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"e' \ '-'vv'o CAPITULO Il
.~ ~.Ja J/UYD Rxv--t Q Qy,"t'~~ ) •
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A ANALISE ESTRUTURAL EM LINGOISTICA E
t~~ EM ANTROPOLOGIA l
Q.u.v,.~ ;).. .,
~ (~"",.:U;.- ~.t,e.: ",,'e.. f'O>,o., "" ~u, -uv: "
( ~~ 04 ~,) 1 ~ J-e ~/ir.o­ No con junto das ClenC las sociais ao qua I perte:ncc indis· "
J:J.- ~ ~ \Y:, Q.e-Y\ ~. ~) cutiv'cImente. a li ngüistica ocupa, entretanto, um lugar excepR
ciona l: ela nao é llma ciência social como as outra;.. -maS a
:2. JJJvvvv?o.v,o.~-, que~ de ha muita, reaIizou os ma iores progressas;" a l'mica,
"1
"
'(>u:oc..ù ~ A-I.'
, > ';( c 17\ t,.se m duvida, que pade reivindicar 0 nome de cîência e que
'J ~ chcgou, ao mesmo tempo, a formular mIl método positivo -e a
ko nhecer a natureza dos fatos subme tidos à sua anàlise./Esta
situaçao privîlegiada acarreta algurnas dependêncîas: 0 lin-
güista vera muitas vêzes pesquisadores proven ientes de dis~
dplinas vizinhas, mas diferentes, se inspirarem em seu exem-
plo e tentar seguir seu caminho. Noblesse oblige: Ullla reVistav .,j
lingüistica camo Word nao pode se limitar .: iJustraçâo d e 1
teStS e de pontos de vista estritamente lingüisticos. Tem taro
bém que acolher os psicéJogos. sociélogos e etnégrafos an
siosos par aprender da Hngüistica moderna e caminho que
.,i
concluz ao conhecimento positive dos fatos sociais, Como jâ
escrevia, ha 'vin te anas, Marcel Mauss: "A sociologia esta ria.
cer tamente. muita ma is avançacla se tivesse procedido. em
tôdas as situaçôes , il maneira dos lingüistas." "".2 A estre ita
ana10gia de método que existe entre as ciuas disdplinas lhes
impôe um dever especia l de colaboraçao.
Oescle Schrader,3 nao ha ma is necessidade de demons-
tra c ej'ûe assistência a lingü istica pode trazer ao sociélogo no
..A' estudo dos problemas de parcntesco, Foram lingüistas e filo...

1) Publ!cadO com 0 titulo, L'Analyse Structurale en lIng uIstlque et an-


thropologIe, Word, JouT1Ial 01 the Lin guü tic Clrcle oi New York, \'01. 1,
"1 0
1
n_ 2, agOsto de 1945, pp. 1-21.
2) Rapports reels ct pratiques, etc . . ", 'ln: SOCiologie et Anthropologie,
Paris, 1951.
J) O. 6CHRADER, Prehistorlc Antiquitfc! of the A~an Peopl e.!, trad. F.
B. Jevons (Londres, 1(80), cap. XII, Pl\.rt~ 4.

47
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dévida, de vez em quando fazcm uma parada para com uni H

logos (Schrader, Rose) .( que demonstraram a improbabilida-


car uns aos outros, a!guns resu ltados: contudo, êstes res\ll-
de da hip6tese ___ â quai tanlos soci61ogos aînda se aferrav~~
taclos provêm de procedimentos diferentes, e nao se tenta
na mesma época --- de sobrevivê ncias matrilineares na familla
n.enhum esfôrço para faUT beneficiar um grupo corn os pro-
~ 0 Iingüista forneee ao soci6Jogo etimologias que per-
gressos técnicos e metodoJôgicos conseguidos pelo outrO.
mitem estabeler. entre a lgu ns têrmos de parentesc? vinculos
Esta atitude podia se r entendida numa época onde a pes-
que nâo eram imedi,atamente perceptiveis. Inversamente, 0 1
quisa lingüi sta se apoiava sobr-e.tudo na anâlise histérica. Em
fÎ'\. soci6Iogo pode fazer conhecer ao lingüista costumes. reg ras , J relaçao a pcsquisa etnoJôgica, tal camo era praticada no
: .~ positivas e proibiçôes que fazem compreender a persistência / ,C i mesmo periodo, a diferença e:ra de grau, mais do que: de
~, ':
de: c.crlos traços da lingupg em , ou a instabilidade de têrmos
ra natureza. Os Iin güistas tinham um método mais ri goroso;
u de gcupos de têrmos>fburante urna sessao reeente do Cir-
cu la lîngüistico de Nd(a larque. Juli en Banfante ilustrava
tO seus res ultados cram mais bem estabelecidos; os socîol6gos
~ podiam se inspirar' cm seu exemplo, "renunciando a toma!
êstc ponto de vista, relemb rando a etimologia do nome do tio
por base de suas classificaçôes a consideraçào no espaço
cm certas linguas romanas: 0 grcgo theios dando, cm italian o,
das espécie!=i atuél.is";7 mas, afina l de contas, a antropoJogia
.:? espanhol e portuguës, zia c tio; e acrescentava que,,, cm a,:gll-
e a sociologi a 56 csperavam liç.ôes da lin giiistica; nada fa zia
V mas regiôcs da Italia, 0 tio sc chama barba . A barba, 0
prever um a revelaçao. 8
~ "divino" tio. quantas sugestôes êste:s têrmos nao traze:m ao
soci61agol As pesquisas do lastimado Hocart sôbre 0 carâter o
nascimento da fonologia subve rt eu es ta situaçao. Ela
l'eligiasa da relaçao avuncular c 0 l'ouba do sacrificio pelas
parentes maternos, nos vêm logo à mem6ria. 5 Qualquer que
seja a interpretaçao que convenha clar aos fatos recolhidos
por Hocart (a sua nao é por certo inteiramente satisfatôria),
é indubitâvel que °
Hngüista colabora para a soluçao do
1:
QG2
-\"
.3.0 renovou apeniJS as perspectivas lingüisticas: uma tran s-
formaçâo dessa amplitude nao esta limi tada a uma di sciplina
particular.J'A fon ologia nao pode deixar de desempenhar,
perantc!s ciências sociais, 0 mesmo papeI renovador que a
fisica nuclear, por exemplo, desempenhou no con jun t~ da s
p;:oblema, revelando, no vocabulàrio contemporâneo, a per- ciéncias exatas. Em que consÎste esta revo luçao, quando . tra-
sistência tenaz da s relaçôes desaparecidas. Ao mesmo tempo, tamos d e encarâ-la cm suas implicaçôcs mais gerais? É 0
o soci61090 explica ao lingüista a razao de sua etimologia il ustre mestre da [onologia, N. Trubetzkoy, quem nos for-
e confirma sua va lidade.Mais rccentemente, fai cledicando-se, nececa a resposta a esta questao. Num artigo-programa,D
coma Iingülsta, aos sistemas de parentesco da Âsia do Sul. D êle reduz, cm suru:!, 0 método fonol69i co ~ quatro procedi-
que Paul K. Benedict pôde trazer uma contribuiçao impor- \ .2) ment~ fu~entais: ~m primeiro lugar, a fonologia pass<7 ~
tante à sociologia da familip desta parte do 'mundo: 6 do estudo dos fenômenos Iingüisticos conscientes ao estudo V
Mas, procedendo dêste . modo, lingüistas e sodôlogos de sua ' înf raestrutura inconsciente: ela se recusa a tratar oS
prosseguem inclepcnde ntemente suas respectivas rotas. Sem térmos como entidades independentes, tOm an do, ao contra-
rio, camo base de sua anâlisc as relaçoes ent~e os têrmos:
.,
41 O. SCHRADER, lac. cit.: H. J. Rose, On tr~ Alleged · Evidence for
Mot.her-Rlght l n Early Greece. F olklore, 22 (HJlll. Ver tamb~m, s6bre esta
questAo, as outras mals recentes dO G. ThoDlson, favoravel la. hlp6tese de 7) L. BRUNSCHVICG, le Progrès de la C01I.Jct e nce dan, la phUo.ophic
sobrevlvênclas matriUneares. Occidentale, II (Parts,
1927) , p. a62.
5) A. M. HOCART, ChlcCtalnshlp and the Slst:r's Son ln the Pacifie, 8) Entre 1900 e 1920. os tundadoreti da Itngüistlca. modt!rnn.. Perdinand
American Anthropologbt, n. 6., vol 17 (1915); The Uterlne Nephew, 'Man , de Saussure e AntoIne Meillet, sltuam- 5! resolut.amente sob a prot.eÇlo
23 (1923), n " 4; The Cousin ln Vidie Rltual, IncLum AnttquGrV, vol. 5-4 dos 6Oc1610gos. SOmente np6s 1920 que Marcel Mauss eomeça, COUlO dlum
(1925); etc. / 08 ec.onomlstas, a inverter Il tendência.

6) P. K. BENEDICT, Tlhetan and Chlnese KlnshJp 'rerms. Harvard Journ. 91 N. TRUBETZKOY, la Phonologte nctuelle, ln: P'ilcho loç!e du langage
01 A$iatic Studie,. 6 (1M2); Studles ln Tbal IGnshlp Termlnology, JOUNL. (ParIs. 1933).
01 the Muer. Oriental Societ"JI, 63 (194.3 ).

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48
....... - ... ----------
introduz a noçao de sistemfl -- " A fonologia atual n~io se: ' os fenômenos de parenlcsco sao fenômenos do mcsmo tiPO\
limita a dcclarar que os fonemas SaD se: mpr,e membros de um qu-e os fenômeno s Iin g i.iiStîco~. Pade a sO:i610go , utilizando C~\
siste:rna. ela mas/ra sistemas fon ol6gicos concretos e tarna um método ana log o, quanto il forma (senac. quanta a~ con- ~)
patente sua estru tura" 10 -- en fim , visa à dcscoberta de leis
_ocrais. quer encontradas por incluçao, "quer. deduzidas
f( teudo), 30 método introdu,zido pela fono]ogla, conduzlf ,:U3
~ ( ciência a um progresse analogo ao que acaba de se reah ... ar
Iôgîcamentc, a que Ihcs da um carater absoluto".u nas ciências lingüisticas?
Assim, pela prirncira vez, uma ciência social consegue Sentir-nos-cmas ai nda mais dispastos a nos empenhar
formuJar re laçocs necessarias. Tai é 0 sentido desta ultima 'd nesta direçao, quando tivermos feito uma constataçâo sup le-
frase de Trubetzkoy, ao passa que as regras precedentes QJ m-entar; 0 estudo dos problemas de parentesco se apresenta
mostram como a lingüistica cleve se arra n;3 f para chegar a
êste resultaclo. N50 no s cabc mos trar agui que as pretensôes
::!f..hoje em dia nos rnesmos termo~, e .. ?a~ece que, às voltas com
as mesrn3S dificuldadcs, que a ImgUlsttca na vespera da revo-
de Trubetzkoy sac justificadas; a grande maioria do s lin ~
güistas modernos pareee suficicn temente de a:ordo sobre êste
ponto . Mas quando sc da um ilcontecimcnto des ta importân~
cia nunla das ciênci.Js do hom~m, n~o SOlllcnte é permitido
aos representantes das discipli nas vizi nha s, ma s exigido
l
il
luçao fonol6gi ca. Entre a a ntiga lingüistica, . ~ue ,?rocurava,
antes de tudo,. na his~ôria seu. principio de .explîcaçao, .c .algu.
mas tent ativas de Rlvers e XIste llma notavel an<llogla. noS
dois casos. sozinho, -- o u ·q ua se que sc 0 estudo d iacrônico
deve explicar fenômenos si ncr6nieos . Comparando a fonol o-
dêles , verificar imediatamente suas conseqüências e sua apli- gia e a antiga Iin(lüî s ti ~ a, T ruhetzkoy de:fine a pri~~ i r~, camo
caçao possivel a fa tos de outra ordem. um "estruturalismo e um universalismo siste:matlco , que
Novas perspectivas se abr em en tao. Nao se trata mais opoe ao individual:smo e ao "atomismo" das cscolas ante-
apenas de uma colaboraçâo o'.:asional , onde 0 ling üista e 0 riares. E quand o ële conside ra 0 estudo diacrôn ieo, 0 faz
sociologo, cada quai trabalhando em seu canto, se atÎf3.m, nu ma perspecti va profundamente modificada: "A evoluçâa
de vez em quando, 0 que ca da um acha que pode in teressar do sistema fonologico é, a eada momento dada, dirigida pela
ao outr~~/No estudo d os problem as de parenteseo (e sem tcndência a um a finalidade. E s ta evoluçao tem pois. um
du'Vîda tJmbêm no est ud o de outras problemas), 0 soci6Jogo 1
se nt ido. urna 16gica intern a , que s c exige da fono logia hi s-
se vê numa sit uaçao formalmente semel hant e à do lîngüista® tôrica que torne pa tentc". 1 :.! E sta interpretaçao "individua-
N h fonologo camo os fonerna s , 02 térmos de parente~ sac cIe 3; lista" , "atamis ta", exclus ivam ente Eundada na contingên-::ia
QtJ ~ent<?:s de slgmflcaçao; como êles. 56 àaguirë'iTI esta si9.~i-

i
hist6rica, criticada por Trubetzkoy e Jakobson, é exatamente

~
caçao sob a condlçao di, se llltegrarem em sist€mas; os SIS-
;... ' te mas de parentesco",,,.omo os "slstemas fonologlc os" , 55.0
1 a rnesma. corn deito. que il geralmente aplicada aos problc-

.J laborados pelo espmto no estaglo do pensamento Incon s-


iV
\." mas de parentesco. 13 C ada detalhe de terminologia, c~da
1 regra especial do casamento, é ligada a um costume d lfe·
Icnte, enflill a recorrêncla, em reg lo cs a fastadas do mundo .rente, como um,,1 conseqüéncia ou vestigio: eai-se num ex-
em soc leclades profundame.nte dlferentes , de formas de pa-
ceSSa de des continuidade. Ninguém ~ pe.r gunta como os
-entesco, regras de casamento, atltudes Idj;ntJcamente pres-
sistemas de parentcsc o, consiclerados effi seu· :ê?nJUntc; sJ~­
!

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j' eritas entre certos tipO S de parentes, etc 1 faz crer que . cm
ambos os casos, o s fcn êmenos observâveis r esu ltam do logo
de leis gerais, mas o::::ultas. 0 prob lerna pode entào se for-
mular da sëguinte maneira: l1uma ou tra ordcm de realidady
crônieo. poderiarri ser 0 resultado ~.~D,t~ari?~~I)<.:a.t1.!~.Q.._~___
tre muitas instituiçOes h tte rogénea..;; (a maio r parte. alla s ,

12 ) op . cH., n. 24:'1: R. JAKOBSON. PrlnZlpen der hist<lnschen pbOnolOgle;


:r ravaux du Cercle linglli$tique de Pra9U~, IV ; t.ambém, as Remarque.! I"U
l'cvoluUon plton%gique du TIU$C, do mesmo autor, Ibid., II.
la) Op. c i t., p . 243.
13) w. H. R. RJVE RS. T he H b t o ru of ,4j'elanesia'1 Soclctv (Londres, I(H41.
Il) Ibid. pa.Him : Social Organl Zat10n , cd . w . J. Perry (Londres. 1921 ), cap. IV.

OE J l .. 0~ C r
rl'J..OiJ lD AOI: ..
50 51
BIBLlOTËCA
hipo téticas ) , ,c co n t_l!_ç.~ .Ju_n..sjona[ Com uma . r egu laridadc.-C.- de r e reconstruir 0 sistema . Nada di sto resultaria da hip6-
. eficac.j ~. g up l qu.Cf..l1." tese precedente. 0 tra tamento dos têrmos de parentesco, ta l
Contudo, um a d ificuldade preliminar se opoc à transpc- como acabarnos de imagina-Jo, 56 é ana litico na a pa rência :
6içao do mê todo fonol09ico aos estudos de 50ciol09 ia primi · pois de fato. 0 res ultaclo é mais abstrato do que 0 principio;

·
"'\OJ t
tiva . A analogia superficia l entre os sistemas fono l6gicos e
os sistemas de pa rentesco é tao grande que impele imedia-
tamente a uma pista falsa . Esta consiste cm é1ssimilar, do
ponto d·e vista de seu tra tam cnto form a), os técmos de pa-
afas tamo-nos do conc reto ao invés de nos dirigirmos a êle.
e 0 sistema d e fi nit ivo - se é que ha sistema ai - so poderia
ser' conceit ua l. Em segundo lugar, a experiência de Davis e

1
Warner prova q ue 0 sistema obtido por êste processo é in fi-
rentesco aos fo nemas da linguag,zl11 . Sabc-se que , para atin-
nitamente n1ais complicado e dificil de interpre ta r que os
gir um a lei de estrutura, 0 li ng üis ta analisa OS fon emas cm
dados da experiência. 17 Enfim, a hipétese nao t em nenhum
"clementos diferencia is", que podem entao sec organizados
em um ou varias "parcs de oposiçoes" .l~ 0 50ciol 090 poderia va lo! in dicativo: ela nao faz compreender a natureza do
sec tc'nr ado a dissocia r os térmos d e parentesco de um siste- sistema; permitc menos ainda recons ti tuir sua gênese,
ma da do, seg uÎndo um rnétodo anâlogo. Em nosso sistema QuaI é a razao dêste re:vés? Uma fidelidade demas iado
de pafente~co. pOf exemp lo, 0 tërmo pai t'em um a cono ta ç<io litera i tiO método do lin güis ta trai , na realidadi:. s.c.u espj~ito .
positiva no que concerne, ao sexo , à idacle re lativa, à gera- Os têr~os de pa~cnte~co nao têm apenas' urna existência 50-

.1Y
\f'
çao; ao con t rarjo~ tem urna C'xtensao nula, e nao pode tra-
duzi r um a relaçao de a li ança . Assim. perg untar-se-â, pa ra
ca da s istema , quais sao as relaç6es expressas, e para cada
têrmo do s istema , qu e co not açao ..- pos itiva ou nega tiva
g CiOJogica : sac também elemen tos do discurso. É preciso nào
LX. se esquecer, esforça ndo-se para tra nspô -Io aos métodos de
an a lise do lingüista, que , enquanto parte do vocabulârio,
êles dependem dêstes métodos, nao de mane ira a nalog ica , mas
..- poss ui COm referên c ia a cada uma destas reIaç6es : g.~ ­ direta. Ora, a lingüîs tica ensina precisa mente que a anâlise
raçao, extensao, sexo, idade relati va, afin idade etc. É neste fonologica nao incide di retamente sôbre as palavras, mas 50-
c5tâgio "microssociolôgico" que se espera descobrir as leis
cl..e cstrutura mais gera is. coma °
lingüista descob re as suas
'7 mente sôbre as palavras prèv iamen te cl issociadas em fone-
mas. Na~ existem relaçôes necessari.as no nivel do v~abu­
no estâgio infra-fonê mico. ou °
fîsico no estâgio infra-mole-
}If tariO .lB Isto é verda de para todos os eleme ntos do vocabulâ -
lecular, isto é, no nivel do atomo. Nestes têrmos, poder-se-ia
{ rio.....- ai compreendidos os têrmos de parentesco. Isto é ver-
interpretar a Interessante tentativa de Davis e Warn er .1G
c;~ dadeiro em li ngüistica, c deve pois ser verdadeiro ipso facto
Mas irnedia tamente, urna tfïplice objeçao se ap resenta.
~ ( \ para uma sociologia da Ii oguagem. Uma te ntativa camo esta,
Uma analise verdadeiramente cientifica deve ser real, sim -
plificadora e expli cativa. Assim os clementos diferenc ia is, cujas possibilidades discutimos agora, consistiria en tao em
que estao no t êrmo d a anillise: fonologica , possuem u rna exis- es tender 0 método fonolôgico, mas esq uecendo seu funda-
tênc ia objetiva no trip lo ponta de: vista ps icolôgico, fjsio10- mento. Kroeber, num artigo hem an ti go, previu esta dificul -
9ico e até fisico; êles sao menos numerosos que os fonemas
formados por s ua combi naçao; enfirn , permitem compreen-
!7) t; asslm Que, no fUn d& anill6t! dêstes autoree. 0 térmo 'mando' se
encontra substltuldo pela f6rmula:
C2'/2d/9 B U 1- SlEgo (loc. cU.)
14) No mesmo 6e ntldo. 8. TAX . Borne Problems or Soclnl Orgo.n lzntlon.
ln: Social Anthro poJoVlI 01 N Orth American 7'nues, F. Eggnn, ed. (C hicago . Aproveltnrcmos a oca.slao para Indlcar dols estudos r ecent :s. lIt1liumdo
1937 ). um nparelho 16glco mo.is retlnncto c que oterecem um grande Interl:!sse
Quant.o a.o método e a.os resulto.dos. Cr. P. G. LOUNBBURY, A 6emanUc
15) R. JAIroBSON, Ob8en'o.t1ons 6lU' Je classemcnt phonoloçlQue dcs Analysls or the Pawn:e Klns.htp Usage, Language, vol. 32, n9 1956. W. R.
consonnes. loc. cU. OQODENQUOH. Tbe Componentlal Analysls of Klnablp, ID., tb/do

16) K . DAVIS c W. L. WARNER. Structural Ann lysis of Klnshlp. American 18) Como se notarfl. lendo 0 cap. V. eu usartu presentemente uroa f6r-
AlIthropol09i8t, n . s., vol 37 (1935) . mul:! mals m:ltlznda.

52 53

"

~ •
~ao ,•
. .
~)f' clade de maneira profética. 19 E se concluiu, naquele Illomen- - rr{) (o-U se scntem, conforme 0 caso) obrigados lins em re-
.' # to. pela imrossibilidade de uma ana lise estrutural dos têrmos ~ laçao aos outras a uma conduta determinada: respeito ou •
de parentesco, é que a prôpr ia lingüistica Sc encontrava en-
tao reduzjda a urna anajjse fon H lca. pSI co log Ica e hlsto[lca.
'31 ~ familiarid ade, direito ou dever, afeiçao ou hostilid3.de. A ssim ,
#~Q;' no lado do que propomos nomear a sislema t e rminol6gÎco ( ©
rrU t•
As ciê:ncias sociais devem, corn deito, partilhar as limîta- \.. ~ ".1 ·que constitui. para se rmos exatos, um sistema de vocabul; - !
çôes da lingüistica; mas elas padern também se aproveitar de P . rio), existe outra sistema, de natureza igualmente psicoJ6g ica
seus prog l'essas. e social , que designaremos coma sistema de atitudes . ara, se
1:: precise nao negligenc iar também a diferença muita oJ e verdade (com o 0 mostramos acima) .que .? est~do de. siste-
profunda que existe entre 0 t{luadro dos fonemas de uma mas terminol6gicos nos coloca nllma sltuaçao analoga aquela
lingua e 0 quadro dos térmos de parentesco de urna socie-
clade. No primeiro casa, nao hâ àuvida quanta il. funçâo:
sabemos todos para que serve uma linguagem; serve para
comunicaçâo. 0 que 0 Iingüista ignorou durantc: muita tempo,
V
• ~ ..\
na quaI nos e~ contra mos face aos s i stema~ IOt~olôgi~OS .. ~as
inversa, esta SltuaÇaO se cncontra. por asslm dlzer, r~ttflCa­
da" quando se trata' de sistemas de atitudes. Adivinhamos

~
papel representado por êstes ûltimos, que é assegurar a
pela cont,raria, e que soment-e a fono logia lhe permitiu des· coesao e 0 equilibrio do grupo, mas nao compre-e:ndemos a na-
cobrir, é 0 meio pela quaI a linguagcm chega a êste res ulta .. . t ureza das conexôes existentes entre as diversas atitudes, e
do. A f unçao era evidente; 0 sis tcma permanecia desconhe- nao percebemos sua necessidad-e.:!tl Em cutros têrmos, e como l
cido. A êste res peito, 0 soci6logo se en contra em situaçao no ca 50 da linguagem. n6s conhecemos a funçao , mas 0 que l
inversa: que os têrmos de parentesco constituem sistemas , nos falta é 0 sistema .
n6s 0 sabemos claramente desde Lewis H, Morgan; pelo Entre sistema t crmino{6gico e sis(ema de atitudes v<E:mos
~ .fc0ntrârio, sem pre ignoramos para q ue usa sc destinam. 0 pois uma di~~3.-~a. ~ nos separamos n~ste ponta
~ ~esconhecimento desta situaçao inicial reduz a maior parte
. JJ' das anâlises estruturais de sistemas de parentesco apuras
°
() de A . ..R.---RadcJiffe-Brow~3 ele rea lmente acredltou, camo
1ho c:r;s'u-ratdm ès vêleS. que a segundo era apenas a expres-

1
~~ tautologias, E las demonstram que é evidente, e negligen- sao ou a trad uçao no pIano afetivo, do primeiro. 2jAo Ion go
ciam' 0 que p-ermanece desconhec ido. d êstcs u ltimos anos, foram fornecidos numerosos -exemplos
Isto nao signîfica que deviamos renundar a introduzir de grupos onde 0 quadro dos tê:rmos de parentesco nao re-
um a ordem e descobrir li ma significaçao nas nomenc1aturas
f1ete exatamente 0 da s at itudes familiais. e redprocamente. 22
de parentesco, Mas é necessâ ria aa menos reconhecer os pro-

P~
Enga nar-nos-iamos <lcredltando que, cm gualquer socledade -
blemas especiais que supôe uma socio10gia do vocabulario, e 0
o slste-ma de parent-esco constltul 0 mClO principal re10 quai
carater ambiguo das reIaç6es que uncm seus métoclos aos d~
se regulam as relaçôes Il1dlVlduals, e mesmo nas sooedades
lingüistica. Por esta razao, seria preferîve1 nos limitarmos à
~r onde êste papel lhe é destinado, êle nao 0 preenche sempre-
discussao de um casa onde a analogia se apresenta de ma-
neira simples. Felizmente, ternos esta possibilidade, ~\? , no mesmo grau . Ademais, é necessa rio dlsttnguir scrupre en-
o que se denomina geralme-nte "sistema de parentcsco"
recobre , realmente. duas orde ns bem dif-erentes de realidade.
Inicialmente. existem aî têrmos, pelos qua is se exprimem os
~ • ' 20).t necessti.rio cxcetuar f). notâv"J obra de W Lloyd WARNER Morphology
and l-~unctlons of the AustraHan Murngln T-~'pe of Klnship, Amer Antllrop,
diferentes ti os de reJaçôe s familia~IMas 0 parentesco nao
n. B., vol. 32- 33 (1930-1 931). onde a anâlise do 6lst':!ma de e.tltudea. dlll·
cutlvel qunnto ao fundo. nâo del;IC!l. de Inaugurar \lma nOYa t&.8(l no eBtudo
se exprime ùnicamente numa nomenclatura; os individuos, ou dos problemas de parente5Co.

as classes de indiv:duos que utilizam os tê rmos, se sentem 21) A. R. RADCLIFFE-BROWN. Klnshlp Termlnology ln Callfomla, Am er.
A.nthrOp., n. 5., vol 37 (1935) ; The Study of Klnshlp Systems, Joum. 0/
the ROll. Anthrop . Inst., vol 71 (1911) .

22) M . E. OPLER, Apache Dnta Concerntng th ~ Relation of Klnshlp


19) A. L. KROEDER. Clnsslflcatory, Systems of RelattonshllJ, Joum. 0/ Tcrmlnology ta Soclnl Classlflcatlon, Am er. An tilrpp., n. 5., vol. 39 (l937);
the Roval Antllropol. Institu te, vol. 39. 1909 . A. M. HALPERN, Yuma Klnshlp Tcrms, ibid., H (1912).

54 55

;.
tee dois tipos de atitudes: primeiramcnte as atitud cs ~ pornos fazer aqui par-3 um problema considerado com justiça
nao-cristalizadas e desprovidas de carMer instit ucio;;ar,--aa; camo a ponto de partida de qua lquer teoria de atitud-es: 0
". quais se pode admit ir que sao, no pIano psi.coI6gico, 0 reflexo do tio materno. Tentaremos mostrar camo uma trélnspasiçao
.
n <,,' ''"v.~r, ..J:l?ou a eflorescência da terminologia; e I1comitantemente, ou l'armaI do método seguido pela fanalogia permitc esc1arecer
. ~~- além da s precedentes~ as atitudes es tilizada obrigatôrias, êste problema sob uma nova luz. Se os soci6logos lhe atri·
d'Sancionadas por tabus ou privilégias, e exprimem atra- buiram uma atençao particular, ê? realmente, apena s porque

I il.
.
vés de cerimonial fixa. Long-e d e refletir automâticamente
a nomenclatura, estas atitudes aparecem freqüentemente
como elaboraç6es secundârias dcstinadas a reso lv er contra-
a relaçaa entre a tio materno e a sobrinho parecia se cons-
t itu ir em objeto de um importante desenvolvim ento nu m
gran de numera de soc idades pr imit ivas. Mas nao basta co ns-
diç6es e superar insufic iências inerentes aD sistema termino- tatar esta freqüência; é precisa descobrir sua raûio.
16gico. :Bste carilter sintétic6 ressalta de maneira particular- Recordemos ràpidamente as pr in cipais etapas do desen -
mente surpreendente entre o S W ik Munkan da Austrâlia; volvÎmento dêste problema. Durante todo 0 século XIX e
neste grupo, os privilêgi os de zomba ria vêm sancionar um a
contraqiçao entre as r-r..laç6es de parcntesco que unem dois (j) até Sydn ey Har tland,25 interpretau-se natu ralme nte a impar-
tância do tic materna como uma sobrevivência de um reg i-
homens, prêviamente ;t seu casamento, c a relaçao teorica me matrîlinear. Ëste conlinuava puramente hipotético, e -sua
que. seria necessario supor entre êles para .explîcar se u casa- poss ibilidad e era particuJarmente duvidosa em vista dos
mento subseqüente corn cluas mulheres que nao se encontram, exemplos europeus. Par outro Jado, a tpntativa de R ivers 2 G
entre si, na relaçao correspondente.~3 tIâ contradiçao entre para exp li car a importância do tio materna na fndia do Sul
dois sistemas possiveis de nomenclatura, C 0 acento pasto como urn residuo do casamento entre primas cruzados termi~
1 "as atI tu des rep resenta u m esfôrço para integrar, ou uItra- nava num re sultado particularmcnte af li tivo: 0 prôprio autor
)3àssa t, esta contradiçao entre os termos. Concordaremos s-zm teve que reconhecer que esta interpretaçao nao podia expH-
: diTlculâade corn Raê-:lilfe-Brown para afirmar a existência car todos os aspectas do problema , e êle se resignava à hip6-

~
f!:' de "re]açôes reais de interdependência entre a t-erminologia tese de que varias costumes heterogêneos, e agora desapare-
. e (, resto do sistema" ;2' ao menas alguns de se us cr îticos se cidos (o casamento de primos sendo apenas um dêJ.es) ,
. '" enga naram, conclui nd o , da ausência de um paralelismo rigo- tivessem que ser invocadas p3.ra compreender a ex istência
. , , roso entre atitudes c nomenclatura, a autonornia recÎproca de umLl ûnica institlliçâo . 0 atomismo e 0 mecanicismo triun-
das cluas ordens. Mas esta relaçao de interdepend ênc ia nao favam .27 De fato. é somen te corn 0 artiga capital de Lowie
ê uma correspondência têr mo a térmo. 0 sistema de at itudes sôbre 0 complexo matrilinear:!8 que sc abre 0 que sc poderia
constituî an tes uma integraçao dinâmica do sistema termino- denom inar a 'rase modern a" do problema do av un cu lado.
légico. . Lowie mostra que a corr-elaçao invocada, ou postulada, ell-
. Mesmo na hipôtese ........ a que aderimos sem reserva --- de t e a redominância do tic mater no e um reg ime matrilinear
uma relaçao funcional entre os dois sistemas, tem- se pois 0 r.Üio resiste à ana ise; de ata: 0 avuncu ado sC' encontra as-
direito, por razôes de mêtodo, de tratar os problemas a feren- sociado a regimes pa t rilin-eares tanto quanto <;1 regimes ma-
tes a cada um coma problemas separados. É 0 que nos pro-

25) S . HARTLA.NO, Matr1 J!ncal Klnshlp and the Qeustlon of tta Prlority,
Mem. 01 the Am~r. Anthrop . A '30C ., -1 (917).
23) D. F. THOMSON, The Jokln s-Relatlonshlp and Organlzed Obsccnlty
in North Que::nsland, Amer. Anthrop., n . s. vol. 37 (1935). 2(1)W. Ii. R. RIVERS. The MarI age ot Cousins ln Indla Jauni. 01 tlte
ROyal A.fiatlc SOCkty, julho. 1907 .
24) The Study of Klnshlp Systems. op. c it., p . 8. Esta ûltlma f 6rmula
de Radclltrc-Brown IlOS parcce multo mals satlsfn.t6rla. d o q u~ s ua. a.flr- 27) Op. dt ., p. 62'1.
ma çâo. dc 1035, de que as atltudes apresentam "um grau rn7..oo.vel mc·' te
alto de corr:lnçl'to corn Il clnsslt1caçflo terml:loI6gtcll" (Am ~ r . Anthrc.p., 28 ) R. H. LOWœ. The Matrlllncai Complex. Un1v. 0/ Ca l i /o mla Publ. in
n . s., 1935. p. 53) (cm In g:lês, no orIgInal - notn do T). Ami"r. A rcha~ol. and Ethn ol .. 16 ( 1919), n 9 2.

56 57
tri1ineare~. 0 papel do tio materne nao se explica como urna g ir; seu célebre artigo sôbre 0 tio materno na Africa do Sul 110
conseqi.iência ou sobrevivência de uro regime de direito ma- é a primeira ten tativa para atingi r e. analisar as modalidades
terno: é s6mentc a aplicaçâo particu1.3r "de uma tendência do q ue poderiamos de nomina r 0 "pr incipio ge ral da qualifi-
muito ge.ral de associar relaç6es seciais definidas corn for- caçao de atitudes". Bastarâ recordar ràpidamentc, aqui, as
mas definidas de parentesco sem considera r 0 la do materno teses fun clame ntais déste estudo, hoje clâssico.
ou paterno'·. Ëste princîpio, introduziclo pela prim-eira vez Segundo Radcliffe-Brown, 0 têrmo avunculado recob re
por Lowie cm 1919 , scgundo 0 qu.al existe uma tcndência dois 'STtèrnas de atltudes antitéticas: num casa, 0 fIa materno
ge.Ta l paril qualificar a.s a(itl./des, constitui a ùnica base posi- J epresentâ a tor iô5ële amil ia I; êle é tem ido. . . . respeitado,

j tiVéJ de uma reoria de. 'sistemas de. parentesc.o. Mas ao mesmo


tempo. LO\l,:ie deixava aigu mas quest6e.s sem resposta: 0 que
::>c de·nominéJ. corn e:xatidao, de avunculado? Nao se confun-
dem soh U!l1 ûni:::o têrmo costumes e atitucles diferentes? E
l' .
1
oDe CCI 0 e pOSSUI direitas sôbre seu sobrinho; " _0 outra, é a
sobrin 0 q uem exerce priv il égios de familiaridad,e cm relaçao
a seu tio, e pooe trata -lo mais ou "ii1eIios CO>;!lO vitima. Em se-
gundo lugar, existe uma correlaçao entre a atitude face ao t io

j se é ve.rdadc que existe uma k~: ndëncia para qualifjcar tôclas


as atitude.s. por q ue somenlc algumas atitudes se encontram
3ssociad<Js à rc.laçao avuncular, e !laO, seg undo OS grupos
ccnsidcrados, quaisquer atitudes possiveis?
mater no e a atitude cam relaçao ao pai . Em ambos os casas,
encont ramos os me.smos doi s sistemas de atitucl-es, ma s invçr-
tidos: nos grupos onde a relaçao entre 0 pai e Who é fami-
liar, a relaçao entre tio materna e sobrinho é ri gorosa : e la
Abrilmos aqui um paréntese para s ublinhar a ana logia onde 0 pai aparece como 0 austero depos itârio da autoridade
su rpreendente que se manifesta entre a marcha de nasso familial, é 0 tio que é tratado corn liberdade, Os dois grupos
proble:ma c ccrtas etapas da r-eflexao lingüist ica : a diversi-
dade da. s atitudes possiveis no dominio cla s relaç6e:s inter in-
• dividuais ê pràt icamente jJimitada; dâ-se a mesmo para a di-
vcrsidade de sons qu·e 0 aparelho vocal ' pode articul.a r, e
produz efetivamente, no s primeiros meses da vida humana. :1
f/
" de atitudes formam en tao, coma diria 0 fonô logo, pois pares
de oposiçôes. Radcliffe-Brow n terminava propondo uma in-
terpre açao do fenôme no: a ~:I iaçao Nd-e:term ina, cm '1~ltima
anâHse, 0 sentido destas oposiçôes. a regime patn mear,
onde 0 pai e a Ii nhagem do pai representam a autoridad-e t(a~
Contudo. c3da lingua so retém um nûmero m uito pequeno clicional, 0 tio materna é considera do cOQlQJ.ma "mac mas-
d entre todas os so ns possiveis. e a lingli istica se coloca duas culi na", geralmente irataclo da mesma ma neira e às vêzcs
questôes a êste respeito: porque faram selecionados alguns
sons? Que relaçôes existem entre um ou muitas sons esco·
mesmo c~al"Tlado p~Jo me smo têrmo que a. mac. A situaçao
inversa se encontra realizada no regime matrilinear: ai 0 tio
lhidos c todos os outros? 2!l Nossa esbôço da historia do pro-
materno encarna a autorid<lde, e as relaç6es de ternura e de
blema do tia materno sc encol)t ra precisa mente no mesmo fami liaridade se fixam no pai e em sua linhagem.
estag io: 0 .grupo social, como a. li ngua, encontra à sua dis- Dificilmcnte se poderia exagerar a impor tânc ia des ta
posiç.ao um mater ial psicofisiol6gico muito rico , do rnesmo contribuiçao de Radcliffe-Brown. Apos a impiedosa critica
modo que a Iingua, êle retém apenas a lguns e1em entos, dos
da metafisica evolucionista, tao magistralmente conduzida
quais ao menos alguns permanecem os mcsmos através das
par Lowie, 0 esfôrço de sintese é retomado numa base posi-
culturas m3is divet'sas, e qu-e ê:le combina cm estruturas sem-
tiva. Dizer que êste esfôrço nao atingiu de urna sô vez 0
pre diversificaclas. Pergunta -se, pois. quaI é a ra zao da esco-
seu têrmo nao é por certo atenuar a homenagem que se deve
1ha , e quais sac as leis de combinaçao,
No que concerne ao problema particular da relaçao prestar ao nrande soci61ogo inglês. Reconheçamos, poi s, que
avuncular, é en tao para gadcliffe-Brown que convém se diri- o artigo de Radcliffe-Brow n deixa, também êle, abertas

20 1 n. JAKOBSON, KlnderSl'rach,c, AphaSie und allgeT"'l.einc Lautçesetze :l0) A. R. RADCL1FFE-BROWN. The Mothcr's Drother ln South ArrIen.
SOllth Ajncan Journal oj S'ctellce, vol. 21 (1924).
t Upsala , 1941).

58 59


-- -
~1
questôes tremendas: cm primeiro 1U9a[, 0 avunculado naD se
encoot ra presente t'ID I"odos OS sistemas matrilineares e pa-
trilineares; e encontramo-lo às vêz~m sistemas ~nâ. o sâo
nem uro nem outrO. 31 Em segu ida, a re:1açao av un cul ar nao
1
,
1
me lha a sua irma: 0 Câucaso oferece uro equivale:nte des ta'
proibiçâo, corn a int.erdiçao de Se indagar de um homem
a respeito da saude d.e s ua mulher.
Quando se consideram sociedades do tipo "Tcherkesse '"
":1
1
~I

"l,
~
C'-' s ~ i: uma relaçao a dois, mas a_ quatro térm'Os: cla sup6e um ir- 1
ou do tipo "Trobriand", naD basta e.ntao cstudar a correlaçâo· .,
1

mao, uma irmâ, um cunhado e um sobrinho. Uma interpreta-


1 de atitudeso pai/[ill-to e lia/fi/ho da imlli, Esta correlaçao é ~o
0/'
'"' . . ,'UJ ' Q::-' çao como a de Radcliffe-Brown isola arbltràriamente certo~ apenas um aspecte d e um sistema gJobal: onde se acham

P"
elementos de urna es tru tura global. e ue dev.e sec tratadà ca-
mo ta. gun5 exemp os simp es salie ntarËio esta dup <3 (ljfJ:.
presen tes quatro tipos de relaçôes orgânicamente ligados, a
saber: irmao/irma, marido/mulher, paiffilho, tio mat./filho 1
culdade, da irmii. Os dois grupos que nos serviram de exemplo forne-·
~organjzaçâo social clos indigenas das ilhas Trobriand, cern arnbos aplicaçô'es d·2 urna lei que se pode fo rmular as- ,
nô Melanésia. se caracteriza pda filiaçao matrilinear, relaçôes sim: nos dois gru pos, a reJa çao entre tio materno e sobri·
livres c . famili ares entre pai e filho. e um antago nismo <Jeen- nho estâ para a relaçào entre irm âo e irmâ, camo a relaçao
tuado entre ti at mo e sobrinho. :\2 Ao contrâri(\. os entre pai c [i l ho esta para a relaçao entre marido e mulher .
T ë er ess e: do Caucaso, qu.e s50 patrili neares, situam a hos- .llisde gue um par de relaçôes sc ja conhecido, sera sem pre
tilidade entre pai e Who, ao passa que 0 tio materna ajuda ft> possivel deduzjr 0 G1I tro .
seu sobri nh o, presenteando-a corn tlm cavala quando ële ,<::'p' Exarninemos, agora , outras casos. Em Tonga, na Poli-
t:asa. 33 Até aqui, estamos nos limites do esqu·e:ma de Rad~ nésia, a filiaç50 é patrilinear, camo entre os Tcherkesse. As'
cliffe-Brown. Ma s consideremos as outras relaçôes familia is relaçôes entre marido e mulhcr parecem publicas e harmo-
-e:m causa: Malinowski mostrou que nas i1has Trobriand, ma- niosas: as querela ::; domésticas sao ra ras e, se bem que pos-
rido e mul her vivem numa atmosfera de intimidade terna e que sua freqüentement e um status superior ao de seu marido. a
suas relaçôes apresenta m carâter de reciprocidade. Em com- mulher "na a nutre a menor pensarnento de rebeliâo a seu
pe~saçao as relaçôes entre irmao e irma sâo dominadas par respeito.. para tôdas as questôes domésticas, da se subme-
um tabu de extremo rigor. QuaI é a situaçao no Caucaso? te de barn grada à sua autoridad e ~o mesmo modo, ~cl n a
A reJaçâo entre irmao e irma é que é a reJaçao terna, a tal a maior Iiberdade entre ° tio materno e 0 sobrinho: êste é
ponta que, entre: os Pschav, uma filha ùnica "adota '" um fa1hu, acima da lei, face a seu tio, corn 0 quai tôdas intimida -
irmao que desernpenhara junto dela 0 papel, habituaI ao ir- des sac permitida s. A estas relaçoes livres se opôem as rc-
mao, de casto companheiro de. Ieito, 3 ,' Mas a situaçao é com~ Jaç6es· entre um filho e seu pai. b st e é tapu, é· proibido ao fi-
pletamente difeœnte entre esp.osos: um Tcherkess nao vusa Iho tocar sua cabeça ou cabelos, roça -Jo enquanto come, dor~
aparecer pùblicamente corn sua mulher e sé a visita em se- mir em seu leito ou sôbre seu travesseiro, partilhar sua bebi-
grêdo. Segundo Malinowski, nao existe insu lto mais 9rave. da ou seu alimenta, mexe r nos objetos que Ihe pertencem.
cm Trobriand, do que dizer a um hornem que éJe se a sse- Entretanto, a mais forte de todos os télpU é 0 que prevalece
entre irmâo e irma, q ue nem podern [icar juntos sob 0 mesm o
teto. 3 ;';
31) Asslm os Mundogomor da No\'a-Gulné, ond!! a rel&çri.o entre Llo ma-
1:erno e sobrln ho é constantement'! famlllar, ao passo que 0. tlllaçAo é Se bem que sejam também patrilineares e patrilocais, OS
altcrnatlvamentc patrllln~ar c matr1l1ncar. cr. Margar!!t MEAD, Sex !lnd
Temperament fn PrimitIve Socie ttC8 (Nova Iorque, 1935), pp. 176-185. Îndigenas do lago Kutubu, na Nova-Guiné, oferecem 0 exem-
32) B . MALINOWSKI. The Scxual Ltfe of Savoycs in Northwe.,tern Me/a- plo de urna estrutura inversa da PEecedente: "Jamais vi asso~
7lesia (Londres,1929). 2 vols.
33) DUBOIS DE MONPEREUX (1839), cltado segundo M. KOVALEVSKI.
l a Famille matriarcale au C!\ucalle. L'Anthropoloyie, t . .; (1893) . 35) E. W. GIFFORD. Tonga Society, B. P. BisJwp Museum Bui/etin, n9 61,
HOllolulu. 1929, pp. 16· 22
34) I bid .

60 61


'. - r
ciaçao tao intima entre pai c filh o", escreve F . E. Williams faz.er alusào aos podéres de fci tiçaria de urna mulhe r de
a set! respeito. As relaçôes en tre marido e muiher sac ca- modo que 0 seu marido passa ouvîr". parece uma per~uta-
racterizadas pela status muito baixo atribu ido ao sexo femi-
nino. "a separaçao figorosa entre os centres de intêresse mas-
culino e ferninin o" . As mulheres. diz Williams, "devem tra·
balhar duramente para seu senhac ... de vez cm quando elas +
protestam e n~cebem um a s urra". Contra seu marido , a mu -
1her se beneficia sem pre da proteçao de seu irmao. e é: junto
dë!e que procura refùgio. Quanto às rel açôes entre 0 sabri-
nho e tia materna: "0 que melhar as restlme é 0 têrmo "res-
r-e.ito" . . , corn um matiz de t entor ", pois 0 tic matern a tem
+
o poder (como en tr e os Kipsigi da Africa) de maldizer seu
50brinho e afligi-lo cam uma grave doenç3 . :lf;
l'c:hcrk:e s s ea.- p!l.tr il in • .
Esta ûlt ima estr utur a , tjra cl a de urna socie:dade patJ· i!i~
J1Car ê entretanto. do m gs lllO tiro que a dos Slual de Bou-
gainville, que tem filiaçâo matrilinear. Entre irrnao e irma, + ,
" r elaçôes arnigaveis e generosidade r·~ ciproca". Entre pai e i

lilho "nada indica urna relaçao de hostilidade. de autorida- A== 0 A


T rob r jllnd . ~ mll,trll11'\.
de rigida ou de re speito tem-ero so" . Mas as re laçôes do 50-
brinho corn seu tio materna situam-se "entre a disciplina ri-
gida e urna interdepcndência naturalmente ~-econhecida". To- + ,
-\ +
davia, "os inrormanfes di zem que todos os rapazes têm um
4
certo pavor de seu tio materno e Ihe ob-edecem melhor do
que ao pai". No que concerne ao mar id o e à mulhcr. nao pa- 10n, ... _ Pôtr1l1n .

rece que rein a uma boa harmonia e nt re êles: "Poucas jo-


Yens cspôsas sao fiéis ... os joven s maridos sao sem pre des-
confiados , propensos a c61eras ciumcntas ... 0 casamento im-
i - +
i
plica cm tôda espéci-e de a ju stamentos dificeis" . J 7 6= 0 .6.

+\
Slua i.- ~Il, t rilin.
Quadro idêntico, mas ainoa mais acentuado em Dobu:
matrilîneares e vizinhos de Tiobriand, t3mbém matrilinear,
mas corn uma estrutura bem diferente. Os casa is de Dobu .6.
, i
sac instaveis . praticam assid uam-ente 0 adultério, e marido c
mulher temem sem pre perecer pela feitiçaria um do outro. De
Iato . a observaçao de Fortune de "que é uro grave insulto 1.4c Xutubu,- pa.trJlIn.

J6 ) F'. E. WILLIAMS. Na tives of Lake Kutubu. Pa:1ua. Oceania, vol. JI. PlO.
1940 -1 941 e 12. 1941-194 2. pp. 205-280 d o '101. Il. Group Sentiment and
PrimItive Justice. A.merican A nthropologist, vol. 43. n~ 4. Pt. 1. 194L
çâo das proibiç6es de Trobriand e do Câucaso anterÎormente
·37) • Douglas L . OLrVER , A. Salomon I sland Society . K i Tl sh ip and Leader- citadas.
shfp amOn!} t he 01 Bauf/ainvllle. Cam brldp::'!. Mass . 1955. pa.Jsitn.

62 63 ,

1
Em Debu, 0, irm ao cl'.! mfle é considerado como 0 mais ( Raoul de Cambrai, Gesta dos Loherains etc), a relaçao po-
severo de todos oS parentes. hI e bate cm seus so brin hos sltlva se estabeleceant-es entre pai e filho, c s6 se desloca
muito tempo dép01S q ue seu S pais deixaram de fazê~ l o", e progressivamente para 0 tio materna e 0 sabrinho. 4 0
é pro ibido pronunciar se u nome. 'Ë. ceftc q ue existe relaçao
terna corn 0 "umbigo", marido da irma da mac, isto é, um

duplo do pai, mais do que Calll 0 proprio pai. C on tudo, 0 pai

ê: considerado como senda "menas severo" do que 0 ti o, e ,
Vern os pois ·11 que 0 avunculado. para ser eampreendi-
contràriament e à lei de transmissao hereditar ia, êle sem pee
do, deve se c tratado corno uma rela çao antcrior a uro siste-
pro::ura favoreccr seu Who à clista de seu 50brinho ute ri-
ma , e que é 0 proprio sistema que deve sec considCt"aao em
no. seu conjunto, para se perce bef sua estrutura, Esta .estrutura
Enfim, 0 cio entre irm ao c irma é "0 mais fort e: de todos
es~a f.und ada, ela prépria , sôbre quatro têrmos (irmao, irmâ .
os clos soda 15" . 38 pal, ~Jlha) , unidos ent re si poc dois pares de aposiç6es coc-
o que se dev e cond uir des tes exemp les? A correlaçao rel atlv?s, e ta is que . em cada uma das d uas geraç6es em cau-

ii
entre formas de av unculado e tipas de filiaçao nào esgota 0

/<r
s~ ' eX iste sem pre urn a relaçao positiva e uma re1aç50 n ega-
prob lema. Diferen te s fo rm as de avunculado pod ern coexistir , S' tl_va, Agora , 0 q ue é es ta estrut ura e quaI pode sec a sua 1'a-
corn um m'ësmo bpo d'rlHiaçau;-paffîlïrfêar ou maffili near. zao? A cesposta é a segui nte: esta est rutura é a estrutura de
1VIas encon tramos sempre a I11 csma relaçâo fundam enta lentTe pa~e~tesco mais simp les que se pode coneeber e que pode
os quatro pares de oposiç6es que sao necessarios para a eJa- eXIstlr. É , para sermos exatos, 0 elemento do parentesco . .
boraçâo do sistema. Isto aparecera mais claram en te nos es- Em apoio d esta aEirmaçâo, pode-se fazer valer um a rgu-
quemas q ue ilustram nossos ex~mp los, e onde a si nai re - + mento d.e oc~em 16giea : para que uma estrutura d e paren-
prese nta as relaç6es livres e familiares , 0 sinal as t-e:co .exlsta, e necessario qu e se encont rem presentes nela OS
re laçôes aeentuadas pela hostilidade, antagonisme ou rese r- t~es tlpas. d e relaç6es fam iliais sem pre dadas na sociedade
/
va (Fig. 1). Esta simplif icaçào nao é inte iramente legitima, h~rn a na, Isto é, urn a- rel açâo de consang üinidade. uma rela -
mas pode-se utiliza-la de manei ra pravi séria. Mais adiante çao de al~an~a . um a relaçao ,de filiaçâo; e.m -outras palavras.
, procedere mas âs distinçô€.s indispc nsaveis. uma- relaçao de germano corn germana , um a relaçao de espô-
1 A lei sincrôn ica de: cOHelaçao élssim sug e:rida pode ser s~ .com espôsa , uma re Jaçao d e pai (ou mâe) corn filho. É
l ve ri ficada diacrônicamente:. Se resumi mos a evoIuçâo das rc- fa~ il se ~xplicar que a estrutura aqui eonsiderada é a que per-

l,
..
laçOe:s familia is na l dade Mê:dia, tal como ressalta da exposi-
çâo de Howa rd, obtê:rn-se 0 seg ui nte esquema aproximativo :
o poder do irmâo sôbre a irmâ diminui, 0 do marido prospe-
mite s~tl s fazer a esta tripliee exigência, seg und o 0 principio
da malOr econom ia. Mas as consideraç6es preceden tes têm
u m ca rater abstrato, e uma prova mais direta pode ser in-
!: tTvo aumenta. Sirnultâ nea mente. 0 cIo entre pal ë Till'ï"OSe de-
bilita, 0 eIo entre tio mater no e sobrinhe se reforça . 3~
vocacla para nossa demonstraçao,
1
,1 Esta evoluçâo pareee eonfirmada pelos documentos reu -
niclos pOl' L. Gau tier , pois, nos tex tos " conservadores"
"

,l
l, 38) Reo F. FORTUNE , The SOTceTers of Dobu , Nova Iorq uc, 1932, p p . 8 .
ID, 45. 62-64, etc .
1 39 1 O . E, HOW AR D, A fllS to TJI of Matrimonia l In stitu t ion s. 3 vo l s ..
1 Chica go. 19(}4.
i
,,1 65
,, 64

.'...1;.-- """---
-. -';- -_ -
.. --,:'

o carMer primitivo .e irredutivel do elemento de paren- a origem do avunculado, e n6s desembaraçamos d esta pesqui~
tesce ta I como 0 definimos, resulta realmente de modo ime- sa tratando 0 irmao da mac, nao COntO uro elemento extr in ~
diato: da cxistência universal da ~S'ibiçao do jnceSto~Isto seco, mas como um clado imed iat.o da est rutura familial mais
cquivale a ciizer que, na sociedade humana: um homem 50 simples. Como é que se dâ entao que nao encontramos 0
pode ob ter uma mulher de um outro homem. que lha cede avuncu lado sempre e em tôda parte? . Pois, se 0 avunculado
sob forma de filha ou de Irma. Nao ternos , pois, necessicla- apresenta uma distribuiçao muito freqüente. êle nao é, con-
de de explicar como 0 tic materno faz sua apariçao na estru- tudo, universaJ. Seria vao ter evita do a explicaçao de cas os
tura de parentesco: êle naD aparece, êle é imediatamente d q - onde êle se acha presente para fracassa r apenas diante de
do, ële é a sua condiçâo. 0 êrro da 50cio109 ia tradiciona l , sua ausência.
como da lingüîstica tradicional, é de ter considerado os tér- N Observcmos in icialmente que 0 sistema de parentesco
mûs, e nao as relaç6es entre os têrmos. nao tem a mesrna im'portância em tôdas as culturas. Ële for~
Antes de continuélrmos, eliminemos ràpidamente algumas nece a algumas 0 principio -ativo que rcgula tôdas as rela~
objeç6es que poderiam vif ao cspirito. Em primeiro 1ugar, se: .ç6es sodais , ou é1 maior parte de las. Em outros grupos , co-
a relaça o dos " cunhados" form a 0 c ixo in eyitavel em tôrno n:o nossa socîedade , esta funçao est§. ausente ou ocm redu -
do quaI se constrôi a estrutura do parentesco, par que fazer zlda ; em outras ainda , camo as sociedades dos indios das
intervir a criança saida do casamento na estrutura elementa r? P lanlces, cla 56 estâ parcialmcnte preenchida. 0 sistema de
Deve ficar enten di clo que a criança repre:senta ta lvez tanto pare ntesco é .urna Jinguagem; nao é uma linguagem u niversal ,
a criança nascida como a nascer. Mas dito isto, a cfiança é e outros melOS de expressao e açao padern. ser preferidos:
in dispensâve1 para atestar 0 carater dinâmico e te1eo16gico do Do ponto de vista do soci610go, isto equivale a dizer que , em
procedimento inicial, que fu nda 0 parente:sco na e através da presença de: urna cultura determinada, se co10ca sem pre uma
al iança. 0 parentesco nao é um fenômeno .estâtico : 56 e xiste q uestao preliminar: sera que 0 sistema é sistemàtico? Uma
para se perpetuar. Nilo pen samos aqu i no desejo de perpe- ta l questâo, absurda à primeira vista , s6 0 seria re:alm ent~
tuar a raça, mas no fata de que , na maior parte dos sÎstemas 'Cm relaçâo à li!1gua; po is a Jing ua é 0 sistema de significaçao
de pare:ntesco, 0 desequilibrio inicial que se: produz, numa por excelência; ela nao pode: 1130 sign ificar, e 0 todo de sua
dada geraçao, ent re 0 que cede uma mu lher e 0 que a [ece- ex istência esta na significaçao. Ao contrario, a questao deve
be, 56 pode se es tabi lizar pelas contraprestaç6es que se su- sel' exarninada corn um ri gor crcscente, à medida q ue nos
cedem nas geraçôes ulteriores, Mesmo a estrutura de paren- a~astamos da lingua para encarar outros sistemas, que tam-
tesco mais ele:mentar existe 's imuItâneamente na ord.em sin- b:-ffi pretendem à significaçao , mas cujo valo r de significa-
crônica e na ordem diacrônica. çao pe:rmanece parcial. fragmentario ou subjetîvo : organiza-
Em segundo lugar, nao se,. poderia conce:ber uma estru-
-çao social, arte, etc.
tura simétrica, de mua simplicidade igua1, mas onde oS sexos Além d isto, nos interpretamos 0 a vunculado coma um
fôssem invertidos, isto é, urna 'estrutura im plicando urna ir- traço caracteristico da estr~tura elementar. Esta estrutura

(j)a
ma, seu irmâo a mulher dêste ultimo, e a filha nascida d e ..q e1eme?tar, resultante de re laçôes _s1cfi~Lentr.L.q.~ têr-
su'a un iao? Se~ dûvida: mas esta possib i1 idade: te6rica pode
m~s c'. ao nosso ver.(3C'"verdadeiro atomo do parente~ 42
ser imediatamente eliminada corn base expe rimental: na socie- Nao ha existência que possa ser concebida -ou' dada fora das
A
dade humana, Sa,E. os homens que troca m as mulberes, nao 0
contrârl o. Resta pesquisar se algumas cult uras nao tenderam
"y\ :xig~ncia.s .fu ndame~ta is de sua es~rutura e, por outro lado.
.ele e 0 UTIlCO rnalenal de cons truçao de sistemas ma is COffi-
( a realizar uma espécie de irnage:m ficticia desta cstrutura si~
métrica. Os casos so podern ser raroS.
C hegamos e:ntao a uma objeçâo mais grave. Realmente:, ~;/tl ~ s~guramente supér!luo subllnhar que 0 atomlsmo tal como 0
poderia acon tee el' qu e apenas t ivéss-e:mos conseguido revirar 1:uraf'\~OSâ em Rlvers, é 0 da fll oso!1a c1As.slca e nAo a COl1CCpÇâ.O estru-
o tomo, tal como a en coutramos na !lslca modern3.
o problema , A sociologia traclic ion a l se obstînou em exp1icar

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66
......
.....
-i
,
,:"Î:

plexos . Pois existem s is temas mais complexos : QU, para se r- atitude resultante d a troca de prestaç 6e:s e contraprestaçôes: :;
mo::; mais exatos. qualquer sistema de paren tesco é elaborado e. além destas rel açôes bila ter ia is, ciuas relaçôes unilatera is ,
u ma correspondente à atitude do C rE~do r, ou tra à do devedor.
a partir da repetiçao dcsta estrutura e1ementar, ou de sen de -
Ou melhor: mutu alidade ( =); reciprocidade ( ±) direi to
sen volvimento poc integ raçao de novos .e 1ementos. É preciso.
pois , encarar du as hipéteses: aquela onde 0 sistema de pa-
( + ); obrigaçao (-); estas quatro ati tudes lundamentais
podern ser represcntadas cm suas re laçôes redprocas, da se 4

rentesco considerado procede poc justaposi çâo simpl.es de eS-


guinte maneira :
truturas elementares, e ond e, por conseg uinte, a relaçâo avu n-
cular pe rmanece constan temente aparente; e a relaçao onde = . 1 '

a unidade de construçâo do sisterna ja é de ord cm rnui to mais


compl exa . Neste ûltimo caso, a relaçâo avu nc ul ar, mesmo es-
tando presente. podera estar imersa n um contexto diferencia-
do . Por exemplo, pod e-se conceber uro sistema , tomando como
ponta de partida a es trutura clementar , mas incorpora nd o a
el.a, à dir"eita do tio materno, () roulher dêste ültimo· c, à es-
Fig. 2.
qucrda do pai, primeiramente a irma do pa i, depois 0 marido
destq.' Poder-se-ia demonstrar fàc ilmente que um desenvol.
vimento des ta ordem aca rr eta, na geraçao seguin te, um de s- Em muitos sistemas, a re: laçao en t re dois individuos se
dobramento paral.elo: a criança deve ser en tao disti ngui da exp rime freqüentemente , nao por uma (mica atitude, mas por
em um Who e uma fil ha , cada quaI unido par uma rclaçao varias d elas q ue formam, por assim dizer. um fei xe (assim ,
'simétrica ·e inversa aos têrmos que o::: upam na est rutura as nas ilhas Trobriand. entre marido e mulher encontra-se mu-
outras posiçoes periféricas (posiçao preponderante da Irma tualidacle mais reciprocidade). Existe ai uma razao suple·
do pai na Polinésia , nhlampsa sul-a fricana, e herança da mu- mentar pela qua I pode se r difi cil di sti nguir a estrutura fun-
Ihe r do irmao da mâe) . Numa estrutura desta ordem, a re 4

d a mental.
laçao avuncular contin ua a ser manifesta ; mas ja nao é mais
predominante. Ela pode de.s aparecer, ou se confundir corn ou-
t ras, em estruturas de urna complexidade a inda maior. Mas
precisa mente p orque provém da est rutura clementar, a relaçao


Tentamos mos( rar tudo 0 que a (ln ali~ precedente deve


-
avuncular reapa rec e cJaramente, ' e tende a se destaca r corn ·
ên fa se, cada vez que 0 sist ema considerado a presen ta um as-
pec to critico: seja porque esta cm trans forma çao ràpida (cos-
aos mes tres contemporâneos da sociologîa primitiva . Entre-
tanto, é preciso sublinhar que, no ponte mais fundamental,
eta se afasta de seu ensinam ento. Ci ternos, por exempto,
.. •
ta noroeste do Pacjfico); seja porque se encontra no ponta Radcliffe-Brown:
de contato e conflito entre culturas prof und am en te dif eren- A unidadc de estrutu ra da qua! se constré i am paren·

~~ J
tes \ F idji. .lndia do Su l); ou, enfim, po rque est à prestes a tesco é 0 grupo q ue denomino uma "'familia e[ementar", a
so lrer uma crise fatal (!dade Média europ éia ),
. quaI consiste cm um homem e sua mu/her e seu !ilho (a) ou
Enfjrn. seria necessario acrescentar que os sim bolos, po-
,. [Ilhos (as) A eXlstência da famil ia elementar cria trés
sitivo e ne gativo, que ut ili za mos nos esquemas precedentes.
representam um a simplificaçao excessiva, aceit avel somente
como uma etapa da demonstraçâo. Na realidade 0 sistema d e
~
t:)
'/-.,
t i pOS espeClalS de rclaçôes socwis. entre paL (mae) e litho (a).
e~lre f i/Il os (as) dos mcsmos pais (germanos) . e entre mla-
ndo c mu/her coma pais do mcsmo fi/h o (a) ou fi/hos (as) .. '
..•
,It.

,
/t' .~ti tu des elementares compreende ao menos quatro tê~:
uma atitude de afei .âQ.~rnura e de espon tanei dad e ; uma
As tris rclaçoes que existem dcntro da familia /elementa r
con!:tituem 0 que denomino de primeira ordem. Relaçoes de ,.

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"
- -
laçâo entre êstes têrm os. Nen huma outra interpretaçao pode
segunda 'ordem sao aquelas que d ependem da co ncxlio de explica: a universaliclade da praibiçao do incesto. da qu a I
duas familias elem entares Btravés de um membro C011lunt, tai a relaçao avunc ul ar, cm seu aspecta mais guaI, é so men te
como 0 pai do pai, 0 irmiio da m'âe, a irmâ da cspôsa, e as-
um coralâd o, ora manifesta e or? dis fa rçado.
sint por diante. Na terceira ordent estâo pessoas como 0 Porque sac s istemas d e s imbolos, os sistemas de pareo-
[ilh o do irmao do pai, 8 espôsa do irmao d a mac . Dêste t eSCQ oferecem ao antrop61ogo um campo privilegiado. no
modo podemos traçaI'" se possuimqs-.klformaçao ge neal6g i- quaI se us esforços podem guase (e insistimos sôbre Isto:
ca , re/a çoes de quarta. quinta ou ené.')ima ard em . 4 3 quase) reunir-sc aos da ciência social mais de senvolvida ou
seja, a lingüistica. Mas a condiçao dê.ste e{lcontro do ~ual
A idéia expressa nesta passagem. segundo a qual a fa-
milia biolôgica constitue 0 ponta a partîr do qua I tôda so:i e- se pode esperar um melhor conhecimento do homem é de
cl ad e elabora seu s istema de parentesco, nâo é certamente pr6- nao perder jamais de vista gue no casa do estudo s~ioJ6-
pria do mestre inglês: nem é a que t eria haje cm dia a maior g.ico c~mo no casa do estudo lingüist ico, oestamos cm pieno
una n im icla de Segundo n05sa opiniao, nao exis te umêl idé ia slmbohsmo. Ora, se é: leg itimo e, n um se ntid o, inevitâve1 ,
ma is perigosa . Sem duvida, a familia bio16g ica es tà presen te
recorrer ~à i.ntcrpretaçao natural ista pa ra tentar com preendcr
e se proJonga na sociedade humana, M as 0 que confere ao
a em e rgencl~ d~ pcnsamento siJnb6lico, desde que ëste apa-
pa rentesco seu carater de fato social nao é 0 que ê. le deve
reee, a expl1caçaa deve muda r tao radical mente de natureza
conservar da nature:za: é 0 procedimento esse nciaJ pela
quan ta 0 fenôm e no re ce ntement.e aparecîdo dif ere dos fenô-
qu a I se separa dela , U m sistema de parenteseo nao co n-
s ist-e: nos dos objetivos d e filiaçâo ou eo nsansüiniclad e dadas
menos que ° precederam e prepararam . A partir déste mo-
menta, qu~lquer concessao ao naturalismo arriscaria compro..
en tre os inclividuos; s6 existe na consciência do s hom ens. met.e r os lmensos progressos jâ realizados no dominio lin-
é um -sistema arb itrar Îo de representa çôes . nao 0 desenvol-
güistico. ~ que c.on:eçam a se esboçar ta mbém na socio)ogia
v imen to espontâneo d e uma situaçao d e fato, Certamente
da familla, e arroJar esta ûltim a num empirismo sem inspi-
is to nao significa que esta situaçao de fato seja a utomàtica- raçao nem fecundid ade.
mente co ntradita , ou até sîmplesmente ignorada. Radcliffe-
Brown mostrou, em estudos presentemente clâssicos, qu e os
siste mas de aparência mais rigida e mais artifîcial, como os
sis te mas australianos de classes matrimoniais, levam em con-
sideraçao, cuidadosamente, 0 parentesco biolôgico. Mas u ma .
observaçao tao indiscutivel quanto a sua d-e ixa intae to 0 fa-
to, ao nosso ver decisivo, de. que, na sociedade humana . 0

r parentesco 56 é admit ido a se estabelecer e se perpetuar por


e através de determinadas mOdal idad es de aliança. Dito de
outro modo, as relaçÔ'ts tratadas por Radcliffe-Brown d e "re-
la çôes de primeira ordem" sao funçao, e dependem, das que
ële considera como secundà rias e derivadas. 0 cara ter pri-
mordia l do parentesco humano é -exigir, coma condiçâo de
exis tê;l.(;j-a ;-o-I..elacionamento di sto que Radc1iffe-BrO\\'1l cha-
ma '''{;:: milias elementares;'. Entâo, 0 que é vercladei ramente
"eJcmentar" nao sao as famil ias, têrmos isolados , mas a re-
;W
43) A. R . RADCLIFFE-BROWN, op. cH., p. 2 (em lngl/!s, no original -
Nota do T).

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