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XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica

Geotecnia e Desenvolvimento Urbano


COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

Confiabilidade Estrutural de uma barragem de terra antiga


Adrian T. Siacara
Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, adriantorricosiacara@gmail.com

André T. Beck
Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, atbeck@sc.usp.br

Marcos M. Futai
Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, futai@usp.br

RESUMO: Na engenharia geotécnica é considerado estável ou não os taludes de uma barragem a


partir do fator de segurança (FS). O FS pode ser determinado por diversos métodos a partir de
parâmetros determinísticos, em que as forças resistentes e desestabilizadoras são calculadas para
determinar um fator de segurança. Um tipo de abordagem mais recente na geotécnica é a utilização
de métodos probabilísticos onde é determinada uma probabilidade de falha da barragem (Pf) e a
confiabilidade estrutural (β). No presente estudo, são apresentados os resultados das análises
determinísticas e de confiabilidade de uma barragem de terra antiga de 50.0 metros de altitude em
três diferentes condições em que o reservatório pode estar tomando em conta a variabilidade das
propriedades do solo. Usando o programa computacional Seep/W é determinado o nível
piezométrico nas três condições estabelecidas numa análise determinística e utilizando o programa
Slope/W é realizada uma análise determinística e a análise de confiabilidade pela Simulação de
Monte Carlo para 100000 simulações.

PALAVRAS-CHAVE: Barragem, Simulação de Monte Carlo, confiabilidade, fluxo.

1 INTRODUÇÃO mesmo dentro de camadas homogêneas, devido


a processos deposicionais e pós-deposicionais
Na geotécnica e no caso especifico de barragens (DeGroot e Baecher, 1993; Phoon e Kulhawy,
de terra a variabilidade dos materiais e 1999a, 1999b; Jiang et al., 2017).
incertezas em quanto à confiabilidade da A inerente variabilidade espacial das
barragem são grandes (Cho, 2007). A propriedades do solo é uma das principais
variabilidade inicia com a caraterização dos fontes de incertezas na engenharia geotécnica
materiais na hora de analisar os resultados dos que afeta significativamente a estabilidade dos
ensaios (eg. ensaios de campo, laboratório ou taludes (El-Ramly et al., 2002; Griffiths e
geofísica), na determinação do caminho da água Fenton, 2004; Ji, 2017).
tem na barragem (analise de fluxo) e na Os procedimentos de projeto baseados em
determinação da estabilidade da barragem risco para analisar o papel das incertezas na
(analise de estabilidade). É importante notar que análise de segurança de barragens estão
uma análise probabilística é mais adequada que recebendo importância crescente (Comitê
uma análise determinística produto de esta Internacional de Grandes Barragens - ICOLD
variabilidade nos parâmetros resistentes dos 1999 e Bureau 2003).
materiais e a variação que esta tem na A variabilidade na resistência do solo e
determinação da estabilidade da barragem. características de rigidez conduz a variabilidade
É amplamente reconhecido que as no FS pseudostática estimada que possa ser
propriedades do solo variam espacialmente, abordada usando a abordagem probabilística.
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Na abordagem probabilística, a segurança de Na forma de equação, a função de densidade de


uma determinada estrutura é avaliada em termos probabilidade normal é:
de probabilidade de falha (pf) ou índice de
confiabilidade (β). Um valor de índice de e − ( x− ) / 2
2 2

confiabilidade de 3.0 é aceitável para o nível de f (x ) = (1)


desempenho acima da média e no caso das  2
principais estruturas, como as barragens, o valor
deveria estar perto de 5.0 (Corpo de Onde x é a variável de interesse, µ é a
engenheiros do exército dos Estados Unidos - média e σ é a desvio padrão. A partir da função
USACE, 1997). Os métodos para avaliação do de densidade de probabilidade, SLOPE/W 2018
índice de confiabilidade (β) estão disponíveis na integra a área sob a função para estabelecer uma
literatura (Baecher e Christian, 2003). No função de distribuição cumulativa e a função de
presente estudo o mais importante é chamar a distribuição cumulativa é invertida para formar
atenção da metodologia probabilística na uma função de distribuição inversa ou uma
avaliação de uma barragem de terra antiga. função de ponto percentual.
A função de distribuição inversa é
2 OBJETIVOS chamada de função de amostragem, uma vez
que é esta função que está no centro da
O presente trabalho tem como objetivo amostragem dos vários parâmetros estatísticos.
apresentar a confiabilidade de uma barragem de O eixo x abrange o intervalo de possíveis
terra antiga com altura máxima de 50.0 m, a números aleatórios. Assim, cada vez que um
barragem de terra com seção homogênea e com número aleatório é obtido, o parâmetro é
filtro no pé. "amostrado" usando esta função (Cho, 2007 and
Serão feitas análises de estabilidade de talude Dou et al., 2014
da barragem, fluxo, confiabilidade e
sensibilidade na barragem para três diferentes 3.2 A função de desempenho
casos de estudo (mudanças no nível do
reservatório). Para executar a análise de confiabilidade de um
Os softwares utilizados para esses estudos talude da barragem, o estado de falha e
foram o SLOPE/W e SEEP/W da GeoStudio segurança de um talude deve ser identificado
vs2018 (Geo-Slope International, 2018) para os através da função de desempenho, g(X), onde X
estúdios determinísticos e de confiabilidade é o vetor dos parâmetros de entrada. A função
estrutural da barragem de terra antiga. de desempenho define as regiões seguras
(g(X)>0) e não seguras (g(X)<0) do talude,
3 ANALISE PROBABILISTICA enquanto a superfície do estado limite é g(X)=0
(Liang et. al., 1999). A probabilidade de falha
3.1 A função de densidade de probabilidade pode ser definida como:

Como é sabido, muitos conjuntos de dados Pf = P(g ( X )  0) (2)


naturais seguem uma distribuição em forma de
sino e as medidas de muitas variáveis aleatórias A função de desempenho g(X) é
parecem vir de distribuições de frequência formulada, usando o método de Morgenstern
populacional que são intimamente aproximadas and Price (1965) como modelo de estabilidade,
por uma função de densidade de probabilidade como segue:
normal. Isso também é verdade para muitas
propriedades do material de engenharia g ( X ) = FS( X ) − 1 (3)
geotécnica (Xia et al., 2015).
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4 ANALISE DE CONFIABILIDADE Um fator de segurança é realmente um


índice que indica a estabilidade relativa de
O método de Simulação de Monte Carlo (SMC) talude. Não implica o nível real de risco do
é um procedimento computacional simples, mas talude, devido à variabilidade dos parâmetros de
versátil que é adequado para um computador de entrada. Com uma análise probabilística, dois
alta velocidade. Como o nome indica, as índices úteis estão disponíveis para quantificar a
técnicas de simulação de Monte Carlo estabilidade ou o nível de risco do talude da
envolvem amostragem aleatória para simular barragem. Esses dois índices são conhecidos
artificialmente um grande número de como a probabilidade de falha e o índice de
experimentos para observar o resultado confiabilidade (Battacharya et al., 2003; Ducan
(Melchers and Beck, 2018). Em geral, a et al., 2014; Tang et al., 2017).
implementação do método envolve as seguintes A probabilidade de falha é a
etapas: probabilidade de obter um fator de segurança
•A seleção de um procedimento de solução inferior a 1.0. A probabilidade de falha pode ser
determinista, como o método de equilíbrio interpretada pelo nível de confiança que pode
limite (Morgenstern-Price) ou o método de ser colocado em um design (Sivakumar Badu,
estímulo de elementos finitos; 2010).
•Parâmetros de entrada devem ser modeladas A interpretação pode ser relevante em
de forma probabilística e a representação de sua projetos onde o mesmo talude é construída
variabilidade em termos de um modelo de muitas vezes, enquanto a segunda interpretação
distribuição; é mais relevante em projetos onde um
•A conversão de qualquer função de determinado projeto só é construído uma vez e
distribuição em uma função de amostragem, a o projetista determina se a talude falha ou não.
amostragem aleatória de novos parâmetros de No entanto, a probabilidade de falha é um bom
entrada e a determinação de novos fatores de índice que mostra o nível de risco de
segurança. instabilidade (Baecher, 2003).
•O cálculo da probabilidade de falha com Os potenciais modos de falha de taludes
base no número de fatores de segurança são em geral altamente correlacionados, uma
inferiores a 1.0 em relação ao número total de vez que passam através das massas de solo com
superfícies de deslizamento convergentes. propriedades de solo espacialmente
Uma ou mais superfícies deslizantes mais correlacionadas (eg. Li et al., 2013 e Zheng et
críticas são primeiro determinadas com base no al., 2016). Além disso, as consequências da
valor médio dos parâmetros de entrada usando falha dos taludes associadas a diferentes modos
qualquer um dos métodos de equilíbrio de de falha são geralmente diferentes (eg. Huang
limite e de esforço de elementos finitos. A et al., 2013 e Zhu et al., 2015)
análise probabilística é então realizada nestas Ang e Tang (1975) descrevem que as
superfícies de deslizamento críticas, levando em variáveis aleatórias podem ser compreendidas
consideração a variabilidade dos parâmetros de como uma regra de correspondência que mapeia
entrada (Rackwitz, 2000). eventos de um espaço amostral para a linha dos
O número de SMC (nsi) em uma análise reais. Sendo assim, uma variável aleatória pode
aumenta à medida que o número de entradas ser representada através de um valor real
variáveis aumenta ou a probabilidade de falha associado a uma probabilidade de ocorrência.
esperada se torna menor. Não é incomum fazer Não existe uma relação direta entre o fator
milhares de ensaios para alcançar um nível determinista da segurança e a probabilidade de
aceitável de confiança em uma análise de falha. Em outras palavras, um talude com maior
estabilidade probabilística de Monte Carlo fator de segurança pode não ser mais estável do
(Fenton e Groffiths, 2008). que um talude com menor fator de segurança.
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Outra maneira de ver o risco de 6 COEFICIENTE DE CORRELAÇÃO


instabilidade é com o que é conhecido como
índice de confiabilidade (β). O β é definido em Um coeficiente de correlação (ρXY) expressa a
termos de μ e σ dos fatores de teste de força relativa da associação entre dois
segurança como mostrado na seguinte equação: parâmetros. Os testes de laboratório em uma
=
( − 1,0) (2)
ampla variedade de solos mostram que os
 parâmetros de resistência ao cisalhamento
O índice β descreve a estabilidade pelo coesão (c) e o ângulo de atrito (ϕ) são muitas
número de desvios padrão que separam o fator vezes correlacionados negativamente com os
médio de segurança do seu valor de falha ρXY variando de -0,72 a 0,35 (Javankhoshdel
definido de 1,0. Também pode ser considerado and Bathurst, 2015; Zheng et al., 2016). A
como uma forma de normalizar o fator de correlação entre parâmetros de força pode afetar
segurança em relação à sua incerteza. a distribuição de probabilidade de um talude.
A geração de números aleatórios são os Os coeficientes de correlação sempre
parâmetros de entrada gerados aleatoriamente cairão entre -1 e 1 (Rocquigny, 2012). Quando o
que são alimentados em um modelo coeficiente de correlação for positivo, c e ϕ
determinista. Em SLOPE/W, isso é feito usando estão correlacionados positivamente, o que
uma função de geração de números aleatórios. implica que maiores valores de c são mais
Os números aleatórios gerados a partir da prováveis de ocorrer com valores maiores de ϕ.
função são distribuídos uniformemente com Da mesma forma, quando o coeficiente de
valores entre 0 e 1.0. O número aleatório gerado correlação é negativo, c e ϕ estão negativamente
é usado para obter um novo valor de parâmetro correlacionados e reflete a tendência de um
para a função de amostragem. A probabilidade maior valor de c ocorrer com um menor valor
de falha (Zhang et al., 2016) pode ser avaliada de ϕ. Um coeficiente de correlação zero implica
por: que c e ϕ são parâmetros independentes
(GeoStudio, 2018).
Pf = (−  ) (4)
7 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA
Onde Φ(.) é a probabilidade cumulativa Realizaram-se algumas simplificações que
normal padrão. seguem a continuação para não tornar o
problema muito complexo: Os materiais são
5 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE homogêneos; a fundação em que esta a
barragem é de rocha impermeável tipo I de
Uma análise de sensibilidade é algo análoga a acordo a classificação de Bieniawski 1989
uma análise probabilística. Em vez de (Vallejo et al., 2002); na análise de percolação
selecionar aleatoriamente os parâmetros estas não foram utilizadas a variabilidade dos
são selecionados de forma ordenada usando materiais e foi realizada uma análise
uma função de Distribuição de Probabilidade determinística.
Uniforme. Todos os pontos fortes são As condições geotécnicas dos materiais de
normalizados para um valor que varia entre 0,0 estudo foram obtidas a partir de Costas (2012),
e 1.0. O ponto onde as duas curvas de Pinto (2006) e Rocscience (2017) e estão
sensibilidade se cruzam é o fator determinista apresentadas na Tabela 1 e 2. A geometria da
de segurança ou o fator de segurança no ponto barragem foi determinada a partir da Figura 1,
médio das faixas para cada um dos parâmetros que é uma barragem desenhada com critérios
de resistência (Antinoro et al., 2017 and Soltani geotécnicos de desenho, onde um dos passos a
et al., 2017). seguir é fazer a análise de confiabilidade.
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Foi tomado em conta 3 casos de analise: As curvas de umidade volumétrica


1er caso é uma análise no mínimo minimorum, (VWC pelo ingles Volumetric Water Content) e
2do caso é uma análise na metade da permeabilidade (K) variando com a sucção
capacidade da barragem e a 3er caso é uma foram estimadas segundo o critério de Van
análise no máximo maximorum como é Genuchten (1980) dos materiais com
apresentada na Figura 1a. A barragem modelada comportamento saturado/não saturado. As
no programa Seep/W 2018 para o 2do caso de curvas estão apresentadas nas Figuras 2a e 2b,
análise é apresentada na Figura 1b. respectivamente.
O método utilizado para a análise de
estabilidade dos taludes da barragem é o
método de Morgenstern-Price que utiliza o a
método de equilíbrio limite com as forças
horizontais, verticais e os momentos de
equilíbrio (Bond et al., 2009 e Wu et al., 2013),
com os materiais já apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Parâmetros de entrada para análise de


estabilidade de taludes.
ϕ (°) c´ (kPa) γ (kN/m3) b
Material
µ σ µ σ µ σ
Corpo da
29.0 5.0 3.0 1.0 18.0 2.0 Figura 1. Geometria da barragem (a) A estudar (b)
barragem *
Modelada para o caso 2.
Filtro * 30.0 5.0 10.0 3.0 21.0 2.0
* Dado estimado da literatura Costas (2012) e Pinto
(2006). a b

Uma etapa previa antes da análise de


estabilidade dos taludes da barragem foi
necessária realizar a análise de percolação para
a determinação do nível freático na barragem de
terra. Para a análise de percolação foram
adotados os parâmetros dos materiais numa
abordagem determinística com base em Figura 2. Curva de (a) Umidade volumetrica (b)
literatura (Rocscience, 2017) apresentada na Permeabilidade variando com a sucção.
Tabela 2. O uso da abordagem determinística na
determinação das propriedades dos materiais na A modelagem da percolação foi realizada
analise de percolação foi para não tornar o no programa computacional Seep/W 2018 na
problema muito complexo. fase de operação da barragem numa análise
determinística e os resultados estão
Tabela 2. Parâmetros de entrada para análise de apresentadas nas Figuras 3 a 5. Nas Figuras 3a,
percolação. 4a e 5a indicam as equipotenciais e nas Figuras
VWC Cc (10- Ksat Tipo de 3b, 4b e 5b as linhas de fluxo da barragem.
Material
(m3/m3) 3
/kPa) (m/s) material As curvas de retenção de água, bem como
Rocha* 0.2 0.001 1.0 gravel as curvas de permeabilidade, dos materiais,
Corpo da permitem identificar o comportamento de cada
0.5 0.8 1xE-7 clay material e estimar o fluxo de água na
barragem*
Filtro* 0.4 0.01 1xE-1 gravel percolação. Os resultados da análise de fluxo
* Dado estimado da literatura Rocscience (2017). vão ser utilizados na análise de estabilidade.
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O comportamento da barragem na análise 8 RESULTADOS DA ANÁLISE E


de fluxo tem os seguintes materiais: o corpo da DISCUSSÃO
barragem com características de material
argiloso (umidade volumétrica saturada alta, A partir de uma análise determinística e uma
alto valor de sucção de entrada de ar e taxa de análise probabilística para todos os casos de
dessaturação mais baixa) e material drenante estudo temos os seguintes resultados da SMC
com comportamento de areia grossa (baixo para os diferentes números de simulações (nsi)
valor de sucção de entrada de ar, taxa de para os 3 casos de estudo (mudança do nível do
dessaturação alta e baixa sucção residual). reservatório) como é apresentada na Tabela 3.
Pode-se ver que o Fator de Segurança da
análise de equilíbrio limite (FSeq) para o caso 1
a
foi de 1.364 e para o caso 2 ou 3 foi de 1.416. O
resultado apresentado diz que o FS para o caso
1 (Figura 6a) é mais crítico que no caso 2
(Figura 7a) ou 3 (Figura 8a) nos termos de
análise de equilíbrio limite pelo nível do
b reservatório, mas esta não tem efeito no caso 2
ou 3 porque esta não está presente na superfície
crítica de análise como é apresentada na Figura
7a e 8a.
Figura 3. Análise de percolação da fase de operação para Tem-se uma variação do Fator de
o caso 1: (a) linhas equipotenciais e (b) linhas de fluxo. segurança determinista (FSeq) de 1.364 (Figura
6a) e o Fator de segurança simulado pelas
a
Simulações de Monte Carlo (FSsi) de 1.257
(Figura 6b) para o caso 1, do FSeq de 1.416
(Figura 7a e 8a) e o FSsi pelas Simulações de
Monte Carlo de 1.408 (Figura 7b e 8b) para o
caso 2 ou 3. Pode-se notar que o Fator de
segurança (FS) para os diferentes casos sempre
b é maior no caso determinista e menor para as
Simulações de Monte Carlo.
Das SMC apresentadas na Tabela 3 temos
que para o Caso 1 nos diferentes números de
Figura 4. Análise de percolação da fase de operação para simulações (nsi= 10, 100, 1000, 10000, 50000 e
o caso 2: (a) linhas equipotenciais e (b) linhas de fluxo. 100000) temos uma confiabilidade da barragem
(β) que oscila entre 1.419 a 1.257 e uma
a
probabilidade de falha (pf) de 10.0 a 14.0 %, no
caso 2 e 3 temos um β que oscila entre 1.938 a
1.495 e um pf quase 0.0 a 5.8%. Pode-se notar
que se tem uma confiabilidade da barragem (β)
maior no caso 2 ou 3 que no caso 1, esta
b comparação esta acorde ao Fator de segurança
(FS) obtida nas anteriores análises já que no
caso 1 se tem um FS menor em comparação do
caso 2 ou 3. Esta comparação é mais numérica,
já que linha de falha da barragem é diferente na
Figura 5. Análise de percolação da fase de operação para
abordagem determinística e a probabilística.
o caso 3: (a) linhas equipotenciais e (b) linhas de fluxo.
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Tabela 3. Resultados das Simulações de Monte Carlo Da Tabela 3 podemos ver que o Fator de
para os diferentes casos de estudo. segurança das simulações (FSsi) não varia para
Caso FSeq β Pf FSsi nenhum dos casos e é 1.257 para o caso 2 e
1 1.364 1.027 0.146 1.257 1.408 para o caso 2 e 3. Dos resultados
2 1.416 1.503 0.055 1.408 podemos ver que para o caso 1 a média (µ)
3 1.416 1.503 0.055 1.408 oscila de 1.264 a 1.265 e o desvio padrão (σ)
oscila de 0.186 a 0.260 para diferentes número
a de iterações e do caso 2 e 3 podemos ver que
para o caso 1 a média (µ) oscila de 1.421 a
1.441 e o desvio padrão (σ) oscila de 0.186 a
0.260 para diferentes número de iterações.
A partir das SMC temos as Figura 9 que
b
mostram a Função de Densidade de
Probabilidade em função do Fator de Segurança
e a Frequência. Os parâmetros da distribuição
assumida são obtidos a partir das estimativas
imparciais da média amostral e da variância,
Figura 6. Resultado do (a) Fator de segurança obtidas a partir do número de conjuntos de
determinística (b) Fator de segurança a partir da SMC dados medidos. Na Figura 10 mostra a Função
para o caso 1. de Distribuição de Probabilidade para 100000
simulações onde mostra que a falha acontece
a quando o FS é menor a 1 em função do Fator de
Segurança e a Probabilidade de Falha.

Figura 7. Resultado do (a) Fator de segurança


determinística (b) Fator de segurança a partir da SMC
para o caso 2.
Figura 9. Função de densidade de probabilidade de uma
a SMC para nsi=100000 para o caso 1.

Figura 8. Resultado do (a) Fator de segurança


determinística (b) Fator de segurança a partir da SMC Figura 10. Função de distribuição de probabilidade de
para o caso 3. uma SMC para nsi=100000 para o caso 1.
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Os valores do coeficiente de correlação


(ρXY) entre coesão (c) e ângulo de atrito interno
do solo (ϕ) são tomados como -0.25, -0.50 e -
0.75 (Baecher e Christian 2003), e os resultados
estão resumidos na Tabela 4. Pode-se notar que
a consideração de correlação entre os
parâmetros melhora marginalmente os valores
do índice de confiabilidade (β) e diminui a
probabilidade de falha (Pf) para os diferentes
casos de estudo. Figura 11. Análise de sensibilidade para o caso 1.

Tabela 4. Resultados das Simulações de Monte Carlo


com diferentes correlações entre a coesão e o ângulo de
atrito.

Confiabilidade
Caso FSeq
n=1*106 ρ=-0.25 ρ=-0.50 ρ=-0.75
1 1.364 1.027 1.0327 1.044 1.056
2 1.416 1.503 1.536 1.569 1.609
3 1.416 1.503 1.536 1.569 1.609 Figura 12. Análise de sensibilidade para o caso 2.

A quantificação da correlação entre duas


variáveis é importante na prática de engenharia,
particularmente na avaliação probabilística. No
entanto, dados de observação limitados obtidos
com frequência de testes de campo e/ou
laboratoriais não são suficientes para estimar
um coeficiente de correlação confiável entre
pares de propriedades geotécnicas (por
exemplo, Wang e Aladejare 2016). Portanto, é Figura 13. Análise de sensibilidade para o caso 3.
difícil quantificar a correlação específica entre
as propriedades geotécnicas e isso continua 9 CONCLUSÃO
sendo um grande desafio na análise de
confiabilidade da engenharia geotécnica. Este trabalho considerou problemas de
Na Figura 11, 12 e 13 temos a análise de estabilidade de taludes com quantidades
sensibilidade da barragem de terra estudada incertas através de um procedimento numérico
para os 3 diferentes casos do nível do baseado em SMC que consideram a
reservatório. Das Figuras apresentadas podemos variabilidade espacial das propriedades do solo.
ver que o ângulo de atrito do corpo da barragem A continuação se tem as seguintes conclusões
é o parâmetro que mais influência na do presente artigo:
determinação do fator de segurança. 1) O propósito das análises de estabilidade
Nas mesmas Figuras podemos ver como determinística dos taludes da barragem é
os diferentes materiais tem menos importância conhecer a superfície de falha com o menor
em comparação com o ângulo de atrito do corpo fator de segurança e já na abordagem
da barragem. Quando o rango de sensibilidade probabilística é determinar a superfície mais
das propriedades fica em zero é quando a provável de falha que tem a estrutura com um
análise é determinista. certo grau de confiabilidade;
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2) As superfícies críticas das análises REFERÊNCIAS


determinísticas podem não coincidir com
aquelas obtidas nas análises probabilísticas. Nos Ang, H.S. A. e Tang, H.W. (1975). Probability concepts
projetos de engenharia o projetista geralmente in engineering planning and design. Illinois: John
Wiley and Sons, v. 1 e 2;
utiliza a abordagem determinística, porem a Antinoro, C.; Arnone, E. e Noto, L.V. (2017). The use of
maioria dos projetos de barragem o projetista soil water retention curve models in analyzing slope
não está considerando a superfície com maior stability in differently structured soils. Catena, v. 150,
probabilidade de escorregamento do talude.; p. 133–145.
3) Os resultados dos fatores de segurança (FS) Baecher, G.B., e Christian, J.T. (2003). Reliability and
statistics in geotechnical engineering, Wiley, New
obtidos de maneira determinística quase sempre York.
são menores que os FS obtidos Bhattacharya, G.; Jana, D.; Ojha, S. e Chakraborty, S.
probabilisticamente o que leva a considerar que (2003). Direct search for minimum reliability index of
muitas vezes temos taludes aceitáveis earth slopes. Computers and Geotechnics, v. 30, n. 6,
deterministicamente e algumas vezes não se p. 455–462.
Bond, A.J.; Schuppener, B.; Scarpelli, G. e Orr, T.L.L.
mostram aceitáveis segundo os critérios de (2009). Eurocode 7 geotechnical design.
probabilidade de falha; Bureau, G.J. (2003). Dams and appurtenant facilities in
4) Nas análises probabilísticas da barragem a earthquake engineering, W.F. Chen and C. Scawthorn,
determinação da superfície crítica (maior eds., CRS, Boca Raton, Fla.
Cho, S.E. (2007). Effects of spatial variability of soil
probabilidade de falha) depende fortemente das
properties on slope stability. Engineering Geology, v.
incertezas associadas aos parâmetros de 92, n. 3–4, p. 97–109.
resistência do solo. Assim, a realização de uma Costa, W.D. (2012). Geologia de Barragens. São Paulo:
análise de sensibilidade foi realizada Oficina de Textos.
verificando que o ângulo de atrito da barragem Corpo de Engenheiros do Exercito dos Estados Unidos -
USACE. (1997). Risk-based analysis in geotechnical
tem mais importância na análise de estabilidade
engineering for support of planning studies,
da barragem; engineering and design, Dept. of Army, USACE,
5) O método de SMC é usado para simular Washington, D.C., 20314–100.
operações complexas que possuem muitos Degroot, D.J. e Baecher, G.B. (1993). Estimating
fatores aleatórios que interagem uns com os autocovariance of in situ soil properties. J. Geotech.
Eng. 119 (1), 147–166.
outros. No presente estudo a SMC da barragem
Dou, H.; Han, T.; Gong, X.N.; Zhang, J. (2014).
modelada foi realizada com poucas simulações Probabilistic slope stability analysis considering the
tendo em conta o número de variáveis do variability of hydraulic conductivity under rainfall
problema, mas foi possível evidenciar o custo infiltration-redistribution conditions. Engineering
computacional que representa realizar um tipo Geology, v. 183, p. 1–13.
Duncan, J.M.; Wright, S.G.; Brandon, T.L. (2014). Soil
de análise probabilística em comparação de uma Strength and Slope Stability.
análise determinística; El-Ramly, H.; Morgenstern, N.R. e Cruden, D.M. (2002).
6) No presente estudo foram realizadas as SMC Probabilistic slope stability analysis for practice. Can.
com diferentes correlações (ρ=0.25, 0.5 e 0.75) Geotech. J. 39 (3), 665–683.
onde foi percebido que uma correlação entre a Fenton, G.A.; Griffiths, D.V. (2008). Risk Assessment in
Geotechnical Engineering. John Wiley & Sons, Inc.
coesão e o ângulo de atrito aumenta o índice de Geo-Slope International – Geostudio 2018 (2018).
confiabilidade da barragem. Por outra parte foi (Version 8.16.4.14710) Copyright © 2018 – Calgary,
percebido que quanto maior é a correlação entre Alberta, Canadá – http://www.geo-slope.com, 2018.
a coesão e o ângulo de atrito, menor é a Griffiths, D.V. e Fenton, G.A. (2004). Probabilistic slope
probabilidade de falha da barragem. stability analysis by finite elements. J. Geotech.
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AGRADECIMENTOS K.; Sloan, S.W. Quantitative risk assessment of
O autor agradece a Universidade Politécnica de landslide by limit analysis and random fields, Comput.
São Paulo (USP) pelos recursos para a pesquisa. Geotech. 53 (2013) 60–67.
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

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