém é morto, então alguém é morto. Eles não se
importam. Ah, claro, também tem coisas boas sobre eles. Olha, eu sou a primeira a dizer isso.
Conheci alguns que eram decentes, mas essa é a exceção. A maioria deles, é como se não
tivessem sentimentos. Eles podem fazer qualquer coisa. O que está acontecendo aqui? Essa é
minha vez de falar. Eles não são bons. É melhor tomarmos cuidado. Prestem atenção. Vocês não
conhecem eles. Me escutem! O que vocês estão fazendo? Estou tentando falar com vocês...
QUATRO: Eu ouvi o suficiente. Se você abrir sua boca de novo, eu esqueço que você é uma
mulher e parto a sua cara.
QUATRO: Ok, sentem todos. Eu ainda acredito que o garoto é o culpado do assassinato. Eu vou
dizer o porquê. Pra mim, a prova mais condenatória foi dada pela mulher do outro lado da rua, que
alegou ter visto o assassinato.
QUATRO: Acho que consigo recontar exatamente como foi. Ela disse que foi pra cama por volta de
onze da noite. A cama estava próxima da janela aberta, e ela pôde olhar pra fora enquanto estava
deitada e ver o outro lado da rua. Ela deitou e se revirou na cama por mais de uma hora, sem
conseguir pegar no sono. Finalmente, ela virou pro lado da janela perto de 0h10 e, quando olhou
pra fora viu o garoto esfaquear o pai. No meu ponto de vista, isto é um testemunho inabalável.
QUATRO: Francamente, com tudo isso, não vejo como vocês podem julgá-lo inocente.
TRÊS: Como assim “talvez”? Ele está certo. Pode jogar fora as outras evidências.
QUATRO: Essa foi minha percepção. Eu não nego a validade dos argumentos que ele fez. Vamos
dizer que em parte existam dúvidas nessa pista. Mas o que podemos dizer sobre a história da
mulher? Ela viu.
SEIS: Você não acha que eles nos deixariam ir pra casa e terminar de manhã. Eu tenho uma
criança com caxumba…
OITO: Oh...
OITO: O que vocês fazem quando acordam à noite e querem ver as horas?
OITO: A mulher que testemunhou ter visto o assassinato usa óculos. E ela?
ONZE: Claro! A mulher usa óculos bifocais. Eu lembro disso claramente. Pareciam fortes.
NOVE: Está certo. Bifocais. Ela não tirou nem por um segundo.
OITO: Eu acho lógico pensar que ela não estava usando os óculos na cama e não acho que ela os
colocaria para casualmente olhar pela janela. Ela testemunhou que o assassinato aconteceu no
instante que ela olhou pra fora, e as luzes se apagaram em uma fração de segundos depois. Ela
não teria tempo então de colocar os óculos. Agora, talvez essa mulher sinceramente pensasse que
viu o menino matar o pai. Eu digo que ela viu apenas um borrão.
TRÊS: Como você sabe o que ela viu? Talvez estivesse precavida. Como ele sabe todas essas
coisas?
OITO: Alguém acha que ainda não existe uma dúvida razoável?
DEZ: Eu sempre vou me perguntar. Mas existe sim uma dúvida razoável.
TRÊS: Bem, eu já disse. Eu acho o garoto culpado. O que mais vocês querem?
OITO: Nós não estamos convencidos. Queremos ouvi-los de novo. Temos tempo.
TRÊS: Qual é o seu problema? Você é o cara. Deu todos os argumentos. Você não pode desistir
agora. Um homem culpado vai estar andando pelas ruas. Um assassino! Ele tem que morrer! Fica
firme comigo...
QUATRO: Eu sinto muito. Estou convencido. Não acho que erro com frequência, mas acho que
dessa vez eu errei. Existe uma dúvida razoável na minha mente.
TRÊS: Você não vai me intimidar! Eu tenho direito à minha opinião! Vai ser um júri anulado! É isso!
OITO: Não há nada que possamos fazer a respeito, exceto ter esperança que alguma noite, talvez
em alguns meses, tenhamos uma razão para dormir tranquilos.
QUATRO: Se tiver uma anulação do Júri, haverá outro julgamento e alguns de nós apontaremos
essas coisas para os advogados.
TRÊS: Tudo o que aconteceu naquele tribunal indica que ele seja culpado! Os testemunhos, a
história do canivete, do cinema inventado, os gritos que o garoto deu, o trem que passou. Não se
prendam a esses detalhes ridículos de quantos passos o velho deu, se a mulher usa óculos! Essa
história é distorcida. Eu tenho todos os fatos na cabeça. A questão é só uma... A questão... é que
todos esses moleques são iguais! São ingratos! Mimados. E mais cedo, ou mais tarde, acabam se
virando contra nós! Vocês não sabem nada disso, seus corações moles. O fato é que você se mata
de trabalhar a vida toda e...
CHEFE DO JURI: Eles estão nos esperando. (Todos começam se arrumar pra sair)
FIM :)
42