Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução
Paralisia braquial obstétrica (PBO) é uma paralisia do membro superior que pode ocorrer com a criança no
momento do parto. Ela é devida a lesão do plexo braquial (nervos responsáveis pelo movimento e
sensibilidade das mãos, dos braços e dos dedos) e é, geralmente, atribuída a tração da cabeça e do pescoço
durante a liberação dos ombros na apresentação cefálica ou a tração sobre os braços estendidos acima da
cabeça na apresentação pélvica. Um ou dois em cada 1000 recém-nascidos têm esta condição.
Classificação
A PBO é classificada em paralisia alta (Erb-Duchenne), baixa (Klumpke) e completa (Tabela 1). Erb-
Duchenne é a forma mais comum (80% a 90% dos casos) e tem melhor prognóstico. A forma Klumpke é rara
(5% ou menos), tem pior prognóstico e tem sido relacionada com uma forma completa que evoluiu com
recuperação rápida da porção alta do plexo braquial, anomalias congênitas (costela, tendão ou vaso
sangüíneo) comprimindo o plexo ou lesão medular.
Lesões Associadas
Toda criança com PBO deve ser investigada quanto à presença de lesões associadas como fraturas (úmero,
clavícula ou parietal), paralisia de nervo frênico (nervo que inerva o diafrágma) ou facial, ruptura ou
hemorragia de esternocleidomastóideo (músculo do pescoço) e lesão cerebral.
Fatores de Risco
Os principais fatores de risco para PBO são: recém-nascido grande para a idade gestacional, apresentações
fetais anormais, parto prolongado, baixa estatura materna, líquido amniótico com volume diminuído e crânio
volumoso.
Prevenção
O reconhecimento de bebês macrossômicos (grandes) através da ultrassonografia facilita a decisão de
indução precoce do trabalho de parto em mães diabéticas (causa freqüente de feto grande para a idade
gestacional) ou a indicação de cesariana para os casos de alto risco.
Diagnóstico Clínico
O exame físico inclui avaliação da mobilidade articular, da força muscular, da preensão palmar, do reflexo de
Moro, dos reflexos tendinosos e da sensibilidade. O diagnóstico é geralmente evidente ao nascimento e os
achados variam de acordo com as raízes envolvidas (Tabela 1) e (Figura 1 e 2). Pode haver dor nas duas
primeiras semanas por causa do trauma no parto.
Figura 1:
Tipo Erb-Duchenne
Figura 2:
Tipo Klumpke
Prognóstico
Pode ocorrer desde um discreto edema de uma das raízes até avulsão completa de todo o plexo
(arrancamento). Não havendo ruptura grave de raízes, espera-se melhora importante dentro dos três
primeiros meses e recuperação entre o 6o. e 12o. mês (75% a 80% dos casos). Contração do bíceps
(músculo que faz a flexão do cotovelo) antes de seis meses é sinal de bom prognóstico.
Exames Complementares
Estudos radiológicos podem ser indicados com o objetivo de afastar a possibilidade de fratura de clavícula ou
extremidade proximal do úmero.
A eletroneuromiografia (exame que estuda a atividade elétrica dos músculos e dos nervos) pode estar
indicada principalmente nos três primeiros meses, objetivando localizar a lesão e definir o grau de
envolvimento dos nervos.
Tratamento
O tratamento da criança com PBO deve ter início o mais precocemente possível. Mesmo com dias de vida já
é possível iniciar movimentos passivos suaves e orientações quanto ao posicionamento da criança.
Posicionamento
Quando a criança estiver deitada, é importante que o membro superior comprometido se mantenha em
discreta abdução (afastado do corpo). A criança pode também ser colocada deitada sobre o lado envolvido,
sendo esta posição benéfica em termos de estimulação sensorial. Caso a criança demonstre tendência em
ficar com a face voltada para o lado contrário ao membro comprometido, deve-se posicioná-la também com a
face voltada para o outro lado e estimulá-la com brinquedos para que ela vire ativamente a cabeça para
ambos os lados.
A família pode ser orientada e treinada para a realização de exercícios passivos de maneira suave e
cuidadosa para manter as amplitudes articulares livres. Caso a criança chore, ela está sentindo dor. Os
exercícios devem então ser realizados mais lentamente e os pais reorientados pelo fisioterapeuta.
Feita inicialmente através do posicionamento da criança em decúbito dorsal, de lado, e abdome para baixo,
associado a estímulos para alcançar brinquedos leves e coloridos, em todas as direções. À medida que a
criança for se desenvolvendo, deve-se oferecer brinquedos de diferentes formas e tamanhos para estimular
a preensão e os movimentos do braço em todas as posições, inclusive quando estiver sentada. Brincadeiras
com água, na banheira, estimulam os movimentos ativos.
Através do uso de um alfinete de proteção prendendo a manga do membro superior comprometido à blusa,
mantendo o braço em adução de ombro (junto ao corpo) e flexão de cotovelo. Utilizada apenas quando a
criança for sair de casa, para evitar movimentos bruscos do braço flácido e com poucos movimentos.
Estimulação sensorial
Através de estímulos utilizando materiais diferentes em contato com a pele do membro envolvido (como por
exemplo espuma, toalha, algodão e escova de bebê). Pode ser colocada também uma pulseirinha no punho
do lado acometido para que a criança toque a pulseirinha com a outra mão estimulando a percepção do
braço.
Estimulação das etapas do desenvolvimento (rolar, sentar, engatinhar). Todas as crianças com PBO
adquirem a marcha e, se esta aquisição for alcançada um pouco mais tarde, melhor será a estimulação dos
braços. A criança deve ser incentivada a engatinhar para que ela apoie e movimente o braço envolvido e a
família deve ser orientada a não estimular a marcha precocemente. Na posição sentada deve ser estimulado
o apoio do braço acometido no chão através do alcance de brinquedos oferecidos à outra mão.
Hidroterapia
Após a criança adquirir controle cervical ela está apta a iniciar exercícios na piscina. Estes exercícios são os
mais indicados para a criança com PBO, pois com atividades recreativas ela poderá movimentar todos os
músculos que tiverem alguma função.
Órteses
Se, durante o tratamento, forem verificados encurtamentos nos músculos flexores dos dedos da mão, há
indicação para o uso de órtese quando a criança estiver dormindo e assim não comprometer a função
durante as atividades.
O que determina a melhora dos movimentos não é a quantidade ou freqüência dos exercícios e sim o grau e
a extensão da lesão dos nervos envolvidos. Após sete meses de idade, os movimentos que não estiverem
presentes provavelmente não vão se recuperar. O comprometimento pode variar desde uma discreta
fraqueza à ausência completa de movimento em todo o braço. Após um ano de idade, os exercícios em
piscina e atividades próprias da idade substituem a realização dos movimentos passivos visando estimular
ativamente os movimentos funcionais.
Para as crianças que não apresentam nenhuma melhora nos primeiros seis meses o tratamento cirúrgico
(transferência ou enxerto de nervo) é considerado por algumas equipes que tratam PBO