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ESTRUTURA E
PROPRIEDADES
DE POLÍMEROS
Currículo Lattes
Prefaciar o livro Estrutura e Propriedades de Polímeros do Prof. Marcelo Rabello é uma enorme honra.
Primeiramente, pela grande experiência e competência comprovadas do autor e, ainda, pela inovadora
metodologia que esta obra representa.
Esse livro, pelo que percebi, traz também os temas trabalhados de forma prática e vai se aprofundando
à medida que se avança na leitura dos capítulos. Esse aprofundamento provavelmente se dá pois o Prof.
Marcelo usa, em alguns momentos, artigos originais que são clássicos da literatura. Além disso, temos
em cada capítulo quadros que nos provocam sobre o entendimento que tivemos acerca dos temas
apresentados, além de nos propor experimentos simples, práticos e seguros. Adorei verificar o cuidado
na diagramação dos rodapés - coloridos – um verdadeiro convite a verificar as informações ali contidas,
sempre relevantes e não apenas genéricas.
Desde a capa, o livro conta com um design gráfico sofisticado, cujos elementos, como figuras e gráficos,
contemplam um planejamento visual que facilita nosso entendimento sobre os temas abordados. O fato
de ser digital, nos permite ampliá-los para ver detalhes do que está sendo apresentado.
No capítulo 1 você verá, de forma resumida mas servindo de motivação para os próximos capítulos, os
fatores que afetam o comportamento de um material; os temas são abordados em diferentes níveis,
para que possamos entender desde as transições físicas e químicas até o desempenho dos produtos
acabados.
O Capítulo 6 inicia apresentando um gráfico de propriedades mecânicas, evidenciando sua relação com
a morfologia dos materiais. Além disso, apresenta os mecanismos de deformação e discorre sobre os
principais conceitos associados às propriedades mecânicas. São evidenciadas, ainda, as formas pelas
quais fraturas podem ocorrer nos polímeros, em função de suas características estruturais.
No último capítulo do livro você vai encontrar discussões acerca dos demais fatores que definem as
propriedades dos polímeros. Tópicos não abordados anteriormente como, por exemplo, a degradação
química, são apresentados. O ensaio de stress cracking, para a previsão e prevenção das falhas
inesperadas em polímeros termoplásticos, é discutido por um dos maiores especialistas do país.
É claro que em um prefácio não posso falar muitos detalhes do livro, mas posso garantir que você ficará
animado em utilizar essa importante contribuição para a área de materiais poliméricos e, quando
perceber, já leu ele todo.
Parabenizo ao Prof. Marcelo Rabello também pelo desprendimento de nos brindar com uma excelente
obra - e quando falo presentear me refiro ao tremendo altruísmo na gratuidade da distribuição desse
livro. Isso mostra a nobreza e sensibilidade do Professor de Campina Grande, que doa uma experiência
de mais de 30 anos, para um país que precisa tanto de uma educação para todos.
Prof. Marcelo Rabello, seu pioneirismo no novo modelo de livro didático, sua coragem e inovação, serão
sempre lembrados.
Esse livro é o resultado do trabalho de muitos anos... Como estudante, como Engenheiro de Materiais,
como pós-graduando, como pesquisador e como docente vivi (e vivo) o mundo dos polímeros,
procurando entender todas as suas facetas. É fascinante compreender como o resultado final na forma
de um produto acabado é dependente de uma simples (ou complexa) combinação de fatores que se
interconectam (ou se “emaranham”) em um conjunto de influências. A partir dessa compreensão, tudo
faz sentido, como se fossemos desfiando, linha a linha, uma rede de conceitos que compõem o
entendimento dos materiais poliméricos.
Como docente, procuro transmitir esses ensinamentos de modo prático, que faça sentido para os alunos
e, assim, contribua para a formação dos mesmos. Ministro a disciplina “Estrutura e Propriedades de
Polímeros” na Universidade Federal de Campina Grande e, ao longo dos anos, fui amadurecendo esse
assunto na perspectiva de ensino-aprendizagem. Não “inventei” o conteúdo, mas dei uma versão ao
mesmo e que, acredito, atinge os objetivos propostos para a disciplina. Com a evolução dessa
abordagem, chegou o momento disponibilizar essa perspectiva na forma de um livro didático.
Essa é a ideia central de Estrutura e Propriedades de Polímeros, que lhes apresento. Um livro
essencialmente didático – escrito para o aluno. Para o aluno aprender o conteúdo proposto e ir além,
com estímulos para adquirir mais conhecimento e ampliar os seus horizontes. Acredito ser útil também
para professores, igualmente envolvidos no desafio e nobreza de formar pessoas preparadas para os
desafios da vida. Profissionais atuantes no vasto mercado de materiais poliméricos poderão fazer uso
das considerações e exemplos aqui contidos para entender melhor essa classe de materiais e, assim,
solucionar problemas e desenvolver produtos ainda melhores.
O livro não tem, absolutamente, a pretensão fazer uma revisão do estado da arte, muito menos de dar
a última palavra. Sendo repetitivo, é um livro concebido para o aluno aprender mais. Muitos dos
assuntos aqui presentes, como cinética de cristalização e mecânica da fratura, apenas para citar dois
exemplos, são tão importantes e tem conteúdo tão vasto que até poderiam ser tema de livros
independentes. Estão aqui como partes de um todo – nessa teia de conhecimentos – em nível de
profundidade compatível com a proposta geral do livro.
Há alguns anos, ministrando curso para profissionais de indústria, um dos participantes (que tinha 40
anos de experiência em polímeros) me falou que, durante as aulas, sempre refletia “como posso utilizar
isso que estou aprendendo agora?” Essa reflexão “catalisou” o meu propósito de tornar o ensino mais
direcionado à realidade prática, explicitando a importância de cada conceito, cada equação, cada gráfico,
cada representação esquemática... Esse livro tem muito dessa filosofia! Evitei abordar teorias muito
complexas e equações sem propósito prático, concentrando todos os meus esforços na aplicabilidade
de cada tópico aqui abordado. Espero ter conseguido.
Estrutura e Propriedades de Polímeros não é apenas um livro didático. É também um guia eletrônico
para outras fontes de informação, como sites e vídeos, em que o leitor poderá dinamizar o seu estudo
com informações complementares, casos correlatos e tecnologias envolvidas. Dessa forma, mesmo
preferindo estudar pela versão impressa, recomenda-se que mantenha a versão digital para fazer uso
dos inúmeros links disponibilizados.
Por ser eletrônico, o livro pretende ser dinâmico, com atualizações frequentes, e posso até considerar
sugestões de conteúdo para edições futuras. Preciso da sua ajuda também na identificação de
incorreções e imprecisões, links inválidos, etc., o que pode ser feito neste site.
Por fim, gostaria de dizer que oferecer esse trabalho no formato digital, totalmente gratuito, foi uma
forma de agradecimento por muito que a vida me deu, tanto no âmbito pessoal quanto profissional.
Mais ou menos próximo do tempo de aposentadoria e refletindo sobre tudo que me ocorreu ao longo
da minha trajetória, posso dizer que sou muito feliz profissionalmente e compartilho com você esse
momento através desse livro. Espera que lhe seja útil.
1. Introdução ............................................................................................................ 12
Referências .................................................................................................................................. 46
Referências .................................................................................................................................. 71
4. Estrutura dos Polímeros Cristalinos ................................................................................. 72
7.7. Sumário dos fatores que afetam as propriedades dos polímeros ............................. 264
1. Introdução
Os materiais poliméricos adquiriram, ao longo dos anos, uma importância tão significativa
para a sociedade que seria praticamente impossível imaginar a nossa vida sem a existência dessa classe
de materiais. Dos plásticos de uso geral aos de alto desempenho, dos polímeros biodegradáveis aos
condutores de eletricidade, das fibras especiais aos plásticos de engenharia, das embalagens
corriqueiras aos sensores poliméricos, das espumas aos revestimentos e adesivos, os polímeros estão
presentes em todos os aspectos da atividade humana. O processo de substituição dos materiais
tradicionais pelos polímeros foi acontecendo progressivamente com crescimento vertiginoso de
consumo dos polímeros (Figura 1.1), dado às inúmeras vantagens que esses materiais apresentam, tais
como:
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
facilidade de fabricação;
baixa densidade;
amplas possibilidades de aditivação, atingindo propriedades sob medida;
bom balanço de propriedades mecânicas;
disponibilidade de tipos (grades) sintetizados pelas indústrias petroquímicas,
incluindo os copolímeros;
facilidade de reciclagem;
durabilidade;
custo compatível com o tipo de aplicação;
isolamento térmico e acústico;
características de amortecimento.
Figura 1.1. Consumo global de materiais plásticos ao longo da história. Clique aqui para a fonte.
Evidentemente, como ocorre com todo tipo de material, os polímeros apresentam as suas
deficiências, especialmente no que se refere ao comportamento mecânico quando comparado com os
metais ou a estabilidade ao calor em comparação com os materiais cerâmicos. Entretanto, um dos
princípios mais importantes da ciência dos materiais é que não existe material perfeito – e sim aquele
mais apropriado para uma aplicação específica. Nesse contexto, os polímeros vêm desempenhando o
seu papel na história, oferecendo uma diversidade de produtos para atender às necessidades da
indústria e, consequentemente, da sociedade. Alguns exemplos de polímeros e suas aplicações estão
apresentados de modo bastante interessante no site “The Macrogalleria”, desenvolvido por membros
da University of Southern Mississippi. Um panorama geral da indústria de polímeros no Brasil pode ser
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
visualizado no site da Abiplast. Canais do YouTube também podem ser importantes fontes de
aprendizagem, inclusive alguns mantidos por brasileiros, como, por exemplo, este, este e este.
Por ser uma classe mais recente de materiais, os polímeros ainda carecem de um
entendimento pleno do seu comportamento. As suas estruturas macromoleculares têm inúmeras
implicações para o comportamento físico e mecânico dos produtos que, aliado aos aspectos
estruturais, irão definir o sucesso (ou não) de suas aplicações. Entender os diversos fatores que
governam as propriedades dos polímeros e como esses podem ser utilizados para potencializar o
desempenho é essencial para a seleção, produção e aplicação desses materiais. O desempenho de um
produto deve ser encarado como algo dependente de uma variedade de fatores e isso difere do que,
academicamente, se refere ao desempenho do material. Um produto apresenta um nível de
complexidade muito mais elevado do que seria a sua matéria-prima ou mesmo um corpo de prova,
utilizado nos laboratórios para análise e caracterização. Um produto acabado, como utilizado pelo
consumidor, tem o seu desempenho dependente de um conjunto de fatores, descritos a seguir e
resumidos na Figura 1.2.
Polímero
(incluindo o grade )
Aditivos
Temperatura Dimensional
Umidade Cantos vivos
Agentes químicos Insertos
Radiações Orifícios
Processamento Linhas de solda
Técnica Condições
Cristalinidade
Morfologia
Sistema cristalográfico
Orientação molecular
Figura 1.2. Resumo dos fatores que afetam o comportamento de um produto acabado (elaborado pelo
autor).
Polímero base. Esse é o principal fator de influência – o tipo de polímero, aquele que melhor
atende às necessidades da aplicação. Nessa escolha deve-se levar em consideração, além dos
aspectos técnicos, os fatores mercadológicos, como o custo e a disponibilidade de fornecedores,
além das questões ambientais envolvidas. Evidentemente, quanto mais especializada for a
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
aplicação mais restritas serão as opções de escolha do material base. Além da seleção do polímero
em si, é preciso fazer a opção do grade (tipo) a ser utilizado. Considerando que as petroquímicas
sintetizam diversos grades para atender aos vários tipos de processamento e aplicação, a escolha
do grade em específico também deve ser considerada. Os grades variam entre si de acordo com a
massa molar e sua distribuição, presença e distribuição de co-monômeros e o uso de aditivos
específicos como fotoestabilizantes ou agentes deslizantes.
Aditivos presentes. Praticamente nenhum polímero comercial é utilizado na sua forma pura. Os
aditivos estão sempre presentes com o objetivo de ajustar as suas propriedades para atingir os
requisitos da aplicação. Isso pode alterar significativamente o comportamento de um polímero de
uma maneira muito mais versátil e viável economicamente e mercadologicamente do que o
desenvolvimento de um novo polímero (a partir de novos monômeros). Os aditivos compreendem
desde os mais básicos, como os estabilizantes e os lubrificantes até os mais específicos, como os
espumantes, as fibras de reforço e os retardantes de chama. Uma vez presentes, os aditivos
podem modificar ligeiramente ou radicalmente as propriedades de um material polimérico,
levando-o a novos patamares de aplicação. Esse tema é de grande importância tecnológica e
alguns dos aditivos comumente empregados serão abordados nesta publicação, como os
nucleantes heterogêneos e os modificadores de impacto. Para uma visão mais detalhada sobre a
aditivação de polímeros, sugere-se uma outra publicação deste autor 1.
Técnica e condições de processamento. O objetivo principal do processamento é conferir uma
forma final para a matéria-prima com taxas de produção adequadas para a competitividade
industrial. No entanto, a transformação da matéria-prima em um produto também confere uma
estrutura interna e, portanto, tem efeito decisivo nas propriedades finais do produto. Os
principais aspectos estruturais definidos pelo processamento são: orientação molecular, grau de
cristalinidade, morfologia e retículo cristalográfico. No desenvolvimento do produto e no controle
de qualidade, os profissionais envolvidos precisam estar conscientes dessas influências que, uma
vez desfavoráveis, podem causar falha prematura. Por exemplo, uma tubulação produzida por
extrusão tente a ter uma orientação axial das suas macromoléculas, seguindo a direção de
extrusão e de puxamento do tubo na saída da matriz. Quanto mais elevada a velocidade da rosca,
maior o diâmetro do tubo devido ao fenômeno reológico de inchamento (die swell). Para ajustar a
dimensão, pode-se aumentar a velocidade de puxamento.
Na perspectiva da produção, trata-se de um ótimo
procedimento, que aumenta a produtividade da indústria.
No entanto, o tubo adquire orientação molecular
preferencial na direção longitudinal. Quando essa tubulação
1
Rabello MS, de Paoli MA. Aditivação de Termoplásticos. São Paulo: Artliber; 2013.
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 1.3. Ilustrações de corpo de prova e de um produto final em imagens CAD. Clique na imagem
para hiperlink.
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Eixo 1: tipo de polímero. Esse é o aspecto estrutural mais básico e mais importante, o que é definido
pela estrutura química da unidade repetitiva – o “DNA” do polímero, o que mais caracteriza a sua
identidade. Por que um polietileno é tão diferente de um PVC ou de um PET? Em primeira análise, por
sua estrutura química!
Eixo 2: polimerização. A polimerização define a estrutura molecular do polímero, como a massa molar
e sua distribuição, configuração, presença e arranjo de co-monômeros, ocorrência de defeitos
(incluindo ramificações). São essas características que irão definir os grades que as petroquímicas
fabricam para atender às necessidades das indústrias de transformação e os requisitos das aplicações.
Por exemplo, grades para injeção de paredes finas possuem massa molar mais baixa e distribuição de
massa molar mais estreita do que grades para a fabricação de filmes por extrusão. Grades de
polipropileno para uso em baixas temperaturas contém o etileno como co-monômero, o que reduz a
sua temperatura de fragilização.
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Esses fatores estruturais impactam em todas as propriedades dos materiais poliméricos: físicas,
mecânicas, químicas, transições térmicas, etc. Ao longo dos próximos capítulos essas relações serão
abordadas detalhadamente.
De um modo geral, as propriedades dos polímeros podem ser divididas em duas classes: as que
dependem da natureza orgânica e as que têm implicações da natureza macromolecular.
A partir dos próximos capítulos deste livro, os temas serão apresentados de modo coerente
com o nível de entendimento requerido, iniciando-se com uma revisão sobre as estruturas básicas,
seguido da importância dos estados físicos e transições. A estruturação dos polímeros semi-cristalinos
e as influências cinéticas serão descritos nos capítulos 4 e 5. No capítulo 6 as propriedades mecânicas e
de fratura serão abordados com base na influência das características estruturais. O capítulo final
resume os fatores que definem as propriedades e inclui alguns outros conceitos não abordados
anteriormente, como a degradação química e o stress cracking.
O leitor pode aprofundar os temas tratados aqui através da literatura clássica sobre física e
propriedades de polímeros, recomendada ao final de cada capítulo. Os sites da internet também são
importantes fontes de consulta e serão citados oportunamente.
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Uma questão simples: quando você está diante de um “plástico”, como você sabe que se trata de um
polímero e não de uma substância de baixa massa molar?
Você pode determinar a massa molar da substância e, se for maior do que 10.000g/mol... Como nem sempre
fazer esse tipo de determinação é possível, eis dois experimentos simples.
1. Amoleça o material e, com uma pinça ou alicate, faça um esforço de estiramento na região
amolecida. Se formar fibra, é um polímero!
2. Dissolva o material e entorne a solução em uma superfície plana. Ao evaporar o solvente, se formar
um filme (e não partículas), trata-se de um polímero.
Esses testes valem para polímeros termoplásticos. Os termofixos devem inchar no contato com solventes.
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A forte dependência das propriedades com a orientação das moléculas.
plásticos adesivos
resinas tintas
borrachas vernizes
espumas fibras sintéticas
produtos naturais como amido, celulose, proteína, madeira, couro, cabelo, DNA, unha, chifre...
O que todos esses produtos têm em comum é que são constituídos por grandes moléculas,
com massa molar que podem variar de, digamos, 10.000 a 10.000.000g/mol. Os polímeros são
formados por unidades repetitivas (“polímero” vem do grego: poli=muitos; mero= repetição), unidas
por ligações químicas covalentes. A alta massa molar, portanto, é a principal característica dos
polímeros, que afeta direta ou indiretamente a maioria de suas propriedades físicas e químicas. A
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
grande importância da massa molar para o comportamento mecânico e as aplicações dos polímeros
pode ser exemplificado para o caso do polietileno. Esse polímero é comercializado em uma ampla faixa
de massas molares, que definem as características dos grades produzidos pelas petroquímicas. Veja
abaixo algumas aplicações:
Por serem uma classe de materiais bastante abrangente, a tarefa de classificar os polímeros
pode ser complexa e não definitiva. A literatura adota várias formas de classificação, como nos
exemplos a seguir:
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Devido à relação mais direta com o conteúdo deste livro, serão descritos a seguir os tipos de
polímeros quanto à arquitetura molecular e quanto ao tipo de arranjo e algumas de suas
consequências.
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 2.1. Representação esquemática de estruturas moleculares linear (a), ramificada (b) e reticulada
(c) (Bower 2002)
Os polímeros chamados termofixos têm arquitetura reticulada, com ligações covalentes entre
as cadeias e, uma vez formadas, torna o material infusível e insolúvel. Nessa classe de materiais, as
reticulações são geradas durante a polimerização ou, mais frequentemente, durante o processamento.
Os elastômeros podem ser considerados um tipo especial de termofixo em que as cadeias são flexíveis
e possuem um número relativamente pequeno de reticulações, fatores que, aliados, permitem grande
elasticidade. Os polímeros reticulados têm algumas limitações para a reciclagem, em virtude das
ligações intermoleculares covalentes. Isso difere dos termoplásticos, que possuem as cadeias
moleculares conectadas entre si por ligações químicas secundárias. Sobre essas forças de ligação
existentes nos polímeros, as forças coesivas, vale aqui uma rápida revisão.
As ligações químicas existentes nos polímeros podem ser de dois tipos: ligações covalentes
(primárias) e ligações secundárias, cujas energias de dissociação estão mostradas na Tabela 2.1. Nos
termoplásticos as ligações primárias estão presentes apenas na cadeia principal, enquanto que estas
cadeias permanecem unidas umas às outras por ligações secundárias, com nível de interação muito
menor do que nas ligações covalentes. Nos termofixos, incluindo os elastômeros, existem ligações
primárias também entre as cadeias adjacentes (Figura 2.1c), o que os tornam mais estáveis
dimensional e termicamente. Nos termoplásticos, a fusão (ou amolecimento) ocorre quanto a energia
do sistema supera a energia de dissociação das ligações secundárias, isto é, quando a temperatura
atinge certos níveis. Como a diferença de energia de dissociação das ligações primárias e secundárias é
muito alta, esse amolecimento ocorre, a princípio, sem afetar as ligações primárias, daí o termoplástico
poder ser reprocessado repetidas vezes. Nos termofixos não ocorre o amolecimento após o material
estar reticulado, pois a energia das ligações intermoleculares (covalentes) é da mesma ordem de
magnitude das ligações intramoleculares (também covalentes). Assim, caso a temperatura seja muito
elevada, ocorrerá a decomposição do material sem o amolecimento, resultado da ruptura das ligações
covalentes – tanto entre as cadeias quanto ao longo da cadeia principal. Embora existam
procedimentos químicos especiais para romper seletivamente apenas as reticulações (La Rosa et al.
2018), os termofixos não são reprocessáveis com as mesma facilidade dos termoplásticos.
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Tabela 2.1. Energia de dissociação e comprimento da ligação de diferentes tipos de ligação química.
Fonte: (Gedde 1995).
Secundária
Se o lixo plástico é motivo de preocupação para os ambientalistas e para a sociedade em geral, o que
dirá o lixo de borrachas, em que os processos de reciclagem não são tão simples quanto os utilizados
para termoplásticos? Descarte em aterro e incineração já não são procedimentos mais aceitos pela
sociedade, sendo necessário a utilização de rotas de recuperação do material, o que pode envolver
processos de desvulcanização. As ligações de reticulação de um elastômero podem ser quebradas
por procedimentos como termo-mecânico, micro-ondas, ultrassom ou por agentes químicos
específicos (Gursel, Akca, and Sen 2018), tornando viável o reprocessamento da borracha. No caso
dos vulcanizados com enxofre, a quebra das ligações cruzadas é bem mais fácil do que nos
reticulados com peróxido, uma vez que a magnitude das ligações S-S (27-60kcal/mol) é
consideravelmente menor que das ligações da cadeia da borracha (300-500kcal/mol), favorecendo a
desvulcanização em detrimento da degradação da molécula principal. O processo, entretanto,
precisa ser otimizado pois é dependente de várias variáveis como tempo, temperatura, tipo e
concentração dos agentes químicos, etc. (Sabzekar et al. 2015) e, além disso, ocorrem muitas
reações simultâneas, nem sempre favoráveis à desculvanização. Um procedimento tecnológico de
reciclagem de pneus pode ser visualizado nesse link, e o material resultante pode ser utilizado
também para fabricação de asfalto.
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
As ligações covalentes ao longo das cadeias (intramoleculares) têm importância menor do que
podem aparentar. A sua influência nas propriedades mecânicas é relativamente pequena uma vez que
os processos de fratura ocorrem principalmente por mecanismos de formação e propagação de trincas
e não por cisão das cadeias poliméricas (ver seção 6.2). Essas ligações, por outro lado, irão definir a
estabilidade térmica do material – a sua temperatura de decomposição. A degradação de um polímero
ocorre através de processos auto catalíticos que são iniciados a partir da cisão de ligações covalentes e
são acelerados na presença de oxigênio. Nesse contexto, vale o princípio de que a estabilidade térmica
é dependente do seu elo mais fraco. A intensidade das ligações covalentes, dessa forma, irá definir a
temperatura de início da decomposição de um material polimérico – aspecto extremamente
importante a ser considerado na definição das condições de processamento e, em alguns casos, na
temperatura máxima de uso. Quando a cisão molecular ocorre na cadeia principal o efeito negativo nas
propriedades é muito maior pois a redução na massa molar é muito mais drástica. Isso ocorre, por
exemplo, quando existem heteroátomos na cadeia principal e as energias de dissociação são menores
do que as de carbono-carbono. No caso das poliamidas, a ligação C-N é mais instável do que a ligação
C-C (292 e 347kJ/mol, respectivamente), sendo o local mais provável de início das reações de
degradação. Esse problema se torna mais crítico quando as ligações são hidrolisáveis, como nas
poliamidas e poliésteres, em que a presença de umidade leva às reações de cisão por hidrólise, que
ocorrem em temperaturas mais baixas do que as de decomposição térmica. Esse último caso tem
grande influência prática e será tratado posteriormente neste livro (seção 7.5.2).
Forças de dispersão (van der Waals). Presente entre moléculas de baixa polaridade, como polietileno,
poliestireno e polipropileno, é formada pelos momentos de dipolo, que oscilam de positivo para
negativo ao longo do tempo, como resultado de configurações
instantâneas diferentes dos elétrons e núcleos. Isso gera uma
polarização temporária e, consequentemente, uma atração entre
grupos de átomos adjacentes. Quando existem mais de um tipo de ligação secundária em um polímero
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
(por exemplo, força de dispersão e ponte de hidrogênio), esse tipo de atração torna-se desprezível.
Neste vídeo, observa-se que a ligação do tipo van der Waals é responsável pela grande habilidade do
lagarto Gecko aderir em superfícies diversas e isso tem inspirado a criação de robôs e outros produtos
baseados no mesmo princípio.
Ponte de hidrogênio. Esse tipo de ligação secundária é mais forte do que as demais, estando presente
H3C N CH3 um grupo básico, como (i) oxigênio em carbonila, éter ou hidroxila ou (ii)
H
nitrogênio em aminas ou amidas. Assim, o hidrogênio serve de ponte entre dois
grupos diferentes, o que é facilitado pelo seu pequeno tamanho, que possibilita o seu posicionamento
em pequenas distâncias, viabilizando a transferência de prótons. O maior exemplo desse tipo de
ligação é a água – por ter uma massa molar muito baixa, a água não deveria ser líquida na temperatura
ambiente se não fosse pela existência das pontes de hidrogênio.
A medida das forças intermoleculares é dada pela densidade de energia coesiva (CED), que
significa a energia necessária para remover uma molécula de um líquido ou sólido para uma posição
longe dos seus vizinhos, ou seja, para separar os grupos químicos que estão sendo atraídos entre si.
Exemplos de CED para alguns polímeros estão mostrados na Tabela 2.2, onde se observa que a CED
aumenta com a polaridade dos grupos substituintes. Casos extremos ocorrem em que essas forças são
tão fortes que o polímero não funde/amolece durante o aquecimento, apresentando um
comportamento térmico semelhante ao de um termofixo (decomposição sem amolecimento) – mesmo
sem possuir reticulações. É o que ocorre, por exemplo, com celulose, poliimidas e poliamidas
aromáticas (aramida), que possuem também cadeias poliméricas extremamente rígidas (Figura 2.2),
dificultando a movimentação e, assim, o afastamento dos grupos polares para ocorrer a
fusão/amolecimento.
Os polímeros apolares, como polietileno e polipropileno, necessitam alta massa molar para
que apresentem um bom comportamento mecânico, como mencionado anteriormente. A razão para
isso é que a coesão mecânica do material é muito dependente dos emaranhados moleculares nas
regiões amorfas e das cadeias atadoras, que unem os cristalinos às regiões desordenadas. A densidade
de energia coesiva desses materiais, sendo baixa, não é suficiente para a obtenção de propriedades
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
mecânicas adequadas. Por outro lado, os polímeros polares, como poliamidas e poliésteres, por
possuírem cadeias mais fortemente unidas entre si, são menos dependentes de alta massa molar para
desenvolverem boas propriedades. Não que para esses materiais os emaranhados não sejam
importantes, absolutamente, mas as altas forças de atração auxiliam na coesão macromolecular,
tornando-os menos dependentes dos grandes tamanhos moleculares. Além disso, quanto maior a
massa molar, maior o número de pontos de contato (conexões polares) por cadeia e isso dificulta os
processos de fusão/amolecimento pois a quantidade total de energia para superar essa maior
densidade de energia coesiva pode, eventualmente, ser suficiente para iniciar a ruptura das ligações
covalentes intramoleculares, provocando a decomposição antes ou durante a fusão/amolecimento.
Vale observar que, do ponto de vista de processamento, a janela de operação (isto é, a diferença entre
as temperaturas de decomposição e de fusão/amolecimento) deve ser larga o suficiente para permitir
um processamento seguro. Em geral os polímeros polares possuem alta temperatura de fusão e, por
possuírem heteroátomos na cadeia principal, apresentam temperatura de decomposição
relativamente baixa. Se a massa molar for muito alta, é necessário realizar o processamento em altas
temperaturas para que a viscosidade seja compatível, o que aumenta consideravelmente os riscos de
decomposição térmica. Assim, enquanto os polímeros comerciais de baixa polaridade possuem massa
molar acima de 100.000 g/mol, enquanto que para os polares esses valores dificilmente são superiores
a 50.000 g/mol.
Tabela 2.2. Densidade de energia coesiva (CED) de alguns polímeros comerciais (Billmeyer 1984).
Poliestireno 310
O O
Poliamida 66 NH (CH2)6 NH C (CH2)4 C 774
CH2 CH
Poliacrilonitila 992
C N
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
O O
H H
O N N C C N N
O O
O O
Figura 2.2. Estruturas químicas da celulose (a), poliimida (b) e aramida (c).
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
e de resistência tênsil nessa direção. Caso a solicitação mecânica seja feita na direção das ligações
secundárias (transversal à orientação preferencial) a força necessária para a deformação e ruptura é
muito mais baixa do que quando o esforço é aplicado na direção paralela à da orientação. A Figura 2.4
exemplifica essa diferença de comportamento para o caso do polietileno estirado a frio, que causa
orientação molecular na direção da deformação. Note-se que quanto maior a razão de estiramento
maior a resistência na direção da orientação em detrimento da resistência na direção ortogonal.
Figura 2.4. Efeito do estiramento a frio na resistência à tração do polietileno linear de baixa densidade,
medida na direção do estiramento e na direção ortogonal (Razavi-Nouri and Hay 2004).
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 2.5. Módulo elástico do PE em diferentes condições: (A) não orientado; (B) orientação
intermediária; (C) ultraorientado (Birley, Haworth, and Batchelor 1992).
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 2.7. Energia de fratura do poliestireno produzido com diferentes níveis de orientação molecular,
medida pela birrefringência (Curtis 1970).
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
CH3 CH3
CH2 CH CH2 CH CH2 CH CH2 CH (b)
CH3 CH3
Figura 2.8. Formas de taticidade do polipropileno. (a) Isotático e (b) sindiotático. Na configuração
atática não existe ordem no posicionamento dos grupos substituintes.
A posição de adição da unidade monomérica durante a síntese também pode gerar um outro
tipo de arranjo configuracional. A Figura 2.9 mostra que a posição relativa do grupo substituinte pode
levar à estruturas diferentes, dependendo de qual carbono do monômero é adicionado à cadeia em
crescimento. O tipo cabeça-cauda é mais favorável tanto por razões espaciais quanto energéticas.
Pode haver também adição aleatória, não existindo ordem pré-definida de posicionamento.
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rotação atômica não ser livre ao redor de uma ligação dupla. Os segmentos de cadeia em cada átomo
de carbono da ligação dupla podem estar localizados no mesmo lado da ligação dupla na configuração
cis (Figura 2.10a) e em lados opostos na configuração trans (Figura 2.10b). Esse tipo de configuração
também é definida pela síntese.
H H H
CH2 CH2
CH2 CH2
CH2 CH2
(a)
CH3 CH3 CH3
Apesar de todos os avanços que as tecnologias de síntese têm alcançado, são raros os casos
em que a estrutura molecular possui apenas um tipo de configuração (por exemplo, totalmente
isotático). A perfeição configuracional é dificilmente atingida, dado ao elevado número de reações que
ocorre entre monômeros para formar uma molécula de alta massa molar. Assim, a depender do
controle durante a polimerização e também da estrutura química do monômero, se obtém polímeros
com um percentual de estereoregularidade. Por exemplo, 97% isotático, 90% trans ou 99% cabeça-
cauda.
33
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Devido à natureza das ligações covalentes, aliado à energia térmica existente, as cadeias
poliméricas podem assumir diferentes conformações, que são arranjos moleculares espaciais que
podem ser alterados por rotações em ligações covalentes simples. Em outras palavras, o arranjo
espacial não é fixo, podendo ser modificado inúmeras vezes em frações de segundo. Isso ocorre pois
há uma certa liberdade de movimentação dos grupos da cadeia, que depende do caráter da ligação
química na cadeia principal e dos substituintes laterais. Nos polímeros os principais tipos de
conformações são as trans-gauche e as helicoidais.
O fato de uma molécula polimérica apresentar a tendência a formar novelos e, além disso,
possuírem grandes comprimentos e, por fim, coexistirem com inúmeras outras macromoléculas, existe
a forte tendência dessas moléculas se enroscarem entre si, formando os chamados emaranhados
moleculares. Esses emaranhados criam uma interdependência física entre as macromoléculas, com
1
Foi calculado que uma molécula de polietileno com massa molar 280.000g/mol teria 10 9542 possíveis
conformações. Um número absurdo de 10, seguido por 9542 zeros. Todo o universo não possui tantas moléculas
quanto uma simples cadeia de polietileno pode ter em possibilidades de arranjos espaciais! (Elias 1987)
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inúmeras consequências práticas, tais como: alta viscosidade do estado fundido e em solução,
tenacidade e resistência tênsil dos polímeros, grande extensibilidade dos elastômeros, resistência ao
stress cracking e limitação nos processos de cristalização. A densidade de
emaranhados moleculares, portanto, é fator decisivo para o comportamento
mecânico e reológico dos polímeros, sendo dependente essencialmente dos
tamanhos moleculares, conforme os dados mostrados na Figura 2.11. A
tendência dos polímeros de alta massa molar apresentarem comportamento
mecânico superior é atribuído, em grande parte, aos emaranhados
moleculares. O outro fator, a ser abordado posteriormente, é a formação de moléculas atadoras,
unindo os cristais com as regiões amorfas, que também são fortemente dependentes da massa molar.
Figura 2.11. Relação entre a massa molar (Mw) do poli-isopreno e o número de emaranhados por
molécula. Baseado nos dados apresentados por (Auhl et al. 2008).
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poliésteres, devido à presença dos seus respectivos grupos polares, têm PA11
cadeias mais rígidas do que os apolares com polietileno, polipropileno e poli-isopreno. Grupos
volumosos (na cadeia principal ou lateral) e polares, como é de se esperar, têm efeitos aditivos,
tornando a cadeia com rigidez extrema, como no caso das poliamidas aromáticas. Por outro lado, caso
esses grupos estejam bem espaçados ao longo da cadeia, o enrijecimento será menor. Por exemplo, a
poliamida 11, que tem 10 grupos CH2 entre os grupos polares de amida, é mais flexível do que a
poliamida 6, que possui apenas 5 grupos CH2 entre os amida. Em outro exemplo, a flexibilidade da
cadeia do copolímero estireno-butadieno (estrutura
química ao lado), aumenta com o aumento no percentual
de butadieno no copolímero, e o copolímero resultante terá
propriedades de plástico ou de borracha conforme a
predominância de um ou do outro mero. Outros fatores que afetam a barreira de energia para rotação
são a presença de reticulações e de solventes ou plastificantes. No primeiro caso, as ligações cruzadas
ancoram as cadeias entre si, reduzindo a capacidade de movimentação e, assim, elevam a barreira de
energia necessária para a rotação molecular. No caso da presença solventes e plastificantes tem-se um
aumento no espaçamento molecular, resultando em cadeias muito mais flexíveis.
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12
10
Energia (kJ/mol)
8
6 barreira de energia
4
0
0 60 120 180 240 300 360
Ângulo (°)
Figura 2.12. Exemplo de dependência da energia com o ângulo de ligação em uma molécula orgânica.
2
O “g” da Tg vem do inglês “glass”, que significa vidro.
37
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temperatura em que a transição ocorre3), enquanto que se o produto for utilizado como uma borracha
ou, caso seja semicristalino, um plástico dúctil, Tg deverá ser a temperatura mínima de uso.
Embora o tema seja tratado no próximo capítulo, cabe aqui uma rápida diferenciação entre a
temperatura de transição vítrea (Tg) e a temperatura de fusão cristalina (T m). Enquanto Tg é uma
transição das fases amorfas, relacionada com o início do movimento segmental das macromoléculas,
Tm é uma transição das fases cristalinas, relacionada com a fusão dos cristais presentes. Um polímero
completamente amorfo não possui Tm (pois não possui cristais), enquanto que um polímero semi-
cristalino possui as duas transições.
A limitação do PVC
Um dos principais usos do PVC é na fabricação de tubos para água e esgoto. A sua tecnologia
amplamente desenvolvida, aliada às suas características reológicas, torna o PVC especialmente
atrativo para esse tipo de processamento e aplicação. No entanto, quando a tubulação é utilizada
em temperaturas acima da ambiente, existem restrições quanto a esse material. Isso ocorre, por
exemplo, em instalações industriais e em equipamentos domésticos como lavadoras de roupas e
de louças que possuem um estágio de aquecimento. Como a T g do PVC situa-se em torno de 80°C,
o amolecimento do tubo pode ocorrer já a partir de 55-60°C, podendo comprometer a sua
funcionalidade nessas aplicações. Uma das alternativas para isso é a utilização do PVC clorado
(CPVC), também de grande importância comercial, em que parte dos átomos de hidrogênio dos
carbonos secundários são substituídos por cloro, aumentando a polaridade geral da molécula e,
assim, elevando a Tg para ~105-115°C.
Como a transição vítrea está intimamente associada à barreira de energia para a rotação
molecular, é dependente dos mesmos fatores discutidos anteriormente – volume dos grupos
3
A transição vítrea não é uma temperatura isolada mas ocorre em uma faixa de temperaturas que pode ser
muito larga, de até 50°C. Por essa razão, Tg deve ser encarada como uma temperatura de referência, nunca como
um limite bem definido.
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
presentes, polaridade, reticulações, comonômeros, etc. T g é, portanto, uma propriedade intrínseca dos
polímeros e, com efeito, uma das mais importantes e com grande apelo prático. A seguir, serão feitas
algumas análises comparativas.
O PE possui estrutura linear, com apenas átomos de hidrogênio na cadeia lateral e baixa polaridade. Os
átomos de hidrogênio são pequenos e as forças intermoleculares de van der Waals são fracas,
resultando em Tg~-150°C – uma das mais baixas existentes. O PP, por outro lado, possui um grupo
pendente metil que, por ser relativamente volumoso dificulta a movimentação molecular,
necessitando mais energia para o movimento segmental, com Tg~-10°C. Em uma situação mais extrema
tem-se o poliestireno, com grupo pendente aromático, representando uma dificuldade ainda maior
para rotação e, consequentemente, maior Tg em comparação com o PP, ~100°C. As diferenças entre
esses polímeros se refletem nas aplicações. O PS, sendo amorfo e com elevada T g, tem uso como
plástico rígido e transparente, com limite de temperatura de até 70-75°C. O PE e o PP, semicristalinos,
são utilizados como plásticos dúcteis, respeitando os limites inferiores para manterem a ductilidade, o
que requer atenção especial no caso do PP uma vez que abaixo de ~10°C já apresenta tendência à
fragilidade.
Cl Cl
Comparando-se com o PE, o PVC possui um átomo de cloro como grupo substituinte. Em termos
espaciais, o cloro não é significativamente diferente do hidrogênio, mas, por ser muito eletronegativo,
resulta em grande aumento na densidade de energia coesiva devido às ligações dipolo. Para superar
esse efeito, é necessário fornecer mais energia para o movimento segmental, elevando a Tg do PVC
para ~80°C. O poli(cloreto de vinilideno) (PVDC), por outro lado, possui uma simetria dos grupos
polares, gerando efeitos repulsivos e, assim, Tg mais baixa (~-15°C).
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Tratam-se de dois poliésteres com estruturas químicas “semelhantes”, tendo o PET grupos aromáticos
e alifáticos na cadeia principal enquanto o PEA possui apenas grupos alifáticos. A estrutura mais rígida
do PET dificulta a movimentação, elevando a Tg: ~70°C vs. ~-50°C.
CH2 CH O
CH3
O PPO possui o grupo aromático na cadeia principal, ao contrário do PS em que esse grupo encontra-se
na cadeia lateral. Isso torna a cadeia do PPO muito mais rígida, dificultando as mudanças
conformacionais, refletindo-se em Tg mais elevada (~100°C para o PS e ~210°C para o PPO). A
propósito, o PPO possui, dentre os polímeros comerciais, um dos mais elevados valores de Tg que,
juntamente com a sua Tm também alta (260°C), torna esse material especialmente adequado para
aplicações que requer alta estabilidade ao calor, como em dispositivos para a indústria elétrica.
O grupo substituinte metil no mesmo carbono do grupo metacrilato elevada a rigidez da cadeia,
tornando a Tg do PMMA bem mais alta do que a do PMA (~100°C vs ~6°C). Isso faz do PMMA um
plástico muito mais utilizado comercialmente do que o PMA, dado a sua grande rigidez e
transparência. Os metacrilatos são uma família de polímeros com mesma estrutura química básica,
CH3 variando-se o número de carbonos do grupo R da estrutura ao lado. Se R=1 tem-
CH2 C se o grupo metil (–CH3), sendo, portanto, o PMMA. Se R=2, tem-se o grupo etil,
C O
O
com dois carbonos (–CH2-CH3). A Figura 2.13 mostra que o tamanho do grupo R
R tem influência marcante na Tg do polímero. Na medida em que o grupo lateral se
torna mais longo, aumenta-se a mobilidade geral desse grupo substituinte, reduzindo assim a
40
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
influência do grupo polar metacrilato. Em relação ao tamanho dos grupos substituintes, vale a regra
geral de que a presença de grupos flexíveis em cadeia rígida (como no caso da Figura 2.13) reduz Tg,
enquanto que grupos laterais (mesmo flexíveis) em cadeia flexível aumentam a Tg. Esse último é o caso
do polietileno ramificado, que tem uma Tg mais elevado do que a do PE linear.
Figura 2.13. Valores de Tg em função do número de carbonos do grupo R do metacrilato (Gedde 1995).
onde a Tg final (em K) está relacionada com as frações mássicas dos componentes a e b (Wa e Wb) e
com as suas temperaturas vítreas individuais (Tga e Tgb), em K.
do PS (e reversivelmente), essa borracha é chamada de termoplástica. Existe ainda o caso dos sistemas
parcialmente miscíveis e, nesses casos, apresentam duas T g´s, mas com valores deslocados dos seus
originais. Baseando-se nesse princípio, note que a miscibilidade de copolímeros e blendas pode ser
inferida através da determinação dos valores de Tg.
Efeito da massa molar. Comparando-se o mesmo polímero com diferentes massas molares (diferentes
grades) a estrutura química da unidade repetitiva permanece a mesma e, assim, não se tem alterações
na barreira de energia para a rotação molecular. Esse fato excluiria a influência da massa molar na T g
dos polímeros. Por outro lado, a reação de polimerização utiliza os iniciantes, que têm estrutura
química diferente da unidade repetitiva e, sendo presentes nas extremidades da cadeia, resulta em um
aumento no volume livre total. O maior volume livre confere mais liberdade de movimentação dos
segmentos moleculares e, assim, resulta em menor Tg. Para tamanhos maiores de cadeia, reduz-se
proporcionalmente essa influência. O resultado é uma dependência da T g com a massa molar conforme
ilustrado na Figura 2.14. Em baixas massas molares, Tg aumenta progressivamente até atingir um nível
onde aumentos posteriores de tamanho de cadeia não mais interferem. Esse limiar de massa molar,
em geral, encontra-se abaixo das massas molares usuais em que os polímeros são comercializados.
Assim, pode-se considerar que, na prática, salvo casos especiais, a massa molar não tem interferência
na Tg dos polímeros.
Figura 2.14. Representação esquemática da influência da massa molar na Tg dos polímeros. A linha
vertical indica a massa molar mínima em que os polímeros são produzidos industrialmente.
Presença de aditivos. Quando da presença de aditivos, vale a regra geral de que tudo aquilo que
favorece a movimentação das cadeias reduz Tg e tudo o que dificulta a mobilidade causa elevação na
temperatura de transição vítrea. No primeiro caso tem-se os plastificantes, que atuam separando
(“solvatando”) as cadeias pela redução da intensidade das forças intermoleculares, com as moléculas
42
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 2.15. Efeito do plastificante dioctil ftalato (DOP) na Tg do PVC. Dados baseados em (Martin and
Young 2003).
3.9𝑥104
𝑇𝑔 − 𝑇𝑔𝑜 = (2.2)
𝑀𝑐
Onde Tg e Tgo são as temperaturas de transição vítrea do polímero reticulado e não reticulado,
respectivamente, e Mc a massa molar entre as reticulações, que é inversamente proporcional ao grau
de reticulação. O efeito da reticulação na rigidez pode ser exemplificado com os produtos à base de
elastômeros:
43
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Efeito da massa molar. Selecione diversos grades de uma petroquímica, correspondentes a uma série
de produtos sintetizados do mesmo polímero. Como as petroquímicas, em geral, não informam as
massas molares dos seus grades, isso geralmente é refletido por diferenças no índice de fluidez 4.
4
O índice de fluidez (melt flow index, MFI) é um parâmetro amplamente adotado pela indústria petroquímica
para diferenciar os vários grades produzidos. Expresso em g/10min, o MFI é uma medida do escoamento do
polímero fundido através de um capilar em temperatura e pressão pré-estabelecidos. Quanto maior a massa
molar, menor o índice de fluidez. Um exemplo de procedimento pode ser visualizado nesse link.
44
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Anisotropia pelo aquecimento. Um produto com orientação molecular tende a sofrer retração após
atingir a temperatura vítrea ou de fusão. Ao aquecer um copinho descartável até acima de 100°C,
observe a direção de retração predominante. Isso é resultado de uma orientação molecular
preferencial gerada durante a fabricação.
Anisotropia por propriedades. Existem diversas maneiras de observar esse efeito. Por exemplo,
comparando as propriedades mecânicas de do PP na forma de fibras e na forma moldada. Observe-se
uma diferença significativa nas curvas tensão-deformação e nas propriedades finais, como resistência
tênsil, alongamento máximo e módulo elástico. O copinho descartável também pode ilustrar esse
comportamento, onde o rasgamento do copinho é mais fácil em uma das direções.
Emaranhados moleculares. Uma analogia simples para se verificar a influência do tamanho da cadeia
nos emaranhados moleculares e, por consequência, na coesão mecânica do material, seria desenovelar
completamente um carretel de linha – ou vários carreteis, com cores diferentes. Observe que
facilmente as linhas tornam-se entrelaçam, comportando-se como uma grande massa interconectada
mecanicamente. Compare essa situação com o mesmo tipo de linha, mas com os fios cortados em
pequenos comprimentos, digamos 10cm. Nessa última situação o nível de inter-dependência é muito
menor, resultando em menos coesão mecânica – assim como ocorre com as moléculas poliméricas.
Transição vítrea. Os exemplos comparativos citados na seção 2.5 podem ser observados pelas técnicas
de DSC, TMA ou DMA. Uma maneira mais simples, e sem o rigor científico, pode ser realizado pelo
aquecimento de uma amostra em uma placa, observando-se, com a ajuda de um termômetro
infravermelho, a faixa de temperatura em que o material deixa de ser vítreo/rígido e passa a
borrachaso/flexível. Esse último procedimento é mais recomendado para polímeros totalmente
amorfos, onde essa transição térmica é mais evidente.
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Canevarolo Jr., S.V. 2010. Ciência dos Polímeros (Artliber: São Paulo).
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
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47
Algumas possibilidades de transições térmicas e estados físicos dos polímeros.
Estado vítreo e transição vítrea. O estado vítreo é caracterizado pelo movimento vibracional dos
átomos sem movimento dos segmentos ou da cadeia como um todo. Nessa situação, as regiões
amorfas não possuem mobilidade suficiente para superar a barreira de energia para rotações
moleculares (ver seção 2.4), permanecendo em um estado “congelado”. Como consequência, o
produto é rígido e frágil1, sendo semelhante ao vidro (vítreo). Ao aquecer um polímero no estado
vítreo, os átomos adquirem movimentação progressiva até atingir o nível de energia em que é possível
haver rotações nas ligações covalentes da cadeia principal. Isso ocorre na faixa de temperatura
denominada transição vítrea, sendo a temperatura de transição vítrea (Tg) uma das mais importantes
propriedades intrínsecas de um material polimérico. Propriedades de engenharia como módulo
elástico, resistência tênsil e ao impacto, coeficiente de expansão térmica e outras são bastante
diferentes acima e abaixo da Tg. As características dessa transição térmica e os fatores que afetam
foram abordadas com maiores detalhes no capítulo 2.
1
Existe uma situação especial em que o polímero, mesmo no estado vítreo, apresenta alta ductilidade. Isso é
devido às transições vítreas secundárias e será abordado no capítulo 6.
49
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
ou seja, da massa molar. Quanto maior a massa molar, maior a densidade dos emaranhados e, como
consequência, maior deverá ser o volume livre para que os emaranhados reduzam a sua influência e
permitam o escoamento do material. Como um elevado volume livre requer maiores temperaturas
(Figura 3.1), a temperatura de fluxo é sempre maior para massa molares mais elevadas. Uma
representação esquemática das estruturas macromoleculares em diferentes faixas de temperatura
está mostrada na Figura 3.2. Note que em temperaturas mais elevadas o espaçamento entre as cadeias
é maior, reduzindo a densidade de emaranhados moleculares e, assim, permitindo o fluxo viscoso.
50
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
de massas molares que a dependência da T g com a massa molar não é muito perceptível (conforme
mostrado na Figura 2.14).
Figura 3.3. Curvas termomecânicas de uma séria homóloga de polímeros com massas molares
crescentes – M1<M2<M3<M4<M5 (Tager 1978).
Enquanto a Tg tem uma importância crucial nas temperaturas limites de uso dos polímeros
amorfos, o valor da Tf é de grande importância para a produção industrial uma vez que, em geral, é a
temperatura mínima de processamento. Isso é verdade para a grande maioria das técnicas, que
envolvem escoamento da massa fundida, como extrusão, injeção, sopro, rotomoldagem, etc.
Temperaturas elevadas de processamento têm influência em diversos aspectos relevantes, incluindo a
possibilidade de decomposição do polímero e/ou de seus aditivos, consumo de energia, desgaste do
maquinário, etc. Desses aspectos mencionados, o principal a ser considerado é a decomposição do
polímero. A temperatura de decomposição (Tdec), portanto, assume uma importância crítica pois é a
temperatura limite superior para o processamento. Essa temperatura depende fundamentalmente da
intensidade das ligações químicas primárias na cadeia principal e não é influenciada pela massa molar.
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Não é objetivo deste livro detalhar esse tópico, que refere-se à química de degradação térmica dos
polímeros, mas, a título de ilustração, pode-se exemplificar os casos abaixo2:
Polietileno de alta densidade. Possui apenas átomos de carbono na cadeia principal, com elevada
energia de dissociação. Existe simetria na estrutura química da unidade repetitiva,
com átomos de hidrogênio nas demais posições, o que não gera
desbalanceamento de cargas elétricas. O resultado é uma temperatura de
decomposição elevada, de cerca de 400°C.
Polipropileno. Assim como o PEAD, possui apenas átomos de carbono na cadeia principal, mas a
estrutura química não é simétrica. O grupo substituinte metil provoca um
desbalanceamento energético no carbono terciário, reduzindo a energia de
dissociação da ligação C-H (indicado pela seta na imagem ao lado). Quando
ocorre essa cisão, os radicais livres formados provocam uma série de reações
subsequentes que levam à degradação térmica do material. Comparativamente ao PEAD, a
temperatura de decomposição é mais baixa, de cerca de 360°C.
Poliamida 6. Por possuir heteroátomos na cadeia principal, com energia de dissociação mais baixa
do que as ligações C-C, as poliamidas apresentam menor temperatura O
de decomposição do que as poliolefinas. No caso da poliamida 6, é NH C (CH2)5
~300°C.
Os estados físicos e transições térmicas dos polímeros amorfos podem ser visualizados pelo
esquema da Figura 3.4. Em temperaturas abaixo da Tg, o material é vítreo, com características como
alta rigidez e fragilidade. Acima da Tg (e abaixo da Tf), as moléculas adquirem mobilidade, o que
caracteriza o estado borrachoso, com elevada flexibilidade, grandes deformações reversíveis, maciez e
baixa dureza. Acima da Tf existe condição propícia para grandes deformações permanentes e
escoamento molecular, sendo a temperatura mínima para o processamento. A partir da temperatura
de decomposição, o material deixa de ser polimérico devido à intensa degradação, gerando
substâncias de baixa massa molar e gases como produtos da degradação térmica. A figura abaixo,
assim como as subsequentes, é apenas esquemática, no sentido em que as transições ocorrem em
faixas de temperaturas e não em temperaturas discretas.
2
Esses dados referem-se às temperaturas de decomposição na ausência de oxigênio. Quando o oxigênio estiver
presente, tem-se reações oxidativas, que reduzem consideravelmente as temperaturas de início de
decomposição dos polímeros.
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Tg Tf Tdec
Temperatura
Figura 3.4. Representação esquemática dos estados físicos dos polímeros amorfos e suas temperaturas
de transição características. As áreas hachuradas ilustram as regiões em que as transições ocorrem,
mas a magnitude dessas regiões depende do tipo de polímero, grade e outros fatores.
Um dos casos mais trágicos na história da tecnologia foi a explosão do ônibus espacial Challenger,
ocorrido em 28/01/1986. 76 segundos após a decolagem, a nave explodiu, levando 7 tripulantes a
óbito, incluindo uma professora, não astronauta. A causa mais provável para essa explosão está
relacionada com um anel de vedação de borracha (o-ring), que faz parte da junção dos módulos dos
foguetes propulsores. Na baixa temperatura ambiente no momento do lançamento, os ventos
sopravam em uma determinada direção que atingiam o tanque externo refrigerado (ver setas
ilustrativas em uma das imagens acima) e levaram ao resfriamento acentuado do anel de vedação. Em
baixa temperatura, a expansão da borracha foi insuficiente para a vedação apropriada e, como
consequência, houve vazamento dos gases combustíveis em um dos foguetes propulsores,
provocando ignição e consequente explosão do sistema. Uma reportagem completa sobre esse
acidente pode ser assistida aqui.
As temperaturas em que ocorrem as mudanças de estado físico podem ser influenciadas por
diversos fatores, como a massa molar (Figura 3.5) e presença de reticulações (Figura 3.6), além da
própria estrutura química da unidade repetitiva, claro. Na representação esquemática da Figura 3.5
observa-se que quanto mais elevada for a massa molar, maiores serão as temperaturas de fluxo,
enquanto as temperaturas de transição vítrea e de decomposição têm pouca alteração. O efeito da
massa molar na Tg foi comentado no capítulo 2, ocorrendo uma certa independência entre massa
molar e Tg a partir de valores relativamente baixos de tamanhos moleculares (Figura 2.14). A
temperatura de decomposição, conforme comentado anteriormente, é dependente das energias de
ligação intramoleculares, sendo, portanto, pouco influenciada pelo tamanho da cadeia. A maior
influência na Figura 3.5 é para a temperatura de fluxo, que é fortemente dependente do tamanho das
cadeias e dos consequentes emaranhados moleculares. Nota-se na ilustração que a faixa de
comportamento borrachoso (Tf–Tg) é ampliada com o aumento da massa molar, mas a diferença entre
a temperatura de decomposição e de fluxo é reduzida. Embora o primeiro efeito possa, a princípio, ser
importante na aplicação do polímero amorfo como elastômero, na prática não é tão relevante pois os
elastômeros, em geral, são reticulados3, o que elimina a temperatura de fluxo (Figura 3.6). O segundo
efeito, redução na diferença Tdec—Tf, tem uma grande importância prática pois é nessa faixa de
temperaturas que o processamento deve ser realizado – abaixo de Tf o fluxo viscoso é restrito e acima
de Tdec a degradação térmica é intensa. Essa faixa de temperaturas está relacionada com a chamada
“janela de processamento” e, sendo muito estreita, reduz bastante a processabilidade do material.
Nesse aspecto, é preciso buscar uma relação de compromisso uma vez que massa molares mais
elevadas resultam em produtos com melhores propriedades mecânicas, mas com processamento
menos favorável – tanto pela maior viscosidade no estado fundido quanto pela janela de
processamento mais estreita. Existem alguns processos em que a conformação ocorre com o polímero
no estado borrachoso, como é o caso da termoformagem em que uma chapa é aquecida entre a T g e a
Tf do polímero e é aplicado ar comprimido ou vácuo contra um molde. Essa chapa pode ser produzida
por extrusão ou por polimerização in situ (também chamado casting). No primeiro caso, utilizado para
diversos tipos de polímeros como poliestireno, ABS, policarbonato e PET, o processo de extrusão
também requer uma larga janela de processamento e, assim, a alta massa molar poderá ser um fator
3
Uma exceção importante é a “borracha termoplástica”, à base de copolímeros em blocos, que será abordada
posteriormente, neste capítulo.
54
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
limitador. No caso de chapas produzidas por polimerização in situ, como ocorre com o PMMA, não se
requer fluxo viscoso em nenhuma fase do processo e, como consequência, uma alta temperatura de
fluxo é benéfica para que a chapa aquecida mantenha a sua consistência durante a conformação. O
processo de termoformagem pode ser visualizado neste link.
Tg ,Tf Tdec
Maior massa molar
Tg Tf Tdec
Tg Tf Tdec
Tg Tf Tdec
Tg Tf Tdec
Temperatura
Figura 3.5. Influência da massa molar nas transições térmicas de um polímero amorfo.
Como já mencionado, os polímeros amorfos podem ser utilizados como plásticos rígidos ou
como borrachas. No último caso, é quase sempre necessário a incorporação de reticulações químicas
(“ligações cruzadas”) para conferir as propriedades elastoméricas. Essas reticulações são introduzidas
durante o processamento e têm efeito direto nas propriedades mecânicas, químicas e transições
térmicas. A Figura 3.6 ilustra essa última influência em comparação com o polímero base (não
reticulado). Inicialmente, note-se que a presença de reticulações químicas eleva o valor da Tg, devido
ao ancoramento das macromoléculas, o que requer mais energia para as rotações moleculares,
conforme já abordado no Capítulo 2. A temperatura de decomposição, que depende
fundamentalmente das ligações intramoleculares, tem pouca alteração com as reticulações e, como
consequência, a Tg tende a se aproximar da Tdec. Isso indica que a faixa de comportamento borrachoso
é progressivamente reduzida até uma situação extrema em que o material possa estar tão densamente
reticulado que a sua transição vítrea não é mais perceptível. Isso ocorre com os polímeros termofixos,
como fenólicos, melamínicos, epoxídicos, etc. Observa-se também que, se o grau de reticulação for
muito baixo, ainda pode haver o estado fluidoviscoso mas, com a progressão das ligações cruzadas, o
material deixa de fluir, caracterizando o comportamento termofixo.
55
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Tg Tf Tdec
Tg Tf Tdec
vidro borracha (decomposição)
Tg Tdec
vidro borracha (decomposição)
Tg Tdec
vidro (decomposição)
Tg,Tdec
Temperatura
Figura 3.6. Influência de reticulações nas transições térmicas de um polímero amorfo.
vidro (PS) +
vidro (PB) + vidro (PS) borracha (PB + PS) fluidoviscoso
borracha (PB) (decomposição)
56
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
É fato comum que o polietileno é um dos principais polímeros utilizados pela indústria, nos mais
variados campos de aplicação. Além do baixo custo e bom balanço de propriedades, o PE tem
vantagens competitivas como excelente processabilidade, boas propriedades dielétricas e elevada
resistência química. No entanto, um fator limitante, principalmente nas aplicações críticas das
indústrias elétrica e química, é a sua baixa resistência ao calor. Tanques de armazenagem de
produtos químicos, tubos para transporte de fluidos quentes e isolamento de cabos de alta tensão
são exemplos de aplicações em que a baixa estabilidade ao calor limita o seu uso. O caminho
adotado pela indústria foi o da reticulação do polietileno. Mesmo de natureza termoplástica, esse
material pode ser reticulado com radiação de alta energia ou com agentes químicos como
peróxidos orgânicos e silanos. No uso de agentes químicos, a reação ocorre durante (e logo após) o
processamento, envolvendo a abstração de hidrogênio da cadeia principal e consequente
acoplamento dos radicais livres (ver esquema acima). Detalhes desse tipo de aditivo podem ser
obtidos no livro Aditivação de Termoplásticos (Rabello and de Paoli 2013). Este vídeo mostra que a
produção de tubos de PE reticulado segue o mesmo princípio da extrusão convencional, mas existe
a necessidade unidades térmicas pós extrusão para que as reações de reticulação se consolidem.
Os materiais poliméricos sólidos podem existir nos estados amorfo, semicristalino ou cristalino,
dependendo do seu grau de cristalinidade – a fração de material cristalizado em um corpo. Por
definição, um material cristalino é aquele que apresenta ordem a grandes distâncias, constituído de
elementos estruturais que se repetem em todas as direções. Ao contrário, um material amorfo não
57
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
apresenta arranjo espacial definido e regular4. Os polímeros, devido às grandes dimensões de suas
moléculas e os consequentes emaranhados moleculares, tem dificuldade em cristalizar, não atingindo,
em condições normais, a cristalização total. Nessa classe de materiais, portanto, pode-se considerar
que podem existir apenas no estado amorfo ou semicristalino.
Como consequência da estrutura macromolecular, uma mesma molécula faz parte de fases
amorfas e cristalinas e, portanto, as duas fases não se dissociam fisicamente mas podem ser,
didaticamente, consideradas como fases de comportamentos independentes. A fase amorfa possui a
temperatura de transição vítrea como temperatura característica de transformação do estado vítreo
para borrachoso – da mesma forma que ocorre com os polímeros amorfos. A fase cristalina tem como
temperatura de transição relevante a temperatura de fusão (Tm), que corresponde à destruição dos
cristais existentes. Sendo a temperatura de fusão uma transição relacionada com a fase cristalina, um
polímero amorfo não possui Tm, assim como um (eventual) polímero 100% cristalino, não possui T g (por
ser uma transição das fases amorfas). Como nos cristais o empacotamento molecular é maior, os
segmentos moleculares estão mais próximos entre si, o que eleva a intensidade das forças
intermoleculares (interação é inversamente proporcional à distância, como em um imã) e,
consequentemente, Tm é sempre maior do que Tg.
4
A definição de um material amorfo como aquele que não possui ordem estrutural a longas distâncias é a mais
clássica e simplista. Investigações realizadas por técnicas como difração de elétrons, aliadas a teorias diversas,
têm encontrado elementos suficientes para considerar a existência de ordem a curtas distâncias em materiais,
incluindo os polímeros, tido como amorfos (Arrighi et al. 2004; Mills et al. 1994). Embora essas teorias possam ter
importância do ponto de vista científico, aparentemente, apresentam pouca influência prática nas propriedades
finais dos polímeros. Por essa razão, não iremos adotar essa abordagem no presente livro.
5
Uma exceção importante a essa tendência é o caso comparativo do polietileno de baixa densidade (PEBD) com
o polietileno de alta densidade (PEAD). Apesar de possuir maior Tg, o PEBD possui Tm menor do que a do PEAD.
Esse caso será discutido em detalhes na seção 4.2.1.
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
O C C O CH2 CH2
PET 70 260
O O
material. Entre Tg e Tm o polímero semicristalino possui o melhor balanço de propriedades entre rigidez
e tenacidade. Nessa faixa de temperaturas as propriedades possuem uma forte dependência com o
grau de cristalinidade; quanto maior esse parâmetro, maiores serão a dureza, o módulo elástico e a
resistência à tração, em detrimento de uma menor tenacidade. Acima da T m os cristais são destruídos e
o polímero se torna borrachoso e, posteriormente, fluidoviscoso. Para um polímero cristalino, em
geral, a temperatura máxima de uso é a Tm6, enquanto a Tf e a Tdec permanecem como as temperaturas
mínima e máxima de processamento, respectivamente.
Tg Tm Tf Tdec
Temperatura
Figura 3.9. Estados físicos e transições térmicas em um polímero semicristalino.
Assim como a Tg, a temperatura de fusão tem pouca influência da massa molar (o
comportamento é semelhante ao mostrado na Figura 2.14) pois é muito mais dependente de fatores
como polaridade e rigidez dos grupos químicos presentes. O efeito da massa molar nos estados físicos
e transições dos polímeros semicristalinos está mostrado esquematicamente na Figura 3.10. As
temperaturas de transição vítrea, de fusão e de decomposição sofrem pouca influência, enquanto que
a temperatura de fluxo é mais afetada. Novamente, massas molares mais elevadas resultam em
maiores valores de temperatura de fluxo, se aproximando da temperatura de decomposição. Por outro
lado, caso a massa molar seja suficientemente baixa o material pode apresentar comportamento
fluidoviscoso logo acima da fusão. Isso, de fato, ocorre em alguns grades comerciais de polímeros
semicristalinos e polares como o PET, PBT e poliamidas.
Uma outra ilustração do efeito da massa molar em polímeros está mostrada na Figura 3.11 em
que observa que para baixos tamanhos de cadeia o material pode cristalizar completamente e adquire
condição fluida de um líquido convencional. Para cadeias maiores, a cristalização já não é completa e a
fusão ocorre em uma faixa de temperaturas (isso será tratado com mais detalhes na seção 5.5.1).
Nessas situações, acima da Tm, o material pode estar no estado fluidoviscoso ou borrachoso, a
depender da massa molar.
6
Além da Tm, outros parâmetros foram adotados pela indústria como referência para o limite superior de uso de
um material plástico. São as temperaturas de amolecimento Vicat e a temperatura de deflexão térmica, que
serão tratadas na seção 5.3.3.
60
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Tg Tm,Tf Tdec
Maior massa molar
vidro + cristal borracha + cristal borracha fluidoviscoso (decomposição)
Tg Tm Tf Tdec
Tg Tm Tf Tdec
Tg Tm Tf Tdec
Temperatura
Figura 3.10. Representação esquemática do efeito da massa molar nos estados físicos e transições
térmicas de um polímero semicristalino.
Figura 3.11. Ilustração do efeito da massa molar na temperatura de fusão e no estado viscoso. Fonte:
adaptado de (McCrum et al. 1997).
Alguns polímeros serão sempre amorfos enquanto outros podem cristalizar a depender das
condições. Isso está relacionado com uma importante propriedade dos materiais poliméricos, a
cristalizabilidade e será abordado em detalhes no Capítulo 4. Por hora, cabe ilustrar algumas condições
em que os polímeros apresentam diferentes estados físicos e transições. A Figura 3.12(a) mostra
exemplos do que pode ocorrer durante o resfriamento de um polímero a partir do melt. Se um
polímero não cristalizável, como PS e PMMA, for resfriado até abaixo de sua T g (linha MG), obtém-se
um vidro rígido e transparente. Por outro lado, se o material for cristalizável, duas situações distintas
podem ocorrer: (i) poliamidas e poliésteres, como o náilon 6 e o PET, são resfriados rapidamente
durante o processamento até abaixo de suas Tg´s, (que são relativamente elevadas) e, como
consequência, cristalizarão pouco (linha MC) ou não cristalizarão (linha MG); (ii) polímeros muitos
cristalizáveis e com baixo Tg, como o polietileno, apresentam um comportamento seguindo a linha MD.
61
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
As diferentes composições possíveis estão ilustradas na Figura 3.12(b). A transição vítrea (aresta MG)
ocorre reversivelmente com o aquecimento/resfriamento. Pode existir uma situação (ponto E) em que
a fase vítrea coexiste com uma fase borrachosa, que seria o caso dos copolímeros em blocos (como o
SBS, já citado no capítulo anterior e na Figura 3.7). A aresta MX refere-se à transição melt-cristal, que é
reversível mas envolve fenômenos diferentes – fusão no aquecimento e cristalização no resfriamento.
O ponto D representa um material semi-cristalino normal, enquanto E’ seria o caso dos polímeros
líquidos cristalinos (LCP), em que domínios cristalinos existem no melt polimérico. Na aresta GX pode
ainda haver uma transição relevante chamada de cristalização a frio, em que um polímero vítreo pode
cristalizar mediante aquecimento a partir do estado sólido, tema que será apresentado na seção 5.4.
Figura 3.12. Estados físicos e transições em polímeros. (a) Relação com temperatura; (b) Diagrama de
composição. Ver explicações no texto. Fonte: adaptado de (Rodriguez 1984).
Uma das grandes vantagens na utilização de matérias primas à base de polímeros é a sua
ampla possibilidade de modificação para atingir propriedades específicas e, assim, atender aos
requisitos de projeto. De fato, a modificação de polímeros é atualmente um caminho muito mais viável
mercadologicamente do que a introdução de novos polímeros, a partir de novos monômeros.
Centenas, ou milhares, de novos polímeros são sintetizados e patenteados a cada ano, mas
pouquíssimos se tornam realidade comercial. É fácil entender porque isso ocorre:
62
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
1. A produção industrial de novos polímeros, a partir de novos monômeros, deve seguir um rígido
processo de aprovação por órgãos de controle governamental, envolvendo aspectos ambientais,
toxicológicos, etc.;
2. Os equipamentos de processamento, via de regra, são projetados considerando a otimização de
produção de polímeros específicos, de acordo com as suas propriedades térmicas, reológicas, etc.
Uma extrusora projetada para polietileno, por exemplo, certamente não apresentará uma produção
otimizada caso se utilize o náilon. Da mesma forma, moldes de injeção são projetados considerando
as propriedades reológicas do polímero, curvas P-V-T7, etc. A substituição de um polímero existente
por um novo, poderá implicar em mudança no maquinário de produção, envolvendo custos
bastante significativos;
3. A produção de componentes envolve todo um conhecimento adquirido ao longo do tempo por
parte de técnicos e engenheiros. Os diversos tipos de defeitos de produção são resolvidos com base
nessa experiência, assim como os sistemas de controle de qualidade adotados. Novamente, a
substituição de matérias-primas terá implicações nessa temática, com treinamentos e,
principalmente, a necessidade de adquirir experiência prática na solução de problemas e na
obtenção de produtos atendendo aos requisitos de qualidade;
4. Pode haver certa desconfiança por parte de clientes, distribuidores ou mesmo do consumidor final
com relação ao novo material. O “novo” sempre desperta reações diversas; pode ser encarado
como evolução/avanço, mas também como incerteza;
5. Por fim, mas talvez o mais importante, para um novo polímero conquistar mercado é preciso
“deslocar” polímeros já existentes, com seus conhecimentos consolidados e, principalmente, com o
mercado amadurecido. Um novo polímero, muito provavelmente, irá ser sintetizado (a nível de
petroquímica) em pequena escala e, como resultado, o custo de produção tenderá a ser
consideravelmente mais elevado do que aqueles produzidos em larga escala. Nesse aspecto, tome-
se o exemplo do PET: quando passou a ser utilizado em embalagens de refrigerantes e águas, a
produção industrial desse material aumentou exponencialmente e, mesmo sendo um polímero de
engenharia, possui atualmente preço competitivo com os commodities, como polietileno e
polipropileno. Do ponto de vista comercial, a tendência de preço bem mais elevado para um novo
polímero é muito forte, o que pode inviabilizar a sua inserção no mercado – a não ser que a
petroquímica subsidie parte do custo para facilitar a comercialização. Um outro entrave
mercadológico também relevante é a (provável) síntese desse novo polímero por uma única
petroquímica, o que as indústrias de processamento tendem a rejeitar pois, dessa forma, se reduz
as possibilidades de negociação e a própria disponibilidade de matéria-prima.
7
Relação pressão, volume e temperatura, em que as dimensões da ferramenta são projetadas (em geral com
software CAD) considerando as variações dimensionais do material em função das condições de processo para
atingir a dimensão final de um componente injetado.
63
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Copolímeros são materiais poliméricos formados por mais de um tipo de monômero como, por
exemplo, na combinação do propileno com o etileno. O objetivo é a obtenção de um outro material
com propriedades diferenciadas – não atingidas pelos homopolímeros individuais. O copolímero
resultante pode ter diferentes arquiteturas: ao acaso, em blocos, alternados e enxertia, conforme
mostra ilustração da Figura 3.13. Esses tipos são definidos na copolimerização e depende de fatores
como a seletividade reativa, sistema catalítico e condições de síntese. Ao contrário da aditivação, que
possui grande versatilidade, a copolimerização é um procedimento da petroquímica e, portanto, não é
tão versátil. Caso seja necessário alterar a concentração ou o tipo de comonômero, é preciso realizar
uma nova polimerização, com todas as exigências do procedimento. Para se ter uma ideia da
complexidade de uma planta petroquímica, veja este vídeo.
AAAAAAAAAA
ABABABABAB AAAAAAABBBBBB ABBAABAABABB BB
BB
alternado em blocos aleatório BB
enxerto B
Uma vez que a inserção de um comonômero altera a estrutura química do material, espera-se
que tenha grandes consequências para os estados físicos e transições. Para ilustrar esse tipo de efeito,
será utilizada a família de polímeros e copolímeros de estireno, butadieno e acrilonitrila (verFigura
3.14).
64
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
CH2 CH
C N
Poliacrilonitrila
NB
R
N
SA
ABS
Figura 3.14. Polímeros e copolímeros baseados em estireno, butadieno e acrilonitrila (ver descrição
completa no texto). Esquema elaborado pelo autor.
65
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
67
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
8
Ver quadro no capítulo 2 sobre esse tema.
9
Diversos outros materiais são enquadrados na terminologia de borracha termoplástica, tais como alguns tipos
de poliuretanos, copoliésteres, copolímeros de olefinas e outros copolímeros a base de butadieno.
68
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Transformações térmicas. Com peças de poliestireno (ou acrílico), polietileno e borracha, diferencie os
estados físicos e transições através de aquecimento em placa ou resfriamento ao ar ou mesmo no
nitrogênio líquido. O PS e o PMMA são rígidos na temperatura ambiente e amolecem por volta de
100°C. Um pouco acima desta temperatura, tracione manualmente a peça e observe a reversibilidade
da deformação. No resfriamento ao ar as peças voltam a adquirir rigidez, sendo a Tg o limite entre da
diferença de comportamento. Ao aquecer continuamente acima da Tg, esses polímeros adquirem
comportamento fluidoviscoso e, posteriormente, iniciam a decomposição10. No caso do polietileno, a
peça (“leitosa” ou translúcida, conforme o tipo de polietileno) se torna transparente ao ultrapassar a
sua temperatura de fusão. No resfriamento ao ar, a opacidade é readquirida durante a cristalização.
No resfriamento em nitrogênio líquido o PE adquire fragilidade por estar abaixo da sua T g. No caso da
borracha, esta é flexível na temperatura ambiente por estar acima da sua Tg. No resfriamento em
nitrogênio líquido a borracha se torna rígida e quebradiça. Ao aquecer a borracha, caso esteja
reticulada, ela não irá adquirir fluidez mas haverá decomposição se o aquecimento prosseguir.
Determinação de Tg e Tm de forma mais precisa pode ser feita com equipamentos apropriados, como o
DSC.
10
Ao realizar o experimento de decomposição, faça-o em capela ou em ambiente ventilado, já que os vapores
emitidos na decomposição do polímero podem apresentar toxicidade. Use EPI!
69
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Fusão vs. decomposição. Com uma placa de aquecimento e um termômetro infravermelho, observe
que no polietileno de alta densidade a temperatura de fusão (medindo aproximadamente através da
perda de opacidade) é muito menor do que a temperatura de decomposição (medida
aproximadamente pela eliminação de vapores do material aquecido) 10. Por outro lado, uma peça de
poliamida ou PET apresenta temperatura de decomposição bem mais próxima da sua fusão. Observe
que a temperatura de fusão da poliamida (ou PET) é mais elevada do que a do PEAD, enquanto que
este último se decompõe em temperaturas mais elevadas. Esse experimento também pode ser
conduzido por DSC.
Comportamento mecânico. Prepare corpos de prova de tração do poliestireno, SAN e HIPS (ou ABS).
Observe as diferenças de comportamento, especialmente a deformação na ruptura e o padrão das
curvas tensão-deformação. Relacione os resultados com a estrutura química desses materiais e os seus
estados físicos e transições. Analise semelhante também pode ser feita com o polibutadieno e o SBR,
desde que se assegure terem o mesmo grau de reticulação.
Canevarolo Jr., S.V. 2010. Ciência dos Polímeros (Artliber: São Paulo).
Pearson, R.A., and L. H. Sperling. 2019. Introduction to Physical Polymer Science (Wiley: New York).
70
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Referências
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Physics, 42: 4000-16.
Buckley, J.D., and D.D. Edie. 1993. Carbon-carbon materials and composites (Noyes: New Jersey).
Correa, C. A. 1996. "Estudos de Mecanismos de Tenacifica‡ao em Polimeros por Microscopia Eletr“nica
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McCrum, N. G., C. P. Buckley, and C. B. Bucknall. 1997. Principles of Polymer Engineering (Oxford
University Press: New York).
Mills, N. J., M. Jenkins, and S. Kukureka. 1994. Plastics: Microstructure, Properties and Applications
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Rabello, M. S., and M. A. de Paoli. 2013. Aditivação de Termoplásticos (Artliber: São Paulo).
Rodriguez, F. 1984. Principios de Sistemas de Polimeros (Manual Moderno: Mexico).
Tager, A. 1978. Physical Chemistry of Polymers (Mir Publishers: Moscow).
71
Esferulito de PP em crescimento e representação de sua estrutura interna.
Neste capítulo alguns aspectos estruturais serão apresentados, como a habilidade dos
polímeros em cristalizar e como medir o grau de cristalinidade, a importância prática da cristalização e
a forma física (morfologia) dessas estruturas cristalinas. No próximo capítulo a cristalização sob o ponto
de vista cinético será abordada em maiores detalhes.
1
Para maiores detalhes sobre esse assunto, sugere-se a literatura básica de ciência dos materiais ou de
cristalografia. Por exemplo, (Calister and Rethwisch 2016)
73
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
10 20 30 40
2q (o)
Um material mais cristalino possui maior empacotamento molecular, o que resulta em maiores
valores de densidade, módulo de elasticidade, resistência à tração, resistência química e ao calor. Por
outro lado, as regiões amorfas contribuem para a deformação, maciez e tenacidade do produto. Essa
diferença de comportamento entre as fases amorfas e cristalinas é muito dependente da temperatura:
abaixo da Tg as fases amorfas são vítreas e, com baixa mobilidade, apresentam comportamento mais
próximo das fases cristalinas. Acima da Tg, as regiões amorfas estão em um estado borrachoso, com
comportamento muito diferente das empacotadas regiões cristalinas. Nos cristais as moléculas estão
fortemente unidas entre si, garantindo a coesão do material. Com isso, são necessários maiores esforços
mecânicos para a deformação e ruptura por tração, dificultando também a difusão de líquidos ou gases
para a permeabilidade e solubilização. Uma exemplo da influência da temperatura na resistência ao
impacto de poliamidas está mostrado na Figura 4.2. Note que a tenacidade apresenta uma elevação
significativa após a transição vítrea da PA 6, que se situa em torno de 45-60°C. No caso da amostra de
PA 66, que possui maior cristalinidade, o aumento na resistência ao impacto ao ultrapassar a T g é
proporcionalmente menor.
74
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 4.2. Efeito da temperatura na resistência ao impacto de dois tipos de poliamidas. Fonte aqui.
Figura 4.3. Efeito esquemático (elaborado pelo autor) do aumento da cristalinidade na tenacidade de
polímeros abaixo e acima da temperatura vítrea.
75
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 4.4. Representação esquemática (elaborada pelo autor) do efeito da cristalinidade na resistência
tênsil (e módulo elástico) e na resistência ao impacto (e alongamento).
Os fatores que definem a cristalizabilidade de um polímero serão descritos abaixo e a Figura 4.5
resume esquematicamente as principais influências.
2
Embora, por definição, a cristalizabilidade seja uma expressão quantitativa, normalmente utiliza-se esse conceito
para fins qualitativos como, por exemplo, na comparação de tendências que determinados polímeros têm em
cristalizar.
76
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Regularidade molecular. Esse é, de longe, o fator mais importante que afeta a cristalizabilidade. Um
cristal possui ordem a longas distâncias, o que só é possível quando os seus elementos constituintes –
os segmentos moleculares – também possuem ordem. Assim, polímeros atáticos e copolímeros
aleatórios são, a princípio, não cristalizáveis. O poliestireno atático, por exemplo, não forma cristais
mesmo quando submetido às mais favoráveis condições de resfriamento. A presença de um
comonômero disposto aleatoriamente reduz a cristalizabilidade da molécula, podendo inibir a
cristalização, a depender da concentração desse comonômero. Outras fontes de irregularidades
moleculares são: ramificações, extremidades das cadeias, configurações aleatórias do tipo cabeça-
cauda, impurezas químicas provenientes de desvios da polimerização e contaminações diversas. Alguns
exemplos que ilustram esses efeitos são mostrados na Tabela 4.1. Vale destacar que o efeito da
irregularidade na cristalizabilidade é relativo, no sentido em que moléculas menos regulares cristalizam
menos, mas ainda podem formar cristais dependendo das condições. Assim, irregularidades ocasionais,
como um pequeno percentual de comonômero ou ramificações, reduzem a cristalinidade, mas não a
impedem totalmente.
Volume dos grupos químicos. Como será abordado no Capítulo 5, o processo de cristalização é,
essencialmente, de natureza cinética e, como tal, a mobilidade dos segmentos que comporão o cristal
em crescimento tem grande influência. Se a cadeia polimérica é flexível, a sua alta mobilidade facilita a
inserção dos segmentos no cristal, favorecendo o crescimento do mesmo. Por outro lado, grupos
volumosos presentes na cadeia principal ou lateral enrijecem a molécula e, com isso, dificulta o
77
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
crescimento cristalino. Assim, o PET, com um grupo aromático na cadeia principal, é menos cristalizável
do que o poli(etileno adipato)3, que possui estrutura semelhante mas apenas com grupos alifáticos. Da
mesma forma, o polipropileno isotático é mais cristalizável do que o poliestireno isotático, por ter uma
estrutura química mais flexível. O PP atinge de 45 a 65% de cristalinidade, a depender das condições e
do grau de estereoregularidade, enquanto que o PS, mesmo isotático, raramente chega a 40% de
cristalinidade.
Massa molar. As moléculas poliméricas, por suas grandes dimensões, têm bem mais dificuldade em
cristalizar do que as de menor tamanho, como consequência da formação dos emaranhados
moleculares. Na escala de tempo em que a cristalização ocorre, o desentrelaçamento das cadeias
dificilmente ocorre e, assim, a capacidade de cristalização do material é reduzida pois os emaranhados
são focos de imperfeição, dada a aleatoriedade na disposição dos segmentos. A Figura 4.6 ilustra essa
influência para os casos do poli(trimetileno tereftalato) (PTT) e do polietileno. Observa-se que, nos dois
casos, a cristalinidade é reduzida para massas molares mais elevadas, mas a magnitude do efeito é maior
para o polietileno, com uma variação de quase 30 pontos percentuais entre os extremos, enquanto que
no PTT a variação é de apenas 8 pontos percentuais. Comparando-se a magnitude de valores de massa
molar, observa-se que para o polietileno tem-se valores de até 150.000 g/mol, enquanto no PTT o
máximo é de 28.0000g/mol. Com cadeias mais longas, se tem uma maior densidade de emaranhados e,
assim, uma menor capacidade de cristalização.
Estrutura molecular
é regular?
sim não
grupos alta
volumosos polaridade
não sim não sim
resfriamento
semicristalino resfriamento
amorfo
lento brusco lento brusco
Figura 4.5. Resumo dos principais efeitos moleculares na cristalizabilidade dos polímeros, elaborado pelo
autor.
3
Ver estruturas químicas do PET e do PEA na Tabela 3.1.
78
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 4.6. Relação entre massa molar e cristalinidade para o poli(trimetileno tereftalato) e polietileno.
Dados adaptados de (Chen et al. 2007) e (Tränkner et al. 1994).
Polaridade. A cristalização resulta em maior empacotamento molecular, com maior aproximação entre
os segmentos moleculares. Moléculas regulares e polares, como as do poli(tetrafluoretileno), do
poliacetal e de algumas poliamidas, são altamente cristalizáveis. Por outro lado, quando estruturas
irregulares são combinadas com elevada polaridade, pode haver alguma cristalização. É o caso do
poli(álcool vinílico) e do PVC que, mesmo atáticos, podem atingir ainda 10-15% de cristalinidade, uma
vez que a alta polaridade favorece o ordenamento cristalino e, ao mesmo tempo, os grupos presentes
não são volumosos. Nesses casos, os cristais formados tendem a possuir um elevado grau de
imperfeições.
Como a polimerização, em geral, produz uma diversidade de tipos moleculares, com uma
distribuição de tamanhos de cadeia, presença de defeitos químicos, taticidade variável, ramificações,
etc., as moléculas poliméricas possuem uma distribuição de cristalizabilidade. Isso resulta em um
processo de cristalização heterogêneo, com os segmentos mais regulares cristalizando primeiro e de
forma mais perfeita, enquanto que regiões menos cristalizáveis tenderão a segregar para cristalizaram
posteriormente. Além de consequências para a cinética de cristalização e morfologia, essa
heterogeneidade também afeta a fusão do material, que ocorre em uma faixa larga de temperaturas.
Essas consequências serão abordadas posteriormente, neste e no próximo capítulo.
Uma vez que a cristalinidade tem relação direta com as propriedades do polímero, a sua
manipulação é uma das rotas mais importantes para a obtenção de produtos com propriedades
79
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
controladas. Nesta seção iremos exemplificar dois casos importantes mercadologicamente: (i) o
polietileno e os seus tipos e (ii) os copolímeros ao acaso de propileno.
Os dois principais tipos de polietileno são o de alta densidade (PEAD) e o de baixa densidade
(PEBD), cujas propriedades características estão exemplificadas na Tabela 4.2. É sempre bom lembrar
que as propriedades dos materiais poliméricos devem ser consideradas com certa reserva uma vez que
variam significativamente conforme o grade, formulação, processamento, etc. Os valores reportados na
Tabela 4.2, portanto, devem ser entendidos apenas como exemplificação. O PEAD, com sua estrutura
molecular essencialmente linear é mais cristalizável do que o PEBD, que tem cadeias ramificadas. As
consequências nas propriedades dos dois tipos basicamente refletem as diferenças na cristalinidade
obtida. Quanto mais cristalino, maior o empacotamento molecular, resultando em produtos mais
rígidos, com maior resistência à tração e mais resistente quimicamente. Por outro lado, as regiões
amorfas conferem maior capacidade de deformação e, assim, contribuem para uma maior resistência
ao impacto.
4
HDT é heat deflection temperature, ou temperatura de deflexão ao calor. Na prática, significa a temperatura
máxima que um produto pode suportar, com pouca deformação, sob efeito de uma tensão. Trata-se uma
propriedade considerada arbitrada, cujo procedimento para determinação pode ser obtido aqui. Trata-se de um
parâmetro muito utilizado pela indústria no desenvolvimento de grades, formulações e em situações de projeto,
mas pouco aceito no meio científico. Esse parâmetro será descrito com maiores detalhes na seção 5.5.3.
80
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Com relação às temperaturas de transição vítrea e de fusão, também mostradas na Tabela 4.2,
observa-se que os valores são bastante diferentes, apesar de a unidade repetitiva ser a mesma para os
dois materiais. No caso da Tg, a presença de ramificações no PEBD causa um ancoramento nos pontos
de conexão com a cadeia principal, elevando a rigidez da cadeia de modo semelhante a um grupo lateral.
Note que a maior rigidez das cadeias de PEBD em relação ao PEAD não se reflete em maior rigidez do
produto (maior módulo de elasticidade) pois este depende também do grau de cristalinidade. Essa maior
rigidez molecular do PEBD, que eleva a sua T g em relação à do PEAD, também não causa um efeito
semelhante na temperatura de fusão – e esta é uma importante exceção aos fatores que afetam T g e Tm,
discutidos no capítulo 3. A menor Tm do PEBD em relação ao PEAD é atribuída à formação de cristais
mais imperfeitos pois as ramificações distorcem o empacotamento cristalino. Cristais imperfeitos são
instáveis e fundem mais facilmente.
Comparando os dados mostrados na Tabela 4.2 nota-se claramente que os dois tipos de
polietileno possuem propriedades extremas: o PEAD muito mais rígido e com menor tenacidade,
enquanto o oposto é observado para o PEBD. A questão que se coloca é: e se quisermos propriedades
intermediárias, ou seja, um balanço entre tenacidade e rigidez? Considerando que as propriedades são
uma consequência da cristalinidade, o caminho seria a utilização de um polietileno que cristalize em
nível intermediário. Como nesse exemplo, o fator “controlador” da cristalização é a presença de
ramificações, o caminho para obter um polímero com cristalizabilidade intermediária seria a síntese de
um polietileno com ramificações menos intensas, mas presentes. O problema para atingir esse objetivo
é que a polimerização do eteno para obter o PEBD é feita em alta pressão e temperatura, o que torna a
síntese pouco seletiva, ou seja, não se tem muito controle sobre as ramificações formadas. Para o PEAD,
a síntese é em baixa pressão e temperatura, com catalizadores estereo-específicos (tipo Ziegler-Natta
ou metalocenos), que é bastante seletiva, mas o crescimento da cadeia é essencialmente linear. A
alternativa encontrada para se alcançar esse objetivo foi a adição de comonômeros na síntese do PEAD.
Por exemplo, se o 1-hexeno for adicionado ao reator de polimerização, a estrutura do copolímero se
assemelha à do polietileno com “ramificações” curtas:
81
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Note que o copolímero possui grupos laterais com 4 carbonos, que, sendo aleatoriamente distribuídos,
irão reduzir a cristalizabilidade do material. Quanto maior o teor de 1-hexeno adicionado, maior o
número de “ramificações”. Caso se utilize um comonômero maior (como 1-octeno, 1-deceno ou 1-
dodeceno), as “ramificações” serão também maiores, reduzindo ainda mais a cristalizabilidade das
moléculas do copolímero, com efeito direto nas propriedades. Essa família de copolímeros foi
denominada pela indústria petroquímica como “polietileno linear” (PEL) ou polietileno linear de baixa
densidade (PELBD)5. A influência do tipo e concentração do comonômero na cristalinidade do PE está
ilustrado na Figura 4.7. Note que se teores elevados forem empregados, o material resultante pode não
ser cristalizável, não atingindo os objetivos para esse tipo de proposta. Atualmente, o comonômero mais
utilizado industrialmente é o 1-hexeno, seguido pelo 1-buteno e o 1-octeno, com teores que variam de
5 a 15% (em massa).
5
Isso gera uma certa confusão na terminologia pois o verdadeiro polietileno linear é o PEAD, que possui, de fato,
cadeias lineares. O chamado polietileno linear é um copolímero, mas, como o grupo lateral provém do monômero,
também pode ser considerado como de estrutura linear.
82
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Imagine um material dúctil, mas tão dúctil que no teste de impacto ele não quebra... Tão dúctil que um
novo teste foi desenvolvido especialmente para ele em que se faz um entalhe duplo e, mesmo assim,
muitas vezes ele não quebra durante o teste. Esse material existe e a composição química dele é a
mesma do mais elementar dos plásticos – o polietileno. A diferença é que ele é sintetizado com uma
massa molar altíssima – acima de 1.000.000g/mol, podendo chegar a 10.000.000g/mol. Com tamanhos
moleculares tão elevados, a densidade de emaranhados moleculares é altíssima – e isso justifica as suas
propriedades mecânicas. Outras propriedades de alto interesse são o baixo coeficiente de fricção, alta
resistência ao desgaste e estabilidade química. A grande limitação desse material é a dificuldade de
processamento, como consequência da altíssima massa molar, o que torna a sua temperatura de fluxo
muito alta, acima da temperatura de decomposição. Assim, o PEUAMM (ou UHMWPE), como é
denominado, não é processado pelos métodos convencionais como extrusão, injeção e sopro. A
conformação dele só possível por técnicas como gel spinning (para fibras), compressão (placas) e
extrusão por impacto (tarugos). Nos dois últimos casos, as peças moldadas são posteriormente usinadas
para obtenção do produto final (veja um exemplo aqui).
Além de fibras de altíssima resistência (o principal produto comercial é o Spectra®), o PEUAMM é
utilizado em biomateriais (em juntas e copo acetabular, por exemplo), engrenagens e outras peças
técnicas, revestimentos de silos, etc. O principal competidor do PEUAMM é o poli(tetrafluoretileno) – Teflon®.
O polipropileno é um dos mais versáteis polímeros do mercado, uma vez que possui excelente
balanço de propriedades, boa processabilidade e custo de commodity. A sua configuração comercial é
isotática e atinge um grau de cristalinidade de até 60-65%, o que lhe confere boa rigidez, resistência à
tração e estabilidade ao calor (HDT). Com um percentual relativamente elevado de frações amorfas e
uma temperatura vítrea abaixo da ambiente (~–10°C), o PP deveria ser um material de alta ductilidade.
83
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 4.8. Curvas tensão deformação do polipropileno, ensaiados em várias temperaturas. Dados do
autor, não publicados.
84
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 4.9. Representação ilustrativa (isto é, não baseada em dados experimentais), elaborada pelo
autor, para o efeito do teor de etileno na Tg (a) e cristalinidade (b) do polipropileno.
A Tabela 4.3 exemplifica algumas propriedades obtidas com a inserção do etileno na estrutura
molecular do polipropileno. A menor cristalinidade causa um aumento na resistência ao impacto e
redução no módulo elástico, enquanto que a presença de unidades flexíveis reduz tanto a temperatura
de fusão quanto a de transição vítrea. As principais aplicações do PP copolímero incluem, além de
componentes da indústria automobilística, embalagens de produtos alimentícios, baldes, caixas, tubos
e outros produtos em que a tenacidade e/ou transparência sejam requisitos fundamentais.
6
A indústria petroquímica também produz o copolímero em blocos propileno-etileno, chamado de “heterofásico”,
que tem adquirido importância crescente. Sendo constituído por duas fases, esse copolímero possui duas
transições vítreas.
85
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Pelo que foi discutido nas secções anteriores, não restam dúvidas sobre a importância do grau
de cristalinidade para as propriedades dos materiais poliméricos. Como a cristalinidade obtida depende
da cristalizabilidade das moléculas e das condições de processamento, esse parâmetro pode variar
consideravelmente de grade para grade e de produto para produto. Conhecer essa relação entre a
cristalinidade e as propriedades finais é fundamental para o desenvolvimento de produtos, controle de
qualidade, procedimentos de formulação e até mesmo para as análises de falha quando ocorrerem. O
grau de cristalinidade pode ser determinado pela aferição de uma determinada propriedade que varie
de forma sensível com a presença de cristais. Das diversas técnicas desenvolvidas, as principais utilizadas
são: densidade, difração de raios-X e DSC. Espectroscopia de infravermelho, RMN e métodos indiretos
como permeabilidade e resistividade elétrica também são empregados, mas em menor proporção.
Todos eles utilizam suposições simplificatórias, geralmente com relação ao grau com que defeitos e
regiões desordenadas são levadas em conta na determinação da região amorfa. Os resultados obtidos
por diferentes métodos, em termos absolutos, em geral, não apresentam uma boa concordância quando
comparados quantitativamente. Por outro lado, em termos de tendência sobre uma determinada
influência, as diferentes técnicas apresentam resultados consistentes. Por exemplo, em um estudo sobre
o efeito do índice de isotaticidade sobre a cristalinidade de um polímero vinílico, os diferentes métodos
diferem nos valores absolutos obtidos, mas todos eles indicam a tendência de que quanto mais isotático
for o polímero, maior a sua cristalinidade.
86
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
A fase cristalina é mais densa do que as regiões amorfas devido ao empacotamento molecular,
consequência da ordenação. Quanto maior a densidade do material polimérico, maior o seu grau de
cristalinidade, e isso pode ser quantificado pela regra das misturas – considerando que um polímero
semi-cristalino é uma mistura de duas fases:
𝜌 = 𝜌𝑐 . 𝑋𝑐 + 𝜌𝑎𝑚. (1 − 𝑋𝑐 ) (4.1)
onde , c e am são as densidades da amostra, das fases cristalinas e amorfas respectivamente.
Rearranjando a Equação 4.1, tem-se:
𝜌−𝜌𝑎𝑚
𝑋𝑐 = 𝜌 (4.2)
𝑐 −𝜌𝑎𝑚
As densidades dos cristais e das regiões amorfas são valores fixos e são encontrados na literatura para
os polímeros comerciais (Brandrup et al. 2005) e alguns exemplos são exemplificados na Tabela 4.4.
Evidentemente, quanto maior for a diferença de densidade entre as duas fases, maior a precisão do
método. De acordo com a Equação 4.2, conhecendo-se as densidades das duas fases, a cristalinidade
passa a depender apenas da densidade determinada experimentalmente, o que pode ser feito por 3
principais técnicas:
Método de flutuação (ASTM D-792). Pelo princípio de Arquimedes, o corpo de prova afundado em um
líquido de densidade conhecida causa uma força de empuxo que depende de sua densidade. O
procedimento experimental é bastante simples, necessitando apenas de uma balança analítica (precisão
de, pelo menos, 0,0001g). O procedimento completo está descrito na norma citada e o arranjo
experimental pode ser conferido aqui, que é utilizado em corpos de prova retirados de peças moldadas.
Método do picnômetro (ASTM D-854). Método adequado para amostras em pó ou granulada, em que
um dispositivo de vidro (picnômetro) é utilizado para determinar o volume ocupado por uma
determinada massa de material, conforme mostrado aqui. Novamente, a norma completa deve ser
consultada para detalhamento. Esse artigo mostra procedimento detalhado para determinação.
Coluna gradiente (ASTM D-1505). É o mais trabalhoso dos métodos citados, requerendo um longo
tempo para estabilização térmica e de vibração. Consiste basicamente em uma coluna de vidro contendo
uma mistura de líquidos com diferentes densidades. No interior da coluna são colocadas amostras
(padrões) de densidades conhecidas que flutuam até estabilizarem em uma determina altura. O material
a ser medido, geralmente granulado ou uma pequena amostra retirada de uma peça moldada, é
colocado na coluna e a sua altura relativa aos padrões é utilizada na determinação da densidade. O
equipamento tem custo elevado e, em geral, é utilizado pelas indústrias petroquímicas para controle de
qualidade, pesquisa e desenvolvimento. Veja aqui e aqui exemplos do procedimento.
87
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Tabela 4.4. Valores padrão de densidade das fases cristalinas e amorfas de alguns polímeros. (Ehrenstein
and Theriault 2001)
Apesar de ser um procedimento simples e de baixo custo (com exceção da coluna gradiente), a
determinação da cristalinidade por densidade é bastante precisa, sendo a técnica mais recomendada na
maioria dos casos. No entanto, possui existem importantes restrições: (i) quando a amostra possui
bolhas ou porosidades internas, pois isso reduz a densidade medida, dando a falsa informação de menor
cristalinidade; (ii) quando a amostra contém uma grande quantidade de aditivos, como cargas ou
retardantes de chama. Se forem mais densos do que o polímero, os aditivos irão aumentar a densidade
da amostra, mascarando o valor da cristalinidade correta. Em baixos teores de aditivos isso também
ocorre, evidentemente, mas pode ser de pouca influência e o efeito é proporcional à diferença de
densidades entre os componentes. Um alerta deve ser dado para a escolha do líquido, que deve ser
sempre inerte ao polímero e sem interações físico-químicas. Por exemplo, para polímeros solúveis em
água ou higroscópicos não se pode utilizar soluções aquosas nessa determinação. O método de
densidade se torna ineficiente quando as densidades das duas fases são numericamente muito
semelhantes, como no caso do poli(4-metil-1-penteno) que, inclusive possui a densidade dos cristais
menor do que a da fase amorfa7 – 0,812g/cm3 vs. 0,838g/cm3 (Elias 2008).
7
A explicação para isso é que esse polímero possui grupos laterais volumosos e cristaliza na forma de hélices
bastantes espaçadas, dificultando o empacotamento, mas mantendo a ordem a longas distâncias.
88
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 4.10. Exemplo de DSC de um PET semi-cristalino, com as indicações de transição vítrea e de fusão.
Na figura, a seta no lado superior esquerdo indica a direção das transformações endotérmicas. Assim,
nesta convenção, picos para baixo são endotérmicos e picos para cima são exotérmicos. A direção dos
picos é invertida se a endotermia for indicada pela forma inversa. Como ambas convenções são muito
utilizadas, é preciso indicar a direção da endotermia (ou exotermia). Termograma obtido pelo autor.
Observe no termograma da Figura 4.10 que a transição vítrea mostra-se como uma região de
inflexão, ou seja, apresenta uma alteração na linha base, devido a uma mudança gradual na entalpia, e
não uma mudança brusca na forma de pico, como ocorre na fusão. Assim, enquanto a fusão é uma
transição térmica de primeira ordem, a transição vítrea é de segunda ordem. Ambas são transformações
endotérmicas, isto é, necessitam de energia para ocorrer, já que envolvem a mudança de um estado de
energia mais baixa (menor mobilidade molecular) para um estado
Tg1
com mais alta energia (alta mobilidade molecular). Na imagem ao
Tg
lado tem-se um recorte da região de transição vítrea da Figura 4.10
com a indicação de como a determinação é realizada. Como a Tg2
transição vítrea ocorre em uma faixa larga de temperaturas, o início ou o final da transição podem ser
89
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
de interesse prático conforme o tipo de aplicação. Alternativamente, reporta-se o valor médio entre as
duas temperaturas indicadas. Em um polímero semi-cristalino, a Tg nem sempre é facilmente observada
pois, primeiramente, envolve pouca energia, já que se trata de uma transição de segunda ordem. Além
disso, como é uma resposta apenas das fases amorfas, o percentual dessas fases em um polímero semi-
cristalino é menor do que 100% e, assim, apenas uma fração da massa utilizada durante o teste irá
contribuir para essa transição. Evidentemente, quanto mais cristalina a amostra, maior a dificuldade em
observar a transição vítrea. Por exemplo, suponha que seja feita uma análise por DSC com 6mg de um
polímero 60% cristalino. Nessa amostra, 40% da massa (apenas 2,4mg) irá contribuir para a transição
vítrea, o que é uma massa muito pequena e, como consequência, a inflexão se confunde com a oscilação
da curva (chamado “ruído”), dificultando ou impossibilitando a determinação da T g. De fato, a técnica
mais precisa para terminar Tg é por análise dinâmico-mecânica (DMA), assunto que será abortado na
seção 6.1.6 deste livro.
O pico de fusão da Figura 4.10 envolve uma quantidade de energia absorvida pela amostra para
causar a destruição dos cristais, que é relacionada com o grau de cristalinidade pela equação 4.3:
∆𝐻𝑚
𝑋𝑐 = 4.3
∆𝐻𝜇
onde Hm é a entalpia de fusão da amostra, medida a partir do termograma 8, e H é a entalpia de fusão
dos cristais do polímero em questão, um valor encontrado na literatura. Por exemplo, para o polietileno
H é 290J/g, para o PP é 209J/g e para o PET é 140J/g9.
Nem sempre o pico de fusão é bem definido como o mostrado na Figura 4.10, em que a linha
base antes e após a fusão são coincidentes. Em muitos casos, o termograma na região de fusão tem as
suas linhas de referência não coincidentes, como exemplificado na Figura 4.11, sendo preciso adotar um
procedimento para sistematizar a medida do grau de cristalinidade. O mais comum, é traçar duas
tangentes – uma antes e outra após a transição. Nos pontos aonde as tangentes desviam do
termograma, marca-se como o início e o final da fusão, como ilustrado, determina-se a entalpia nesse
intervalo.
8
Isso é feito com o próprio software do equipamento, devidamente calibrado para essa determinação quantitativa.
9
Os valores de entalpia de fusão dos cristais podem variar bastante conforme a fonte. Por exemplo, para o PP,
valores de 209, 195, 165J/g e outros são reportados na literatura (Varga 1995).
90
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 4.11. Termograma de fusão de uma amostra de polietileno. Termograma obtido pelo autor.
A técnica de DSC tem ganho crescente popularidade, não apenas no meio acadêmico, mas
também nas indústrias – mesmo naquelas de porte médio. Isso tem sido facitado pela redução do custo
de aquisição do equipamento, dado à produção em maior escala. Para a determinação da cristalinidade
por DSC, esta técnica tem a vantagem de se obter outras propriedades do material durante a análise,
como as temperaturas de transição vítrea, fusão, cristalização, etc. Na presença de aditivos e vazios, não
apresenta as limitações observadas na técnica por densidade, a não ser nos casos em que o aditivo sofra
transformações térmicas na faixa de temperatura de fusão do material. Por outro lado, o DSC tem a
desvantagem de a determinação da cristalinidade ocorrer mediante o aquecimento do material, o que
pode causar transformações (como cristalização ou mudança de fase) durante o aquecimento, alterando
a estrutura cristalina e o grau de cristalinidade originais. As fontes de imprecisão nessas medidas recaem
nos erros de pesagem10, na arbitragem do início e final da fusão e nos casos em que a decomposição
ocorre durante ou imediatamente após a fusão11. O procedimento experimental, incluindo a preparação
de amostras, pode ser visualizado aqui e um treinamento online sobre a técnica está disponível nesse
link.
A inflexão na linha base mostrada na Figura 4.10 é a forma mais usual de manifestação da
transição vítrea durante uma análise térmica por DSC. Entretanto, em alguns casos, pode ocorrer um
pico associado a esse ponto de inflexão, conforme exemplificado na Figura 4.12 para o PET. Embora esse
comportamento não seja muito reportado nos livros didáticos, trata-se de um fenômeno recorrente
quando o material possui orientação molecular causada pelo processamento. No exemplo da Figura
10
Como se trata de massas muito pequenas, é necessário se utilizar uma balança com precisão de, pelo menos,
0,00001g.
11
As análises por DSC devem ser feitas sempre em atmosfera inerte, com purga de gás nitrogênio ou argônio,
evitando-se a oxidação do polímero durante a análise. A exceção, claro, é quando se deseja obter informações
sobre a decomposição do material.
91
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
4.12, a chapa de PET foi produzido por extrusão plana seguido de um resfriamento em cilindro
refrigerado (veja o processo aqui). O resfriamento brusco causa o congelamento das moléculas com
orientação preferencial (frozen-in orientation) e, como o PET possui uma baixa velocidade de
cristalização devido aos grupos aromáticos, a estrutura resultante é amorfa e orientada. Durante o
ensaio por DSC, ao atingir a região da transição vítrea, os segmentos moleculares passam a ter maior
mobilidade e, como consequência, tendem a relaxar sua orientação, adquirindo um formato enovelado,
que é mais estável termodinamicamente. Isso está associado a uma mudança endotérmica, que é
registrada no termograma. Efeito semelhante foi observado pelo autor em outros polímeros
processados com orientação molecular e que possuem Tg elevada, como o poli(metacrilato de metila), o
poliestireno e o policarbonato. Polímeros com Tg abaixo da ambiente não apresenta esse efeito pois a
relaxação molecular ocorre logo após o processamento devido à mobilidade das regiões amorfas. A
Figura 4.12 também mostra um pico exotérmico entre a transição vítrea e a fusão que corresponde à
chamada cristalização a frio, que será apresentada na seção 5.4. Na seção 5.3 o uso do DSC durante o
resfriamento será discutido, de grande importância para os estudos de cristalização.
Figura 4.12, DSC de uma amostra de uma chapa de PET obtida por extrusão. Termograma obtido pelo
autor.
A difração de raios-X é a principal técnica para caracterizar o estado cristalino dos materiais,
sendo utilizada para determinar os planos cristalográficos, orientação dos cristais, tamanho dos cristais,
tipo de retículo cristalográfico, etc. Um vídeo mostrando o experimento em laboratório pode ser
conferido aqui. Nos polímeros semicristalinos, o difratograma obtido indica particularidades tanto de
um material cristalino, com os picos característicos do sistema cristalográfico, quanto de um produto
92
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
amorfo, com uma banda difusa (ver Figura 4.1). O grau de cristalinidade determinado por esta técnica
está relacionado com a proporção entre as respostas das duas fases:
𝐴𝑐
𝑋𝑐 = 𝐴 (4.4)
𝑐 +𝐴𝑎𝑚
Onde Ac e Aam são as áreas correspondentes às duas fases, conforme ilustrado na Figura 4.13. O método
baseia-se na separação entre as duas contribuições e, assim, a linha divisória entre elas é de fundamental
importância para a precisão das medidas. Existem alguns procedimentos para isso, incluindo: (i)
realização de um experimento com o polímero isento de cristais para obter o difratograma da curva
amorfa. Com esse formato, faz-se a escala correspondente até atingir a base dos picos cristalinos. Esse
procedimento só é viável quando for possível obter um material totalmente amorfo e, ao mesmo,
tempo, ele se mantiver assim durante a fase pós-moldagem e experimentos – o que nem sempre é
possível. (ii) Através da deconvolução das curvas correspondentes aos picos e determinação de suas
áreas, procedimento realizado através de softwares adequados, como o Mathematica® ou mesmo os
softwares de fabricantes de difratômetros. (iii) Através de um traçado subjetivo, compreendendo as
regiões de vale dos picos, em linhas suavizadas. Isso pode ser feito manualmente ou através de softwares
como o Origin®, como neste exemplo. (iv) Para alguns polímeros, existem procedimentos predefinidos,
com marcações indicando algumas posições no traçado da linha de separação, como para o caso do
polipropileno (Weidinger and Hermans 1961).
Figura 4.13. Exemplo de um difratograma do polipropileno, mostrando as respostas das duas fases
presentes. Difratograma obtido pelo autor.
93
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
também se obtém outras informações sobre o material, como mencionado acima. O custo do
equipamento é muito alto, limitando o seu uso praticamente em instituições acadêmicas e de pesquisa
e desenvolvimento.
Simplicidade
Baixo custo de equipamento (exceto
Imprecisão quando existirem bolhas ou
coluna gradiente)
porosidades
Densidade Alta precisão
Pode ser inviável em grandes
Rapidez
concentrações de aditivos
Adequado para todos os formatos de
amostras
Grande versatilidade do experimento, O aquecimento da amostra pode
com vários parâmetros alterar a estrutura cristalina do
DSC determinados material
Pode ser utilizado com aditivos, desde Certa imprecisão na determinação dos
que sejam inertes termicamente limites de fusão
Outros parâmetros estruturais podem
Alto custo de aquisição e manutenção
ser determinados
do equipamento
Pode ser de boa precisão se linha de
Difração de Certa imprecisão na separação entre
separação entre as fases for traçada
raios-X frações amorfas e cristalinas
de modo sistemático
Determinação dificultada com altos
Ensaio realizado sem aquecer a
teores de aditivos
amostra
94
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
(a) (b)
Figura 4.14. Exemplo de esferulitos de poli(etileno sucinato) (Wu et al. 2014) e representação
esquemática de um esferulito polimérico (McCrum et al. 1997).
Existem basicamente duas teorias para explicar a disposição das cadeias macromoleculares nos
cristais poliméricos: a teoria da micela franjada e a teoria dos cristais de cadeia enrolada. Em ambas, a
95
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
dimensão do cristalito (pequeno cristal que representa as regiões ordenadas) na direção da cadeia é
muito pequena em comparação com o comprimento total da molécula estendida, de modo que a
continuidade da estrutura ocorre pois as moléculas participam de mais de um cristalito. Essas são as
chamadas moléculas atadoras (tie chains), que mantém os cristais presos entre si e são de extrema
importância para o desempenho mecânico dos polímeros semicristalinos.
A imagem ao lado mostra a representação esquemática da micela franjada, que foi o primeiro
modelo coerente surgido para explicar a coexistência de cristais
poliméricos com regiões amorfas e o padrão difuso de difração de
raios-X observado em polímeros (Figura 4.15). Esses padrões são
geralmente caracterizados por (i) grande alargamento de linha,
indicando a existência de cristais pequenos e imperfeitos e (ii)
difração difusa, indicando a presença de regiões amorfas. Embora
conceito semelhante tenha sido originalmente proposto por Herman (em 1930) para explicar as
estruturas da gelatina e da borracha natural, foi Bryant (em 1947) quem associou esse modelo com a
estrutura dos polímeros semicristalinos, em que os pequenos cristalitos são embebidos em uma matriz
amorfa. No modelo da micela franjadas, as franjas representam o material de transição entre as fases
amorfas e cristalinas e uma cadeia polimérica passa sucessivamente por diversas regiões desordenadas
e por regiões organizadas (micelas).
(a) (b)
Figura 4.15. Imagens de difração de raios-X obtidas pelo método do pó. (a) poliestireno atático (amorfo);
(b) polietileno (semicristalino). (Bower 2002)
Estimou-se, a partir da largura dos anéis do padrão de difração de raios-X, que o tamanho dos
cristalitos não excederia algumas centenas de angstrons. Assim, uma molécula que teria um
comprimento totalmente estendida de até 50.000 Å, por exemplo, poderia participar de até 100
96
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
cristalitos de acordo com o modelo da micela franjada. Por esse modelo, um polímero não seria jamais
totalmente cristalino uma vez que, a medida em que a cristalização progredisse, as porções das
macromoléculas nas regiões amorfas se tornariam sob tensão, impedindo a continuidade da
cristalização. O modelo explica bem o comportamento mecânico dos polímeros como dependente de
uma estrutura com percentuais de regiões amorfas e cristalinas. Explica também a formação das fibras
como um processo de alinhamento molecular e o fato da fusão ocorrer em uma faixa de temperaturas,
devido à existência de cristais de diferentes tamanhos. Sendo um conceito coerente, simples e de grande
facilidade de entendimento, esse modelo teve aceitação absoluta na comunidade científica da época.
Até que chegou o ano de 1957...
12
Muito embora as publicações de A. Keller tenham se tornado as maiores referências neste tema, estudos
anteriores por Storks (1938) foram realizados com a gutta-percha, chegando-se, essencialmente, nas mesmas
deduções de Keller. No mesmo ano de 1957, estudos independentes por Fischer & Naturforschg e Till também
deduziram a existência de cristais lamelares em polímeros (Elias 2008).
97
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
98
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
as dobras, superfícies dos cristais, empilhamento de lamelas, cristais únicos, etc. Como esse tipo de
aprofundamento transcende os objetivos principais deste livro, deixo para o leitor algumas sugestões
clássicas de literatura complementar (Elias 2008; Mandelkern 2002; Bassett 1981; Wunderlich 1976;
Gedde 1995).
Embora as discussões iniciais sobre a teoria mais adequada para explicar a disposição das
macromoléculas em um polímero cristalino tenham sido muito acirradas, atualmente (e já há um bom
99
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
tempo!) existe um consenso de que a teoria da cadeia enrolada é muito mais coerente e compatível com
as evidência experimentais. Esse modelo tem sido aplicado em quase todas as morfologias dos
polímeros, inclusive em casos complexos como os esferulitos. Talvez as únicas exceções sejam os
polímeros de cristalinidade muito baixa, como o PVC, e os cristais de cadeia estendida, em que o modelo
da micela franjada parece ser mais adequado.
Deduzidas a partir de análises por difração de raios-X e com base nos ângulos e comprimentos
das ligações químicas cadeia principal, as células unitárias dos polímeros não diferem em princípio das
existentes nos compostos usuais, de baixa massa molar. As células unitárias representam a estrutura
cristalográfica de um material, que possui ordem a longas distâncias, de tal forma que se constituem na
menor representação do cristal. Assim, qualquer forma estrutural pode ser descrita como um conjunto
de células unitárias, que são formadas por vários átomos e possuem dimensões estritamente definidas,
que são os parâmetros da célula. Caso o leitor não tenha familiaridade com essa área, sugere-se uma
consulta aos livros de ciência de materiais como, por exemplo, (Calister and Rethwisch 2016).
Células cristalinas de qualquer polímero semi-cristalino podem ser descritas de forma similar ao
polietileno, citado acima. Entretanto, cadeias lineares com substituintes laterais (como o polipropileno
e o poliestireno) não cristalizam na conformação zig-zig, especialmente quando os substituintes são
volumosos, mas sim na conformação helicoidal (ver seção 2.4) pois, assim, possibilita uma melhor
acomodação dos átomos no cristal. O passo da hélice nesses materiais pode conter um diferente número
100
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Assim como ocorre em alguns compostos de baixa massa molar, os polímeros são caracterizados
por polimorfismo, ou seja, podem formar cristais em sistemas cristalográficos diferentes conforme as
condições ou composição, e alguns exemplos estão mostrados na Tabela 4.6. Por exemplo, a forma
cristalina mais comum para o polipropileno é a monoclínica, mas quando cristalizado sob cisalhamento
e em determinada faixa de temperaturas, a fase hexagonal predomina. Na presença de determinados
aditivos, que atuam como agentes nucleantes heterogêneos, o PP pode formar cristais monoclínicos ou
hexagonais. Por outro, moléculas de PP menos regulares e com baixa massa molar formam também a
fase triclínica. Transições entre as várias formas polimórficas podem ocorrer, tanto por ação de uma
força externa ou por mudança de temperatura. Por exemplo, o estiramento a frio do polietileno altera
as dimensões da célula unitária, para a=8,09Å e b=4,79Å, e pode haver também mudança do retículo
cristalográfico – de ortorrômbico para monoclínico. As várias formas cristalográficas afetam as
propriedades físicas e mecânicas desses materiais, como mostra o exemplo da Figura 4.17 para o PP. Por
fim, vale observar que, assim como ocorre com os cristais convencionais, os cristais poliméricos também
possuem defeitos diversos, como os de ponto ou de linha, sendo bastante influenciados por
imperfeições químicas na cadeia como ramificações, desvios de síntese, sequências atáticas, etc.
Tabela 4.6. Exemplos de sistemas cristalográficos em que alguns polímeros comerciais cristalizam (Elias
2008; Pearson and Sperling 2019).
Unidades
Sistema Conformação Densidade do
Polímero repetitivas por
cristalográfico molecular cristal (g/cm3)
célula unitária
Ortorrômbico 2 1,000
Polietileno Zig-zag
Monoclínico 2 0,998
Monoclínico 12 0,936
PP isotático Hexagonal 18 Helicoidal 0,922
Triclínico 12 0,939
PP sindiotático Ortorrômbico 8 Helicoidal 0,930
101
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
0
Monoclinico Hexagonal
Tipo de célula unitária
Figura 4.17. Efeito da estrutura cristalográfica na resistência ao impacto do polipropileno (Tjong et al.
1996).
Apesar das células unitárias serem a constituição básica de qualquer cristal e, portanto, das
morfologias ocorrentes, na maioria das vezes os estudos da relação entre a estrutura e propriedades dos
polímeros, cinética de cristalização, recozimento, etc., são realizados considerando formações
superiores, como as morfologias lamelares e esferulíticas.
Os cristais únicos lamelares são unidades monocristalinas, ou seja, são compostos apenas por
células unitárias coincidentes umas com as outras e que mantém um paralelismo periódico nas direções
apropriadas. Fisicamente, se apresentam como o mostrado na Figura 4.16, que representou o marco da
teoria da cadeia enrolada, e são obtidos em condições muito especiais, como soluções diluídas
(concentração de polímero menor do que 1%) e em temperaturas elevadas (próximo da própria
temperatura de fusão do material). Os cristais lamelares, que são elementos estruturais primários,
podem ser arranjados entre si para formar uma grande
diversidade de formas morfológicas mais complexas dos
polímeros semi-cristalinos. Isso ocorre em situações menos
propícias para a formação de cristais únicos, como em soluções
mais concentradas ou em temperaturas de cristalização mais
baixas. Exemplos dessas formações são os cristais piramidais,
“shish-kebab” (ver imagem ao lado) , axialitos, dendritos, etc.
(Woodward 1989). Na imagem mostrada do shish-kebab se
observa um tronco central, que é formado por cristais de cadeia estendida e cristais lamelares que
crescem em direção perpendicular ao núcleo central.
102
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Um caso especial são os cristais únicos fibrilares, com a aparência de fitas ou fios, formados em
condições que impedem a formação de lamelas, quais sejam: altas taxas de evaporação do solvente em
soluções de concentração moderada ou pelo resfriamento a partir do melt. Nesses cristais o crescimento
cristalino ocorre predominantemente em uma direção cristalográfica e as cadeias são perpendiculares a
eixo maior do cristal, semelhante aos cristais lamelares, mas com comprimento maior do que a largura
e espessura. As estruturas fibrilares são a base principal de constituição dos esferulitos, que serão
descritos a seguir.
4.4.4. Esferulitos
Embora do ponto de vista científico os cristalitos sejam as unidades estruturais mais importantes
pois são a base de formações mais complexas, a entidades morfológicas chamadas esferulitos (o termo
significa “pequenas esferas”) são de muito maior interesse prático pois são obtidos a partir de condições
mais usuais, inclusive por técnicas de processamento industriais. Além disso, a morfologia esferulítica
tem uma influência muito mais direta nas propriedades mecânicas e óticas dos polímeros semi-
cristalinos.
Os esferulitos são estruturas compostas por lamelas cristalinas que crescem radialmente em 3
dimensões a partir de um núcleo comum e são conectados entre si por segmentos moleculares – as
cadeias atadoras. Assim, representam um conjunto de unidades cristalinas e não um só cristal. As
dimensões finais alcançadas dependem fortemente das condições de cristalização, podendo variar de
poucos micrômetros até alguns centímetros. Na maioria dos polímeros, entretanto, os esferulitos não
excedem 100m de diâmetro nas condições normais de processamento. Conceitualmente, as estruturas
complexas dos esferulitos são formadas por elementos básicos (como células unitárias e cristalitos) e
intermediários (como os cristais lamelares), caracterizando uma hierarquia estrutural conforme a
representação esquemática da Figura 4.18.
103
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Os esferulitos são facilmente observados através da microscopia ótica de luz polarizada (ver
secção 4.4.6), exibindo o padrão característico de cruz de malta (Figura 4.14), com áreas birrefringentes
circulares. São formados sob condições de alta viscosidade ou de grande saturação do meio, ou seja,
quando o polímero cristaliza a partir do estado fundido (melt) ou a partir de soluções concentradas. A
formação da estrutura ocorre a partir de 3 estágios:
nucleação;
crescimento, ou cristalização primária;
cristalização secundária.
entretanto, o núcleo é heterogêneo, se formando a partir de superfícies sólidas presentes no melt, como
impurezas, pigmentos, cargas e outros aditivos, resíduos de catalisador ou de substâncias adicionadas
propositadamente para acelerar a etapa de nucleação – os chamados “agentes nucleantes”. Quando a
nucleação ocorre de forma heterogênea tem-se, como consequência, um maior número de núcleos, o
que reduz o tamanho médio dos esferulitos e isso tem grande influência nas propriedades mecânicas e
até nas propriedades óticas. Mesmo semi-cristalino, os polímeros com esferulitos pequenos podem ser
translúcidos ou mesmo transparentes, o que pode ser altamente atrativo em determinadas aplicações,
como em embalagens alimentícias, por exemplo. O uso de agentes nucleantes será abordado com
maiores detalhes na seção 5.2.
Após a nucleação, com o núcleo consolidado e, assim, menos imune a ser destruído pelo
movimento térmico, tem-se início à cristalização primária, que é o crescimento radial do esferulito na
forma de estruturas lamelares ou fibrilares,
conforme a representação esquemática ao
lado (Chan and Li 2005). A estrutura interna
do esferulito, portanto, é composta por
elementos lamelares ou fibrilares, que podem também ser denominados “cristalitos”, e por regiões
desordenadas entre os cristalitos (ver a representação esquemática da Figura 4.14). Considerando que
as cadeias poliméricas são muito grandes e, como consequência, partes dessas cadeias (segmentos)
podem participar simultaneamente de várias formações cristalinas, os cristalitos são mantidos unidos
por moléculas que fazem parte de vários cristais – as cadeias atadoras (tie-chains). Quando o esferulito
atingem o tamanho suficiente para se encontrar (como já mencionado, o tamanho depende do número
de núcleos formados), as lamelas de esferulitos adjacentes que se encontram atravessam os contornos
dos esferulitos, preenchendo algumas regiões no interior deles que ainda não tinham sido cristalizadas.
Assim, os contornos dos esferulitos ficam distorcidos e a estrutura assume a forma de um poliedro e não
de uma esfera (Figura 4.14). A Figura 4.19 mostra esferulitos em estágios variados de crescimento, com
alguns ainda na forma esférica e outros com o formato poliédrico consolidado. As regiões de cor lilás na
imagem, não preenchidas com esferulitos, são frações ainda
completamente amorfas, no estado de melt. Um vídeo mostrando
o crescimento esferulítico com detalhes pode ser visto aqui.
Observe a partir da posição 2min25seg no vídeo que se visualiza
claramente o crescimento na forma fibrilar na periferia dos
esferulitos. No final do crescimento, todo o corpo do material
estará preenchido com esferulitos. Observa-se também na Figura
4.19 que existem esferulitos de diferentes tamanhos, uma vez que tiveram os núcleos consolidados em
diferentes tempos e, além disso, alguns tiveram o crescimento restringido pelo contato com esferulitos
105
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
adjacentes. Um outro vídeo, produzido com aumento menor e, portanto, uma visão mais ampla dos
diferentes momentos em que os esferulitos são nucleados está mostrado aqui.
Figura 4.19. Microscopia ótica de luz polarizada do polipropileno, obtido em estágios intermediários de
cristalização (Rabello 1996).
Com o encontro dos esferulitos tem-se o fim da cristalização primária e o início da chamada
cristalização secundária, demonstrada ocorrer durante algum tempo após o esferulito já formado. Essa
etapa ocorre no interior do esferulito, na região inter-lamelar, através da cristalização de segmentos
moleculares menos cristalizáveis como, por exemplo, mais imperfeitos ou que se encontram em maior
nível de emaranhados moleculares. Esta etapa só é possível ocorrer se o material estiver acima de sua
temperatura de transição vítrea, uma vez que a cristalização envolve a mobilidade das cadeias
poliméricas. A cristalização secundária pode ser completada alguns minutos após a cristalização primária
ou pode transcorrer durante horas ou dias. Essa escala de tempo está relacionada com a taxa de
cristalização do material, que depende de fatores como flexibilidade molecular, temperatura,
regularidade, etc. Uma vez que a cristalização secundária aumenta o grau de perfeição do material, isto
é, o seu grau de cristalinidade, as propriedades mecânicas podem ser alteradas durante esse processo.
Esse fato tem grande implicação prática, por exemplo, no controle de qualidade industrial em que o
tempo transcorrido entre o processamento e os testes mecânicos de qualidade causa alteração nas
propriedades do produto. Outra consequência relevante é na relação entre produtor e cliente. Se por
exemplo, a indústria de processamento realiza os testes mecânicos de qualidade logo após o
processamento e a empresa contratante faz a sua inspeção de qualidade após dias ou semanas da
produção, os resultados podem ser diferentes caso a cristalização secundária seja significativa e ocorra
lentamente durante a armazenagem.
106
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
A cristalização secundária também tem influência nas dimensões dos produtos uma vez que a
sua ocorrência implica em contração adicional, o que pode comprometer a precisão dimensional no caso
de peças técnicas que serão montadas em dispositivos contento vários componentes de encaixe. Se isso
ocorre, o projeto do componente deve contemplar a contração adicional e/ou a composição ou mesmo
o procedimento de processamento devem ser ajustados para que o máximo de cristalização ocorra
durante a moldagem como, por exemplo, pelo uso de agentes nucleantes ou por um ciclo de
resfriamento mais prolongado. No caso de polímeros que possuam uma temperatura de transição vítrea
acima da ambiente, como muitas poliamidas e poliésteres, a cristalização secundária pode ocorrer
durante o uso do artefato. Por exemplo, um componente interno de um produto eletrônico produzido
em PA6 (Tg~50°C) pode completar a sua cristalização durante o uso nesse ambiente aquecido, resultando
em contração adicional da PA6. Por essa razão, algumas indústrias adotam um procedimento de
recozimento, que consiste em aquecer o produto em estufa por tempo e temperaturas pré-
determinados, acelerando a cristalização secundária e, assim, evitando alterações durante o uso do
componente. Alguns dados estão mostrados na Figura 4.20, indicando que aumento na resistência do
material está intimamente associado com o incremento no grau de cristalinidade. O procedimento de
recozimento pós-moldagem também pode ser realizado com o objetivo de aliviar as tensões internas
causadas pelo processamento, e um exemplo de equipamento industrial está mostrado aqui.
Figura 4.20. Efeito do tempo de recozimento a 60°C na resistência à tração do polipropileno. O gráfico
interno mostra a evolução na cristalinidade (Rabello 1989).
107
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Na secção anterior ficou claro que os esferulitos são morfologias complexas, formadas por
elementos intermediários, e não são completamente cristalinos. A menos que o grau de cristalinidade
seja muito baixo, o volume de um material é completamente preenchido com os esferulitos e, assim, o
grau de cristalinidade do esferulito é igual ao do polímero. Como a cristalinidade dos polímeros é sempre
menor do que 1, conclui-se que há um volume de material amorfo no interior do esferulito, que pode
ser na forma de: (i) falha de entrada das cadeias de volta às lamelas para formar as dobras, gerando
“loops”; (ii) moléculas atadoras entre os cristais; (iii) material amorfo nas regiões interlamelares e (iv)
defeitos no interior dos cristais.
A representação da estrutura esferulítica mostrada na Figura 4.14(b) indica que as regiões entre
os cristais lamelares são regiões amorfas e que existem conexões entre os cristais, que são compostas
por moléculas atadoras. As conexões interlamelares (ou intraesferulíticas) foram demonstradas em
muitos experimentos, que geralmente envolvem a extração de um segundo componente, co-cristalizado
com o polímero, e um exemplo está mostrado na Figura 4.21(a). Essas conexões visualmente observadas
na imagem são, provavelmente, cristais de cadeia estendida em forma fibrilar, com alguns micrômetros
de comprimento e cerca de 10nm de largura. Há também a possibilidade de haver moléculas atadoras
sem a ordenação na forma de cristal fibrilar.
13
De fato, a cristalização é um dos processos mais utilizados para a purificação de substâncias químicas. Por
exemplo, o açúcar “cristal” é resultado de um procedimento de purificação industrial por cristalização.
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
(a) (b)
Figura 4.21. (a) Conexões interlamelares (intraesferulíticas), observadas por microscopia eletrônica de
transmissão (Tager 1978). (b) Conexões interesferulíticas, observadas por microscopia eletrônica de
varredura (Gedde 1995).
Os esferulitos também são conectados entre si por cristais fibrilares e moléculas atadoras (Figura
4.21(b). A formação dessas conexões devem seguir os mesmos princípios apresentados acima para o
caso das ligações interlamelares, baseando-se no próprio mecanismo em que ocorre o encontro dos
esferulitos (ver Figura 4.19). Existe um procedimento de dissolução e extração seletiva chamado de
“etching” (Bassett and Patel 1994) que pode ser aplicado para a remoção parcial das frações amorfas,
deixando os esferulitos mais visíveis em uma análise por microscopia eletrônica. Esse tipo de
procedimento deixa os contornos dos esferulitos mais bem definidos, como na Figura 4.21(b),
mostrando a intersecção dos esferulitos e como eles se conectam entre si.
109
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 4.22. Esferulitos de polietileno de diferentes massas molares vistos por microscopia eletrônica de
varredura após etching (Greco and Ragosta 1988).
Existe uma classe especial de termoplásticos que exibem propriedades intermediárias entre os sólidos
ordenados e os líquidos comuns – são os polímeros líquidos cristalinos (LCP). São materiais que, por
sua anisotropia se assemelham aos cristais e, por sua mobilidade, aos líquidos. Podem ser do tipo
termotrópico, caso o estado líquido cristalino ocorra em uma faixa de temperaturas, ou liotrópico,
caso ocorra em solução.
Os polímeros que formam cristais líquidos são os que possuem forma plana alongada com grupos
aromáticos e polares. Exemplos comuns são as poliamidas e poliésteres aromáticos e copolímeros
desses. Durante a fusão (ou dissolução) parte das cadeias poliméricas permanecem ordenadas em
forma fibrilar, que atuam como reforço à sua própria estrutura, isto é, são auto-reforçantes. Isso
ocorre devido à combinação de rigidez molecular com polaridade. O ordenamento no estado líquido
pode ocorrer em vários arranjos, como esmético, nemático, colestérico, etc.
As principais propriedades dos LCP´s combinam elevada resistência mecânica com resistência ao
calor, sendo também considerados como “super plásticos”. Nomes comerciais importantes são o
Vetra® (estrutura química acima) e o Kevlar®, utilizados respectivamente como componentes para as
indústrias eletrônica e automotiva e como fibras de alto desempenho.
110
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
111
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Embora os esferulitos possam ser visualizados por microscopia eletrônica de varredura (Figura
4.21(b)) e por microscopia de força atômica – como na imagem ao lado
para esferulitos de EVA (Chan and Li 2005), o procedimento mais comum
e mais prático é por microscopia ótica de luz polarizada (Figura 4.14 e
Figura 4.19), utilizando polarizadores transversos. Os polarizadores são
acessórios de um microscópio ótico de transmissão, que permitem a
vibração de luz em apenas uma direção. No caso do uso de polarizadores
transversos, os feixes de luz são emitidos em duas direções ortogonais,
possibilitando a observação do efeito ótico. A observação de esferulitos por esse tipo de equipamento
ocorre em virtude da simetria radial de sua estrutura, em que os índices de refração nas direções radial
e tangencial são diferentes, caracterizando a natureza birrefringente. Isso é consequência da orientação
dos eixos cristalográficos das lamelas, que mudam continuamente ao longo da coordenada angular.
Assim, várias regiões de um esferulito transmitem diferentemente a luz polarizada e o resultado é uma
aparência de cruz de malta, cujos braços são paralelos às direções da luz incidente.
A Figura 4.24(a) ilustra esse tipo de efeito, em que as lamelas perpendiculares ao polarizador A,
cuja moléculas se encontram paralelas ao feixe de luz incidente, irão provocar extinção de luz e, assim,
aparecerem escuras. Da mesma forma isso vai ocorrer com as lamelas perpendiculares ao polarizador B.
Assim, as regiões dos esferulitos aparecem escuras nas regiões paralelas aos feixes de luz dos dois
polarizadores e aparecem claras nas demais posições, em que não ocorre a extinção 14. Observa-se na
Figura 4.24(b) que o esferulito mostrado possui grande semelhança com a representação esquemática,
mas notam-se algumas microregiões escuras, presentes em conjunto com as áreas claras e também
pontos claros nas regiões escuras. Acredita-se que isso ocorre devido à orientação não perfeitamente
radial das lamelas juntamente com as ramificações das lamelas que ocorrem durante um crescimento
menos controlado (ver exemplos de ramificações lamelares na Figura 4.25). Os esferulitos da Figura
4.26(a), por exemplo, mostram um padrão de cruz de malta muito mais perfeito do que o da Figura
4.24(b).
14
As imagens originais obtidas pelo microscópio ótico de luz polarizada são em preto e branco, resultado do
fenômeno ótico de extinção. No entanto, é comum o registro de esferulitos coloridos (como nas Figura 4.14 e
Figura 4.19), o que ocorre devido a inserção de filtros de cor (tint plate) no equipamento.
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
(a) (b)
(a) (b)
(a) (b)
Figura 4.26. Imagens de esferulitos de polietileno em crescimento (a) e de esferulitos de PS do tipo anel
(b). (Mirau 2002). (c) Representação esquemática de uma lamela em esferulito do tipo anel.
Além do formato radial, o esferulito também pode cristalizar com uma textura em anel (Figura
4.26(b)). Esse tipo de morfologia também é constituído por cristais lamelares, mas a cruz de malta não
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
é visualizada como na morfologia convencional e sim como anéis alternados escuros e claros. Acredita-
se que esse efeito seja consequência da mudança de orientação de dois dos três eixos cristalográficos
em cada direção radial. Conforme a Figura 4.26(c), o eixo b do cristal é orientado ao longo do raio,
enquanto que a orientação dos eixos a e c variam helicoidalmente com o raio. O mesmo polímero pode
formar esferulitos dos dois tipos, radial e anel, dependendo das condições de cristalização. Esferulitos
do tipo anel são formados, em geral, em temperaturas mais elevadas, enquanto os esferulitos com
textura radial são formados em temperaturas mais baixas, conforme o exemplo da Figura 4.27.
(a) (b)
Figura 4.27. Esferulitos de tri(metileno tereftlato) cristalizados a 190°C (a) e 210°C (b) (Chen et al. 2007).
Estrutura e propriedades do PEAD e do PEBD. Prepare corpos de prova por injeção ou compressão do
PEAD e do PEBD, utilizando as mesmas condições de moldagem. Faça determinações de cristalinidade
pelos métodos disponíveis (densidade, DSC e/ou DRX) e realize ensaios mecânicos de tração e de
impacto. Compare os resultados obtidos com a Tabela 4.2.
Fusão e cristalização do polipropileno. Realize o ensaio de DSC em uma amostra de PP, determinando
o grau de cristalinidade pela entalpia de fusão. Após a fusão, programe o equipamento para resfriar a
uma taxa de 10°C/min e determine o grau de cristalinidade pela entalpia de cristalização. Repita o
procedimento de cristalização a duas outras taxas: 1°C/min e 30°C/min.
Efeito da temperatura do molde na injeção do PET. Realize a injeção de corpos de prova do PET
utilizando duas temperaturas de molde: 10°C e 40°C. Observe a transparência/opacidade obtida em cada
situação. Realize a difração de raios-X, DSC e ensaios mecânicos de tração, relacionando as propriedades
obtidas com o tipo de estrutura.
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Esferulitos de polipropileno. Por compressão, produza filmes finos de PP sob diferentes condições de
resfriamento: (i) choque térmico em água gelada; (ii) resfriamento ao ar; (iii) resfriamento na própria
prensa, apenas desligando o aquecimento. Compare as diferentes morfologias por microscopia ótica de
luz polarizada. Determine a cristalinidade de cada filme por densidade ou DSC.
Cristalização secundária. Produza corpos de prova de PP e PEAD por injeção, utilizando uma
temperatura de molde de 20-25°C. Imediatamente após a injeção, faça a determinação da cristalinidade
por densidade e repita o procedimento (com as mesmas amostras) após 1h, 2h, 3h e 24h. Compare a
evolução da cristalinidade nos dois tipos de polímeros.
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116
.
cinética de cristalização;
agentes nucleantes;
acompanhamento experimental da cristalização;
cristalização a frio e recozimento;
relação do processamento com a cristalização dos polímeros;
a fusão cristalina e a temperatura de fusão de equilíbrio.
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
1
Como o objetivo deste livro está bem mais voltado para o interesse prático na aplicação dos produtos poliméricos
do que propriamente na descrição de teorias e modelos matemáticos, os tópicos aqui envolvidos serão
apresentados de forma objetiva, cobrindo os aspectos mais essenciais. Para necessidades específicas de
aprofundamento, recomenda-se a busca da literatura mais clássica neste assunto como, por exemplo, (Bassett
1981; Wunderlich 1976; Mandelkern 2004).
118
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 5.1. Velocidades de nucleação (A), crescimento (B) e cristalização geral (C) em função da
temperatura.
A Figura 5.2 representa, do ponto de vista termodinâmico, a relação entre a energia livre do
núcleo e o seu tamanho (ou do número de segmentos presentes no núcleo). Se o tamanho do embrião
for menor do que um valor crítico, que é fortemente dependente da temperatura de cristalização, o
processo é termodinamicamente desfavorável, com uma variação de energia livre positiva. A partir desse
tamanho crítico, a incorporação de novos segmentos moleculares resulta em redução na energia livre, e
assim, o embrião torna-se estável e não mais destruído pelo movimento térmico, passando a ser um
núcleo de cristalização consolidado que cresce espontaneamente.
119
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Uma vez consolidado o núcleo, tem-se início ao crescimento cristalino, com a adição de novos
segmentos moleculares ao cristal crescente. O crescimento pode ser uni- bi- ou tri-dimensional,
formando-se respectivamente cilindros (fibras), discos ou esferas. No conceito desenvolvido por
Lauritzen-Hoffman (Lauritzen and Hoffman 1960)3, o crescimento cristalino se dá pela deposição de
curtos segmentos moleculares (“steams”) na face frontal do cristal em crescimento, em um processo
2
Ver significado da temperatura de fusão de equilíbrio na seção 5.5.1.
3
Existem várias teorias para descrever o crescimento de cristais poliméricos do ponto de vista cinético, com
diferentes regimes de crescimento em função da temperatura, mas esse tema está além dos objetivos deste livro.
120
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 5.3. Evolução do raio de esferulito durante a cristalização isotérmica do polipropileno a 125°C
(Rabello and White 1997b).
121
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
122
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
ainda mais longo (e mais limitante para a produtividade) no caso de produtos com elevada espessura,
uma vez que a troca de calor entre o molde e o interior da peça é lenta devido à baixa condutividade
térmica dos polímeros. Caso se retire a peça não completamente cristalizada do molde, poderá haver
empenamento do produto. Ao acelerar a nucleação e, consequentemente, a cristalização do polímero,
os agentes nucleantes possibilitam a abertura do molde e extração da peça em uma temperatura mais
elevada, mas com a cristalização concluída. Isso resulta em uma redução no ciclo de injeção (ou de outros
processos, como a rotomoldagem), economizando alguns segundos no tempo de molde fechado e,
assim, aumentando a produtividade industrial. Por exemplo, ao reduzir o tempo de ciclo de injeção, de
27 para 22 segundos, haverá uma produção adicional em potencial de aproximadamente 260.000 peças
ao ano em cada injetora (considerando um regime de produção de 24h/dia, 360dias/ano). Transforme
esses números em lucro industrial e constate a importância econômica desse efeito...
Uma questão importante com relação à produção e aplicação dos produtos plásticos é a estabilidade
dimensional. Produtos com baixa estabilidade dimensional têm alterações dimensionais e, mais
frequentemente, empenamento. A mudança dimensional refere-se à contração pós moldagem que o
produto apresenta, que é resultado de sua cristalização
secundária. A distorção, por outro lado, pode ser devido à vários
fatores4, mas quando ocorre durante o uso e não logo após o
processamento, está relacionada com as relaxações moleculares
que o material apresenta caso seja submetido à temperaturas elevadas em serviço. Nesse caso, o uso
de agentes nucleantes aumenta a estabilidade dimensional do produto uma vez que (i) a cristalização
estaria mais completa durante o processamento, reduzindo a fração de material ainda apto a cristalizar
durante o uso; (ii) uma estrutura com esferulitos menores e, assim, com maior número de cadeias
atadoras é mais interconectada, reduzindo os efeitos negativos das relaxações moleculares e, além disso,
(iii) os polímeros com nucleantes possuem, frequentemente, maiores grau de cristalinidade, o que já
aumenta a estabilidade dimensional.
4
O empenamento durante (ou logo após) o processamento é um dos mais frequentes problemas industriais, sendo
relacionado com uma grande variedade de fatores, que incluem aspectos de projeto do produto, projeto do molde,
condições de processamento e tipo de material. Isso pode ser previsto pelos softwares de simulação de
processamento e, assim, ser minimizado durante a produção. Veja este vídeo explicativo do fenômeno e das
possibilidades de solução.
124
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Como apresentado anteriormente (Capitulo 4), as propriedades mecânicas dos polímeros semicristalinos
são muito dependentes do número de cadeias atadoras inter-esferulíticas. Um maior número dessas
cadeias é conseguido utilizando grades de alta massa molar ou cristalizando o polímero em uma
condição em que se obtenha esferulitos de pequeno tamanho. A primeira alternativa recai no
inconveniente de resultar em uma viscosidade muito elevada no estado fluidoviscoso, o que pode
inviabilizar o processamento, especialmente nos casos em que se necessita altas velocidades, como na
injeção de paredes finas e longas. A segunda alternativa pode também não ser a ideal pois as condições
de cristalização nas quais se obtém esferulitos pequenos, como altas taxas de resfriamento, restringe o
desenvolvimento da cristalinidade, o que pode não ser desejável em muitos casos em que se requer
elevada rigidez, resistência tênsil ou HDT. O uso de agentes nucleantes força a ocorrência da nucleação
heterogênea, com um maior número de pontos de nucleação. Assim, esferulitos menores são formados
e, frequentemente, se tem também um maior
grau de cristalinidade. Na imagem ao lado a
figura da esquerda é o polipropileno normal
(sem agentes nucleantes) e a da direita é o
mesmo grade, cristalizado sob as mesmas
condições, mas contendo agentes de
nucleação. Observe a grande diferença no
tamanho dos esferulitos – com nucleante, os esferulitos são tão pequenos que são pouco perceptíveis
no aumento utilizado. A alternativa de se incorporar agentes nucleantes em polímeros cristalizáveis para
controlar suas propriedades mecânicas e HDT é considerada ideal uma vez que não tem as desvantagens
mencionadas acima. Com um maior número de cadeias atadoras se tem um produto mais resistente –
tanto na tração quanto no impacto – e, sendo ele mais cristalino, apresentará maiores valores de HDT e
Tvicat.
Os principais agentes nucleantes comerciais são compostos orgânicos à base de sais de ácidos
carboxílicos e os inorgânicos, como cargas minerais. Certos pigmentos também podem ter esse tipo de
atuação. O efeito nucleante obtido depende da combinação polímero-aditivo uma vez que o melt
polimérico necessita “molhar” a superfície sólida do nucleante para este funcionar como ponto de
ancoragem dos segmentos moleculares e, assim, iniciar a cristalização. Como é preciso haver uma
125
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
afinidade química entre o polímero e o agente nucleante, um determinado aditivo pode ser um
excelente nucleante heterogêneo para um determinado polímero, mas não ser efetivo em outro. Em
geral são utilizados em baixas concentrações (0,05 a 0,5%) e são incorporados durante o processamento
através de master batches5. Maiores detalhes sobre esse tipo de aditivo pode ser encontrado na
literatura específica sobre o tema (Rabello and de Paoli 2013; Zweifel 2001).
Os principais polímeros que recebem esse tipo de aditivo são aqueles que apresentam uma
velocidade de cristalização intermediária e, em virtude disso, o aumento na velocidade implica em
efeitos significativos. Por exemplo, o polipropileno e poliamidas têm as suas estruturas cristalinas
fortemente dependentes das condições de cristalização, que ocorre em velocidade relativamente baixa,
o que limita a produtividade industrial. Esses são os polímeros que mais recebem aditivos nucleantes. O
PET também possui as mesmas características e também é aditivado com nucleantes caso de deseje
produzi-lo no estado semicristalino. Por outro lado, polímeros que cristalizam muito rapidamente, como
o polietileno de alta densidade, não apresentam maiores vantagens no uso de nucleantes. De forma
análoga, polímeros que, embora cristalizáveis, possuam uma baixíssima velocidade de cristalização,
como o policarbonato, também não necessitam nucleantes pois a presença destes não o tornaria um
produto semicristalino na escala de tempo do processamento industrial. Na prática o policarbonato é
utilizado no estado amorfo ou com baixíssimo grau de cristalinidade.
Não é incomum o agente nucleante induzir uma determinada fase cristalográfica no polímero.
Por exemplo, o polipropileno, na maioria das situações, cristaliza no sistema monoclínico mas, na
presença de certos aditivos nucleantes, forma também a fase hexagonal. A Figura 5.6 exemplifica esse
efeito, observado por difratogramas de raios-X. Note que a fase está pouco presente no polímero
original mas é predominante no PP com nucleante. Esse tipo de efeito tem algumas consequências
práticas. Para o caso do PP, por exemplo, a fase hexagonal possui menor temperatura de fusão e gera
produtos com maior tenacidade e menor resistência à tração em relação a situações aonde a fase
monoclínica é predominante. Os dados na Figura 5.7 mostram que, mesmo em pequenas concentrações,
o teor da fase hexagonal é significativo, o que altera consideravelmente a resistência ao impacto do
polímero. Observe que, para esse exemplo, a concentração desta fase não aumenta proporcionalmente
com o teor do nucleante e que existe uma forte correlação entre o teor da fase e a tenacidade do
material. O teor de fase (B)é calculada através dos difratogramas como uma simples relação entre as
intensidades dos picos correspondentes (Turner-Jones et al. 1964):
5
Master batch, ou simplesmente master, é um concentrado de determinado(s) aditivo(s) em um polímero-veículo
e são adicionados diretamente no processamento. Em geral são utilizados quando se requer uma concentração
final relativamente baixa de aditivos e, como são previamente dispersos no polímero-veículo, não requerem uma
etapa adicional de mistura dispersiva.
126
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
h
B= (5.1)
h1 h 2 + h 3 + h
onde h é a altura, acima da linha do background amorfo, do pico correspondente ao plano (300) e h1,
h2 e h3 são as alturas correspondentes às reflexões monoclínicas (110), (040) e (130), respectivamente.
Figura 5.7. Efeito da concentração do agente nucleante BCHE30, um composto dicarboxilato, no teor de
fase hexagonal e na resistência ao impacto do polipropileno (Zhao et al. 2008).
127
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Caso uma carga fibrosa tenha ação nucleante, haverá o chamado crescimento epitaxial,
conforme a imagem ao lado (Abdou et al. 2016).
Nesse caso, os pontos de nucleação ocorrem ao
longo do comprimento da fibra e, devido a isso,
os cristais não crescem nas 3 direções e sim na
direção ortogonal às fibras (ver imagem menor)
pois eles se tocam lateralmente. Note na
imagem que o polímero adquire dois tipos de
morfologia: (i) a de crescimento epitaxial,
próximo à fibra e (ii) morfologia esferulítica convencional em posições mais distantes da fibra. Existe,
portanto, uma diferença na orientação dos eixos cristalográficos e pode haver também, a depender da
ação nucleante da fibra, uma diferença no tipo de fase cristalográfica. Observe ainda na imagem ao lado
que a região de crescimento transcristalina está completa, enquanto que as regiões distantes da fibra
ainda não completaram a sua cristalização no instante em que a imagem foi capturada.
Pelo reportado nesta seção, é inegável a grande importância dos agentes nucleantes para
determinados polímeros cristalizáveis – tanto do ponto de vista tecnológico quanto no alcance de
determinadas propriedades estratégicas. Para a aplicação coerente do tipo e teor desse aditivo é
necessário desenvolver uma formulação adequada e, para isso, testar a eficiência do nucleante. Na
prática podem haver grandes diferenças nos efeitos obtidos conforme a natureza do polímero e do
aditivo adicionado. Os principais procedimentos para avaliação do efeito de nucleantes recaem nas
seguintes possibilidades:
Avaliação da textura morfológica, principalmente por microscopia ótica de luz polarizada. Pode-se
comparar o tamanho médio dos esferulitos das várias composições em estudo.
Avaliação da transparência. Como uma das principais consequências da redução no tamanho dos
cristais é o aumento na transparência, esta propriedade pode ser utilizada como critério de
eficiência do agente nucleante. Além dos métodos tradicionais usando espectroscopia no visível,
existem aparelhos mais simples e baratos para medir a transparência de filmes e produtos
moldados. Esse é o método mais utilizado quando o nucleante é utilizado com o objetivo de reduzir
a opacidade dos produtos.
Efeito nas propriedades. O balanço de propriedades, que é função da combinação do grau de
cristalinidade e da morfologia, pode ser um dos critérios a serem adotados, utilizando as medidas
tradicionais de, por exemplo, resistência tênsil e ao impacto, módulo elástico, HDT, etc.
Calorimetria exploratória diferencial (DSC). De todas as opções, esse é método mais prático, rápido
e quantitativo. Avalia-se a temperatura de cristalização durante o resfriamento, conforme o
exemplo da Figura 5.8. O deslocamento do pico de cristalização é consequência da ação do agente
128
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
nucleante, que viabiliza um maior número de núcleos estáveis em temperaturas mais altas, situação
em que a taxa de crescimento é mais significativa (Figura 5.1). A consequência final é uma
velocidade maior de cristalização, que se completa em temperaturas mais elevadas. Com a
crescente utilização do DSC como ferramenta usual de caracterização de polímeros, tanto em
ambientes acadêmicos como em indústrias, essa técnica é a mais difundida para o desenvolvimento
de formulações contendo agentes nucleantes. Um exemplo comparativo da importância do DSC
para diferenciar o efeito obtido com vários tipos e concentrações de aditivos está mostrado na
Figura 5.9. Nota-se uma grande diferença nos resultados comparando-se os três tipos de
nucleantes, em que um deles confere valores mais elevados de temperatura de cristalização com a
adição de quantidades bem reduzidas – apenas uma fração do que seria necessário adicionar do
aditivo menos eficiente. Nesse aspecto, vale também o princípio geral da aditivação de polímeros
em que o mais desejável é se obter o máximo de efeito com a mínima concentração adicionada;
dessa forma se reduz os eventuais problemas de efeitos negativos em outras propriedades, de
interações antagônicas entre aditivos e, por último, mas não menos importante, com maior
tendência da formulação ser mais econômica (mesmo que o aditivo tenha um custo mais elevado
por Kg). Além da temperatura de cristalização, a técnica de DSC também permite outras
determinações, como grau de cristalinidade, transição vítrea, faixa de fusão, temperatura de
decomposição, etc. O DSC também pode ser utilizado para medições cinéticas mais complexas,
tema que será abordado na próxima seção.
Figura 5.8. Termogramas de DSC obtidos durante o resfriamento do polipropileno puro e com talco
(Rabello 1996).
129
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 5.9. Efeito do tipo e concentração de agente nucleante na temperatura de cristalização do PP.
PVCD: poli(vinil ciclo hexano); M 3988: derivado de sorbitol; NA 21 E é um produto comercial com
composição química não revelada (Menyhárd et al. 2009).
130
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
melt para sólido semi-cristalino. Além disso, o módulo também depende de outros fatores, como a
orientação molecular e o tipo de sistema cristalográfico, o que poderia, eventualmente, mascarar os
resultados. Combinando os dois requisitos acima, os principais procedimentos para acompanhar a
cristalização de forma instantânea estão descritos abaixo. Em nenhum dos acompanhamentos
mencionados é necessário determinar exatamente o grau de cristalinidade em um determinado tempo,
uma vez que se considera valores proporcionais à cristalinidade instantânea.
(a) medidas de volume específico. A densidade é o método mais preciso para aferir o grau de
cristalinidade de polímeros (seção 4.3.1) mas a sua determinação instantânea não é fácil. O volume
específico, que é o inverso da densidade e tem um outro princípio para a determinação experimental,
pode ser acompanhado facilmente por métodos dilatométricos, utilizando dilatômetro ou por análise
termo-mecânica. Exemplos de curvas obtidas por este procedimento estão mostrados na Figura 5.10(a)
que, pelo formato característico, são chamadas de curvas em “S”. Nesse tipo de ensaio observa-se que,
a partir de certo tempo, o volume não mais diminui, o que caracteriza o final da cristalização para uma
dada temperatura. A partir desses dados se pode realizar estudos de cinética de cristalização, utilizando
modelos cinéticos, como o de Avrami (ver seção 5.3.2). De modo mais simplificado, se pode também
determinar a taxa de cristalização realizada em uma dada temperatura como o inverso do tempo para
se atingir metade da cristalinidade nesta temperatura (Figura 5.10(b)). Nesse exemplo, em particular, a
cristalização ocorre de modo bastante lento (escala de horas) devido à baixa cristalizabilidade da
borracha natural. Mesmo assim, como a borracha cristaliza, a temperatura de armazenagem deve ser
considerada, pois uma borracha cristalizada tem o processamento dificultado. No exemplo dado, não se
recomenda armazenar a borracha bruta em temperaturas de -40 a -10 °C.
Figura 5.10. (a) Redução do volume em função do tempo de cristalização da borracha natural em várias
temperaturas, determinados por dilatometria. As setas indicam os tempos em que a cristalização está
completa pela metade (t1/2). (b) Taxa de cristalização, determinada como o inverso de t 1/2. (Billmeyer
1984).
131
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
(d) DSC. Sem dúvidas, esse é o procedimento mais amplamente utilizado e que será descrito com
maiores detalhes nas subseções 5.3.2 e 5.3.3.
132
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
133
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Podem ocorrer situações em que o crescimento não ocorre de forma linear durante toda a
cristalização, conforme mostra o exemplo da Figura 5.13. Neste caso, existe linearidade no crescimento
esferulítico até um determinado tempo e, a partir deste, um desvio é claramente observado antes que
ocorra o encontro dos contornos dos esferulitos. Esse tipo de desvio não é raro acontecer, tendo sido
registrado como resultado da presença de um segundo polímero, não cristalizável, como componente
de blenda (Canevarolo and Candia 1994) ou outras impurezas que são segregadas durante a cristalização
para a periferia dos esferulitos (Calvert and Ryan 1984). No final do processo de cristalização a
concentração dessas impurezas pode ser significativa a ponto de alterar a cristalizabilidade do polímero
nessas regiões. Esse efeito também pode causar uma mudança na textura dos esferulitos, como mostra
a Figura 5.13 – em que nas extremidades dos esferulitos observa-se um aspecto “serrilhado”,
supostamente resultado da interferência de uma grande quantidade de impurezas pouco cristalizáveis.
Nesse exemplo, as impurezas foram resultado de um processo oxidativo causado pela degradação do
polímero exposto à radiação ultravioleta. Quando a segregação de impurezas não ocorrer em grandes
proporções, não provoca grandes modificações na textura dos esferulitos nem na taxa de crescimento.
A localização dessas impurezas, entretanto, irá depender das condições de cristalização. Caso a taxa de
crescimento seja elevada e a taxa de migração das impurezas seja baixa, estas ficarão concentradas no
interior dos esferulitos. Caso ocorra o inverso, elas tenderão a serem expurgadas pelos esferulitos em
crescimento e, assim, se concentrarem nos contornos dos mesmos.
.
Figura 5.13. Crescimento esferulítico em uma amostra de PP previamente degradada por radiação
ultravioleta e a textura esferulítica correspondente ao final do processo de cristalização (Rabello and
White 1997b). A seta indica o tempo em que ocorre o desvio da linearidade.
134
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
O acompanhamento da cristalização pode ser feito de forma (i) isotérmica, em que o melt
polimérico é resfriado rapidamente até uma determinada temperatura (constante) e as transformações
são acompanhadas ao longo do tempo; ou (ii) não isotérmica, em que o melt é resfriado com uma taxa
constante e as transformações são monitoradas em função da temperatura. Em ambas as situações, o
método mais utilizado para esse tipo de estudo é o DSC, por ser um procedimento relativamente simples,
de custo acessível e, caso o equipamento e os seus acessórios sejam apropriados, por possibilitar um
bom controle do processo de cristalização.
Xc(t ) Area ( t )
Xct (5.3)
Xc Area total
A partir desses dados, a curva de cristalinidade relativa em função do tempo pode ser construída e, daí,
determina-se a velocidade de cristalização isotérmica
1
como o inverso do tempo necessário para atingir 50%
Relative crystallinity Xrel
0,8
da cristalinidade relativa (ver imagem ao lado). Observe
0,6
135
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Tabela 5.1. Valores de expoente de Avrami para vários tipos de processos de cristalização. (Wunderlich
1976).
1 Heterogêneo Fibrilar
2 Homogêneo Fibrilar
3 Heterogêneo Discoide-esferulítico
4 Homogêneo Discoide-esferulítico
5 Heterogêneo Esferulítico
6 Homogêneo Esferulítico
136
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Assim, plotando-se log t versus log[-ln(1-Xct)] deve se obter uma linha reta com inclinação n e que atinge
as ordenadas no valor log K, como mostra a Figura 5.15(a). A constante de velocidade K é muito sensível
à temperatura de cristalização, como se observa na Figura 5.15(b):
Figura 5.15. Exemplo de uma curva de Avrami (a) e da dependência da constante de velocidade K com a
temperatura de cristalização (b) (Rabello 1996).
É bastante frequente a observação de curvas de Avrami não completamente lineares, como nos
exemplos da Figura 5.16. Esse tipo de comportamento é atribuído a um processo de cristalização que
ocorre em dois estágios – a cristalização primária e a secundária. A cristalização primária é responsável
pela primeira parte da curva de Avrami, ocorrendo até o encontro dos esferulitos. Após essa etapa, a
cristalização continua ocorrendo, mas em velocidade mais baixa – no interior dos esferulitos. Nessas
regiões os segmentos moleculares menos cristalizáveis são os principais responsáveis por esse estágio
da cristalização (Bassett 1981). De acordo com esse princípio, o secundo estágio não altera o tamanho
dos esferulitos e, assim, difere substancialmente do efeito de segregação que altera a velocidade de
crescimento, mostrado na Figura 5.13, embora também seja afetado pela segregação de impurezas e
material menos cristalizável.
137
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 5.16. Cristalinidade relativa em função do tempo para várias temperaturas de cristalização e as
correspondentes curvas de Avrami (Rabello and White 1997b).
138
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
40 50,4 32,9 67 96
Já foi comentado que a etapa de crescimento é iniciada quando o núcleo cristalino atinge um
tamanho crítico e se consolida, e que esse tamanho crítico é menor quando a temperatura for mais
baixa. Esse raciocínio vale também para a cristalização não isotérmica. Se o resfriamento for rápido, em
determinadas temperaturas muitos núcleos subitamente atingem o tamanho crítico e a cristalização
prossegue rapidamente com muitos cristalitos formados simultaneamente. Se o resfriamento for lento,
poucos núcleos se consolidam e, assim, os esferulitos formados têm amplo espaço para o crescimento,
se tornando maiores do que no resfriamento rápido.
Uma observação importante é que, caso se queira fazer uma cristalização isotérmica
submetendo o material no estado fundido até uma certa temperatura, e este material cristalize em
temperatura maior – antes de atingir o equilíbrio térmico na temperatura desejada – o mecanismo foi
essencialmente o de cristalização não isotérmica. De fato, a tendência à cristalização durante o
resfriamento varia significativamente de acordo com a natureza do polímero, definida por sua
cristalizabilidade. A Figura 5.17 faz esse comparativo entre vários polímeros usuais. Nesse ranking, o
poli(tetrafluoretileno), com sua estrutura altamente regular, simétrica e polar, possui maior habilidade
em cristalizar não isotermicamente, enquanto que o PET, com um grupo volumoso na cadeia principal é
o menos propenso desse grupo.
139
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 5.17. Facilidade de cristalização, avaliado por CRC, para alguns polímeros comerciais. CRC significa
“crystallization rate coeficiente”, medido como a inclinação da curva taxa de resfriamento vs.
temperatura de cristalização não isotérmica (Di Lorenzo and Silvestre 1999).
140
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 5.18. Pico de cristalização obtido durante um experimento de DSC (etapa de resfriamento) e os
parâmetros que podem ser deduzidos. Termograma plotado em escala invertida.
Figura 5.19. Pico exotérmico de cristalização obtido por DSC, seccionado para várias temperaturas, e as
curvas em S para várias taxas de resfriamento (Wellen 2002).
O modelo de Osawa considerou que a cristalização não isotérmica é controlada pelos mesmos
mecanismos da cristalização isotérmica e descritos por Avrami, sendo a equação de Osawa definida
como:
exp
K' (5.6)
1 X
rel dT/dt
m
Onde Xrel é a cristalinidade relativa parcial (medida em cada temperatura durante o resfriamento (Figura
5.19), dT/dt é a taxa de resfriamento, K´ é a constante cinética e m o coeficiente de Osawa que, similar
ao coeficiente n, de Avrami, define o tipo de nucleação e crescimento. Linearizando a Equação 5.6, tem-
se:
ln ln 1 X
rel
1
lnK' m.ln
dT/dt
(5.7)
141
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Assim, o gráfico de ln[-ln(1-Xrel)] versus ln [1/(dT/dt)] deve ser uma reta (Figura 5.20), tendo inclinação
m e K´ como interseção no eixo das ordenadas. Cada curva de Osawa da Figura 5.20 representa uma
temperatura especifica de cristalização e os pontos de cada reta correspondem aos dados obtidos com
as diferentes taxas de resfriamento, de modo que, quanto maior o número de experimentos realizados
em diferentes velocidades, mais representativa será a abordagem.
Figura 5.20. Curvas de Osawa, construídas a partir de termogramas obtidos em diferentes taxas de
resfriamento (Wellen and Rabello 2005).
Como já mencionado, para que ocorra a cristalização de polímeros, duas condições devem ser
atendidas: (i) o polímero deve ser cristalizável e (ii) as condições oferecidas para a cristalização devem
ser apropriadas. Assim, mesmo polímeros cristalizáveis podem não produzir cristais se, por exemplo, a
taxa de resfriamento durante a moldagem for muito elevada. Nesses casos, mesmo cristalizável, o
produto obtido poderá ser essencialmente amorfo. Alguns polímeros são mais propensos a
manifestarem esse tipo de efeito, como o PET, o PEEK e, em menor intensidade, o PBT, as poliamidas e
poliésteres lineares como o poli(ácido lático) e o poli(hidroxibutirato). São polímeros que contém grupos
aromáticos na cadeia principal, o que limita a mobilidade molecular durante a cristalização, ou que
possuam grupos polares. Em todos eles, têm-se temperaturas de transição vítrea acima da temperatura
ambiente. Durante o processamento por injeção, por exemplo, pode-se utilizar moldes gelados para
obter produtos amorfos ou moldes quentes para produzir artigos semicristalinos. No primeiro caso a
produtividade industrial é muito elevada, enquanto que no uso de moldes quentes a cristalização deve
ocorrer durante o processamento que, sendo um fenômeno de natureza cinética, requer um tempo
maior para ocorrer. Além da questão da produtividade, a escolha da temperatura do molde deve
142
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
considerar outros aspectos, como as propriedades requeridas na aplicação do produto final. Sendo
amorfo, o artefato poderá ser transparente, mais dúctil, menos resistente à tração e com menor
temperatura limite de uso, enquanto que um produto semicristalino teria as tendências opostas. Trata-
se, portanto, de uma escolha que vai além das questões de produtividade e, na prática, as duas opções
são utilizadas.
Considere agora que um polímero cristalizável, como o PET ou o PEEK, foi produzido no estado
amorfo através do resfriamento brusco. Se esse
material (amorfo) for aquecido lentamente
acima de sua temperatura de transição vítrea,
as moléculas adquirem progressiva mobilidade
e podem iniciar um processo de cristalização,
envolvendo nucleação e crescimento. Esse
fenômeno é chamado de cristalização a frio
(ver representação ao lado) e é facilmente
observado visualmente ao aquecer uma chapa
amorfa e transparente de PET, que se torna
maleável acima de 70°C (a sua Tg) e, posteriormente, adquire um aspecto “leitoso” e rígido devido à
cristalização. Por DSC, a cristalização a frio é observada como um pico exotérmico acima da T g (Figura
5.21). Nesse exemplo, o material possui a transição vítrea, a cristalização a frio e a posterior fusão. A
entalpia de cristalização a frio pode ser determinada por DSC, sendo uma medida do percentual de
cristalinidade atingida durante o aquecimento 6. Caso a
entalpia de fusão seja superior à entalpia de cristalização a
frio, isso indica que o material original não era
completamente amorfo e, assim, a entalpia de fusão seria
um somatório da cristalinidade original do material com a
cristalinidade desenvolvida pela cristalização a frio. O
desenvolvimento de uma estrutura cristalina após o
tratamento térmico que causa a cristalização a frio também
é detectado por difração de raios-X, conforme figura ao lado
para o caso do PET (Wellen and Rabello 2005).
6
Utiliza-se o mesmo procedimento para determinação a cristalinidade a partir da entalpia de fusão – é só dividir a
entalpia medida experimentalmente pela entalpia de fusão dos cristais (equação 4.3), um valor padrão para cada
tipo de material.
143
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 5.21. Termograma de DSC durante o aquecimento do PET amorfo, com indicação das transições
térmicas e entalpias (dados do autor).
O fenômeno de cristalização a frio também pode ser estudado pelos procedimentos usuais de
cinética de cristalização isotérmica ou não isotérmica, utilizando os modelos tradicionais como os de
Avrami ou Osawa (Wellen and Rabello 2005; Wellen et al. 2011). A estrutura cristalina formada nesse
tipo de condição tende a ter maior imperfeição quando comparada com a estrutura produzida pela
cristalização a partir do melt, mas, nos dois casos, características como grau de cristalinidade, espessura
lamelar, tamanho dos cristais e perfeição cristalina, irão depender das condições empregadas na
cristalização.
144
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 5.22. Efeito do tempo de cristalização a frio a 80°C no grau de cristalinidade e propriedades
mecânicas do PET (Wellen and Rabello 2005).
145
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
A produção das garrafas de PET ocorre em duas etapas: (1) injeção da pré-forma em molde gelado,
obtendo-se um material amorfo (ver processo aqui); (2) aquecimento da pré-forma entre a Tg e o início
da cristalização a frio ver termograma acima), seguido de estiramento e sopro (ver processo aqui). O
controle da temperatura de aquecimento das pré-formas antes do sopro é parte crucial no processo; se
for muito baixa, a deformação pode ser insuficiente para a formação da garrafa, mas, se for muito alta,
a cristalização a frio ocorre durante esse aquecimento, o que inviabiliza o sopro. Uma das imagens acima
mostra uma pré-forma esbranquiçada, que sofreu a cristalização a frio durante o aquecimento. De fato,
esse é o maior problema em uma fábrica desse tipo, representando a maior parte do refugo industrial.
Em estudos desenvolvidos com participação deste autor (Wellen et al. 2012; Wellen and Rabello 2009),
através de análises de cinética de cristalização isotérmica e não isotérmica, observou-se que a adição de
pequenas quantidades de impurezas reduz a tendência à cristalização a frio do PET, o que confere uma
maior janela de processamento e, assim, reduz os defeitos de fabricação. Essas impurezas, na forma de
moléculas de poliestireno e copolímero SAN, foram chamadas de “anti-nucleantes”, uma vez que
provocam o efeito oposto dos agentes nucleantes em polímeros.
146
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
O processamento quase sempre provoca tensões internas nos produtos, resultado de efeitos
diversos como contração excessiva, pressão de injeção ou de recalque,
orientação, etc. Peças com elevadas tensões de moldagem podem
apresentar problemas em serviço, incluindo fragilidade, empenamento e
baixa resistência ao stress cracking 7. Para esses casos, o procedimento
de recozimento pode ser necessário. No caso de polímeros amorfos ou
muito pouco cristalizáveis, como o poliestireno, o copolímero SAN e o
policarbonato, o recozimento é realizado abaixo da temperatura vítrea (20 a 50°C mais baixo) por
tempos que variam de 30 minutos a algumas horas.
7
Fenômeno em que ocorrem fissuramentos superficiais quando o produto polimérico estiver em contato
simultaneamente com um agente químico agressivo e tensões mecânicas. Esse tipo de efeito é de grande
importância prática e será abordado posteriormente no Capítulo 7.
147
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
O princípio básico do processamento de polímeros consiste em: (1) aquecimento até uma
temperatura acima da temperatura de fluxo; (2) conformar o melt em uma forma pré-determinada; e
(3) resfriar até a sua solidificação:
148
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
149
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
troca de calor no interior do produto ficará cada vez mais difícil (ver esquema representativo na Figura
5.24). Isso resulta em uma estrutura diferenciada entre a superfície (“skin”) e o interior (“core”),
denominada de “skin-core”, em que a pele possui menor cristalinidade e cristais menores e o núcleo é
mais cristalino e com esferulitos maiores – consequências das condições de cristalização em cada local.
Como se trata de um relacionado à baixa condutividade térmica do polímero, essa diferença entre a pele
e o núcleo será maior para espessuras maiores. Evidentemente, ocorrerá uma variação contínua de
morfologia e cristalinidade entre a superfície e o interior e não apenas duas únicas morfologias. Esse é o
segundo efeito do processamento – um gradiente de morfologia ao longo da profundidade, meramente
pelo efeito térmico.
Figura 5.23. Variação da taxa de resfriamento durante o resfriamento da poliamida 6 (Cavallo et al.
2011). A seta indica o sentido da variação da temperatura.
150
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
151
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
8
Existe uma certa complexidade na análise das tensões e fluxos que ocorrem durante o processamento de
polímeros, que corresponde a um tema chamado reologia, de grande interesse para projetistas de moldes e demais
equipamentos de processamento (Bretas and D´Avila 2000; Navarro 1997).
152
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Tensão de cisalhamento
1 2 3 4
Tempo de cisalhamento
Figura 5.26. Representação esquemática da variação da tensão de cisalhamento com o tempo para o
polipropileno. Figura baseada em (Farah and Bretas 2004). Ver texto para o significado da numeração.
A orientação molecular obtida não é uniforme em todo o produto. Em primeiro lugar, existe uma
forte variação com a profundidade. Próximo à superfície, a orientação tende a ser elevada devido ao
congelamento da orientação provocada pelo fluxo cisalhante que atinge o molde refrigerado. Um pouco
abaixo da superfície a orientação é ainda mais alta pois a nova camada de material é submetida um fluxo
elongacional, de maior intensidade do que o fluxo cisalhante. Camadas posteriores tendem a ser menos
orientadas devido ao tempo disponível entre o preenchimento do molde e a solidificação do produto, e
nesse intervalo ocorre a relaxação molecular – pelo menos parcialmente. Se o produto for
suficientemente espesso, as camadas mais ao centro poderão estar com suas moléculas não orientadas.
A Figura 5.27 exemplifica essa influência para o caso do polietileno.
153
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
corresponde ao máximo teor de cristais hexagonais (tipo ), que, no polipropileno, são formados
preferencialmente quando existe uma combinação de cisalhamento com determinada faixa de
temperaturas (Norton and Keller 1985), mas também podem ser formados a partir da presença de certos
agentes nucleantes (Zhao et al. 2008). O teor da fase hexagonal, determinado por difração de raios-X
(equação 5.1) em função da profundidade (também mostrado na Figura 5.28), indica uma grande
heterogeneidade, com ausência desse tipo de estrutura em profundidades abaixo de 600m. Observe a
simetria do gráfico, consequência de similaridade estrutural nas duas faces da amostra.
Figura 5.28. Microscopia ótica de luz polarizada da seção transversal de uma amostra de PP injetado
com 3,1mm de espessura e variações teor fase hexagonal (índice B) ao longo da profundidade (Rabello
1996).
154
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Vale fazer a observação de que a estrutura skin-core com suas diversas camadas de
estratificação, depende de diversos fatores, como condições de processo, tipo de material, massa molar
e espessura do produto, etc., não existindo um padrão válido para
todos os casos. Em algumas situações, morfologias do tipo “shish-
kebab” são observadas em determinadas camadas, como resultado
da combinação de esforços de cisalhamento com a temperatura de
cristalização. Isso é relativamente comum com o polietileno,
exemplificado na imagem ao lado (Liu et al. 2018).
Bons artigos abordaram esse tema da estrutura skin-core de polímeros no passado e, ainda hoje,
são referências obrigatórias, para citar alguns, (Fujiyama 1995; Fitchmun and Mencik 1973; Trotignon
and Verdu 1987; Kantz et al. 1972; Murphy et al. 1988). Por exemplo, o estudo mostrado na Figura 5.31
indica que a fração da camada orientada (somatório da primeira e a segunda camadas a partir da
superfície) é fortemente dependente da temperatura de injeção e da pressão aplicada. Quanto menor a
temperatura, menor o gradiente térmico e, assim, menor o tempo disponível para a relaxação molecular.
O efeito de uma maior pressão é o de inibir a relaxação das cadeias, mantendo uma orientação mais
elevada. O autor sugere que, extrapolando a temperatura de processamento para valores baixos – que
seria a própria temperatura de fusão do polímero – se teria uma fração de material orientado próxima
de 100%.
Figura 5.29. Efeito da temperatura do cilindro de injeção e da pressão de injeção na proporção da camada
orientada no polipropileno. As linhas tracejadas representam extrapolações para a temperatura de fusão
do polímero (Kantz et al. 1972).
155
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
reduzem a pressão exercida na cavidade, com valores máximos próximo ao ponto de injeção e valores
mínimos na extremidade oposta (ver imagem ao lado).
Esse tipo de efeito tem uma grande consequência prática
nas propriedades mecânicas, que variam de ponto a ponto
ao longo de um produto moldado. Em outras palavras, o
comportamento mecânico de uma peça injetada não é
uniforme, muito longe disso. Um exemplo bastante
didático está mostrado na Figura 5.30. Em chapas
injetadas, corpos de prova foram removidos por usinagem em diferentes posições e ensaiados por
resistência ao impacto. Os dados mostram que a tenacidade foi 3 vezes menor em regiões próximas ao
ponto de injeção em comparação com regiões mais extremas. Isso é uma consequência direta dos efeitos
de processamento, especialmente a orientação molecular. As consequências disso são várias, onde,
além de o produto final não ser uniforme, tem influência também em procedimentos de controle de
qualidade e de interação entre fornecedor e cliente. Ciente deste tipo de consequência, é preciso
uniformizar o local da peça que será submetido ao teste mecânico para que a aferição de qualidade
possa ser consistente. Isso também afeta diretamente projetos de pesquisa e desenvolvimento, em que
as variações experimentais poderão ser muito altas se não uniformar a localização e a direção de retirada
dos corpos de prova de uma peça injetada.
Figura 5.30. Resistência ao impacto do PP em corpos de prova retirados de diferentes posições. Baseado
nos dados de (Murphy et al. 1988).
156
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
A orientação dos cristais em um produto também pode ser afetada pelo processamento. A Figura
5.31 mostra uma grande diferença na orientação dos planos cristalográficos do PP de acordo com a
técnica de moldagem. Em peças produzidas por compressão, observa-se uma camada superficial
transcristalina (causada pela ação nucleante da superfície do molde) e uma grande intensidade do plano
(110), enquanto que no produto injetado o plano (040) é mais intenso. Também é possível quantificar a
orientação cristalina através de índices apropriados. Por exemplo, para o PP, o índice A 110 quantifica a
orientação dos plano (110) através da relação entre a intensidade deste plano e os demais planos (Zipper
et al. 1993). A Figura 5.32 mostra que esse índice é reduzido progressivamente com a distância do ponto
de injeção – exatamente o que seria esperado para a orientação molecular (que é muito menos simples
de ser medida).
Figura 5.31. Efeito do tipo de processamento no padrão na morfologia (ao longo da seção transversal) e
no padrão de difração de raios-X (obtido na face principal dos corpos de prova) do polipropileno. Superior:
amostra produzida por injeção; inferior: amostra por compressão (Rabello 1996).
157
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 5.32. Fator de orientação cristalina dos planos (110) do PP em várias distâncias a partir do ponto
de injeção (Rabello 1996).
A depender do design e do tamanho do produto, muitas vezes se projeta um molde com mais de um ponto
de injeção, para facilitar o preenchimento da cavidade. As linhas de fluxo seguem um determinado padrão,
do tipo “fountain”, conforme imagem acima. Nesse exemplo, as duas frentes de fluxo, ao se encontrarem,
formam uma região de solda com reduzida interdifusão entre as frentes, resultado da alta viscosidade da
massa polimérica. No final do preenchimento forma-se também um vértice, chamado de entalhe “V”. O
entalhe V, juntamente com a região de baixa interdifusão e uma orientação molecular desfavorável
(ortogonal ao fluxo) são responsáveis pela redução na resistência mecânica de polímeros contendo linhas de
solda. Existem procedimentos que podem minimizar esse tipo de efeito, que incluem as variáveis de
processamento e o posicionamento dos pontos de injeção para gerar linhas de solda em locais menos críticos.
Em estudos sobre a degradação de polímeros contendo linhas de solda, este autor observou que o padrão de
fissuramento resultante da degradação tem grande semelhança com o fluxo “fountain”, conforme imagem
acima. Postulou-se que a orientação molecular durante o processamento determina a localização e o formato
das trincas geradas durante a exposição, podendo este padrão ser um tipo de impressão digital do que ocorre
durante o processamento (Rabello et al. 2000; Rabello and White 1996). O fissuramento causado pela
exposição é devido à cristalização superficial do material, um fenômeno chamado de “quemi-cristalização”
(Rabello and White 1997a).
158
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 5.33. Termogramas de DSC do PEAD e do PEBD. Dados obtidos por J.E. Silva Neto, PPGCEMAT,
UFCG.
159
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Do ponto de vista termodinâmico, a energia livre de fusão Gm é dada pela expressão
Dessa forma, quanto o polímero apresenta pouca mudança de entropia durante a fusão e os seus cristais
precisam de uma maior quantidade de energia para fundir, a temperatura de fusão é maior. Por
exemplo, estruturas muito aromáticas tendem a apresentar relativamente pouca mudança de entropia
durante a fusão e, como consequência, têm elevados valores de temperatura de fusão. É o caso do PEEK,
com Tm próximo de 340°C.
Nos materiais usuais, a fusão acontece em uma faixa de temperaturas relativamente estreita,
como, por exemplo, o metal índio, que ocorre em um intervalo de 4-6°C. Nos polímeros a faixa de fusão
(diferença entre as temperaturas de início e fim da fusão) é geralmente muito larga, podendo chegar até
a 100°C em alguns casos. A sequência de
imagens ao lado foi registrada durante o
aquecimento de uma amostra de PP
(Rabello 1996), observando-se um
desaparecimento gradual dos esferulitos
presentes. Mesmo na última imagem
ainda se observa alguma birrefringência,
indicando traços de material cristlino.
Em um termograma de DSC (Figura
5.34), o pico de fusão é visualizado como
uma transformação endotérmica, em que os cristais menores e menos perfeitos fundem em
temperaturas mais baixas e os cristais maiores e mais perfeitos em temperaturas mais elevadas. Os
cristais defeituosos requerem menos energia para fundir, pois os defeitos atuam como redutores de
empacotamento, diminuindo a intensidade das forças intermoleculares nos cristais. Os cristais pequenos
têm alta energia superficial em virtude da maior área específica, necessitando menos energia por volume
160
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
para fundir pois a troca de calor é mais eficiente9. Assim, apesar da fusão ocorrer em uma faixa de
temperaturas, convencionou-se indicar a Tm no termograma de DSC como o ponto de máxima
transformação (ver Figura 5.34), e isso correspondente a uma determinada população, predominante,
de cristais.
Figura 5.34. Termograma de DSC de uma amostra de PET, mostrando o pico endotérmico de fusão e a
indicação dos tipos de cristais que fundem em cada faixa de temperatura (elaborado pelo autor).
9
Fazendo uma analogia mais simplista, considere 1Kg de gelo na forma de um bloco único, compacto. Se você
moer um bloco idêntico e comparar o tempo para o gelo derreter nos dois casos, é óbvio que o gelo moído irá
derreter muito mais rápido do que o bloco compacto – consequência de uma maior área superficial.
161
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
(a) Baseando-se na equação 5.10 abaixo, plota-se o inverso da espessura lamelar 1/L vs. Tm e extrapola-
se a reta obtida para 1/L=0 (ou L→∞). A temperatura de fusão de equilíbrio é obtida como a
interseção da reta com o eixo das ordenadas (Figura 5.35).
2𝜎
𝑇𝑚 = 𝑇𝑚𝑜 (1 − 𝐿.∆𝐻𝑒 ) (5.10)
𝜇
onde e é a energia livre superficial e H a entalpia de fusão dos cristais, ambos característica do
polímero, e L é a espessura das lamelas. A energia livre superficial pode ser determinada, na mesma
curva, como a inclinação da reta, que é igual a 2.e. 𝑇𝑚𝑜 /h.
Note que para ambos os métodos é preciso cristalizar isotermicamente o material em diferentes
temperaturas e medir a Tm (convencional) por DSC. Os resultados pelos dois métodos, em geral,
coincidem, mas o segundo procedimento é muito mais prático e rápido pois depende apenas do
equipamento de DSC, enquanto que medidas de espessura lamelar requerem o uso de espalhamento
de raios-X em pequeno ângulo (SAXS), muito menos disponível nos laboratórios de polímeros. A
princípio, também se poderia determinar 𝑇𝑚𝑜 por microscopia ótica de luz polarizada com o acessório de
estágio de aquecimento, observando a temperatura em que os últimos traços de cristalinidade
desaparecem. No entanto, trata-se de um procedimento de baixa precisão uma vez que a medida
depende do aumento utilizado e até da percepção, subjetiva, do analista. Auxílio de medidas óticas,
162
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
como índice de refração, reduzem a subjetividade, mas, ainda assim, o procedimento é pouco preciso
quando comparado com os demais métodos.
Figura 5.35. Métodos para determinação da temperatura de fusão de equilíbrio de polímeros (ver texto).
(a) Durante a cristalização formam-se duas fases cristalográficas, com faixas de fusão distintas. Isso
pode ocorrer, por exemplo, no caso de blendas imiscíveis entre dois polímeros cristalizáveis, ou no
caso de um polímero que cristalize em dois sistemas cristalográficos que possuam diferentes
temperaturas de fusão. Dessa forma, cada fase cristalina terá a sua faixa de fusão característica,
que será detectada por DSC. De acordo com este mesmo princípio, moléculas muito defeituosas
podem segregar durante a cristalização do polímero, formando na cristalização secundária uma fase
muito instável, com menor Tm em relação aos cristais formados na cristalização primária. A
depender da proporção entre os componentes, o pico duplo pode estar bem definido, como na
Figura 5.36, ou se apresentar apenas como um ombro adjacente ao pico principal.
(b) Pode haver reorganização cristalina durante o aquecimento. Por exemplo, se a fase cristalina do
material for instável, ela funde ou recristaliza durante o aquecimento, formando uma fase mais
estável ou com maior espessura lamelar. Finalmente, essa nova fase funde em temperaturas mais
elevadas. Como essa transformação tem uma dependência cinética, o aquecimento realizado
durante o ensaio em diferentes velocidades pode confirmar (ou não) essa hipótese. Por exemplo,
se a intensidade relativa dos picos forem alteradas ao se aplicar uma diferente taxa de aquecimento,
163
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
trata-se, provavelmente, de uma transformação cristalina durante o teste (Varga 1995). Caso a
intensidade relativa do primeiro pico não seja alterada, é provável que duas fases cristalinas
coexistam na amostra.
Figura 5.36. Exemplo de picos duplos de fusão durante o aquecimento do poli(hidroxibutirato) (Wellen et
al. 2015).
Um exemplo do primeiro caso é dado na Figura 5.37, em que uma camada transcristalina de
cristais hexagonais de PP, que crescem epitaxialmente em uma fibra, fundem em temperatura mais
baixa do que os cristais que estão mais distante da fibra. A temperatura de fusão do PP hexagonal é de
~145°C, enquanto que a do PP monoclínico (o mais comum) é de 165°C. Note também na Figura 5.37
que os demais esferulitos têm a sua textura alterada pelo aquecimento, possivelmente com uma
mudança sinal de birrefringência. 10
10
A birrefringência de um esferulito é definida como a diferença dos índices de refração ao longo das direções
radial e tangencial. Esferulitos de birrefringência positiva tem uma maior concentração de lamelas tangenciais,
enquanto que nos esferulitos negativos as lamelas radiais predominam (Norton and Keller 1985). Durante o
aquecimento o sinal do esferulito pode ser alterado pela fusão das lamelas tangenciais que são menos espessas do
que as radiais, alterando a textura dos cristais.
164
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 5.37. Exemplo de fusão parcial de uma camada transcristalina de PP (Li et al. 2004).
Figura 5.38. Mudanças morfológicas durante o aquecimento de uma amostra de PP, com fusão quase
total em (c) e reaparecimento dos cristais em (d) (Rabello and White 1997b).
165
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
O HDT (ASTM D-648) mede a temperatura em que um corpo de prova com dimensões padrão
(12,7cm x 1,3cm x 3cm) deflete 0,25mm quando submetido a uma
tensão de 0,45MPa ou de 1,8MPa em um banho termostatizado sob
aquecimento a uma taxa constante. Ver procedimento aqui.
Conceitualmente, o HDT avalia a temperatura em que o material
perde sua capacidade de suportar tensões sem defletir
significativamente, e as duas opções de tensão contemplam situações
em que o produto pode estar sujeito a esforços mecânicos menores
ou maiores. O ensaio tornou-se amplamente utilizado em todas as
partes do mundo, sendo um dos principais critérios de seleção de
materiais poliméricos. Tanto o HDT quanto a temperatura de amolecimento Vicat são testes arbitrados,
com condições determinadas que, a princípio, poderiam ter sido criados com valores diferentes.
A temperatura de amolecimento Vicat (ASTM D-1525) tem semelhanças com o HDT, medindo a
temperatura em que uma agulha de 1mm2 de seção circular sob carga de
1Kg ou de 5Kg penetra 1mm em um corpo de prova aquecido em banho
termostatizado a uma taxa constante. O corpo de prova não precisa ter o
rigor dimensional do HDT, apenas a espessura deve ser superior a 2mm. A
aparelhagem, assim como a execução do teste, são bastante simples, como
se pode observar neste vídeo. A Tvicat avalia a temperatura em que o
material perde sua estabilidade de forma.
166
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
polímeros, especificações de projeto, análise de falha prematura, etc. As duas temperaturas são
influenciadas pelos mesmos fatores, que incluem: cristalinidade, presença de aditivos como cargas e
plastificantes, reticulações químicas, etc., além, claro, da própria estrutura química do polímero.
A Tabela 5.3 mostra valores típicos de HDT e Tvicat de alguns polímeros comerciais, em
comparação com as suas transições térmicas. Algumas observações são relevantes, considerando não
apenas os dados da tabela, mas também as informações técnicas sobre o tema:
Tabela 5.3. Valores típicos de temperaturas de transição, HDT e Tvicat para alguns polímeros comerciais.
Dados obtidos de fontes diversas.
Poliestireno 100 - 80 90
167
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
A degradação oxidativa causa grandes transformações químicas nos polímeros, como cisões
moleculares, formação de determinados grupos químicos e, em alguns casos, reticulações. Existem
diversas técnicas para quantificar esses efeitos, como medidas de massa molar e espectroscopia de
infravermelho.
Quando um polímero semicristalino e degradado funde e é recristalizado, os cristais formados tendem
a ser muito mais defeituosos em comparação com o material original. Isso porque ele incorpora os
defeitos gerados na oxidação, como grupos carbonila, hidroperóxidos, esteres, ácidos carboxílicos, etc.,
a depender da química da degradação. Dessa forma, a temperatura de fusão desse polímero tende a ser
depreciada, em proporção ao teor de impurezas químicas presentes nessas moléculas degradadas.
Se isso ocorre, a temperatura de fusão poderia ser uma medida indireta da extensão da degradação
química de polímeros semicristalinos. Foi isso que indicou os trabalhos deste autor envolvendo a
fotodegradação do polipropileno (Rabello and White 1997c). Ensaios de DSC mostraram que a da Tm no
segundo aquecimento está proximamente relacionada com outras técnicas normalmente utilizadas para
aferir a degradação do polímero, como mostram os gráficos acima. Nesse caso, foram feitas medidas de
massa molar e de Tm em diferentes profundidades no corpo de prova degradado. Próximo à superfície a
oxidação é mais intensa, com grande depreciação na massa molar e também grande redução na
temperatura de fusão. Em camadas mais profundas, existe escassez de oxigênio e, como consequência,
a massa molar permanece inalterada – assim como a temperatura de fusão.
Agentes nucleantes. Realize mistura do talco industrial com alguns polímeros cristalizáveis – PP, PE,
poliamidas, poliésters, etc. Avalie a ação nucleante do talco por DSC para as várias misturas, observando
as diferenças de eficiência do nucleante conforme a natureza do polímero.
168
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Tempo de ciclo de injeção. Prepare misturas de PP ou de poliamida com agente nucleante e realize ciclos
de injeção. Determine o tempo mínimo de resfriamento em que o molde pode ser aberto sem que ocorra
empenamento. Relacione os resultados com a composição do material.
Cristalização epitaxial. Em uma lâmina de microscópio, funda uma película de polipropileno e, sobre ela,
deposite uma fibra de vidro ou de Kevlar®. Aqueça novamente essa lâmina e observe por microscopia
ótica o crescimento esferulítico próximo e longe da fibra. Repita o procedimento realizando
manualmente um deslocamento axial da fibra.
Cristalização a frio do PET. Muitos produtos de informática, como mouses e pen drives, são
comercializados em embalagens de PET, do tipo blisters (ver imagem ao lado).
Aqueça uma amostra dessa embalagem em placa de aquecimento ou em uma
chama e observe a mudança gradual na transparência durante o aquecimento,
com o embranquecimento, seguido da fusão em temperaturas mais elevadas. Realize um ensaio por
DSC, observando a inflexão da transição vítrea, o pico de cristalização a frio e a fusão. Determine o grau
de cristalinidade da embalagem original com base na diferença entre a entalpia de fusão e a entalpia de
cristalização a frio.
169
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Referências
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172
Curva tensão-deformação de um polímero vítreo e imagem por MEV da sua superfície de fratura.
6. Comportamento mecânico
O comportamento mecânico dos materiais poliméricos, assim como dos demais tipos de
materiais, possui uma grande importância prática uma vez que as suas propriedades limites definem em
grande percentual os critérios de seleção e aplicação em diversos campos de utilização. Polímeros que
apresentam baixos valores de propriedades mecânicas são, geralmente, preteridos em aplicações
críticas em que a elevada performance mecânica é exigência fundamental. Em linha com esse tipo de
abordagem, muitos dos novos desenvolvimentos dos materiais poliméricos visam a melhoria das
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
propriedades mecânicas sem prejuízo das outras propriedades. Esse objetivo também ocorre na
modificação de polímeros existentes, como em compósitos, blendas e copolimerização.
ensaio de tração;
ensaio de resistência ao impacto;
ensaio de dureza.
Outros ensaios, como fadiga, flexão, compressão, fluência e relaxação de tensão, possuem
menor importância em relação aos anteriores mas podem ser determinantes, a depender do tipo de
aplicação.
174
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Consideramos que o ensaio de tração seja o mais significativo para uma descrição geral do
comportamento mecânico dos polímeros e, em função disso,
utilizaremos este tipo de teste para tratar os mecanismos de
deformação que serão descritos nesta seção. A partir de uma
curva tensão-deformação (Figura 6.1), determina-se as
propriedades limite, como resistência à tração, tensão ruptura,
deformação máxima, etc., assim como o módulo de elasticidade e
a tenacidade. A tenacidade obtida a partir de uma curva tensão
deformação pode ser relacionada com a resistência ao impacto do
material1. Por exemplo, os efeitos de procedimentos que visam
aumentar a resistência ao impacto de um polímero, como a incorporação de aditivos ou de
comonômeros, também podem ser estimados a partir das curvas x.
Figura 6.1. Curva tensão-deformação de um polímero, com a indicação de alguns parâmetros obtidos.
De forma análoga, o módulo de elasticidade está relacionado com a dureza, no sentido em que
os mesmos fatores que levam a um aumento na dureza, como cristalinidade, cargas, rigidez da cadeia,
etc., também elevam o módulo elástico. Similarmente, a presença de plastificantes e o aumento da
temperatura reduzem a dureza e o módulo elástico. As medidas de dureza são especialmente
importantes em dois tipos de materiais: os elastômeros e os polímeros plastificados, como o PVC. Como
1
Existe, entretanto, uma questão importante neste tipo de comparação que é o efeito do tempo de aplicação do
esforço. Em testes de impacto, a taxa de deformação é muito mais elevada do que em ensaio tensão-deformação
convencional e isso leva à discrepâncias que podem ser relevantes em alguns casos. Esse fenômeno está
relacionado com os efeitos viscoelásticos, tema que será abordado na seção 6.1.6.
175
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
De acordo com os conceitos clássicos da ciência dos materiais, a deformação pode ser de dois
tipos: elástica (ou reversível) ou plástica (ou permanente). Em polímeros, entretanto, esse princípio
precisa ser expandido e os seguintes tipos de deformação serão considerados para os polímeros sólidos:
elástica, ou hookeniana;
borrachosa, ou altamente elástica;
microfibrilamento, ou crazing;
elástico-forçada, ou pseudo-dúctil;
escoamento plástico;
viscoelástica.
176
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 6.2 Curvas tensão-deformação típicas para vários tipos de polímeros. Fonte: notas de aula MSE
470 / MAE 455, MIT (EUA).
Os segmentos moleculares podem ser considerados como uma mola, atendendo à analogia da Lei de
Hooke, em que os ângulos de equilíbrio das ligações covalentes são alterados pela força externa:
’
Como o princípio da deformação é a alteração dos ângulos de equilíbrio, essa a primeira deformação
que os polímeros apresentam quando solicitados mecanicamente (por tração), que corresponde a
valores de 1-3%. De acordo com a Lei de Hooke, quanto maior o módulo elástico, menor a deformação
observada para uma mesma tensão aplicada. Dessa forma, todos os fatores que dificultam a alteração
dos ângulos de equilíbrio, ou seja, que levam a uma maior rigidez molecular, resultam em maiores
valores de módulo de elasticidade, conforme a ilustração da Figura 6.3. Os principais fatores que afetam
177
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
a deformação hookeniana e, por consequência, o módulo elástico dos polímeros estão listados a seguir
e alguns exemplos mostrados na Tabela 6.1.
178
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 6.3. Representação dos efeitos que afetam a inclinação (i.e., módulo de elasticidade) da curva
tensão-deformação em sua região elástica.
Tabela 6.1. Exemplos típicos das diversas influências no módulo elástico de polímeros. Dados coletados
de fontes diversas.
179
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
ocorre na deformação hookeniana (ver Figura 6.4 e um teste mecânico aqui). Na verdade, a curva
compreende três regiões distintas:
Região I. Deformação hookeniana, como nos demais tipos de materiais poliméricos, com pequena
deformação reversível e que se determina o módulo de Young.
Região II. Deformação borrachosa, que predomina na maior parte da curva tensão-deformação. Note
que nesta região a proporcionalidade entre a tensão e a deformação não é uniforme, ou seja, a curva
não representa uma reta e, assim, o “módulo elástico” não é constante.
Região III. Observa-se um maior aumento na tensão para que o corpo de prova continue a se deformar.
Isso ocorre devido a uma elevada orientação molecular causada pela deformação, necessitando de
tensões proporcionalmente maiores para a continuidade do ensaio. Nessa região pode haver
cristalização induzida pela tensão aplicada.
Esse alinhamento altera o estado de equilíbrio da macromolécula que, devido à força entrópica, exerce
uma tendência de retorno à sua conformação original. Se a força é removida, a forma enovelada é
readquirida e, assim, o corpo de prova retorna às suas dimensões iniciais. Entretanto, algum
180
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
escorregamento molecular pode existir se as cadeias não estiverem conectadas entre si. As conexões
entre as cadeias podem ser de duas formas (i) pelos emaranhados moleculares e/ou (ii) pelas
reticulações químicas. Na ausência de reticulações, borrachas com altas massas molares podem
apresentar comportamento borrachoso com reversibilidade dimensional, mas apenas com deformações
baixas ou moderadas. Ou seja, borrachas sem ligações cruzadas não têm força entrópica suficiente para
atenderem às necessidades reais, onde, em geral, se requer deformações de 300 a 1000%. Assim, um
elastômero precisa ter reticulações químicas (ou físicas para o caso dos copolímeros em blocos – ver
seção 2.5) para restringir o escorregamento molecular em grandes deformações e, assim, apresentar o
desejável comportamento altamente elástico para essa classe de materiais. Nesse tipo de deformação a
temperatura tem uma influência diferente pois o maior movimento térmico aumenta também a força
entrópica, o que poderia resultar em um aumento no módulo com o aumento da temperatura – e não o
oposto, que ocorre normalmente. Essa relação é descrita pela equação 6.2:
3𝑅𝑇𝜌
𝐸= (6.2)
𝑀𝑐
onde R é a constante universal dos gases, T a temperatura absoluta, a densidade e Mc a massa molar
média entre as reticulações. A elasticidade da borracha e seus aspectos termodinâmicos são, na verdade,
uma ciência de elevada complexidade, podendo o leitor consultar a literatura mais especializada (Ward
and Sweeney 2004; Tager 1978), caso desejável.
181
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 6.5. Curvas tensão-deformação de um copolímero a base de isopreno com vários teores de dicumil
peróxido, usado como agente de vulcanização (Lei et al. 2015). “pcr” significa “partes por cem de resina”
e é uma maneira usual de dosar os aditivos na indústria.
182
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
(a) (b)
Figura 6.6. (a) Curva tensão-deformação do poliestireno. (b) Indicação do início da deformação por
crazing. Dados do autor.
Figura 6.7. Aspecto geral de um corpo de prova de um polímero frágil após ensaio de tração e imagem
por microscopia eletrônica do interior de uma fissura (Mills et al. 1994).
Essa morfologia peculiar é composta aproximadamente por 50% de polímero orientado e 50%
de vazios, sendo comumente conhecida por crazing, cuja tradução mais apropriada para o português é
“microfibrilamento”. Os “riscos” verticais da Figura 6.6 representam o aspecto macroscópico das crazes
e são observadas visualmente pois os vazios presentes espalham a luz visível, conferindo esse aspecto
esbranquiçado. São as regiões orientadas que intercalam os vazios as responsáveis por prolongar o
processo deformação, adiando a falha catastrófica do material. Trata-se, portanto, de um mecanismo
próprio de deformação que, evidentemente, absorve a energia aplicada, contribuindo para um aumento
na tenacidade do polímero (o aumento é pequeno mas... veja adiante). Os polímeros que se deformam
por esse mecanismo são os amorfos abaixo da Tg e os semicristalinos em temperaturas próximas da Tg,
como o PP na temperatura ambiente. Nesse último caso, a deformação por crazing ocorre em conjunto
com outros tipos de deformação (ver adiante).
183
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Pela curva da Figura 6.6, percebe-se que o aumento na tenacidade proporcionado pelo crazing
é pouco significativo, uma vez que o polímero vítreo tem reduzida capacidade de deformação por sua
baixa mobilidade molecular. Depois da formação dos crazes, as microfibrilas podem sofrer ruptura,
gerando uma estrutura mais aberta similar à uma trinca,
que concentra a tensão mecânica, causando a fratura. A
imagem ao lado ilustra a diferença entre a craze e a
trinca (Calister and Rethwisch 2016). Observa-se na
Figura 6.8 parte da superfície de fratura de um corpo de
prova de poliestireno, onde resta evidente a estrutura
contendo vazios, material fibrilar e o rompimento das fibrilas, no centro da imagem. Essa transformação
de microfibrila em trinca também está ilustrada na Figura 6.9, mostrando a imagem geral na ponta de
um entalhe com ruptura de fibrilas e uma estrutura contendo vazios no seu interior. Observe que a
representação esquemática é bastante fiel ao que foi observado na peça real.
Figura 6.8. Corpos de prova de poliestireno após ensaio mecânico em presença de etanol e imagem por
microscopia eletrônica de varredura da superfície de fratura (Sousa et al. 2006).
Figura 6.9. Microscopia eletrônica na região de uma trinca, mostrando estrutura fibrilar no seu interior
e o modelo ilustrativo (Damasceno 2010; Lagarón et al. 2000; Wright 1996)
184
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Nesse caso, o material tenderia a se deformar mais, resultando em maior tenacidade. É baseado nesse
princípio que se utiliza os chamados modificadores de impacto, que são aditivos que atuam como
defeitos, concentrando tensões e, assim, gerando muitos locais de geração do microfibrilamento. Em
geral são elastômeros, adicionados em concentração de 5 a 15% e são utilizados em diversos polímeros
comerciais, como poliestireno, SAN, polipropileno, PMMA, PVC, etc.
185
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 6.10. Curvas tensão-deformação do PS puro e do PS contendo elastômero (HIPS) (Rabello and de
Paoli 2013).
186
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
borracha. Maiores detalhes sobre esse assunto podem ser obtidos em literatura mais específica sobre
aditivos (Rabello and de Paoli 2013; Zweifel 2001) ou sobre blendas poliméricas (Utracki and Wilkie
2014).
2
Não é raro polímero cristalizáveis, como o polipropileno, apresentarem embranquecimento quanto tensionados
mecanicamente (veja exemplo aqui). Muitas vezes esse efeito é associado a uma cristalização induzida por tensão.
Embora isso possa ocorrer, a opacidade causada pelo crazing ou formação de porosidades diversas são as
explicações mais prováveis.
187
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Esse é o tipo de deformação que ocorre, com grandes extensões, em polímeros semi-cristalinos
acima da temperatura de transição vítrea. Uma curva tensão-deformação típica está mostrada na Figura
6.12, juntamente com as transformações que ocorrem no corpo de prova durante o ensaio mecânico.
As etapas mostradas na curva compreendem os seguintes mecanismos/fenômenos:
188
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
189
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
orientação – tanto dos micro-cristais quanto das regiões amorfas e cadeias atadoras, com uma estrutura
em forma de fibrilas direcionadas.
Figura 6.13. Representação esquemática das transformações que ocorrem durante o escoamento
plástico de um polímero semi-cristalino (Calister and Rethwisch 2016).
Um dos modelos mais clássicos para representar tanto a estrutura de um polímero estirado a
frio quanto a de fibras à base de polímeros semicristalinos foi desenvolvido por Peterlin e está mostrado
na Figura 6.15. As principais características desse modelo são:
190
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
material (após o estiramento a frio) altamente resistente no sentido axial e com baixa resistência
no sentido transversal.
(d) Orientação preferencial das moléculas ao longo do eixo das fibrilas.
Figura 6.14. Modelo de Peterlin para as transformações cristalinas durante o estiramento (Peterlin 1965).
grandes, o escoamento é dificultado pela ocorrência de fratura nos contornos dos mesmos, devido ao
reduzido número de cadeias atadoras interesferulíticas, que exercem função essencial nesse mecanismo
de deformação.
Figura 6.15. Efeito do grau de cristalinidade na tensão de escoamento do polietileno (Mills et al. 1994).
A temperatura de transição vítrea do PET é de ~70°C. Isso implica que, na temperatura ambiente,
as regiões amorfas desse polímero estão no estado vítreo, com baixa mobilidade dos segmentos
moleculares e, como consequência, o material seria frágil. No entanto, todos sabemos que isso não é
verdade. As garrafas de refrigerante, por exemplo, são altamente dúcteis e, nesse aspecto, substituíram
as frágeis embalagens de vidro com grande sucesso. O teste de qualidade de garrafas de PET baseia-se
na queda livre da garrafa envasada de uma altura de 2m (veja aqui). A ductilidade do PET – e de inúmeros
outros polímeros, como PBT, policarbonato, PEEK, poliamidas, etc. – advém de um mecanismo especial
de deformação denominado pseudo-dúctil, ou elástica forçada.
Ao reduzir a temperatura do PET, eventualmente esses grupos flexíveis também perderão a capacidade
de rotação molecular. Isso ocorre em uma temperatura, que é considerada uma segunda transição vítrea
– a transição vítrea secundária, Tg que, para o PET é de ~–60°C. Fazendo um outro recorte no grupo
flexível, observe que ele pode ser dividido em dois – um polar, com os grupos ésteres, e outro apolar.
Abaixo da Tg o grupo perde a mobilidade, mas ainda existirá movimentação do grupo metil; esta
movimentação cessará em temperatura ainda mais baixa, que seria a T g do material. Assim como a Tg
principal, as transições vítreas secundárias são propriedades intrínsecas do polímero e são afetadas
pelos mesmos fatores que definem a T g. Trataremos esse tema um pouco mais adiante.
193
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 6.16. Relação entre a posição de um grupo químico e a energia interna. (a) Sem força externa, (b)
na presença de força externa (Young and Lovell 2011).
∆𝑈
3
O tempo de relaxação (𝜏) é dado pela relação 𝜏 = 𝜏𝑜 𝑒 𝑅𝑇 , onde 𝜏𝑜 é o período de vibração dos átomos e U é a
energia de ativação, i.e., a diferença entre as energias dos estados ativo (intermediário) e inicial das moléculas
(Tager 1978). Assim, para temperaturas baixas, o tempo de relaxação pode ser muito alto, especialmente para
macromoléculas abaixo da Tg. Por exemplo, o tempo de relaxação para líquidos de baixa massa molar na
temperatura ambiente é de cerca de 10-10 segundos, para polímeros no estado borrachoso esse valor pode ser de
10-4-10-6 segundos, enquanto que polímeros abaixo da Tg têm tempos de relaxação que podem chegar a 1020
segundos (Tager 1978; Ngai et al. 2014).
194
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
vídeo, observa-se também a imagem do corpo de prova utilizando um polariscópio, em que é possível
visualizar as bandas de birrefringência oriundas das tensões locais durante a aplicação do esforço.
Figura 6.17. Curva tensão-deformação de uma amostra de PET realizada na temperatura ambiente, que
não rompeu durante o ensaio. Dados baseados em (Teofilo and Rabello 2015).
A deformação pseudo-dúctil, que ocorre nas regiões amorfas abaixo da T g, está intimamente
associada com a existência de transições vítreas secundárias. Como explicado acima, entre a Tg e a Tg o
polímero pode exibir ductilidade e, assim, a temperatura de referência para a transição de um
comportamento dúctil para frágil (i.e., a temperatura de fragilização) pode ser adotada como a Tg e não
a Tg, como é usual se considerar. ATabela 6.2 mostra valores da temperatura vítrea secundária de alguns
polímeros comerciais, juntamente com os da Tg principal. Alguns desses materiais, como o PET e o
policarbonato, têm destacada ductilidade que, juntamente com elevada rigidez, tornam-se
especialmente atrativos para as aplicações de engenharia. Nota-se que até o poliestireno, um material
conhecido por sua elevada fragilidade, possui a transição vítrea secundária. Entretanto, a pequena
diferença entre a Tg e a Tg para o poliestireno reduz a sua importância prática para conferir ductilidade
aos produtos, uma vez que apenas acima de 80°C e abaixo de 100°C haveria esse mecanismo de
deformação. Considerando que ambas as transições ocorrem em uma faixa de temperaturas, a
importância dessa transição para o poliestireno praticamente inexiste. A magnitude da transição vítrea
secundária – e não apenas a temperatura em que ocorre – também exerce forte influência no aumento
da ductilidade. O PP, por exemplo, possui um baixo valor de T g mas a magnitude do fenômeno é
relativamente modesta e, juntamente com sua elevada cristalinidade, apresenta pouco efeito prático na
tenacidade do produto. A técnica experimental mais utilizada para determinar esta propriedade é a
análise dinâmico mecânica (DMA), que será abordada na seção 6.1.6.
195
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Tabela 6.2. Valores de Tg e Tg para alguns polímeros comerciais. Dados obtidos de fontes diversas.
PET 70 -60
PBT 55 -100
PVC 80 -20
PMMA 105 10
PA 6 50 -20
Poliestireno 100 80
Caso o polímero seja semicristalino, como as poliamidas e poliésteres, a fase cristalina não tem
influência nesse tipo de transição (da mesma forma que ocorre com a T g) e a diferença de
comportamento acima e abaixo da T g irá depender do grau de cristalinidade do material. Quanto mais
cristalino, menor a tenacidade do produto nessa faixa de temperaturas e, portanto, menor a influência
da deformação pseudo-dúctil. Na presença de cristais, o mecanismo de deformação será um pouco mais
complexo, podendo haver fragmentação de lamelas, mudança cristalográfica no estado sólido
reorientação cristalina, etc.
A Figura 6.18 mostra uma curva tensão-deformação de uma amostra de PBT com cristalinidade
de ~35%. Observa-se a região de estricção bastante larga e com dois estágios, possivelmente devido às
alterações cristalográficas que ocorrem durante a deformação. Ainda assim, o material apresenta
elevada ductilidade, mas que tende a diminuir para amostras com maior nível de cristalinidade. Outro
exemplo está mostrado na Figura 6.19, em um comparativo entre o PET amorfo e semicristalino (com
38% de cristalinidade). Nesse caso, a região de estricção também é bastante larga, mas o
comportamento pseudo-dúctil não chega a ser plenamente desenvolvido.
196
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 6.18. Curva tensão-deformação do poli(butileno tereftalato) – PBT semicristalino (Braz and
Rabello 2021).
Figura 6.19. Diferença de comportamento mecânico do PET amorfo e semicristalino (Chabert et al. 2001).
6.1.6. Viscoelasticidade4
Uma particularidade muito interessante dos materiais poliméricos é que eles possuem, ao
mesmo tempo, características de sólido elástico e de fluido viscoso. Por possuir, em maior ou menor
grau, propriedades de fluido, o comportamento mecânico dos polímeros é influenciado pelo tempo em
que o esforço é aplicado. Algumas consequências práticas dessa característica são:
Em testes de tração, flexão ou compressão, a velocidade de deformação tem grande efeito nos
parâmetros obtidos (exceto o módulo elástico). Muitas vezes, polímeros que se mostram dúcteis
nesses ensaios apresentam fragilidade em esforços de impacto;
Em testes de dureza, o tempo de aplicação da carga para a medida final é um parâmetro importante;
4
Os fenômenos viscoelásticos são manifestados tanto no estado sólido quanto durante o processamento.
Trataremos aqui apenas da viscoelasticidade no estado sólido.
197
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Esses dois modelos podem ser combinados em série ou em paralelo para representar um material
viscoelástico. O primeiro foi proposto por Maxwell e explica, por exemplo, a relaxação de tensão,
enquanto que o segundo foi apresentado por Kelvin-Voight e explica, por exemplo, o fenômeno de
fluência elevada:
Na proposta de Maxwell, a tensão aplicada é a mesma nos dois elementos e gera uma deformação
constante. Ao longo do tempo, o elemento viscoso alivia a tensão pela movimentação local do pistão,
198
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
reduzindo a tensão do conjunto, que se manifesta pela relaxação de tensão, representado na Figura
6.20(a). No modelo de Kelvin-Voight, se uma tensão constante for aplicada, ocorre a deformação inicial,
mas o elemento viscoso continua a se deformar com o tempo, causando um aumento de deformação
do conjunto, o que caracteriza a fluência (Figura 6.20(b)). Modelos mais elaborados foram
posteriormente desenvolvidos para representar ambos os fenômenos, combinando os elementos
descritos acima (Ward and Sweeney 2004; Navarro 1997).
5
Uma analogia simples para esse fenômeno de relaxação de tensão seria uma corda com um nó bem apertado.
Para soltar esse nó uma técnica usual é “movimentá-lo” várias vezes, provocando uma certa mobilidade da corda
no interior do nó. Após vários movimentos nesse sentido, o nó vai, naturalmente, sendo afrouxado. Algo
semelhante ocorre com as macromoléculas sob ação de uma força externa e a movimentação interna dos grupos
de átomos reduz localmente o tensionamento, provocando a relaxação da tensão aplicada.
6
A relaxação molecular não pode ser confundida com um fenômeno bastante comum em elastômeros, que é a
perda das propriedades elásticas com o tempo. Uma banda de borracha, por exemplo, pode deixar de ser “elástica”
após alguns anos tensionada. Isso é consequência de cisões nas ligações cruzadas, em um processo de
desvulcanização, que pode também causar pegajosidade na borracha.
199
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Temperatura. Quanto maior a temperatura, maior a mobilidade dos grupos de átomos, segmentos
moleculares e cadeia como um todo. Grandes variações de comportamento ocorrem nas
temperaturas de transição vítrea principal e secundária. Entretanto, mesmo abaixo da T g e da Tg ,
os polímeros apresentam comportamento viscoelástico, embora em proporção menor do que
acima dessas temperaturas;
Grau de cristalinidade. Uma vez que a origem do comportamento viscoelástico está nos efeitos
viscosos da fração amorfa, o fenômeno é reduzido para produtos mais cristalinos. Na fase cristalina
o empacotamento molecular impede maiores movimentações dos grupos de átomos e segmentos
moleculares;
Estrutura química. Todos os fatores que causam menor mobilidade molecular, como grupos
volumosos, polaridade, comonômeros rígidos, etc., reduzem os efeitos viscoelásticos;
Reticulações. Segue o mesmo raciocínio do item anterior. O ancoramento das cadeias pelas ligações
cruzadas reduz a movimentação das mesmas. Em casos extremos, como nos termofixos
densamente reticulados, os efeitos viscoelásticos são pouco observados.
Massa molar. Grades de alta massa molar possuem uma maior densidade de emaranhados
moleculares e cadeias atadoras, causando um maior número de interconexões entre as cadeias.
Isso limita a movimentação de longos segmentos moleculares e, assim, a viscoelasticidade tem
menor manifestação dos seus efeitos. No caso dos polímeros semicristalinos, a massa molar tem
um efeito indireto uma vez que afeta também a cristalinidade do material;
Aditivos. Componentes que restringem a movimentação molecular – como cargas e retardantes de
chama – reduzem os efeitos viscoelásticos. O oposto ocorre com os que facilitam a mobilidade,
como os plastificantes, modificadores de impacto e, em menor escala, os lubrificantes e
antiestáticos. Os agentes nucleantes, que alteram a morfologia e o grau de cristalinidade, têm efeito
indireto.
Dentre as várias consequências da viscoelasticidade, a alteração nas propriedades tênseis com
a taxa de deformação aplicada é uma das principais para situações de projeto, de controle de qualidade
ou de pesquisa e desenvolvimento de materiais poliméricos. Dependendo da magnitude do fenômeno
em determinado tipo de material e condições, a diferença pode ser bastante significativa, conforme os
dados mostrados na Figura 6.21 para a poliamida 12. A resistência à tração aumentou com a taxa de
deformação, mas o módulo permaneceu pouco alterado, já que este é uma propriedade do componente
elástico e, portanto, que não varia com o tempo de aplicação do esforço. Devido a esse tipo de efeito, é
200
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
preciso ter rigor na padronização dos testes mecânicos, importante no controle de qualidade,
desenvolvimento de formulações, relações entre cliente e fornecedor, etc. Em materiais que possuem
pouca resposta viscoelástica, como os polímeros vítreos abaixo da Tg , a diferença de comportamento
com a velocidade de aplicação do esforço tende a ser mais baixa, como nos casos do poliestireno (Sousa
et al. 2006) e do poli(hidroxibutirato) (Farias et al. 2015). No polipropileno, por outro lado, que possui
cristalinidade intermediária e Tg abaixo da ambiente, o efeito viscoelástico é significativo – a ponto do
material poder apresentar um comportamento dúctil em testes de tração (com velocidade de, digamos,
10mm/min) mas mostrar-se frágil em testes de impacto (que envolve grandes taxas de deformação).
Para o PP, que também tem sua tenacidade reduzida em temperatura pouco abaixo da ambiente, é
comum se utilizar grades de copolímero quando a resistência ao impacto for uma propriedade crítica,
conforme discutido na seção4.2.2.
Figura 6.21. Efeito da velocidade de deformação nas curvas tensão-deformação da poliamida 12 (Şerban
et al. 2013).
201
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 6.22. (a) Efeito da temperatura na relaxação de tensão do poliestireno (Trindade and Rabello
2021). (b) Relaxação de tensão do PBT com diferentes cristalinidades (Braz and Rabello 2021).
Um produto que apresenta forte comportamento viscoelástico é o chamado Silly Putty®, um tipo
de “geleca” à base de polidimetilsiloxano que se deforma quase como um líquido viscoso mas que,
quando arremessado, quica como uma borracha. Ver nesse vídeo o seu comportamento. Observe que,
se deformado lentamente, ocorre grande escoamento, mas em uma deformação mais rápida a fratura
é mais frágil.
Na aplicação de esforços cíclicos senoidais com amplitudes máximas o e o, a deformação e a tensão
instantâneas variam em função do tempo:
=o.sen wt (6.3)
202
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
𝜎𝑜 .sen 𝛿
𝐸2 = (6.7)
𝜀𝑜
A tangente de perda avalia a magnitude da dissipação viscosa durante os esforços cíclicos e, portanto,
está intimamente associada com o fenômeno viscoelástico dos polímeros.
A resposta do material à esforços cíclicos pode ser aferida durante uma fase de aquecimento (ou
resfriamento) e isso é normalmente realizado por análise dinâmico-
mecânica (DMA, ou DMTA), um tipo de análise térmica em que
aplica-se deformações cíclicas, que podem ser de tração, flexão,
cisalhamento ou torção, e mede-se a tensão necessária para
exercer esses esforços7. O equipamento faz essas medições em
frequência pré-definida e fornece os dados, por exemplo, do
módulo de armazenagem (E1) e a tangente de perda (tan ) em função da temperatura, como mostra o
exemplo da Figura 6.23 para um polímero amorfo que apresenta o estado vítreo, borrachoso e
fluidoviscoso. Uma visão geral do equipamento e procedimento podem ser vistos neste vídeo. Em geral
o módulo é reportado em escala logarítmica e, devido a isso, pouca variação na propriedade (como em
temperaturas abaixo da T g) não é muito perceptível visualmente.
7
Maiores detalhes sobre esse tipo de experimento, recomenda-se consultar a literatura mais especializada (Lucas
et al. 2001; Canevarolo 2004).
203
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 6.23. Análise dinâmico-mecânica de polímero, indicando as transições de fase durante o ensaio.
Dados baseados em (Reddy and Reddy 2014).
Como o módulo de armazenagem é equivalente ao módulo de Young, esse tipo de teste tem
grande importância caso de deseje conhecer essa propriedade em várias temperaturas (para fins de
projeto de componentes, por exemplo). Pelo ensaio mecânico convencional, seria preciso utilizar
câmaras de aquecimento/resfriamento e conduzir muitos testes, com uma quantidade imensa de corpos
de prova para levantar um comportamento como o reportado em uma análise por DMA. Isso poderia
levar dias, ou semanas, de trabalho experimental, em contraste com o tempo necessário para conduzir
um ensaio de DMA que, dependendo da taxa de aquecimento e da variação da temperatura, leva,
digamos, de 30 a 180 minutos.
A Figura 6.23 mostra claramente a região de transição vítrea e o valor da T g, o que é determinado
de modo muito mais preciso do que pelas outras técnicas, como DSC ou TMA. Caso o polímero possua
transições vítreas secundárias, estas também podem ser determinadas caso as respostas de
amortecimento sejam grandes o suficiente para serem detectadas. A Figura 6.24 ilustra
esquematicamente a diferença de resposta no amortecimento entre a transição vítrea principal e as
transições vítreas secundárias. Evidentemente, a magnitude dos picos observados será dependente da
resposta viscoelástica que polímero possui nessas faixas de temperaturas e, portanto, nem sempre são
detectados com precisão.
204
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 6.24. Curva dinâmico mecânica, mostrada esquematicamente, de um polímero amorfo com sua
transição vítrea e transições secundárias.
As curvas de DMA, especialmente E1 versus temperatura, também são bastante úteis para o
entendimento dos estados físicos e transições dos polímeros e os fatores que afetam. Por exemplo, a
Figura 6.25 mostra esquematicamente o efeito da massa molar no módulo de armazenagem. Note que
a temperatura vítrea é pouco alterada, mas a temperatura de fluxo aumenta progressivamente para
tamanhos de cadeia maiores, sendo esse o principal efeito observado. O módulo no estado borrachoso,
entre as temperaturas vítreas e de fluxo tenderia também a aumentar, devido ao maior número de
emaranhados moleculares, mas, como o registro de E1 geralmente é em escala logarítmica, essa
diferença fica pouco perceptível visualmente.
No caso de polímeros contendo reticulações (Figura 6.26), ocorrem grandes mudanças na região
de platô borrachoso, com o módulo aumentando significativamente com o número de ligações cruzadas.
Observe também que, com a presença de muitas reticulações, o polímero deixa de apresentar o estado
205
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
fluidoviscoso, sendo essa uma das principais características desse tipo de material. Abaixo da T g, o
aumento no número de reticulações deve elevar o valor do módulo, mas, novamente, isso pode ser
pouco perceptível na escala logarítmica. Abaixo da Tg, os segmentos moleculares estão imóveis e,
portanto, com elevado valor de módulo, de forma que o ancoramento proporcionado pelas reticulações
não teria efeito tão determinante. Caso os dados sejam plotados na escala normal, essas diferenças
abaixo da Tg seriam mais facilmente percebidas visualmente. Por fim, observe que, a medida em o
número de reticulações aumenta, a mudança de comportamento acima da T g é comparativamente
menor.
No caso de polímeros semicristalinos, as transições Tg e Tm, além da Tf, são facilmente percebidas
na curva de E1 versus temperatura (Figura 6.27). O material amorfo possui apenas a temperatura vítrea
e a temperatura de fluxo, enquanto que o semicristalino apresenta uma mudança de comportamento
na temperatura de fusão. Em temperaturas abaixo da Tg, o grau de cristalinidade exerce relativamente
pouca influência e, novamente, é pouco perceptível na curva devido à plotagem em escala logarítmica.
Acima da Tm, evidentemente, a cristalinidade não exerce nenhuma influência pois os cristais já estão
todos destruídos. A grande diferença de comportamento ocorre entre a T g e a Tm, com o módulo elástico
aumentando progressivamente com o aumento na cristalinidade do material. Observe também que para
cristalinidades muito altas, a diferença de comportamento acima da Tg deixa de ser tão elevada,
consequência desta transição envolver apenas as regiões amorfas do polímero.
206
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
6.2. Fratura
A fratura de produtos plásticos é um dos aspectos mais importantes na aplicação desse tipo de
material, que ocorre quando se ultrapassa as propriedades limites do produto, como a sua resistência à
tração ou ao impacto. Algumas vezes, entretanto, a fratura ocorre em situação prematura, ou seja, com
valores de tensão abaixo do que seria esperado para o produto. O entendimento dessa situação é grande
relevância para projetistas, desenvolvedores e produtores de artigos poliméricos. Nesta seção
abordaremos, de forma bastante resumida, os princípios gerais da fratura e a análise topográfica. A
literatura mais específica deverá ser consultada para aprofundamento no tema (Kausch 1987; Williams
1984).
207
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
A resistência mecânica de um material (e isso vale para todos os materiais, não apenas para os
poliméricos) é muito menor do que o valor teórico de resistência, calculado a partir das energias de
ligação entre os átomos. Em 1921, o engenheiro inglês Alan Arnold Griffith desenvolveu uma teoria, que
é a base da mecânica da fratura até hoje, propondo que a resistência mecânica muito mais baixa
observada seria devido à defeitos presentes, que amplificam localmente a tensão aplicada (Griffith and
Taylor 1921). Esse é o princípio da concentração de tensão, mostrado esquematicamente na Figura 6.28.
Os defeitos podem ser de vários tipos, incluído porosidades, inclusões, aglomeração de aditivos ou
defeitos de superfície, conforme alguns exemplos mostrados na Figura 6.29.
208
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 6.29. Exemplos de defeitos presentes em polímeros com consequências para a fratura de
componentes (Rabello and White 1997a; Rabello 1996; Timoteo et al. 2008; Ezrin 2013).
Observe na Figura 6.28 que a tensão aplicada no produto (o) é amplificada na proximidade do
defeito, atingindo um valor máximo m, que pode ser muitas vezes maior do que o valor aplicado. Para
o caso de um defeito elíptico, como o mostrado na Figura 6.28, essa relação é dada por:
a
m 2 0 (6.9)
t
onde a é o tamanho do defeito e t o seu raio de curvatura. Por essa relação, o valor da concentração
de tensão pode ser maior em defeitos menores, mas que tenham menor raio de curvatura. Por exemplo,
um pequeno entalhe pode concentrar mais tensão do que uma porosidade grande e esférica. A
magnitude da concentração de tensão em relação à tensão de trabalho é dada pelo fator de
concentração de tensão K:
209
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
𝜎𝑚
𝐾= (6.10)
𝜎𝑜
É razoável se esperar que um produto contenha defeitos diversos, com diferentes tamanhos e
formas e, em consequência, o fator de concentração de tensão varie de defeito para defeito. A
propagação da trinca deve ocorrer a partir do defeito com maior valor de K.
Alguns exemplos de KIc (que é o Kc específico para esforços de tração uniaxial) estão mostrados
na Tabela 6.3. Note que a tendência de variação deste parâmetro é a mesma da resistência ao impacto.
210
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Tabela 6.3. Exemplos de KIc (a 20°C) para alguns polímeros usuais. Dados obtidos de fontes diversas.
Sim, isso é possível e já existe comercialmente (veja aqui) – são os polímeros auto-reparantes (self
healing), uma classe dos chamados materiais inteligentes (smart materials). Existem diversas tecnologias
para isso, incluindo sistemas que precisam de estímulo externo (como luz ultravioleta e temperatura) e
sistemas que se regeneram sozinhos. Esse último caso tem um potencial maior pela praticidade e
consiste basicamente na inserção de pequenas cápsulas contendo uma resina polimerizável ou curável
que são rompidas durante o processo de
fratura e, assim, preenchem o espaço deixado
pelo dano. Veja nesse link uma revisão geral
sobre o tema. Além do uso desses sistemas em
revestimentos e dispositivos eletrônicos, existe
potencial de aplicação em estações espaciais,
conforme estudos desenvolvidos pela NASA
(ver vídeo aqui). Evidentemente, o fechamento
de trincas por um processo de auto-
regeneração reduz também os danos mecânicos causados pelas trincas (Weihermann et al. 2019), tendo
efeitos que não são apenas meramente estéticos.
211
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Como ilustração da sensibilidade ao entalhe de dois filmes poliméricos veja o vídeo mostrado
aqui. Nesse exemplo simples, um filme de polipropileno biorientado (utilizado na embalagem de
salgadinhos) tem uma rápida propagação da trinca, com pouca deformação nas vizinhanças do defeito,
enquanto que em um filme de polietileno (utilizado para sacolas de supermercado e com orientação
multiaxial) existe uma maior dificuldade em propagar a trinca, com a ocorrência de bandas de
deformação nas proximidades do defeito. Em outras palavras, o filme de polietileno é muito mais
tolerante à presença de defeitos concentradores de tensão do que o filme de PP
biorientado. Atente-se que a embalagem de PP pode ser preferível pois permite
uma abertura muito mais simples para o consumidor. Em um outro extremo,
tem-se o tipo de embalagem mostrada ao lado (fabricada em PET), em que é
praticamente impossível para o consumidor rasgá-la sem o auxílio de um objeto
cortante.
(a) energia elástica deformacional, que representa a energia armazenada e que é liberada na
propagação da trinca;
(b) trabalho para a formação de novas superfícies durante a propagação da trinca.
Figura 6.30. Representação das energias envolvidas em função do tamanho do defeito presente (McCrum
et al. 1997).
Em função do tamanho do defeito na Figura 6.30, a energia resultante pode ser positiva ou
negativa; sendo positiva, ocorre efeito tenacificante durante o processo de falha. Assim, a presença de
defeitos pode contribuir para uma maior ductilidade do material (que é o mesmo princípio da ação dos
modificadores de impacto descritos na seção 6.1.3 mas que também ocorre quando defeitos como
vazios estão presentes em materiais frágeis) até um certo tamanho am, que é dado por:
212
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
𝐸.𝐺𝑐
𝑎𝑚 = (6.10)
𝜋.𝜎𝑜2
onde E é o módulo elástico, Gc representa a energia necessária para criar novas superfícies durante a
deformação e o a tensão aplicada. Dependendo da importância da aplicação, pode-se monitorar por
ensaios não destrutivos a distribuição de tamanhos dos defeitos presentes e, assim, programar ações de
reparo ou substituição do componente antes que o tamanho crítico seja atingido.
A dissipação de energia causada por processos de deformação e fratura pode ser utilizada na
proteção do usuário como, por exemplo, na indústria automobilística, em que as partes de segurança de
um automóvel são projetadas para sofrerem deformações e até fratura, consumido a energia de impacto
e, como consequência, protegendo os ocupantes do carro. Uma situação extrema ocorre na Fórmula 1,
em que os carros são completamente destruídos sob impacto elevado (veja vídeo aqui). O
desprendimento de energia por processos de deformação também pode ser observado por um aumento
local na temperatura do material, conforme os dados de termografia da Figura 6.31. Nesse caso, um
corpo de prova foi entalhado nas duas extremidades, gerando uma alta concentração de tensão na parte
central. O alto nível de deformação permanente nesta região elevou localmente a temperatura em mais
de 2°C.
entalhes
região de
deformação
Figura 6.31. Variação local da temperatura realizada por termografia de infravermelho em um corpo de
prova de PP com fibra de madeira (Santos 2012).
213
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Um processo de fratura, com iniciação e propagação de trincas e falha final, é acompanhado por efeitos
sonoros, com emissão de ondas acústicas de intensidades e frequências variadas durante essas etapas.
Quando um produto de vidro é fraturado, esses efeitos são extremos, como todos nós já presenciamos
inúmeras vezes. Existe um tipo de ensaio não destrutivo em que é possível quantificar as ondas sonoras
geradas durante o tensionamento de um produto – o ensaio por emissão acústica. Nesse tipo de
procedimento colocam-se sensores em locais
estratégicos do produto e monitora-se os sinais emitidos
ao longo do tempo pelas trincas que se propagam
internamente ou na superfície, conforme esquema ao
lado. É uma técnica muito utilizada em peças metálicas como vasos de pressão, reatores, tubulações, asas de
aeronaves, etc. Veja um caso de teste em campo aqui. A partir das informações obtidas avalia-se o estado
geral e pode-se decidir por reparo ou mesmo substituição da estrutura.
Em polímeros a técnica de emissão acústica é pouco difundida, mas alguns estudos foram realizados na
análise da interface em compósitos. Este autor tem utilizado a
técnica na análise de falha de materiais poliméricos por stress
cracking e por degradação química, além do efeito da presença
de aditivos. Na imagem ao lado tem-se uma análise do PET
(Teofilo and Rabello 2015), mostrando a sobreposição da curva
tensão-deformação (convertida para tensão-tempo) e os efeitos
acústicos (chamados hits, indicados pelos pontos discretos na
curva).Observa-se que a maior parte dos efeitos ocorreram na
região de pre-estrição e um hit de intensidade muito elevada no
momento da fratura. No caso do polipropileno contendo
modificadores de impacto, a fase dispersa induz mecanismos de
deformação e, consequentemente, um elevado número de hits (ver
imagem ao lado) é observado ao longo de todo o processo de
tensionamento (da Silva et al. 2020). Com a técnica também se pode
medir a energia dos hits, a taxa de sua formação, localização dos eventos mais críticos, etc.
214
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
A redução da vida útil de um produto plástico é um dos grandes problemas que projetistas,
desenvolvedores e a própria indústria enfrentam, causando prejuízos financeiros, ações judiciais, danos
físicos, etc., e pode denegrir terrivelmente a reputação da empresa. Além da fratura catastrófica, outros
aspectos da aplicação podem ser considerados como determinantes no encurtamento da vida útil de um
produto, incluindo: alteração nos aspectos visuais (como cor, brilho e transparência), alteração nas
propriedades elétricas, empenamento, delaminação, desgaste, etc. O tema é de alta importância para
profissionais envolvidos com polímeros, compreendendo praticamente todos os envolvidos com os
materiais poliméricos. Alguns livros foram publicados com o objetivo de analisar causas da falha e propor
soluções preventivas, por exemplo: (Scheirs 2000; Ezrin 2013; Moalli 2001). Uma publicação nacional
sobre o tema está disponível neste link.
De modo simplificado, os fatores que levam à falha prematura de produtos poliméricos podem
ser resumidos nos seguintes:
(a) Causas relacionadas com a matéria-prima. Neste campo tem-se, por exemplo, a seleção inadequada
do material em vista das necessidades exigidas pela aplicação, a escolha do grade, efeitos
degradativos que podem ocorrer durante a mistura e processamento do material, excesso de
material reciclado e efeitos negativos na adição de
determinadas combinações de aditivos. Alguns
exemplos: (1) o uso de pigmentos para conferir cor ao
produto pode reduzir consideravelmente a resistência
ao impacto do policarbonato, conforme a imagem ao
lado (dados baseados em (Saron et al. 2008); (2) em
moldagem por injeção de paredes finas, a alta viscosidade dos grades de alta massa molar dificulta
bastante o processamento, sendo inevitável se optar por grades de massa molar mais baixa e,
portanto, menos resistentes mecanicamente; (3) a imagem ao lado (Chávez 2005) mostra uma peça
utilizada para regular o fluxo em uma mangueira de aplicação de soro em
pacientes. Originalmente produzido com ABS, a presilha apresentou
fissuras nas regiões de tensionamento e, em seguida, fratura catastrófica.
Isso é resultado do tipo de mecanismo de deformação desse polímero, que
é predominantemente por crazing. A substituição por polipropileno resolveu o problema.
215
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
(b) Efeitos do processamento. Como mencionado anteriormente (seção 5.5) o processamento confere
uma forma final ao material, mas também define a sua estrutura interna, sendo, assim, é fator
determinante para as propriedades. Problemas surgem quando o foco do processamento está
voltado para a produtividade industrial, em detrimento de uma garantia de qualidade técnica. As
principais causas de falha relacionadas com a
transformação são: vazios internos por recalque
inadequado, reticulação imprópria (excessiva ou
insuficiente), excesso de tensionamento no produto,
orientação molecular durante a etapa de pós-extrusão,
cristalização insuficiente ou excessiva, fusão incompleta,
degradação química durante o processamento, etc. Na imagem ao lado tem-se uma tubulação de
PEAD que falhou em serviço (Schouwenaars et al. 2007). Observe que a fratura ocorreu ao longo da
direção longitudinal do tubo, o que sugere que tenha sido causada por excesso de orientação
molecular durante a fabricação.
(d) Causas ambientais. O ambiente de utilização dos produtos, sem dúvidas, é dos fatores complicadores
na utilização de produtos plásticos e uma das principais causas da falha prematura. Em geral, testes
em ambientes reais ou simulados para prever a vida útil são realizados de modo muito simplificado
ou, simplesmente, não são realizados. A consequência é que o projeto/desenvolvimento de um
produto deixa, frequentemente (mas não sempre) de contemplar as inúmeras interferências do
ambiente de uso. As principais causas ambientais são relacionadas com (i) temperatura (muito baixa
216
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
causa fragilização e outros efeitos8; muito alta causa empenamento, amolecimento e degradação
térmica), (ii) radiação ultravioleta e outros constituintes naturais (como ozônio, poluentes e névoa
salina), que podem causar degradação química, (iii) agentes químicos, que causam ataque químico,
solubilização ou stress cracking; (iv) umidade, que, em alguns polímeros, tem efeito plastificante,
causa hidrólise e, no caso de compósitos, provoca alteração na adesão entre a carga e a matriz. Esse
último caso está exemplificado na Figura 6.32, em que um compósito com fibra de vidro apresenta
uma boa adesão interfacial logo após a produção mas, após algum tempo de exposição em
temperatura elevada e presença de umidade, ocorre uma mudança radical na adesão entre os
componentes, o que leva a uma grande perda de propriedades
mecânicas. Considerando que, muitas vezes, os compósitos
são utilizados em ambientes desse tipo, trata-se de um
problema grave de falha prematura e que é de difícil solução.
Na imagem ao lado (Ratner, 1996 ) tem-se o caso de um
isolamento elétrico de um marca-passo implantado no
paciente que apresentou intensas rachaduras após algum tempo de uso. Análises detalhadas
sugeriram que o dano foi causado por oxidação do polímero, acelerada por íons metálicos presentes
no fio do aparelho. Algumas dessas causas ambientais serão descritas com maiores detalhes na
seção7.5 deste livro.
Figura 6.32. Efeito da exposição em ambiente saturado com umidade e temperatura de 100°C na adesão
interfacial entre o PBT e a fibra de vidro, inspecionados por microscopia eletrônica de varredura (Ishak
et al. 2001).
8
Reveja o caso da explosão da nave espacial Challanger, descrito na seção 3.1, que foi relacionada com a baixa
temperatura do ambiente no momento do lançamento.
217
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
A análise da topografia da fratura pode oferecer respostas à diversas questões, tais como:
Embora cada processo de fratura seja único com relação ao histórico de carregamento, tipo de
material, etc., existem algumas características típicas de uma superfície de fratura, que estão mostradas
esquematicamente na Figura 6.33. Por serem regiões “típicas”, não implica que todas as fraturas irão
apresentar essas características e da forma como estão representadas. Na análise topográfica se busca
9
Pode-se fazer um paralelo com a análise topográfica de um terreno, que é necessário para o projeto arquitetônico
e melhor aproveitamento dos espaços. O topógrafo faz o levantamento do relevo do terreno, indicando as alturas
do solo em relação a um ponto de referência em toda a área analisada e posiciona outros detalhes existentes
(como árvores, calçadas, elementos construtivos, etc.).
218
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
elementos gerais que auxiliam nas respostas acima, mas jamais se consegue interpretar cada detalhe de
uma superfície fraturada. As características principais dessas regiões são (Wolock and Newman 1964):
Zona espelho. A zona espelho, ou “mirror zone” é uma região lisa e plana caracterizada por uma
propagação frágil de crescimento em baixa velocidade. Na análise por MEV, faz=se uma varredura inicial
de toda a superfície de fratura (em pequeno aumento) e se busca a localização da(s) zona(s) espelho,
uma vez que é nessa região em que se localiza o ponto de iniciação da fratura, que pode ser no interior
ou na superfície do produto. Quanto maior a proporção da zona espelho em relação ao total da
superfície, maior a natureza frágil da fratura. Quanto mais plana, menor o desvio das trincas em
diferentes trajetórias e, como consequência, menor o consumo de energia durante a falha,
caracterizando a fragilidade do material. Essa região pode ser visível com uma pequena lente de
aumento ou mesmo a olho nu. Por MEV, aumentos maiores na zona espelho revelam marcas de fraturas,
como estrias e corrugações.
Zona de transição. A fratura propaga na zona espelho com baixa velocidade, mas, eventualmente, a
frente de propagação é desviada para diferentes planos. Isso ocorre porque as trincas perderam a força
para propagação, são aprisionadas e reiniciam em diferentes frentes, ou porque encontram, ao longo
do caminho, material com maior Kc e, portanto, menos propenso à propagação frágil. Essa é a região de
transição, que se mostra com maior rugosidade em comparação com a região espelho. Nessa zona, a
tensão aplicada e a velocidade de propagação são provavelmente maiores do que na zona espelho,
ocorrendo também a nucleação de outras frentes de propagação. As marcas de fratura são mais
numerosas e mais visíveis, mesmo em pequenos aumentos.
Zona áspera. Com o aumento da tensão e velocidade de propagação, as trincas crescem de forma mais
aleatórias, gerando muitas frentes de propagação, em diferentes planos topográficos, formando a
chamada zona áspera. As marcas geométricas de fratura se tornam intensas, produzidas pela interseção
de diferentes caminhos de propagação. Assim, as marcas de fratura são predominantes, com formações
como estrias, corrugações, zonas de rasgamento, parábolas, hipérboles, fibrilas, etc. Algumas dessas
marcas, como fibrilas e zonas de rasgamento, representam significativos processos de deformação
durante a fratura. Os caminhos percorridos pelas trincas são muitos maiores do que nas zonas
anteriores, sendo responsável pela maior parte da absorção de energia durante a falha catastrófica. A
zona áspera, portanto, é caracterizada por rápida velocidade de propagação e grandes desvios dos
caminhos das trincas, resultando em grande absorção de energia e ductilidade. A habilidade que um
material tem em apresentar esse tipo de comportamento depende de suas características moleculares
e estruturais, da temperatura, do nível e tipo de tensão aplicada, etc. Devido às diversas
heterogeneidades internas que os polímeros possuem (ver seção 5.5.3) as suas características de fratura
e, como consequência, a topografia da falha podem sofrer alterações localizadas, por exemplo, quando
219
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
a frente de propagação alcança uma região com diferente K c (menos cristalina ou mais orientada, por
exemplo). Isso também contribui para formações das diferentes marcas de fratura nessa região.
Zona de fibrilação. Embora não seja propriamente uma zona típica de fratura constante na ilustração da
Figura 6.33, a formação intensa de fibrilas causada pelo processo
de deformação altera radicalmente a natureza da fratura,
impedindo a formação das zonas anteriores. Fratura
completamente fibrilar ocorre em polímeros com grandes
deformações por escoamento plástico ou pseudo-dúctil, como na
imagem ao lado, obtida com o polipropileno (Rabello 1996).
Regiões com zonas de fibrilação também podem ser observadas em conjunto com outras zonas de
fratura.
Mostraremos a seguir alguns exemplos de micrografias feitas por MEV com comentários sobre
suas principais características. Ressaltamos que nesse tipo de análise é impossível explicar todo e
qualquer elemento presente na imagem, fazendo-se uma interpretação mais abrangente da natureza da
fratura.
220
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Caçadores de Mitos. Uma questão colocada nesse capítulo é se os capacetes de segurança precisam ser
descartados quando sofrem impacto. Essa pode ser uma questão que Os Caçadores de Mitos poderiam
resolver e você foi contratado para auxiliar no procedimento. Solte um peso determinado (por exemplo,
uma garrafa PET cheia de areia) de uma altura fixa sobre um capacete de ABS. Se ele não fraturar, repita
o procedimento várias vezes até a ruptura ou até você se convencer que a peça não irá fraturar nessa
condição. Refaça com um peso maior ou de uma altura maior.
Efeitos do crazing. Em amostras de HIPS ou ABS, faça um teste tensão-deformação até a ruptura. Em
novas amostras, tracione até 50, 60, 70, 80 e 90% da tensão máxima. Após cada um tensionamento,
realize novo ensaio mecânico até a ruptura. Compare os resultados com a amostra que foi ensaiada até
a falha final sem tensões intermediárias. Se possível, analise a superfície de fratura por MEV em cada
situação. Registre por fotografia o eventual embranquecimento após cada tensionamento. Para melhor
revelar as fissuras, você pode passar um marcador de quadro branco sobre a superfície, removendo o
excesso logo em seguida. Repita o procedimento para polímeros que se deformam por outros
mecanismos, como o PEAD e o PC.
Viscoelasticidade do queijo (baseado em (Pearson and Sperling 2019)). Um queijo tipo “prato” pode ser
utilizado para demonstrar o comportamento viscoelástico de fluência sob compressão. O queijo é
constituído por gordura, carboidratos, proteínas, água, etc. As proteínas, que são poliméricas, são
responsáveis pela resposta visocoelástica, auxiliadas pela água, que atua como plastificante. Coloque
um peso sobre meia peça de queijo prato e meça com um paquímetro a deformação instantânea. A cada
minuto meça novamente, aumentando o tempo de medida após ~20 minutos. Construa a curva de
223
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
deformação versus tempo. É possível calcular parâmetros viscoelásticos como E1, E2, viscosidade, tempo
de relaxação, etc. (Pearson and Sperling 2019).
Relaxação de tensão por dureza. Corte amostras de diversos materiais (PS, PP, PVC, PVC plastificado,
termofixo, compósitos) e faça ensaios de dureza, anotando os valores observados em função do tempo
de aplicação do penetrador sobre a amostra. Plote os dados obtidos para cada material, mostrando o
decaimento nos valores com o tempo. Compare os dados dos vários materiais correlacionando com as
suas tendências ao comportamento viscoelástico.
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226
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
227
A morfologia de um polímero pode ter grande influência na durabilidade do produto.
A natureza química do polímero, ou seja, os tipos de átomos e grupos presentes nas moléculas
é a base fundamental para o entendimento das propriedades dos produtos, e o resumo das diversas
influências relacionadas a esse aspecto está mostrado na Figura 7.1.
Figura 7.1. Resumo das influências da natureza química do polímero em suas principais propriedades
(elaborado pelo autor).
A estrutura química da unidade repetitiva de um polímero é a sua essência, o seu “DNA”, o que
o diferencia de outros tipos de polímeros. Essa estrutura química define as forças que unem os átomos
da cadeia principal (forças intramoleculares), as energias de ligação entre as cadeias (forças
intermoleculares) e a flexibilidade (ou rigidez) da cadeia. Um grupo aromático na cadeia principal, como
no PET e no policarbonato, por exemplo, torna a molécula mais rígida, com consequências diretas nas
temperaturas de transição vítrea e de fusão e no módulo elástico. A mesma tendência ocorre quando
grupos polares estão presentes, como no caso das poliamidas. Se os dois efeitos – grupos volumosos e
229
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
polares – são combinados, e um exemplo são as poliamidas aromáticas como o Kevlar®, o material
resultante é excepcionalmente resistente mecanicamente e ao calor.
Em polímeros em que as forças intermoleculares são muito fortes, como nas poliamidas,
poliésteres e poliacetais, a massa molar deixa de ser tão importante para se obter um bom
comportamento mecânico (como é para polímeros pouco polares como o polietileno e o polipropileno).
Isso porque nos materiais apolares a alta massa molar é necessária para dar coesão mecânica, seja pelos
emaranhados moleculares ou pelas cadeias atadoras, estas últimas presentes nos polímeros
semicristalinos. Por outro lado, os polímeros com elevada polaridade têm a sua coesão mecânica
conferida também pelas forças intermoleculares, e a massa molar muito alta aumenta a temperatura de
fluxo, que pode se tornar muito próxima da temperatura de decomposição. Evidentemente, se for
possível combinar alta massa molar com alta polaridade, os efeitos nas propriedades mecânicas são
potencializados. As forças intramoleculares, por outro lado, têm uma influência maior na estabilidade
térmica dos polímeros, e uma influência muito menor nas propriedades mecânicas. Isso porque os
processos de fratura são muito dependentes da presença de defeitos e outros elementos
concentradores de tensão (ver seção 6.2) do que propriamente da energia que une os átomos da cadeia
principal. Uma exceção a essa regra seria o caso das fibras, em que a altíssima orientação molecular
alcançada durante o processamento faz com que as ligações principais sejam solicitadas diretamente
pelos esforços mecânicos. A estrutura química também define características como absorção seletiva de
luz (propriedades óticas), movimentação de elétrons (propriedades elétricas) e capacidade de interação
com agentes químicos (propriedades químicas).
230
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Tabela 7.1. Comparação entre as propriedades de uma poliamida 6 com copolímeros PA 6/66. Fonte:
www.technyl.com.
É fato comum que a massa molar tem grandes consequências para o comportamento dos
produtos plásticos. Afinal, o grande tamanho das moléculas é a principal característica dessa classe de
231
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
materiais que, em geral, em maior ou menor grau, transcende todas as demais influências. Quanto maior
a massa molar, maior o número de emaranhados moleculares, que são responsáveis pela coesão
mecânica do material, mas também exerce forte influência no comportamento reológico. Como
discutido no Capítulo 2, a indústria petroquímica produz diversos grades para cada tipo de polímero,
visando atender determinados requisitos de aplicação e de processamento1. Os grades de massa molar
mais baixa tendem a ser mais facilmente processáveis por técnicas como injeção ou rotomoldagem, mas
possuem comportamento mecânico inferior quando comparados com os grades de alta massa molar.
Por outro lado, no processamento por extrusão grades de alta massa molar são geralmente utilizados.
Para o caso de polímeros cristalizáveis, o tamanho das cadeias exerce duas influências
relevantes: (i) por um lado, os emaranhados moleculares reduzem a cristalizabilidade do material e, com
menor grau de cristalinidade, tem-se as consequências nas propriedades mecânicas e físicas; (ii) por
outro lado, tamanhos maiores de cadeia geram um maior número de cadeias atadoras, que unem os
cristais e os esferulitos entre si e, assim, são responsáveis pelo bom balanço de propriedades mecânicas
dos polímeros semicristalinos (ver seção 4.4.4). Um caso extremo da influência da alta massa molar é o
polietileno de ultra-alta massa molar (na faixa de 1.000.000 a 10.000.000g/mol), que possui
propriedades extraordinárias e aplicações diferenciadas (ver quadro na seção 4.2.1), mas tem na sua
dificuldade de processamento a grande desvantagem prática.
Um exemplo comparativo de alguns grades de poliacetal está mostrado na Tabela 7.2. Observe
que a temperatura de fusão não variou com a massa molar, conforme já discutido na seção 5.6. As
demais propriedades apresentadas dependem da influência relativa do grau de cristalinidade (que,
infelizmente, o fabricante não informou) e do tamanho das cadeias. Quanto maior o índice de fluidez,
menor a massa molar, o que facilita a cristalização e, como consequência, influencia positivamente
propriedades como HDT e módulo de Young. Por outro lado, massas molares mais elevadas dificultam a
cristalização e, além disso, formam mais emaranhados moleculares. A combinação desses dois efeitos
resultou em grande aumento na tenacidade, como se observa para os grades de menor índice de fluidez.
Por outro lado, essas duas influências têm efeitos opostos na resistência tênsil e, devido a isso, essa
propriedade mostrou ser pouco variante com o índice de fluidez.
1
Lembrando que a indústria petroquímica, em geral, não especifica as massas molares dos seus grades, e sim o
índice de fluidez, que uma medida inversa da massa molar.
232
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Tabela 7.2. Propriedades de alguns grades de poliacetal, com diferentes índices de fluidez. Fonte aqui.
Grades com diferentes índices de fluidez (em g/10min)
1,0 6,6 11,0 16,0
Tm (°C) 177 177 177 177
HDT (1,8MPa; °C) 123 124 122 125
Resist. Impacto Izod (J/m) 107 75 69 59
Módulo elástico (MPa) 2900 3200 3500 3500
Resist. tração (MPa) 68 68 69 70
233
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 7.2. Representação dos aspectos estruturais e suas principais influências, elaborada pelo autor.
A estrutura física também é definida pela estrutura química e molecular do polímero, como já
revisado nas duas seções anteriores. Por exemplo, copolímeros aleatórios possuem estrutura molecular
irregular e, como consequência, têm maior dificuldade em cristalizar do que os homopolímeros
regulares. O polietileno, com suas moléculas flexíveis, cristaliza muito mais
rapidamente do que o polipropileno que, por sua vez, tem cristalização mais
rápida do que o poliestireno isotático, que possui grande rigidez molecular. A
velocidade de cristalização afeta não apenas o grau de cristalinidade alcançado
durante o processamento, mas também influencia no tamanho das cristalitos
234
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
e estruturas morfológicas (ver seção 5.1). No caso da morfologia esferulítica, o tamanho desses
elementos exerce grande influência sobre as propriedades mecânicas uma vez que define, junto com a
massa molar, a concentração de cadeias atadoras.
Muitas vezes é difícil se separar os efeitos da cristalinidade e do tamanho dos cristais nas
propriedades. Esferulitos muito grandes têm baixa superfície específica e, por consequência, um
pequeno número de cadeias atadoras. Assim, para um mesmo grau de cristalinidade, amostras com
cristais maiores resultam em menores resistência à tração, ao impacto e também menor elongação.
Polímeros com cristais muito grandes geralmente falham por fratura frágil nos contornos dos esferulitos
(ver seção 6.2.4), onde existem poucas moléculas atadoras, alta concentração de impurezas e cadeias
com baixa massa molar, resultado de efeitos de segregação durante a cristalização.
Uma compilação dos principais efeitos do grau de cristalinidade nas propriedades dos polímeros
está mostrada na Tabela 7.3. Quanto mais cristalino for o material, maior o empacotamento molecular,
resultando em maior rigidez, resistência tênsil e ao calor, enquanto que as regiões amorfas conferem
maciez, tenacidade e transparência. Na maioria dos casos se busca um equilíbrio de propriedades e,
sendo assim, graus de cristalinidade muito elevados podem não ser desejáveis para determinadas
aplicações. Exemplos mais diretos da cristalinidade foram mostrados nas Figuras 4.4, 4.23, 5.22, 6.19 e
o efeito nas curvas dinâmico mecânicas na Figura 6.27.
Transparência Diminui
Tg e T m Não afetam
Permeabilidade Diminui
235
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Por fim, a orientação molecular, que também é definida pelo processamento, é igualmente
relevante e determinante para as propriedades de todos os polímeros
– sejam amorfos ou semicristalinos. Isso tem sido abordado
praticamente ao longo de todo este livro – veja, por exemplo, Figuras
2.4, 2.5, 2.7 e 5.30. O material orientado se torna anisotrópico, com alta
resistência no sentido da orientação e baixa resistência no sentido
ortogonal à orientação. Mais um exemplo está mostrado na Figura 7.3 para o caso do poliestireno
(amorfo), em que a resistência à tração é muito superior quando o esforço é aplicado na direção da
orientação molecular. Isso é resultado da diferença de energia das ligações químicas primárias (no
sentido da orientação) e secundárias (no sentido transversal). Salvo nos casos em que se sabe o sentido
da solicitação mecânica (por exemplo, em fibras), a orientação molecular é indesejável pois torna o
produto mais vulnerável em determinadas direções de aplicação da força, especialmente quando
solicitado por esforços de impacto, que são multidirecionais (ver Figuras 2.6 e 2.7).
236
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
237
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
temperatura;
umidade;
radiação ultravioleta e outras causas de degradação;
agentes químicos agressivos.
238
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
239
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 7.5. Representação esquemática (elaborada pelo autor) do efeito combinado da temperatura e
da cristalinidade na resistência ao impacto de polímeros.
A umidade causa três efeitos principais em determinados tipos de polímeros: (i) nos materiais
higroscópicos, afeta as propriedades mecânicas e estabilidade dimensional e causa problemas no
processamento; (ii) provoca delaminação em compósitos; (iii) nos polímeros hidrolisáveis, causa a
degradação química por hidrólise.
A origem da higroscopicidade está no tipo de ligação química secundária. A água, que forma
pontes de hidrogênio, pode interagir com grupos polares presentes em poliamidas, poliéteres,
poliésteres e poliuretanos, se posicionando entre esses grupos e, assim, reduzindo localmente a
densidade de energia coesiva e aumentando (um pouco) o espaçamento molecular. Com isso, o material
higroscópico tem as suas dimensões alteradas – com expansão em ambientes úmidos e contração em
ambientes secos. Essa instabilidade pode ser indesejável em aplicações como peças técnicas, em que se
requer grande precisão dimensional. Como a umidade ambiental é cíclica, as dimensões de um produto
higroscópico flutuam com essa variação, mas a experiência mostra que o total de variação dimensional
raramente ultrapassa 0,5% em uma dada direção (Campo 2008) – um valor aparentemente baixo, mas
pode ser inaceitável em produtos de alta precisão. No caso das poliamidas, por exemplo, que é a classe
de polímeros comerciais mais afetada por esse tipo de fenômeno, o teor de umidade absorvida depende
da concentração dos grupos amida (que varia conforme o tipo de poliamida), da cristalinidade, do tempo
240
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
de exposição e da umidade ambiental. A Figura 7.6(a) mostra que o teor de umidade absorvido depende
da umidade atmosférica mas também do tipo de material. O ambiente de exposição também exerce
uma forte influência (Figura 7.6(b)) na cinética de absorção. Vale lembrar que o processo de absorção (e
posterior desidratação) de umidade é, geralmente, bastante lento, podendo levar meses para atingir a
sua saturação, a depender da temperatura de exposição e da espessura do produto. A presença de
cargas, fibrosas ou particuladas, tem o efeito de reduzir a umidade absorvida.
O PTFE, cujo principal nome comercial é o Teflon® possui propriedades bastante especiais, como uma
temperatura de fusão elevada (327°C), características hidrofóbicas e baixo coeficiente fricção. A alta
Tm é resultado da eletronegatividade conferida pelos 4 átomos de flúor na unidade repetitiva. A sua
Tg, entretanto, é assunto controverso – alguns reportam ~115°C, outros ~-110°C e a sua alta
cristalinidade (que pode alcançar mais de 90% devido às cadeias muito regulares e sem ramificações) dificulta
determinações muito precisas. Foi proposto que esse polímero possui duas Tg´s – uma mais elevada, devido às
regiões desordenadas próximas aos cristais e a outra correspondente às regiões longe dos cristais. As propriedades
gerais do material e a forma como variam com a temperatura sugerem que a Tg “real” é a mais baixa.
O PTFE comercial é sintetizado com alta massa molar (superior a 1.000.000 g/mol) que, de forma similar ao
polietileno de ultra alta massa molar, resulta em grande dificuldade de processamento. A produção de tarugos
para posterior usinagem e de fitas para estiramento são as formas mais
comuns. Além de peças técnicas com baixo coeficiente de fricção e fitas veda-
rosca, o PTFE é muito utilizado em revestimentos diversos, como partes
internas de funis de alimentação, silos, componentes de bombas e motores,
dispositivos médicos e... panelas. O comportamento antiaderente do PFTE
advém da estrutura balanceada e altamente eletronegativa dos átomos de
flúor, que repelem os outros átomos que se aproximam da sua superfície. O seu coeficiente de fricção é 0,04, muito
mais baixo do que o do alumínio (1,9) e o do polietileno (0,2). No mercado internacional, o PFTE custa cerca de
US20,00/Kg e não é produzido no Brasil.
A grande polêmica desse material é no seu uso como revestimento de panelas (ver aqui o processo
completo de fabricação), evitando a adesão de gorduras e, claro, facilitando a limpeza. Na polimerização por
emulsão do tetrafluoretileno utiliza-se um surfactante chamado ácido perfluorooctanóico (PFOA ou C8) que não é
completamente eliminado após a polimerização, com possibilidade de migrar e contaminar os alimentos. Além
disso, a manipulação dos insumos e o descarte dos resíduos de polimerização podem ter severos impactos aos
trabalhadores e ao ambiente. O documentário “The devil we know” aborda toda a problemática envolvida no tema.
As indústrias produtoras, por outro lado, afirmam que a espessura da camada de PFTE nas panelas é muito baixa
e o desprendimento de C8 é desprezível para causar qualquer dano à saúde das pessoas. A polêmica permanece...
241
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
(a) (b)
Figura 7.6. (a) Efeito da umidade relativa do ar no teor absorvido para vários tipos de poliamidas e (b)
efeito da condição de exposição no teor absorvido de umidade pela PA 66 (Brydson 1999).
Polímeros higroscópicos requerem uma atenção especial no processamento, uma vez que a
umidade presente na matéria-prima provoca uma série de problemas, como manchas, porosidade,
perda de brilho e até degradação química (no caso daqueles polímeros que são hidrolisáveis). Materiais
que apresentam esse tipo de problema devem ser comercializados em embalagens especiais e serem
submetidos a secagem antes do processamento, assegurando baixo nível de umidade. Veja na Tabela
7.4 exemplos de condições de secagem para alguns tipos de
polímeros. As máquinas de processamento podem também conter
periféricos como desumidificadores e secadores (ver imagens ao
lado) para garantir a entrada da matéria prima no equipamento
com percentual muito baixo de umidade.
Tabela 7.4. Condições típicas de secagem para alguns polímeros comerciais e teor máximo de umidade
aceitável (Simielli and Santos 2010).
242
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 7.7. Comparativo das curvas tensão-deformação da PA 66 seca e condicionada em dois ambientes,
com diferentes umidades relativas do ar (Campo 2008).
ambiente seco ou úmido e, frequentemente, informam os valores para as duas situações, conforme
imagem acima (arkema.com). Evidentemente, a diferença de propriedades depende do tipo de material,
sendo influenciado por sua higroscopicidade e pelo tipo de ligação química secundária.
Figura 7.8. Superfícies de fratura de compósitos de PP com fibra de vidro, mostrando a consequência da
exposição ambiental na adesão interfacial entre a matriz e o reforço (Rabello et al. 2000).
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Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Finalmente, um último efeito da umidade/água – mas não menos importante – são as reações
de hidrólise, que ocorrem com alguns tipos de polímeros. Determinados grupos químicos, como éster,
éter e amida, podem reagir quimicamente com as moléculas de água, causando cisões moleculares, em
um processo denominado de degradação por hidrólise. Por exemplo, um poliéster é formado pelas
reações de diácidos carboxílicos com um diálcoois, com liberação de moléculas de água:
polimerização
HOOC R COOH HO R' OH C R C O R' O H2O
hidrólise O O
Durante a síntese, a água tem que ser removida ou neutralizada para forçar a reação ocorrer para o
“lado direito”. Caso a água esteja presente, irá haver competição com reações no sentido inverso,
reduzindo o rendimento da polimerização e limitando o tamanho das cadeias obtidas. No entanto, se,
posteriormente, esse polímero for utilizado em ambiente contendo umidade/água, poderá haver reação
química dos grupos éster com as moléculas de água, provocando cisão das cadeias e até reversão ao
estado monomérico.
245
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 7.10. Efeito do teor de umidade durante o processamento na retenção da viscosidade inicial do
PET (a) e nas propriedades de compósitos PET-fibra de vidro (b) (Simielli and Santos 2010).
Na esterilização de produtos, a hidrólise pode ocorrer e causar grandes efeitos. O caso mais
clássico é o das mamadeiras de policarbonato (PC). Esse material
substituiu o vidro com grande
sucesso, dada a sua combinação de
propriedades – alta tenacidade, transparência e alta temperatura
de amolecimento. Entretanto, a hidrólise do PC libera moléculas
de bisfenol-A, uma substância altamente tóxica, com inúmeros
riscos à saúde humana (veja matéria aqui). As mamadeiras são
esterilizadas e, frequentemente, submetidas a choque térmico por
imersão em água gelada após a esterilização, o que causa fissuras no produto, aumentando as changes
do bisfenol-A migrar para o alimento e contaminar o bebê. Por esse motivo, o policarbonato foi banido
nessa e nas demais aplicações em contato com alimentos e brinquedos, embora o risco seja contestado
pelos fabricantes. Nas aplicações como biomateriais, os polímeros hidrolisáveis apresentam problemas
adicionais pois as reações de hidrólise são aceleradas em meio ácido e na presença de enzimas e
eletrólitos. Diversos casos de falha foram reportados nessas aplicações, como na fratura de tubos de
poliuretano durante a retirada em ambiente gástrico (Ezrin 2013).
246
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Os polímeros biodegradáveis
Os polímeros sintéticos são tidos como materiais não biodegradáveis e que, diz a grande imprensa,
podem levar “centenas” de anos para serem absorvidos pela natureza. Essas estimativas são por demais
alarmistas e, em geral, sem nenhum amparo científico, mas não iremos entrar no mérito dessa discussão.
Uma classe muito especial de polímeros podem ser rapidamente biodegradados e se constitui em
importante opção para atender aos apelos “ambientalistas”, mas, principalmente, para conferir
funcionalidades especiais em determinadas aplicações.
Algumas polímeros naturais, como celulose, amido e quitosana, e outros sintéticos como poli(ácido
láctico), poli(hidroxibutirato) e poli(caprolactona) são intrinsicamente biodegradáveis, podendo se
decompor pela ação enzimática de microorganismos em meio adequado de temperatura, pH, umidade
e oxigênio. Todos esses polímeros são hidrofílicos e hidrolisáveis pois é através de reações de hidrólise
em condições adequadas que a ação degradativa acontece2. A biodegradação pode ocorrer em duas
etapas: (i) despolimerização, em que as enzimas dos microorganismos rompem as ligações hidrolisáveis,
gerando cadeias menores e (ii) mineralização, em que as cadeias suficientemente pequenas são
transportadas para o interior dos organismos, transformados em biomassa e geram produtos como CO2,
N2, CH4, água e sais minerais. Descrições detalhadas desses processos e dessa classe de materiais estão
disponíveis em bons livros nacionais, (Fechine 2010; Rosa and Pantano Filho 2003)
A questão que se coloca no uso dos plásticos biodegradáveis é a expectativa de vida útil. Em produtos
duráveis e de alto valor agregado, não tem sentido utilizar materiais podem
sofrer deterioração ambiental em pouco tempo, comprometendo a
performance dos produtos. No setor de embalagens e descartáveis, com a
proibição do uso de plásticos tradicionais em algumas cidades, os polímeros
biodegradáveis têm encontrado um nicho promissor de aplicação, mas o
custo elevado desses materiais representa uma dificuldade mercadológica.
Existem também os polímeros tradicionais com aditivos oxi-bio-degradáveis, mas são opções bastante
polêmicas (veja aqui) – seja pelos resultados práticos alcançados seja por potenciais riscos toxicológicos
que podem apresentar.
As aplicações mais importantes dos polímeros biodegradáveis são aquelas em que essa característica
resulta em funcionalidade especial ao produto, como no caso de biomateriais usados como veículo para
liberação controlada de fármacos, como fios de sutura bioabsorvíveis ou em implantes, em que a
biodegradação do polímero no organismo ocorre concomitantemente com a regeneração dos tecidos
ósseos, por exemplo.
2
Não confundir os polímeros biodegradáveis com aqueles que se originam de fontes renováveis. Por exemplo, o
polietileno é sintetizado a partir do monômero etileno. Esse monômero é, tradicionalmente, obtido de derivados
247
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
O termo degradação significa reações químicas, geralmente indesejáveis, provocadas pelo meio
externo e que alteram as propriedades dos polímeros. A degradação pode ser provocada por diferentes
meios, como temperatura, radiação ultravioleta, radiação gama, etc., e, quando ocorre com participação
do oxigênio, tem-se as degradações oxidativas: termo-oxidativa, foto-oxidativa, radio-oxidativa, etc. Ao
contrário da degradação por hidrólise, que é restrita a alguns tipos de materiais, todos os polímeros –
indistintamente – sofrem os efeitos da degradação oxidativa, cujo mecanismo geral está mostrado na
Figura 7.11.
In icia çã o RH
R [1]
RO + RH ROH + R [6]
HO + RH R + H2O [7]
Ter m in a çã o R + R R R [8]
ROO + R R O O R [9]
ROO + ROO R O O R + O2 [10]
A iniciação ocorre quando a energia fornecida externamente (por temperatura, radiação, etc.)
supera a energia de dissociação das ligações químicas presentes na molécula polimérica, seja na cadeia
principal ou na cadeia lateral, gerando os chamados radicais livres. Quando o oxigênio estiver presente,
o que normalmente ocorre, este reage rapidamente com os radicais livres (reação 2) pois ambos os
componentes são altamente reativos. Formam-se os radicais peróxi (ROO•) (reação 3) que, igualmente
reativos, atacam outras moléculas poliméricas (reação 4) e formam novos radicais livres e os chamados
do petróleo, mas também pode ser sintetizado a partir de fontes renováveis como a cana de açúcar. Nesse último
caso, polietileno obtido é denominado de “polietileno verde”, mas isso não resulta em capacidade de
biodegradação pois a molécula final (polietileno) é a mesma da obtida pelo petróleo. Casos similares ocorrem com
poliuretanos e resinas epoxídicas.
248
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
hidroperóxidos. Estes são compostos não radicalares mas contém ligações peróxido (O–O), que são
extremamente instáveis e, certamente, se decompõem nas condições de exposição em que a
degradação foi iniciada (reações 4-5). Radicais peróxi e alcoxi (ROO• e RO•) são formados, gerando
outros ataques degradativos (reações 6-7). Finalmente, quando radicais livres se encontram, tem-se as
reações de terminação (8-10) que, conceitualmente, significa a eliminação do centro ativo. No entanto,
observa-se que as reações de terminação 9 e 10 formaram grupos peróxido, que são pouco estáveis e,
certamente, darão início a novas reações de iniciação. Algumas observações abaixo sobre o mecanismo
descrito são relevantes:
(a) a iniciação ocorre em pontos mais fracos da cadeia, que podem ser nas ligações químicas normais,
das unidades repetitivas, ou em qualquer outro tipo de ligação, incluindo defeitos de polimerização,
extremidades da cadeia ou mesmo em impurezas e aditivos presentes. Um resíduo de
polimerização, um contaminante de processamento ou moléculas de pigmento, por exemplo,
podem ser o local de iniciação. Uma vez iniciada, os radicais livres gerados atacam as moléculas
poliméricas, mesmo que iniciação não tenha ocorrido nelas;
(b) pode haver reações de reacoplamento dos radicais livres, um fenômeno chamado de “efeito
gaiola”. Na ausência de oxigênio, esse efeito é mais significativo;
(c) em produtos sólidos, ocorre uma grande diferença na extensão da degradação química na superfície
em comparação com o interior. Isso é resultado de uma concentração muito maior de oxigênio nas
camadas superficiais. Assim, uma região altamente degradada pode ser formada na superfície, e o
interior do produto permanecer intacto;
(d) a presença de íons metálicos, provenientes de cargas e outros aditivos, resíduos de polimerização
ou o próprio substrato (como fios de cobre), catalisam as reações degradativas, sendo um problema
adicional que deve ser considerado;
(e) o mecanismo descrito nas reações da Figura 7.11 é uma versão simplificada para o entendimento
geral do processo degradativo, mas cada tipo de polímero possui suas reações específicas que
ocorrem durante uma exposição térmica ou fotoquímica. Por exemplo, o polietileno forma grupos
vinil e carbonil, enquanto que o PET forma ácidos carboxílicos. As reações que levam à cisão da
cadeia principal também são específicas para cada tipo de polímero e tudo isso está fartamente
documentado na literatura científica.
autor) mostra um eletrodoméstico novo em comparação com um outro, de mesma marca e modelo,
após alguns anos de uso. O estado de deterioração superficial pode ser tão significativo que, mesmo
mantendo a sua funcionalidade, o produto pode ter a sua vida útil encurtada.
(a) condições de exposição, como temperatura, intensidade de radiação ultravioleta, presença de íons
metálicos, umidade, poluentes, etc. Um produto exposto em ambiente tropical como no Brasil terá
uma degradação muito mais intensa quando comparado com uma exposição realizada em clima
temperado, como no Canadá;
(b) estrutura química do polímero. As maiores influências são a energia das ligações químicas na cadeia
polimérica, presença de pontos “frágeis” como ramificações, defeitos químicos e comonômeros. Por
exemplo, o polipropileno é muito mais degradável do que o polietileno de alta densidade pois a
presença de carbonos terciários no PP reduz a intensidade das ligações C-H, ao contrário da simetria
energética que existe no PEAD. O PEBD, com suas ramificações, possui um certo número de carbonos
terciários e, como consequência, apresenta estabilidade intermediária entre o PEAD e o PP. A Figura
7.12 mostra a diferença de comportamento do PEAD e do PP, expostos ao intemperismo natural,
observando-se que, enquanto o PEAD manteve sua resistência mecânica por todo o período de
exposição, o PP, embora mais resistente inicialmente, apresentou redução significativa nessa
propriedade após algumas semanas;
(c) Estrutura física do polímero. A oxidação ocorre basicamente na fase amorfa e na superfície dos
cristalitos, uma vez que a difusão do oxigênio para o interior dos cristais é dificultada pelo elevado
empacotamento das moléculas. Assim, produtos mais cristalinos e mais orientados tendem a
apresentar menor extensão da degradação química. No entanto, o processo degradativo nos
polímeros semicristalinos apresentam grandes heterogeneidades, com inúmeras consequências para
as propriedades (Rabello and White 1997a). A morfologia do material tem também uma grande
influência no comportamento mecânico dos polímeros semicristalinos degradados. A Figura 7.13(a)
mostra que o polipropileno com esferulitos grandes deteriorou muito mais rapidamente do que o
mesmo material produzido com esferulitos menores, apesar dos primeiros terem apresentado menor
quantidade de degradação química Figura 7.13(b). A explicação para isso é que as cisões moleculares
que ocorrem nos contornos dos esferulitos são especialmente prejudiciais para o comportamento
mecânico devido à ruptura das cadeias atadoras. Como nos esferulitos maiores o número de cadeias
atadoras é bem menor do que nos esferulitos menores, o efeito de cisão dessas cadeias é
proporcionalmente mais significativo;
250
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
(d) Presença de aditivos e impurezas. Como comentado anteriormente, impurezas podem atuar como
promotores da degradação, assim
como determinados aditivos. As
imagens ao lado (fotos do autor)
mostram compósitos de PP com fibra
de madeira, antes e após exposição ao
intemperismo em laboratório. Note a
intensa deterioração superficial dos compósitos após a exposição, em que os inúmeros componentes
dessas cargas, como lignina, celulose e ceras naturais, podem atuar como iniciadores e promotores
da degradação da matriz. Por outro lado, existem os aditivos que atuam como retardantes da
degradação como determinados tipos de pigmentos e, principalmente os estabilizantes. Estes
últimos estão presentes na grande maioria das composições poliméricas e podem atuar por diversos
mecanimos: (i) reagindo com os radicais livres (antioxidantes primários), (ii) desativando os
hidroperóxidos (antioxidantes secundários) ou ainda (iii) neutralizando os íons metálicos presentes
(desativadores de metais) ou (iv) absorvendo radiação ultravioleta. Dada a instabilidade química das
moléculas poliméricas, a adição de estabilizantes é absolutamente essencial para conferir proteção
durante o processamento e/ou durante o uso de artefatos plásticos, sendo considerados como
aditivos obrigatórios;
(e) história. A degradabilidade de um material polimérico é muito dependente de pontos frágeis
presentes na cadeia. O que ocorreu durante a síntese, processamento ou uso anterior terá como
consequência a incorporação de determinados elementos que podem atuar como promotores da
degradação. Por exemplo, muitos sistemas catalíticos utilizam titânio que, na forma iônica, catalisa a
degradação do material. Como a purificação dos resíduos de síntese não é muito viável
economicamente, esses íons terão forte influência na cinética de degradação dos polímeros
sintetizados com esse tipo de catalisador. De fato, a rota de síntese mostrou ter forte influência na
estabilidade térmica de polímeros (Tikuisis and Dang 1998). Considere também um produto
reprocessado – seja pela reciclagem pós-consumo ou pela
reciclagem industrial. A cada (re)processamento ou pela própria
história de utilização, novos grupos sensíveis (como os
hidroperóxidos) são gerados, que tornarão o material mais
susceptível aos efeitos degradativos. Por essa razão é
absolutamente essencial se fazer uma re-estabilização nos materiais reciclados para torna-los
minimamente viáveis tecnologicamente.
251
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 7.12. Efeito da exposição natural da resistência à tração do PP e do PEAD (Fechine et al. 2006)
Figura 7.13. (a) Variação da resistência à tração em função do tempo de exposição à radiação ultravioleta
para o PP com dois diferentes tamanhos de esferulitos. (b) Para esses mesmos materiais, extensão da
degradação química, medida por espectroscopia de infravermelho. As amostras com os esferulitos
maiores são também as mais cristalinas (Rabello and White 1997b).
252
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
A presença de agentes químicos em contato com um produto polimérico durante a sua aplicação
também pode alterar o comportamento do mesmo. Os casos da hidrólise e da degradação oxidativa
mostram as grandes consequências que essas reações químicas que podem causar, a depender do
material e das condições de exposição. Quando substâncias líquidas (simplificando aqui para
“solventes”) entram em contato com produtos plásticos as várias possibilidades de interação estão
resumidas na imagem a seguir:
253
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Partindo do questionamento mais clássico – dissolve ou não dissolve? – vale o princípio da físico-
química, em que a dissolução ocorre quando existe uma boa interação entre os componentes, com certa
similaridade de forças intermoleculares. Um solvente polar não dissolve um polímero apolar, por
exemplo, e o resultado é a inércia química. Caso haja boa interação entre os componentes, poderá haver
a solubilização (ou plastificação, que é um caso especial de solubilização), com uma etapa intermediária
de inchamento. Conhecer os agentes químicos que provocam solubilização (e outros efeitos) é um dos
requisitos importantes na seleção do material.
254
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 7.14. Efeito da concentração de ácido clorídrico na resistência à fadiga do poliacetal, testado em
ciclos com tensão máxima de 35MPa (Scheirs 2000).
O efeito ambiental mais frequente, que corresponde a cerca de 25% de todas as falhas dos
materiais plásticos serviço, é o stress cracking. Esse tipo de fenômeno é de natureza apenas física e
ocorre quando se tem a combinação de um agente químico agressivo simultaneamente com a aplicação
de tensão mecânica, conforme as etapas mostradas na Figura 7.15.
Figura 7.15. Estágios de desenvolvimento de fissuras e trincas por stress cracking (Jansen 2004).
A tensão pode ser exercida externamente ou mesmo na forma de tensões de moldagem – o que
torna o problema ainda mais difícil de ser contornado. Não é todo agente químico que é causador do
ESC, sendo preciso possuir alguma afinidade com a estrutura molecular do polímero, com interação
intermediária entre a inércia total e a solubilização. O agente químico consegue atuar pontualmente,
nos locais em que existe alta concentração de tensão, provocando um tipo de plastificação localizada,
255
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
que resulta no desenvolvimento de crazes e, eventualmente, trincas. A Tabela 7.5 mostra alguns
exemplos de combinação polímero-fluido que resulta em ESC. Como se trata de um fenômeno que é
consequência da interação entre moléculas, um agente de stress cracking para um determinado
polímero pode ser totalmente inerte, ou ser solvente, para outro tipo de polímero.
Tabela 7.5. Exemplos de combinações que causam stress cracking em alguns polímeros. Dados de fontes
diversas.
256
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Figura 7.16. Fissuramento superficial do poliestireno em contato com o butanol durante ensaio mecânico,
cujas curvas tensão-deformação estão mostradas ao lado (Sousa et al. 2006).
Um outro exemplo é mostrado ao lado (Braz et al. 2017), em que corpos de prova de
policarbonato foram submetidos a 3 diferentes forças sob
contato com o etanol: 600N (amostra a), 1200N (amostra b)
e 1800N (amostra c). A diferença de efeitos observados com
o valor da força aplicada é notória, indicando a forte
dependência do stress cracking com a condição de
tensionamento.
É possível que o stress cracking ocorra simultaneamente com ataque químico, como se verificou
em estudos do PET com soluções aquosas de hidróxido de sódio (Figura 7.17). Além do intenso
fissuramento superficial, a massa molar foi significativamente reduzida, mesmo após o curto tempo de
contato durante os experimentos. Evidentemente, esse tipo de ocorrência potencializa os efeitos pois,
além da presença das trincas concentradoras de tensão, causadas pelo ESC, a redução da massa molar,
devido ao ataque químico, contribui ainda mais para a depreciação nas propriedades mecânicas desse
material.
257
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
45000
40000
35000
Mw (g/mol)
30000
25000
20000
15000
10000
PET puro NaOH 1M NaOH 3M
Figura 7.17. Efeito da presença de soluções aquosas de hidróxido de sódio e tensão mecânica no
fissuramento superficial e massa molar do PET (Teofilo et al. 2009).
O uso de aditivos para o ajuste das propriedades dos polímeros é considerado como a alternativa
mais rápida, fácil, versátil e econômica quando comparado com a síntese de novos polímeros ou mesmo
com a copolimerização. Pode-se considerar que praticamente nenhum produto polimérico seja
comercializado sem a presença de aditivos e, assim, esse tema assume uma grande importância técnica,
258
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
mercadológica e econômica para a área. Os aditivos são adicionados com três objetivos principais: (i)
proteger o material, seja durante o processamento ou ao longo de sua vida útil; (ii) melhorar o
processamento e/ou (iii) modificar as suas propriedades.
A escolha do tipo e da concentração do aditivo a ser adicionado deve ser feita de forma bastante
criteriosa e com estudos experimentais de desenvolvimento de formulações, uma vez que não existem
receitas prontas que sejam apropriadas para todos os casos. Além disso, podem ocorrer efeitos
antagônicos e sinérgicos entre aditivos diferentes. Por exemplo, a ação de um foto estabilizante pode
ser inibida pela presença de determinados pigmentos ou cargas minerais; um plastificante pode
interferir quimicamente na ação de um retardante de chama.
Quem utiliza aditivos deve ter sempre em mente o gráfico esquemático da Figura 7.18. Seja qual
a for a propriedade de interesse, a tendência geral é que haja um ganho até um certo limite onde, a
partir dele, o benefício seja desprezível ou, pior, haja um decréscimo no desempenho. Utilizar um teor
de aditivo acima do limiar indicado não faz sentido pois representaria um custo desnecessário e, além
disso, aumenta-se as chances de interferência em outras propriedades ou em outros tipos de aditivos.
Na verdade, o objetivo talvez nem seja o que atingir o teor limiar e sim de
alcançar a propriedade desejada – que pode ser de um valor menor do que o
máximo. Apenas testando-se as composições pode-se conhecer o real
comportamento do material aditivado, fazendo-se as escolhas mais racionais,
técnicas e econômicas. Existem empresas especializadas em preparar
composições já prontas, contendo pacotes de aditivos, recomendadas para
determinados campos de aplicação.
Teor limiar
Teor de aditivo
Figura 7.18. Representação esquemática das possibilidades de efeitos de aditivos nas propriedades de
um polímero (Rabello and de Paoli 2013).
259
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Faremos a seguir uma breve descrição dos principais tipos de aditivos utilizados em polímeros e
suas funções. Como o assunto é bastante vasto e transcende os objetivos deste livro., recomenda-se aos
leitores a busca pela literatura mais especializada (Rabello and de Paoli 2013; Zweifel 2001).
Recomendamos também este site, que possui um vasto acervo de informações técnicas e detalhes de
produtos comerciais.
Estabilizantes. São aditivos considerados obrigatórios, que atuam na proteção das moléculas, evitando
(ou retardando) os efeitos degradativos (ver seção 7.5.3). Os principais são os antioxidantes primários e
secundários, que, respectivamente reagem com os radicais livre e desativam os hidroperóxidos.
Estabilizantes como os desativadores de metais, os foto-estabilizantes e os estabilizantes térmicos para
o PVC também são muito importantes mercadologicamente. A maioria dos grades de polímeros são
comercializados pelas petroquímicas já contendo antioxidantes primários e secundários, que visam dar
estabilidade durante a armazenagem da matéria-prima e durante o processamento. Caso o produto seja
utilizado por longos períodos em temperaturas elevadas ou em ambientes externos, dosagem adicional
de antioxidantes e adição de foto-estabilizantes poderá ser necessário. O PVC que possui uma química
de degradação completamente dos outros tipos de polímeros requer uma classe especial de
estabilizantes térmicos.
Plastificantes. São utilizados para aumentar a flexibilidade do material, em uma atuação semelhante a
de um solvente comum, mas a incorporação ocorre em temperaturas elevadas, durante o
processamento. As moléculas de plastificante neutralizam as forças intermoleculares, aumentando o
espaçamento entre as cadeias, com consequente redução na temperatura de transição vítrea. São
utilizados principalmente para o PVC, mas alguns outros polímeros, como poliamidas e poli(ácido lático),
também podem receber esse tipo de aditivo. As propriedades mecânicas do material plastificado são
radicalmente modificadas, com redução no módulo elástico, na resistência à
tração e na dureza, e aumento no alongamento. O uso de plastificantes requer
uma condição especial de mistura, envolvendo equipamentos como o dry-
blend. O PVC plastificado tem uma ampla gama de aplicações, incluindo
calçados, mangueiras, recobrimento de fios e cabos, filmes, bolsas para uso
hospitalar, etc.
Lubrificantes. Uma das grandes questões relacionadas com a seleção dos grades de polímeros é a opção
entre a facilidade de processamento e o bom balanço de propriedades mecânicas. No caso da injeção,
um alto índice de fluidez (baixa massa molar) é muitas vezes necessário para o correto preenchimento
das cavidades na escala de tempo para uma produção adequada. Ao selecionar um tipo de baixa fluidez
260
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
e aumentar a temperatura de injeção para reduzir a viscosidade, tem-se o risco de provocar degradação
das cadeias. O uso de lubrificantes é uma alternativa viável pois é possível, dentro de certos limites,
reduzir a viscosidade sem sacrificar a alta massa molar e sem a necessidade de aumentar a temperatura
de processamento. Por outro lado, o excesso de dosagem deste tipo de aditivo pode causar outros
problemas, como a redução da taxa de cisalhamento (que é necessário para a correta ação de mistura)
e a obtenção de superfícies oleosas. A ação dos lubrificante ocorre basicamente de duas formas: (i)
reduzindo a fricção entre as cadeias do polímero, o que se
denomina “lubrificação interna” ou (ii) reduzindo o atrito
entre a massa polimérica e a máquina de processamento,
denominada “lubrificação externa”. A figura ao lado ilustra
essas duas possibilidades. Como os dois efeitos são
importantes, é comum se utilizar uma mistura de dois tipos de lubrificantes. Em geral, as petroquímicas
fornecem os grades previamente aditivados com lubrificantes, mas uma dosagem adicional pode ser
necessária para atender a necessidades mais específicas.
Antiestáticos. O fato dos materiais plásticos serem isolantes elétricos resulta em alguns problemas de
eletricidade estática, o que pode causar acúmulo de poeira em componentes, danos eletrostáticos,
aderência em filmes e geração de faísca com risco de explosão. Os antiestáticos são aditivos, com seus
elementos hidrofílicos e hidrofóbicos, que migram para a superfície e absorvem a umidade do ambiente,
criando uma fina camada de água
que dissipa a carga elétrica estática,
conforme imagem ao lado. Eles
podem também interferir no
processamento de modo
semelhante a um lubrificante
externo e, portanto, devem ser utilizados com concentração bastante controlada. Cargas condutoras,
como o negro de fumo e pós metálicos, também têm ação antiestática, mas por um mecanismo
diferente, que seria a geração de caminhos internos de condução.
auto-extinguíveis3. Os retardantes de chama podem atuar por diferentes mecanismos, como a alumina
tri-hidratada que absorve o calor do ambiente por reações endotérmicas e, na decomposição, liberam
moléculas de água, além de formarem uma camada protetora. Outros aditivos, como os compostos
clorados e bromados interferem quimicamente nas reações de combustão. Os anti-chama são
adicionados em teores relativamente elevados (até 20% em peso) e, devido a isso, influenciam também
nas propriedades físicas e mecânicas do polímero.
Pigmentos. Os pigmentos são, certamente, um dos aditivos mais desafiadores para a indústria plástica.
A tonalidade de cor é uma questão estética por demais importante e o nível de exigência por parte do
controle de qualidade pode ser bastante elevado, a depender do tipo de indústria e do valor agregado
do produto. O princípio básico da coloração é a absorção (e reflexão)
seletiva da luz visível pelos grupos químicos presentes no material.
Em função da estrutura química da molécula do pigmentos uma
determinada tonalidade de cor será conferida ao produto. Os
fabricantes de pigmentos comercializam diversos grades, com
coloração pré definida, mas a indústria de transformação ou de desenvolvimento pode combinar
pigmentos para alcançar tonalidades não oferecidas pelos fabricantes. Para isso se faz uso de softwares
especiais e colorímetros, além da valiosa colaboração de coloristas – os especialistas em cor.
Dependendo da interação entre esse aditivo e o polímero, os pigmentos podem ser solúveis ou
insolúveis, gerando produtos translúcidos ou opacos, respectivamente. Problemas surgem na indústria
quando os pigmentos têm suas estruturas químicas ligeiramente alteradas pelo processamento,
provocando um deslocamento na tonalidade da cor. Essa alteração também pode ser causada pelas
intempéries, especialmente a radiação ultravioleta. Os pigmentos também podem ter outras funções
quando adicionados aos polímeros, como ação nucleante, foto estabilizante, conferir textura, funcionar
como sensor térmico ou fotoquímico, etc.
3
O PVC, as resinas fenólicas e o poli(tetrafluoretileno) são exemplo de materiais intrinsicamente retardantes de
chama e podem atender às normas de segurança sem o uso dos aditivos anti-chama.
262
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
Agentes de expansão. São aditivos que alteram radicalmente as características dos materiais plásticos,
com a geração de uma estrutura celular. Isso é conseguido basicamente com dois tipos de aditivos: (i) o
agente físico de expansão, que é adicionado durante o processamento e volatiliza em alguma fase do
processo ou (ii) o agente químico de expansão, que se decompõe durante o processamento gerando
produtos voláteis que expandem a massa polimérica.
A estrutura resultante pode ser de célula aberta ou
fechada e apresentam vantagens como leveza,
isolamento térmico e acústico, além de economia de
material. As imagens ao lado mostram espumas de
EVA obtidas por compressão (Alpire et al. 2013).
Praticamente qualquer tipo de material –
termoplástico, termofixo ou elastômero – pode ser obtido na forma expandida e tecnologias específicas
foram desenvolvidas para potencializar esse tipo de produção, como injeção a gás, extrusão de filmes
expandidos, aplicação de espuma de poliuretano, produção do poliestireno expandido, etc. Em alguns
casos, como no uso de baixas concentrações de agentes químicos de expansão, os equipamentos
convencionais de processamento podem ser utilizados.
Cargas de enchimento e fibras de reforço. A presença de uma segunda fase sólida, dispersa e em alta
concentração, constitui uma classe especial de material
denominada de “compósito”. O material resultante, formado pela
fase contínua (matriz polimérica) e as partículas dispersas na
forma de cargas particuladas ou fibras, é um dos mais importantes
procedimentos de aditivação de polímeros. Basicamente são três
os tipos de cargas, classificadas conforme os objetivos: (i) cargas
de enchimento, com redução no custo final do produto, mas melhoria em algumas propriedades, como
módulo elástico e temperatura de distorção (HDT); (ii) cargas de reforço, principalmente na forma de
fibras, em que a resistência tênsil é melhorada, além do aumento no módulo e HDT; (iii) cargas
263
Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello
funcionais, que alteram determinadas propriedades muito específicas, como a condutividade térmica e
elétrica, conferem textura, etc. Os compósitos podem ser materiais bastantes nobres, de alto valor
agregado e com propriedades que competem com materiais metálicos em aplicações críticas como em
componentes aeroespaciais, automotivos, elétricos, etc. Aspectos importantes para o alcance de
excelentes propriedades são a razão de aspecto (relação
entre a maior e a menor dimensão) da carga, sua
orientação e, muito importante, a adesão com a matriz
polimérica. Na imagem ao lado (Sawyer and Grubb 1996)
tem-se a superfície de fratura de um compósito com baixa
adesão interfacial (sem silano) e de um outro em que,
após a aplicação do agente de acoplamento silano, a
adesão entre as fases aumentou significativamente. As
principais cargas utilizadas comercialmente em polímeros são: carbonato de
cálcio, talco e microesferas de vidro, como cargas particuladas, e fibras de vidro,
carbono e aramida. Mais recentemente, tem-se utilizado cargas que conferem
texturas especiais, resultando em plásticos que se assemelham a madeira, a
pedra, o mármore, etc., um tipo de desenvolvimento com grande apelo estético
e, em alguns casos, de importância ambiental e social.
Embora seja muito difícil sumarizar em poucas palavras todos esses fatores aqui discutidos que
definem as propriedades dos polímeros, pode-se indicar algumas tendências mais frequentes na Tabela
7.6. Deve-se considerar que se trata apenas de um indicativo geral e que exceções podem ocorrer.
Considere, por exemplo, que exista a necessidade de se desenvolver um material com maior resistência
à tração através da modificação de um polímero já existente. Isso pode ser alcançado por uma maior
massa molar, maior cristalinidade ou pela adição de fibras reforçantes. Esse benefício pode ocorrer às
custas da redução de algumas outras propriedades, como a tenacidade, por exemplo, ou por uma maior
dificuldade no processamento. Compete ao desenvolvedor encontrar um equilíbrio entre as várias
propriedades requeridas ao material final, considerando também as aplicações em potencial, custo e
aspectos mercadológicos, ambientais, etc. O mercado de materiais poliméricos oferece inúmeros
grades, dos mais diversos tipos de polímeros e copolímeros, alguns já previamente aditivados com fibras
de reforço, retardantes de chama ou modificadores de impacto. Para a seleção de um tipo “ideal”,
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existem sistemas que facilitam a busca, como neste site, em que se pode filtrar por diversos critérios,
como propriedades mecânicas, reológicas, térmicas, elétricas, etc.
Tabela 7.6. Tendência geral de alteração nas propriedades dos polímeros para as diversas influências
(elaborado pelo autor). O significado dos símbolos é autoexplicativo. NA= não aplicável.
Reticulações**
Grupos
polares
Grupos
volumosos
Maior
cristalinidade
Orientação
molecular //
Orientação
molecular
Maior temp.
NA NA
de uso
Umidade***
Degradação
química
Stress cracking
Agentes
nucleantes
Modificadores
Variável
de impacto
Plastificantes
Cargas de
enchimento
Fibras de
reforço
(*) para o caso de polímero semicristalinos.
(**) para o caso de elastômeros.
(***) para o caso de polímeros higroscópicos.
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Teste simplificado de impacto e efeito da temperatura. Desenvolva um teste simplificado para aferir se
um determinado produto apresenta resistência ao impacto adequada. Esse teste pode ser do tipo
“aprovado” ou “não aprovado”, ou seja, se ele suportar um determinado esforço de impacto sem fratura
catastrófica ou sem trincas visíveis, está aprovado pelo controle de qualidade. Utilizando esse teste
desenvolvido, compare os resultados obtidos com um mesmo tipo de peça (ou corpo de prova) exposta
a três condições: (i) temperatura de um freezer (~-20°C), temperatura ambiente e temperatura de uma
estufa regulada em 60°C. Lembre-se de condicionar o material por algumas horas na temperatura
escolhida antes do teste de impacto, que deve ser realizado de modo bastante rápido para que a
temperatura da peça não mude significativamente. Avalie os resultados obtidos com diferentes tipos de
polímeros.
Efeito da umidade. Submeta peças ou corpos de prova de poliamida à imersão em água por alguns dias.
Após rápida secagem com papel toalha, realize teste mecânico e compare os resultados com o mesmo
tipo de amostra previamente seca em estufa por algumas horas a 60°C. Repita o procedimento com
amostras de PET e de polietileno e observe as diferenças.
Degradação química. Utilize uma estufa elétrica, preferencialmente com circulação forçada de ar, para
expor corpos de prova ou peças de PP utilizando uma temperatura de 100-120°C. Em intervalos de
exposição predeterminados, registre por fotografia as mudanças observadas, como formação de
fissuras, perda de brilho, alteração na cor, etc. A depender do nível de tensões de moldagem, pode haver
também empenamento da peça.
Stress cracking. Em peças de poliestireno ou de acrílico (uma caixa de CD, por exemplo) aplique um
esforço de flexão e, sob tensão, aplique goteje de etanol na superfície tensionada, observando o
aparecimento de fissuras após alguns segundos devido ao fenômeno de stress cracking. Repita o
procedimento para alguns outros tipos de fluidos, como água, detergente, etc. Se fizer esse experimento
em corpos de prova, avalie o comportamento mecânico do material antes e após o contato com os
agentes agressivos.
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