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A FAMÍLIA DOS DEUSES DA TERRA – OMOLU/OBALUAIÊ E NANÃ


Mãe Liliana d’Oxum

Trabalho de pesquisa realizado junto à sacerdotes de vários segmentos dos cultos afro-
descendentes, sobre a família dos deuses da terra, especificando Omolu-Obaluaiê e Nanã.

OMOLU / OBALUAIÊ
Para a maioria dos sacerdotes consultados de várias tradições do Candomblé, Omolu ou
Obaluaiê é filho de Nanã Buruku e originário do país de Mahi, no norte do Daomé, de onde se
origina toda a família. No entanto, de acordo com Ifá, são Orixás já existentes na cultura iorubá
como Ara Orum, Orixás da criação do mundo.
Numa distinção semelhante à existente para Oxalá, entre Oxalufã e Oxaguiã, Omolu seria a
forma mais velha e Obaluaiê a forma mais jovem do mesmo Orixá – o deus da doença. A ele é
atribuído o poder sobre todas as doenças, podendo tanto causar como curar.
O seu dia consagrado é a segunda-feira, sendo sempre muito bem cuidado e respeitado pelo
seu poder e força. Na maioria dos lugares é sincretizado com São Lázaro e São Roque. É saudado
com a palavra Atotô! O significado da palavra é Silêncio!
Seus filhos, quando manifestados, são vestidos com saiotes de palha da costa e usam o filá,
capuz da mesma palha, enfeitados com búzios e miçangas pretas e brancas ou pretas, vermelhas e
brancas. Podem usar o laguidibá ou colar de miçangas e, também, os brajás de búzios.
Seu símbolo é o xaxará, um cetro feito de palitos de dendezeiro, que representa a
coletividade, na simbologia iorubá.
O ritmo tocado para Obaluaiê é o opanijé e sua dança imita o sofrimento, o tormento das
dores, as coceiras e os tremores de febre.
Sua festa anual, realizada no mês de agosto, chama-se Olubajé, no decorrer da qual lhe são
ofertadas diversas comidas de sua preferência como pipoca, cabrito, latipá (folhas de mostarda
cozida), aberem (bolo de milho em folha de bananeira e cozido no vapor), feijão preto, abacaxi e
jaca.
As proibições alimentares (ewós ou quizilas) são carneiro, peixes de pele lisa, caranguejos,
banana prata, jaca, melão, abóbora e frutos de plantas de rama.
A característica do Orixá é o sofrimento em si. O arquétipo é o das pessoas insatisfeitas,
irônicas, com tendência ao sofrimento e à tristeza. São também, pessoas abnegadas, capazes de se
entregarem completamente ao bem estar dos outros e desprendidas de boas situações materiais.
Para a Umbanda, aceita-se as divindades de origem africana como elas são concebidas,
porém existe um dualismo Orixá / Santo. Entende-se que Santo não é Orixá e vice-versa, mas torna-
se difícil saber qual deles se apresenta e como diferenciá-los em suas manifestações. Ambos se
mesclam e compõem uma mesma linha vibratória.
Omolu e Obaluaiê para a maioria dos sacerdotes umbandistas possuem a mesma função:
Orixá da Saúde, Chefe da Falange dos Cemitérios e filho de Nanã Buruku.
Omolu, o velho, é sincretizado com São Roque e comemorado no dia 18 de agosto.
Obaluaiê, sua forma mais jovem , é sincretizado com São Lázaro e comemorado no dia 16 de
agosto. Socorrem nos casos de doenças, proporcionando proteção aos médicos, hospitais e auxiliam
os espíritos na hora do desprendimento carnal, encaminhando as almas dos recém desencarnados.
Este é o motivo da ligação com os Cemitérios e o Cruzeiro das Almas.
Considerado o Chefe da Linha das Almas e Senhor dos Cemitérios, Omolu controla várias
falanges de Exús dos Cemitérios que utilizam-se dos fluídos desprendidos dos corpos sem vida para
desfazer trabalhos de malefício e ajudar no plano físico.
Seus dias consagrados são segunda e sexta feiras e o símbolo mais comum é o cruzeiro ou a
foice, podendo surgir o xaxará em alguns segmentos.
Suas contas são brancas e pretas ou bancas, pretas e vermelhas ou marrons e suas vestes,
normalmente, são as usadas pela casa, cobrindo-se a cabeça com pano branco quando manifestado.
As velas usadas em seus trabalhos são brancas ou brancas e pretas ou de sebo, quando
indicado.
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Oferenda-se pipoca, às vezes com dendê, carne de porco e vinho licoroso. Suas cantigas são
as tradicionais de Umbanda.
O arquétipo é o das pessoas simples, humildes, desprendidas, com tendência a serem
solitárias e tristonhas ou incomodadas por problemas de saúde.
Existe o folclore de se fazer pedidos ao contrário do que se quer obter de Obaluaiê, mas não
pudemos comprovar tal fato. Possivelmente esse “contrário” signifique: “que não advenha a doença,
que não advenha a má sorte, etc”.

NANÃ BURUKU
Nanã ou Nanã Buruku é conhecida como a mãe de Obaluaiê e considerada um Orixá muito
controvertido. Às vezes se apresenta perigosa e vingativa, outras calma e benevolente.
Seu dia consagrado pode ser a segunda-feira, junto com Obaluaiê, terça-feira ou sábado,
junto com as outras Iabás . O sincretismo é com Nossa Senhora Sant’Ana.
Considerada a mais antiga das divindades das águas, com domínio nas águas paradas dos
lagos e lamacentas dos pântanos.
Se Oxum é o Orixá responsável pela vida que vai nascer e pela criança pequena, Nanã faz o
caminho inverso. É a responsável pela volta ao mundo astral e a dona da terra que recebe os
cadáveres, a deusa do reino dos mortos, quem reconduz a esse lugar desconhecido.
Suas contas são rajadas de azul índigo e branco, usa o laguidibá e o brajá de búzios. As suas
roupas seguem os tons de azul e branco. Seu símbolo é o ibiri, que é semelhante ao xaxará, porém
com a ponta superior recurvada.
Sua dança é a que convém a uma senhora idosa, com passos lentos e movimentos ora
embalando o ibiri ora apoiando-se em um cajado. O ritmo mais comum usado é sató e bata.
As comidas ofertadas são acaçá de leite ou mingau, feijão fradinho, feijão preto, pipoca,
arroz, aberem, frutas como melão, sapoti e pêra. Os bichos são sempre fêmeas e são sacrificados
sem o uso de faca de metal.
As proibições são o orobô, o uso de metal, abacaxi, carne de porco e de carneiro e comida
quente.
O arquétipo é o das pessoas calmas, dignas e gentis, que preferem fazer tudo com calma.
Gostam de crianças ao ponto de cercá-las de mimos, como agem as avós. São sempre pertinentes em
suas decisões e procuram o caminho da sabedoria e da justiça. Também são lembradas como pessoas
ranzinzas, sem senso de humor, questionadoras e duras em suas decisões, irritadas com as coisas do
mundo.
Na Umbanda, Nanã é carinhosamente chamada de Vovó e considerada força de primeira
grandeza.
É invocada como Nanã ou Nanã Buruku e saudada com a expressão Saluba Nanã! Eu lhe
saúdo Nanã!
O sincretismo é com Nossa Senhora Sant’Ana e também com Nossa Senhora da Boa Morte
em alguns segmentos. É o Orixá da resignação.
Os dias consagrados são a segunda-feira e o sábado e sua festa é realizada no dia 26 de julho.
Seu domínio são as águas dos lagos, pântanos e a lama; também as situações de aflição que
antecedem e sucedem o desencarne.
As suas contas são roxas ou lilases, azul índigo e brancas. A roupa usada, normalmente é a
da casa com a cabeça coberta pôr um pano branco.
As velas usadas são brancas ou roxas e o símbolo, quando usado, é o ibiri ou o crucifixo.
Oferenda-se frutas como melão e pêra, flores brancas ou lilases, canjica, arroz, champanhe
ou vinho licoroso.
O arquétipo é o das pessoas calmas, doces, pacientes, ponderadas e serenas. No entanto,
muitas vezes, podem mostrar-se com falsa calma, autoritárias e ranzinzas.
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NAÇÃO KETO
Babalorixá Carlinhos Megecy
Terreiro Afro Brasileiro Ogum Megegê

OMOLU/OBALUAIÊ
No Keto, o Orixá Omolu é o deus da doença, existindo uma distinção entre ele como a forma
mais velha e Obaluaiê como a forma mais jovem, para o mesmo Orixá.
É ligado a terra e detentor de um saber específico de cura. O dia dedicado a ele é a segunda-
feira, sendo homenageado em suas festas anuais.
Existe o sincretismo de Omolu com São Roque e Obaluaiê com São Lázaro e suas qualidades
dependem dos Orixás que o acompanham.
Suas cores são o preto e o branco e as velas usadas são sempre brancas. As contas são pretas
e brancas ou marrons, pretas e brancas e o brajá de búzios.
As comidas são folhas de mostarda cozidas e temperadas com dendê, feijão preto com
camarão e dendê, pipoca e para beber alua. Os animais sacrificados são cabrito ou porco e as
principais frutas, o abacaxi e a jaca. Entre as favas oferece-se o obi.
As roupas usadas são de sisal, cobertas com palha da costa e enfeitadas com búzios e
miçangas pretas e brancas. O símbolo usado é o xaxará.
O ritmo de música é o opanijé e a língua usada para os cantos e rezas do culto é o iorubá.
Os ewós ou quizilas são bastante individuais, predominado o abacaxi e a carne de porco,
dependendo da pessoa.
O arquétipo é o das pessoas de temperamento aparentemente calmo, sendo que os homens
são mais reservados e as mulheres um pouco mais falantes. Possuem a fisionomia brusca,
aparentando sofrimento e podem apresentar marcas físicas decorrentes de alguma doença.

NANÃ
Nanã é cultuada segunda-feira junto com Obaluaiê ou sábado junto com as Iabás e as
homenagens são nas festas dedicadas a ela. O sincretismo é com Nossa Senhora Sant’Ana e Nossa
Senhora da Boa Morte.
Sua contas são azuis e brancas ou rajadas nas mesmas cores e o brajá de búzios.
As comidas de preferência são o acacá de leite, a canjiquinha de feijão fradinho sem casca e
o melão. Para o sacrifício recebe bichos fêmeas.
Sua roupas são brancas, azul claro ou lilás e levam palha da costa.
O ritmo de suas músicas são batá ou sató.
O arquétipo é o de pessoas calmas e comuns, não havendo nada em especial para ressaltar.

Babalorixá Beto de Airá


Ilê Axé Afro Brasileiro de Xangô Airá

OMOLU
Tanto Omolu quanto Nanã são considerados Orixás mais velhos. Existem qualidades que
dependem de quem acompanha.
Não existe o uso de velas em seu culto e as contas usadas são marrons rajadas de preto.
A comida de preferencia é o omolokun de feijão preto, o cabrito e todas as comidas do
Olubajé.
Usa roupa de palha e tecido, dependendo da qualidade, sendo que existe uma qualidade que
usa garras de aço. O símbolo é o xaxará.
O ritmo das cantigas é o opanijé e toca também, cantigas de Jeje.
Omolu é cultuado sempre com muito respeito e o ewó é a jaca.
São usadas as lendas para determinar o arquétipo.
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NANÃ
Nanã é cultuada com o mesmo cuidado e respeito que Omolu. Suas contas são brancas
rajadas de azul e não usa nenhum tipo de metal.
As comidas oferendadas são banana da terra e cuia de batata doce com mel. São sacrificados
bichos fêmeas.
O símbolo é o ibiri e o ewó é o caranguejo.

TUMBA JUÇARA

Babalorixá Walter de Omolu


Templo Juçarenguê – Parque Brasília – Guarulhos

OMOLU
Na tradição o nome sempre usado é Omolu, Orixá da terra e das doenças.
A cor usada vai depender da marca, de quem acompanha e de onde ele é.
O dia consagrado é a segunda-feira, embora seja cultuado sempre que haja necessidade e
possibilidade.
A vela usada no culto é sempre branca e não se usa metal.
A comida oferendada é a pipoca, o feijão preto, e o animal para sacrifício é o cabrito.
A roupa usada depende da marca, podendo ser branca ou estampada e o símbolo é o xaxará.
O ritmo de música usado é o barravento, congo, cabula e são várias as cantigas. A língua
usada no culto é o kibundo.
Quanto ao arquétipo, não há características diferentes de ninguém. Quem tudo determina é a
divindade. Omolu passa muita fé e humildade porque sempre cuida da vida de seus filhos.

NANÃ
Para Nanã o procedimento é o mesmo, sendo que os bichos usados são fêmeas, o símbolo é o
ibiri e o dia dedicado a ela é o sábado.

JEJE MAHI

Pai Dancy
Roça de Culto Kue Vodum Aroçu Ro Bessem
Iniciado no culto Jeje Mahi do Brasil e iniciado no Haiti no culto Dambala
Filho da Roça do Ventura de Cachoeira de São Félix, dirigida pôr Gaiaku Gamo Lokôci

Pai Dancy indaga que vodum não se compara com Orixá. No Jeje o culto é realizado no
tempo ou na natureza e a família real é assim formada: Bessem, Lokô, Azançu, Nanã e Iyewá.
Nanã e Omolu são divindades que vieram do Daomé mas foram adaptadas no culto iorubá.
Para não criar polêmica, prefere não tocar no assunto.
Ele mantém sua tradição e cultua seus voduns sem misturar com outras divindades de cultos
diferentes.
Os voduns da terra são: Bessem, Lokô, Azançu e Sobo Adã. São as divindades primordiais,
as que chegaram primeiro. Existem divindades acima destas, mas que não vêm na cabeça de
ninguém: Mahu e Olissá, os criadores da Terra.
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ALAKETO
Mãe Aligoã de Xangô
Ilê de Xangô Vodunci da Roméia

OMOLU/OBALUAIÊ
Omolu e Obaluaiê dominam as doenças e o cemitério, ambos apresentam a forma mais novo
e mais velho, ou seja Xapanã e Samponã.
Existe o sincretismo com São Lázaro, São Roque e São Sebastião e são festejados nos dias
dedicados a estes Santos. O dia da semana dedicado é a segunda-feira.
As cores usadas para Omolu são o preto e o branco ou branco e preto, inclusive para as
contas ou deleguns.
A vela branca é usada para todos os Orixás.
A comida preferencialmente oferendada é o aberem, pipoca, abacaxi, sendo que as frutas são
sempre oferendadas pois simbolizam a prosperidade.
As favas usadas são obi, orobô, aridã e oferece-se também alobaça.
Suas vestes são saia e capuz de palha enfeitadas com miçangas.
As cantigas são as tradicionais de Angola e Keto.
As proibições são o porco, carneiro, peixe de pele lisa, caranguejo, banana prata, abacaxi e
melão.
O arquétipo é o das pessoas muito quietas, pouco falantes, fechadas, e de difícil convivência.
Para Obaluaiê, que domina mais as doenças, as cores usadas são o preto, branco e vermelho.
A comida preferencial é a pipoca com côco, feijão com camarão e as mesmas oferendadas
para Omolu.
O arquétipo é o das pessoas egoístas, que exigem muito para si, podendo ter índole ruim.

NANÃ
Nanã Buruku , forma mais velha, que vem acompanhada pôr Obaluaiê e Nanã Insulê, forma
mais jovem, que vem acompanhada pôr Oxóssi, são sincretizadas com Nossa Senhora Sant’Ana e
Nossa Senhora dos Navegantes.
Orixá sempre muito louvada pelo seu povo, que louvam também a chuva e a lama. Exige
muito respeito e seriedade porque ou é muito mãe ou não.
Ajuda muito a consolar na hora da morte. Ela restitui a vida ou a tira de quem está sofrendo
muito.
Suas cores são o lilás, azul anil e branco ou branco. Os deleguns são brancos e azul anil ou
rajados nas mesmas cores.
A comida oferendada é o mingau de farinha de tapioca, sapoti, maçã, pêra e fêmeas de
bichos para o sacrifício, sempre de cor branca.
Suas vestes são nas cores lilás, azul anil e branco, com adereços de palha no adê. O símbolo
é o ibiri e a vassoura de palha.
As proibições são porco, abacaxi e carneiro.
O arquétipo é o das pessoas imprevisíveis, ora fechadas demais ora falantes demais, que
guardam o rancor e a mágoa pela vida toda. São também, pessoas muito prestativas e de bom
coração.

NAÇÃO EFON
Iyalorixá Ada de Omolu
Ilê Oluaiê Omode Okurin Ifon – Fundado em 1967

OMOLU/OBALUAIÊ
Omolu é o ancião, o conselheiro e Obaluaiê é o grande guerreiro. Existem qualidades que são
de acordo com o Orixá que acompanha: Jagum – Oxalá, Ibonã – Yemanjá, Sapata – Exú, Ajunçun –
Yemanjá, Azuane – Oxum.
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O dia consagrado é a Segunda-feira e são cultuados nas festas a eles dedicadas, de acordo
com a possibilidade financeira. A festa de tradição da casa é o Olubajé, realizado no mês de agosto,
sempre próximo ao dia 16.
As cores de Omolu são o branco e o preto, sendo que também usa o laguidibá e brajás de
búzios cruzados no peito.
As velas usadas no culto são sempre brancas e não existe o sincretismo com santos católicos.
A comida ofertada é a pipoca e o milho amarelo torrado, nêsperas e vinho branco doce. Os
bichos para sacrifício são cabrito, angola e pombo.
Não se usa metal para estes Orixás e o símbolo é o xaxará.
O ritmo de música é o opanijé e a língua usada no culto é o iorubá. A verdadeira língua dos
fons é o nagô vodum, mas essa perdeu-se pelo tempo.
As proibições são caranguejo, porco, abacaxi e laranja azeda.
O arquétipo é o de pessoas enérgicas que chegam até a ser rudes, detestam mentiras, são
muito sensíveis e implacáveis em sua ira.
Obaluaiê usa as cores branco, preto e vermelho ou branco, preto e amarelo, laguidibá e
brajás de búzios.
A comida oferendada é a pipoca, feijão fradinho, feijão preto, feijão com milho e os mesmos
procedimentos que para Omolu.
Seu símbolo é o xaxará ou a lança.
Quanto ao arquétipo é o das pessoas que sabem ser bastante humildes.
Conta a lenda que Omolu/Obaluaiê, quando tinha quatorze anos, saiu de casa procurando
emprego e não conseguiu arrumar nenhum. Recusaram-lhe até comida e esmola, acabando meio
morto de fome e abandonado na floresta com a companhia de um cachorro. Ele desmaiou debaixo
de um pé de irokô e, quando recobrou os sentidos ouviu uma voz. Esta voz lhe disse que já havia
sofrido muito e o suficiente. A partir disso, deu-lhe os poderes da cura das doenças contagiosas.

NANÃ
As qualidades de Nanã são acompanhadas pôr Omolu ou Oxalá e não viram na cabeça de
homens: Iyalufé, Buruku, Iyabaim, Iyajunçum.
Suas cores são o branco e azul marinho ou somente o branco. As contas são nas mesmas
cores ou rajadas ou brancas com fechamento de búzios.
A comida oferendada é ekuru, feijão fradinho, omolokum em folha de bananeira, nêspera e
vinho branco doce. Par o sacrifício usa-se bichos fêmeas e igbim.
Para Nanã não se usa nada de metal e o seu símbolo é o ibiri.
As proibições são algumas frutas doces e o caju.
O arquétipo é o das pessoas também muito humildes, porém temperamentais.

Babalorixá Rozevaldo de Oxumarê


Conselheiro do INTECAB- SP

OMOLU/OBALUAIÊ
Em seu conceito é sempre o mesmo Orixá, embora existam qualidades que dependem do
Orixá quem acompanha.
São Orixás muito antigos e são cultuados pois sobreviveram bravamente a uma cultura
dominada.
O dia consagrado é a segunda-feira e as festas tradicionais de culto ao Orixá. Existe o
sincretismo com São Roque e São Lázaro.
As cores usadas são o branco e o preto ou somente o branco e as velas usadas são sempre
brancas.
Usa contas brancas e pretas ou marrons rajadas de preto e o brajá de búzios.
A comida de preferencia é o feijão preto, a pipoca, maçã e frutas variadas, vinho moscatel.
Entre as favas, oferece obi e orobô e o animal para sacrifício é o cabrito.
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Usa roupa branca, saiote e azê de palha, e o símbolo é o xaxará.
O ritmo usado para as músicas é o opanijé e a língua usada no culto é o iorubá.
As proibições são cajá, abacaxi e peixe de couro.
O arquétipo é o das pessoas difíceis de se lidar, pois são geniosas e distantes. São pouco
comunicativas, arredias à festas e não gostam do convívio social. Algumas podem apresentar marcas
físicas.

NANÃ
Nanã também apresenta qualidades que dependem do Orixá que acompanha.
O sincretismo com Nossa Senhora Sant’Ana é respeitado.
As cores usadas são o lilás e o branco ou azul anil e branco. As contas seguem as mesmas
cores e usa o brajá de búzios.
A roupa usada geralmente é branca e o símbolo o ibiri.
A comida oferendada é feijão preto coberto com ovos picados, folhas de mostarda cozidas e
frutas variadas, vinho moscatel. Para o sacrifício usa sempre bichos fêmeas.
As proibições são as mesmas usadas para Obaluaiê.
O arquétipo é o de pessoas aparentemente calmas, austeras e retraídas.

TRADIÇÃO DE ORIXÁ

Iya Sandra Epega


Ilê Leuiwyato - Guararema / SP – Fundado em 1974

OMOLU / OBALUAIÊ
O nome do orixá é Sonkponã, que significa varíola, nome que não deve ser dito por ninguém.
Convencionou-se então, chamá-lo por alguns nomes de louvação, como Omolu, o filho do Deus;
Obaluaiê, Rei do Planeta Terra, ou Rei Deus da Vida; Jeholu, Senhor das Pérolas; Baba Agba, Pai
Velho.
Não se usa qualidade, acredita-se que Omolu é um só, mas passou em sua vida mítica ou
física por situações e caminhos onde recebeu diversos nomes. Esta é aliás uma prática iorubá, de dar
nomes as pessoas durante suas vidas. Quando morre um iorubá, por seus nomes adquiridos durante
sua vida chega-se à conclusão de como ele viveu.
Suas cores são branca, preta, vermelha, para contas, roupas, adereços, pinturas em iniciação e
nos potes dos altares. Seus sacerdotes muitas vezes vestem branco por aiku, a imortalidade( ku –
morrer, Iku – morte, aiku – imortalidade). O ossun (substância vegetal vermelha) é uma constante
nos seus ebós, pela ligação que ele tem com o sangue vermelho da vida. Usa laguidibá, contas
pretas feitas de casca de coco ou outras frutas de casca dura, ou de chifre, mais usualmente. Carrega
muitos brajás de búzios, com pequenas cabaças esculpidas, cheias de pós mágicos pendurados, por
isso tem o nome de Asogba, o que cuida dos pós e cabaças, o que cuida das folhas de mariwo.
Seus animais são o porco, o galo, a angola macho, o pombo, o igbin. Raramente usa cabrito
ou bode. Come amendoim, grãos em geral, milho, pepino, inhame, tomate, cebola, pimenta, sal, mel,
dendê, efun, osun, aro (wagi), coco, banana, frutas de caroço único ou grande, bem carnudas,
abacaxi, melão, egousi, adun, eko, ole, água fresca, gin, cerveja ou sekete, obi, orobô, aridã, atare,
eru (bejerekun), ori.
Em respeito à sua mãe Ananburuku, por sua briga com Ogum, não usa metal. Para seus
rituais de sacrifício, seus animais são mortos com as mãos, com faca de bambu ou madeira, com
pedaços de vidro, pedra afiada, sílex, conchas.
Cobre-se completamente de palhas e usa roupa de fio de algodão. Cobre mãos e pés com
palha. Na cabeça carrega um grande capuz de palha da costa e búzios. Seu ritmo é o Opanije (ele é
a morte que devora).
Seus ewós são as peças de metal, o caranguejo, mostrar seu rosto, comidas feitas com peixe,
animal fêmea em seu etutu. A cabeça dos filhos de Omolu não deve ser tocada sem permissão.
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A língua que se usa no culto é o iorubá, o Ifá fala tudo a respeito de Omolu, usa-se os Itan
Ifá (lendas) para aprender mais.
Não existe o sincretismo com qualquer religião, nem mesmo com cultos parecidos, como o
de vodum Sapata. Omolu é um Deus primordial, ara orun , que veio para a terra na criação do
mundo.
O igba dele fica em baixo da terra, chama-se agere, tem três, sete ou dezesseis buracos, onde
são espetadas lanças de madeira, por onde escorrem os ebós líquidos para dentro do igba. Coloca-se
mel, sal, gin, dendê e água bem fria sobre o igba, no chão e no meio da porta. Louva-se Omolu com
um sino de madeira e pedra.
Seus filhos são pessoas persistentes, decididas, mas lentas no agir, por precaução. Curtem os
prazeres da vida, inclusive os sexuais, mas não tecem comentários a respeito. Por saberem da morte
e da vida, aproveitam tudo que a vida tem a oferecer.

ANABURUKU OU NANÃ
Seu nome significa – a forte Mãe que afasta o azar, ou que domina o azar.
Orixá da morte, dona da matéria prima que dá origem aos seres humanos, mostra a todos que
morte e vida são uma coisa só. Rege a lama e a argila.
Não existe a crença em qualidades que tragam diferentes formas de Orixá.
Nanã é tão poderosa que teve dois filhos Omolu e Oxumarê, sem precisar de pai para eles.
Ela própria se fecundou com o igbin.
Suas cores são o azul e branco, o roxo, o branco. Também suas contas são nessas cores, usa
laguidibá, brajá de búzios, e sesefun (contas brancas de Obatalá).
Gosta de grãos, principalmente feijão preto, cabras, aves fêmeas ovadas, igbin, frutas gordas,
cheias de caroços miúdos, como um útero cheio de filhotes, um ventre grávido, mel, sal, dendê, gin,
água fresca, sekete, tomate, cebola, pimenta.
Não usa metal, Ifá explica, mas seu culto talvez seja de um tempo antes do metal, na idade da
madeira.
Seus ritmos são o sató, o bravun e o ilexá e seu ewó é o metal, perfumes fortes, seus filhos
não devem passar lama no corpo, ou comer carne de rã ou outros repteis, orobô.
É saudada sempre em língua iorubá.
Seus filhos são desligados de tudo até que sejam afetados diretamente pelo problema, aí se
agitam e agem.
Não há problema em iniciar homens ou mulheres para Nanã, eles podem dar início a outros
templos, ou herdar os que já existem.
Todos os iniciados para Omolu se iniciam para Nanã e vice versa. Ela é ara orun.
Para pacificar o Orixá ou seus filhos, deve-se usar igbin, que significa para ela o semem de
Obatalá.
Carrega o igbiri, feito de hastes de mariwo, significando os mortos que ela carrega e embala.

Babalaô Chief Jokotoye Awolade Bankole


Adimula Ilê Axé Orixá – Cidade de Ogbomoso – Estado de Oyo –Nigéria

OBALUAIÊ
O Orixá Obaluaiê, também conhecido como Xapanã ou Olode e Orixá Nanã Buruku são
cultuados em família. A forma de culto depende de cada família. Pergunta-se a Ifá o que está
acontecendo e o quê é preciso fazer. A cada cinco dias é oferendado um obi.
Existem dias dedicados ao Orixá. A forma de culto e oferendas vai depender das indicações
de Ifá.
Os africanos não usam vela em seu culto, usam lamparinas.
As cores para Obaluaiê são branco, preto e vermelho ou branco, preto e amarelo. O símbolo
usado é o xaxará.
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As comidas normalmente usadas são pipoca, abadô, feijão fradinho, ekuru, gin, sekete. As
favas são sempre usadas: aridã, elegekun, obi e orobô. A fava é essencial para fazer pedidos como
fartura ou prosperidade.
O ritmo usado para a música é o opanijé e apanã.
O ewó e o meu (vinho de palma) e não se queima o corpo do animal que for usado para
sacrifício.
As pessoas destinadas a um Orixá, carregam sempre as características do próprio Orixá.

NANÃ BURUKU
As cores usadas para Nanã são o preto, branco e vermelho. O símbolo é o ibiri.
A comida oferendada é banana, ekuru e bichos fêmeas. Come também as mesmas comidas e
favas que Obaluaiê.
O ritmo de música é o dum dum, batá e agbiri.
As proibições são inhame assado ou tostado, banana da terra assada ou tostada e feijão preto.

ANGOLA
Tata N’kissi Ugikandê
Abassa de Cafungi e Caboclo Laço Ligeiro

INSUMBO E CAFUNGI
Na Nação Angola são cultuados os Nkissi que são divindades. Insumbo seria o equivalente a
Omolu e Cafungi seria o equivalente a Obaluaiê. Possuem marcas, dependendo da divindade quem
acompanha.
O dia consagrado é a segunda-feira, mas é cultuado, principalmente quando há necessidade
de restabelecimento de saúde ou de se afastar as doenças.
Insumbo é uma divindade mais velha e suas cores são o branco e o preto usadas para as
contas e os adereços.
A vela usada no culto é branca.
A comida oferendada é o feijão preto com amendoim, pinha ou jaca e o animal usado para
sacrifício é o cabrito.
As roupas são brancas e pretas com saiote e azê de palha da costa, tudo enfeitado com
miçangas e búzios, inclusive o xaxará.
A língua usada no culto é o kicongo ou kibundo e o ritmo de música usado é congo e cabula.
As proibições são pessoais e usadas individualmente.
O arquétipo é o de pessoas geralmente obesas e com problemas de pele ou marcas de varíola
ou catapora. São pessoas que acreditam ser sofredoras, com dificuldades para conseguir as coisas e
que se auto-flagelam. Pensam como os velhos, são retraídas e não gostam de festas.
Cafungi é uma divindade mais nova e suas cores são branco, preto e vermelho, inclusive para
contas, roupas e adereços.
A comida oferendada é a pipoca com fatias de coco e as mesmas usadas para Insumbo.
Seu símbolo pode ser o xaxará ou uma seta, dependendo da marca que pode representar o
guerreiro.
O arquétipo é o de pessoas lutadoras, podendo apresentar algum tipo de marca deixada pôr
alguma doença já debelada, são mais magras e possuem um lado místico muito característico.

ZUMBARANDÁ
Zumbarandá seria o Nkisse equivalente a Nanã. É uma divindade cultuada como a Senhora
dos Pensamentos, devido à sua sabedoria ancestral. Ela é agradada para que traga bons pensamentos
e afaste os ruins. Seu dia consagrado é o sábado.
As cores usadas são o azul celeste e o branco para as contas e as roupas. Não usa metal e sim
palha, pedras semipreciosas, búzios e xaorô. Seu símbolo é o ibiri.
A comida oferendada é o mingau de milho branco com leite de coco, variedade de frutas,
inclusive uva rosada. Recebe bichos fêmeas para sacrifício.
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O arquétipo é o de pessoas meio obesas, mas de pele lisa. As mãos e os pés apresentam
sinais de envelhecimento precoce. São pessoas altivas, determinadas, espertas, mas as vezes,
sentem-se velhas e abandonam a vaidade. Possuem dificuldades no relacionamento amoroso devido
ao fato de serem pessoas muito sistemáticas.

UMBANDA
Mãe Maria Juliana de Obaluaiê
Centro Sócio Cultural Espiritual Afro de Cananéia
Templo do Pai Tamoio – Cananéia/ SP

OBALUAIÊ
Pratica o ritual de Umbanda, porém não usa o sincretismo para Obaluaiê. Ele é cultuado
como divindade da natureza que traz a cura e luz do sol. Procura louvá-lo e cultuá-lo sempre de dia.
É um orixá que exige muita seriedade e quer tudo para já.
As cores usadas são branco ou branco e preto, sendo que as contas podem ser branco, preto e
vermelho.
Oferece pipoca e frutas variadas e vela branca e preta.
Não usa nenhum símbolo em particular, mas as roupas de axé são cobertas com palha.
O ritmo de música é o opanijé e as cantigas tradicionais de Umbanda.
Os filhos de Obaluaiê são bastante difíceis, exigem seriedade, verdade e fidelidade é
essencial. Gostam de perfeição, pôr isso exercem muita cobrança, inclusive de si próprios.
Apresentam marcas físicas, pipocas na pele, alergias e problemas respiratórios.

NANÃ
Nanã é sincretizada com Nossa Senhora Sant’Ana e é cultuada dentro do ritual umbandista.
Suas cores são lilás e branco e a comida, quando indicado, oferece-se o manjar branco e
variedades de frutas.
Os filhos de Nanã são ranzinzas, apresentam uma falsa calma e são autoritários. Homens e
mulheres podem ser filhos de Nanã.

Pai Flavio Nalini


Tenda de Umbanda Pai Tenório e Caboclo Tupinambá

OMOLU/OBALUAIÊ
Omolu e Obaluaiê são cultuados como o mesmo Orixá e sincretizado com São Lázaro.
É louvado e saudado na Gira semanal e na Gira de Preto Velho ou quando há necessidade de
se invocar suas forças.
Existe na Umbanda, o Exú Omolu, um espírito que trabalha na vibração do Cemitério,
servidor de Obaluaiê, que atua para bem, na procura da própria evolução e para promover a cura.
As cores usadas para Obaluaiê são o branco e o preto, na vela e nas contas. O símbolo é o
Cruzeiro das Almas(preto) e o arco e a flecha (verde) pôr tradição da casa.
A roupa usada é a da casa e são cantadas cantigas tradicionais de Umbanda.
As oferendas são pipoca e vinho licoroso e não se usa metal para o Orixá.
Seus filhos são pessoas calmas, sensatas, ponderadas, muito amigas e humildes. Possuem a
característica de ter sempre um problema de saúde que incomoda.

NANÃ
Nanã é sincretizada com Nossa Senhora Sant’Ana e usa a cor roxa para vela e contas. Seu
símbolo é o ibiri e a chave com o crucifixo.
Suas oferendas são rosas brancas e champanhe.
Seus filhos são pessoas doces e serenas, muito amáveis com as crianças.
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Babá Sebastiana de Souza
T.U.C. Cacique Pena Vermelha e Ogum Iara

OBALUAIÊ
Tanto Obaluaiê quanto Nanã não são Orixás de culto freqüente.
A Linha de Obaluaiê não é usada para trabalhos e sim para descarrego, durante a Gira. A
manifestação ocorre quando há necessidade.
Existem os Pontos de Hora que são passados para a Curimba e cantados durante o trabalho.
Obaluaiê é sincretizado com São Lázaro e quando há necessidade oferece-se pipoca com
coco, bolinhos de farinha de mandioca com água e carne de porco. As entregas são feitas em morim
e não em alguidar.
O símbolo usado é a foice e as cores são branco vermelho e preto.

NANÃ
Nanã é cultuada na Linha das Águas, junto com as outras Iabás.
A cor usada é o lilás para vela e contas. Recebe como oferenda arroz com leite de coco,
flores e perfumes.
Os filhos de Nanã e de Obaluaiê são pessoas pacatas.

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