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O que compreendemos por criança e por infância?

Os estudos da Sociologia da Infância nos conduzem a compreender que a infância é


uma categoria social do tipo geracional, ou seja, um tempo da vida do indivíduo.
Sarmento (2005) afirma que a infância independe das crianças e nessa perspectiva
sempre existirá, pois é constantemente “preenchida” e “esvaziada” de seus atores
sociais
que, a cada época, integram uma categoria geracional. As crianças que, atualmente,
compõem a categoria geracional da infância, em alguns anos, irão compor as
categorias
da juventude, da vida adulta e da velhice.
Assim, segundo o autor anteriormente citado, são os modos de compreender a
infância
que se transformam, pois esse conceito resulta da construção social com diferenças
diacrônicas, ou seja, conforme os períodos históricos (a infância dos pais, avós e
bisavós),
e diferenças sincrônicas, que ocorrem em um mesmo período histórico e se
diferenciam dependendo da localização geográfica, da classe social, da raça/etnia, do
gênero, da
religião e demais variáveis que podem intervir no modo de perceber a infância em
determinado tempo e lugar. Nesse sentido, reconhecemos que a infância é plural –
“infâncias”, pois existiram e coexistem diversas formas de ser e viver as infâncias.

“Falar de infância universal como unidade pode ser um equívoco ou até um modo de
encobrir uma realidade. Todavia, uma certa universalização é necessária para que se
possa enfrentar a questão e refletir sobre ela, sendo importante ter sempre presente
que a infância não é singular, nem é única. A infância é plural: infâncias.” (BARBOSA,
2000).

Diante do exposto, concordamos com Barbosa (2000), a universalização, em alguns


momentos e em certa medida, é necessária para pensarmos políticas e propostas
coletivas para as infâncias3 que nos cercam.
Sob tal pressuposto, nas instituições que ofertam Educação Infantil, temos o
compromisso de assegurar um olhar atento e uma escuta sensível às individualidades
dos bebês e das crianças e, a partir dessas individualidades, organizar propostas
coletivas
com diferentes agrupamentos respeitando as singularidades, pois a Educação Infantil
prima por promover encontros, relações e interações.
Cabe lembrar, em consonância com a legislação vigente, que o empenho, a defesa e
a construção da concepção de infância é uma responsabilidade dos adultos, e, nesse
3 Como sugestão para aprofundamento da temática, conferir o documentário “A
Invenção da Infância”,
sob direção de Liliana Sulzbach (2000). Nesse sentido, ressaltamos a importância de
pensarmos em mudanças e permanências
presentes nesta categoria social, ou seja, compreendermos e elencarmos
características que são comuns àqueles que vivem suas infâncias em um determinado
período histórico, e, ao mesmo tempo, em características que são específicas de
determinados grupos, em função das variáveis sociais que permeiam sua existência.
Ao falar em “infâncias” consideramos imprescindível abordar o conceito de “criança”.
Fundamentados na Sociologia da Infância e na legislação vigente4, afirmamos que
criança é um sujeito histórico e de direitos, que nesse momento da vida integra a
categoria geracional da infância e, para além do pertencimento etário, é um ator social
que pertence a uma classe, um gênero, uma raça/etnia e uma localização geográfica.
Corsaro (2005), também estudioso da Sociologia da Infância, ressalta a ação da
criança como um “ator social” competente. Tal abordagem, denominada por ele como
“reprodução interpretativa”, representa uma alternativa ao conceito de socialização
baseado na adaptação passiva da criança. Ao utilizar o termo “reprodução”, enfatiza
que as crianças não apenas se apropriam da cultura, mas também participam das
mudanças culturais; ao empregar o termo “interpretativa”, refere-se aos aspectos
inovadores de sua participação na sociedade, ressaltando, com isso, que elas criam e
participam da “cultura de pares”, defnida como “um conjunto estável de atividades ou
rotinas, artefatos, valores e interesses que elas produzem e compartilham na interação
com seus pares” (CORSARO, 2009).
Bebês e crianças se desenvolvem nas interações, nas relações e nas práticas cotidianas
que lhes proporcionamos e naquelas que estabelecem com os adultos, outros bebês
e outras crianças, nos grupos e contextos culturais nos quais estão inseridos. Nessas
condições, enquanto sujeitos ativos nos processos, ambos interagem, investigam,
brincam, imaginam, desejam, aprendem, observam, conversam, experimentam,
questionam, opinam, criam e dão sentidos para o mundo e suas identidades pessoal
e coletiva. (BRASIL, 2009c; 2009d).
Cabe frisar que bebês e crianças apresentam uma maneira peculiar de agir e pensar,
envolvendo curiosidade, criação, brincadeira, imaginação e sensibilidade na relação
com os outros, os objetos e as situações. Embora com pouca idade, já acumulam
saberes e experiências, sendo capazes de produzir e reproduzir cultura,
desenvolvendo,
a partir das interações com outros bebês e crianças, os adultos e os diferentes espaços
sociais, o seu modo próprio de ser e estar no mundo.

Constituição Federal (1988); Estatuto da Criança e do Adolescente (1990); Lei de


Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (1996); Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil (Parecer CNE/CEB n.º
20/2009; Resolução CNE/CEB n.º 5/2009; 2010); Resolução CNE/CP n.º 2/2017 (que
institui e orienta a implantação
da BNCC); Base Nacional Comum Curricular (2018).

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