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Descrição/ Comentário do Filme

Em julho de 1985, a partir da fusão entre duas empresas distribuidoras


de gás natural, a HNG (Houston Natural Gas) e a Internorth (Nebraska), nasce
a ENRON. No ano de 1989, a empresa começa a fazer trading de gás natural,
tornando-se a maior negociadora de distribuição de gás dos EUA e Reino
Unido.

A ENRON atuava, principalmente, em cinco grandes áreas:

a) condução interestadual de gás natural, construção,administração e


operação de gasodutos; investimento em atividades de transporte de óleo cru;

b) compra, comercialização e financiamento de gás natural, óleo cru e


eletricidade; administração de risco de contratos de longo prazo de commodity;
gasodutos estaduais de gás natural; desenvolvimento, aquisição e construção
de centrais de energia de gás natural; extração de gás natural líquido;

c) negócios globais da ENRON, incluindo a negociação e entrega de


commodities físicas e financeiras e serviços de gerenciamento de risco;

d) atividade implementada no ano 2000, que provê aos clientes uma


fonte de serviços de telecomunicações;

e) provê serviços relacionados a abastecimento de água.

Na década de 1990 Jeffrey Skilling (ex-CEO - Chief Executive Officer da


Enron), contrata os “melhores e mais brilhantes” traders com remunerações
astronômicas, e instala o Performance Review Committee (PRC), considerado
o sistema mais duro de avaliação (com demissão de 10% do staff anualmente),
criando forte competição interna entre funcionários.

Em novembro de 1999, acontece o lançamento da ENRON Online, um


sistema de transação global de energia realizado pela internet. Em agosto de
2000 as ações atingem seu pico histórico de US$90.56 se tornando a 5ª maior
empresa Norte-Americana em 2001.

Em março de 2001, com o artigo de Berthany McLean na Fortune, foi


levantada diversas dúvidas sobre os resultados da ENRON. Logo após isso,
em agosto do mesmo ano, Skilling se demite (seis meses depois de se tornar
CEO) e a companhia atribui sua saída a “questões pessoais”.

No início de Outubro de 2001, executivos da ENRON visitaram agências


de classificação de crédito para falar dos resultados da empresa no terceiro
trimestre. Nessas conversas, informaram que o patrimônio líquido da empresa
(ativos menos passivos) havia sofrido no período um baque de 1,2 bilhão de
dólares.

Com a finalidade de apresentar uma saúde financeira que lhe


possibilitasse acesso a crédito, a ENRON manipulou seus dados contábeis,
criando empresas do tipo Specific Purpose Enterprise (SPE), sendo os
executivos da própria ENRON os acionistas principais.

Tecnicamente, a ENRON utilizou empresas coligadas e controladas para


inflar seu resultado - uma prática comum nas empresas. Através da SPE, a
empresa transferia passivos, camuflava despesas, alavancava empréstimos,
leasings, securitizações e montava arriscadas operações com derivativos.

Dentro de um regime de total conflitos de interesses, promíscuo, e


através de acordos de cavaleiros, a quadrilha infiltrava os prejuízos na
contabilidade das empresas-parceiras, protegendo assim os resultados da
empresa-mãe e ficticiamente valorizava as ações da ENRON. Tudo escondido
dos acionistas, dos empregados, do governo americano, e “nada constando”
aos auditores.

Além dos interesses pessoais e ilícitos dos administradores em majorar


os resultados da corporação, existia também a pressão dos investidores por
bons resultados e a necessidade de demonstrar ao mercado que a corporação
estava bem, para atrair mais investimentos. Porém os problemas da ENRON
resultavam de maus negócios e apostas erradas, mostrando grande
incompetência em investimentos na Índia, Brasil e Europa.

A constatação de práticas de manipulação em várias outras empresas,


não só norte-americanas, mas no resto do mundo, resultou em uma crise de
confiança em níveis inéditos desde a quebra da bolsa norte-americana em
1929. Com isso a empresa começa a implodir em uma onda de escândalos
contábeis e admite ter inflado seus lucros.

Além das manipulações contábeis, descobriu-se que o código de ética


da empresa, embora existente, era constantemente objeto de exceções e não-
conformidades.

A ENRON - então considerada uma potência empresarial – divulgou, em


2 de dezembro de 2001, seu pedido de concordata e, dez dias após, o
Congresso Americano começou a analisar a falência do grupo, o qual possuía
uma dívida aproximada de 22 bilhões de dólares, e o preço de suas ações
caíram para US$ 0,70 por ação. Em diversos artigos, foi considerada a falência
mais importante da história empresarial americana.

Alguns dos membros do Comitê venderam mais de US$ 1,1 bilhão em


ações da ENRON no curto período entre o início dos rumores e o estouro do
escândalo. Kenneth Lay, presidente do Conselho de Administração da empresa
e um dos principais suspeitos, chegou a vender cerca de US$ 200 milhões em
ações da companhia antes da queda.

Um dos membros do Conselho, Cliff Baxter, cometeu suicídio, e o Fundo


de Pensão da empresa foi à bancarrota, deixando desamparados os milhares
de funcionários honestos e dedicados que, até então, tinham orgulho de
pertencer ao quadro funcional da quinta maior empresa norte-americana.

Os advogados contratados pela ENRON participaram ativamente da


estruturação legal das operações, mesmo sabendo o quanto essas operações
beiravam o limite da ética.
Os analistas de investimentos, nos meses que antecederam o escândalo
da ENRON, indicaram a compra de suas ações quase que unânime. Ocorre
que esses analistas eram funcionários de bancos de investimentos e a maioria
deles tinha operações financeiras com a ENRON.

Uma eventual recomendação de venda resultaria em uma queda das


ações da empresa, piorando as perspectivas desses bancos em terem seus
empréstimos honrados. Alguns destes bancos, como o Merril Lynch e o J. P.
Morgan, forma punidos com o pagamento de altas multas, em função de ter
sido constatada a manipulação de relatórios de analistas a partir da descoberta
de e-mails dos mesmos para seus chefes alertando para o risco, e destes
mandando seus funcionários desconsiderarem os fatos apontados.

Como auditora da ENRON, certamente, a Arthur Andersen estava mais


do que ciente das práticas contábeis que a empresa vinha adotando. Mais do
que isso, no ano de 2001, a Andersen havia recebido US$ 52 milhões por
serviços prestados a Enron. Deste montante, US$ 27 milhões foram derivados
da prestação de serviços de consultoria.

Em resumo, provavelmente, a Andersen havia participado ativamente


da estruturação das operações antiéticas. Dessa forma, a divisão de auditoria
da empresa jamais poderia condenar tais operações.

Quando os rumores sobre problemas na ENRON começaram surgir, a


Andersen destruiu toda e qualquer documentação que pudesse comprometê-
los, na mais declarada atitude antiética que uma empresa do seu setor de
atuação poderia tomar.

A Arthur Andersen antes era tida como uma empresa-modelo na área de


auditoria pela sua eficiência e confiabilidade. Após alguns meses que o
escândalo financeiro da ENRON veio à tona, a resposta do mercado foi
imediata. Ter a Andersen como auditora passou a ser motivo de risco para a
imagem de uma empresa, o que fez com que ela fosse extinta da noite para o
dia.
Enfim, a empresa se caracterizou por um infindável número de falhas de
revisão e monitoramento por parte do seu Comitê de Auditoria, que,
teoricamente, deveria estar atento a esse tipo de falha.

Órgãos reguladores se viram pressionados a rever suas normas, a fim


de detectar falhas em seus sistemas que não lhes permitira diagnosticar o
problema antes que ele tivesse atingido proporções tão gigantescas, pois o
grau de confiança nas informações fornecidas aos investidores se tornou
preocupante para o mundo inteiro.

O governo dos Estados Unidos se viu pressionado a intervir com


medidas legislativas que fossem fortes o bastante para restaurar a confiança
perdida. Dentre estas medidas destaca-se a Lei Sarbanes-Oxley, de 30 de
julho de 2002, com o objetivo de restaurar o equilíbrio dos mercados por meio
de mecanismos que assegurem a responsabilidade da alta administração de
uma empresa sobre a confiabilidade da informação por ela fornecida.
Falhas Observadas

1) Quebra de independência

A Arthur Andersen era responsável pela auditoria e consultoria da Enron,


o que é eticamente incompatível, pois são duas atividades nas quais o auditor
não pode exercer em uma mesma empresa.

No caso a consultoria tem como finalidade aperfeiçoar os processos da


empresa e já a auditoria independente é que irá validar os processos utilizados.
Sendo assim, a mesma empresa, não pode sugerir procedimentos e fiscalizar a
integridade da mesma.

Além do mais, a Arthur Andersen já prestava serviços à ENRON há 10


anos, sendo este seu 2º maior cliente; responsável por grande parte do seu
faturamento. Dessa forma, a falta de regulamentação propiciou na quebra de
independência por parte da Arthur Andersen e na perda de sua credibilidade
perante o mercado, que poderiam ter sido evitados por atitudes
profissionalmente éticas.

O auditor de ser livre de qualquer laço ou compromisso financeiro,


econômico, afetivo, social, moral e etc, para tomar as próprias decisões em
todos os assuntos relativos à realização de seu trabalho, não se deixando
influenciar por fatores que pressuponham na perda de sua independência.

2) Ato de descrédito

Diante de todo esse quadro de escândalos contábeis da ENRON, o


principal questionamento foi acerca do papel desempenhado pela auditoria
independente que tinha o dever de informar todas estas operações e do seu
dever de transparência com o mercado.
A Andersen deixou de expressar os fatos relevantes que conhecia, e que
não estavam expostos nas demonstrações financeiras, porém cuja exposição
era indispensável. Como também deixou de reunir evidências suficientes, tanto
para justificar a expressão de sua opinião, como relatórios e documentos que
comprovassem a veracidade das mesmas.

O auditor deve ser íntegro em todos os compromissos que envolvam


suas exposições e opiniões, transmitindo validade e certificando a veracidade
das informações contidas nas demonstrações, sendo leal quanto à
concorrência dos serviços junto a terceiros.

3) Fraudes no parecer da auditoria

Antes que a ENRON viesse a cair, em seu balanço já se verificava erros


e discordâncias que a Arthur Andersen não ressaltou, simplesmente por
compactuar com a fraudulência de seus exames.

Com isso um parecer que deveria ser emitido no mínimo com ressalva,
estava de acordo com as práticas contábeis adequadas e aderentes com os
princípios fundamentais de contabilidade, atendendo aos principais requisitos
legais, ou seja, parecer sem ressalva alguma. Porém, não houve provas ou
evidências suficientes para que fossem justificados os pareceres dos auditores,
após a queda da ENRON.

O auditor deve, no seu parecer, declarar com clareza se o exame foi


efetuado de acordo com as normas de usuais de auditoria, de maneira que
expresse sua opinião em relação as demonstrações contábeis da empresa
auditada.
O caso Arthur Andersen – Estados Unidos

(2002)

A Arthur Andersen, uma das gigantes da área de auditoria deram provas


de total ausência de independência com relação aos atos praticados pelas
diretorias das empresas por eles auditadas. A reação do mercado financeiro foi
imediata, as bolsas caíram no mundo inteiro. (1 falha - quebra de
independência)

Os procedimentos adotados pela Arthur Andersen em relação à Enron


contrariavam todas as melhores práticas de independência que deveriam
nortear a relação entre uma empresa e seus auditores. Em primeiro lugar,
como auditora da Enron, certamente, a Andersen estava mais do que ciente
das práticas de contabilidade criativa que a empresa vinha adotando. Mais do
que isso, no ano de 2001, a Andersen havia recebido US$ 52 milhões por
serviços prestados à Enron. Deste montante, US$ 27 milhões foram derivados
da prestação de serviços de consultoria. Em resumo, provavelmente, a
Andersen havia participado ativamente da estruturação das operações
antiéticas. Dessa forma, a divisão de auditoria da empresa jamais poderia
condenar tais operações. No entanto, o mais chocante a respeito da
participação da Andersen no esquema de corrupção que imperava na Enron foi
o fato de a empresa, que, teoricamente, deveria tomar uma posição
independente em relação à empresa que auditava, tão logo começaram os
rumores sobre problemas, ter destruído toda e qualquer documentação que
pudesse comprometer a Enron ou a si própria, na mais declarada atitude
antiética que uma empresa do seu setor de atuação poderia tomar. Os
principais executivos ligados à conta Enron estão sofrendo processos judiciais.
Diante de todo esse quadro, o principal questionamento foi acerca do
papel desempenhado pela auditoria independente que tinha o dever de
informar todas estas operações e do seu dever de transparência com o
mercado. O artigo 177, § 3º da lei brasileira número 6.404 de 1976, ao tratar da
escrituração da companhia, reflete de forma clara que a auditoria deve ser um
propagador da situação da corporação e, certamente, no contexto norte-
americano não é diferente.

No caso da "Enron", a auditoria responsável pelos balanços há quase 10


anos era a ARTHUR ANDERSEN. Além desse papel, a empresa também
prestava consultoria à "Enron", sendo que a concomitância dessas duas
atividades pela mesma empresa são práticas totalmente incompatíveis,
devendo-se ressaltar que, no Brasil, a incompatibilidade de tais atividades é
disciplinada pela instrução normativa nº 308 da CVM, de 1999, que dispõe:

Art. 23. É vedado ao Auditor Independente e às pessoas físicas e


jurídicas a ele ligadas, conforme definido nas normas de independência do
CFC, em relação às entidades cujo serviço de auditoria contábil esteja a seu
cargo:

I – adquirir ou manter títulos ou valores mobiliários de emissão da


entidade, suas controladas, controladoras ou integrantes de um mesmo grupo
econômico ou

II - prestar serviços de consultoria que possam caracterizar a perda da


sua objetividade e independência.

Podemos dizer que a incompatibilidade das duas atividades exercidas


pela ARTHUR ANDERSEN na "Enron" era conflitante porque, se, por um lado,
a auditoria tinha como função verificar as demonstrações financeiras da
corporação de forma isenta e transparente, por outro, a atividade de consultoria
está diretamente relacionada à otimização de lucros e processos internos que
muitas vezes se distanciam do dever de transparência da auditoria.

Estes interesses conflitantes entre auditoria e consultoria teriam sido um


dos motivos da manipulação de resultados, conforme apontaram alguns
analistas. Segundo eles, exatamente pelo fato de a atividade de consultoria ser
mais rentável, a ARTHUR ANDERSEN teria forjado os números para fazer jus
às quantias recebidas pela auditoria. "Dos 52 milhões que a ARTHUR
ANDERSEN recebeu no ano passado, 27 milhões, ou mais da metade, não
vinham de serviços de auditoria, mas de consultoria contábil, legal e de outros
serviços." ( (8))

6As conclusões do Caso "Enron"

Não podemos afirmar quais foram as reais causas desse trágico


desfecho da "Enron", mas certamente a economia de mercado teve acentuada
influência na prática de fraudes e manobras contábeis que culminaram na
concordata da empresa e no prejuízo de milhares de investidores, credores e
empregados.

Ademais, todas as atitudes praticadas pelos administradores da "Enron"


comprovam a fragilidade dos mecanismos contábeis e de auditoria capazes de
coibir abusos e evitar fraudes lesivas ao mercado.

Outra séria conclusão a que chegamos é que há que existir uma prática
transparente entre administradores de corporações, seus investidores e
empregados capazes de refletir a real situação financeira de uma empresa.

Ademais, não poderíamos deixar de confirmar relação entre o caso


"Enron" e os problemas de direito concursal, os quais o projeto de lei 4.376/93
busca atenuar. Nesse sentido, devemos refletir sobre as diversas formas
fraudulentas que poderiam ser utilizadas para "mascarar" a situação de
empresas em crise e, conseqüentemente, levar os credores a aceitarem a
recuperação judicial.

Por fim, questionamos se o Poder Judiciário, ainda que composto por


profissionais sérios e competentes, mas, ainda assim, assaz estagnado terá
meios para analisar possíveis recuperações de empresas em crise e se os
critérios para mensurar se uma empresa merece ser liquidada ou recuperada
serão capazes de conviver com abusos tais como os evidenciados no caso
"Enron".

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