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ESP AÇOS COLETI VOS

CAPÍTULO 3

Centro Empresarial Itaú


Conceição (Ceic)

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CEIC – Centro Empresarial Itaú Conceição

Mapa de localização do projeto em estudo Vista aérea do empreendimento.

Fonte: www.maplink.com.br; Fonte: <google earth>

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A área em estudo está inserida na Subprefeitura de Jabaquara, mais


especificamente na Macroregião Sul, onde, no período de 1991 a 2000, teve alto
crescimento na verticalização residencial, caracterizando-se assim por um dos
“maiores acréscimos de área construída residencial vertical no Município de São
Paulo – 7,8 milhões de m²”.

A subprefeitura Jabaquara tem área total de 14,1 km², e uma população


de 214 095 habitantes. A renda mensal da área fica em “posição intermediária
comparada a outras regiões dentro do Município de São Paulo”. 1

O acesso a região é feito através de transporte coletivo pela da Linha Norte-Sul do


Metrô, contando também com grande oferta de linhas ônibus, e largas avenidas.

Na década de 1970, a região sofreu uma grande investimento viário, com a


chegada do Metrô, com a implantação do Terminal Metropolitano e Intermunicipal
do Jabaquara e ainda, a ampliação de avenidas e a construção da Rodovia dos
Imigrantes. A região do Jabaquara se transforma com loteamentos em diversas

(1)Prefeitura do Município São Paulo,Planos Regionais Estratégicos: Município de São Paulo


Subprefeitura Jabaquara.

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áreas e com o surgimento de favelas.

“À medida que a região foi sendo provida de infra-estrutura e oferecendo facilidade


de acesso à rede de serviços e equipamentos públicos através de uma rede viária
que favoreceu a circulação, diversas áreas passaram a sofrer especulação
imobiliária, sendo a população de baixa renda direcionada para áreas com menor
acessibilidade.”2

Faz parte desta região a Operação Água Espraiada, com sua continuação, a
Prefeitura pretende criar novas Centralidades, e com isto aumentar o número de
comércios, serviços e investimentos privados na região. Assim, cresce o número
de empregos e uma valorização do território.

Quanto ao uso e ocupação do solo, a área localiza-se na Zona Centralidade


Polar de densidades demográfica e construtiva médias (ZCPa)

(2)Prefeitura do Município São Paulo,Planos Regionais Estratégicos: Município de São Paulo


Subprefeitura Jabaquara.

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O Projeto

Localizado no bairro de Jabaquara, na Avenida Engenheiro Armando Arruda


Pereira, Rua das Carnaubeiras e Rua Volkswagen, este complexo de
edifícios foi projetado pelos arquitetos Jaime Cupertino e Francisco Javier
Judas y Manubens.

Junto à Estação Conceição do Metrô, zona sul de São Paulo, compreende


um complexo de cinco prédios, que formam a sede do Grupo Itaú.

Construído por meio de uma grande operação urbana, inserido no projeto


Comunidades Urbanas de Recuperação Acelerada (Cura) do Banco
Nacional de Habitação (BNH), a parceria da Prefeitura de São Paulo, através
da Empresa Municipal de Urbanização (Emurb) e do Grupo Empresarial Itaú,
integra uma grande praça com uma estação do Metrô, um pequeno terminal
de ônibus e um complexo de torres de escritórios particulares, além de estar
conectado ao Parque Conceição.

Foto: Norma Vianna

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O Projeto de 1980 a 2002 envolveu três fases:

• A primeira de 1980 a 1985. Foram projetadas e construídas as três


primeiras torres, executadas em concreto aparente: Torre Itaúseg,
Torre Alfredo Egydio e Torre Conceição. Segundo Jaime Cupertino,
estas torres foram projetadas com fechamento único em vidro. Porém,
à época em que seriam construídas, o Brasil estava passando por
uma grande recessão, razão pela qual o Itaú não “queria ostentar”,
optando, então, pela execução em concreto aparente.

• A segunda de 1986 a 1991. Compreendeu um edifício. Foi projetada a


Torre Itaúsa, com fechamento de vidro duplo laminado.

• A terceira de 1989 a 2002. Foi construída a Torre Eudoro Villela, com


estrutura em concreto armado protendido, revestido com placas de
Implantação do complexo. Mural em frente aos
alucobonde em um tom de cor que lembra a cor do concreto. Nesta
esdifícios.
fase, o arquiteto Gian Carlo Gasperini recebeu o convite para projetar
Foto: Norma Vianna
o edifício e então convidou Jaime Cupertino para participar do projeto.

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Na época da conclusão da terceira fase, os edifícios em concreto


aparente passaram por uma mudança estética e de manutenção, sendo
também revestidos por placas de alucobonde, pois, de acordo com o
arquiteto Jaime Cupertino, a manutenção com o concreto aparente era

trabalhosa e assim os edifícios acabaram por ter unidade uma visual. Por
receberem este tratamento após a conclusão da quinta torre, suas
colunas de mesmas dimensões em todos os edifícios ficaram um pouco
mais robustas, em virtude do acréscimo do material.

Na época da elaboração do primeiro projeto, uma equipe de arquitetos do


Grupo Itaú fez viagens ao exterior para obter referências de projetos;
entretanto, não estavam nesta equipe os arquitetos que realizaram o
projeto.

Jaime Cupertino e Francisco Javier criaram um projeto extremamente


Foto: Norma Vianna
democrático e conhecido pela equilibrada relação entre áreas públicas e
privadas.

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Quanto à forma Cupertino considera-se mais moderno que Javier, “... então
houve uma mistura, talvez um só estilo...”, o do Cupertino era da arquitetura
paulista, “... não teria dado esta mistura tão boa, os caminhos não seriam tão
orgânicos, e sim mais retos.” 3

Para não criar um paredão para as casas da Rua Carnaubeiras, os arquitetos


optaram por rotacionar os edifícios e minimizar o impacto de construções altas
na área.

Os edifícios têm 12 andares acima do nível da rua e sete andares para baixo,
devido a área ser rota de aviões, os edifícios não poderiam ter maior altura. No
entanto, esta possibilidade de utilizar o subsolo caracterizou a ligação entre os
prédios de acesso restrito e deixou o térreo livre para uma área pública. Para
Renato Luiz Sobral Anelli, “... a complexidade do entrelaçamento dos vários
níveis de sub-solo e de superfície contrasta com a clareza e ritmo dos volumes

(3) Jaime Cupertino, em entrevista à autora.

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principais das torres. Uma rara experiência de novos padrões de urbanização


4
bem sucedida nesse período em São Paulo.”

Esta área apresenta uma grande praça em patamares, para a circulação de


pedestres. Sua realização foi possível graças aos arquitetos que optaram por
deixar no empreendimento uma rua de pedestres que já existe, pois, com a
aquisição pelo Itaú de dois lotes, foi liberado pela Emurb o fechamento desta
ligação. 5

Segundo Fabio Robba e Silvio Soares Macedo, “... aproveitando o acentuado


declive do terreno, o projeto foi desenvolvido em terraços e patamares que se
entrelaçam, explorando as possibilidades cênicas de grandes jardins sobre as
lajes, fontes e cascatas, e o resultado foi a criação de um espaço de grande
beleza e funcionalidade.” 6

(4) Renato Luiz Sobral Anelli. Urbanização em rede: os Corredores de Atividades Múltiplas do PUB e os
projetos de reurbanização da EMURB em São Paulo. Arquitextos.
(5) Jaime Cupertino, em entrevista à autora.Anexo I.
(6) Fabio Robba e Silvio Soares Macedo. Praças brasileiras. P. 156.

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A unidade do conjunto confirma-se através da uniformidade dada ao piso, é


uma continuação da calçada. Desde a Avenida Engenheiro Armando Arruda
até a descida para a Rua Volkswagen, o piso compõe-se de mosaico
português vermelho e de granito cinza.

E é desta maneira que os edifícios se integram com a cidade, de uma forma


natural. Não há barreiras físicas no caminho que impeçam o pedestre de
transitar pelo espaço, a circulação é contínua e de proporções urbanas. O
projeto exterioriza-se.

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Fonte: Revistas Finestra e Projeto

Vista da área coletiva. Ligação da Rua


Volkswagem com Avenida Engenheiro Armando
Arruda.
Fonte: Fabio Robba; Silvio Macedo. Praças brasileiras.

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Acima, torre de vidro executada na segunda fase


do empreendimento.

Acima à direita, a árvore central como símbolo do


espaço público, amparando o acesso do Metrô, ao
fundo.

Ao lado, as torres em sinergia com o espaço


público.

Fotos: Norma Vianna

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CAPÍTULO 4

Brascan Century Plaza

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Brascan Century Plaza

Mapa de localização do projeto em estudo Vista aérea do empreendimento.

Fonte: www.maplink.com.br; Fonte: <google earth>

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A área em estudo está contida dentro da Subprefeitura de Pinheiros, sendo o


Itaim Bibi um dos bairros, além dos de Pinheiros e Jardim Paulista.

Quanto à cobertura vegetal da área, é uma das mais arborizadas de São


Paulo, devido ao grande número de bairros jardins na região, considerados
patrimônio ambiental e protegidos pelo Decreto Estadual nº 30.443/89. No
entanto, são corredores de árvores de grande porte localizados em canteiros
centrais de avenidas e em alamedas comerciais, sendo o bairro carente de
parques, praças e áreas verdes.

Área bruta, população residente e densidade populacional


Nº de Habitantes
Unidades Territoriais Área Bruta (ha) Densidade Populacional
(Censo 200)

Município de São Paulo


10 434 252 15 900 65,15 habitantes / hectare
Subprefeitura de
Pinheiros 272 574 3 170 85,99

Itaim Bibi 81 456 990 82,28

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.


Elaboração: Secretaria Municipal de Planejamento (Sempla) e Departamento de Informações (Deinfo).

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Publicação: Planos Regionais Estratégicos – Subprefeitura de Pinheiros.

População residente por grupo de idade


Unidades Territoriais Total 0 a 19 Anos 20 a 59 Anos Acima dos 60 Anos

Município de São Paulo 10 434 252 3 585 474 5 876 579 972 199
Subprefeitura de
Pinheiros 272 574 54 153 166 644 51 777

Itaim Bibi 81 456 17 091 49 746 14 619

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.


Elaboração: Secretaria Municipal de Planejamento (Sempla) e Departamento de Informações (Deinfo).
Publicação: Planos Regionais Estratégicos – Subprefeitura de Pinheiros.

Estabelecimentos e empregos
Unidades Territoriais Total de Estabelecimentos % Total de Empregos %
Subprefeitura de
Pinheiros 22 993 100,0 319 755 100,0

Itaim Bibi 8 635 37,5 144 577 45,2

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego – Relação Anual de Informações Sociais (Rais) 1999 – Datamac.
Elaboração: Secretaria Municipal de Planejamento (Sempla) e Departamento de Informações (Deinfo).
Publicação: Planos Regionais Estratégicos – Subprefeitura de Pinheiros.

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O Projeto
Projeto do escritório de Könisberger e Vanucchi, de 1999, com 7 mil metros
quadrados de área para praça de uso público.

Interliga as Ruas Bandeira Paulista, Joaquim Floriano e a Rua Prof.


Tamandaré Toledo em um bairro carente de áreas livres.

Livre de muros ou gradis, o espaço de convívio, criado através do desenho


ortogonal que forma os três prédios, contém cinemas, restaurantes, livraria e
outros serviços.

A utilização do espaço é constante, de manhã a maior concentração de


pessoas se dá através dos escritórios, tanto dos prédios do conjunto como dos
prédios do entorno, para o almoço ou até mesmo para um café. À noite o
espaço é utilizado para curtir: nos bares para um happy hour, ou para um
cinema, ou, ainda, para fugir do trânsito.
Foto: Nelson Kohn

O estacionamento é utilizado também em todos os horários; como no bairro há


falta de áreas para estacionar, o estacionamento supriu uma necessidade não

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só do seu empreendimento, como também de parte do comércio ao redor.

A grande praça, que é a representação máxima do projeto, é aberta, mas


elevada. Tem, basicamente, três entradas, uma em cada rua, além das
independentes dos prédios. Os limites da praça são marcados pelo edifício em
L e a esquina.

Quanto à altura dos prédios, a preocupação visual do pedestre em relação à


monumentalidade, foram propostas árvores de tamanhos variados e algumas
pérgulas, que assim fariam um corte na percepção do espaço, criando uma
outra linha de referência:

“Tem uma série de pergolados também, o que diminui o ângulo,


vira um embasamento do edifício que se você for ver impõe um
desenho diferente, descendo da praça do edifício até o chão” 1

(1) Gianfranco Vannuchi, em entrevista à autora. Anexo II.

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Planta do pavimento térreo.


Fonte: Kvarch

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Livre de muros, o espaço de convívio, criado através do desenho ortogonal que


forma os três prédios, contém cinemas, restaurantes, livraria e outros serviços.

A utilização do espaço é constante, de manhã a maior concentração de


pessoas se dá através dos escritórios, tanto dos prédios do conjunto como dos
prédios do entorno, para o almoço ou até mesmo para um café. À noite o
espaço é utilizado para curtir: nos bares para um happy hour, ou para um
cinema, ou, ainda, para fugir do trânsito.

O estacionamento é utilizado também em todos os horários; como no bairro há


falta de áreas para estacionar, o estacionamento supriu uma necessidade não só
do seu empreendimento, como também de parte do comércio ao redor.

“Por exemplo, você tem estacionamento que, a partir de umas 18


horas ele fica um buraco inutilizado, a partir do momento que
começa a chegar o público e usa e paga por aquilo....”2

Fotos: Nelson Kohn


(2) Gianfranco Vannuchi, em entrevista à autora. Anexo II.

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A grande praça, que é a representação máxima do projeto, é aberta, mas


elevada. Tem, basicamente, três entradas, uma em cada rua, além das
independentes dos prédios. Os limites da praça são marcados pelo edifício em
L e a esquina.

Quanto à altura dos prédios, a preocupação visual do pedestre em relação à


monumentalidade, foram propostas árvores de tamanhos variados e algumas
pérgulas, que assim fariam um corte na percepção do espaço, criando uma outra
linha de referência.

As áreas ao ar livre são locais para se sentar, formam nichos de conversas ou


para somente uma meditação. Apesar de a área conter seguranças, pois é um
local privado, foi permitido fotografar e entrevistar pessoas do local.

A praça, com vasta vegetação – pois, segundo Gianfranco, devido ao


centenário da Brascan foram plantadas 100 árvores –, é um atrativo para o
bairro, carente de áreas verdes ou até mesmo de praças públicas.3

(3) Gianfranco Vannuchi, em entrevista à autora. Anexo II. Fotos: Norma Vianna

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O espelho d’água conduz o pedestre ao interior da praça, onde se encontram


os cinemas e as áreas de serviços e desemboca em outra praça, mais
fechada, como um jardim interno.

O espaço é retangular e bem definido: cada prédio tem sua entrada particular,
com a praça unindo um ao outro. Além destas entradas através da praça, cada
um deles tem sua entrada independente pela rua.

Foto: Norma Vianna


Os arquitetos criaram uma iluminação para a noite que muda o caráter, a
percepção do lugar, quase uma iluminação cênica.

A configuração dos prédios forma a praça e marca seu caráter como conexão
entre os prédios.

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O espelho d’água, que corta o espaço como um caminho de um rio, em uma


das extremidades, desemboca ao lado da calçada. A cascata de água que
surge na Rua Bandeira Paulista marca a transição da praça com a rua.
A praça distingue-se por elementos de diferentes categorias, como o piso de
granito, as árvores, a grama, a madeira dos bancos na sombra e o rio.

É um espaço bastante freqüentado e bem-sucedido, onde tanto os edifícios


quanto os novos serviços implantados por eles deram um movimento
diferenciado para o bairro.

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Hotel

Planta pavimento tipo do 13º ao 31º andar. Fonte: Kvarch Corte transversal e Elevação, voltada para praça. Fonte: Adilson
Melendez. Quadras multifuncionais. (P.29)

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Torre de escritórios

Planta pavimento tipo do 10º ao 24º andar. Fonte: Kvarch Elevação. Rua Joaquim Floriano. Fonte: Adilson Melendez. Quadras
multifuncionais. (P.33)

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Torre Corporativa

Fonte: Adilson Melendez. Quadras multifuncionais. Planta tipo do 10º ao 24º andar. Fonte: Kvarch Fonte: Adilson Melendez. Quadras multifuncionais.
(P.36) (P.37)

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CONCLUSÃO

A crescente diversidade e quantidade de intervenções dos espaços públicos e


novos projetos que vêm surgindo nas últimas décadas, com as requalificações
urbanas por todo o mundo, abre uma premissa para o retorno da vida urbana e
da qualidade de vida em nossas cidades.

A consciência e a busca da população e dos arquitetos para que os espaços


público-privados sejam um desenho de real importância na configuração e no
desenvolvimento da cidade abrem uma possibilidade de discussão sobre a
obrigatoriedade destes projetos e as intervenções na esfera privada.

A responsabilidade da administração pública no gerenciamento e manutenção


dos espaços livres públicos não pode ser o único agente produtor destas
áreas. Os projetos privados passariam a abranger a consciência de seu
entorno e a responsabilidade urbana de seu contexto na cidade.

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Com políticas públicas e sociais adequadas, são espontâneas a produção e a


construção dos espaços coletivos nas cidades.

Assim, um projeto privado, executado em conjunto com um órgão público,


conseguindo benefícios para que, abrindo o térreo, tenha mais andares ou
outro fator determinante de projeto, passam a ter leis que regulamentem a área
como sendo coletiva e que não possam ser posteriormente fechados.

O que seria da cidade de São Paulo sem estes projetos que estudamos? Sem
sua participação na malha das cidades? São projetos privados, podem ser
fechados a qualquer momento, porém foram criados e projetados abertos, para
se exteriorizar e sem qualquer iniciativa pública.

Espaços livres e acessíveis dentro do tecido urbano e um programa de


atividades estabelecido pelo Estado são de vital importância para o
desenvolvimento destes projetos.

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A cidade desenha-se livre, aberta e com espaços para permanência,


circulação e comércio, livre de gradis e barreiras físicas que segregam a maior
parte da população.

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FONTES DE PESQUISA

Entrevistas

– Gianfranco Vannucchi
– Jaime Cupertino

Palestras

Asbea – Ciclo de Palestras: “Fazendo a Cidade” – Instituto Tomie Ohtake.


Novembro / dezembro de 2005.

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ARQUITECTURA VIVA
Número 107-108 / 2006

AV PROYETOS
014 2006 – Plazas e Parques

ENGENHARIA

110
ESP AÇOS COLETI VOS

Especial cidade de São Paulo


Número – 582/2007 – ANO 64

FINESTRA
Número – 34.

PROJETO DESIGN
Números: 85 – 110 – 150 – 283 – 285.

TASCHEN
Contemporary American Architects, Vol. III.

111
ESP AÇOS COLETI VOS

ANEXOS

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ANEXO I

Entrevista com o Arquiteto Jaime Cupertino – Centro Empresarial Itaú


São Paulo, 6 de junho de 2007

1. Como foi a contratação pelo Itaú e como era o programa inicial?

Jaime: O Itaú teve muitos anos um escritório; só fazia projeto para ele, mas era
uma empresa separada, a Holding Itaú e tinha uma estrutura enorme, porque o
Itaú teve uma expansão muito grande e esse escritório, nesta época que entrei,
era coordenado pelo João De Gennaro, que foi sócio do Paulo Mendes da
Rocha muitos anos, depois foi para o Itaú e organizou a área de arquitetura. Eu
tinha um amigo que trabalhava lá e me chamou para fazer este projeto.

Eu entrei no Itaú para fazer este projeto. Já tinha esta idéia e era uma equipe
nova no início. O Francisco Xavier, que foi o arquiteto que fez o projeto da
primeira etapa comigo, e eu trabalhávamos com a coordenação do Murilo
inicialmente, mas depois o Murilo saiu, foi para um cargo administrativo na

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Itauplan e nós é que acabamos tocando o projeto diretamente com o De


Gennaro, mas o projeto é de autoria nossa.

É evidente que em um escritório daquele tamanho você tem muita infra-


estrutura, muito arquiteto, muito conhecimento que já estava lá... Eles tinham
feito um prédio grande, muito especial por ter sido do plano de urbanização,
pelas pretensões que o Itaú tinha para ele e, principalmente, pelo Olavo Setúbal
ter acompanhado pessoalmente. Ele tinha sido prefeito. Então, eu diria que é
um projeto que tem uma visão atípica, assim talvez uma sede de empresa, mas
que teve condições muito especiais e é um plano de reurbanização da Emurb.

2. ... mas vocês tiveram alguma intervenção neste plano, neste


programa? Quem decidiu fazer estas ligações, esta abertura?

Jaime: A Emurb fazia um processo no plano Cura, que não acho que é muito
de reurbanização; na verdade, ela desapropriava a área e simplesmente
reagrupava e vendia lotes grandes. É claro que o projeto tinha de ser aprovado
na Emurb, que tinha lá as diretrizes urbanísticas. Por exemplo, tem uma rua
que passa no fundo do conjunto, que é a Carnaubeiras, de 9 metros e é claro

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que quando ela desapropriou podia ampliar esta rua, podia ser urbanizada e ela
acabou não mexendo nisto. Então, quando começamos o projeto, esta praça
que fica aqui na frente não existia, era uma praça lá embaixo na cota baixa, não
tinha nenhuma conexão com o terreno, era uma coisa isolada. Isto foi uma
decisão logo no início. Quem decidia tudo neste projeto era o Olavo Setúbal,
fazia a aprovação, convencia todo mundo, mas no fim quem aprovava era ele.

Na Emurb, tinha uma equipe técnica que acompanhou este projeto durante
muitos anos e que era quem intercedia com a gente. Mas este é um aspecto
positivo também; você intermedia com um arquiteto. Eu diria que é um projeto
de muito bom padrão do ponto de vista do que se fazia na cidade,
principalmente nestes planos Cura.

De início, você vai ver os outros predinhos, é uma especulação imobiliária


igualzinho, pegou o lote, deixou o lote lá do jeito que era, põe cerca, quer dizer
ele reproduzia a especulação imobiliária. O pessoal da Emurb ficou à vontade
porque era uma coisa que eles viram mais valor. Foi um processo muito
tranqüilo de aprovação e decisório, mas sempre a iniciativa aqui foi nossa.
Ainda tem estas histórias dos prédios, que foi em relação à escala da

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Carnaubeiras. Na verdade, a gente formava uma barreira de 10 andares, 12


andares, 45 metros e 160 de comprimento; nesta ruazinha tem casinhas,
sobradinhos e tal... Então, propusemos inverter e rodou as torres e criou estes
vazios que não resolveu, mas aliviou um pouco este impacto. Isto a Emurb teve
de abrir mão, de ter recuo nesta ponta, mas ela não precisava prestar contas,
tinha autonomia.

3. Vocês tiveram algum outro tipo de benefício por abrir a área, altura dos
prédios, por exemplo?

Jaime: Não, ao contrário aí tem um gabarito do aeroporto que é muito restritivo.


Nós estamos em um ponto de aproximação do aeroporto e foi por isto que este
prédio é quase todo enterrado; metade dele está abaixo do nível do chão, para
aliviar um pouco, porque o coeficiente era muito alto e o gabarito do aeroporto
limitava a altura.

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4. Teve algum compromisso da empresa ou ainda tem em manter este


espaço aberto?

Jaime: Formalmente não, é que como foi aprovado assim, não sei te dizer hoje,
mas quando você olha os outros projetos que eram todos pertencentes ao
plano Cura, todos têm lote determinado; aqui eram dois. Eventualmente, eu
poderia separar. Agora, esta rua, por exemplo, intermediária aqui, sempre
existiu no projeto anterior; eu poderia eliminar, mas mantive. Esta rua de
pedestres que tem aqui no meio existia no plano urbanístico, mas como o Itaú
comprou os dois lotes, a Emurb concordou em tirar, mas a gente acabou
mantendo.

Estes projetos que você está vendo são interessantes por causa disto, não têm
separação do lote privado, têm continuidade entre a rua e aqui foi um artifício
que jogamos com a altura; e tudo isto para ter isto. Mas também tem as áreas
privadas, é um banco, tem uma bruta segurança, na época em que estávamos
fazendo este projeto teve invasão aqui na Boa Vista por causa de greve. Isto é
uma preocupação de segurança muito grande que conseguimos resolver com
estes fossos com os espelhos d´água, sem criar obstáculo.

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5. Você comentou dos projetos com áreas abertas, estes são talvez os
únicos projetos...

Jaime: É muito raro, sempre gostei daquele da Paulista, porque você vê como
muda, o que poderia ser a Avenida Paulista se eles tivessem adotado aquela
solução de forma mais generalizada.

Na prática, o cara não perde nada, é por isto que em Nova Iorque eles fizeram
uma legislação que é até meio absurda, o benefício é desproporcional, mas se
você deixar o uso do térreo para uso público, você pode construir 50% a mais
ou subir o gabarito um tanto de altura. O ganho para a cidade de você ter o
térreo é tão grande que para eles tanto faz se o prédio vai ter 50 ou 60 andares,
não vai ter sol na rua do mesmo jeito e eles acabaram caminhando. Acho
bastante lógico. Em Nova Iorque, você percebe nos prédios o que eles
introduziram de qualidade também, porque você tem essas bases
pequenininhas que dá folga da rua, uma das coisas que não dá para acreditar
porque não é feita aqui.

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Aqui não tinha benefício algum, eu diria que o Dr. Olavo acabou tendo uma
visão de um empresário de nível internacional e ele tinha sido prefeito; ele era
mais sofisticado na visão que ele tinha da cidade do que um empresário normal.

6. A escala das pessoas, o tratamento dos materiais...

Jaime: Olha este prédio. Para nós, no começo, teve muita resistência, porque
tínhamos projetado ele todo em vidro e durante o processo, o banco não quis
esta solução, não por causa de custo, mas o Brasil estava em recessão e eles
não queriam ostentar. Com isso, já tínhamos definido a estrutura, já estava na
execução e ficaram aquelas vigas grandes, mas isto não existia, você não tinha
aquela massa de concreto, mas, por sorte, a gente conseguiu acomodar muito
da construção no subsolo, porque o coeficiente de aproveitamento aqui era
muito alto. Isso fez com que realmente a massa construída fosse metade do
que ela deveria ser. Como o gabarito do aeroporto exigia, acho que até a altura
dos prédios é legal, o espaço é muito grande, é uma área construída enorme.

Eu até estou estudando isto, porque estou fazendo mestrado e tive de fazer um
trabalho sobre a questão da densidade na cidade, e foi legal! Foi a primeira vez

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que tive de tentar traduzir altas densidades para uma ocupação física. Se eu
quiser ocupar só 20% do terreno, vou ter de fazer 40 andares, 50 andares. Por
acaso, estive em Nova Iorque e, no fundo, acho que no centro de uma cidade
você tem uma ocupação altíssima, não tem problema algum.

Mas aqui você já está na periferia, em uma estação do metrô. É claro que uma
ocupação aqui tende a ser mais baixa, não tem necessidade de ter uma
densidade tão alta quanto o centro, apesar de que isto do lado de uma estação
poderia ter densidades mais altas.

A idéia principal da Emurb era fazer tudo habitação aqui. O Itaú, quando
comprou, propôs mudar para escritório, mas acho que todos os prédios eram de
habitação, não se imaginava o uso de escritórios lá, porque era muito fora do
centro, as empresas estavam na Faria Lima, na Paulista e a Berrini nem existia
quando foi tomada esta decisão

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ANEXO II

Entrevista com o Arquiteto Gianfranco Vannucchi – Brascan Century Plaza

São Paulo, 31 de maio de 2007

1. Como foi a contratação pelo Brascan e como era o programa inicial?

Gianfranco: Já tínhamos feito vários projetos para a Brascan; aqui em São


Paulo quase que a Brascan só trabalhava com a gente. Então, apareceu este
terreno, muito disputado por várias construtoras, é a antiga fábrica de chocolate
da Kopenhagen e acho que o nome da Brascan ajudou muito, é uma empresa
muito segura, não que as outras não fossem.

Foram feitos vários e pequenos estudos de possibilidades; a primeira idéia era


cair em um pequeno shopping, fechado mesmo e com algumas torres
residenciais, uma comercial... Na verdade é o seguinte, quando você tem um
terreno muito grande para estar em um centro, no bairro do Itaim, um terreno
que tem12 mil metros quadrados, com aproveitamento de 4, então você tem 48

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mil metros quadrados de área computável, sem terraços, sem outras coisas. É
um volume grande de produto para você colocar no mercado; em geral, você
tende a diversificar para ter um pouco de cada produto, não ficar na mesma
coisa.

Mas nós fizemos vários estudos e shopping meio que rapidamente foi
descartado, porque ia ser um shopping muito pequeno, de bairro para competir
com o Iguatemi, que não está muito longe. Em conjunto com o cliente, a gente
descobriu que o Itaim estava precisando talvez de um respiro, porque são ruas
um pouco pequenas, é pouco espaço público que não é só no Itaim, mas em
geral na cidade.

Então, partimos para esta possibilidade de espaços abertos público-privado, e


assim como se tivesse uma vida 24 horas e os cinemas são fundamentais para
esta forma, nesta idéia, esta energia. Por exemplo, você tem estacionamento
que, a partir de umas 18 horas ele fica um buraco inutilizado, a partir do
momento que começa a chegar o público e usa e paga por aquilo... Acho muito
legal os instrumentos que você potencializa o custo de um metro quadrado

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muito caro, quanto mais ele for usado ao longo do dia é melhor. Um pouco da
história é esta.

2. Esta idéia de conter um espaço aberto partiu de quem?

Gianfranco: Isto foi uma coisa conjunta com o cliente mesmo. Foi uma coisa
que de certa forma nosso escritório sempre acreditou, é aquilo que chamamos
de “belezas urbanas”, principalmente em edifício comercial, fundir um pouco da
calçada com o uso térreo, quer dizer, é fazer respirar um pouco essas nossas
ruas que são tão pequenas. O primeiro que fizemos para a Brascan de uso
misto foi em Moema, chama-se Time Square, que é em outra escala, mas tem
um pouco esta idéia da praça, de meio a calçada que ficou muito bem. A idéia
foi muito boa e bem-vinda, depois fizemos em Alphaville e agora este pela
localização e pelo mix de uso é o mais poderoso mesmo.

3. Eu achei que vocês tivessem tido alguma barreira dos


empreendedores...

Gianfranco: Não. O presidente da Brascan na época, o Jaques, é uma pessoa


que trabalhou com vários arquitetos internacionais e é uma pessoa bastante

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rica, não tem medo de ser feliz. Também junto com a empresa de vendas, que
achou que poderia ser um gancho interessante, mas assim, ao mesmo tempo,
cada edifício tem sua entrada particular, bem clara também; de repente,
queriam colocar para nós que, sem isto, a praça não seria tão bem aceita. É
bem legal isto!

4. Em relação ao programa, vocês conseguiram interferir no projeto das


salas de cinema quanto à localização, forma...
Gianfranco: A sala de cinema a gente trabalhou a casca, porque já vem com
um projeto pronto, quase um pouco na entrada, para abrir um pouquinho, mas é
bem pouco.

5. Por abrir para a rua, vocês tiveram algum benefício, ligação com o
Poder Público para maior altura...

Gianfranco: Não. Aliás, isto é uma falha, não é? Mas acho que mesmo que
tivesse, é tão tímido que o Poder Público te incentiva. Nada é uma bobagem.
Hoje nem sei por que ninguém usa; por exemplo, se você abrir uma parte, tem

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uma parte, mas é tão pouco, tão complicado, é uma inserção tão grande que,
ao contrário de outros países, você ganha mais um andar.

6. Para este projeto, existe algum tipo de acordo para eles não murarem,
não cercarem?

Gianfranco: Não. Se alguém quiser fechar, pode fechar, é um terreno privado


(norma: público na idéia).

7. Como você poderia definir uma referência que vocês tiveram do


projeto? Tiveram alguma referência internacional?

Gianfranco: Não. No caso, não tem referência, até porque, é muito particular, o
lugar, o tipo de edifício. Não é novidade, tem várias coisas deste tipo no mundo;
mas não, realmente foi legislação, produto e desenho, a gente queria criar um
desenho interessante.

Algumas coisas que a gente estava preocupado; por exemplo, um pouco com a
relação do pedestre e a altura da torre, com a maior torre do edifício residencial

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e com as outras também, como é que seria esta praça, como é que seria a
sensação de quem está embaixo. Então, as árvores ajudam bastante a criar
uma segunda escala. Pelo fato de ser o centenário da Brascan, o paisagismo
tem 100 árvores brasileiras plantadas.

Tem uma série de pergolados também, o que diminui o ângulo, vira um


embasamento do edifício que se você for ver impõe um desenho diferente,
descendo da praça do edifício até o chão. Ele tem janelas diferentes do resto
até 12 metros, materiais diferentes; isto faz compelir uma segunda escala
mesmo de altura que dá uma sensação mais agradável. Até mesmo em termos
de desenho eles não são iguais, mas fazem parte da mesma família de
materiais, de comportamento de janelas.

Agora é muito prazeroso porque é um sucesso, é muito legal. Fomos chamados


para estudar em outros lugares, porque virou uma referência.

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8. Quais as singularidades deste projeto? O que você acha que é para


São Paulo?

Gianfranco: Eu acho que é um exemplo mesmo, que é possível isto, porque,


primeiro, acho que as pessoas não agüentam mais ficar fechadas dentro de um
shopping. Depois, acho que você poder trabalhar e descer e tomar café em
lugar agradável, um chope no fim de tarde é uma coisa legal! Aos sábados, em
finais de semana é uma loucura! Excesso de gente. É um projeto muito
estudado nas escolas e acho que vai na contramão dos condomínios fechados,
das grades, dos muros, quer dizer, de enclausurar; pelo contrário, é um projeto
que se abre para a cidade. Nós tentamos colocar o mínimo de barreiras, de
escadas, tanto que na Joaquim Floriano, você vai subindo devagarzinho.

9. Você acha que este é o futuro das cidades ou são implantações


pontuais?

Gianfranco: Ontem estávamos falando de incorporadores, pessoas, essas


coisas de se deslocar muito; está ficando uma coisa muito complicada, mas a
tendência é um pouco geral, de trânsito, e já na escala do bairro, você começa

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a ter quase bairros autônomos. Hoje, aliás, o plano diretor veio ajudar muito
neste sentido, provocando mais uso misto, que acho que é uma coisa mais
sadia.

É claro que os usos mistos precisam de fiscalização, porque é óbvio que se


você vai ter um boteco embaixo do seu prédio, contanto que deixem você
dormir a partir de uma certa hora, então sempre esbarra um pouco nestas
coisas. Mas acho que é uma possibilidade, porque tem ainda grandes áreas no
Brasil, e mesmo as cidades que não têm grandes áreas, no centro você poderia
fazer alguma coisa deste tipo, onde tem áreas degradadas e este uso misto é
algo que se procura. Agora, por exemplo, o residencial é um apart-hotel, um
residencial com serviços.

Acho que vai haver apartamentos normais neste tipo de empreendimento, mas
ainda as pessoas imaginam muito o morar como um feudo e é o contrário. Eu
imaginava assim, que você tem dois tipos de moradores, aqueles que preferem
morar no Morumbi, em uma rua escura, sossegada e tem pessoas que querem
olhar a cidade. É claro, você tem um problema de barulho talvez, mas coloca
vidro, ar-condicionado, acha outras soluções. Mas no Itaim não tem mais um

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terreno deste à disposição, mas a gente tem estudado em outras cidades


também justamente no centro estamos estudando, na Capital, no centro velho
procurando uma área grande, porque talvez dependa da sinergia mesmo; no
mínimo o pessoal das lojas ali embaixo já tem até um público pronto fora os de
fora.

10. Como entende os edifícios? Pois une uma formalização contemporânea –


parentesco no espaço com o moderno e a preocupação com a forma. Quais
as proximidades e as diferenças?

Gianfranco: Nós somos fundamentalmente arquitetos contemporâneos; nós


vivemos um momento que a gente não faria uma arquitetura de estilo nem faria
isto até hoje. Daqui para a frente também não, mas tem algumas coisas que
puxam um pouco para a forma; esta forma em “L” é um clássico, primeiro
quando você tem uma esquina, segundo quando você tem andares muito
grandes, a massa muito grande, o andar é muito grande; então, na hora que
você quebra, pelo menos nunca o vê como uma barreira única, sempre tem
algo quebrado e valorizando a esquina por um lado e criando também um vazio
maior atrás, que é a praça. Isto também é uma lógica, o desenho, você não fala

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assim: Agora vou fazer um prédio curvo. Não acorda de manhã com isto na
cabeça.

11. E a segurança?

Gianfranco: Acho que é um problema terrível, entres outros, em termos de


segurança do equipamento urbano, que é a iluminação, uma cidade escura
deste jeito dá medo de sair na rua. Na verdade, o espaço é controlado porque
ele tem dois acessos só, mas você coloca um segurança em uma ponta e outro
na outra e assim consegue controlar o espaço.

12. Você tem algo mais que gostaria acrescentar?

Gianfranco: Acho que também tem uma coisa legal que ajuda em uma
apresentação geral: o fato de o piso ser elevado, as jardineiras também não são
muretas que emergem, elas justamente dão continuidade no jardim com o
espelho d’água, seria uma coisa que flui, não é? Tem uns métodos construtivos
que ajudam. Este riozinho é legal! Ele acompanha o percurso de uma rua para
a outra, some, depois aparece de novo, foi um projeto feito com muito prazer,

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mas trabalhoso, complicado, porque você tem tipos de fluxos de pessoas


diferentes e segurança de horários de carga e descarga. Então, é um projeto
que você quebra a cabeça.

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