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2. A povoamento da América
O milho é hoje o terceiro grão alimentício mais consumido do mundo, sendo
uma rica fonte de carboidratos e proteína. Foi e ainda é a base alimentícia dos
povos americanos, sendo um componente essencial para o processo de
sedentarização dos povos originários da América e o desenvolvimento das
civilizações em todo o continente (BARGHINI, 2004).
Existe um consenso no meio científico de que a espécie humana não é
originária do continente americano, e que tenha migrado para a América entre
40.000 e 10.000 anos atrás. Transformando a América no último continente
ocupado pelo ser-humano. A teoria mais aceita é a de que essa migração
tenha ocorrido em um dos últimos períodos glaciais. Pequenos bandos de
caçadores/coletores, compostos por famílias aparentadas, perseguindo
manadas de grandes animais selvagens (bisões), deslocaram-se da Sibéria
para o Alasca (AQUINO, 2000). Diante disso, entre os cinco continentes
habitáveis, a América é onde o desenvolvimento das civilizações tem a história
mais curta.
Em pouco tempo, do norte do Alaska ao sul da Patagônia, o continente
estava ocupado pelo ser humano. Segundo Diamond (2017, p. 45),
(...) isto representa uma expansão média de apenas 12,8 quilômetros por ano,
uma proeza trivial para caçadores-coletores de alimentos, acostumados a
percorrer essa distância em apenas um dia. Se as Américas abrigavam
caçadores-coletores em uma densidade populacional média de uma pessoa
para cada 1,6 quilômetro quadrado (um índice alto para os modernos
caçadores-coletores), então toda a área das Américas teria aproximadamente
10 milhões de pessoas. Mesmo que os primeiros colonos constituíssem um
grupo de apenas 100 pessoas e que seu número tenha crescido apenas 1,1%
ao ano, seus descendentes chegariam a uma população de 10 milhões de
pessoas no período de mil anos.
3. O milho.
Como já citado anteriormente, o milho foi a base alimentar das culturas
originárias do continente americano, sendo domesticado e largamente utilizado
há pelo menos 7 mil anos. O seu provável local de origem é a Mesoamérica,
tendo se difundido para a América do Sul há pelo menos 5 mil anos
(BARGHINI, 2004). Ainda não há consenso na comunidade científica de qual
seria a planta selvagem que teria dado origem ao processo domesticação do
milho, mas muitos defendem que o antepassado do milho seria a planta
Teosinto que aos poucos foi sendo modificada pelo ser humano até chegar nas
espécies de milhos que hoje conhecemos.
Algumas características do milho o tornam uma planta singular e marcam o
seu desenvolvimento pela América. Sua reprodução é monoica, ou seja, uma
mesma planta possui órgãos feminino e masculino. Isso permitiu grande
diversidade de espécies com uma alta capacidade de manipulação humana, ao
mesmo tempo, exigiu a criação de técnicas e rituais para garantir um certo
controle das espécies. Sua botânica possibilita um maior aproveitamento
fotossintético em condições de clima quente com limitação de água,
apresentando uma maior produtividade do que o trigo e o arroz, por exemplo.
Tem abundância energética por apresentar alta proporção de amido por planta,
sem a necessidade de muito preparo para ser consumido. Para completar, não
tem a necessidade de muita infraestrutura agrária. Por seu vigor e velocidade
vegetativa, o milho é também adequado a uma cultura consorciada de feijão e
abóbora – o padrão da agricultura da Mesoamérica – permitindo um manejo
regenerador do solo e que, juntos, cumprem a exigência de nutrientes de uma
alimentação (BARGHINI, 2004).
Tais características permitiram a utilização do milho tanto em civilizações
agrárias quanto em culturas caçadoras/coletores com agricultura incipiente.
Desta maneira a introdução do milho na América do Sul não provocou uma
mudança profunda na estrutura produtiva. Diferentemente do trigo, que aos ser
introduzido na Europa foi responsável pela sedentarização da população local
(BARGHINI, 2004).
Contudo, quanto a nutrição, o milho têm outra característica peculiar. Após
a colonização da América pelos europeus, o cultivo do milho rapidamente se
espalhou para outros continentes. Já no século XVII, o milho substituía o trigo
como alimento básico em muitos locais da Europa. Nesses locais começou a
se observar o aparecimento de uma nova doença: a pelagra (doença rara que
pode provocar alterações na pele, diarreia e alterações neurológicas, como dor
de cabeça, confusão mental e perda de memória, por exemplo). Não demorou
muito para os Europeus perceberem a incidência dessa doença em famílias
empobrecidas que tinham o milho como o único alimento. Mas foi só no século
XX que se descobriu que esta doença é provocada pela falta de vitamina B3,
também conhecida como niacina. No milho a niacina está presente de forma
não assimilável ao ser humano – a niacitina - (BARGHINI, 2004).
O curioso é que na América só foram aparecer relatos de pelagra nos EUA
durante o século XIX. Ou seja, os povos americanos desenvolveram relações
com o milho que não permitiam o aparecimento dessa deficiência. Os povos da
Mesoamérica preparam o milho o colocando de molho por muitas horas em
uma solução de água e cal, ou cinza. Em seguida é moído e depois moldado
em pães. Esse processo reequilibra a relação dos aminoácidos essenciais,
uma maneira de possibilitar o uso do milho como alimento básico. Já na
América do Sul seu uso foi viabilizado seja por técnicas de fermentação ou por
não ser consumido como alimento básico. A difusão do milho na América do
Sul se dá em um período em que os povos locais já haviam desenvolvido
outras culturas de plantio – como a mandioca nas terras baixas, e a batata nos
Andes. Segundo Barghini (2004):
5. Bibliografia
AQUINO, Rubim Santos Leão de; LEMOS, Nivaldo Jesus Freitas de;
LOPES, Oscar Guilherme Pahl Campos. História das sociedades
americanas. Rio de Janeiro: Livraria Eu e Você, 1981.