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Uma Etnografia da Banda de Música do Corpo de Bombeiros do

Estado do Pará no evento Solenidade Alusiva ao Dia do Bombeiro


Paraense
Martha Ferreira Monteiro
UFPA – marthamonteirod@gmail.com

Resumo: O presente artigo trata-se de uma pesquisa descritiva baseada em uma etnografia musical sobre a
atuação da Banda de Música do Corpo de Bombeiros Militar do Pará na Solenidade Alusiva ao Dia do
Bombeiro Paraense, evento em que se comemora data de aniversário da corporação, que no ano de 2017
comemorou-se 135 anos de efetivo serviço para a sociedade. A etnografia tem como base os estudos de
Seeger, e traz reflexões sobre esse acontecimento não só militar como musical, na qual está presente a
história das bandas militares, o início da banda de música do Corpo de Bombeiros com seus momentos
áureos, declínio e ressurgimento, e como todos esses elementos influenciam na organização desse evento
tradicional culminando com o conceito de Pertencimento que está intrínseco aos atores em geral que
realizam este evento desde então.
Palavras-chave: Etnografia musical, Banda Militar, Banda de Música do Corpo de Bombeiros Militar do
Pará.

Abstract: This article is about a descriptive research based on a musical ethnography of the Fire
Department Band from the State of Pará at “Solenidade Alusiva ao dia do Bombeiro Paraense” on which
was celebrated the 135th anniversary of the fire fighters’ day in 2017. This musical ethnography was done
according to the studies of Seeger bringing about some reflexions about the event which is not only a
military event, but also a musical one. In addition to it, there is a historical spectrum of the Military Bands,
the beginning of the Fire Department Band with its golden moments, decline and resurgence, and how all
these elements influenced on the organization of this traditional event culminating in a sense of belonging
which is inherent to those who take part in this event since the beginning.
Keywords: Ethnography music, Military Band, Banda de Música do Corpo de Bombeiros Militar do Pará

Introdução
A música tem sido analisada como forma de expressão individual e coletiva.
Nessa linha, o estudo etnomusicológico é instrumento eficaz na compreensão do estudo
da música, não somente como expressão cultural, mas também como fenômeno de
influência na vida social, implicando na experiência de viver em coletividade. Nesta
afirmação encontra-se as bandas de músicas.
Numa vivência de banda militar, essa perspectiva é muito nítida, pois muitas das
atividades propriamente militares exigem a presença de música para desenvolver seus
ofícios, e a ação da música provoca uma interação social própria interna dessa grupo,
como quando em solenidades, por exemplos, vemos os comandos sendo executados por
cornetas para dar mais precisão aos movimentos militares.
Cavilha (2009) relata como é o contexto da vida militar, que é regida pelos pilares
da hierarquia e disciplina, e a partir disso todas as ações são influenciadas, inclusive a
música:

Assim, desde a sua entrada na instituição, o militar está sujeito ás regras que se
organizam nos muitos rituais e nas inúmeras ‘solenidades’ do cotidiano. Esse

1
treinamento instala-se num aprendizado que é sobretudo corporal e mediatizado
pelos citados ‘manuais’, numa espécie de adestramento dos movimentos que
devem ser estudados e, portanto, condicionados, mas principalmente submetidos
a estatutos e regras, numa tentativa de homogeneizar um modo de se comportar
dentro dos quartéis. [...] eles ganham vida, no entanto, em rituais rotineiros e
cotidianos (CAVILHA, 2009, p.141).

Assim, neste estudo, abordo a importância da Banda do Corpo de Bombeiros do


Estado do Pará em sua atuação num dos eventos mais importantes realizados todos os
anos e que se tornou tradição. Trata-se de um estudo etnográfico, buscando identificar os
aspectos sociais e musicais relevantes à participação da Banda de Música no evento
“Solenidade Alusiva ao Dia do Bombeiro Paraense”, ocorrido em 24/11/2017. Portanto,
é uma pesquisa descritiva, que nos termos definidos por Triviños (1987) faz uma
descrição de fatos e fenômenos de determinada realidade.
Gil (2007) diz que objetivo de uma pesquisa descritiva é estudar as características
de um grupo, para se estabelecer relações de variáveis, que possa determinar a natureza
dessa relação. No caso aqui em questão foi contextualizado o papel da Banda de Música
do Corpo de Bombeiros Militar do Pará na Solenidade Alusiva ao dia do Bombeiro
Paraense.
A pesquisa se desenvolveu em forma de uma etnografia musical de acordo com
Seeger, que discorre em seu artigo “Etnografia da música” como abordar música de uma
forma mais ampla, não considerando apenas os seus sons. Assim, etnografia musical é
definida como:

Uma abordagem descritiva da música, que vai além do registro escrito de sons,
apontando para o registro escrito de como os sons são concebidos, criados,
apreciados e como influenciam outros processos musicais e sociais, indivíduos
e grupos. A etnografia da música é a escrita sobre as maneiras que as pessoas
fazem música. Ela deve estar ligada à transcrição analítica dos eventos, mais do
que simplesmente à transcrição dos sons. Geralmente inclui tanto descrições
detalhadas quanto declarações gerais sobre a música, baseada em uma
experiência pessoal ou em um trabalho de campo (SEEGER, 2004, p. 239).

Os dados foram obtidos por meio de um levantamento bibliográfico e ainda uma


abordagem in loco, no dia do evento com os atores da Banda de Música do Corpo de
Bombeiros Militar do Pará. Foram registradas fotos e vídeos. Também foram realizadas
conversas com os regentes da banda para averiguar melhor as impressões dentro desse
contexto da solenidade e também fatos ainda não registrados outrora que influenciam
nesse contexto, no qual também tive acesso aos documentos estatísticos sobre os eventos
e atividades da banda.

2
1. As Bandas Militares de Música
Veiga (2009) destaca que na Idade Média começaram a ser organizados conjuntos
para execução de peças marciais, passo inicial para a constituição das primeiras bandas
de músicas.
Meira (2000) relata a criação dessas peças marciais no século XVII, que na França,
por exemplo, os compositores Lully e André Phillidor criam toques e chamadas como os
de chegada de autoridades, deslocamentos, reunião, ordens, alvorada, alarme, encilhar,
montar, bandeira, galope, carga, retirada e outros. Já na Inglaterra, a organização das suas
bandas militares foram a partir de 1678, com a evolução das corporações municipais de
música.
No século XVIII, compositores como Händel, Keiser, Pugnani, ampliaram o
repertório de marchas militares (VEIGA, 2009).
Outros compositores, na França, avolumaram os repertórios da música guerreira:
Catel, Méhul, Cherubini. Gossec introduziram os arranjos sinfônicos para bandas
militares. Na Alemanha, Hoffmeister, Pleyel, Krommer, Küffner e até Beethoven
prestigiam a música militar (MEIRA, 2000).
No século XIX, na Inglaterra, as bandas militares passaram a ser controladas pelo
ministério da guerra, tornando-se uma atividade de cunho oficial, conforme destaca
Veiga:
Em 1856 as bandas militares inglesas passam ao controle do War Office
(Ministério da Guerra). No ano seguinte, funda-se uma escola de música
militar em Twinkenham e regulamenta-se a profissão do músico militar
(VEIGA, 2009, pg.8).

A trajetória foi extensa da Europa até o Brasil, e esse registro na Europa Toledo
França (1979), resume que deve-se a Napoleão Bonaparte, dentre outros grandes serviços,
a criação da Academia de Música Militar, que visava à formação de bandas para os
regimentos da França. A banda militar difundiu-se rapidamente com notoriedade, e foi se
adaptando às características dos povos, que passaram a utilizá-la também com fins
políticos e sociais, religiosos e sentimentais. A Espanha levou-a até as praças de touro,
onde os metais ressoavam os instintos da alma do povo. Itália e Portugal ligaram-na ao
culto católico.
De Portugal vem a banda de música militar ao Brasil. Vem à sombra da Igreja
Católica, que a utilizava para o acompanhamento das procissões e demais atos do culto
(SIQUEIRA, 1981).

3
Carvalho (2008) aborda a importância histórica das bandas militares no
desenvolvimento sociocultural e musical. Ainda afirma que “músicos militares sempre
desempenharam um papel muito amplo em toda a sociedade brasileira, desde os tempos
coloniais” (CARVALHO, 2008, pg. 2). E além das suas obrigações militares, tem ainda
a atribuição do fazer musical enquanto arte. Assim diz:

Diferentemente de outros grupos musicais, as bandas militares têm um


compromisso duplo: um com a música enquanto arte, e como mantenedores e
atualizadores da prática de música de banda, mostrando um repertorio que
demonstre sua atualidade e capacidade de sobrevivência no tempo. O outro com
a tradição da música militar, construída na história militar (CARVALHO,
2008.pg,5).

Esse ponto mostra a relevância das funções das bandas militares, tanto em seu
círculo, executando repertórios característicos nos atos solenes, como fora dos limites de
sua finalidade precípua, levando a música instrumental com riquezas de gêneros musicais
para a sociedade, sem deixar de manter o tradicionalismo (FONTOURA, 2011).
Atualmente, as maiores Bandas Militares brasileiras são: a da Academia Militar
das Agulhas Negras e a do Batalhão da Guarda Presidencial, no Exército; do Corpo de
Fuzileiros Navais, da Academia da Força Aérea, do Corpo de Bombeiros do Distrito
Federal e da Policia Militar de São Paulo (MEIRA, 2000).
2. A Banda de Música do Corpo de Bombeiros do Estado do Pará
Dentre a notável diversidade da música brasileira, uma relevante herança deixada por
nossos colonizadores são as bandas de música que são consideradas escolas e atrações
culturais por todo o Brasil. No Pará, relativamente à música de banda, conta com uma
rica tradição, além de serem fontes de preservação de tradições centenárias (PALHETA,
2016).
Nesse contexto, na cidade de Belém, propagam-se inúmeras manifestações
culturais, na quais se encontra a Banda de Música do Corpo de Bombeiros Militar do Pará
- CBMPA, criada em 1890, sete anos antes da banda do Corpo de Bombeiros do Rio de
Janeiro, que foi a primeira Corporação de Bombeiros do País (MENEZES, 2007).
Atualmente, a Banda de Música do CBMPA, juntamente com a corporação,
integra a SEGUP (Secretaria de Segurança Pública), está subordinada ao governo
estadual. A instituição Corpo de Bombeiros Militar do Pará existe há 135 anos e seu
efetivo, juntamente com os integrantes da banda de música, é composto por funcionários
públicos que exercem a função de bombeiros militares do Estado.

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Foi através do Decreto nº 246 de 18 de dezembro de 1890, que o Governador Justo
Leite Chermont, cria a primeira Banda de Música da corporação, e a inaugurou com 20
instrumentistas. Dentre várias justificativas, o Governador ressaltou em seu Decreto que
proporcionaria não apenas entretenimento para as festas e comemorações da corporação,
mas também era “um meio de instrução e subsistência” de seus funcionários da classe de
praças (MENEZES, 2007).
A documentação consultada nesta pesquisa nos permite identificar três fases da
trajetória da Banda de Música do CBMPA, desde sua criação até a atualidade. A primeira
fase, que denominaremos de Era Lemos, a criação e seu período áureo, a segunda fase,
no qual se observa um declínio e mudanças drásticas em sua funcionalidade e
administração e por último, o ressurgimento e autonomia, na qual permanece nos mesmos
moldes até o dia de hoje.
3.1 A Fase Áurea da Era Lemos
Foi na fase “Era Lemos”, que a Banda de Música do CBMPA recebeu o título de
“uma das mais completas bandas de música do Brasil” (MENEZES, 2007, p.170).
Oito anos depois da sua criação, a corporação, Companhia de Bombeiros, trocaria
de administração estadual para municipal, mudança essa que marcaria,
consideravelmente, a história da banda, sendo um marco único de crescimento e prestígio,
pois foi nessa gestão que a Banda de Música recebeu mais investimentos e visibilidade.
O Intendente equipou o instrumental da banda com equipamentos oriundos da
Europa, transformando a banda numa orquestra filarmônica. Época, também, que tinha
como mestre Alferes Cincinato Ferreira de Sousa, professor de música, regente e hábil
orquestrador, autor de valsas, hinos, marchas e dobrados, além de música para teatro.

Fonte: O Corpo de Bombeiros no Pará. 2° Edição. Belém, 2007

Figura 1: A Banda de Música do Corpo de Bombeiros em 1904, vendo-se à frente o maestro Cincinato

5
Ferreira. Detalhe, a banda, que era filarmônica, usava na época contrabaixo de corda. Nas paredes do pátio
interno, os quadros não mais existentes hoje.

Menezes (2007) destaca em seu livro a reprodução de um documento no qual


Antônio Lemos retrata esse momento ilustre (sic):

Conta a Banda de Música de Corpo Municipal de Bombeiros 45 figuras, na sua


quase totalidade representada por profissionaes habilitadíssimos. Ninguém
desconhece os loiros que tem ella conquistado, pelo gosto apurado e estylo
especial, graças aos infatigáveis esforços do respectivo professor, obediente às
minhas instrucções. Com a chegada do novo instrumental, espero poder formar
aqui a primeira banda de música do Brazil, adaptada a rivalizar com qualquer
orchestra, quando funcionar como philarmonica (MENEZES, 2007, p. 169).

A banda ainda desfrutava de grande dileção popular pelos concertos que realizava
nos coretos das principais praças. Antônio Lemos era um dos que partilhava
constantemente dessa ideia, e a banda contava com sua ilustre presença nesses eventos
culturais, já que boa parte da música apreciada naquele período só era possível ser ouvida
ao vivo.
Silva (1998) relata como as bandas de música divulgavam música para a
apreciação e sua importância e contribuições para a sociedade nesse período histórico.

Com os seus desfiles ruidosos pelas ruas, suas apresentações em retretas nas
praças públicas, sua participação nas festas religiosas, as bandas musicais vieram
se tornar o mais importante instrumento de divulgação da música popular
brasileira, da segunda metade do século XIX, até a primeira metade do século
XX. (SILVA, 1998, pg.1)

A partir de 1908, a administração municipal começa a sentir os efeitos da “crise


da borracha”, com a brutal queda da arrecadação. O Intendente Lemos teve que fazer
cortes e reduzir as despesas, já que se iniciava os primeiros sintomas de uma grave crise
política que estouraria anos depois. Os cortes de despesas foram inevitáveis e a Banda de
Música dos Bombeiros foi reduzida de 45 para 33 músicos, além do regente (Menezes,
2007, p.172).
Com isso, a partir deste momento, a Banda de Música começaria a experimentar
seu declínio, devido a toda a administração pública estar instável, em decorrência da
“crise da borracha”, e o fulgor de sua fase áurea não se repetiria novamente.
3.2 Declínio
Começa então um período de muita instabilidade, no qual seu primeiro
fechamento temporário ocorreu em 25 de agosto de 1911, na qual a Banda de Música dos

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Bombeiros passou por sua primeira extinção, situação essa que se repetiu em outras
ocasiões em virtude de novas crises políticas e econômicas que se sucederam.
Aproximadamente um ano depois foi reativada, não mais com a mesma estrutura
de outrora, e passaria por longos momentos de penúria, deixara de ser uma Banda
Filarmônica e passaria ser uma JazzBand.
Porém, mesmo com essas intercorrências, suas apresentações não deixavam de
conquistar a população local, se espalhando para outros Estados do Brasil e até no
exterior, e a chamada “Jazzband dos Bombeiros” fazia muitas viagens Estado afora.
Assim relata Menezes:

No dia 19 de janeiro de 1935 a “jazzband” seguiu de navio para Manaus, onde


ofereceu diversos concertos, só retornando a Belém em 7 de fevereiro. Mas a
fama dos músicos Bombeiros não se limitava apenas ao Pará ou às fronteiras do
Brasil. No dia 20 de dezembro de 1935, a “jazzband” do Corpo de Bombeiros
embarca no navio “Oiapoque” para Cayenne, capital da Guiana Francesa, onde
participou de uma série de apresentações. Retornou a Belém em 9 de janeiro de
1936 (MENEZES, 2007, p. 175).

Anos mais tarde, em 1971, com outro cenário político, uma nova legislação
incorporou os Bombeiros na Polícia Militar, e consequentemente as bandas de música
foram fundidas. Esta condição perdurou até 1989, período na qual o Corpo de Bombeiros
perde parte de sua identidade, até como instituição, assim com sua banda de música, que
agora fundia-se a Banda da Polícia Militar.
Somente em 1990 ocorreu a desincorporação dos Bombeiros da Polícia Militar.
Foi então que o Comandante Geral, Coronel BM Raimundo Nonato Costa, em 6 de março
de 1991, propiciou mais uma vez a reativação da Banda de Música, que novamente se
encontrava quase parada. Foi o Coronel BM Gilberto Fernandes de Souza Lima, quando
assumiu o posto de Comandante Geral, em 26 de março, que a relançou nos moldes que,
ainda hoje, se conserva.
3.3 1990: Um recomeço, uma nova identidade
As informações a respeito desse período são encontradas, em sua maior parte, em
periódicos publicados de circulação interna na corporação. Esses periódicos recebem o
nome de Boletim Geral - (BG) e sua publicação é de responsabilidade da seção do
CBMPA chamada Ajudância Geral. Nesses Boletins Gerais encontram-se informações a
respeito das atividades, acontecimentos, determinações que foram realizadas durante cada
ano, desde 1990.

7
Pode-se dizer que a nova história da Banda de Música está escrita nesses
documentos, principalmente, a partir da sua desincorporação da Polícia Militar, em 1990,
quando a corporação dos Bombeiros Militares passou a ser autônoma.
Através de uma catalogação desses boletins gerais pós instituição autônoma,
foram destacados alguns boletins gerais que tratam da criação da banda, a partir de 1990,
da composição de seus integrantes mediante concurso público, e como se desenvolveu
todo esse processo. Ao total foram encontrados treze boletins gerais nos quais estão
registrados esses momentos iniciais da banda.

Nota de serviço 006/90 - Nomeação da comissão para elaboração e aplicação da


prova de conhecimentos gerais, aos candidatos ao curso de habilitação a sargento
músico a ser realizada no dia 08 de setembro. Nota de serviço 007 – Nomeação
do Capitão médico Paulo Cezar Pinto Torres, para proceder a inspeção de saúde
aos candidatos ao curso de habilitação a sargento músico a ser realizada nos dias
17 e 18 de setembro. Nota de serviço 008 – Comissão do TAF (teste de aptidão
física) para os candidatos a sargento músico nos dias 19 e 20 de setembro (In:
BG 084 – 30 agosto 1990).

Nomeação da comissão para elaborarem e aplicarem a prova de suficiência


artística musical nos dias 9 à 12 de setembro. Composta pelo Tenente Coronel
Ribamar, Capitão Franco e Tenente Viegas (In: BG 088 – 06 de setembro 1990).

O BG 110 – 11 outubro de 1990 trata do resultado do concurso de admissão ao


curso de habilitação de sargento BM (Bombeiro Militar) músico, em que foram
recrutados 57 músicos.
Foi contratado o Capitão Antônio da Costa Franco, oficial músico da reserva da
PM do Amazonas, e que também era auxiliado pelo Contra-mestre 2º Tenente Milton
César Viégas de Melo (MENEZES, 2007, p. 176).

Expediente: A partir desta data, passam a responder o expediente no 1° GI


(grupamento de incêndio), o capitão Franco e o 2° tenente Viegas, mestre e
contra-mestre da banda de música desta unidade (In: BG 111 – 12 outubro de
1990).

Muitos desses músicos frequentaram a Escola de Música da Universidade Federal


do Pará e a Fundação Carlos Gomes, para assistirem algumas aulas, e até compunham a
Big Band da época. (MENEZES, 2007, p.176)

O capitão Franco fica responsável por vários instrumentos pertencentes a


fundação Carlos Gomes, no período de 22 de outubro à 31 janeiro 1991. Os
instrumentos serão utilizados pela banda de música do corpo de bombeiros (In:
BG 117 – 23 outubro de 1990).

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O BG 123 – 01 de novembro 1990 tratou da nomeação da comissão, sob a
presidência do Tenente Coronel Ribamar, para a organização do curso previsto para o dia
06 de novembro de 1990, o CFS MU 90 (curso de formação de sargento músico de 1990),
e também das diretrizes e plano didático aplicados a esse curso, que durou quatro meses.
O BG 124 – 05 de novembro de 1990 deu ordem a todos os oficias da capital para
comparecerem no dia 06 de novembro, as 7:00h, no 1° GI (grupamento de incêndio) –
quartel - para a aula inaugural do curso de sargento músico.
O BG 126 – 07 novembro 1990 tratou da matrícula e serviço inicial: “Por haverem
sidos aprovados nos exames seletivos para o curso de formação de sargento musico, que
funcionará no 1° GI, ficam matriculados a contar de 05 de novembro de 1990.” (BG 126),
e logo depois vem a relação nominal desses alunos.
O BG 127 – 08 de novembro de 1990 dispôs sobre os vencimentos dos músicos,
os quais, até hoje, recebem uma gratificação de 30% a mais por serem especialistas
(quadro especialista de músico).
O BG 128 – 09 de novembro 1990 elencou a relação dos instrutores e matérias
que ocorreram no curso de sargento músico.
O BG 039 – 28 de fevereiro 1991 e o BG 042 – 05 de março de 1991 relataram o
recebimento e a transferência de instrumentos musicais da firma Dimusica casa
continental ltda para a banda de música, mostrando o início da aquisição patrimonial da
banda.
O BG 043 – 06 de março de 1991 tratou da conclusão do curso de formação de
sargento BM músico 90, através da Portaria n°001, de 06 de março 1991, Promoção de
graduação de 3° sargento musico, a contar do dia 07 de março de 1991.
Nos boletins gerais essas informações encontram-se como notas de serviços, de
forma resumida, com poucos detalhes sobre os fatos propriamente ditos.
Observa-se nesses boletins gerais específicos a forma de ingresso inicial à banda
de música que foi por meio de concurso público, através das praças1, na graduação de 3°
sargento/músico, diferente da forma geral de ingresso, que é com a patente inicial de
soldado, e essa seleção exigia, além das habilidades musicais, exames de saúde e o TAF
(teste de aptidão física), etapas próprias de um concurso da área militar. É interessante
perceber que para além de serem bombeiros militares, a categoria dos músicos é
especializada, e de fato o sargento músico dedica boa parte do seu tempo de trabalho

1
Os militares são divididos em duas classes: oficiais e praças. Os primeiros exercem comando e o
segundo executam esses comandos.

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tecendo seu ofício como músico. A importância de se perceber isso é que não há muito
desvio de função, eles de fato, até hoje, cumprem suas jornadas de serviços com ensaios
diários, apresentações internas e externas, possuem infraestrutura própria e ainda que
esporádicos participam de oficinais de qualificação na área musical através das escolas
de músicas.
3.4 A Banda de música nos dias atuais
Ao longo desses aproximadamente 28 anos, a Banda de música teve diversas
mudanças, uma delas quanto ao efetivo que a compõe. Pela lei2 de ingresso (que está em
processo de mudança também), o quadro de músicos seria composto com a graduação de
3° sargento em diante, porém durante esses anos não houve concursos públicos voltados
à banda de música, e com os integrantes da banda cumprindo seus interstícios 3 na
corporação e, consequentemente, entrando no quadro da reserva4, por necessidade do
serviço, permitiu-se a entrada de militares de outros quadros 5, como os cabos e soldados,
que pertencem ao quadro de combatentes, para suprir as necessidades e demandas da
banda, na qual se não for por razões excepcionais, que é o caso, não é permitido.
3.4.1 Organização Hierárquica
Fato é que a Banda atual6 é formada por bombeiros militares de diferentes postos7
e graduações8. Esse corpo de músico se distribui por níveis hierárquicos que
compreendem: três oficiais, sendo um oficial regente, e os outros dois oficiais regentes
auxiliares; e os demais músicos, classificados como instrumentistas, pertencem às praças:
subtenentes, sargentos, cabos e soldados. Um total de quarenta e quatro (44) integrantes,
todos funcionários públicos do Governo do Estado do Pará. Essa formação catalogada foi
do mês de Abril/2018:

2
Lei n° 7.480 de 17 de novembro de 2010
3
Tempo de efetivo serviço na corporação: para militares do sexo masculino é 30 anos e feminino
25 anos.
4
Militares que já completaram efetivamente seu tempo de serviço e estão afastados da corporação,
podendo ser chamados excepcionalmente em casos de necessidades do serviço.
5
Quadro de Combatentes BM e Quadro da Saúde BM.
6
Os dados coletados sobre a Banda foram em Abril de 2018.
7
Nome da ocupação da patente dado somente aos Oficiais.
8
Nome da ocupação da patente dado somente às Praças.

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Organização Hierárquica da Banda de Música do Corpo de Bombeiros
Militar do Pará
Oficiais Praças
03 41
Capitão 1°Tenente 2°Tenente Subtenente 2°Sargento Cabo Soldado
01 01 01 24 12 04 01
Total = 44 Integrantes
Quadro 1: Organização Hierárquica da Banda de Música

3.4.2 Formação Instrumental


Quanto à formação instrumental da Banda de Música, os naipes usados nos
desfiles são de sopro (metais e madeira) e percussão. Porém, em eventos específicos como
bailes, confraternizações e cultos ecumênicos, são acrescidos instrumentos eletrônicos,
como teclado e baixo elétrico, e também cantores, configurando-se da seguinte forma:

Gráfico 1 : Estratificação dos integrantes por instrumentos

Baixo Elétrico; 1 Regente; 1


Regente
Cantor; 1
Teclado; 1 Regente auxiliar
Bateria; 1 Regente auxiliar;
2 Trompete
Lira e Prato; 1
Trombone
Trompa
Trompete; 5
Clarinete
Bumbo; 4
Flauta
Sax Tenor
Caixa; 2 Trombone; 3
Sax Alto
Bombardino; 2
Trompa; 3 Tuba
Corneta
Bombardino
Corneta
Tub Clarinete; 6
;2 Caixa
a; 2
Bumbo
Sax Alto; 2 Flauta; 3 Lira e Prato
Sax Tenor; 2 Bateria
Teclado

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3.4.3 Atuação Artística e Social
Quanto ao quantitativo de eventos que a Banda de Música realiza durante o ano,
em geral é mediante nota de serviço publicado nos Boletins Gerias da corporação. Uma
pesquisa foi efetuada para levantar a quantidade de apresentações realizadas pela Banda
de Música, a partir da desincorporação da polícia militar na administração da Banda de
Música. Porém, essa preocupação com dados estatísticos somente começou a partir de
2015, e só foram disponibilizados os anos de 2015 e 2016. Os dados relativos ao ano de
2017 só serão divulgados juntamente com os dados de 2018, no final do referido ano.

Gráfico 2: Eventos realizados em 2015

Eventos realizados em 2015 Total = 349


Interna CBMPA;
46; 13%

Fim de semana
Fim de semana
Orgãos Públicos
; 104; 30%
Comunidade Comunidade em Geral
em Geral; 179; Interna CBMPA
51%
Orgãos
Públicos; 20; 6%

Gráfico 3: Eventos realizados em 2016

Eventos realizados em 2016 Total = 220


Interna CBMPA;
11; 5%

Fim de Semana
Fim de Semana; Orgãos Públicos
90; 41%
Comunidade Comunidade em Geral
em Geral; 105; Interna CBMPA
48%

Orgãos
Públicos; 14; 6%

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As estatísticas revelam que mais da metade das atividades da Banda de música
são voltadas ao público externo, mostrando uma significativa interação com a
comunidade em geral, e não somente com órgãos públicos.
Quanto à interação social, a Banda de música também intervém em projetos
sociais, um deles é o projeto de formação musical da FANFARRA do PEV – Projeto
Escola da Vida - (musicalização com corneta e tambores) para participar dos desfiles
escolares, que ocorre tradicionalmente no mês de setembro. Conta com 26 alunos desse
projeto, em geral adolescentes.
Outro projeto é o de musicalização no polo de Capanema. O projeto teve início
com o título “música para comunidade”, e atende 40 crianças e adolescentes que moram
nas proximidades do quartel, e que estavam em situação de vulnerabilidade social.
Cumpre destacar que a Banda de Música dos Bombeiros tornou-se
patrimônio cultural e imaterial do Estado do Pará, através do projeto de lei nº 8.442, de
1º de dezembro de 2016, sancionado pelo Governo do Estado, no mesmo ano em que
completou 26 anos da atual formação e 126 anos de atividade.
3. A Solenidade Alusiva ao Dia do Bombeiro Paraense
A primeira Solenidade do dia do Bombeiro Paraense aconteceu em Belém, no
Quartel do Comando Geral, no ano de 1982, quando o Corpo de Bombeiros Militar
completou 100 anos. Desde então vem se realizando essa solenidade promovendo
objetivos como dar destaque às comemorações alusivas à data 24 de novembro “Dia do
Aniversário do Corpo de Bombeiros do Pará”; cultivar as tradições históricas da
Corporação e preservar o interesse Bombeiro Militar de bem servir a causa pública;
orientar a participação e as atribuições dos integrantes do CBMPA; e atualmente
promover eventos sobre prevenção e conscientização sobre incêndios e aeres afins do
bombeiro para a sociedade em geral.
Atualmente O Corpo de Bombeiros Militar do Pará promove uma semana de
evento em alusão à data, e no ano de 2017 aconteceu no período de 17 a 24 de novembro,
no qual se chama a “Semana Alusiva ao dia do Bombeiro Paraense”, que no referido ano
completou 135 anos com efetivo serviço prestado à comunidade Paraense.
A programação iniciou no dia 17 de novembro com um “Culto Ecumênico” no
quartel do Comando Geral dos Bombeiros; No dia 18 de novembro foi realizado o evento
“Bombeiro na Comunidade” em comunidades carentes da Região Metropolitana de
Belém, com o intuito de realizar campanhas preventivas através de palestras sobre

13
acidentes domésticos e demonstração de prevenção a acidentes domésticos e incêndios,
atendimento pré-hospitalar e entrega de folders educativos.
O “Workshop Operacional e Exposição de viaturas e materiais operacionais”
aconteceram no dia 20 e novembro no Centro de Convenções e Feira da Amazônia –
Hangar, com palestras operacionais com a temática das ocorrências atendidas no âmbito
do Corpo de Bombeiros.
No período de 21 e 22 de novembro foi realizada a “Campanha de Prevenção de
Afogados”, prevenção para quem desenvolve práticas no ambiente aquático, além de
realizar palestras educativas em escolas, associações, barraqueiros, pescadores, clubes e
demais categorias que atuam em ambiente aquático, trabalhando de forma preventiva
através de cartilhas, gibis, entre outros materiais visando à orientação a comunidade de
forma geral.
No dia 22 de novembro, no qual se comemora o dia do músico, a Banda de música
realizou um concerto na ALEPA, em homenagem ao dia do músico e salientando o papel
dos músicos dentro da Instituição. O repertório foi diverso com músicas populares
paraenses, dobrados, etc.
E no dia 24 de novembro foi realizada a Solenidade Alusiva ao dia do Bombeiro
Paraense, no pátio de formatura do Quartel do Comando Geral, no qual ocorreu o desfile
de tropa e entrega das medalhas de 10, 20 e 30 anos de bons serviços prestados a
corporação e a entrega da medalha de Defesa Civil.
A Semana foi finalizada com a programação dos “Baile das Espadas” no dia 24
de novembro no Grêmio Literário Recreativo Português; uma cerimônia direcionada para
os Oficiais da Corporação, que neste referido ano apresentou a sociedade Paraense os
novos cadetes, que estão em fase de formação, nos quais ingressaram na corporação no
ano de 2015. Os futuros oficiais a gerenciarem o Corpo de Bombeiros Militar do Pará.
A Banda de Música necessariamente esteve presente em todas as programações,
sendo todo ou parte da Semana alusiva. Dentre as várias performances que a Banda de
Música executa nas mais diversificadas atividades que realiza no decorrer do ano, e em
especial da Semana ao dia do Bombeiro Paraense, fez-se importante discorrer sobre forma
de uma etnografia, a Solenidade do dia 24 de novembro que é o comemorado o Dia do
Bombeiro Paraense propriamente dito.
É um dos principais eventos para corporação e a presença da Banda de Música é
indispensável durante todo o evento.

14
4. A Participação da Banda de Música na Solenidade Alusiva ao Dia do Bombeiro
Paraense
A importância de se narrar e debater sobre uma etnografia musical está no que
Seeger afirma: “o fato de que sempre existirá uma próxima vez, aponta para o que
podemos chamar de tradição. O fato de que a próxima vez não será nunca igual à vez
anterior produz o que podemos chamar de mudança” (SEEGER, 2008, p.238). Isso
evidencia a dinamicidade cultural desses eventos musicais e seus motivos, mostrando
também a singularidade dos mesmos.
Logo, cada Solenidade Alusiva ao dia do Bombeiro Paraense tem seu
acontecimento, momento, clímax, registro e história, apesar de sua cerimônia acontecer
com os mesmos ritos desde 1982, quando aconteceu o primeiro evento.
Essa abordagem aponta como os sons são concebidos, criados, apreciados e como
influenciam outros processos musicais e sociais, indivíduos e grupos, ou seja, “A
etnografia da música é a escrita sobre as maneiras que as pessoas fazem música”
(SEEGER, 2008, pg.239), que no caso, como o Corpo de Bombeiros Militar do Pará no
ano de 2017 realizou a Solenidade alusiva ao dia do Bombeiro Paraense e qual foi o papel
da Banda de Música nesse evento.
5.1 Um Relato sobre o aniversário do Bombeiro Paraense: Etnografia da
Solenidade Alusiva ao Dia do Bombeiro Paraense – 24 de novembro de 2017.
Com base no texto de Seeger “Etnografia da música”, percebe-se que as formas
de olhar para a música está para além de uma perspectiva de que apenas os seus sons.
Ao falar sobre etnografia musical ele descreve um contexto social significativo,
no qual ele chama a atenção à fase do pré evento musical, que envolve os tipos de
motivações que levam as pessoas a realizarem uma performance, tanto para dentro do
grupo quanto para fora, e que esse fazer musical é de bastante relevância para justificar o
investimento em tempo, e em energia individual e coletiva. Isso foi perceptível desde os
primeiros momentos do início da minha coleta de dados.
Da semana de comemoração, a Solenidade Alusiva ao dia do Bombeiro Paraense
é o quinto e último evento, que ocorreu na data: 24 de novembro de 2017 - (sexta-feira),
no horário de 8h às 12h, no pátio do Quartel do Comando Geral.
Neste dia, ocorreu de minha escala de serviço coincidir com esta data, e eu
não poderia comparecer a esta solenidade. Porém semanas antes, pedi por meio de parte 9

9
Documento pelo qual o militar faz qualquer petição aos seus superiores e comandos.

15
que eu fosse liberada das minhas atividades neste dia, pela manhã, para comparecer ao
evento, e foi deferido meu pedido.
Acordei às 5h30h, verifiquei se tudo estava em ordem com meu uniforme
3°D10, e por volta das 6h sai de minha residência para o Quartel do Comando Geral, que
fica no bairro de Val-de-Cães, local da solenidade.
Cheguei por volta de 6h30h, estacionei na área da retaguarda do quartel, o dia já
estava claro, anunciando uma manhã bastante ensolarada e já havia um considerável
número de militares e civis no local do evento, militares esses, de diversos quarteis, e até
mesmo do interior do Estado do Pará, estavam presente para a solenidade. Ainda no
estacionamento observei que os uniformes desses militares eram diversificados, os que
não iriam participar do desfile em sua maioria estavam de 3°D e 3°A11, os que iriam,
correspondiam à companhia12 que iriam desfilar.
Logo, o fazer musical não está restrito somente aos músicos e seus instrumentos,
e nem restrito ao momento específico da apresentação da banda no momento do desfile.
A realização do evento começa desde suas primeiras horas do dia, com os trajes
específicos e adequados, com a confraternização dos entes desse grupo, com o
comportamento individual e coletivo do início ao fim do evento como o todo.
Seeger fala que a junção do antes, durante e depois de um evento/performance
musical, são os resultados simbólicos culturais que são difundidos com aquele fazer
musical, como por exemplo que tipo de roupa é usado, qual classe social é majoritária,
qual idade é mais adequada, dentre outros. Essa análise é uma descrição do ambiente e da
realidade que acontece na Solenidade Alusiva ao dia do Bombeiro Paraense.
Depois fui socializar com militares iguais a mim, de mesma graduação 13. É
costume e comum que os círculos14 não se misturem. Neste momento encontrei militares
do meu próprio quartel que com a correria do dia-a-dia já não os via há semanas, encontrei

10
Pelo regulamento de uniformes do CBMPA, regido pelo Decreto n° 1.875, DE 4 de Setembro de 2009,
a composição obrigatória desse uniforme para militares do sexo feminino é: 1. Bibico cinza pérola escuro;
2. Camisa feminina bege escura meia-manga; 3. Camisa de malha meia-manga vermelha; 4. Calça e/ou
Saia até a linha do joelho feminina cinza pérola escuro; 5. Cinto vermelho; 6. Meias de náilon transparentes;
7. Sapatos pretos de salto médio ou baixo.
11
Pelo regulamento de uniformes do CBMPA, regido pelo Decreto n° 1.875, DE 4 de Setembro de 2009,
a composição obrigatória desse uniforme para os militares é: 1. Quepe; 2. Túnica cinza pérola escuro; 3.
Camisa bege escuro de colarinho duplo; 4. Gravata vertical bege escuro; 5. Calça (para os homens) e Saia
(para as mulheres) cinza pérola escuro; 6. Cinto vermelho; 7. Meias sociais pretas; 8. Sapatos pretos.
Uniforme obrigatório a partir da patente de 3° Sargento em diante, para praças e oficiais.
12
Pelotão que compõe a tropa representativa para o desfile do evento.
13
Nome da ocupação da patente dado somente às Praças, que aqui em questão é a de soldado.
14
Os círculos são dos oficiais e das praças, que geralmente não se misturam em termo de convivência para
preserva a hierarquia e disciplina.

16
também militares do meu curso de formação CFP15, que durante o curso éramos
inseparáveis, pois a própria rotina assim o fazia, e que depois do término de curso e
lotados nos quarteis, nunca mais os tinha visto. Observei que isso acontecera em todos os
círculos, onde havia reencontros, socialização, confraternizações.
Tudo isto ocorrera na parte externa do Quartel, onde aconteceria a solenidade e o
desfile. Todos estávamos esperando começar o pequeno desfile, do estacionamento ao
palanque, que seria o início da solenidade.
Seeger diz que o público e/ou audiência cria expectativas sobre as vivências
passadas, baseada na experiência e no conhecimento adquirido sobre os elementos que
circundam essa fase do pré evento musical e suas motivações. (SEEGER, 2008)
Pelo caminho, cumprimentei os militares com continências16. Logo, avistei os
militares pertencentes ao meu quartel, que estavam reunidos para a conferência de
presenças e faltas. Havia meus superiores e iguais a mim. Apresentei-me ao Tenente para
contar presença.
As 7h30min, a Banda de Música e as companhias já estão entrando em forma17 no
dispositivo18, se preparando para o início do desfile. A ordem deste dispositivo se dava
da seguinte forma:
Primeiro a Banda de Música, composta por trinta e oito militares, dentre
subtenentes e sargentos, comandados pelo Capitão Clerisson, Regente da banda. Estavam
em linhas e colunas, na frente havia quatro militares formando uma linha e atrás de cada
militar, nove militares formando as colunas, com exceção na penúltima linha que havia
somente dois militares. O uniforme que usavam eram o 3°A19, que dentre os praças é
exclusivo para subtenentes e sargentos, e pelo regulamento da instituição, os
componentes da banda tem que ter a graduação de sargentos para cima, porém com a falta
de efetivo e a concessão da entrada de cabos e soldados na banda, os mesmo também
estavam usando as túnicas.
A disposição dos instrumentos de acordo com as linhas é: Primeira linha: uma
tuba e três trombones (baixo, tenor e alto); Segunda linha: dois trompetes e dois cornetins;
Terceira linha: um clarinete alto, uma flauta transversal, um clarinete em Si bemol e um

15
CFP – Curso de formação de Praças, que no caso aqui foi do ano de 2017.
16
O decreto n° 2.243, DE 3 de junho de 1997 diz que a continência é a saudação do militar
17
É a organização em pelotões dos militares para qualquer parada e formatura militar.
18
Local indicado para a entrada de forma dos militares.
19
1. Quepe; 2. Túnica cinza pérola escuro; 3. Camisa bege escuro de colarinho duplo; 4. Gravata vertical
bege escuro; 5. Calça cinza pérola escuro; 6. Cinto vermelho; 7. Meias sociais pretas; 8. Sapatos pretos.

17
trompete; Quarta linha: um saxofone, dois clarinetes em Si bemol, um pícolo; Quinta
linha: uma trompa, dois saxofones baixo e um clarinete em Si bemol; Sexta linha: um
saxofone alto, uma marimba, dois bombardinos; Sétima linha: duas trompas, pratos, tuba;
Oitava linha: duas caixas; Nona linha: um surdo, dois bumbos e uma caixa.
Nesta disposição estavam em forma, aquecendo e se preparando com os últimos
ajustes antes de começar o pequeno desfile.
Atrás, em seguida, está a tropa do pavilhão nacional, composta por militares que
levam as bandeiras e os guardas-bandeiras, dentre elas a Bandeira Nacional, a Bandeira
do Pará e o Estandarte Corpo de Bombeiros Militar do Pará.
Em seguida, a primeira companhia20, a tropa formada por militares da ABM 21,
cadetes do primeiro ano, do curso de CFO22, composta por 30 cadetes. Comandados pela
Capitão Patricia, usavam o uniforme 8°A23, exclusivos para cadetes e oficiais para
Paradas militares, Guardas de honra e desfiles cívicos.
Depois, a segunda companhia, uma tropa representativa dos bombeiros militares
em geral, que tiram serviços em trens24 de socorros e administrativos. Estava sendo
comandados pelo Capitão Lemos. O uniforme que usavam eram o 4°A25, uniformes de
instruções e serviços diários, usados por todos os militares da corporação.
E a última e terceira companhia, uma tropa representativa dos militares que
prestam serviços em quartéis especializados, que são os quartéis do 1°GBS26 e
2°GBS/GSE27. O comandante era o Capitão Rangel. O uniforme que usavam é o 4°F28,

20
Companhia aqui é pelotão.
21
Academia Bombeiro Militar – que é o centro de formação dos oficiais do Corpo de Bombeiros Militar
do Pará, que estão como cadetes durante sua formação.
22
Curso de formação de Oficiais, aqui do ano de 2017.
23
Composição para a versão masculina. 1. Barretina; 2. Túnica de parada branca; - 3. Platina rígida
vermelha; 4. Camisa de malha meia-manga vermelha; 5. Calça vermelha de parada; 6. Cinto vermelho; 7.
Cinto de galão vermelho; 8. Meias sociais pretas; 9. Sapatos pretos; 10. Polainas brancas; 11. Luva branca.
Composição para a versão feminina: 1. Barretina; 2. Túnica feminina de parada branca; 3. Platina rígida
vermelha 4. Camisa de malha meia-manga vermelha; 5. Saia vermelha de parada; 6. Cinto vermelho; 7.
Cinto de galão vermelho; 8. Meias de náilon transparentes; 9. Sapatos pretos de salto baixo; 10. Polainas
brancas; 11. Luva branca.
24
Trem de socorro é o nome dado a guarnições de serviços exclusivos operacionais e não administrativas.
25
Composição única para as versões masculina e feminina: 1. Gorro de pala caqui ou Gorro de campanha
caqui; 2. Blusa de prontidão cáqui; 3. Camisa de malha meia-manga vermelha; 4. Calça de prontidão cáqui;
5. Cinto vermelho; 6. Meias pretas; 7. Coturnos pretos com bombachas.
26
Primeiro Grupamento Bombeiro Militar exclusivo para áreas de salvamentos.
27
Segundo Grupamento Bombeiro Militar/ Grupamento de socorro e emergências exclusivos para áreas de
resgate.
28
Composição única para as versões masculina e feminina: 1. Gorro com pala laranja; 2. Blusa de prontidão
laranja; 3. Camisa de malha meia-manga vermelha; 4. Calça de prontidão laranja; 5. Cinto vermelho; 6.
Cinto prontidão; 7. Meias pretas; 8. Coturnos pretos com bombachas

18
exclusivos para os militares especializados e pertencentes a estes quarteis, no qual eu era
lotada. Composição da tropa era da seguinte forma:
Função Nome dos militares
REGENTE DA BANDA DE MÚSICA CAP QOEBM CLERISSON
COMANDANTE DA TROPA TEN CEL QOBM ADALMILENA
CORNETEIROS 2º SGT TONY /2º SGT ELIEL/30
SGT
MANASSES
29
ESTADO MAIOR GERAL MAJ QOBM FLAVIA
MAJ QOBM GABRIELA
MAJ QOBM TAVARES
MAJ QOBM JORGE LUIZ
PAVILHÃO NACIONAL TEN QOBM ISRAEL
PORTA BANDEIRA DO PARÁ TEN QABM LUCIO
PORTA ESTANDARTE DO CBMPA TEN QABM AMÂNCIO
GUARDA BANDEIRA SETE PRAÇAS SARGENTOS
COMPANHIA OFICIAIS
CFO CMT DA TROPA CAP QOBM
(CADETES) PATRICIA
TEN QOABM PATROCA
30 MILITARES TEN QOABM J.NETO
TEN QOABM ARLINSSON
TEN QOABM MARTINS
2ª CMT DA TROPA CAP QOBM
(1º GBM, 3º GBM, 30º GBM, 21º LEMOS
GBM, 25º GBM, 27º GBM, AJUDÂNCIA TEN QOABM WALDEMAR
GERAL) TEN QOABM DOS ANJOS
TEN QABM FRANCO
30 MILITARES TEN QOABM ALFAIA
3ª CMT DA TROPA CAP QOBM
(1º GBS, 2º GBS/GSE) RANGEL

26 MILITARES TEN QOABM DA CUNHA


TEN QOABM AMARAL
TEN QOABM OZIEL
TEN QOABM ROBLEDO
Quadro 2: (Nota de Serviço: semana de prevenção e dia do bombeiro paraense – 89/2017)

29
Estado Maior são os oficiais que sucedem o Comandante da tropa, no dispositivo.

19
Cada qual em sua companhia e seus comandantes dando as últimas instruções para
o início da solenidade.
Por volta de 8h, começa então a solenidade com uma pequena marcha da banda
com as companhias, no estacionamento do quartel para frente do palanque, onde ocorreria
a solenidade. Nessa marcha a banda toca o dobrado – Fibra de heróis – e inicia a marcha
na frente puxando as companhias, que vinham atrás marchando e cantando com vibração,
energia e garbo militar.
Ao chegar à frente do palanque, fixaram-se em seus dispositivos. O comandante
da tropa representativa, Tenente Coronel Adalmilena apresenta tropa às autoridades que
estão no palanque. Neste momento de apresentação, segue-se o ritual militar. Toda a tropa
representativa é comandada pelo toque30 da corneta, no qual os corneteiros executam, que
são em especifico três sargentos. Em geral as sequências31 dos toques são: sentido, ombro
armar, descansar armar e descansar. Para apresentação faz-se sentido e ombro arma,
depois da apresentação faz-se descansar arma e descansar. Os toques de ombro arma e
descansar arma só são executados por militares e tropas que possuem armas ou outros
objetos equivalentes. A banda é uma tropa especial, por mais que não possua em suas
mãos armas, e sim instrumentos, eles executam esses movimentos cada qual conforme
diz o regulamento32 com seus instrumentos, pois cada instrumento possui sua posição
especifica nesses toques.
A corneta anuncia o toque de sentindo, depois ombro arma. Então a banda toca a
canção do Expedicionário, então o comandante da tropa representativa sai de seu lugar
marchando garbosamente conforme a candência da banda até o representante do
Governador do Estado do Pará, que neste evento está sendo o Secretário de Segurança
Pública, o General do Exército Jeannot Jansen. Nesse momento o corneteiro anuncia o
toque de apresentar armar33, toda a tropa executa esse movimento e o comandante da
tropa representativa apresenta a tropa ao representante do Governador. Depois o toque da
corneta anuncia ombro arma novamente, a banda volta a tocar a canção do expedicionário
e o comandante da tropa volta para seu lugar no dispositivo. Em seguida o corneteiro

30
Quando a tropa é composta por mais de uma companhia, tem-se a necessidade de se ter um corneteiro
para substituir o comando de voz, pois a voz humana não tem volume suficiente para comandar mais de 30
militares de modo que todos possam compreender e executar os comandos com exatidão.
31
Sequência de movimentos para uma apresentação de tropas às autoridades.
32
Manual de Campanha C 22-6 – Inspeções, revistas e desfiles, Ministério do Exército Estado Maior do
Exército.
33
Movimento que os militares têm que executar quando estão diante de uma autoridade Maior.

20
anuncia o descansar arma e descansar e inicia-se formalmente a solenidade. É necessário
todo este ritual militar para dar início de fato à solenidade.
O cerimonialista dá início à programação da solenidade, no qual começa pela a
execução do hino do Estado do Pará. Nesse momento o regente da Banda, Capitão
Clerisson, desloca-se de seu dispositivo para o meio da tropa representativa, onde regerá
não somente a Banda, mas também a tropa, no qual a tropa faz um papel de coral. A banda
volta-se um quarto de volta para esquerda, que no militarismo significa oitava a esquerda,
para visualizar melhor a regência do maestro, e em posição de sentido juntamente com a
Banda, todos entoam o hino do Estado Pará, não somente a tropa representativa, mas
também nós militares e civis apreciadores do evento. Durante o hino toda a tropa
representativa tem seu olhar na direção do maestro. Depois que acaba o hino a banda e a
tropa voltam para suas posições anteriores, e o regente volta para seu dispositivo.
O cerimonialista então anuncia todas as autoridades militares e civis que estão
presentes e vieram prestigiar a solenidade. Em seguida, o mesmo fala um breve resumo
da história do Corpo de Bombeiros Militar do Pará e seus feitos atuais, como por exemplo,
o projeto34 escola da vida, efetivo atual em termos de números, área de atuação no Estado
do Pará, etc.
Em seguida, acontece um ato militar que é a chamada incorporação35 da Bandeira
Nacional. Nesse momento a tropa fica em sentindo e ombro arma. A banda executa então
o hino à Bandeira do Brasil, o oficial que carrega a Bandeira do Brasil, chamado de
Pavilhão Nacional, desloca-se para frente do palanque marchando na cadência da banda,
destacando bem os movimentos e gestos da marcha e para isso chamamos de
marcialidade, e permanece lá até o segundo momento que é o da homenagem das
medalhas. Em seguida, com o anúncio da corneta, a tropa volta á posição de descansar.
Começa então o segundo momento, e as bandeijeiras, militares femininas que
carregam as bandejas das medalhas, se preparam para entrar em cena, enquanto o
cerimonialista discorre sobre cada medalha e o que elas significam. Esse é o momento
em que militares, do Estado do Pará e de outros Estados, e também civis são galardoados
e condecorados com medalhas.
A primeira medalha a ser distribuída foi a medalha mérito defesa civil, através do
decreto n° 1.237, de 2 de setembro de 2008, destinada ao reconhecimento de serviços

34
PEV – Projeto escola da vida no qual a instituição trabalha com crianças e jovens que estão em
vulnerabilidade social.
35
Ritual de deslocar a Bandeira Nacional para junto ou fora da tropa.

21
relevantes prestados no âmbito de assuntos vinculados à defesa civil da comunidade
paraense, no qual militares e civis do Pará e outros estados foram homenageados.
Enquanto esses militares e civis recebem a medalha, a banda de música toca diversas
canções e dobrados entre as quais a Canção do Exército, Canção do Cisne Branco.
A outra condecoração realizada foi da medalha de bons serviços, através do
decreto n° 1.817, de 19 de novembro de 1996, concedida aos bombeiros militares do
Estado do Pará, para patentear de público o reconhecimento do estado pelos bons serviços
prestados à prevenção de acidentes em geral, à segurança e à tranquilidade da população,
no qual existem três tipos: A de metal bronzeado, aos bombeiros militares que tenham
completados dez anos consecutivos de efetivo serviço no Corpo de Bombeiros Militar do
Pará ou na Polícia Militar do Pará, durante o período de vinculação entre as duas
unidades; A de metal prateado, para os que completarem vinte anos de serviço, nas
mesmas condições e a de metal dourado, para os que completarem trinta anos de serviço,
nas mesmas condições. Nesse momento de homenagem a banda de música executa
diversos dobrados, ao quais foram Canção do Exército, Cisne Branco, Aviação
Embarcada, Capitão Caçula, Bombardeiro da Bahia, Jangão, etc.
Depois do momento das homenagens, a corneta emite o toque de sentido para a
tropa e a banda executa o hino da bandeira novamente para que o Pavilhão Nacional
retorne ao seu dispositivo primeiro. A corneta emite o toque de descansar para a tropa, e
então acontece o terceiro momento, que o Comandante Geral do Corpo de Bombeiros, o
Coronel Zanelli, apresenta seu discurso paras os militares, autoridades e civis presentes,
e discorreu aproximadamente 30 minutos, no qual se pronunciou sobre sua satisfação em
estar à frente e gerenciar a instituição, sobre os 135 anos da corporação e efetivo serviço
prestado à comunidade paraense, e sobre as perspectivas de planos para corporação para
cada vez mais servi a sociedade com dignidade. Em seguida a palavra foi passada para o
Secretário de Segurança Pública, o General do Exército Jeannot Jansen, que faz menção
elogiosa à corporação e também sobre planos e planejamentos para a instituição.
Depois dos discursos, o Capitão Clerisson, desloca-se de seu dispositivo e vai à
frente da tropa novamente para reger agora o Hino do Soldado do Fogo, hino do bombeiro
nacional. A Corneta emite o toque de sentindo para a tropa e a banda então executa
garbosamente o hino do soldado do fogo, e todos em uníssono, tanto a tropa quando os
demais militares que apreciavam a solenidade cantaram o hino com brio.
O Regente retornar ao seu dispositivo, e o cerimonialista anuncia então o
encerramento da solenidade, na qual a tropa representativa desfilará em continência ao

22
Excelentíssimo Secretário de Segurança Pública, o General do Exército Jeannot Jansen,
ao Comandante Geral do Corpo de bombeiros Coronel Zanelli, e as demais autoridades.
A corneta então emite o toque de sentido a tropa, depois o toque de ombro arma,
depois o toque de direita volver, no qual a tropa vira para a direita, e depois o toque de
ordinário marche, no qual a tropa começa a marchar em frente. Nesse momento a banda
entoa a Canção da Infantaria e o bumbo nesse momento é o instrumento principal da
marcha, pois ele é responsável pela cadencia da marcha, no qual a tropa tem que executar
todos sincronizados com o pé direito. Então a tropa desloca-se em frente para dar uma
volta ao pátio para poder então depois desfilar em continência para autoridades. A Banda
de música vai à frente puxando a tropa, desfilando com garbo e brio.
Todos os militares e civis que apreciavam o evento, focam suas atenções para esse
momento. Muitos pegam seus celulares e câmeras para registrar o desfile.
Depois de desfilar pelo pátio, a tropa representativa desfila em continência as
autoridades.
Nesse momento, a Banda de Música então começa o desfile com o dobrado Batista
de Melo com veemência, garbo e brio. O Capitão Clerisson vai a frente como primeiro
oficial a desfilar em continência, comandando a Banda de Música. Logo atrás as demais
companhias. A Banda de Música é o único pelotão que não da pista do desfile. Após
passar em continência as autoridades, permanece ao lado esquerdo da pista parada até
passar todas as demais companhias.
Ao som de um dos dobrados mais expressivos, dobrado Batista de Melo, nessa
ordem, desfila a tropa: Primeiro o Comandante da tropa, Tenente Coronel Adalmilena, e
logo atrás o sargento corneteiro, ele dará os toques de continências a ser executado a cada
fração da tropa quando passar pelas autoridades. Atrás do Comandante, o Estado Maior
Geral, uma fileira de oficiais superiores, majores, que representam os comandantes de
cada seção do Corpo de Bombeiros Militar do Pará.
Depois a tropa do pavilhão nacional juntamente com os guardas-bandeiras, que
carregam as Bandeiras do Brasil, Pará e o estandarte da corporação.
Em seguida, a primeira companhia formada pelos cadetes, depois a segunda
companhia formada por bombeiros militares em geral da região metropolitana de Belém,
posteriormente a terceira companhia formada por bombeiros militares especializados
também da região metropolitana de Belém. Todas entoando cada qual seus gritos de
guerras de cada companhia.

23
Ainda atrás, a tropa representativa do projeto escola da vida, projeto social
executado pelo Corpo de Bombeiros, formado por crianças e adolescentes, alunos do
projeto, que trabalham com jovens e crianças de vulnerabilidade social. Tropa essa
formada por quatro pelotões, cada qual também entoando seus gritos de guerras.
Depois do desfile das companhias, a Banda de Música sai atrás encerrando o
desfile da tropa a pé.
E por fim, o desfile dos automóveis, a companhia motorizada, comandada pelo
Major Nunes, que mostram as viaturas que a corporação serve a sociedade paraense, que
passaram na seguinte ordem: um JEEP, uma VTR36 AR (auto rápido), uma VTR de
Resgate (ambulância suporte básico), uma VTR ABS (auto busca e salvamento), uma
VTR ABT (auto bomba-tanque), e uma VTR RANGER, com uma MOTOAQUÁTICA
no reboque, uma VTR ABTRS (auto Bomba-tanque Resgate e Salvamento), uma VTR
APM (auto plataforma mecânica).
Uma afirmação de Seeger perceptível em todo o evento é quando ele descreve que
“quando os performers iniciam, movem seus corpos de certa forma, produzem certos sons
e impressões, que se comunicam entre si”, (SEEGER, 2008, p.238) provocando efeitos e
interações com a audiência. Isso é visto na descrição da solenidade quando a Banda de
Música é que conduz o evento, desde o início, com seu pequeno desfile de formatura,
durante o evento quando preenche o ambiente com os dobrados executados em cada
momento especifico do evento e no final, com o desfile em continência as autoridades
presentes do evento, na qual a banda conduz toda a tropa de militares, civis e viaturas de
forma garbosa e com brio encerrando mais um aniversário da corporação.
Assim se encerra a Solenidade Alusiva ao Dia do Bombeiro Paraense. Depois do
desfile, nós militares nos cumprimentamos, confraternizamos e depois alguns foram
aproveitar sua folga e outros, como eu, voltar ao serviço de plantão 24h e continuar a
rotina de um bombeiro militar.
5. Reflexões do Relato: Conceitos etnomusicológicos e Pertencimento
Interessante é perceber que a importância da presença de uma banda de música
nas solenidades e eventos no Corpo de Bombeiros Militar vai além das apresentações em
cerimônias militares oficiais.
É nítido que a música exerce um papel determinante na sociedade em geral,
fazendo parte dos mais variados rituais e eventos importantes da vida humana.

36
Viatura.

24
Turino (1989) diz que a música não é só socialmente estruturada, mas também,
como a sociedade é em parte estruturada musicalmente, visto que a atividade musical
compreende um importante domínio público através do qual as disposições internas são
externalizadas.
Seeger (2008), diz também que os sons musicais são uma significante ferramenta
humana para desenvolver profundas ocasiões sociais e experiências, desde as relações
mais íntimas até a movimentos políticos de massa.
Importa destacar a participação da Banda de Música também em outros eventos
musicais, como os que ocorrem durante a semana alusiva ao Dia do Bombeiro Paraense,
no acompanhamento de eventos religiosos, por exemplo, e que se estendem a outros
domínios da vida, tanto no ambiente interno da instituição, quanto na interação externa
com a sociedade.
Tanto na Semana comemorativa, quanto na própria solenidade em si do dia 24 de
novembro, percebem-se esses pressupostos, os quais interagem como sendo um meio
importante de divulgação, levando a música popular e atual aos eventos realizados, além
de exercer sua função primeira como banda militar, executando o repertório tradicional,
como hinos, marchas e dobrados, para preservar a tradição e também proporcionar o
conhecimento de públicos não familiarizados, evidenciando uma importante interação
social.
Ademais, no desfile do dia 24 de novembro, a presença do projeto “Escola da
Vida”, no qual o Corpo de Bombeiros realiza várias atividades com crianças e jovens em
vulnerabilidade social, na tropa representativa como sendo parte do “Corpo” como
instituição, na qual a musicalidade é uma marca evidente presente na marcialidade e nas
formaturas militares, confirmando o que Blacking (1995) diz: “o interesse das pessoas
pode não estar na música em si, mas em outras atividades associadas a este fazer enquanto
atividade social”.
O registro etnográfico sobre o evento da solenidade do dia 24 de novembro, em
especial, se justifica pelo que Pinto (2001) expõe que a música por si representa um
evento, e cada acontecimento desse evento é singular, e por mais que se repita diversas
vezes no mesmo modelo, ela nunca vai ser executada e apreciada da mesma maneira:
“permanece idêntica na repetição apenas a concepção sobre a peça de música, ou seja, a
composição musical enquanto ideia, e não sua realização no tempo, um tempo que
também sempre será outro.” (PINTO, 2001, pg.3).
Favaretto (2000) define que:

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Eventos são intervenções, regradas ou extemporâneas, que num lugar preciso
permitem a interseção de falas, tempos e ações. Simultâneos e descontínuos,
esses elementos desdobram e reiteram gestos e atitudes que exploram o
instante da apresentação (FAVARETTO, 2000, pg.5)

A particularidade de cada momento musical para expansão e o compartilhar de


uma ideia, que no caso em análise é uma preservação da tradição histórica e do sistema
no qual essa música e seus performers estão influenciados e persuadidos em executá-la,
e como se mantém ainda nos dias atuais.
Seeger (2008) ainda diz que, quando o evento termina, os performers e sua
audiência têm uma nova experiência e avaliam suas concepções anteriores sobre o que
aconteceria e sobre o que acontecerá na próxima vez, e os performers aqui em questão,
os integrantes da Banda de Música estão em sua maioria no final de suas carreiras
militares, o que leva muitos deles a vivenciar seus últimos momentos como performers,
e num evento futuro ter suas concepções diferentes, agora como audiência.
A etnomusicologia tem tido uma substancial relevância nos estudos de seus
métodos e em procurar compreender a música que o homem faz, bem como o homem que
faz música, seus conceitos e comportamentos (Fontoura, 2011).
Blacking (1976), afirma que não se pode desvincular as análises funcionais da
estrutura musical das análises estruturais de sua função social.
E dentro dessas várias análises sobre as estruturas sociais podemos destacar, por
exemplo, o conceito de pertencimento.
Moriconi (2014, pg.3) diz que “a noção do sentimento de pertencimento nas
pessoas é algo que se encontra intrínseco a elas [...]”, e que para cativar os sentimentos
de pertencimento de forma que nos despertem virtudes sociais, é fundamental que o
individuo envolva-se no decorrer de sua vida aos grupos básicos de convivência como
família, escola, trabalho, amizades, dentre outros, levando-o a se reconhecer em grupo,
em comunhão, numa coletividade que alimenta os relacionamentos humanos. Afirma:

Pertencimento é quando uma pessoa se sente pertencente a um local ou


comunidade, sente que faz parte daquilo e consequentemente se
identifica com aquele local, assim vai querer o bem, vai cuidar, pois
aquele ambiente faz parte da vida dela, é como se fosse uma
continuação dela própria. (MORICONI, 2014, pg.4)

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Blacking (1976) ainda diz que não se pode explicar de modo correto a função dos
sons musicais em relação uns aos outros, como partes de um sistema fechado, sem
referência as estruturas do sistema sociocultural do qual a música faz parte.
Com base nisso, ao analisarmos de perto a Solenidade Alusiva ao Dia do
Bombeiro Paraense, percebe-se que o próprio fato de haver recorrentemente uma
cerimônia que celebra o aniversário da corporação e seus feitos no decorrer de sua
trajetória, mostra uma afirmação do sentimento de pertencimento por parte dos membros
da corporação, em relembrar e preservar os cultos e ritos do que lhe é próprio.
Logo, enquanto corporação, e sua estrutura fragmentada como sessões de ofícios,
a Banda de Música, que é um desses fragmentos, mostra-se também peça essencial para
o andamento de atividades primordiais da corporação, ficando nítido que sua atuação é e
está para além de histórica apenas, mas presente, atuante, pertencente na vida não só do
corpo da banda, e não só na instituição como um todo, mas exterioriza por meio de suas
atividades e influência na comunidade em geral.
Blacking (1976), afirma que o estudo da etnomusicologia não é apenas uma área
de estudos que trata da música exótica, nem uma musicologia do que é étnico – é uma
disciplina que mantém a esperança duma compreensão mais profunda de qualquer
música.

Conclusão
Através da análise do estudo de Seeger sobre etnografia percebe-se que o fazer música
é muito mais do que somente produzir sons, a música provoca a interação social e vice-
versa. Essa conclusão define muito bem as bandas de músicas militares, o que justifica a
etnografia do evento ‘Solenidade Alusiva ao dia do Bombeiro Paraense’.
Soma-se a isto a definição de pertencimento. O evento tradicionalmente ocorre
com a presença da Banda de Música do Corpo de Bombeiros, e ainda que o público não
se desloque ao acontecimento com o propósito único de ouvir a banda, intrinsicamente
todos esperam que ela se apresente, assim como os músicos, que se preparam para a
apresentação, confirmando a sua importância.
Ao longo dos estudos acompanhando a Banda de Música do Corpo de Bombeiros
do Estado do Pará e seus relatos históricos percebeu-se as dificuldades enfrentadas,
refletidas na composição atual. E apesar da falta de recursos se mantem em pleno
funcionamento, desempenhando importante papel social, ainda que por vezes, não

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recebendo sua devida importância, quanto aos seus valores culturais, materiais e sociais,
tanto pelos grupos externos, quanto interno.
A etnografia desenvolvida neste trabalho do evento relata a experiência de uma
estudante de música em formação, mas também bombeira militar.
Assim, conta com a minha experiência em música e o pertencimento. Faço parte
da corporação e me incluo no evento e o aprecio não só por ser bombeira mas também
por minha formação musical.
Seeger diz que esse acontecimento, aparentemente, emite sons sem a ação
humana, mas isso é uma ilusão auditiva do meio e não uma característica da música. O
fazer musical está relacionado com a ação das pessoas executarem essa ação, e outras
apreciarem, não apenas uma ilusão auditiva que as gravações nos proporcionam. É a
afirmação de Blacking (1973) sobre o conceito de som humanamente organizado.
Esse som organizado que a Banda de Música realiza na Solenidade Alusiva ao dia
do Bombeiro Paraense, é uma ação essencial para que o evento aconteça. Logo é
indispensável que a banda de música seja substituída, se não for pelos próprios músicos.

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