Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
Isabel Barroso
* O campo arado, pronto para a semeadura, poderia estender-se até o horizonte, mas, curiosamente, no fundo se percebe uma franja de
terreno com espigas amareladas. Parece um campo de trigo pronto para a colheita.
A justaposição dos dois campos nos parece estranha, pois sabemos que só se costuma semear vários meses depois da colheita.
* Para estabelecer um corte entre o campo amarelado e o amarelo do céu, o pintor coloca à esquerda uma casa e umas árvores, e à
direita as copas de um pequeno bosque de árvores.
Uma vez analisada a composição do quadro, detenhamo-nos novamente a admirar esta cena rural
passeando o olhar pelos diferentes elementos significativos. Pouco a pouco deixemos que a imagem
nos habite e que a beleza desta cena vá calando em nós.
2o. passo: evocar
As imagens costumam evocar recordações; elas produzem associações que nos
levam a reviver momentos de nossa história.
-Quê experiências brotam em sua memória ao contemplar este camponês percorrendo o campo e semeando?
Recorde experiências do campo, em épocas de plantio ou colheita.
Faça memória do contato próximo com a natureza e a possibilidade de conhecer de perto outro ritmo
de vida ligado à terra. Acolha as vivências que vão se despertando em sua memória.
- Quê sentimentos estas recordações suscitam em você?
* Volte a fixar o seu olhar no sol que brilha tão intensamente neste quadro. Ao contemplá-lo, ressoam em você as palavras do
“Benedictus”. Admirando o resplendor desta luz solar, surge em você o desejo de meditar no significado destas palavras proclamadas
pelo velho Simeão.
* O sol é símbolo de vida, de felicidade, de alegria, frente às trevas que são símbolo de morte.
No entanto, na Escritura o sol tem ainda um significado mais profundo (Is. 9,1; Is. 60,1; Ml 3,20).
* Esta grande luz que surge no horizonte, este astro que banha com seu resplendor todo o firmamento, este sol que ilumina aos que estão
nas trevas, e nos guia pelos caminhos de paz, é Jesus, o Salvador.
“Eu sou a luz do mundo” (Jo. 8,12).
Pelo grande amor que Deus nos tem, Jesus nos visita como Sol que ilumina o caminha para Deus e nos traz salvação.
b) “Debaixo do céu há tempo para tudo...tempo para plantar e tempo para arrancar a planta” (Ecle 3,1)
Uma das coisas surpreendentes deste quadro é ver como o artista faz coincidir na mesma cena duas
reali-dades que, na vida cotidiana, não acontecem simultaneamente: no fundo há um campo de espigas
amare- las, pronto para ser colhido e, no primeiro plano, uma terra lavrada que está a ponto de ser
semeada.
Na vida cotidiana, estes dois momentos, o de plantar e o de colher, se alternam, são tarefas que se
realizam em momentos diferentes do ano.
- Quê levou o pintor a plasmar ambas realidades no mesmo quadro?
Não há uma análise do quadro que justifique este fato. No entanto, parece sugestivo
meditar/contemplar esta imagem na qual semeadura e colheita se apresentam juntas.
É possível que no campo de nossas vidas ambas experiências possam viver simultaneamente.
Pode ser que encontremos parcelas de nossa vida que já produziram fruto abundante, e que coexistem
junto a outras que estão ainda como terra lavrada.
Pode ser que seja um convite a deixar para trás o campo que já produziu seu fruto, confiando a outros a
colheita, e arriscar-se a começar em novo terreno que ainda não acolheu a semente da Palavra.
Contemplando as espigas do fundo, eu me pergunto:
- Quê entendo por uma vida fecunda?
Jesus nos disse: “Eu os destinei para ir e dar fruto, e para que o fruto de vocês permaneça” (Jo. 15,16)
Quero deter-me para meditar quão fecunda está sendo minha vida, minha missão...
- Em quê medida me identifico com o campo de espigas?
c) “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, fica infecundo; mas se morre dará fruto abundante”
(Jo. 12,24)
Detenho-me finalmente a contemplar o semeador. Ele está em movimento, percorrendo o campo,
lançando as sementes na terra.
Procuro colocar-me em seu lugar e identificar-me com ele. Ao observá-lo, eu me pergunto:
- “Onde estou semeando? Onde me situo nesta terra, cenário de profundas transformações sócio-culturais?”
Nesta realidade tão distinta e complexa, impõe-se uma séria reflexão encaminhada a revisar nossas
presenças e nossa missão evangelizadora. Somos convidados a abrir-nos ao novo, a semear em outros
lugares... Onde semear neste momento da história?
- “Que semear?”
Ao contemplar nossa terra, com suas injustas e sangrentas desigualdades, facilmente surge em nós a
sen- sação forte de impotência. Quê podemos fazer para que a justiça triunfe sobre o sofrimento e a
miséria?
Sabemos que, para ter amanhã uma nova colheita, uma terra que produza alimento abundante para
todos, é necessário semear hoje. E se não semearmos não haverá colheita. É necessário ter uma visão
ampla e de longo alcance: para que algo novo germine em nossa terra, temos de discernir o que vamos
semear hoje.
E agora me detenho a pensar nas sementes.
São muito pequenas, são colocadas na terra e desaparecem. No entanto, contém uma vitalidade oculta
que as leva a germinar. O fundamental não é seu tamanho senão a enorme força transformadora que
contém e sua grande fecundidade.
Deus, o Semeador por excelência, nos recorda que o Reino se faz presente na história a partir do
pequeno e do insignificante. O “novo” sempre nasce pequeno, frágil, oculto e a partir de baixo.
Hoje, mais do que nunca, é preciso essa confiança na força do pequeno em meio a um sistema que nos
faz valorizar com convicção que só as grandes multinacionais são produtivas e triunfam.
Como as sementes na terra, percebo que somos convidados a atuar a partir de dentro, transformando a
realidade a partir de meios simples, mas com criatividade e audácia.
Submergidas na terra as sementes vivem um lento processo até poder liberar uma vida nova e abundante.
Mas para que isto aconteça sofrem uma certa morte: para gerar vida entregam sua vida.
Não basta discernir quê fazer, quê tipo de semente plantar. A pergunta mais radical que brota em meu
interior é outra:
- Em quê medida estou disposto a ser como a semente: uma vida doada até as últimas conseqüências para
que surja nova vida?