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Golan 52 Farmacogenômica
Golan 52 Farmacogenômica
Fronteiras
da Farmacologia
52
Farmacogenômica
Liewei Wang e Richard M. Weinshilboum
INTRODUÇÃO n Caso
Robert H, 66 anos, está retirando a neve com uma pá em uma
Os capítulos anteriores descreveram os fármacos no contexto de manhã de inverno, em Minnesota, quando escorrega e cai sobre
seus alvos moleculares e de seu metabolismo. Embora os agen-
uma placa de gelo. Imediatamente, ele sente dor no quadril
tes farmacológicos modernos possam ser usados com sucesso
para tratar ou controlar doenças que variam da hipertensão à esquerdo e não consegue ficar de pé. É levado ao hospital, onde
infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), exis- as radiografias mostram uma fratura do quadril. No dia seguin-
tem grandes variações individuais em resposta à farmacotera- te, é realizada cirurgia e ele é transferido para um hospital de
pia. Essas variações vão desde reações adversas que podem reabilitação 3 dias depois. Menos de 24 horas após a admissão
colocar a vida em perigo até a ausência de eficácia terapêuti- do Sr. H no hospital de reabilitação, tem início uma súbita dor
ca, que é igualmente grave. Muitos fatores podem influenciar torácica pleurítica. Ele é levado ao pronto-socorro, onde uma
o fenótipo de resposta ao fármaco, inclusive a idade, o sexo TC com contraste intravenoso mostra um êmbolo pulmonar. É
e a doença subjacente, mas a variação genética também tem administrada heparina e iniciado o uso do anticoagulante varfa-
um papel importante. As diferenças genéticas individuais que rina em uma dose inicial de 5 mg/dia, tendo como meta uma
codificam os alvos dos fármacos, seus transportadores ou as razão normalizada internacional (RNI) de 2,0-3,0. O Sr. H retorna
enzimas que catalisam seu metabolismo podem afetar profun- ao hospital de reabilitação e é encaminhado ao médico local. A
damente o sucesso ou o fracasso da farmacoterapia. nova medida da RNI mostra um valor de 6,2, que está associado
A farmacogenética é o estudo do papel da herança na varia- ao aumento do risco de hemorragia. Ele não está usando outro
ção da resposta aos fármacos. A convergência dos recentes medicamento que pudesse interferir com os níveis plasmáticos
avanços na ciência da genômica e os progressos igualmente de varfarina. O médico recomenda que o Sr. H pare de tomar a
surpreendentes na farmacologia molecular resultaram na evo- varfarina durante 2 dias. Após várias tentativas de ajustar a dose
lução da farmacogenética para farmacogenômica — termos
de varfarina, o Sr. H chega, por fim, a uma RNI estável de 2,5
que muitas vezes são usados como sinônimos. A promessa da
com o uso diário de 1 mg de varfarina.
farmacogenética-farmacogenômica é a possibilidade de que o
conhecimento da seqüência de DNA de um paciente possa ser
usado para aprimorar a farmacoterapia, maximizando a eficácia QUESTÕES
do fármaco mediante seu uso apenas naqueles pacientes mais
propensos a serem beneficiados e, ao mesmo tempo, reduzin- n 1. Que outras informações laboratoriais poderiam ajudar na
do a incidência de reações adversas. Esse capítulo descreve administração de anticoagulante a esse paciente?
os princípios da farmacogenética e da farmacogenômica além n 2. Essas informações teriam ajudado na escolha da dose inicial
dos desenvolvimentos recentes nessa disciplina. São citados de varfarina para o Sr. H?
exemplos em que o conhecimento da farmacogenética-farma- n 3. Que mecanismos moleculares poderiam ser responsáveis
cogenômica pode ajudar a individualizar a farmacoterapia. pela aparente sensibilidade desse paciente à varfarina?
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nomic Data”, publicado em 2003, citou o CYP2D6 e a TPMT na maioria das populações caucasianas, tem uma freqüência de
como exemplos de biomarcadores farmacogenômicos. 3% em espanhóis e de até 13% em etíopes. Essas diferenças
CYP2D6 é um membro da família do citocromo P450 (CYP) étnicas podem ter implicações médicas importantes, porque
de enzimas microssomais, metabolizadoras de fármacos na fase o CYP2D6 metaboliza muitos medicamentos prescritos com
I. CYP2D6 contribui para o metabolismo de um grande número freqüência, inclusive o bloqueador -adrenérgico metopro-
de medicamentos, inclusive antidepressivos, antiarrítmicos e lol, o neuroléptico haloperidol, os opióides codeína e dex-
analgésicos. O polimorfismo do CYP2D6 foi descrito origi- trometorfano e os antidepressivos fluoxetina, imipramina e
nalmente por dois laboratórios diferentes que estudaram dois desipramina, entre muitos outros (Quadro 52.1). Portanto, os
tipos diferentes de sondas, o anti-hipertensivo debrisoquina e metabolizadores fracos do CYP2D6 podem sofrer um efeito
o ocitócico esparteína. A distribuição de freqüência da razão adverso quando tratados com doses padronizadas de agentes
metabólica urinária de debrisoquina, a razão entre o fármaco como o metoprolol, que são inativados pelo CYP2D6, enquanto
original e seu metabólito oxidado, é mostrada na Fig. 52.1A a codeína é relativamente ineficaz em metabolizadores fracos
em uma população do norte da Europa. Na extremidade direita porque depende do metabolismo, catalisado por CYP2D6, para
da figura é mostrado um grupo de “metabolizadores fracos” formar a morfina, um opióide mais potente. Por outro lado, os
da debrisoquina, indivíduos homozigotos para alelos (genes) metabolizadores ultra-rápidos podem exigir doses incomumen-
recessivos que codificam enzimas com atividade reduzida; no te altas de fármacos inativados pelo CYP2D6, mas essas mes-
meio da figura é mostrado o grande grupo de “metabolizado- mas pessoas podem ter uma “superdosagem” de codeína, com
res extensos”, indivíduos heterozigotos ou homozigotos para depressão respiratória ou mesmo parada respiratória em respos-
o alelo do “tipo selvagem”; e na extremidade esquerda há um ta às doses “padrões”. No passado, o genótipo de um indivíduo
pequeno grupo de “metabolizadores ultra-rápidos”, alguns dos para CYP2D6 e muitos outros genes que codificam as enzimas
quais têm múltiplas cópias do gene CYP2D6. que metabolizam o fármaco era inferido a partir do fenótipo,
Vários mecanismos genéticos moleculares são responsáveis por ex., a razão metabólica urinária que pode ser determinada
pela variação na atividade da enzima CYP2D6, inclusive cSNP por análise da excreção urinária de um metabólito específico
não-sinônimos, deleção de genes e duplicação de genes; alguns após a administração de um fármaco sonda (Fig. 52.1A). Como
metabolizadores ultra-rápidos podem ter até 13 cópias do gene. é exposto adiante, agora a determinação do genótipo depende
Estima-se que 5 a 10% dos caucasianos sejam metabolizado- cada vez mais de testes baseados em DNA realizados com dis-
res fracos do CYP2D6. Ao contrário, entre habitantes do leste positivos como o “chip” mostrado na Fig. 52.1B.
da Ásia a freqüência do fenótipo de metabolizador fraco é de A tiopurina S-metiltransferase (TPMT) é outro exemplo de
apenas 1 a 2%. O fenótipo do metabolizador ultra-rápido, raro um polimorfismo genético importante e clinicamente relevante
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TPMTL/TPMTH
5
Fig. 52.1 Farmacogenética do CYP2D6. A. Distribuição de freqüência da razão
metabólica da debrisoquina, cujo metabolismo é catalisado pelo citocromo TPMTL/TPMTL
P450 2D6 (CYP2D6) para formar seu metabólito 4-hidroxi. Os dados de 1.011
suecos são representados como a razão urinária dos metabólitos. A maioria
das pessoas metaboliza extensamente a debrisoquina, ao passo que alguns
têm metabolismo ultra-rápido e outros, fraco. B. O arranjo AmpliChip CYP450 0
pode ser usado para determinar genótipos variantes de genes do citocromo 0 5 10 15 20
P450 que influenciam o metabolismo do fármaco. Atividade da TPMT (unidades/mL hemácias)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
TPMT*1
(tipo
para o metabolismo do fármaco. Esse exemplo também ser- selvagem) VNTR
viu como importante sistema de modelo farmacogenético. A
TPMT catalisa a S-metilação dos fármacos tiopurina, como TPMT*3A
a 6-mercaptopurina e a azatioprina (Cap. 37). Entre outras
indicações, esses agentes citotóxicos e imunossupressores são VNTR
G460A A719G
usados para tratar a leucemia linfoblástica aguda da infância Ala154Thr Tyr240Cys
e a doença intestinal inflamatória. Embora as tiopurinas sejam
Fig. 52.2 Farmacogenética da TPMT. A distribuição da freqüência da atividade
fármacos úteis, têm um índice terapêutico estreito, isto é, a da tiopurina S-metiltransferase (TPMT) nas hemácias de 298 caucasianos sem
diferença entre as doses tóxica e terapêutica é pequena, e alguns parentesco. TPMTL indica um alelo ou alelos para o traço de baixa atividade, ao
pacientes têm mielossupressão induzida por tiopurina que pode passo que TPMTH refere-se ao alelo do “tipo selvagem” (TPMT*1) para atividade
ser fatal. elevada. A distribuição de freqüência trimodal observada para atividade da
TPMT de hemácias é decorrente principalmente do efeito do TPMT*3A, o alelo
Em caucasianos, o alelo variante mais comum da TPMT variante mais comum para baixa atividade em uma população caucasiana.
é o TPMT*3A; a freqüência aproximada do gene é de 5%, TPMT*1 e TPMT*3A diferem em dois polimorfismos de nucleotídeo único (SNP)
e assim 1 em cada 300 indivíduos tem duas cópias do alelo não-sinônimos, um no éxon 7 e outro no éxon 10.
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meno de mudanças acentuadas no nível de uma proteína em O alelo ALOX5 mais comum contém cinco repetições e está
conseqüência da alteração de apenas um ou dois aminoácidos na presente em aproximadamente 77% dos genes ALOX5. Conse-
proteína foi observado repetidamente em muitos outros genes qüentemente, cerca de 94% da população tem pelo menos uma
de significado farmacogenético e é uma explicação comum para cópia do alelo com cinco repetições. As variantes de alelos mais
os efeitos funcionais de cSNP não-sinônimos. comuns contêm quatro e três repetições, e suas freqüências
Os polimorfismos genéticos da BChE, NAT2, CYP2D6 e aproximadas são de 17 e 4%, respectivamente. Em vista do
TPMT comportam-se como traços mendelianos monogênicos aumento da ligação de Sp1, as pessoas que têm o alelo com
(de um único gene), assim como muitos outros exemplos iniciais cinco repetições parecem expressar mais 5-lipoxigenase. É inte-
da farmacogenética. No entanto, agora a farmacogenética-far- ressante notar que parece não haver relação entre a presença ou
macogenômica ultrapassou as características farmacocinéticas ausência do alelo de cinco repetições e a gravidade da asma na
monogênicas, e o foco inclui cada vez mais a variação funcional população; isto é, este polimorfismo do promotor de ALOX5
e clinicamente significante em alvos do fármaco e também em não parece afetar o processo da doença propriamente dito. No
enzimas que o metabolizam. A variação também pode incluir entanto, em ensaios de um inibidor da 5-lipoxigenase relacio-
múltiplos genes que influenciam tanto a farmacocinética quanto nado à zileutona, só responderam ao fármaco os participantes
a farmacodinâmica. que tinham pelo menos uma cópia do alelo de cinco repetições.
O resultado sugere que é improvável que os compostos seme-
VARIAÇÃO NOS ALVOS DOS FÁRMACOS: lhante à zileutona sejam úteis para os 6% da população que não
têm o alelo com cinco repetições e que a identificação desse
FARMACODINÂMICA subgrupo permitiria o uso de outros medicamentos mais efi-
Os fármacos geralmente exercem seus efeitos interagindo com cazes. Esse exemplo também ilustra um princípio importante:
proteínas específicas do alvo. Portanto, variações genéticas nes- um polimorfismo não precisa causar doença para influenciar
sas proteínas do alvo, ou nas vias de sinalização subseqüentes o tratamento daquela doença.
às proteínas do alvo, podem influenciar o desfecho da farma- Um exemplo de variação genética em um alvo do fármaco
coterapia (Quadro 52.2). Além disso, a variação nos alvos do no DNA somático (tumor) inclui mutações com ganho de fun-
fármaco pode ser resultante de variação no DNA da linhagem ção no gene que codifica o receptor do fator de crescimen-
germinativa ou, no caso do câncer, de variação no DNA somáti- to epidérmico (EGFR) (também conhecido como HER1 ou
co presente no tumor. Um exemplo de variação genética do ErbB1) em pacientes com câncer pulmonar de não-pequenas
alvo de um fármaco no DNA da linhagem germinativa inclui células (CPNPC). Em 2004, dois grupos relataram que, em
uma classe de fármacos usados no tratamento da asma. Como pacientes com CPNPC, a resposta ao gefitinibe, um inibidor do
observado no Cap. 46, a zileutona, um antiasmático, diminui EGFR, era fortemente influenciada por essas mutações do DNA
a inflamação das vias aéreas mediante inibição da enzima 5- somático; isto é, indivíduos que tinham variação da seqüên-
lipoxigenase, uma enzima codificada pelo gene ALOX5. Varia- cia na parte do gene que codifica o sítio de ligação do ATP
ções na 5-lipoxigenase ilustram o ponto de que a variação em desse receptor da tirosina cinase apresentaram resposta mais
muitas áreas de um gene pode afetar a função das proteínas. favorável ao tratamento com gefitinibe do que os pacientes
O significado funcional dos cSNP não-sinônimos — e sua sem mutações. É freqüente a superexpressão do EGFR nesses
capacidade de alterar a quantidade de proteína expressa — foi tumores, e vários fármacos que têm esse receptor como alvo
destacado na seção anterior sobre farmacogenética da TPMT. foram testados clinicamente. Já se sabia que os pacientes com
Além disso, porém, os polimorfismos nas regiões reguladoras, CPNPC oriundos do leste da Ásia apresentavam resposta mais
como o promotor do gene, podem influenciar a transcrição e favorável ao tratamento com gefitinibe do que os pacientes
assim alterar a expressão das proteínas. O promotor do gene caucasianos, e um dos dois estudos originais constatou muta-
ALOX5 exibe variação no número de repetições seriadas da ções somáticas do EGFR em 15 dentre 58 tumores selecionados
seqüência GGGCGG. Essas seqüências repetidas ligam-se ao aleatoriamente em pacientes japoneses, mas em apenas 1 dentre
complexo do fator de transcrição Sp1, que supra-regula a trans- 61 nos Estados Unidos — ilustrando, mais uma vez, notáveis
crição de ALOX5. diferenças étnicas nos efeitos farmacogenéticos. O exemplo
do gefitinibe pode representar o futuro da oncologia, no qual na-S é três a cinco vezes mais potente do que a varfarina-R, e
se poderá considerar mutações/polimorfismos somáticos e da a varfarina-S é metabolizada predominantemente pela isoforma
linhagem germinativa antes de iniciar um programa terapêutico. do citocromo P450 CYP2C9. CYP2C9 é um gene altamente
Esse exemplo e o exemplo do ALOX5 também mostram que polimórfico, e os alelos variantes CYP2C9*2 (Arg144Cys) e
a variação farmacodinâmica-farmacogenética (isto é, variação CYP2C9*3 (Ile358Leu) estão associados a apenas 12 e 5%,
dos genes que codificam alvos do fármaco) pode ter a mesma respectivamente, do nível de atividade enzimática observado
importância, se não for mais importante, do que a variação com o alelo do tipo selvagem (CYP2C9*1). Os pacientes que
farmacocinética-farmacogenética representada pelo CYP2D6 têm esses alelos variantes necessitam de doses reduzidas de
e TPMT. O Quadro 52.2 lista vários polimorfismos em genes varfarina para obter um efeito anticoagulante, e esses mesmos
codificadores das proteínas-alvo do fármaco que foram asso- indivíduos correm maior risco de hemorragia durante o tra-
ciados à variação na resposta ao fármaco. tamento com varfarina. No entanto, essa variação farmacoci-
nética-farmacogenética não explica a maior parte da variação
na dose terapêutica da varfarina em pacientes que usam esse
FARMACOGENÉTICA-FARMACOGENÔMICA anticoagulante poderoso, mas que pode ser perigoso.
BASEADA NA VIA O alvo molecular da varfarina só foi identificado em 2004.
O gene que codifica esse alvo, a subunidade 1 do complexo
Todos os exemplos anteriores, CYP2D6, TPMT, ALOX5 e
da vitamina K epóxido redutase, VKORC1, também foi clo-
EGFR, estão associados à variação farmacogenética clinica-
nado naquele ano. Quando o gene VKORC1 foi seqüenciado
mente significante em razão da variação de seqüência em um
em diversos pacientes, embora não tenham sido encontrados
único gene; isto é, herança monogênica. A Fig. 52.3 ilustra
cSNP não-sinônimos, foi observada uma série de haplótipos
essa dicotomia farmacocinética-farmacodinâmica da farmaco-
(combinações de SNP em um único cromossomo) associados
genômica, usando os quatro exemplos principais citados neste
à dose de varfarina necessária. Em um estudo, pacientes com
capítulo. No entanto, também é possível que múltiplos genes
haplótipos de VKOCR1 que estavam associados à necessidade
codificadores de proteínas que influenciam tanto a farmacoci-
de baixa dose receberam uma dose de manutenção média de
nética quanto a farmacodinâmica modifiquem o fenótipo de
varfarina correspondente a cerca de metade daquela necessá-
resposta ao fármaco.
ria em indivíduos com haplótipos associados à necessidade de
Um bom exemplo é o anticoagulante varfarina. A varfarina
uma alta dose. Vários estudos subseqüentes confirmaram que
(ver Cap. 22) é um dos anticoagulantes orais mais prescritos na
o haplótipo VKOCR1 está associado a cerca de 25 a 30% da
América do Norte e na Europa. No entanto, apesar da existência
variação na dose de manutenção de varfarina, enquanto 5 a 15%
de um exame laboratorial de uso universal para acompanhar o
podem ser explicados pelo genótipo CYP2C9. Os papéis do
efeito da varfarina sobre a coagulação (RNI), reações adversas
CYP2C9 e do VKORC1 na farmacocinética e farmacodinâmica
graves — incluindo hemorragia e trombose indesejada — ainda
da varfarina são mostrados no esquema da Fig. 52.4. Como os
complicam o tratamento com varfarina. Essas complicações são
genes codificadores dessas duas proteínas contribuem para a
ilustradas pelo caso do Sr. H no início deste capítulo: após uma
variação da resposta ao fármaco, a genotipagem de CYP2C9 e
dose “padrão” de varfarina, a RNI aumentou para 6,2, um nível
a haplotipagem de VKORC1 poderiam ser úteis como estratégia
associado ao aumento do risco de hemorragia.
para determinar a dose inicial de varfarina para o Sr. H.
Por que isso poderia ter ocorrido? Em primeiro lugar, é pre-
A varfarina é um exemplo notável de uma situação em que
ciso lembrar que a varfarina é uma mistura racêmica. A varfari-
os dados farmacocinéticos-farmacogenéticos mostraram-se ina-
dequados para tradução clínica, porque esses dados explicaram
muito pouco sobre a variação na dose terapêutica. No entanto,
Farmacogenômica quando foram determinados os polimorfismos de CYP2C9 e os
haplótipos de VKORC1, tornou-se possível avaliar a variação
genética no metabolismo e no alvo do fármaco e ultrapassar a
farmacogenética monogênica representada por NAT2, CYP2D6
Exemplos de Exemplos de e TPMT. Portanto, a varfarina representa, provavelmente de
farmacocinética farmacodinâmica forma simplificada, o tipo de modelo farmacogenético-farma-
Metabolismo do fármaco Alvos do fármaco
cogenômico poligênico, baseado na via, que pode tornar-se
cada vez mais comum no futuro.
P450 2D6 TPMT ALOX5 EGFR
(DNA da linhagem (DNA da linhagem (DNA da linhagem (DNA do tumor)
germinativa) germinativa) germinativa)
REAÇÕES IDIOSSINCRÁSICAS AOS FÁRMACOS
Outro modo pelo qual a variação genética poderia influenciar
a farmacoterapia está relacionado às reações idiossincrási-
Ausência de Mielossupressão Ausência Resposta cas. Esses efeitos são diferentes dos outros exemplos descri-
resposta em resposta de resposta de regressão
da codeína à 6-MP do inibidor da tumoral
tos neste capítulo porque não são causados por diferenças no
5-lipoxigenase metabolismo ou nos alvos do fármaco. Ao contrário, os efeitos
idiossincrásicos parecem resultar de interações entre a medica-
Fig. 52.3 Farmacocinética e farmacodinâmica da farmacogenômica. A figura ção e um aspecto único da fisiologia do paciente. Um exemplo
mostra os principais exemplos farmacocinéticos (metabolismo do fármaco) e “clássico” que ilustra esse efeito menos previsível da variação
farmacodinâmicos (alvo do fármaco) descritos neste capítulo. São mostrados o genética individual é representado pelas reações idiossincrási-
gene afetado (em itálico), se há envolvimento do DNA da linhagem germinativa cas associadas à deficiência funcional da enzima glicose 6-
ou somático (por ex., tumor) e a resposta clínica observada na presença do(s)
alelo(s) variante(s). P450 2D6, gene do citocromo P450 2D6; TPMT, gene da fosfato desidrogenase (G6PD; ver Cap. 35). A enzima protege
tiopurina S-metiltransferase; ALOX5, gene da 5-lipoxigenase; EGFR, gene do as hemácias contra danos oxidativos. Diversos polimorfismos
receptor do fator de crescimento epidérmico; 6-MP, 6-mercaptopurina. causam esse distúrbio. O mais comum está relacionado a um
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um fator importante responsável pela variação na ocorrência ma treatment. Nat Med 1999;22:168–171. (Estudo original que
de reações adversas ao fármaco ou na incapacidade de deter- mostrou as diferentes respostas farmacológicas em pessoas com
minados pacientes alcançarem a resposta terapêutica desejada. diferentes polimorfismos do gene ALOX5.)
A farmacogenética evoluiu durante esses 50 anos, partindo Evans WE, McLeod HL. Pharmacogenomics—drug disposition, drug
dos exemplos clássicos, como CYP2D6 e TPMT, para incluir
targets, and side effects. N Engl J Med 2003;348:538–549. (Revisão
situações mais complexas como as representadas pela farma-
cogenética da varfarina, associadas tanto à variação farmaco- que descreve a integração da genômica com a farmacogenética.)
cinética quanto farmacodinâmica. Essa área da ciência médica Rieder MJ, Reiner AP, Gage BF, et al. Effect of VKORC1 haplo-
genômica também apresenta desafios únicos em sua tradução types on transcriptional regulation and warfarin dose. N Engl J Med
para a clínica. No entanto, não pode mais haver dúvida de que 2005;352:2285–2293. (Descrição dos haplotipos de VKORC1,
a farmacogenética será aplicada à medicina clínica com ampli- genótipos de CYP2C9 e sua relação com a dose de varfarina.)
tude e profundidade crescentes e que, por fim, aumentará nossa Wang L, Weinshilboum R. Thiopurine S-methyltransferase pharma-
capacidade de individualizar a farmacoterapia. cogenetics: insights, challenges and future directions. Oncogene
2006;25:1629–1638. (Sumário dos avanços científicos de um tra-
n Leituras Sugeridas ço farmacogenômico “clássico”, com ênfase nos mecanismos que
Broder S, Venter JC. Sequencing the entire genomes of free-living ligam o genótipo ao fenótipo.)
organisms: the foundation of pharmacology in the new millen- Weinshilboum RM, Wang L. Pharmacogenetics and pharmacogeno-
nium. Ann Rev Pharmacol Toxicol 2000;40:97–132. (Sumário de mics: development, science and translation. Annu Rev Genomics
seqüenciamento de genoma e possíveis implicações da diversidade
Hum Genet 2006;7:223–245. (Revisão da variação farmacogenô-
genética para a farmacologia.)
Drazen JM, Yandava CN, Dube L, et al. Pharmacogenetic association mica, farmacodinâmica e farmacocinética, assim como os desafios
between ALOX5 promoter genotype and the response to anti-asth- na tradução desses dados científicos para a prática clínica.)