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01/10/2020
PRINCIPAIS CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO
Deixei claro, então, que minhas aulas iriam se orientar pela combinação
dos princípios da liberdade e da responsabilidade.
Pelo princípio da liberdade os alunos podiam acatar ou não minhas orientações realizando
ou não as tarefas exigidas. No entanto, pelo princípio da responsabilidade, cada um
assumiria as consequências de suas opções. Assim, por exemplo, se algum aluno na hora
de minha aula preferisse fazer outra coisa ou se dedicar a outro assunto em lugar de
prestar atenção no tema da aula, eu não iria impedir.
Olhei para aquelas meninas agitadas e logo percebi que, naquele dia, ou
eu discutia o festival, ou não faria nada.
1. Se eu fosse um professor tipicamente tradicional, minha reação normal em resposta ao pedido das
alunas para discutir o festival seria:
“O que é isso, meninas! Aula é aula; festival é festival. Está bem que vocês tenham vibrado,
torcendo por seus ídolos na noite passada. Agora, porém, estamos em horário de aula com uma
programação a cumprir”.
Inversamente, caso eu fosse um professor tipicamente escolanovista, minha reação seria diversa e eu
responderia ao pedido das alunas:
“Ótimo, meninas! Vamos discutir o festival, já que esse se apresenta como um interesse genuíno
de vocês”.
No entanto, minha reação não coincidiu nem com aquela própria do professor tradicional, nem com a do
professor escolanovista. Penso que minha atitude poderia ser descrita como estando além dessas duas
correntes pedagógicas.
Foi o referido fenômeno que emergiu com toda a sua força naquela manhã do sábado, dia 22 de
outubro de 1967, na minha aula no Curso Normal do Colégio Sion de São Paulo. O pedido das
alunas: “professor, vamos discutir o festival?” fez irromper uma situação totalmente original a
exigir uma resposta também original. Vi-me impelido, então, a extrair daquela situação as
próprias regras que guiaram o desenvolvimento da aula. O aspecto artístico se impôs sobre o
aspecto técnico determinando inteiramente os rumos seguidos na organização daquela aula.
Essa vivência concreta da relação dialética entre arte e técnica na realização prática do ato
educativo foi outro elemento que veio a se incorporar na elaboração teórica da pedagogia
histórico-crítica.
Após uma introdução, continha duas partes: a primeira tratava dos objetivos e a segunda,
dos meios tendo como eixo a formulação da seguinte questão de caráter dialético: como
usar meios velhos em função de objetivos novos.
Esse texto se configurou como uma primeira tentativa de construção de uma teoria
dialética da educação evidenciando-se, desde esse momento, a questão da
passagem da síncrese à síntese pela mediação da análise, que veio a se afirmar
como um elemento central na formulação da pedagogia histórico-crítica.
Nesse novo quadro que se caracterizou a partir do final da década de 1970, aquilo que eu
vinha procurando desenvolver individualmente assumiu caráter coletivo. Os problemas
relativos à elaboração de uma concepção pedagógica que permitisse superar os limites da
visão crítico-reprodutivista foram sistemática e intensamente discutidos naquela primeira
turma de doutorado e tiveram continuidade nas turmas subsequentes.
Mas foi com a tese de Carlos Roberto Jamil Cury, Educação e Contradição: elementos
metodológicos para uma teoria crítica do fenômeno educativo, defendida em 3 de outubro
de 1979, mas publicada apenas em 1985, que se fez um primeiro esforço de sistematizar,
pela via das categorias lógicas, uma teoria crítica não reprodutivista da educação. Por isso
considerei o ano de 1979 como um marco importante na formulação da pedagogia
histórico-crítica.
Daí decorre um método pedagógico que parte da prática social onde professor e
aluno se encontram igualmente inseridos ocupando, porém, posições distintas,
condição para que travem uma relação fecunda na compreensão e
encaminhamento da solução dos problemas postos pela prática social, cabendo
aos momentos intermediários do método identificar as questões suscitadas pela
prática social (problematização), dispor os instrumentos teóricos e práticos para
a sua compreensão e solução (instrumentação) e viabilizar sua incorporação
como elementos integrantes da própria vida dos alunos (catarse).
Assim, quando esses autores são citados o que está em causa não é a
transposição de seus textos para a pedagogia e, nem mesmo, a aplicação de
suas análises ao contexto pedagógico. Aquilo que está em causa é a elaboração
de uma concepção pedagógica em consonância com a concepção de mundo, de
homem e de sociedade própria do materialismo histórico.
É, portanto, uma teoria contra-hegemônica que vem procurando atuar no âmbito das
redes públicas de ensino para fazer avançar o processo de educação das massas
trabalhadoras.
Na verdade, sendo a educação uma modalidade da própria prática social, nunca se sai dela. Assim, os
educandos permanecem na condição de agentes da prática social e, pela mediação da educação, logram
alterar a qualidade de sua prática tornando-a mais consistente, coerente e eficaz em relação ao objetivo de
transformação da sociedade na luta contra a classe dominante que atua visando a perpetuação dessa forma
social. Portanto, não é apropriado falar em “Prática Social Final” nem em “Retorno à Prática Social”.