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As Quatro Vertentes da Pesquisa sobre o Português do Brasil1

Ricardo Cavaliere

O interesse dos brasileiros pelo estudo da língua portuguesa desponta no período


racionalista de nossos estudos lingüísticos – que se situa entre a publicação do Epítome
de gramática da língua portuguesa, de Antonio de Moraes Silva, em 1806, e a
publicação da Gramática portuguesa, de Julio Ribeiro, em 1881 –, especificamente a
partir do primeiro decênio da Independência, tendo em vista o crescimento de uma nova
visão da língua portuguesa, não só como instrumento de comunicação, mas também
como expressão de nacionalidade e soberania. Em face desse novo olhar sobre o
fenômeno da linguagem e da crescente ampliação do ensino básico tanto nas capitais
das províncias quanto na Corte, os volumes gramaticais se sucedem no prelo, sobretudo
a partir do terceiro decênio dos oitocentos, ávidos pela conquista de um mercado
editorial em expansão.
A proposta desses textos inaugurais, entretanto, raramente ultrapassava o pendor
normativo, em que ainda se impunham ao educando certos valores de uso lingüístico
tipicamente lusitanos, fruto, decerto, da influência vigorosa que os gramáticos
portugueses exerciam em nosso meio intelectual, com destaque para a figura carismática
de Jerônimo Soares Barbosa. Assim, este é um momento em que pouco se cogitava de
construir uma descrição do português segundo o padrão culto brasileiro, não obstante já
se pudesse encontrar, no âmbito dos textos da vanguarda romântica, uma modalidade de
língua literária que incorporava muito do vocabulário e da sintaxe tido como
"brasileirismo".
O período, no entanto, apesar de todos os óbices, legou-nos estudos pontuais
sobre aspectos do português brasileiro, ou do dialeto brasileiro, conforme se costumava
denominar. Tais estudos, hoje, consideramo-los pioneiros na construção do amplo
repertório de textos que viria aprofundar nosso saber sobre a língua, sobretudo a partir
da segunda metade dos oitocentos. Tem-se atribuído ao célebre opúsculo Les différences
que le dialecte brésilien pourrait présenter, comparé à la langue du Portugal, de
Domingos Borges de Barros, o Visconde de Pedra Branca, que vem a lume em 1826,
inserto na Introduction à l'Atlas ethnographique du globe, o privilégio de haver referido
1
Publicado em Lusorama: Revista de Estudos sobre os Países de Língua Portuguesa. Frankfurt am Main:
Domus Editoria Europaea, v. 71-72, nov. 2007, p. 128-159.
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pioneiramente em letra de forma sobre um fato lingüístico típico do português do Brasil.


O informe de Borges de Barros dá conta de oito substantivos que têm significado
distinto no Brasil e em Portugal, a par de referir-se a outros cinqüenta usados
exclusivamente no Brasil.
Na tentativa de conferir maior organização ao estudo sobre os textos que tratam
da língua em terras brasileiras, alguns estudiosos vêm apresentando propostas de
periodização, as primeiras delas vinculadas especificamente aos estudos dialetais. O fato
se deve, naturalmente, à relação necessária que inicialmente se estabelecia entre
português brasileiro e dialeto brasileiro, mercê de um conceito de brasileirismo restrito
aos usos nas áreas lingüísticas regionais. A proposta inaugural de Antenor Nascentes,
que fala em duas grandes fases, pode ser encontrada no pequeno texto Études
dialectologiques au Brésil (Nascentes 1952): primeira fase de 1826 (texto de Domingos
Borges de Barros) a 1920, quando se publica o Dialeto caipira, de Amadeu Amaral;
segunda fase de 1920 a 1952 (época em que publicou os Études). Nascentes fornece ao
leitor profícua informação sobre trabalhos de pequeno vulto publicados no Brasil acerca
das variantes diatópicas do português, cuja consulta revela-se indispensável para quem
queira mergulhar fundo em mais acurada análise historiográfica do assunto.
Em passado não muito distante, uma nova proposta de periodização, ainda
pautada na vinculação do português do Brasil com a dialetologia, foi oferecida ao
público por Carlota Ferreira e Susana Cardoso (Ferreira; Cardoso 1984), que
acrescentam à proposta de Nascentes uma terceira fase, com termo a quo em 1952 –
para as autoras, o marco inaugural está no Decreto 30.643, de 20 de março de 1952, que
define as tarefas da Comissão de Filologia da Casa de Rui Barbosa para a elaboração do
atlas lingüístico do Brasil –, momento em que a Geografia Lingüística sai do papel para
ser uma grata realidade no panorama acadêmico brasileiro.
Não se hão de confundir tais propostas de periodização dos estudos sobre o
português brasileiro – que pertence ao ramo da Historiografia da Lingüística – com as
propostas de periodização do próprio português no Brasil – tema afeito à História da
língua. Nessa última área, lingüistas brasileiros e estrangeiros ligados aos estudos de
caráter sócio-histórico têm-se imposto a indigesta tarefa de traçar um quadro de
periodização do português a partir de sua chegada ao Novo Mundo. Com efeito, erigir
os parâmetros de uma periodização, hoje, com a inconsistência dos dados obtidos das
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fontes documentais, não obstante o esforço louvável que se tem despendido nesse
mister, constitui tarefa de vultosa dificuldade, sobretudo no tocante ao estabelecimento
de critérios seguros para a identificação dos momentos de ruptura e continuidade no
percurso da língua no Brasil.
O texto A periodização do português brasileiro, de Volker Noll (Noll 2005),
busca conjugar critérios de mudança interna aos fatos da história externa, por considerar
que as fases evolutivas de uma língua devem definir-se necessariamente em face da
mudança em sua gramática. Em outra linha, de caráter mais voltado para os fatores da
história externa – dispensada aqui a referência à célebre proposta de periodização de
Serafim da Silva Neto (cf. Silva Neto 1986) – citem-se necessariamente (Schimidt-
Riese 2002; Lobo 2003; Pessoa 2003). Ressalte-se que os aspectos da história externa
do português brasileiro estão em franca investigação por parte dos romanistas alemães,
conforme pode atestar a consulta à página da internet do Romanische Seminar da
Universidade de Munique2, fato que nos conduz a auspicioso futuro, em que uma visão
mais nítida do processo de mudança da língua em solo americano poderá resultar em
quadro periódico bem fundamentado.
No corpo deste trabalho, julgamos mais conveniente referir aos estudos sobre o
português do Brasil numa outra perspectiva, que leva em conta as vertentes de análise
do fato lingüístico que vêm sendo abertas pelos pesquisadores universitários e
estudiosos em geral desde os textos pioneiros do século XIX. Assim, cremos ser
adequado distribuir tais estudos em quatro vertentes primaciais, que certamente poderão
merecer subdivisões em trabalho mais comprometido com o detalhismo e com a exação
descritiva. São elas a vertente dos estudos lexicográficos, dedicada à elaboração de
dicionários, vocabulários ou mesmo pequenos léxicos de brasileirismos; a vertente dos
estudos de descrição lingüística, em que se busca o estudo do português brasileiro
segundo as áreas de interesse da investigação lingüística lato sensu (gramática, léxico,
fonologia, semântica); a vertente dos estudos de política lingüística, cujo escopo
circunda a delicada questão da língua como traço de identidade cultural e expressão da
nacionalidade; e a vertente dos estudos sócio-históricos, cuja produtividade ganha
exponencial nível a partir da segunda metade dos anos noventa do século XX. Não há,
como se percebe, sucessão cronológica entre tais vertentes, já que, a rigor, todas correm

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Consulte, a respeito, a página http://www.uni-muenster.de/Romanistik/dozenten/noll/brfor.htm.
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em paralelo e continuam atuantes no cenário hodierno da produção acadêmica


brasileira.

Primeira vertente: Estudos lexicográficos


As primeiras linhas escritas sobre fatos típicos da língua falada no Brasil foram
de caráter lexicográfico. Uma rápida consulta às bibliotecas especializadas em textos do
século XIX – no Rio de Janeiro, contamos com exponenciais acervos, como os da
Biblioteca Nacional, do Real Gabinete Português de Leitura, do Instituto Histórico-
Geográfico Brasileiro e da Academia Brasileira de Letras – demonstra que, mesmo
antes da metade dos oitocentos, começam a surgir os léxicos regionais dedicados a
esclarecer o sentido que certos termos típicos tinham em áreas restritas do território
nacional.
Incluem-se entre esses trabalhos pioneiros, além do já aqui citado texto de
Domingos Borges de Barros, o Dicionário da língua brasileira de Luís Maria Silva
Pinto (Pinto 1832), o Vocabulário brasileiro para servir de complemento aos
dicionários da língua portuguesa, de Brás da Costa Rubim (Rubim 1853), obra de
suposto caráter geral, mas verdadeiramente comprometida com o vocabulário regional,
o Glossário de vocábulos brasileiros, tanto dos derivados como daqueles cuja origem é
ignorada, publicado em 1883 pelo Visconde de Beaurepaire-Rohan na Gazeta Literária
e, posteriormente, em 1889, transformado no Dicionário de vocábulos brasileiros
(Beaurepaire-Rohan 1956), o opúsculo A linguagem popular amazônica, em que
Macedo Soares oferece um glossário com cerca de 120 palavras de origem tupi em uso
na Amazônia (Soares 1884), a par do instigante Fraseologia sul-riograndense (Porto-
Alegre 1975) , texto com que Álvaro Porto-Alegre já confere aos léxicos uma pitada de
informação fraseológica, e do não menos útil, embora pouco conhecido mesmo pelos
iniciados na dialectologia, Coleção de vocábulos peculiares à Amazônia e
especialmente à Ilha de Marajó, trabalho de Vicente Miranda que mereceu reedição
comentada sob patrocínio da Universidade Federal do Pará (Miranda 1968).
A vertente lexicográfica não perdeu fôlego no século XX, apenas passou a
dividir o interesse dos pesquisadores com outras áreas de investigação, conforme
veremos adiante. A produção de léxicos, a rigor, manteve o escopo primacial de
informar o leitor sobre termos e expressões idiomáticas típicas de um dado rincão
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lingüístico, a par de oferecer subsídios para estudos de caráter contrastivo. Como


exemplos desse manancial de novas informações postas à disposição dos estudiosos no
século XX, citem-se (Teschauer 1928; Calage 1926; Mendes 1942; Seraine 1958;
Uchoa 1967; Lameira 1979), entre inúmeros outros que a consulta aos acervos revela.
Por curiosidade, cite-se necessariamente o compêndio Novo dicionário da gíria
brasileira, de Manuel Nogueira Viotti (Viotti 1957), que nos fornece interessante
informação sobre a gíria e o estrangeirismo na linguagem do rádio e da televisão nos
anos 50 do século passado.
A crítica mais rigorosa que se faz à onda avassaladora de léxicos regionais diz
respeito ao caráter pouco científico de sua concepção, (geralmente neles apenas se
informa o sentido específico que dado termo tem na região em tela), o que se deve ao
fato de seus autores serem leigos em Filologia ou mesmo filólogos bissextos. Com isso,
não é incomum encontrarem-se etimologias duvidosas e termos que supostamente têm
cunho regional, não obstante habitem a boca do falante brasileiro em inúmeras áreas
dialetais. A crítica, decerto, procede na maior parte dos casos, mas traz a injustiça de
uma avaliação que não leva em conta o cenário cultural em que tais textos foram
produzidos.
Com efeito, não seria razoável exigir de todos os interessados em questões
lexicográficas no século XIX uma formação filológica de escol, já que o País à época
simplesmente não dispunha de uma política educacional que desse subsídios para tanto.
Registre que, mesmo no âmbito da descrição gramatical, o perfil do filólogo brasileiro
oitocentista é o de um intelectual autodidata, não raro dividido em várias áreas de
interesse científico, cuja formação obviamente se devia à fortuita convergência do
talento individual com a oportunidade de estudo qualificado. No caso dos léxicos,
obviamente, ficava mais fácil para o leigo produzir algo de aproveitável, pois afinal o
escopo mínimo de informar sobre termos idiossincráticos e seus significados constituía
tarefa que não exigia profunda percepção lingüística, não obstante requeresse
disposição para o trabalho árduo.
Ademais, o perfil laico do lexicógrafo dos oitocentos viria mudar bastante no
século XX, já que a tarefa passou paulatinamente a ser executada por gente com
formação universitária humanística, até chegarmos aos trabalhos trazidos a lume a partir
dos anos 60, quando os cursos de Letras já conferiam qualificação adequada para a
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pesquisa lexical. Disso resultam teses universitárias pautadas em modelos lingüísticos


mais definidos, portanto mais confiáveis quanto às informações etimológicas e às
vertentes de usos. Cuide-se também que aos léxicos regionais foram irmanando-se obras
de cunho mais geral, ocupadas com o que se convencionou denominar "brasileirismos",
das quais a mais promissora – o Dicionário de brasileirismos da Academia Brasileira de
Letras – acabou por ser a mais frustrante, pois seu projeto não foi além da letra c.
Recentemente, o projeto do Dicionário de Usos do Português do Brasil (Borba
2002) veio preencher uma lacuna no cenário lexicográfico brasileiro, já que seus
verbetes buscam descrever as variáveis morfossintáticas que o item lexical apresenta
nos diversos níveis de uso nos planos diastrático e diatópico. Essa obra, no entanto, não
pode ser entendida como um volume dedicado aos brasileirismos, pois seu escopo não
se limita ao tratamento de termos restritos ao português falado deste lado do Atlântico.
Por sinal, um dos óbices mais severos que a lexicografia brasileira enfrenta é o
de conceituar brasileirismo cientificamente. Alguns filólogos dedicaram-se mais amiúde
a semelhante tarefa (cf. Cunha 1987), que eclode como essencial para a prévia
elaboração de um grande léxico a que efetivamente se possa dar semelhante
denominação. Afrânio Peixoto, por exemplo, informa-nos que a Academia Brasileira de
Letras decidiu considerar brasileirismos as palavras de uso nacional estranhas ao hábito
lusitano, umas de origem regional outras da gíria das capitais, desde que autorizadas ou
abonadas por um escritor. (Peixoto 1924). Evidentemente, temos aqui um critério que
pouco serve para uma fidedigna exposição do léxico tipicamente brasileiro.
Sem queremos penetrar nessa delicada questão, sugerimos especial atenção ao
critério da origem antropogeográfica, usado por Ambrosio Rabanales para definir
chilenismo como toda expressão oral ou escrita, de qualquer ponto de vista gramatical,
criada no Chile por chilenos que falam o espanhol como língua própria ou pelos
estrangeiros residentes que assimilaram o espanhol do Chile. Observe-se que por "de
qualquer ponto de vista gramatical" entende-se também não só o fato fonético, como
também o fato ortográfico. Entre nós, Gladstone Chaves de Melo, com fulcro nessa
fundamentação genésica, desmistificou uma série de pseudobrasileirismos presentes na
obra de Frei Luís de Sousa (Melo 1985).
O exitoso projeto do dicionário de americanismos publicado pelo Instituto Caro
y Cuervo, sob patrocínio da Cátedra de Lingüística Aplicada da Universidade de
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Augsburgo, parece ser um bom modelo para que se implemente no Brasil obra de fôlego
dedicada ao espinhoso tema dos brasileirismos. Sob direção dos filólogos Günther
Haensch e Reinhold Werner, o projeto do dicionário de americanismos, iniciado em
1978, acabou por desdobrar-se em dicionários nacionais3 (colombianismos,
argentinismos, uruguaísmos etc.) que, unidos ao fim, constituirão a grande obra de
caráter continental inicialmente prevista. Nele, o conceito de americanismo repousa em
uma aplicação conjunta dos critérios da exclusividade e da difusão social do item
lexical, sem qualquer preocupação com sua origem etimológica.

Segunda Vertente – Estudos de descrição lingüística


No tocante à vertente que trata da descrição gramatical, cuide-se da distinção
entre os volumes que se atêm a uma dada área de pesquisa, como, por exemplo, o
segmento a que denominamos estudos dialetais, e os volumes que procuram tratar do
português brasileiro lato sensu.. No primeiro grupo, distinguem-se, por seu turno, os
estudos dialetais amplos, assim denominados aqueles que tratam o português regional
em todas as suas áreas de interesse – fonologia, morfologia, sintaxe, léxico, semântica
etc. –, dos estudos dialetais específicos, isto é, os que se atêm a um dado aspecto em
particular, como o léxico e a fonologia.
Uma menção especial deve referir à retomada do estudo do fato lingüístico no
âmbito do português brasileiro numa perspectiva diacrônica, de que é exemplo
expressivo a coletânea de textos Português brasileiro: uma viagem diacrônica (Roberts
Ian / Kato, Mary 1993), publicada no início dos anos 90 do século passado. Nesse
volume, sucedem-se os estudos em que se aplica com ênfase o modelo gerativista para
se descreverem temas como a incidência do pronome nulo na função de sujeito, o
emprego de clíticos e a construção de orações relativas no cenário do português
americano. Cuide-se, entretanto, mais atentamente do texto inaugural da coletânea,
intitulado Sobre a alegada origem crioula do português brasileiro: mudanças sintáticas
aleatórias, em que o autor, Fernando Tarallo, cuja morte em 1992 interrompeu
prematuramente uma da mais profícuas carreiras da lingüística brasileira, circula com

3
Os primeiros tomos da série foram publicados em 1993 sob o título de Nuevo diccionario de
colombianismos (Haensch / Werer 1993), Nuevo diccionario de Uruguayismos (Kühl de Mones 1993) e
Nuevo Diccionario de Argentinismos (Chuchuy/Hlavacka de Bouzo 1993)
8

competência sobre as supostas evidências sintáticas de que a língua falada no Brasil


resulta de um crioulo ou de um processo de descrioulização.
Considerando o intuito meramente informativo desse trabalho, julgamos mais
adequado tratar os estudos descritivos em nota conjunta. Não resta dúvida de que, na
seara dos estudos dialetais, ocupa posição de destaque historiográfico O dialeto caipira,
obra pioneira de Amadeu Amaral, publicada em 1920. Trata-se de um compêndio que
detém o mérito de haver levado pela primeira vez ao interesse científico uma
modalidade de uso lingüístico estigmatizado pelo preconceito social4. Curiosamente,
Amaral não detinha formação filológica, mas era dotado de agudíssima percepção
lingüística, que lhe valeu o mérito de ter conseguido tratar os fatos gramaticais com boa
organização temática. Na época, afirmava Amaral que o dito dialeto caipira achava-se
"acantoado em pequenas localidades que não acompanharam de perto o movimento
geral do progresso e subsiste, fora daí, na boca de pessoas idosas, indelevelmente
influenciadas pela antiga educação" (Amaral 1982:2). Na verdade, a pesquisa hodierna
revela que os característicos da língua descrita por Amaral em 1920 ainda habitam
largas áreas do Brasil, em vivaz presença na boca do brasileiro interiorano.
Pouco depois de vir a lume a obra de Amadeu Amaral, coube a Antenor
Nascentes oferecer ao público especializado o precioso O linguajar carioca (Nascentes
1922), com que busca descrever os traços idiossincráticos da língua falada na região
dialetal do Rio de Janeiro. A rigor, o grande desafio inicial enfrentado por Nascentes foi
o de estabelecer uma divisão do Brasil em regiões lingüísticas, tarefa que lhe parecia
dificílima em face da quase total ausência de estudos voltados para a descrição de
isoglossas em nosso território. A preocupação com o tema acompanharia o velho
filólogo fluminense por largo tempo, conforme comprovam estas suas palavras
proferidas em um texto publicado trinta e três anos depois: "A geografia lingüística
revela que, enquanto não existir o Atlas Lingüístico do Brasil, não se pode fazer uma
divisão territorial em matéria de dialectologia com bases absolutamente seguras"
(Nascentes 1955)5. Pouco depois, Nascentes já publicava suas Bases para a elaboracao
do atlas lingüístico do Brasil, com que punha em ordem os procedimentos para que o
projeto viesse a prosperar em âmbito nacional (Nascentes 1958-1961).

4
Sobre O dialeto caipira, leia-se especialmente (Silva 2006).
5
Esse texto de Nascentes compõe a coletânea Estudos filológicos, reeditada pela Academia Brasileira de
Letras em 2003 (Nascentes 2003).
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Diga-se, por necessário, que o esforço pessoal e a obstinada dedicação de


Nascentes levaram-no a custear do próprio bolso viagens freqüentes ao interior, na
tentativa solitária de estabelecer as linhas de isoglossas necessárias à boa condução da
pesquisa. O exemplo de Nascentes não foi em vão, decerto, a julgar pelo grande
impulso que o projeto do Atlas Lingüístico Brasileiro sofreu a partir de 1996, com a
realização do Seminário Nacional Caminhos e Perspectivas para a Geolingüística no
Brasil, realizado na Universidade Federal da Bahia. Hoje, o Projeto ALiB6 é uma grata
realidade, sob o comando de competentes lingüistas de várias universidades nacionais,
dentre eles Suzana Alice Marcelino da Silva Cardoso, que preside o Comitê Nacional,
Jacyra Andrade Mota, Maria do Socorro Silva de Aragão, Mário Roberto Lobuglio
Zágari, Vanderci de Andrade e Walter Koch. No corpo desse projeto, alguns atlas
regionais vêm sendo publicados, tais como o Esboço de um atlas lingüístico de Minas
Gerais (Zágari 1977), o Atlas lingüístico da Paraíba (Aragão 1984), o Atlas Lingüístico
de Sergipe (Ferreira et alli 1987), o Atlas lingüístico do Paraná (Aguilera 1994), o Atlas
Lingüístico-etnográfico da Região Sul do Brasil (Koch et alii 2002) e o Atlas
Lingüístico de Sergipe (Cardoso 2002), todos sucedâneos do pioneiro Atlas prévio dos
falares baianos (Rossi 1963).
No âmbito das obras descritivas, os textos precursores de Amaral e Nascentes
foram secundados por inúmeras outras obras de grande mérito e decisiva contribuição
para melhor entendimento de nossas variantes regionais. Citem-se necessariamente A
língua do Nordeste, (Alagoas e Pernambuco), de Mário Maroquim (Maroquim 1934), A
linguagem dos cantadores, de Clóvis Monteiro (Monteiro 1933), Vento nordeste, ensaio
dialetológico, de Valter Medeiros (Medeiros 1970), Dinâmica de uma linguagem: o
falar de Alagoas, trabalho de boa fundamentação filológica elaborado por Paulino
Santiago (Santiago 1976), A gíria baiana, de Alexandre Passos (Passos 1973), além da
exaustiva tese Características da linguagem falada e escrita de Goiânia, defendida por
Eli de Oliveira Chaves Falanque na Universidade Federal de Goiás (Falanque 1973), A
linguagem popular do Maranhão, conhecido texto descritivo de Domingos Vieira Filho
(Vieira Filho 1979), Aspectos da linguagem do espraiado (Chediak, 1958), obra de
Antonio José Chediak que impressiona pelo rigor técnico na transcrição fonética do
falar típico dessa zona lingüística mineira, Tentativa de descrição do sistema vocálico

6
Leia-se, a respeito, (Cardoso/Mota 2003).
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do português culto na área dita carioca (Houaiss 1959), contribuição de Antônio


Houaiss ao Primeiro Congresso Brasileiro da Língua Falada no Teatro, A linguagem de
Goiás, de José Aparecido Teixeira (Teixeira 1944), A linguagem popular da Bahia, de
Edison Carneiro (Carneiro 1951) e Aspectos do falar paraense: fonética, fonologia e
semântica, meritório estudo dialetal da Prof.ª Maria de Nazaré da Cruz Vieira (Vieira
1980).
Alguns estudos buscam pela investigação sincrônica especular sobre a origem do
português popular brasileiro como conseqüência de falares crioulos. A tese Um estudo
sociolingüístico das comunidades negras do Cafundó, do antigo Caxambu e de seus
arredores, de Sílvio Vieira Andrade Filho (Andrade Filho 2000), a par dos instigantes
Cafundó, a África no Brasil: linguagem e sociedade, de Peter Fry e Carlos Vogt (Fry;
Vogt, 1996) e Remanescentes de um falar crioulo brasileiro, escrito por Carlota da
Silveira Ferreira (Ferreira, 1994), fornecem-nos sólidas evidências de grupos étnico-
lingüísticos brasileiros que falam línguas decorrentes de crioulos surgidos em áreas
reclusas do território brasileiro7. Outros tantos poderiam aqui ser citados, caso nos
permitisse a memória ou nos impusesse o intuito de ser exaustivo8.
Ainda no tocante aos estudos dialetais, dê-se a devida relevância aos projetos
institucionais de pesquisa com que felizmente hoje podemos contar e cujo contributo vai
aos poucos trazendo mais luz à análise dos fatos lingüísticos que se manifestam em
comunidades regionais. Nessa linhagem, constituem exemplos meritórios o produtivo
projeto Aspectos léxico-semânticos do falar dos pescadores do norte fluminense,
coordenado por Maria Emília Barcellos da Silva, o projeto Filologia bandeirante,
coordenado por Heitor Megale, cujo intuito é investigar a língua falada nas trilhas das
bandeiras numa perspectiva histórica (XVII e XVIII). Igual relevância há de conferir-se
a vários outros projetos pautados no método do variacionismo laboviano, muito
profícuo na investigação de variáveis de uso regional, dentre eles o Projeto Variação
Lingüística Urbana do Sul do País (Varsul), atualmente coordenado pela Prof.ª Maria
Tasca, cujo resultado já nos legou dezenas de trabalhos sobre aspectos pontuais do
português sulista.

7
Sobre o falar de Helvécia, leia-se também (Baxter/Lucchesi 1999).
8
Confrontem-se opiniões antagônicas sobre a hipótese da origem crioula do português popular brasileiro
em (Holm 1987), (Guy 1989) e (Tarallo 1993).
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Por sua vez, o Projeto Vertentes do Português Rural do Estado da Bahia,


comandado pela mão competente do lingüista Dante Lucchese, vale-se da análise
sociolingüística em comunidades do interior do Estado da Bahia para estabelecer um
panorama atual de sua realidade lingüística. Este projeto, entretanto, igualmente avança
por sendas diacrônicas, já que em seu escopo há claro interesse em ampliar o
conhecimento sobre a formação sócio-histórica do português brasileiro, fato que
também o vincula à quarta vertente dos estudos sobre o português do Brasil, de que nos
ocuparemos adiante.
Tratemos agora dos estudos sobre a modalidade do português brasileiro em
âmbito mais abrangente. Aqui, a tradição revela uma avaliação da língua falada no
Brasil segundo parâmetros genéricos, via de regra em perspectiva contrastiva com o
português europeu. Estes trabalhos seguem um modelo de descrição que visa, de um
lado, a cobrir as áreas básicas do estudo lingüístico (léxico, fonologia, morfologia,
sintaxe, semântica), e, de outro, a verificar em que medida os fatos idiossincráticos do
português brasileiro constituem genuína criação do Novo Mundo ou mera permanência
de fatos adormecidos do português medieval.
Como estratégia de organização do texto, os estudos gerais assentam-se
naturalmente na tríade genética da língua no Brasil: o português, o tupi e as línguas
africanas. Nesse ponto, surgem controvérsias acaloradas sobre a exata medida dos
tupinismos e africanismos não só no léxico como também nas construções sintáticas do
português falado em terras americanas.
Obra de referência nessa linhagem é A língua do Brasil (Melo 1946) volume que
conferiu a Gladstone Chaves de Melo justo reconhecimento como um dos mais
consagrados filólogos brasileiros do século XX. Devemos a Melo extensa e qualificada
obra lingüística e filológica, a par de uma gramática em que expressa meritória visão
sobre fatos complexos do português, tais como o indigesto tema da classificação de
palavras. Não resta dúvida, entretanto, que A língua do Brasil constitui o trabalho que
melhor projetou seu nome nas salas de aula e nos meios universitários, dada a
competente organização didática que o caracteriza.
Tirante algumas assertivas a que um maior rigor da crítica exigiria reparo – cite-
se, por exemplo, a tese de que o português caipira teria migrado para o Nordeste pelas
águas do Rio São Francisco –, os conceitos de Gladstone Chaves de Melo desfrutam de
12

excelente fundamentação teórica. Bastaria aqui citar sua proposta de classificação dos
brasileirismos que inclui a interessante figura do brasileirismo per accidens, isto é,
formações e derivações surgidas no Brasil, mas que bem poderiam ter-se originado em
outro país de língua portuguesa.
Um texto de Renato Mendonça publicado na primeira metade do século passado
(Mendonça 1936) bem se inscreve nessa vertente descritivista, embora com sensível
tendência à particularização dos fatos na área do léxico. Bem antes, em 1916, já Virgílio
de Lemos trazia a público o volume A língua portuguesa no Brasil (Lemos 1959), em
que não nos escapa à percepção um certo menosprezo pela fala genuinamente brasileira
em face do padrão culto do português europeu. A indagação As diferenciações entre o
português de Portugal e o do Brasil autorizam a existência de um ramo dialetal do
Português Peninsular? é usada por Cândido Jucá (Filho) como subtítulo de um pouco
citado porém utilíssimo trabalho de descrição gramatical contrastiva, que defende a tese
da permanência do falar lusitano na deriva do falar brasileiro (Jucá Filho 1937). Jucá,
usando a velha e eficiente técnica dos filólogos novecentistas, traça referência aos
principais "brasileirismos" prosódicos e sintáticos, valendo-se de exaustiva
comprovação de sua presença no português lusitano em corpus literário.
A estratégia da análise contrastiva também habita as páginas de Português da
Europa e português da América: aspectos da evolução do nosso idioma (Monteiro
1959). Trata-se de estudo abrangente, não obstante deixe de lado algumas questões
cruciais da vertente americana do português, tais como a contribuição africana, essa
praticamente restrita aos fatos prosódicos, e aos aspectos atinentes à história externa.
Por outro lado, a atração que o estudo descritivo do português brasileiro exerceu sobre
os filólogos a partir da segunda década do século XX fez produzirem-se textos de
variável qualificação, que a leitura mais atenta poderá definir como efetivas
contribuições ou vãs tentativas de contribuição para o melhor entendimento da língua
falada no Brasil. Citem-se A língua portuguesa no Brasil, de Solidônio Leite (Leite
1922), Cultura da língua nacional – com uma coletânea de especimens da língua
escrita no Brasil, de Xavier Marques (Marques 1933), A língua portuguesa no Brasil
(Expansão, penetração, unidade e estado atual), de Jacques Raimundo (Raimundo
1944).
13

No âmbito dos estudos gerais, uma palavra especial merecem os textos que se
dedicam especificamente a dada influência decorrente do contato lingüístico que
caracteriza a trajetória da língua portuguesa em terra americana. Aqui, renovam-se com
significativa pujança os estudos acerca da contribuição africana e tupi na formação da
língua como um traço de identidade brasileiro. No tocante à contribuição indígena,
nossa produção acadêmica vai de Teodoro Sampaio (Sampaio 1987), cujo O tupi na
geografia nacional vem a lume em 1901, a Aryon Rodrigues (Rodrigues 1994).
Já no que respeita aos estudos sobre influência africana, convém citar aqui um
lamento de Antenor Nascentes, do qual tomamos ciência em texto recentemente trazido
a público na renovada edição de seus estudos filológicos: "É preciso notar que não há
africanólogos no Brasil" (Nascentes 2003: 355). A observação resulta de uma crítica, a
um tempo elogiosa e reparadora, que o velho mestre traça sobre o trabalho de Renato
Mendonça, um de seus discípulos mais qualificados. O texto de Mendonça é hoje uma
das mais conhecidas peças de nossa bibliografia lingüística (cf. Mendonça 1935) e
efetivamente tem servido de base para muitos outros trabalhos sobre africanismos no
português brasileiro. Antes de Mendonça, já alguns estudiosos haviam mergulhado
nestas águas revoltas dos africanismos, que nem sempre asseguram plena abonação de
origens etimológicas convincentes.
Mas o lamento de Nascentes, por assim dizer, seria mitigado, ou mesmo
transformado em júbilo a partir dos anos 70 do século passado, quando surge o
qualificado trabalho de Yeda Pessoa de Castro no âmbito das línguas africanas que
vieram para solo americano. Pode-se afirmar, em resposta a Nascentes, que, afinal, o
Brasil contava com uma "africanóloga", ou, como mais comumente hoje designamos,
uma africanista. A pesquisa da professora da Universidade Federal da Bahia traz o
mérito de ir buscar a fundamentação dos africanismos no português em análise acurada
dos fatores históricos que nos conferem mais segurança acerca da natureza do contato
lingüístico afro-lusitano – leiam-se necessariamente, a respeito, (Castro 1980; Castro
2001). Dentre tais fatores, ressalte-se que línguas distintas como o quicongo, o
umbundo e o quimbundo já habitavam o Brasil no século XVII, ao passo que o iorubá,
língua constituída de vários falares regionais e várias línguas da família kwa, teria
provindo da Nigéria apenas no século XIX. A hipótese igualmente levantada por Pessoa
de Castro sobre uma língua franca africana das senzalas, que teria surgido ao longo do
14

período colonial, conduz a instigante discussão acerca das origens do português


interiorano atual.

Por fim, ainda na esteira dos estudos descritivos, cumpre referir a uma obra de
grande valor adjetivo para quem se dedica à pesquisa de nossas origens lingüísticas.
Trata-se de dois volumes intitulados O português do Brasil, textos críticos e teóricos,
que nos legou o meritório trabalho de Edith Pimentel Pinto (Pinto 1978-1981). A
coletânea cobre um largo período – de 1820 a 1945 – em que se alinham textos
publicados por autores brasileiros sobre os vários aspectos do português do Brasil. O
olhar aguçado da autora, aliado a ampla leitura, conferiu-lhe capacidade para organizar
este rico exemplário sobre a questão lingüística, segundo perspectiva vária: o aspecto
histórico, a questão política, as influências e contatos etc. As preocupações de Edith
Pimentel Pinto com a questão da língua nacional, diga-se ainda, levaram-na a publicar
mais tarde o pequeno volume A língua escrita no Brasil (Pinto 1986), em que discute os
parâmetros do discurso em sua modalidade escrita e sua importância na construção de
uma língua literária nacional.
Por sinal, no tocante ao estudo da língua literária, tema que não se tem explorado
com a devida freqüência, cuide-se aqui de uma referência obrigatória a alguns textos
que muito contribuíram para entendermos em que medida a literatura brasileira
agasalhou os fatos da linguagem popular e conferiu-lhes abonação como expressão da
alma brasileira. Nessa linhagem contamos com A gramática de José de Alencar (Jucá
Filho 1966), a tese de livre-docência Alencar e a "língua brasileira" (Melo 1972 ),
Sobre a norma literária do Modernismo (Barbadinho Neto 1977), Tendências e
constâncias da língua do modernismo (Barbadinho Neto 1972 ), O léxico de Guimarães
Rosa (Martins 2001), entre outros.

Terceira Vertente – Estudos de política lingüística


Nessa área de investigação, os textos sobre o português brasileiro costumam
tocar alguns temas de grande relevância não só para a exata compreensão do percurso
que a língua vem trilhando em solo americano, como também para o melhor
entendimento do papel exercido pelo idioma pátrio como expressão da nacionalidade e
caracterização do indivíduo nos vários estereótipos sociais.
15

Alguns dos melhores filólogos brasileiros dedicaram atenção à política da língua


já nos verdores do século XX. Cite-se aqui o trabalho de João Ribeiro A língua
nacional, um ensaio vigoroso em que o autor pugna pela dignidade do "estilo brasileiro"
como expressão de uma nova civilização, a americana em contraste com a antiga
civilização européia: "A nossa gramática não pode ser inteiramente a mesma dos
portugueses. As diferenciações regionais reclamam estilo e método diversos. A verdade
é que, corrigindo-nos, estamos de fato a mutilar idéias e sentimentos que nos são
pessoais" (cf. Ribeiro 1979:51). O binômio língua–nacionalismo também se espraia em
A questão da língua brasileira (Fortes 1968), texto póstumo com que Herbert Parentes
Fortes busca fundamentar a mudança lingüística do português brasileiro com as teses
durkheimianas da irreversibilidade das mudanças sociais.
A "onda brasilianista", valendo-nos aqui de uma expressão cunhada por Sílvio
Elia, encontraria amparo e resistência igualmente enfáticos, como se abstrai da leitura
confrontada de Língua brasileira, um parecer de Edgard Sanches (Sanches 1940)
francamente favorável à denominação "língua brasileira", e de A língua do Brasil
(Vianna Filho 1954), em que Luís Vianna Filho adverte não haver qualquer
fundamento lingüístico que autorize semelhante denominação. Por sinal, no tocante à
língua como expressão da nacionalidade, muito já se escreveu sobre um certo
"sentimento de posse" que invadiu a alma do brasileiro a partir da segunda metade do
século XIX. Naquele momento, estudar o português e, sobretudo, escrever em
português trazia uma subliminar intenção de assenhoreamento da língua do colonizador
pelo colonizado, sentimento esse que germinava lentamente a partir da Independência e
se revelava às evidências com o grande número de gramáticas portuguesa escritas por
brasileiros a partir da primeira década do Primeiro Reinado. Crescia, indubitavelmente,
uma reação ao lusismo lingüístico, conforme assinalam Bethania Mariani e Tânia
Conceição de Souza (cf. Mariani; Sousa 1994), movimento que, a rigor, se manifestava
mais nas rodas literárias do que nas sendas gramaticais.
Trata-se de uma complexa relação entre o natural de um país infante e a língua
que, modificada pelo contato lingüístico multifacetado em terras americanas, ainda
guardava a identidade da cultura lusitana. Surge, numa perspectiva dual, uma espécie de
sentimento de posse na alma do intelectual brasileiro em confronto com um direito de
propriedade ainda invocado pelo intelectual lusitano, a que se podia adicionar uma
16

evidente insatisfação desse último pela "corrupção" que a língua de Camões sofria no
âmbito do "dialeto brasileiro”, para aqui usarmos a expressão tão presente nos estudos
de Adolfo Coelho.
Citar aqui a famosa querela entre José de Alencar e Pinheiro Chagas não seria
tão original quanto reproduzir a irônica epígrafe com que José Jorge Paranhos da Silva
abre seu interessante – não obstante discutível em vários aspectos – O idioma do
hodierno Portugal comparado com o do Brazil por um brazileiro. Diz Paranhos da
Silva: "Aos moços que, se tendo ido formar em Coimbra, dizem que querem outra vez
ser considerados como nascidos no Brasil, offereço esta comparação da nossa maneira
de falar com a dos actuaes Portuguezes" (Silva 1879). Nessa obra, Paranhos da Silva
trata portugueses como "primos", com todas as conotações pejorativas que o termo
encobertava na língua literária dos oitocentos, o que dá a exata medida da parcialidade
que inundava sua alma e que evidentemente enevoava sua visão dos fatos lingüísticos.
Mas o fator político, possivelmente em face do profícuo período de estudos
filológicos que viria a instalar-se no Brasil e em Portugal com o novo século – fato que
decerto mais cativou a atenção dos pesquisadores d'aquém e d'além mar –, seria posto à
ilharga das atenções até a década de 1930, quando a rumorosa questão da "língua
brasileira" passa a habitar a ordem do dia nas plenárias políticas como parte de uma
estratégia populista que já fazia prenunciar o devir do Estado Novo. Exemplar é o texto
do Decreto n.º 25, de 16 de setembro de 1935, em que o Prefeito do Distrito Federal
baixou uma determinação no sentido de que os livros didáticos só fossem adotados no
ensino municipal quando denominassem brasileira a língua falada em nossa terra.
Impunha também o mesmo ato legislativo que os livros didáticos relativos ao ensino da
língua fossem adotados nas escolas primárias e secundárias do Distrito Federal apenas
quando denominassem brasileira a língua falada e escrita no Brasil. Por fim, aduzia que,
nos programas de ensino, os capítulos referentes à língua pátria deveriam referir-se,
exclusivamente, à língua brasileira.
Por seu turno, o legislador constitucional de 1946 conferiu competência para
dizer sobre a questão da língua nacional não apenas aos filólogos – obviamente
incluídos na classe dos professores –, como também aos escritores e aos jornalistas, fato
que definia a questão como de ordem política e não técnica, ou, ao menos de ordem
técnico-política. E, com efeito, o tema envolveu os meios literário, jornalístico e
17

filológico numa série de textos avulsos, a maioria publicada nos principais periódicos,
alguns deles perpetuados como genuína representação do pensamento predominante,
qual seja o de que a língua nacional era a língua portuguesa. Por sinal, advirta-se que a
letra constitucional não punha em dúvida qual era o idioma nacional, mas tão somente
qual deveria ser sua denominação, fato que afasta de vez certos historicismos
irresponsáveis que insistem em ver em 1946 um momento de abertura para o
reconhecimento das línguas indígenas como idiomas de expressão nacional.
Dentre os jornalistas que melhor disseram sobre o binômio língua–nacionalidade
emerge a figura de Barbosa Lima Sobrinho, cujo A língua portuguesa e a unidade do
Brasil (Lima Sobrinho 1977) traça judicioso painel acerca da importância do português
como fator de congregação cultural num país já erigido sob a marca do
multiculturalismo. Nessa esteira, agregam-se os nomes de Antonio Houaiss e Silvio
Elia, dois dos principais quadros da lingüística brasileira novecentista. De Houaiss cite-
se necessariamente seus preciosos Sugestões para uma política da língua (Houaiss
1960), A crise de nossa língua de cultura (Houaiss 1983), O português no Brasil (1985)
e O que é língua? (1990a), textos em que explora os conceitos de língua natural e língua
de cultura, bem como seu reflexo na construção do inventário cognitivo que caracteriza
o desenvolvimento da civilização. Em O português no Brasil (Houaiss 1990b),
particularmente, Houaiss consolida a posição da maioria dos lingüistas brasileiros em
prol de um conceito de português brasileiro pautado no conservadorismo da herança
lusitana, sob a força das influências que o contato lingüístico lhe conferiu tão logo foi a
língua de Camões transplantada para o solo americano.
No tocante a Silvio Elia, cumpre deixar uma palavra mais extensa em face de
sua qualificadíssima obra, em que se encontram vários volumes dedicados à questão da
nacionalidade e suas implicações no terreno lingüístico. Já em 1941, Elia recebe o
Prêmio João Ribeiro da Academia Brasileira de Letras por seu texto O problema da
língua brasileira (Elia 1940), ensaio instigante em que sedimenta a tese de uma norma
culta brasileira como deriva natural do português na América. Em outubro de 1949,
participa do Congresso Brasileiro de Língua Vernácula com um primoroso texto sobre a
unidade lingüística do Brasil (Elia 1957). Trinta anos depois, volta à questão com o
texto A unidade lingüística do Brasil: condicionamentos geoeconômicos (Elia 1979),
mais uma vez tocando o delicado tema da língua como fator de integração nacional, por
18

sinal característico de um período em que os ecos ainda sonantes da Segunda Grande


Guerra faziam crescer certos anseios separatistas mesmo nos países sul-americanos.
Em verdade, a sólida formação humanística de Silvio Elia conferiu-lhe um
especial talento para tratar os problemas lingüísticos com ponderação, em que se aliam
o reconhecimento de uma norma brasileira distinta de uma norma lusitana, não obstante
ambas não se pudessem confundir com variáveis de uso diatópico ou diastrático, seja
aqui como lá. Aceitar a pluralidade lingüística significa reconhecer os espaços que
ocupam todas as variáveis de uso no seio da sociedade, sem que necessariamente
resvalemos na desqualificação de qualquer uma delas, seja por as considerarmos
desprezíveis ou preconceituosas. A serena avaliação que Elia nos confere dessa
presença social da língua parece-me mais bem assentada nas páginas de El portugués en
Brasil: historia cultural (Elia 1992), texto de leitura obrigatória para os que querem
entender o valor da língua como instrumento de construção da sociedade
contemporânea.
O volume é dividido em duas partes, a primeira intitulada Configuración
Histórico-Cultural, a segunda Configuración Lingüística. O autor abraça a tese bastante
difundida no seio da Geografia Humana do século XX, que vincula o progresso aos
movimentos populacionais. Nesse sentido, as áreas ocupadas no primeiro século da
colonização – as denominadas “ilhas históricas” a que antes se referiram João Ribeiro e
Gilberto Freire – constituíram o germe do progresso colonial e, por conseqüência, do
contato lingüístico plural que viria a caracterizar o português falado no Brasil. Esse
substancioso texto de Silvio Elia toca, por outro lado, uma questão pouco explorada
acerca do português da metrópole ao tempo do Descobrimento: teria status de língua
nacional ou constituiria uma “linguagem”, no sentido de vertente lingüística menos
prestigiada, típica das áreas rurais?
Segundo José Ariel Castro (Castro 1986), Portugal tinha perdido o rumo de sua
língua, fato que se agravou durante o período filipino, quando deixou de ser a língua
falada na Metrópole. Com isso, a presença do português na colônia enfraquecera-se no
âmbito das rodas de maior prestígio, embora fosse significativa na boca dos colonos que
viviam em comunidades interioranas de Portugal e vinham tocar a vida no Novo
Mundo, de que resultou seu contato ainda que incipiente com as línguas que
convergiram na formação da nova ordem social. Acerca dessa hipótese, Elia contrapõe-
19

se com o forte argumento de que o profundo sentimento de identidade lingüística foi


ium dos fatores fundamentais que levaram os portugueses à recuperação do Estado
Nacional no processo da Restauração.
A questão política efetivamente absorveu intensamente o interesse dos
pesquisadores brasileiros nas décadas de 40 e 50 do século passado, a julgar pelos hoje
célebres encontros nacionais que discutiram o tema em aspecto vário. O aqui citado
Congresso Brasileiro de Língua Vernácula bem expressa essa preocupação com a
língua-símbolo, a língua-ícone da pátria, fato que se percebe logo na citação de Rui
Barbosa que abre os anais: "Uma raça, cujo espírito não defende o seu idioma, entrega a
lama ao estrangeiro, antes de ser por ele absorvido" (Casa de Rui Barbosa 1957). Forte
teor normativo, por exemplo, acomodam-se em alguns trabalhos do Primeiro Congresso
Brasileiro de Língua Falada no Teatro (Ministério da Educação 1958), encontro
realizado em Salvador no ano de 1956, cujos textos lato sensu pugnavam por uma
uniformização da língua falada no teatro à luz de uma norma oral brasileira igualmente
unificada em todo o País. Por sinal, já em 1937, o Congresso Nacional da Língua
Cantada, realizado em São Paulo, buscava uma normalização da pronúncia do português
no canto erudito (Primeiro Congresso da Língua Nacional Cantada 1938)
Hoje, os congressos envolvidos com a área da política lingüística buscam mais o
ramo da inclusão social e da formação lingüística para o exercício da cidadania como
temas de maior prestígio, não obstante a questão normativa ainda provoque discussões
acaloradas, fruto de uma época impregnada de raciocínio radicalizado pela emoção.
Agora em 2006, organizou-se em João Pessoa o Congresso Internacional de Políticas
Lingüísticas da América do Sul, sob a competente coordenação do Prof. Dermeval da
Hora, em que as questões políticas do português brasileiro – por sinal, as mesmas que
enfrenta o espanhol americano nos seus vários domínios – mais uma vez estiveram na
ordem do dia, dentre elas os temas concernentes aos estrangeirismos, ao preconceito
lingüístico e ao conceito de norma gramatical.
Saliente-se que certa corrente acadêmica vem pondo em xeque o aparente
"desprezo" com que os lingüistas brasileiros tratam temas considerados laicos, talvez
por serem os que mais cativam o interesse do cidadão ordinário, infenso às questões
complexas do estudo formal sobre a linguagem. Dentre tais temas situa-se a presença
dos estrangeirismos no texto escrito e oral, como expressão de uma nova face do léxico
20

do português brasileiro, visto que denotativa da subserviência cultural e do desinteresse


na "defesa da língua" como instituição nacional. Leiam-se, para citarmos alguns poucos
estudos sobre esse interessante tema, (Faraco 2001) e (Silva; Rajagopalan 2004).
A questão da norma oral e escrita, por sinal, não raro recebe tratamento
inadequado em textos de profundo viés maniqueísta que ainda discutem se existe ou não
norma gramatical e estratificação de registros (cf. Bagno1999; Bagno 2000), fato que
explode à evidência, conforme nos prova a leitura dos textos atuais seja na imprensa,
seja na doutrina ou mesmo na literatura contemporânea. Trata-se de um inconformismo
anacrônico que nada contribui para efetivamente entendermos as nuances de nossas
diferenças lingüísticas. Outros volumes, entretanto, de grande mérito científico logram
tratar adequadamente a questão, tais como Ensino da gramática: opressão, liberdade?
(Bechara 1985), Gramática: ensino plural (Travaglia 2003), Por que (não) ensinar
gramática na escola (Possenti 1996), dentre outros igualmente meritórios.
Em especial, cumpre aqui referir à judiciosa preocupação com o conceito de
norma urbana culta e com a relação entre língua e cultura que permeia a obra de Celso
Cunha. Reconhecido como um dos grandes expoentes da Filologia portuguesa no século
XX, Cunha combateu com serena firmeza o "terrorismo purista" que impregnava certas
hostes dos estudos gramaticais, submetidas a uma “passividade servil, a um vocabulário
mumificado e a arbitrárias regras idiomáticas, hauridas em fragmentos de um passado
vago de descontínuo que, para nós, já não podia fazer sentido”(Cunha 1970:27).
Ciente de que o ensino não se pode afastar das dimensões que a língua vernácula
alcança no seio da sociedade, Cunha atuou decisivamente na implantação do Projeto de
Estudo da Norma Lingüística Culta de Algumas das Principais Capitais do Brasil,
conhecido como Projeto NURC, sob inspiração do Proyecto de Estudio del Habla Culta
de las Principales Ciudades de Hisponamerica, idealizado pelo lingüista mexicano Juan
Blanch. Nessa mesma linha temática, devemos a Celso Cunha preciosos estudinhos
sobre política lingüística, tais como O ensino da língua nacional; para uma política do
idioma (Cunha 1963), Língua portuguesa e realidade brasileira (Cunha 1970), Língua,
nação, alienação (Cunha 1981) e A questão da norma culta brasileira (Cunha 1985).
Por fim, outra vertente dos estudos do português brasileiro pelo prisma da política
do idioma toca o interessante tema do uso da língua como instrumento de poder. Um
interessante estudo de Maria Cândida Drumond Mendes de Barros (Barros 1986) sobre
21

a importância da uniformidade do discurso religioso como meio de controle do


colonizado e (também) do colonizador no labor do proselitismo bem demonstra que a
questão da política lingüística já se faz aflorar nos tempos iniciais da colonização. Hoje,
essa vertente de estudos é predominantemente tratada em textos de analistas do discurso
que trabalham a relação entre língua e ideologia, tais como Língua e conhecimento
lingüístico (Orlandi 2002), Colonização lingüística (Mariani 2004), entre outros. Busca-
se, nessa vertente, estudar o uso da língua, em suas variáveis discursivas, como
elemento das estratégias de argumentação e convencimento, bem como avaliar em que
medida uma mesma língua falada em sociedades distintas, como é o caso do português,
pode ser entendida como várias línguas igualmente distintas, dado que resultantes de
diferentes processos de formação discursiva.

Quarta Vertente- Os estudos sócio-históricos


Os rumos da pesquisa, hoje, buscam um reencontro com o passado da formação
cultural brasileira. Conforme propõe Dante Lucchese, pesquisador empenhado em
descortinar os primórdios de nossa identidade lingüística, revela-se "imperioso um
grande movimento em direção às fontes e aos receptáculos dos testemunhos históricos,
que permitam ampliar a base empírica das grandes interpretações já formuladas acerca
da formação de nossa(s) identidade(s) lingüística(s), adubando-se o terreno para a
renovação dessas interpretações e para o surgimento de novas leituras” (Lucchese
2004:191). A perspectiva que ora se implementa aposta na força dos testemunhos
documentais para chegarmos a um saber mais seguro sobre a história da língua no
Brasil.
A tese, entretanto, não chega a inovar. Com a publicação, em 1960, do volume
Introdução ao estudo da língua portuguesa no Brasil – versão aprimorada de dois
volumes anteriores intitulados Capítulos de história da língua portuguesa no Brasil –,
Serafim da Silva Neto já abria amplos horizontes para o melhor entendimento do
contato lingüístico ocorrido em terras brasileiras a partir do Descobrimento tendo em
vista uma mudança de ângulo: o percurso das línguas era delineado mediante
investigação da formação histórica da sociedade brasileira. Nessa perspectiva, a história
da língua é a história de seu povo, do grupo social que a usa como instrumento de
transmissão da cultura.
22

A primeira linha da Introdução adverte o leitor de que "este livro nada mais
pretende ser do que um pequeno ensaio" (Silva Neto 1986:13). Por aí se percebe como a
exuberância da criatura pode ofuscar os olhos do criador. Não estaríamos aqui
exagerando se aplicássemos a essa obra de Serafim da Silva Neto o comentário que
certa vez traçou Antonio Cândido sobre Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de
Holanda: há livros que já nascem clássicos. Com efeito, Silva Neto enfrenta a questão
da história da língua no Brasil com uma proposta metodológica que confere relevância
àqueles documentos históricos que não são especificamente de natureza lingüística, mas
atuam decisivamente para esclarecer as condições em que duas ou mais línguas
entraram em contato em dado espaço geográfico. Disso resulta investigarem-se mais a
fundo as relações culturais estabelecidas entre índios, colonos, comerciantes, militares
conforme descritas nos relatos de viagens e nos diários de expedicionários europeus que
aqui estiveram no primeiro século da colonização.
O veio inovador de Silva Neto, entretanto, reinou solitário por largos anos –
tivemos notícia de que também Celso Cunha pretendia publicar um estudo sobre a
história do português brasileiro nessa linha sócio-cultural –, provavelmente em face do
considerável desprestígio que os estudos históricos sofreram nas décadas de 70 e 80 do
século passado, razão por que sua nova abordagem e metodologia só viriam a
desdobrar-se em obras congêneres a partir da década de 90, quando uma profusão de
textos de cunho sócio-histórico busca responder a indagações tais como qual é a origem
do português popular brasileiro, a que fatores ou fatores se devem as variáveis dialetais
no Brasil, como surgiu a denominada norma urbana culta em confronto com a vertente
popular, que línguas eram faladas e mantiveram contato entre si no primeiro período
colonial, entre tantas outras.
Considerando o impulso recente que a vertente sócio-histórica vem tomando
hoje nos grupos de pesquisa e em trabalhos individuais, não resta dúvida de que nesse
campo se abrem os novos e profícuos rumos para o estudo da língua portuguesa em solo
americano. Decerto que a descrição lingüística auxilia bastante para o esclarecimento
dos fatos inclusos na denominada "história interna" da língua. Não obstante, é
justamente na investigação da "história externa" que conseguiremos encontrar a chave
de nossas origens lingüísticas e pôr termo a uma série de dúvidas quanto ao processo de
23

estabelecimento do português como língua dominante de cultura a partir dos últimos


decênios do século XVIII.
Dentre os trabalhos recentes que merecem menção, cite-se o volume póstumo de
Silvio Elia Fundamentos histórico-lingüísticos do português do Brasil (Elia 2003), que
propõe oferecer um painel sobre a presença da língua em solo brasileiro ao longo de
quatro séculos (XVI ao XIX), cada qual merecedor de um capítulo específico
subdividido em três áreas de interesse: quadro histórico, literatura e língua. Nesse
estudo, Elia segue um plano ortodoxo, de segmentação cronológica e acurada
organização temática, com a preocupação – pouco presente em obras congêneres,
ressalte-se – de acompanhar a formação de uma língua literária brasileira, sobretudo a
partir do século XIX, em que se estabelecem as bases do português escrito culto nos
textos românticos.
Conforme já aqui asseverado, um dos trunfos para novas conquistas nessa
vertente de pesquisa está na interação entre os estudos lingüísticos, históricos e
antropológicos. Essa tríade teorética dá melhor amparo doutrinário e possibilita que
hipóteses sobre a construção cultural do país sejam aplicadas adequadamente a sua
construção lingüística. Tome-se, por exemplo, a hipótese levantada por Gilberto Freyre
(Freyre 1943) e endossada por Bartolomé Bennassar (Bennassar 1993) quanto à
caracterização do Brasil como um "arquipélago" constituído de "ilhas históricas" –
Maranhão e Pará (Grão-Pará), Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo – ao
longo de pelo menos dois séculos e meio no período colonial, hipótese essa que corre
em harmonia com as evidências do contato lingüístico multifacetado e setorial nas
distintas áreas de intervenção colonizadora.
Dentre as iniciativas acadêmicas que mais se destacam hodiernamente, como um
sucedâneo da conjugação entre a história interna e externa da língua, destaque-se o
projeto Para a História do Português Brasileiro (PHPB), que envolve vários
pesquisadores brasileiros9 em parceria com colegas alemães e já trouxe a lume vários
volumes coletivos10 e individuais no Brasil e na Alemanha. O projeto estrutura-se em
três eixos basilares: a construção de um corpus diacrônico em língua escrita, a análise

9
No Brasil, coordenam o projeto os professores Ataliba T. de Castilho (USP/UNESP/UNICAMP) , Rosa
Virgínia Mattos e Silva (UFBa), Marlos de Barros Pessoa (UFPe), Demerval da Hora (UFPB) , Jânia
Ramos (UFMG), Dinah I. Callou (UFRJ), Sonia Cyrino (UEL) e Gilvan Müller de Oliveira (UFSC).
10
Desses volumes coletivos, supostamente seis, só tivemos acesso aos quatro primeiros (Castilho 1998;
Silva 2001; Alkmim 2002; Duarte/Callou 2002)
24

da mudança do sistema lingüístico, com ênfase nos processos de gramaticalização, e a


construção das origens sócio-históricas da língua a partir dos primeiros anos da
colonização. Em linha simétrica, o Programa para a História da Língua Portuguesa,
coordenado pela Prof.ª Rosa Virgínia Mattos e Silva, da Universidade da Bahia,
inscreve-se como auxiliar do PHPB na constituição de corpora documentais que se
encontram em arquivos públicos e particulares da Bahia (cf. Silva 2003:35).
Evidente que traçar referência a todos os textos que se vêm publicando nesse
profícuo veio de estudo afigura-se impossível. Para que o leitor interessado possa seguir
com passos seguros na busca de leitura qualificada, faço aqui referência a dois volumes
recentes que contam não só com trabalhos de substancioso valor, como também com
farta bibliografia especializada: Português brasileiro: contato lingüístico,
heterogeneidade e história, coletânea organizada por Cláudia Roncarati e Jussara
Abraçado (Roncarati/Abraçado 2003), e Ensaios para uma Sócio-História do
Português Brasileiro, de Rosa Virgínia Mattos e Silva (Silva 2004). O primeiro traz a
marca dessa coadunação entre os estudos descritivos e os estudos históricos, fato que o
caracteriza como uma coletânea que contribui para o desenvolvimento do saber sobre a
língua nessas duas vertentes de investigação. Dentre os temas nele discutidos,
destacamos o confronto de idéias que se estabelece entre o ensaio O conceito de
transmissão lingüística irregular e o processo de formação do português do Brasil, de
Dante Lucchese (Lucchese 2003), e O conceito de transmissão lingüística irregular e as
origens estruturais do português brasileiro: um tema em debate, da lavra de Anthony
Naro e Maria Marta Scherre (Naro; Scherre 2003). Em perspectivas antagônicas, os
textos discutem não só o conceito de transmissão lingüística irregular – como processo
de aquisição de uma dada língua politicamente prestigiada por falantes adultos de outras
línguas politicamente menos prestigiadas –, mas também a conveniência de sua
aplicação no estudo da história externa do português brasileiro. Recentemente, Naro/
Scherre trouxeram a lume uma coletânea de ensaios, alguns deles versões atualizadas de
textos anteriores, cujo escopo maior é firmar convicção quanto às características
morfossintáticas e fonológicas do português brasileiro como “heranças românicas e
portuguesas arcaicas e clássicas, e não modificações mais recentes advindas das línguas
africanas, que vieram para o Brasil com seus povos escravizados e subjugados, ou das
25

línguas dos povos ameríndios, que aqui já se encontravam quando vieram os


colonizadores europeus” (Naro; Scherre 2007: 17).
O volume de Matos e Silva, uma coletânea de textos proferidos em conferências
e encontros acadêmicos, circunda com desenvoltura vários aspectos do tema em
questão, tais como as raízes do português em terras americanas, o problema da
heterogeneidade das vertentes dialetais, as fontes histórico-documentais disponíveis, a
formação da sociedade brasileira etc. Por sinal, um dos grandes óbices de que se
ressentem os lingüistas para melhor entender o passado das línguas, qual seja o
desinteresse dos historiadores pelo fenômeno da linguagem lato sensu, é tocado
particularmente no texto Idéias para a história do português brasileiro, em que a autora
adverte que a pouca contribuição da historiografia nesse mister – não só a recente, mas,
e sobretudo, a que se produziu nos estudos sobre a terra nos séculos XVI e XVII – inibe
hoje tentativas mais seguras de entender o contato lingüístico colonial, mormente em
face da falta de documentação fidedigna.
Enfim, muito do que se deveria dizer aqui não foi dito, dado o limite – decerto já
indevidamente ultrapassado – de um ensaio-resenha sobre o que se tem feito no ramo
dos estudos sobre o português como língua majoritariamente falada pelo povo
brasileiro. Algumas contribuições merecem leitura atenta, em face de aparente caráter
idiossincrático no tratamento da questão da língua nacional e suas base étnicas, caso
específico de A língua do Brasil: uma história pela primeira vez contada (Castro 2000).
Cuide-se igualmente dos esforços que lingüistas estrangeiros, sobretudo alemães, vêm
encetando fora das fronteiras brasileiras pelo desvendamento do percurso do português
no Brasil, conforme comprovam os meritórios trabalhos de Eberhardt Gärtner (Gärtner
2000), Sybille Groβe e Klaus Zimmermann (Groβe/ Zimmermann 1998) e (Groβe/
Zimmermann 2000) e Volker Noll (Noll, 1999; Noll, 2005). Fica o convite ao leitor
para ingressar nas obras citadas e lá procurar informar-se melhor acerca dessas
conquistas, que anunciam um século promissor para o esclarecimento de nossas origens
etnolingüísticas.
26

Bibliografia

Preocupamo-nos em dar a referência de todas as obras citadas, para que o leitor


interessado possa utilizá-las como escorço bibliográfico sobre o assunto.

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